Apostila de Liturgia 1b

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  • Histria da Liturgia A vida litrgico-sacramental da Igreja em sua evoluo histrica Textos complementares e exerccios

    Sumrio I. A Liturgia na Igreja Primitiva ............................................................................................................ 3

    Atividades ........................................................................................................................................... 7

    II. A Liturgia na Igreja do Imprio ....................................................................................................... 8

    Atividades ......................................................................................................................................... 10

    III. A Liturgia de Gregrio Magno a Gregrio VII ................................................................................. 11

    Atividades ......................................................................................................................................... 14

    IV. A Liturgia do Conclio de Trento .................................................................................................... 15

    Atividades ......................................................................................................................................... 18

    V. A Liturgia no Conclio Vaticano II e no ps-Conclio ......................................................................... 19

    Os Cantos do Ordinrio na Histria..................................................................................................... 28

    TEXTO 1 O OFCIO DIVINO NO RITO ROMANO ............................................................................... 29

    Trabalho sobre o texto O Ofcio Divino no Rito Romano .................................................................... 36

    TEXTO 2 LINHAS DE HISTRIA DO ANO LITRGICO ....................................................................... 38

    Trabalho sobre o texto Linhas de Histria do Ano Litrgico ............................................................... 43

    Bibliografia ....................................................................................................................................... 44

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    A vida litrgico-sacramental da Igreja em sua evoluo histrica

    Material de apoio para leitura complementar Estudar a Histria da Liturgia uma das melhores maneiras de colocar em prtica a chamada participatio actuosa, ou seja, a participao ativa nas celebraes litrgicas, to valorizada e defendida pela constituio Sacrosanctum Concilium1. Entender o caminho que a Igreja percorreu e que nos trouxe, como que por herana, a liturgia que hoje temos, torna-nos mais capazes de participar dessa liturgia,

    colhendo dela os frutos concretos para nosso crescimento espiritual.

    fundamental tambm chamar ateno para o ttulo da ementa da disciplina, que, em princpio, pode levar alguns a considerar que s iremos estudar a Histria da Liturgia. Contudo, nossa misso mais

    ampla, devendo abranger a vida litrgico-sacramental da Igreja, ou seja, vamos buscar no s compreender o desenvolvimento da liturgia, como tambm as formas utilizadas na celebrao dos

    sacramentos da Igreja2.

    Por razes didticas, no seria conveniente apresentar, com riqueza de detalhes, cada etapa do processo

    de desenvolvimento da vida litrgico-sacramental da Igreja. Portanto, faz-se necessrio pontuar apenas algumas fases mais relevantes da Histria da Igreja, mostrando seu reflexo na celebrao da liturgia

    crist. Essa caminhada ser dividida em cinco grandes perodos:

    1 Aqui vale lembrar um dos trechos da constituio Sacrosanctum Concilium: Deseja ardentemente a Me Igreja que todos os fiis sejam levados quela plena, cnscia e ativa participao das celebraes

    litrgicas, que a prpria natureza da Liturgia exige e qual, por fora do batismo, o povo cristo (...) tem direito e obrigao. (SC 14) O Papa Bento XVI nos chama ateno para o verdadeiro sentido dessa participao ativa, que deve ser

    vista como algo mais profundo do que meramente o engajamento em uma ao. A participao que a liturgia exige comparvel participao em Deus, produto da graa sacramental. Por isso, a

    participao ativa no termina com o final da celebrao, mas segue na vida e no pode ser imposta aos homens pelo exterior, como um espetculo, mas deve brotar da vida espiritual, construda com formao

    e prtica (Ratzinger, 1999, p. 97). 2 Embora aqui estejamos nos referindo aos sete sacramentos da Igreja (Batismo, Confirmao, Eucaristia,

    Reconciliao, Uno dos Enfermos, Ordem e Matrimnio), no podemos perder de vista o sentido mais amplo do termo sacramento, conforme ensina o Catecismo da Igreja Catlica: A obra de Cristo na liturgia sacramental porque o seu ministrio de salvao se torna presente nela mediante o poder do seu Esprito Santo; porque o seu corpo, que a Igreja, como que o sacramento (sinal e instrumento)

    no qual o Esprito Santo dispensa o mistrio da salvao; porque atravs das suas aes litrgicas a

    Igreja peregrina j participa, por antecipao, da liturgia celeste (CIgC 1111).

    Igreja primitiva

    Igreja no Imprio

    De Gregrio Magno a

    Gregrio VII

    Conclio de Trento

    Vaticano II e Ps-Conclio

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    I. A Liturgia na Igreja Primitiva

    Contexto histrico

    O Imperador Nero, no ano de 64 d.C., incendiou Roma e, ao tentar desviar as suspeitas de si, mandou

    prender uma multido de cristos. Segundo Bettencourt, a partir de ento, ser cristo equivalia a arriscar-se a morrer3.

