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Ciência Política Luiz Antonio Dias Revisada por Luiz Antonio Dias (maio/2012)

Apostila de ciência Politica

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Ciência Política

Luiz Antonio Dias

Revisada por Luiz Antonio Dias (maio/2012)

É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Ciência Política, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apre-sentação do conteúdo básico da disciplina.

A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.

Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação.

Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.

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APRESENTAÇÃO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5

1 A CIÊNCIA POLÍTICA .......................................................................................................................... 71.1 Origem e Evolução da Contabilidade ......................................................................................................................71.2 Resumo do Capítulo .......................................................................................................................................................81.3 Atividades Propostas ......................................................................................................................................................9

2 TEORIA DAS FORMAS DE GOVERNO .................................................................................... 112.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................122.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................13

3 MAQUIAVEL E A ÉTICA POLÍTICA ............................................................................................ 153.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................173.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................17

4 HOBBES E O ESTADO ABSOLUTO ............................................................................................ 194.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................204.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................20

5 LOCKE, MONTESQUIEU E AS BASES DO LIBERALISMO ........................................... 215.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................225.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................23

6 O MARXISMO ......................................................................................................................................... 256.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................266.2 Atividade Proposta .......................................................................................................................................................26

7 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL E O NEOLIBERALISMO ................................... 277.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................297.2 Atividade Proposta .......................................................................................................................................................29

8 O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ........................................................................................... 318.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................358.2 Atividade Proposta .......................................................................................................................................................35

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS ...................................................................... 37

RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 39

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 43

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INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a),

Esta apostila e a disciplina, como um todo, buscam apresentar uma definição dos conceitos funda-mentais da teoria política. Além disso, propomos uma análise, a partir de uma perspectiva histórica, da constituição do Estado moderno e da sociedade civil. Estudaremos a Ciência Política clássica, focando os principais autores que sistematizaram o Estado.

O objetivo geral do curso é oferecer subsídios para um estudo crítico sobre o papel desempenha-do pelo Estado no gerenciamento dos conflitos existentes nas relações sociais, analisando as principais características que formam os diferentes sistemas de governo: monarquia, democracia, aristocracia, des-potismo e socialismo. Além disso, discutiremos as transformações da contemporaneidade e o processo de globalização.

Dentro dessa perspectiva, o conteúdo está organizado de forma a promover sempre um debate sobre e com os autores, além de mostrar as transformações das teorias ao longo dos processos históricos. Dessa forma, analisaremos as funções e aplicações da Ciência Política; as teorias sobre formas de gover-no; o conceito de Estado em Maquiavel; promoveremos uma análise da teoria absolutista em Hobbes; discutiremos o conceito de Estado de Natureza para Hobbes; apresentaremos os conceitos de Estado de Natureza e Estado de Guerra em Locke; discutiremos as formulações do Estado de Direito e a divisão dos poderes em Montesquieu. Com isso, teremos subsídios para compreender o liberalismo político.

Posteriormente, discutiremos as análises marxistas e a crítica ao liberalismo, bem como o neolibe-ralismo e seu avanço ao longo do final do século XX, e, finalmente, promoveremos uma análise aprofun-dada sobre o processo de globalização e seus impactos no Brasil.

Finalizando, buscamos, também, elencar algumas possibilidades para um crescimento sustentável e socialmente justo, que favoreça o fortalecimento da democracia.

Será um prazer acompanhá-los ao longo desse trajeto.

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A CIÊNCIA POLÍTICA 1

1.1 Origem e Evolução da Contabilidade

Olá, vamos iniciar a discussão...

De uma forma geral, dividimos as ciências sociais em várias disciplinas ou ramos de pesquisa:

a) Sociologia;

b) Economia;

c) Antropologia;

d) Ciência Política.

Todas essas disciplinas tratam do compor-tamento social do homem, no entanto, de forma diferente e com preocupações próprias. Justa-mente por isso, diversidade de análises é funda-mental à interdisciplinaridade.

A Ciência Política estuda os fenômenos e as estruturas políticas. Esse estudo deve apresentar rigor e cientificidade e, dessa forma, distancia-se da mera opinião. Apesar da constituição relativa-mente recente da Ciência Política enquanto ci-ência empírica, podemos encontrar traços desse rigor e cientificidade em obras de Aristóteles e Maquiavel, pois temos análises fundamentadas em fatos.

Ao longo do século XX, a Ciência Política desenvolveu-se e ampliou seus horizontes, bus-cando novos objetos, como o terceiro mundo

e o Oriente. Além disso, temos novos dados de-senvolvidos nos últimos anos pelos cientistas po-líticos, como pesquisas sobre elites, opiniões de massas, comportamento de voto dos eleitores, dados estatísticos, dados históricos e interdisci-plinaridade.

Segundo Norberto Bobbio (1986, p. 167), a Ci-ência Política apresenta algumas operações básicas:

a) classificação: aperfeiçoamento de ti-pologias dos regimes políticos, até en-tão presas à formulação aristotélica, que apresentava três formas puras e três impuras;

b) generalização: formulação do concei-to de poder – por exemplo, “sempre uma minoria organizada detém o po-der, seja qual for o regime”;

c) formulação de leis de tendência: por exemplo, segundo Marx, “o aparelho estatal será necessário até que dure a divisão da sociedade em classes anta-gônicas” (MARX; ENGELS, 1988);

d) propostas de teorias: a democracia ca-racteriza-se pela maior ampliação pos-sível do eleitorado, mais a legitimidade conferida pelo vencido ao vencedor.

AtençãoAtenção

O objetivo das ciências sociais é estudar e com-preender o comportamento humano dentro da sociedade.

AtençãoAtenção

Por meio dessas operações, a Ciência Política tenta explicar os fenômenos e não apenas descrevê-los.

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A principal finalidade teórica da Ciência Po-lítica é a explicação e a principal finalidade prá-tica, a previsão. Dessa forma, analisando muitas variáveis, ou seja, promovendo a interação de vá-rios elementos – ao contrário de análises simplis-tas –, existe uma grande possibilidade de êxito, de acertar a previsão. Entendendo e explicando o fenômeno, o cientista político tem a possibili-dade de prever o desfecho do processo, sempre pensando o futuro possível a partir da realização de determinadas condições.

Além disso, a Ciência Política, enquanto ciência do comportamento humano, tem algu-mas dificuldades específicas, que derivam da ma-neira do homem agir:

a) o homem é um animal teleológico: serve-se de coisas úteis para obter seus objetivos, muitas vezes inconscientes; no entanto, a Ciência Política não pode prescindir da psicologia. Em alguns ca-sos, a ação do indivíduo não é entendi-da, sequer, pelo próprio indivíduo;

b) o homem é um animal simbólico: o conhecimento da ação humana exige a decifração de símbolos. Significa dizer

que devemos entender o significado de determinado tipo de voto – nulo, bran-co, na oposição – para cada grupo de eleitores, por exemplo;

c) o homem é um animal ideológico: racionaliza seu comportamento. Pode alegar motivações diferentes da real, com o fim de justificar-se ou obter o consenso dos demais.

É importante, também, que você saiba que a abstenção dos juízos de valor na avaliação, o que, ainda na opinião de Norberto Bobbio (1986), pode garantir a objetividade na análise. Nesse sentido, essa análise deve substituir o senso co-mum. Não devemos nos esquecer de que as ciên-cias sempre apresentam um método científico e buscam a objetividade, deixando de lado precon-ceitos, mesmo que, eventualmente, deixem de lado a objetividade – quando observamos o uso das teorias para validar projetos políticos, econô-micos e sociais em benefício de um determinado grupo. Nesses casos, são fundamentais o olhar e a análise crítica do pesquisador.

A partir dessas discussões, a disciplina de Ciência Política possibilitará ao aluno entender e confrontar a formação e a evolução da sociedade, bem como analisar as desigualdades sociais e as responsabilidades – e ações – históricas do Esta-do. Dessa forma, o aluno será levado a situar-se no contexto social, enquanto ser social e agente dos processos de mudanças, capaz de analisar es-sas relações sociais.

Saiba maisSaiba mais

Segundo Bobbio (1986), a Ciência Política tem algu-mas dificuldades próprias que dificultam a análise, o diagnóstico e a prescrição. Por exemplo, ela é uma disciplina histórica, por isso é impossível realizar “experiências de laboratório”. Os homens mudam, as situações mudam, por isso devemos ter em mente que determinada situação histórica é única, de forma que podemos apenas apontar tendências.