    Ainda conforme Bettencourt, o Imperador Trajano (98-117) fixou uma norma de conduta para os oficiais do Imprio: os cristos so ateus; por isto, desde que convictos, ho de ser punidos; mas no devem ser procurados; as denncias annimas no tm valor; caso reneguem a sua f, sejam postos em

    liberdade.

    O Imperador Setmio Severo (193-211) proibiu converses ao Cristianismo.

    Diocleciano, imperador entre os anos de 284-305, desenvolveu uma grande reforma administrativa, que

    inclua o fortalecimento da religio do Estado. Provavelmente, eram contados 7 a 10 milhes de cristos,

    num Imprio de 59 milhes de habitantes, incluindo, segundo algumas fontes, Priscia e Valeria, respectivamente, esposa e filha de Diocleciano. Os cristos foram condenados a morte e seus livros e

    templos deveriam ser destrudos.

    Enquanto isso, na Liturgia...

    1. O culto judaico representou a transposio da religio da natureza para um culto baseado na Aliana de Deus com os homens. A partir do dever de ter a

    Aliana sempre presente nos momentos de culto, o Judasmo desenvolveu o conceito de memria (zikkarn). A experincia do xodo, com a memria cultual, torna-se sempre presente e a ao do Deus de Israel, que cuida de seu povo com amor, ainda mais unida vida do povo.

    2. Durante a ceia pascal judaica, faz-se uma bno importante, chamada berakah, que ser a matriz da atual Orao Eucarstica.

    3. Jesus Cristo pratica o culto judaico (cf. Lc 4,16); porm, defende um culto em esprito e verdade

    (cf. Jo 4,20-24), onde a comunicao com Deus possvel (cf. Mc 15,37s), por meio de Cristo

    Jesus, intercessor da humanidade (cf. Hb 10,19-22). O verdadeiro culto implica em mudana: oferecimento de si mesmo (cf. Rm 12,1) e o envolvimento total com o Evangelho (cf. 1Pd 2,5).

    4. Durante algum tempo, os primeiros cristos frequentaram o templo e observaram a lei, embora

    tivessem suas prprias celebraes, entre as quais sobressaam o batismo e a frao do po nas casas (cf. At 2,41-42.46).4

    3 Bettencourt, Curso de Histria da Igreja, p. 15. 4 Martn, 2006, p. 100-101.

    Igreja primitiva

    Igreja no Imprio

    De Gregrio Magno a

    Gregrio VII

    Conclio de Trento

    Vaticano II e Ps-Conclio

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    5. A Didaqu, do sculo II, j testemunha o domingo como o dia de culto por excelncia: Renam-se no dia do Senhor para partir o po e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para

    que o sacrifcio de vocs seja puro (cap. XIV).

    6. No se podem negar as razes judaicas da liturgia, porm, o evangelho o fundamento do culto cristo5. Ainda segundo Borobio, o culto cristo tem trs caractersticas: (i) escatolgico, pois sempre remete vida eterna, junto de Deus; (ii) pneumatolgico, porque o Esprito Santo

    que rene a assembleia e a torna, de fato, uma assembleia de culto; e (iii) cristolgico, j que o centro do culto a confisso do querigma da f crist.

    7. Alm dessas caractersticas, Borobio (1990) apresenta-nos quatro elementos fundamentais, a partir da anlise de At 2,42: o ensinamento dos Apstolos (didach), a comunho fraterna (koinonia, incluindo a coleta de donativos para os mais necessitados), a frao do po (ponto culminante da liturgia) e as oraes, pois a finalidade sempre a edificao da comunidade

    crist.

    8. Existem formas bastante elementares de liturgia: (i) o Batismo, cf. 1Cor 12,13; (ii) celebrar no

    primeiro dia da semana, cf. At 20,7; (iii) o canto de salmos e hinos, cf. Cl 3,16; (iv) a coleta de donativos para os mais necessitados, cf. 1Cor 16,1.

    9. Aquilo que o domingo no curso da semana, a pscoa

    constitui no ritmo do ano, a festa mais antiga da Igreja crist.

    (...) Mas o verdadeiro problema foi a data em que se devia celebrar a festa da pscoa. No sculo II, as comunidades da

    sia Menor tinham como tradio (que segundo elas vinham dos apstolos Joo e Felipe) celebrar a pscoa na mesma data dos

    judeus, isto , no dia 14 do ms de Nis. (...) Mas no prprio

    sculo II existem outras comunidades, como as de Roma, da Palestina, do Egito, da Grcia, etc., que celebram a pscoa

    anual crist, no na data judaica de 14 de Nis, mas no domingo que a segue.6 Embora no houvesse divergncias entre o contedo da

    celebrao, esse evento foi suficiente para suscitar polmica na Igreja nascente, passando a ser conhecido como controvrsia

    quartodecimana.

    10. Na Igreja primitiva, era costume a utilizao dos termos mysterion (no Oriente) e sacramentum (no Ocidente) para denominar aquilo que hoje conhecemos como sacramentos. O termo mysterion est ligado quilo que est oculto, mas que pode ser conhecido. Em outra anlise, mysterion tudo aquilo que faz o homem silenciar. Sacramentum, por sua vez, um termo latino que se referia ao juramento de fidelidade dos soldados romanos ao imperador.

    11. A lngua litrgica o grego comum e a verso da Sagrada Escritura utilizada para a pregao e

    a liturgia era a LXX.

    12. A improvisao na prece foi tambm uma constante, embora destro de esquemas fixos. A

    preocupao pela ortodoxia nas frmulas litrgicas patente na Traditio Apostolica de Hiplito.7 Veja a seguir alguns trechos dessa obra (do sculo III), que considerada a base da atual Orao Eucarstica II: De tudo isto d explicao o bispo aos que recebem o po celestial, o corpo de Cristo Jesus.

    Aquele que o toma, responde: amm. E lhes dar o sangue de Cristo, nosso Senhor. E o que

    5 Borobio, 1990, p. 46. 6 Borobio, 1990, p. 63 e 64. 7 Martn, 2006, p. 102.

    So Joo Crisstomo proibiu quartodecimanos de celebrarem

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    lhes d o clice dir: este o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. E aquele que o recebe responde: amm.

    Durante a ceia os fiis presentes recebero das mos do bispo um pedao de po, antes de partir cada um seu prprio po.

    Cada um tenha cuidado para que nenhum infiel deguste a Eucaristia nem a comam os ratos ou outros animais, nem caia ou se perca nada dela. Porque o corpo de Cristo que deve ser

    comido pelos crentes e no pode ser menosprezado. Graas te damos, Deus, por teu Filho bem amado Jesus Cristo, que nos ltimos tempos

    nos enviaste como Salvador, Redentor e mensageiro de teu desgnio. Ele o teu Verbo inseparvel, por quem fizeste todas as coisas, e que, segundo teu agrado, enviaste do cu ao

    seio de uma Virgem, onde, sendo concebido, encarnou-se e revelou-se como teu Filho, nascendo do Esprito Santo e da Virgem. Ele, para cumprir a tua vontade, e obter para ti um

    povo santo, estendeu seus braos enquanto sofria, para livrar do sofrimento aqueles que

    creem em ti. Ele, entregando-se voluntariamente paixo, a fim de destruir a morte, quebrar as cadeia do demnio, esmagar os poderes do mal, iluminar os justos, estabelecer a lei e dar

    a conhecer a ressurreio, tomou o po e deu graas a ti dizendo: Tomai e comei, isto meu corpo que por vs ser imolado. Tomou igualmente o clice, dizendo: Este o meu sangue que por vs ser derramado. Quando fizerdes isto, fazei-o em minha memria. Por isso, lembrando-nos de sua morte e ressurreio, ns te oferecemos este po e este clice, dando-te graas porque nos fizeste dignos de estar diante de ti e servir-te.

    E te pedimos que envies o teu Esprito Santo sobre a oblao da santa Igreja, congregando-a na unidade. D a todos que participam em teus santos mistrios a plenitude do Esprito

    Santo, para que sejam confirmados em sua f pela verdade, a fim de que te louvemos e glorifiquemos por teu Filho Jesus Cristo, por quem te dada a glria e a honra, com o

    Esprito Santo, na santa Igreja, agora e sempre, e pelos sculos dos sculos. Amm.8

    A celebrao dos sacramentos

    Batismo

    Nesse perodo, o Batismo era visto como o meio de passagem para a comunidade salvfica. Era

    profunda a conscincia de que o sacramento demandava completa converso a Cristo e, em muitos casos, mudana de vida. No era aceitos na comunidade aqueles que, com sua vida

    pblica, demonstravam incompatibilidade com os preceitos cristos.

    So Justino, martir do sculo II, nos escreveu sobre o Batismo:

    Todos os que estiverem convencidos e acreditarem no que ensinamos e proclamamos, e prometerem viver de acordo com essas verdades,

    exortamo-os a pedir a Deus o perdo dos pecados, com oraes e jejuns; e

    tambm rezaremos e jejuaremos unidos a eles. Em seguida, levamo-os ao lugar onde se encontra gua; ali renascem do

    mesmo modo que renascemos: recebem o batismo da gua em nome do Senhor Deus Criador de todas as coisas, de nosso Salvador Jesus Cristo e do

    Esprito Santo.

    (...) Esta doutrina, ns a recebemos dos apstolos. No nosso primeiro

    nascimento, fomos gerados por um instinto natural, na mtua unio de nossos pais, sem disso termos conscincia. Fomos educados no meio de

    uma sociedade desonesta e em maus costumes. Todavia, para termos tambm um nascimento que no seja fruto da simples natureza e da ignorncia, mas sim de uma

    escolha consciente, e obtermos pela gua o perdo dos pecados, pronunciado o nome do

    8 Aldazbal, 2002, p. 237 e 238.

    So Justino

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    Senhor Deus Criador de todas as coisas. Somente podemos invocar este nome sobre aquele que levado gua do batismo.9

    Confirmao

    Embora haja relatos de uno e imposio das mos ps-batismais, o sacramento da

    Confirmao, nessa fase, encontra-se plenamente vinculado ao Batismo. No mesmo rito em que os novos cristos so batizados, so confirmados.