DicionárioDicionário

Teleológico: doutrina segundo a qual o mundo é um sistema de relações entre meios e fins.

1.2 Resumo do Capítulo

Neste capítulo, discutimos:

1. Definição de Ciência Política;

2. Dificuldades da Ciência Política;

Ciência Política

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3. Finalidades da Ciência Política.

Vamos verificar a compreensão do texto...

1.3 Atividades Propostas

1. Segundo Norberto Bobbio, podemos considerar como operações básicas da Ciência Política, exceto:a) Generalização.

b) Classificação.

c) Formulação de leis de tendência.

d) Propostas de teorias.

e) Análise parcial das estruturas econômicas.

2. Podemos afirmar que a principal finalidade prática da Ciência Política é a:a) Previsão.

b) Explicação dos fenômenos.

c) Análise das formas de governo.

d) Emissão de juízo de valor sobre os tipos de governo.

e) Análise da tipologia platônica.

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Continuando nossa discussão e ampliando o foco...

A partir dos seus instrumentos técnicos, o Estado promove sua organização social e econô-mica.

A estruturação do Estado apresenta várias possibilidades, várias formas de governo e vários mecanismos de controle.

A primeira tipologia das formas de governo é de Heródoto (século V a.C.). Segundo ele, exis-tem três formas de governo:

a) democracia: governo de muitos – evi-ta a tirania e a irresponsabilidade do monarca e da aristocracia, pois a fisca-lização e a administração são de todos. No entanto, essa massa seria, segundo Heródoto, incapaz de governar e admi-nistrar o Estado com a devida compe-tência;

b) aristocracia: considerado o “governo dos melhores” e, dessa forma, capaz e superior às massas. No entanto, quase sempre gera conflitos, pois todos que-rem liderar;

c) monarquia: o caos promovido pelo choque aristocrático só seria superado pelo “melhor” de todos, que seria o mo-narca.

Veja como isso é importante. Até hoje ainda utilizamos esses mesmos conceitos, por mais que

existem alterações na definição de cada um deles; essas alterações ocorrem em função das transfor-mações históricas das sociedades.

Platão (século IV a.C.), em sua obra A Repú-blica, apresenta o Estado perfeito, composto por: reis filósofos, guerreiros e produtores. Cada um teria sua função definida a partir de sua capaci-dade. No entanto, esse Estado perfeito não é real, ele é utópico, ou seja, irrealizável. Os Estados reais são muitos e todos corrompidos. Todas as formas de governo (monarquia, aristocracia, democra-cia), segundo Platão, são ruins e podem piorar (pessimismo), pois são alteradas pelo conflito de gerações. A discórdia promove a transformação, que é sempre ruim.

Já Aristóteles, no século III a.C., formula uma crítica a Platão e apresenta formas positivas de governo. Segundo ele, as formas boas buscam o bem comum: monarquia, aristocracia, politia. As formas desviadas, ou negativas, buscam o bem particular: tirania (em favor do monarca), oligar-quia (em favor dos ricos), democracia (em favor dos pobres).

TEORIA DAS FORMAS DE GOVERNO2

AtençãoAtenção

A principal instituição política é o ESTADO.

Saiba maisSaiba mais

Platão também estabelece os seguintes critérios para mensurar a forma de governo: violência ou consenso, legalidade ou ilegalidade. Quanto mais violento e distante da legalidade, pior é o governo.

DicionárioDicionário

Politia: Forma como Aristóteles se referia à “demo-cracia positiva”.

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A degeneração da melhor forma (monar-quia) gera a pior de todas as formas (tirania).

A politia e a democracia estão muito pró-ximas, porque existe um grande número de po-bres. Dessa forma, a politia é a pior forma entre as positivas e a democracia é a melhor entre as negativas.

Para Thomas Hobbes, pensador do século XVII, a origem do Estado/sociedade fundamenta--se a partir de um contrato, quando os homens sairiam do Estado de Natureza. Sem o Estado, terí-amos a “guerra de todos contra todos” (que é uma das principais características do Estado de Na-tureza), pois o homem, sem saber o que o outro pensa, supõe que o mais razoável seria atacá-lo (para vencer ou evitar um ataque).

As três causas para a discórdia entre os ho-mens são: competição, desconfiança e glória. Para colocar fim ao conflito, o homem deve renunciar, na medida em que os outros também renuncia-rem, ao seu direito a todas as coisas. Isso seria ga-rantido por um Estado poderoso, armado e abso-luto. Através de um pacto, o indivíduo transfere sua vontade e seu poder ao soberano. O homem abre mão de sua “liberdade” para garantir a paz e a vida, cedendo seus direitos ao soberano.

O medo da morte leva o indivíduo a pactuar e criar o Estado, que também infunde o medo, no entanto:

a) o Estado não aterroriza (apenas atemo-riza);

b) o indivíduo bem comportado dificil-mente terá problemas;

c) o Estado não apenas impede a morte violenta, mas também traz esperanças de uma vida melhor e mais confortável.

De acordo com os pensadores liberais, o Estado seria regulador, porém neutro. Deveria apenas manifestar-se em caso de conflito entre as partes, no entanto, sem pender para nenhum lado.

Por outro lado, para Karl Marx (MARX; EN-GELS, 1988), pensador do século XIX, o Estado é um instrumento técnico de dominação, utilizado por uma classe social para controlar e explorar ou-tra classe social. Dentro da estrutura capitalista, o Estado – nas mãos da burguesia – é utilizado para promover o avanço e desenvolvimento burguês, a partir da exploração do trabalho assalariado. Nesse sentido, o Estado seria utilizado para con-trolar e reprimir as manifestações operárias, além de produzir e difundir uma ideologia de sustenta-ção ao sistema capitalista.

De qualquer forma, o Estado deve ser con-siderado o principal instrumento para regular e regularizar a vida em sociedade.

Você percebeu a grande importância de promovermos um debate sobre o “Estado” e as formas de governo? São conceitos fundamentais para a compreensão da nossa realidade política.

Neste capítulo, discutimos:

1. As teorias das formas de governo;

2. A definição das formas de governo;

3. Defeitos e qualidades das formas de governo.

Olá, vamos verificar como está a compreensão dos conteúdos?

2.1 Resumo do Capítulo

Ciência Política

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1. Segundo Heródoto, a democracia é uma forma de governo que:a) Evita a tirania e irresponsabilidade do monarca e da aristocracia, pois a fiscalização e a admi-

nistração são de todos.

b) Promove o fortalecimento do Estado, pois o povo é extremamente capaz na administração pública.

c) Garante a paz social, pois existe a participação da maior parte da população, podendo ser considerada a melhor forma de governo.

d) Leva à desarticulação social, pois os interesses dos ricos são privilegiados.

e) Estimula a concentração de poderes nas mãos do monarca.

2. Segundo Aristóteles, a melhor forma de governo era a:a) Democracia.

b) Aristocracia.

c) Tirania.

d) Teocracia.

e) Monarquia.

2.2 Atividades Propostas

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Caro(a) aluno(a), continuando...

Maquiavel nasceu em Florença (1469). Nes-se momento, a Península Itálica estava fragmenta-da em vários estados diferentes e independentes. Essa situação gerava uma grande instabilidade política, favorecendo invasões externas e cho-ques internos.

Na vida política pessoal, esteve ligado aos republicanos e, em vários momentos, mostrou-se crítico aos Médicis – a família real. Com a queda da república, caiu em desgraça em Florença e buscou uma aproximação com a monarquia, es-crevendo e oferecendo O Príncipe aos Médicis. No entanto, isso trouxe poucos resultados. Na reali-dade, essa obra, uma de suas mais conhecidas, foi responsável pela sua fama de defensor do absolu-tismo e da justificativa de utilização de meios sór-didos para atingir fins positivos. Com a queda da monarquia, passou a ser visto pelos republicanos como um aliado dos tiranos.

Segundo Maquiavel, devemos ver e exami-nar a realidade como ela é e não como gostaría-mos que fosse. Nesse sentido, devemos analisar o homem como, de fato, ele é: volúvel, mentiroso, covarde. Essa natureza humana leva ao conflito e o príncipe deve estar preparado para lidar com isso. “Deste modo, é preciso a um príncipe, para se conservar, que aprenda a poder ser mau e que se

utilize ou deixe de utilizar disto conforme a neces-sidade.” (MAQUIAVEL, 1977, p. 87).