    Eucaristia

    Nesse perodo vai ocorrendo a separao entre a ceia em comum e a Eucaristia. O relato de 1Cor 11 mostra que a Eucaristia ocorria durante uma refeio, nos mesmos moldes da ceia pascal

    judaica. Contudo, agora, a celebrao da Eucaristia vai se vinculando ao culto da Palavra e se v destacada da refeio normal entre irmos.

    Ainda So Justino nos d um dos testemunhos mais antigos sobre a Eucaristia da Era Apostlica:

    No dia que se chama do Sol, celebra-se uma reunio de todos os que habitam nas cidades e nos campos. Nela se lem, medida que o tempo o permita, as Memrias dos Apstolos ou os

    escritos dos profetas. Em seguida, quando o leitor termina, o presidente, em suas prprias

    palavras, faz uma exortao e um convite para que imitemos esses belos exemplos. Levantamo-nos seguidamente todos de uma vez e elevamos nossas preces; quando terminam,

    como j dissemos, oferecem-se po, vinho e gua e o presidente, segundo suas foras, tambm eleva a Deus suas preces e eucaristias e todo o povo aclama dizendo: Amm.

    Prosseguindo vem a distribuio e participao dos alimentos eucaristizados e o seu

    envio, por meio dos diconos, aos ausentes. Os que tem bens e querem, cada um segundo sua livre determinao, do o que bem lhe parece; e o que recolhido entregue ao presidente, que

    com ele socorre rfos e vivas, aos que, por enfermidades ou outras causas, esto necessitados, aos que esto nos crceres, aos forasteiros de passagem. Em uma palavra, ele se

    constitui provedor dos quantos se acham em necessidade. Celebramos essa reunio no dia do Sol por ser o primeiro dia, no qual Deus, transformando as trevas e a matria, fez o mundo, bem

    como por ser o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos (Apologias 65 e 67).

    Reconciliao

    A nfase na Igreja primitiva recaa sobre o aspecto comunitrio da penitncia. Toda a comunidade era chamada a auxiliar o penitente com suas oraes e jejuns assim como se nota no perodo que antecede o Batismo. A noo da vinculao do cristo Igreja to forte que,

    para as primeiras comunidades, j claro: quando um cristo peca, toda a comunidade se encontra fragilizada. Por isso, era prtica primitiva a penitncia da excomunho pblica nica, ou seja, (i) os pecados eram confessados em comunidade; (ii) o perodo de penitncia era longo; (iii) a confisso s se realizava uma nica vez, sendo irrepetvel.

    Uno dos Enfermos

    Seguindo o preceito de Tg, j se encontram relatos de unes e oraes pelos doentes na Igreja primitiva. O objetivo dessa uno era a cura do doente e o perdo dos pecados.

    Ordem

    O Bispo sempre aparece como pai da comunidade e seu fundador. A imposio das mos o

    elemento epicltico do rito da ordenao e os novos bispos so escolhidos pela prpria comunidade, sendo ordenados pelos bispos das comunidades mais prximas.

    9 Aquino, 2009, p. 61 63.

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    Matrimnio

    O sacramento do Matrimnio encontra dificuldades na Igreja primitiva. Era preciso preg-lo como

    eticamente aceito e institudo pelo prprio Deus, conciliando-o com: (i) estoicismo, que aconselha apatia, ou indiferena quanto s coisas, inclusive quanto unio conjugal; (ii) maniquesmo,

    que pregava a bondade daquilo que era do esprito e a maldade daquilo que vinha do corpo; (iii) os equvocos na interpretao da preferncia de So Paulo pelo celibato.

    Atividades

    1) Vrios ritos da Igreja so heranas do Judasmo. Identifique com um X esses ritos:

    ( ) Leitura da Sagrada Escritura no culto ( ) O hino do glria ( ) Aclamaes, como amm, aleluia e hosana ( ) Frmulas de invocao, como oremos e coraes ao alto ( ) Reunio nas casas particulares

    2) Alm dos elementos herdados do Judasmo, alguns outros foram cristianizados. Indique o

    rito atual da Liturgia a partir da sua origem:

    Guardar o sbado como dia de culto ao Senhor Marcar o incio do dia com o pr-do-sol do dia anterior A orao da berakah 3) Qual evento histrico marcou a vida e o culto dos judeus e dos cristos, tendo sido

    resignificado por Cristo?

    4) Qual a diferena fundamental entre o culto das seitas pags e o culto judaico?

    5) Quais so as trs caractersticas e os quatro elementos fundamentais do culto cristo primitivo?

    Exerccios de reviso

    A Liturgia na Igreja Primitiva

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    II. A Liturgia na Igreja do Imprio

    Contexto histrico

    Constantino publicou o Edito de Milo, no ano de 313, com o qual concedia permisso a todos os

    habitantes do Imprio, principalmente, aos cristos, para praticar suas religies e formas de culto.

    Muitos acreditam que esse documento tornara o Cristianismo a religio oficial do Imprio Romano. Essa

    ideia no correta, pois o contedo do Edito de Milo s fala em tolerncia a qualquer culto, o que no

    tira a importncia do documento, que ps fim perseguio dos cristos. Contudo, somente com o Imperador Teodsio I (379-395), mais especificamente no ano de 380, o Cristianismo se torna religio

    oficial de todo o Imprio.

    Importante tambm para compreender o impacto na liturgia o conhecimento das heresias

    desenvolvidas no comeo da vida crist:

    1) Monarquianismo dinamista ou adocionista: Jesus teria sido mero homem, adotado no momento de

    seu batismo no Jordo;

    2) Monarquianismo modalista ou patripassiano: o Filho considerado como uma mera modalidade do

    Deus nico;

    3) Arianismo: fixava uma tesa subordinacionista, considerando o Filho como a criatura primeira e mais

    perfeita de Deus;

    4) Macedonianismo: os pneumatmacos consideravam o Esprito Santo como criatura do Filho;

    5) Apolinarismo: Jesus no teria vontade humana ou alma espiritual, sendo o Lgos responsvel pelas

    funes vitais da natureza humana assumida pelo prprio Lgos;

    6) Nestorianismo: afirmava que, em Jesus, havia duas pessoas, uma divina (o Lgos) e a outra

    humana, gerada por Maria, que se tornava, com isso, me de Cristo e no me de Deus;

    7) Monofisismo: afirma que em Jesus h uma s natureza e uma s pessoa (a divina);

    8) Donatismo: recusam-se a reconhecer como vlido os sacramentos realizados por ministros que no

    fossem dignos;

    9) Pelagianismo: dispensa qualquer obra de Deus na salvao humana, reduzindo o papel de Cristo a

    um simples exemplo, que os homens deveriam esforar-se a seguir, atravs de rgidas prticas ascticas.

    Enquanto isso, na Liturgia...

    1. A chamada paz de Constantino no trouxe somente converses fceis, mas tambm favoreceu o contato do Cristianismo com alguns elementos culturais das religies pags. Em

    decorrncia, alguns costumes foram introduzidos e cristianizados, de forma que hoje temos alguns exemplos: o beijo no altar e nas imagens, a multiplicao dos atributos divinos, e o

    costume de batizar voltado para o Oriente.

    2. Agora, as celebraes ocorrem em imponentes baslicas, o que exige uma liturgia mais solene

    e elaborada, incluindo um altar para o culto. Batistrios so construdos nas entradas das Igrejas, para lembrar que se entra no Corpo Mstico de Cristo por esse sacramento. Alm disso,

    os paramentos utilizados comeam a se assemelhar com aqueles usados pelos soldados e pela

    corte romana.

    Igreja primitiva

    Igreja no Imprio

    De Gregrio Magno a

    Gregrio VII

    Conclio de Trento

    Vaticano II e Ps-Conclio

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    3. O domingo passa a ser protegido por lei do Estado e agora se tem o direito de celebrar

    livremente.

    4. Como o perodo de martrio havia acabado, os cristos desenvolveram uma outra maneira de

    entregar a vida totalmente a Deus: o monaquismo.

    5. Alguns fatores favorecem o aparecimento das famlias litrgicas: (i) expanso facilitada da evangelizao e do alcance do Evangelho; (ii) diferentes culturas s quais o Evangelho chegava;

    (iii) diferentes pregadores e fundadores das comunidades; (iv) dificuldade de comunicao,

    devido precariedade do perodo, frente s longas distncias entre as comunidades crists.

    6. Nos grupos orientais de famlias litrgicas, temos como exemplo:

    a) Liturgia maronita, da Sria central: usa uma adaptao do Cnon Romano;

    b) Liturgia bizantina, de Bizncio (que j foi Constantinopla e , atualmente, chamada Istambul): predominncia de cones; ano litrgico com ciclo fixo (setembro a agosto) e mvel

    (centrado na Pscoa); c) Liturgia copta, do Egito: liturgia do incenso inicia a celebrao Eucarstica; quatro leituras

    na Liturgia da Palavra; trinta e duas festas para Maria.

    7. Nos grupos ocidentais de famlias litrgicas, preciso citar os dois principais:

    a) Liturgia romana (ou romana pura): (i) simplicidade, sobriedade e pouco sentimentalismo;

    (ii) textos de notvel valor literrio; (iii) as oraes so dirigidas ao Pai, por Cristo, no Esprito Santo; (iv) possui uma nica anfora, que chamada de Canon Romano; (v) pouca ou

    nenhuma manifestao exterior; (vi) forte conscincia de comunidade.

    b) Liturgia galicana (onde hoje encontra-se a Frana): (i) tom solene, muitas vezes prolixo; (ii) considervel sentimentalismo e certo apelo teatralizao dos rituais; (iii) as oraes so

    dirigidas a Cristo; (iv) as frmulas da orao eucarstica variam todos os dias; (v) maior individualismo na orao.