A perspectiva de uma história cíclica, que se repete, é fundamental dentro da obra de Maquia-vel. Segundo ele (1977), a história é o instrumento para prever o futuro. Por meio de suas lições, po-demos, inclusive, interceder, repetindo os acertos e evitando os erros passados. Dessa forma, é pos-sível buscar um Estado estável, principal qualida-de de qualquer Estado.

Maquiavel (1977) apresenta uma divisão simples das formas de governo. Existiriam apenas duas: a monarquia (ou principado) e a repúbli-ca (aristocrática ou democrática), em oposição à anarquia (caos e desordem). Segundo ele, é im-possível pensar formas positivas ou negativas, pois é um julgamento de valor. Maquiavel defen-de que a forma positiva é aquela que dura – que é estável –, independentemente da forma, inde-pendentemente dos meios.

Cada forma apresenta características pró-prias e deve ser implantada dependendo da si-tuação histórica. Sempre temos, de um lado, um indivíduo que quer dominar (o príncipe) e, de outro, aqueles que não querem ser dominados (o povo). A solução seria criar mecanismos que esta-bilizem essa relação:

a) o principado deve ser utilizado quando a sociedade está desestabilizada, cor-

MAQUIAVEL E A ÉTICA POLÍTICA3

AtençãoAtenção

Para Maquiavel, a ordem do Estado deve ser uma ação do homem e não divina, sempre buscando experiências no passado.

Leia O Príncipe de Maquiavel!

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rompida, ameaçada de deterioração (como na Itália);

b) a república pode ser implantada quan-do a ordem for restabelecida, quando as instituições forem estáveis, quando o conflito for controlável.

Segundo Maquiavel (1977), um governante virtuoso – com qualidades de liderança – criará instituições que possibilitem a manutenção do poder. Dessa forma, a força pode levar ao poder, mas a virtude (não no sentido cristão do termo, mas entendendo como competência) é funda-mental para mantê-lo. Nesse sentido, o gover-nante que toma o poder pela força e o mantém é bom, caso contrário, não. Não podemos proce-der a um julgamento moral ou subjetivo dos go-vernos, na medida em que, segundo Maquiavel (1977), os fins – que são a busca da ordem e da estabilidade – sempre justificam os meios.

Preste atenção a esta ideia: a política, segun-do Maquiavel (1977), tem uma ética própria. Essa perspectiva inaugura uma nova forma de pensa-mento – que influenciou vários pensadores, entre eles, Max Weber –, afirmando que é fundamental julgar os atos políticos dentro de uma ética espe-cífica.

As questões éticas e morais são construções históricas. Do ponto de vista dos valores, a ética exprime como a sociedade define para si mesma o que julga ser violento, o crime, o mal e o vício e, dessa forma, o que é bom e correto, ou seja, é normativa.

A discussão da ética, na Antiguidade, apre-sentava três aspectos principais:

a) racionalismo: deve conhecer o bem e agir de acordo com a razão;

b) naturalismo: agir de acordo com a natureza (cosmos) e a nossa natureza (ethos, no sentido de caráter);

c) inseparabilidade entre ética e políti-ca: a conduta do indivíduo e os valores da sociedade deveriam caminhar jun-tos.

Dessa forma, Maquiavel, no século XV, inau-gurou a modernidade, quando mostrou que a “ação política não se mede segundo a moral”. Se-gundo ele, o príncipe (governante) deve ser bom sempre que possível e mal quando necessário. Para Maquiavel, nem sempre do bem decorre o bem ou do mal decorre o mal.

Isso nos leva à discussão das duas éticas de-senvolvidas por Max Weber:

a) ética de princípios: ligada ao indivíduo e próxima dos costumes, no entanto, ra-cionalizada e interiorizada;

b) ética da responsabilidade: sobretudo para quem age politicamente, que deve levar em consideração as consequên-cias do seu ato para os outros. Também utilizada na vida privada, nas nossas re-lações cotidianas. Normalmente, é mal compreendida e vista como não ética.

Nesse sentido, Maquiavel defende que o soberano deve sempre justificar os seus atos – se-jam violentos, mentirosos, corruptos –, mostran-do sua finalidade (manter a ordem e a estabilida-de para o bem de todos), pois, dessa forma, ele não se tornaria odioso aos olhos dos súditos.

DicionárioDicionário

A palavra ‘costume’ em grego é ethos, de onde de-riva ética. Dessa forma, é um conjunto de costu-mes. Em latim, é mores, de onde vem a moral.

Saiba maisSaiba mais

Podemos pensar uma “ética de resultados”, que tam-bém é uma expressão muito mal vista. Dessa forma, muitos indivíduos acreditam que a ética da respon-sabilidade é mais branda, que no território político tudo é permitido. Na realidade, existe uma dignida-de e uma alta exigência na ética política.

Ciência Política

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Neste capítulo, discutimos os seguintes pontos:

1. A ética em Maquiavel;

2. As várias possibilidades de definição de ética;

3. A teoria das formas de governo em Maquiavel.

Vamos refletir um pouco sobre o texto.

3.1 Resumo do Capítulo

3.2 Atividades Propostas

1. Maquiavel considera que o soberano deve ser mentiroso?

2. Maquiavel considera que existem formas positivas e negativas de governo? Como assim?

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Vamos continuar a discussão? Agora temos outro autor que também defende um governo forte.

O inglês Thomas Hobbes (1588-1679) viveu num período extremamente conturbado, que foi a Revolução Inglesa. Nesse sentido, sua obra foi influenciada pelo caos vigente.

Assim como Maquiavel, Hobbes conside-rava que a história poderia servir como exemplo, que os homens não se transformavam pela histó-ria. Outro ponto que aproximava os dois autores era a ideia de impossibilidade de promover uma distinção entre um rei e um tirano, ou melhor, que a única distinção possível era passional e não ra-cional.

Para Hobbes (apud WEFFORT, 2002), a ori-gem do Estado/sociedade, conforme já aponta-mos no início desta apostila, fundamenta-se a partir de um contrato, quando os homens sairiam do Estado de Natureza – uma situação regida pe-las leis naturais, de sobrevivência, do mais forte. Sem esse Estado Social, teríamos a “guerra de todos contra todos”, pois o homem, sem saber o que o outro pensa, supõe que o mais razoável se-ria atacá-lo, para vencer ou evitar um ataque.

Nesse Estado de Natureza, três causas prin-cipais levariam os homens ao conflito: competi-ção, desconfiança e glória, ou seja, o homem luta para possuir, depois para manter e, também, por questões fúteis, ligadas a glória e à honra. Por isso, é importante que o soberano promova uma “lei-tura” correta do gênero humano, percebendo sua belicosidade.

Para colocar fim ao conflito, o homem deve renunciar, na medida em que os outros também renunciarem, ao seu direito a todas as coisas. Isso seria garantido por um Estado poderoso, armado e absoluto, e fica evidente nesta passagem do Le-viatã, principal obra de Hobbes:

Porque as leis da natureza [...] por si mes-mas, na ausência do temor de algum po-der capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias às nossas paixões naturais, as quais nos levam a tender para a parcia-lidade, o orgulho, a vingança e coisas se-melhantes. E os pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para dar qualquer segurança a ninguém. (apud WEFFORT, 2002, p. 61).

Dessa forma, o Estado Absoluto seria fun-damental para garantir a ordem, a propriedade e a vida das pessoas. O soberano não deveria, se-gundo Hobbes, submeter-se a ninguém, sequer às leis (apud WEFFORT, 2002).

HOBBES E O ESTADO ABSOLUTO4

AtençãoAtenção

Leia o texto a seguir com bastante atenção:

[...] se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os ou-tros é a atitude mais racional que eu pos-so adotar (é preciso enfatizar esse ponto, para ninguém pensar que o ‘homem lobo do homem’, em guerra contra todos, é um anormal; suas ações e cálculos são os úni-cos racionais, no estado de natureza). (WE-FFORT, 2002, p. 55).

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Hobbes, assim como Maquiavel, sofreu duras críti-cas da Igreja por apresentar um Estado violento e um homem belicoso, além de subordinar a religião ao poder político.

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Além das críticas da Igreja, também so-freu críticas da burguesia, pois negava o “direito natural” à propriedade. Segundo Hobbes (apud WEFFORT, 2002), quem garante a propriedade e, consequentemente, pode dispor dela é o Estado.

DicionárioDicionário

Estado Absolutista: Todo o poder político e admi-nistrativo nas mãos do Rei.

Neste capítulo, discutimos:

1. A teoria de Hobbes;

2. O Estado de Natureza;

3. O Estado Absoluto.

Vamos ver se ficou clara a discussão apresentada?

4.1 Resumo do Capítulo

4.2 Atividades Propostas

1. Para Hobbes, a única possibilidade de controlar a “guerra de todos contra todos” era:a) A criação de uma república democrática, que permitisse a participação de todos e, conse-

quentemente, a superação dos conflitos.

b) A criação de um Estado Social, no qual os homens deveriam submeter-se a um pacto social, garantido por um Estado poderoso, armado e absoluto.

c) Estabelecer um governo fundamentado em uma “ética de princípios”, que estabeleceria uma situação de convivência harmoniosa.

d) A implantação de um governo teocrático, fundamentado na ideia de um soberano “divino” e absoluto.

e) A implantação de uma república aristocrática, na qual os “melhores” governariam e pode-riam colocar fim ao conflito.

2. A propriedade, dentro da concepção de Hobbes:a) Já existia no Estado de Natureza, sendo, portanto, um direito natural do homem.

b) Era distribuída e garantida pelo Estado, portanto, não era um direito natural.

c) Deveria ser comunal, todos teriam acesso a terra.

d) Só existia no Estado de Natureza, devido ao controle do soberano.

e) Era exclusividade do soberano, tanto no Estado de Natureza quanto no Estado Social.

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Vamos analisar agora outra linha de pensa-mento. Acompanhe com atenção para verificar as diferenças entre esses pensadores e os anterio-res...

O pensamento liberal começou a ser formu-lado a partir da obra do filósofo inglês John Locke (1632-1704), que se notabilizou pela grande defe-sa da liberdade.

Segundo Locke (apud WEFFORT, 2002), os homens viveriam em um Estado de Natureza pré-social e relativamente harmônico. Nesse Esta-do, já existe a propriedade – portanto, um direito natural –, que não pode ser violada pelo Estado. Originalmente, a propriedade é fundamentada na capacidade de trabalho e, posteriormente, no dinheiro. Cada indivíduo, pelo trabalho emprega-do, agrega valor à terra existente, farta e disponí-vel a todos.

Os homens criam o Estado Social (ou Esta-do Político) por meio de um Contrato Social, uma espécie de pacto de consentimento para preser-var e consolidar os direitos naturais. Esse pacto dá aos indivíduos o direito de resistência. Quando o governo viola a lei e atenta contra a proprieda-de, tornando-se tirano (exercício do poder além do direito, visando ao próprio bem), o povo tem assegurado o legítimo direito de resistência. Esse choque leva à dissolução do Estado Civil, quando os impasses passam a ser decididos pela força (Es-tado de Guerra).

Preste muita atenção nisto: o Estado Liberal apresenta duas características básicas:

a) Estado de Direito: as leis naturais são regulamentadas juridicamente, estabe-lecendo leis positivas que garantem a igualdade de todos perante as leis natu-rais (direito à vida, direito à propriedade etc.);

b) Estado Mínimo: significa a menor in-terferência política ou econômica do Estado na sociedade.

No século XVIII, a economia política clássica fundamentou as bases do liberalismo econômico, desenvolvendo a principal teoria de sustentação do capitalismo. Estudos sociais e econômicos le-varam à formulação das bases teóricas das leis de mercado.

O inglês Adam Smith formulou uma forte crítica ao mercantilismo (que estabelecia reservas de mercado, monopólio, busca de uma balança comercial favorável etc.). Segundo ele, a natureza dotou o homem de vontade de produzir, trocar e enriquecer, e essa característica do homem não pode ser regulada ou limitada pelo Estado. Smith mostrou, também, que a divisão do trabalho au-menta a produção (apud WEFFORT, 2002).

LOCKE, MONTESQUIEU E AS BASES DO LIBERALISMO5

Saiba maisSaiba mais

A principal obra de Locke foi Dois Tratados sobre o Go-verno Civil. No segundo tratado, ele faz uma análise do governo civil, mostrando a existência de um Estado de Natureza, um Estado Pré-Social que, ao contrário do Estado de Natureza pensado por Hobbes, apresentava uma relativa harmonia (WEFFORT, 2002).

AtençãoAtenção

As relações econômicas devem ser reguladas pelo mercado. A livre concorrência potencializa o desenvolvimento das empresas e do Estado e isso é positivo para todos, principalmente para o consumidor. Dessa forma, o Estado não deve in-tervir nas leis naturais da economia.

Luiz Antonio Dias

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Segundo Adam Smith (apud WEFFORT, 2002), o Estado tem apenas três deveres (o Esta-do Mínimo):

a) proteger a sociedade dos inimigos ex-ternos;

b) proteger os indivíduos dos outros;

c) fazer obras públicas alheias à iniciativa privada.

Outro nome importante do liberalismo foi o francês Montesquieu (1689-1755). Em sua obra O espírito das leis, ele analisou as leis positivas, que são criadas pelo homem para reger as relações (apud WEFFORT, 2002).

Com relação à tipologia das formas de go-verno, afirmava a existência de três espécies: o republicano, o monárquico e o despótico. Esses governos eram caracterizados pela sua natureza e pelo seu princípio (apud WEFFORT, 2002):

a) natureza relacionada a quem gover-na: na monarquia, governa um rei am-parado por leis; na república, governa todo o povo ou parte do povo, também

aparado pelas leis; no despotismo, te-mos um governante sem leis.

b) os princípios são as características que garantem o governo: na monar-quia, temos a honra do soberano, que é um princípio de desigualdade; na repú-blica, temos a virtude cívica, que é um princípio de igualdade; e, finalmente, no despotismo, temos o medo do súdito.

Para Montesquieu (apud WEFFORT, 2002), na monarquia com divisão de poderes, as insti-tuições podem conter os impulsos das autorida-des, levando à moderação e estabilidade. Dessa forma, esse seria o melhor modelo. A estabilidade do regime ideal repousa na correlação das for-ças da sociedade representadas nas instituições. Para garantir essa estabilidade, seria necessário promover uma separação e equipotência dos poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário). Dessa forma, o poder funcionaria como freio do poder.

DicionárioDicionário

Equipotência: o mesmo poder entre os três poderes.

Neste capítulo, discutimos:

1. As bases do Liberalismo;

2. O Liberalismo Político;

3. O liberalismo Econômico;

4. As ideias de John Locke.

5.1 Resumo do Capítulo

Ciência Política

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1. As duas principais características do liberalismo são:a) Estado absoluto e leis naturais.

b) Estado de Bem-Estar Social e Estado de Direito.

c) Estado Mínimo e Estado de Direito.

d) Estado teocrático e Estado de Direito.

e) Estado paternalista e Estado natural.

2. Segundo Locke, o “Estado de Natureza” caracterizava-se por:a) Certa harmonia; nesse Estado, já existe a propriedade – portanto, um direito natural –, que

não pode ser violada pelo Estado.

b) Ser mantido através de rígidas leis positivas, garantidas por um Estado absoluto.

c) Um choque, constante, entre governantes e governados, entre o soberano e os súditos.

d) Uma situação de conflito entre os homens, uma “guerra de todos contra todos”.

e) Ser a melhor forma de governo, pois garantiria a plena liberdade ao ser humano.

5.2 Atividades Propostas

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Agora vamos estudar um autor extrema-mente importante para o pensamento das ciên-cias sociais em geral.

O principal crítico da teoria liberal foi Karl Marx (1818-1883). Com uma variedade enorme de obras em várias esferas das ciências humanas, tornou-se uma das principais referências na críti-ca ao sistema capitalista, à exploração burguesa e ao Estado.

A partir do socialismo científico, em oposi-ção ao socialismo utópico, Marx mostrou que a história das sociedades sempre foi marcada pela história da luta de classes – senhor e escravo, patrí-cio e plebeu, nobre e servo, mestre de corporação e companheiro – e que essas lutas de classes foram responsáveis pela transformação da sociedade.