    8. Nesse perodo, comeam-se a formar livros litrgicos: (i) ordo, com as oraes e as frmulas da celebrao da eucaristia; (ii) sacramentrio, com a estrutura e as oraes dos demais

    sacramentos; (iii) lecionrio, com as leituras usadas na liturgia; (iv) antifonrio, com as antfonas que eram cantadas nas celebraes.

    A celebrao dos sacramentos

    Batismo

    Graas controvrsia pelagiana e a confirmao da doutrina de Santo Agostinho, aliado ao aumento do nmero de cristos, o batismo realizado em crianas passou a ser cada vez mais

    comum.

    Confirmao

    Dado ao aumento no nmero de cristos, Batismo e Confirmao passam a ser administrados

    separadamente. Ao presbtero caber batizar, ficando reservado ao Bispo o dever de confirmar os membros de sua comunidade.

    Eucaristia

    Com a oficializao da religio crist, novos lugares de culto passam a existir: as primeiras igrejas e baslicas so construdas. Por consequncia, os ritos vo se tornando cada vez mais complexos

    e solenes.

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    Por outro lado, as constrovrsias cristolgicas dos primeiros sculos fizeram com que a Igreja

    tivesse que intensificar a pregao acerca da divindade de Cristo. Por sua vez, essa pregao foi, de certa forma, responsvel pelo afastamento dos fiis da Eucaristia.

    Reconciliao

    Devido rigidez do sacramento at o sculo IV, muitos cristos deixavam para se confessar beira da morte.

    nesse perodo que monges celtas desenvolvem um tipo de penitncia chamada confisso

    celta, que tem trs caractersticas: (i) acusao dos pecado de forma privada ao presbtero; (ii) reduo entre o perdo da confisso e da absolvio; (iii) possibilidade de repetio do sacramento.

    Uno dos Enfermos

    A uno no exclusiva dos doentes beira da morte e h registros de costumes de se deixar leo nas casas, para uso particular, sendo aplicado por presbteros ou mesmo leigos.

    Ordem

    Nesse perodo ganha importncia a figura do presbtero, que representa o Bispo em sua parquia. D-se incio estrutura de governo que existe na Igreja at hoje.

    Matrimnio

    O sacramento do matrimnio passa a ser vinculado com o conceito de indissolubilidade, para

    uma observncia mais precisa das palavras e ensinamentos de Jesus.

    Atividades

    1. Cite exemplos de modificaes ocorridas na liturgia com o advento da era constantiniana.

    2. Como se dividem os livros litrgicos da Liturgia Romana Pura? Qual o contedo de cada um? 3. Qual o efeito da controvrsia pelagiana na liturgia do Batismo?

    4. Qual o efeito da grande nfase da Igreja na divindade de Cristo para a liturgia da Eucaristia? 5. Quais so as trs novidades trazidas pela modalidade celta de reconciliao?

    6. Quais os fatores que contriburam para a formao de grupos litrgicos?

    7. Quais as caractersticas mais marcantes da liturgia romana? 8. facultado a um cristo adotar rito litrgico diferente daquele onde foi nasceu e foi criado?

    Questionrio de reviso

    A Liturgia na Igreja do Imprio

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    III. A Liturgia de Gregrio Magno a Gregrio VII

    Contexto histrico

    Gregrio Magno, eleito Papa em 590, tem a difcil misso de liderar a

    converso dos povos brbaros que habitavam a Europa ocidental naquela poca. O Sumo Pontfice, no contando mais com a ajuda de Constantinopla para combater os Longobardos e garantir a liberdade da Igreja, voltou as costas ao Oriente, dirigindo-se para o Ocidente,

    convencido de que o futuro da Igreja dependeria da cristianizao dos

    povos brbaros (Matos, 2009, p. 151).

    No incio do sculo VIII, Constantinopla sofre o cerco dos muulmanos, que fixam seu imprio em

    Bagdad (750-1258). Embora tolerassem os cristos, os muulmanos no deixavam de procurar ganhar

    adeptos entre eles, conforme explica Bettencourt (p. 59). A partir de ento, a Europa vai identificar diversas vezes, em diferentes lugares, tentativas de invaso muulmana.

    Conforme Bettencourt, a controvrsia iconoclasta [iniciada no sculo VIII] teve como uma de suas consequncias um maior distanciamento da Itlia e do

    Imprio Bizantino. Esse afrouxamento religioso, administrativo e poltico foi um dos antecedentes do cisma

    de 1054 entre orientais e ocidentais (p. 65).

    Na noite de Natal do ano 800, o Papa Adriano coroa Carlos Magno, da dinastia carolngia, imperador do

    Sacro Imprio Romano. Segundo Bettencourt, esse evento mostra a restaurao do Imprio Romano

    Ocidental, que havia cado em 476. Com isso, a Itlia e o Papado ficam, ainda mais, distantes de Constantinopla. Calos Magno assumiu para si a funo de proteger a Igreja. Para ele, a funo do Papa

    era rezar, como Moiss, enquanto ele guerreava para defender a f e a Igreja. Surge, assim, a vinculao

    da Igreja ao Estado.