Segundo o pensador marxista Lukács (1989), para Marx são, exatamente, essas relações de choque entre o operário e o capitalista que dão vida à sociedade. O marxismo, portanto, per-cebe a totalidade – burguesia e proletariado, par-ticipantes da produção – da sociedade. Somente quando a classe tiver em mente essa totalidade da sociedade poderá desempenhar o seu papel histórico. Essa percepção da totalidade é obtida a partir da consciência de classe; caso contrário, mesmo com vitórias acidentais, estará condena-da a uma derrota final. Dessa forma, o proletaria-do deve se livrar da “falsa consciência de classe”, que busca apenas fins objetivos e imediatos.

As classes capazes de dominação devem sa-ber utilizar sua consciência, porém, a consciência burguesa é “falsa”, pois, para manter sua domina-

ção, teria que renunciar à sua característica histó-rica, a própria dominação.

Essa passagem, do Manifesto do Partido Co-munista, exemplifica a ideia de Lukács:

O progresso da indústria, de que a bur-guesia é agente passivo, substitui o iso-lamento dos operários [...]. Assim o de-senvolvimento da grande indústria mina o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção de apropria-ção dos produtos. Antes de mais nada, a burguesia produz seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis. (MARX; ENGELS, 1988, p. 87-88).

Em outras palavras, o desenvolvimento da burguesia, o crescimento da indústria e, conse-quentemente, o aumento da exploração e do nú-mero de explorados levarão ao fim do capitalis-mo. A única possibilidade de evitar essa situação seria impedir o próprio desenvolvimento capita-lista, negando a essência burguesa.

Nas sociedades pré-capitalistas, existia uma divisão em castas (estamental), portanto, não existia a estratificação em classes. O econômico ligava-se ao político, ao religioso. Com isso, as transformações políticas não alteravam as rela-ções sociais. Essa fixação “natural” das castas im-possibilita a verdadeira “consciência de classe”. Nesse sentido, a burguesia e o proletariado são as únicas classes puras, pois não estão ligadas a estruturas pré-capitalistas.

O MARXISMO6

AtençãoAtenção

Marx mostrou que essas configurações sociais possuem uma origem histórica, estando, portan-to, sujeitas ao devir histórico (decadência). Dessa forma, a história seria movida pela luta de classes.

Saiba maisSaiba mais

O Manifesto do Partido Comunista completou 150 anos em 1998 e continua sendo publicado, lido e discutido até hoje.

Luiz Antonio Dias

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A dominação da burguesia, que é minoria, em interesse próprio criou figuras irreais: como “o Estado acima das classes” ou a “justiça imparcial”. Essas teorias, apresentadas pelos liberais, confor-me já apontamos, buscavam esconder ou negar os antagonismos de classes, gerados pelo próprio capitalismo.

Para Lukács (1989, p. 87), o proletariado – ao contrário das outras classes que tomam o po-der, mas mantêm suas conquistas anteriores – só pode se libertar como classe suprimindo a socie-dade de classes. Nesse sentido, ele deve se tornar uma classe não só “face ao capital”, mas também para si próprio. Portanto, a luta não se dá apenas contra a burguesia, mas também contra si pró-prio. Essa consciência será obtida por meio da maturidade do movimento operário, liderado por um partido.

No Manifesto do Partido Comunista, Marx, no entanto, chama a atenção para a existência de “falsos socialismos”. Segundo ele (MARX; ENGELS, 1988), o proletariado deve se organizar em torno do verdadeiro partido proletário, que é único e re-volucionário. Os “falsos partidos socialistas” bus-cavam a manutenção da ordem ou um retrocesso, como, por exemplo, o “socialismo feudal”, ligado

ao cristianismo, que fazia um aceno aos pobres. No entanto, representava uma crítica aristocráti-ca à sociedade burguesa, tentando restabelecer a antiga ordem, que não significa nenhum avanço, muito pelo contrário, ao proletariado.

Marx também chama a atenção para o “so-cialismo pequeno burguês”, que era reacionário e utópico, pois criticava a burguesia para tentar evitar sua própria proletarização, retomando o sistema corporativo.

No mesmo sentido, percebemos a crítica ao “Socialismo Utópico”, que fazia a defesa da classe operária porque ela era sofredora. Os “utópicos”, segundo Marx (MARX; ENGELS, 1988), não per-ceberam o papel histórico do proletariado, mas buscavam a sociedade ideal (sem exploração), porém, de forma fantasiosa.

Finalmente, o mais perigoso para o proleta-riado era o “socialismo conservador ou burguês”, composto por elementos da burguesia, que de-fendia a implantação de medidas sociais para amenizar os problemas do proletariado. Dessa forma, buscava criar mecanismos para consolidar a sociedade burguesa, incentivando os operários a buscar um crescimento econômico e, conse-quentemente, ter um arrefecimento da luta.

Você percebeu a importância desse deba-te? Ele continua presente ainda hoje. Temas como luta de classes, exploração, capitalismo, fazem parte do nosso cotidiano.

DicionárioDicionário

Sociedade estamental: sociedade onde a posição está definida, normalmente, por nascimento.

Neste capítulo, discutimos:

1. Socialismo Utópico;

2. Socialismo Científico;

3. Teorias de Marx.

Vamos verificar como foi a compreensão deste capítulo?

6.1 Resumo do Capítulo

6.2 Atividade Proposta

1. Para Marx, existem formas positivas de governo? Como assim?

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ser regulado – ao contrário do que defendem os liberais –, mas é positivo – ao contrário do que pensam os marxistas. Ainda, defendia o estímulo ao consumo e a defesa do pleno emprego.

Contrariando o credo liberal, o Estado de Bem-Estar Social interferiu na economia para garantir o pleno emprego. Ele assim o fez por meio de uma política financei-ra (taxas de juros insignificantes) que in-centivou a empresa privada. As empresas geridas pelo Estado também absorveram trabalhadores em disponibilidade. Mas isso não foi suficiente para eliminar total-mente o desemprego. O Estado teve de oferecer uma ajuda social aos desempre-gados. O contrato entre empregador e empregado, garantido por lei sob a pro-teção do Estado, passou a estender-se até a assistência realizada pelas instituições oficiais. Para cobrir essas novas neces-sidades o Estado ampliou sua estrutura administrativa, criando órgãos e dotan-do-os de um corpo de funcionários com alguma especialização no desempenho desses serviços. [...] O custo dessa política social [...] foi pago com a cobrança de ta-xas e impostos da grande burguesia e de alguns segmentos sociais de alto poder aquisitivo. (TOMAZI, 2000, p. 147).

Dentro desses princípios preconizados por Keynes, grande parte dos países em crise conse-guiu superar suas dificuldades e retomar o cres-cimento econômico, dentro das diretrizes capita-listas.

No entanto, o crescimento do Estado e, con-sequentemente, de impostos e taxas, aliado ao endividamento público, gerou críticas ferrenhas dos economistas e teóricos políticos ligados à es-cola clássica.

Caro(a) aluno(a),

O Estado de Bem-Estar Social

A grande crise mundial da década de 1920-30, destaque especial para a quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, mostrou que a “mão invisí-vel do mercado” – defendida pelos liberais – não existe, ou foi incapaz de regular o mercado, ou seja, uma economia sem intervenção do Estado não seria capaz de superar suas crises.

As pressões operárias, o fortalecimento dos sindicatos e, principalmente, a vitória dos comu-nistas na Revolução Russa (1917) mostraram à burguesia a necessidade de efetuar algumas re-formas, de reduzir a exploração – do capitalismo livre de regras do século XIX – sobre o proletaria-do. Nesse sentido, o Estado de Bem-Estar Social deve ser visto como uma reforma capitalista.

Um dos principais defensores desse mode-lo foi o inglês John Maynard Keynes (1883-1946), que apresentava uma grande preocupação com o curto prazo, alegando que, no longo prazo, es-taremos todos mortos e, também, com as flutu-ações econômicas de trabalho e renda. Ele apre-sentou uma forte crítica aos clássicos (liberalismo) e aos marxistas. Segundo ele, o capitalismo deve

O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL E O NEOLIBERALISMO7

AtençãoAtenção

Diante desse quadro, fortaleceu-se a teoria do Es-tado de Bem-Estar Social, que preconiza a inter-venção do Estado em determinadas áreas, em es-pecial as sociais, além de defender a necessidade da criação de insumos ou tributos para aquecer ou desaquecer determinadas áreas.

Luiz Antonio Dias

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O Estado Neoliberal

O neoliberalismo surgiu no pós-II Guerra, contra o Estado intervencionista e de Bem-Estar Social e contra a social-democracia, pois o “igua-litarismo” destruía a liberdade do cidadão e a concorrência. Buscava preparar as bases para um “novo” capitalismo, mais duro e livre de regras.

A crise do capitalismo mundial, no início da década de 1970 (recessão e inflação), promoveu um avanço do neoliberalismo. Os neoliberais acre-ditavam que a crise era uma consequência do mo-vimento sindical, que buscava aumentos salariais e gastos públicos em ações sociais. A solução, segun-do o neoliberalismo, seria: manter o Estado forte, para controlar os sindicatos, no entanto, fraco nos gastos sociais.

O neoliberalismo conseguiu algumas vitó-rias: queda da inflação e recuperação dos lucros (por meio da contenção de salários). No entanto, contribuiu para o crescimento das taxas de de-semprego (mecanismo necessário para regular os salários). Apesar disso, o crescimento econômico manteve-se baixo, pois a desregulamentação fi-nanceira ampliou o capital especulativo e reduziu o produtivo.

No final da década de 1980, ocorreram no-vos avanços do neoliberalismo sobre a Europa, devido à crise do comunismo no Leste Europeu.

A “terceira onda” neoliberal atingiu a Amé-rica Latina – exceto pelo Chile, que iniciou o ci-clo neoliberal já com Augusto Pinochet, a partir de 1973 –, principalmente em função das graves crises econômicas e de um processo inflacionário crescente.

Veja que interessante, agora começamos uma análise de uma realidade muita próxima de todos nós: o Brasil do final do século XX.

No Brasil, o neoliberalismo aprofundou-se durante o governo de Fernando Collor (1990-1992), com a redução dos impostos de impor-tação, que gerou benefícios ao consumidor, no curto prazo, devido ao aumento da variedade de produtos e redução de preços. No entanto, os custos elevados da produção no Brasil e o curto tempo para a adaptação das indústrias nacionais criaram dificuldades para enfrentar a concorrên-cia. Essa disputa pelo mercado interno, com os produtos importados, aliada à redução de moeda circulante causada pelo Plano Collor, provocou uma forte retração da atividade industrial e o au-mento do desemprego.

Nos anos seguintes, ocorreu uma série de ajustes na indústria para enfrentar a liberalização dos mercados:

a) concentração em linhas de produtos competitivos;

b) redução da diversificação de produtos;

c) terceirização de atividades;

d) implantação de programas de qualida-de e produtividade.

O neoliberalismo avançou ao longo dos governos seguintes, em especial no de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que aprofundou o programa de privatizações, com o objetivo de reduzir o tamanho do Estado.

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O final dos anos 1970 e o início dos 1980 marcaram um grande avanço político dos neoliberais, com as vitórias de Thatcher (Inglaterra – 1979); Reagan (EUA – 1980) e Khol (Alemanha – 1982). Essas vitó-rias apontavam para o triunfo da ideologia neolibe-ral no capitalismo avançado. Concretamente, esses países promoveram uma grande redução da emis-são; redução dos impostos sobre o capital; ação enérgica contra as greves; e um forte processo de privatização.

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O Programa Nacional de Desestatização (PND) foi criado em 1990 e, até 1992, privatizou 18 empresas. Entre 1993 e 1994, foram privatizadas 15 empresas, principalmente do setor siderúrgico. A partir de 1995, ocorreu um aprofundamento do programa, com a privatização de grandes empresas, como, por exem-plo, a Vale do Rio Doce. Ao longo de toda a década de 1990, foram privatizadas mais de 60 empresas.

Ciência Política

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No entanto, se no aspecto econômico po-demos perceber alguns aspectos positivos, o avanço neoliberal, no Brasil, promoveu uma for-te precarização do social – o Estado eximiu-se de

Neste capítulo, discutimos:

1. O Estado de Bem Estar Social;

2. O Estado Neoliberal;

3. Os impactos dessas políticas no Brasil.

Agora vamos verificar como foi a compreensão do capítulo?

7.1 Resumo do Capítulo

7.2 Atividade Proposta

1. Vamos refletir sobre os impactos do neoliberalismo na sociedade brasileira?

responsabilidades históricas, promovendo o cres-cimento da pobreza, do desemprego e da desi-gualdade social.

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Mais um tema bastante atual, que provoca impactos diretos em nossas vidas. Vamos analisar com atenção esse processo histórico...

Na economia, ocorre uma “globalização da produção”, que pode ser explicada como a inte-gração de vários países na produção, um passo adiante das multinacionais dos anos 1960. Busca--se mão de obra mais barata na periferia do ca-pitalismo, como se buscava matéria-prima no colonialismo e no neocolonialismo. As empresas criam linhas de produção em várias partes do mundo, aproveitando as vantagens de cada país – matéria-prima, incentivos fiscais, mão de obra barata, logística. Há a percepção de todo o mun-do como espaço de atividade e exploração. Além disso, ocorre também a integração de novos mer-cados consumidores. Esse processo contribui para o fim da indústria nacional.

A criação de grandes blocos econômicos estabelece o livre comércio entre os membros e promove o crescimento das principais econo-mias, levando ao enfraquecimento dos Estados Nacionais. Aliás, percebemos certa subordinação dos aspectos políticos à economia. Os grandes blocos econômicos colocam em risco os Estados Nacionais; isso fica evidente quando pensamos no Mercado Comum Europeu (MCE).

Alguns setores da economia apresentam um forte crescimento e fortalecimento, como,

por exemplo, o sistema financeiro, a economia de serviços e as atividades de comunicações e infor-mações. A rapidez na troca de informações pos-sibilita maior fluidez do capital especulativo, que pode migrar, em minutos, de um país para outro, em função de oportunidades econômicas.

Outra característica do mundo globalizado é a concentração de capitais por meio das fusões de vários tipos.

Segundo Stiglitz (2003), o avanço da globa-lização ocorreu durante o governo Clinton, a par-tir de suas vitórias na economia externa, como, por exemplo:

a) a criação do Nafta, bloco econômico de livre comércio entre EUA, México e Ca-nadá, que integrou mais de 400 milhões de pessoas;

b) a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), para regularizar as re-gras do comércio mundial, promoven-do uma liberalização da economia.

A ideia original era promover uma maior integração econômica entre os países, gerando o crescimento de todos. A OMC seria responsá-vel pela fiscalização das relações comerciais, di-ficultando a criação de subsídios, reduzindo as barreiras comerciais e arbitrando conflitos comer-ciais, porém, ela sofre, sempre, duras críticas, por supostamente favorecer os interesses dos países ricos em detrimento dos pobres.

As crises econômicas, por sua vez, em vá-rios países, geraram críticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e à política de globalização. O unilateralismo do governo Bush aumentou as crí-

O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO8

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O processo de globalização pode ser entendido como um conjunto de fenômenos econômicos, políticos, culturais e sociais que se tornaram claramente percep-tíveis a partir dos anos 1970.

Luiz Antonio Dias

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ticas e o antiamericanismo, pois o livre acesso aos produtos norte-americanos criou empregos nos EUA e recessão em vários países em desenvolvi-mento. A liberalização do mercado de capitais também gerou grandes lucros nos EUA e fortes crises nos mercados emergentes.

As maravilhas prometidas pela globalização e liberalização dos mercados – aumento do fluxo de capitais para os países emergentes, crescimen-to econômico, integração – não ocorreram ou fo-ram rapidamente revertidas com a crise econômi-ca do final dos anos 1990. Os tratados comerciais mostraram-se injustos, com os países ricos au-mentando sua exploração sobre os países pobres.

Nosso maior orgulho – a conclusão da Rodada Uruguai de negociações comer-ciais – revelou-se um dos nossos maiores fracassos. Desde a Segunda Guerra Mun-dial, houve uma série de rodadas de ne-gociação para reduzir as barreiras comer-ciais entre os países. Em cada rodada, os países ofereceriam abrir mais seus merca-dos, se houvesse reciprocidade. A Roda-da Uruguai foi, em certa medida, a mais dramática dessas rodadas [...]. Os Estados Unidos pressionaram os demais países a abrir seus mercados em áreas que tínha-mos força, como nos serviços financeiros, mas resistiram, com sucesso, aos esforços de nos impor reciprocidade. (STIGLITZ, 2003, p. 223-224).

Essa crítica torna-se ainda mais contunden-te pelo fato de Joseph Stiglitz ter sido presidente do Conselho de Consultores Econômicos do pre-sidente Clinton e vice-presidente do Banco Mun-dial.