    Com a morte de Carlos Magno, o Imprio Carolngio partido em trs, o que afeta diretamente a Igreja,

    deixando-a mais frgil e dando incio ao que chamamos de sculo de ferro. Nesse perodo, conforme

    Matos (2009), o episcopado era lugar privilegiado de prncipes e cavaleiros, com ambio por poder, riquezas e profundo desregramento moral.

    Em 1014, o Papa Bento VIII introduziu o termo Filioque no canto da Igreja romana a pedido do

    Imperador Henrique II, o que muito irritou os bizantinos. J em 1054, o Papa Leo IX emitiu uma bula de excomunho contra o Patriarca Bizantino Cerulrio, que, por sua vez, pronunciou o antema sobre o

    Papa, obtendo a adeso das demais Igrejas orientais, dando-se o que conhecemos como Cisma do Oriente.

    Como outrora na luta pela evangelizao dos brbaros, tambm durante o sculo X caber ao

    monaquismo salvar a Igreja. A reforma eclesistica, to profundamente necessria no se originou com o Papa, mas sim com os monges, especialmente em um mosteiro francs chamado Cluny. O mosteiro

    Igreja primitiva

    Igreja no Imprio

    De Gregrio Magno a

    Gregrio VII

    Conclio de Trento

    Vaticano II e Ps-Conclio

    Era preciso no as quebrar, pois as imagens no foram colocadas na igreja

    para ser adoradas, mas apenas para instruir as mentes dos ignorantes.

    So Gregrio Magno

    So Gregrio Magno

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    torna-se essa grande referncia por dois motivos: (i) no estava sujeito ao Bispo local, o que lhe dava independncia de escolher seu superior; e (ii) contou com um grande nmero de santos entre os seus

    abades. Com isso, vrios mosteiros vinham pedir ajuda a Cluny e assim a reforma monstica comeava a

    avanar os muros do mosteiro, chegando ao clero secular.

    Contudo, a reforma de Cluny ainda alcanaria propores universais, quando um de seus monges, de

    nome Hildebrando, eleito Papa Gregrio VII, em 1073. A chamada Reforma Gregoriana contou com diversas medidas, dentre elas: (i) proibio do ministrio ao clrigo simonaco; (ii) proibio de

    celebrao para todo clrigo fornicador; (iii) veto investidura leiga; (iv) centralizao do poder e da

    autoridade do Papa.

    continuidade do papado de so Gregrio VII, no se pode deixar de mencionar o Papa Inocncio III,

    que conduziu o Conclio de Latro IV.

    Enquanto isso, na Liturgia...

    1. Com So Gregrio Magno, tem-se incio ao que a SC chama de canto prprio para a liturgia romana10, o que hoje conhecemos como canto gregoriano. O canto gregoriano um tipo de msica monofnica, de ritmo livre. O texto utilizado como letra para as melodias , quase que na

    totalidade, retirado da Sagrada Escritura, o que (i) isenta a msica de possveis erros teolgicos; (ii) facilita sua vinculao com os textos bblicos a serem utilizados nas leituras litrgicas; e (iii) promove

    maior contato do fiel com a Palavra de Deus, de forma cantada, para facilitar a memorizao.

    2. Foi tambm o Papa Gregrio Magno que, em resposta auto-atribuio do Patriarca de

    Constantinopla com o ttulo de Ekumeniks, atribuiu-se o ttulo de Servus Servorum Dei (Servo dos Servos de Deus) ttulo at hoje utilizado pelos papas ao assinar documentos oficiais.

    3. Desenvolve-se a liturgia romana, chamada de pura, com as seguintes caractersticas: (i)

    sobriedade; (ii) grandeza de estilo literrio dos textos litrgicos; (iii) a orao sempre se orienta ao Pai, por Cristo, no Esprito Santo; (iv) no h manifestaes exteriores de venerao; e (v) a liturgia

    tem uma forte noo de vivncia em comunidade e sempre est ligada a ela.

    4. Nesse perodo, principalmente sob o rei Pepino e o Imperador Carlos Magno, a liturgia romana foi

    levada capital do Imprio (grande parte do que hoje conhecemos como Frana e Alemanha) e adotada como liturgia oficial. Ao ter contato com a liturgia franco-germnica, o rito volta para Roma

    como liturgia romano-franco-germnica, tendo sido afetada com as seguintes caractersticas: (i) afetividade nas oraes; (ii) simbolismo no vocabulrio e na ao dramtica; (iii) multiplicao

    das oraes privadas; (iv) maior conscincia de culpa; e (v) oraes dirigidas a Cristo, nosso Deus.

    5. Para reforar a conscincia da autoridade e centralidade do poder papal,

    Gregrio VII: (i) aboliu a liturgia hispnica; (ii) determinou que as festas dos papas santos fossem celebradas universalmente; e (iii) instituiu o

    juramento de fidelidade ao Papa na ordenao episcopal, conforme Aug

    (2007, p. 45).