De fato, a Rodada Uruguai foi extremamen-te perversa com os países em desenvolvimento. Novas áreas se abriram nessa rodada, favorecen-do, principalmente, os EUA – o setor financeiro, por exemplo, monopolizou o sistema bancário no México e na Argentina, mas os norte-ameri-canos não abriram seus mercados nas áreas que não eram fortes, como setores da agricultura, e mantiveram os altos subsídios, que contribuíam para a queda dos preços dos produtos no merca-

do mundial; o subsídio ao algodão, por exemplo, superava o seu preço. Ocorreu, também, uma defesa intransigente das patentes farmacêuticas, levando milhões de pessoas à morte nos países pobres.

A crise mexicana (1994-1995) provocou um grande temor nos investidores internacionais, de-vido ao forte endividamento do país. Isso gerou fuga de capitais e desvalorização dos títulos me-xicanos, levando à queda do câmbio, empobreci-mento do país, desemprego, recessão e, também, redução dos gastos sociais (medida imposta pelo FMI).

No Leste Asiático (Coreia, Indonésia e Tai-lândia), em 1997, também ocorreu uma forte crise econômica que levou à intervenção do FMI, ge-rando cortes drásticos nas políticas sociais. Diante da crise, a tensão social aumentou, levando a con-flitos e mortes, além de um forte endividamento do Estado (títulos públicos com valores mais bai-xos e juros mais altos).

A Argentina (1999-2000) também passou por uma grande crise, que levou ao desemprego, crise política, empobrecimento do país, Produto Interno Bruto (PIB) negativo e corte nos gastos públicos.

Você percebe a importância disso na nossa vida cotidiana? Temos que entender um pouco de política para entendermos o que ocorre à nossa volta, não é mesmo?

De forma geral, o “socorro” do FMI sempre foi questionável e negativo para os países onde ocorreu essa intervenção, pois o objetivo sempre foi salvar os investimentos americanos no país em crise. A “conta” da crise quase sempre foi negativa para os países pobres: durante o crescimento do

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No governo Bush, a situação piorou muito. O livre comércio eliminou várias barreiras, mas foram cria-das, nos EUA, medidas para evitar a concorrência. Além da intransigência norte-americana nas nego-ciações, também verificamos uma grande instabili-dade global na década de 1990.

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país, entrou determinado capital – produtivo ou especulativo – e, na crise, saiu uma quantidade muito maior de recursos.

Observe, a seguir, as consequências perver-sas do processo de globalização.

Apesar de ser um processo mundial, até agora algumas áreas do mundo mantiveram--se marginalizadas ou completamente excluídas dele. Dessa forma, ocasionam-se:

a) criação de novos guetos: Áfricas no mundo ou favelas no Brasil fazem parte do mesmo processo – exclusão e fecha-mento do “outro”;

b) exclusão e violência crescentes na pe-riferia do mundo e dos Estados, sem grandes preocupações do “centro”.

Embora não seja causa para o terrorismo (11/09/2001), a pobreza e a desesperança criam um terreno fértil para ele, além de gerar violência social dentro dos países, pobres ou ricos.

Impactos da Globalização no Brasil

Com a abertura comercial iniciada na déca-da de 1990, as empresas brasileiras tiveram que alcançar níveis internacionais de produtividade e qualidade. Isso beneficiou o consumidor, que passou a ter acesso aos produtos importados –

em função da queda dos impostos de importação –, e também a maior qualificação dos produtos nacionais. O melhor exemplo disso é o avanço da indústria automobilística.

Por outro lado, o aumento da produtivida-de foi acompanhado pelo crescimento do desem-prego; as empresas passaram a buscar vantagens competitivas em outros países e, também, dentro dos países. A Região Metropolitana da cidade de São Paulo, por exemplo, perdeu várias empresas para cidades menores do interior do Estado ou para outros estados, pois os empresários buscam salários mais baixos e vantagens fiscais. Isso pro-moveu uma queda da renda do trabalhador assa-lariado.

[...] a globalização pode ter alguns as-pectos perversos, como o aumento do desemprego estrutural em muitos paí-ses, pois o novo paradigma tecnológico requer mão-de-obra mais qualificada, marginalizando parcela significante de trabalhadores. Observa-se também a ten-dência de concentração da produção em grandes empresas multinacionais, o que tem levado à desnacionalização de gran-de parte do setor produtivo, principal-mente nos países menos desenvolvidos ou emergentes. (VASCONCELOS; GARCIA, 2005, p. 217).

O Brasil, evidentemente, sofreu com esse processo. Apesar da valorização mundial do tra-balho qualificado, na última década, ocorreu justamente o inverso, no Brasil: uma redução de postos de trabalho qualificado. Entre 1990 e 1998, observamos uma redução de 12,3% dos postos de trabalho qualificados e o crescimento de 14,2% de postos não qualificados (Ministério do Trabalho – MTb). As causas são: ampliação das importações, ausência de novos investimentos, reformulação do setor público e baixo crescimen-to econômico.

AtençãoAtenção

A globalização deveria promover o fim do pro-tecionismo e, também, um mundo com maior justiça social, ampliando – qualitativa e quantita-tivamente – áreas como previdência, saúde, edu-cação e emprego. No entanto, transformou-se em um instrumento para tornar os países ricos ainda mais ricos.

Luiz Antonio Dias

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Tabela 1 – Taxa de desemprego – Brasil e Região Metropolitana de São Paulo.

Média anual Desemprego abertoBrasil

Desemprego total RMSP*

Desemprego aberto RMSP**

1989 3,4 8,7 6,5

1990 4,3 10,0 7,2

1991 4,8 11,7 8,0

1992 5,7 15,2 9,2

1993 5,3 14,7 8,7

1994 5,1 14,2 8,9

1995 4,7 13,2 9,0

1996 5,4 15,0 9,9

1997 5,7 15,7 10,2

1998 7,6 18,2 11,7

1999 7,6 19,3 12,1

2000 7,1 17,6 11,0

2001 6,2 17,6 11,3

2002 6,44 19,0 12,1

2003 7,03 19,9 12,8

* Desemprego aberto: mais desemprego oculto pelo trabalho precário e por desalento.** Procurou emprego, de forma efetiva, nos últimos trinta dias e não exerceu nenhuma atividade nos últimos sete dias.

Fonte: IBGE e SEADE/DIEESE.

Essa situação crítica de desemprego cres-cente é ainda pior quando analisamos a redução do mercado de trabalho formal.

Tabela 2 – População ocupada de 15 anos ou mais.

Ano Com carteira assinada Sem carteira assinada Conta própria Empregador

1991 53,7 20,8 20,1 4,4

2001 45,2 27,1 23,1 3,9

2002 49,3 23,0 21,0 5,4

2003 47,8 23,7 21,6 5,9

2004 47,1 24,2 22,0 5,7

Fonte: IBGE.

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A piora da situação socioeconômica, aliada às crescentes “necessidades” criadas pela publici-dade, contribui para o crescimento da violência. Por exemplo, o quadro de desemprego na Gran-de São Paulo – aproximadamente dois milhões de pessoas – e a constante queda da renda con-tribuem para o aumento da criminalidade. Além disso, devemos ter em mente a precária rede de proteção social no Brasil e a sensação de “deses-perança”, ou seja, o indivíduo não tem nada a per-der. O pior é pensar que a maioria desses indiví-duos é muito jovem.

Prestem atenção na ideia apresentada a se-guir; vejam como isso interfere diretamente em nossas vidas cotidianas.

Segundo Dupas (2003, p. 72),

a principal causa (da violência) parece estar nas tensões geradas pela crescente concentração de renda e exclusão social das massas populacionais urbanas, con-vivendo com mídias globais que valori-zam o comportamento anti-social e esti-mulam padrões de consumo que poucos podem ter.

Os Estados empobrecidos, ou reduzidos pela política neoliberal, perderam a capacidade de mediar esse conflito ou de garantir a sobrevi-vência dos novos excluídos. Dessa forma, a vio-lência aumenta, de lado a lado.

Neste capítulo apresentamos:

1. O histórico do processo de Globalização;

2. Os impactos da Globalização no Mundo;

3. Aspectos positivos e negativos da Globalização;

4. Os impactos da Globalização no Brasil.

8.1 Resumo do Capítulo

8.2 Atividade Proposta

Agora, vamos refletir:

1. Como a globalização afetou o Brasil?

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Existe, nesse início de século XXI, uma possibilidade real de nos depararmos com uma nova crise da economia mundial. O crescimento acelerado da China e a incorporação de milhares de novos consu-midores podem provocar uma crise de abastecimento mundial. Além disso, a economia norte-americana vem dando sinais de enfraquecimento desde o início do século – a crise do setor imobiliário é apenas parte de um problema maior. Esses fatores, aliados à alta constante do petróleo, colocam em risco esse processo de crescimento dos grandes países em desenvolvimento, incluindo o Brasil.

O mercado de trabalho brasileiro recebe, anualmente, cerca de 1,5 milhão de novos trabalhadores. Para equacionar essa situação e, ainda, reduzir as taxas de desemprego existentes, existe a necessidade de um crescimento anual acima de 5% ao ano.

Outra necessidade premente é melhorar a distribuição de renda, por meio de programas de quali-ficação profissional que possibilitem ao trabalhador o ingresso, ou reingresso, no mercado de trabalho. A erradicação do trabalho infantil, além da redução dos aposentados e pensionistas no mercado de traba-lho, é uma medida positivas para ampliar as vagas e aumentar a produtividade.

Além disso, é necessário discutir a criação de mecanismos para reduzir os produtos importados. Ao longo da década de 1990, nós “exportamos” cerca de 1,2 milhão de empregos. Também são extremamen-te importantes as reformas estruturais: tributária, social, agrária.

Vale a pena pensar na questão discutida a seguir. Vamos ler com atenção e refletir sobre essas mudanças...

A ampliação dos programas de transferência de renda e os aumentos reais do salário-mínimo, ocor-ridos desde 2003, apesar das fortes críticas, têm apresentado alguns resultados, promovendo maior justi-ça social e ampliação do consumo. Dessa forma, percebemos que o crescimento da economia brasileira, nos últimos anos, tem sido maior entre as classes mais baixas.

No entanto, é importante pensar e discutir: até onde o Estado brasileiro suportará a ampliação, ou mesmo a manutenção, desses programas assistenciais?

Objetivamente, sem uma ação estratégica de políticas públicas, esse quadro – de ampliação dos programas de transferência de renda – não poderá ser mantido por muito tempo, além de perder sua eficácia. Não bastam recursos e financiamentos, é necessário um bom plano de gestão pública, que, se-gundo Sachs (2005, p. 320-321), deve ter seis componentes:

1. descentralização: os detalhes devem ser decididos em cada comunidade;

2. treinamento: não podemos evitar/reduzir o setor público, mas sim aprimorá-lo, capacitando os profissionais;

3. tecnologia da informação: condição para potencializar e fiscalizar os investimentos;

4. marcos mensuráveis: objetivos claros do que se busca alcançar, sempre amparados por da-dos nacionais confiáveis;

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS9

Luiz Antonio Dias

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5. auditoria: o dinheiro deve, de fato, chegar ao seu destino. Todo investimento desviado ou não auditado deve ser interrompido;

6. monitoramento e avaliação: os investimentos devem ser monitorados e avaliados, para comprovar a eficácia do programa e sua estratégia.

Também será fundamental uma ampla discussão sobre o sistema educacional brasileiro. Sem in-vestimentos, ampliação e qualificação do setor educacional, o crescimento econômico verificado nos últimos anos não será mantido por muito tempo. A educação pode e deve funcionar como instrumento de inclusão social e geração de emprego e renda; assim, ações nesse sentido podem contribuir para o crescimento do país e para a redução da violência.

Entretanto, é importante destacar que ocorreram avanços na área política. Ao longo das últimas décadas, presenciamos a consolidação democrática, o amadurecimento do eleitor, novas formas de or-ganização e, principalmente, um fortalecimento da consciência de cidadania.

Com isso, terminamos nossa discussão na apostila, mas ela continua com as outras ferramentas existentes no Portal. Participe, opine; a sua participação é fundamental para o processo de aprendiza-gem.

Lutar, cada qual com suas armas, contra a injustiça, a miséria e a desigualdade é um bom motivo para viver...

Foi um grande prazer idealizar esta apostila e acompanhá-lo(a) até aqui.

Luiz Antonio Dias

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“O segredo da existência humana consiste não somente em viver, mas ainda em encontrar um motivo de viver.” (Dostoievski).

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Caro(a) aluno(a),

Vamos conferir como foram as respostas. Temos, a seguir, a correção e comentários sobre as ques-tões propostas ao longo dos capítulos.

CAPíTUlO 1

1. E Comentário – Generalização, classificação, formulação de leis de tendência e propostas de teo-rias são, todas, funções da Ciência Política.Pensar as estruturas econômicas não é uma função específica da ciência política, apesar de discutirmos a economia.

2. A Comentário – Segundo Bobbio, a principal função prática da Ciência Política é prever o fenô-meno político. Este é um dos elementos mais importantes da ciência política, anteciparmos a situação para pensarmos soluções, ou mesmo, para evitarmos uma situação ruim.

CAPíTUlO 2

1. A Comentário – Segundo Heródoto, a democracia é uma forma de governo que evita a tirania e a irresponsabilidade do monarca e da aristocracia, pois a fiscalização e a administração são de todos.

2. E Comentário – Segundo Aristóteles, a melhor forma de governo era a monarquia – um gover-nando com leis, pelo bem comum. Aliás, essa também era a ideia de Platão.

CAPíTUlO 3

1. (Dissertativa) Comentário – Maquiavel considera que o soberano deve ser mentiroso quando a situação assim solicitar. Ele deve saber utilizar a maldade quando necessário.

RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS

Luiz Antonio Dias

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2. (Dissertativa) Comentário – Para Maquiavel, o debate sobre formas positivas e negativas de governo era movido por razões passionais. Para ele, todas as formas que garantem a ordem e duram são boas, as efêmeras não são.

CAPíTUlO 4

1. B Comentário – A criação de um Estado Social, no qual os homens deveriam submeter-se a um pacto social, garantido por um Estado poderoso, armado e absoluto, era, segundo Hobbes, a única forma de evitarmos a “guerra de todos contra todos”.

2. B Comentário – A propriedade, na concepção de Hobbes, era distribuída e garantida pelo Esta-do, portanto, não era um direito natural. Isso dependia do soberano que poderia regular livre-mente sobre ela.

CAPíTUlO 5

1. C Comentário – As duas principais características do liberalismo são: Estado Mínimo – menor intervenção possível do Estado – e Estado de Direito – fundamentado nas leis.

2. A Comentário – O “Estado de Natureza”, segundo Locke, caracterizava-se pela existência de certa harmonia; nesse Estado, já existe a propriedade – portanto, um direito natural –, que não po-deria ser violada por ele.

CAPíTUlO 6

1. (Dissertativa)Comentário – Segundo Karl Marx, todas as formas de governo são negativas por princípio, pois são sempre utilizadas como instrumentos técnicos de dominação de uma classe sobre outra. Dessa forma, Marx entende que não existem formas positivas de governo.

CAPíTUlO 7

1. (Dissertativa)Comentário – Com as políticas neoliberais, tivemos um processo de privatização que trouxe alguns benefícios – ampliação da oferta, por exemplo –, mas também malefícios – como o au-mento dos preços. A menor intervenção do Estado na sociedade provocou o corte de gastos sociais e, consequentemente, impactos na sociedade.

Ciência Política

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CAPíTUlO 8

1. (Dissertativa) Comentário – O impacto mais evidente da globalização no Brasil ocorre na economia. Com a abertura comercial iniciada na década de 1990, as empresas brasileiras tiveram que alcançar níveis internacionais de produtividade e qualidade. Isso beneficiou o consumidor, que passou a ter acesso aos produtos importados – em função da queda dos impostos de importação –, e também a maior qualificação dos produtos nacionais. O melhor exemplo disso é o avanço da indústria automobilística.Por outro lado, o aumento da produtividade foi acompanhado pelo crescimento do desem-prego; as empresas passaram a buscar vantagens competitivas em outros países e, também, dentro dos países. A Região Metropolitana da cidade de São Paulo, por exemplo, perdeu várias empresas para cidades menores do interior do Estado ou para outros estados, pois os empre-sários buscam salários mais baixos e vantagens fiscais. Isso promoveu uma queda da renda do trabalhador assalariado.

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REFERÊNCIAS