    6. Ainda segundo Aug (2007), os objetivos da Reforma Gregoriana eram: (i) aumentar o apreo pelo sacerdcio; (ii) cultivar o sentido de

    mistrio nas celebraes; e (iii) abrir espao s devoes.

    7. Em sua luta pela reforma da Igreja, Gregrio VII adotou a liturgia como

    mecanismo de mudana e moralizao do clero. Interpretou a liturgia como atividade prpria do clrigo e que exige retido moral e

    santidade de vida para aqueles que so responsveis por ela.

    10 SC 116: A Igreja reconhece o canto gregoriano como prprio da liturgia romana: portanto, entre seus similares, ocupa o primeiro lugar nas aes litrgicas.

    So Gregrio VII

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    8. Como a liturgia o ato mais nobre da vida do clrigo, deve ser celebrada obrigatoriamente. Surge,

    ento, a chamada missa privada, celebrada apenas por um sacerdote. Para que isso fosse possvel

    num contexto de abundncia de ministros ordenados, a soluo foi a construo de diversos altares em uma mesma igreja. Dessa forma surgiram os altares laterais que hoje encontramos nas igrejas

    mais antigas.

    9. O carter de mistrio acaba por causar medo naqueles que se aproximavam da comunho.

    10. A percepo dos sacramentos tambm muda nesse perodo. Eles deixam de ser vistos como aquilo

    que realmente so: celebrao do mistrio pascal de Cristo; e passam a ser encarados como um remdio misterioso, beirando um ato de superstio.

    A celebrao dos sacramentos

    Batismo

    Desenvolvimento do modelo ex opere operato, para explicar a maneira como o sacramento pode ter sua eficcia, uma vez que a criana recebe o Batismo sem conscincia do que acontece.

    Confirmao

    Elaborao da diferena sistemtica entre Batismo (o Esprito Santo que apaga os pecados) e Confirmao (o Esprito Santo que fortalece para a misso).

    Eucaristia

    Como fruto do Conclio de Latro IV, ficou estabelecida a ordem de comungar ao menos na Pscoa da Ressurreio; alm de ter sido a primeira ocasio onde se usou o termo

    transubstanciao11.

    O conceito de simbolismo de Berengrio e a Solenidade de Corpus Christi:

    No sculo XI, Berengrio de Tours se ope ao realismo eucarstico de Lanfranco e de outros contemporneos seus. Tenta reviver a doutrina dos Padres e, acima de tudo, o pensamento sacramental de Agostinho. Berengrio usa a dialtica como princpio fundamental de sua obra

    teolgica, tanto ao desenvolver sua doutrina eucarstica, como ao defend-la dos adversrios. Apoiando-se em afirmaes agostinianas, nem sempre usadas de modo correto, v no

    sacramento eucarstico, essencialmente, um smbolo, um signo; as duas espcies eucarsticas

    no so o verdadeiro corpo nem o verdadeiro sangue, mas uma figura e uma imagem (similitudo). Rechaa com vigor a mudana de substncia do po e do vinho, assim como a presena material do corpo e do sangue de Cristo. No obstante, afirma que o po, uma vez consagrado, o corpo de Cristo, mas em termos espirituais, para a f, e no materialmente.12

    No sculo XII, a Igreja comea a adotar o costume de distribuir a comunho somente sob a

    espcie do po. Segundo Bettencourt, at o sculo anterior, era costume distribuir a eucaristia sob as duas espcies. Essa mudana ocorreu motivada por preocupaes higinicas e tambm

    em relao a abusos ou profanaes.

    Reconciliao

    Das penitncias tarifadas (modelo onde as penas so dadas conforme uma lista pr-estabelecida de pecados), passa-se s indulgncias como forma alternativa s duras penas;

    11 Pela consagrao do po e do vinho opera-se a mudana de substncia do po na substncia do Corpo de Cristo nosso Senhor e de toda a substncia do vinho na substncia do seu Sangue; a esta

    mudana, a Igreja catlica denominou-a com acerto e exatido transubstanciao (CIgC 1376). 12 Borobio, 1990, p. 96 e 97.

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    Tambm fruto do Conclio de Latro IV foi a ordem de confessar-se, ao menos, uma vez por ano.

    Uno dos Enfermos

    Sacramento reservado ao momento da morte, por isso, passa a chamar-se Extrema Uno.

    Ordem

    Cresce o abismo entre clrigos e leigos dualismo que substituiu a antiga oposio entre cristos e no-cristos;

    Surge o rito da uno das mos do presbtero, para realar a grandeza do ato da celebrao da

    Eucaristia, que ele estar apto a realizar.

    Matrimnio

    Segundo o Papa Nicolau I, o consentimento suficiente para que haja o matrimnio.

    Atividades

    1. Relacione as principais caractersticas da liturgia romano-franco-germnica.

    2. Cite exemplos das mudanas oriundas da reforma de Gregrio VII, no sculo XI.

    3. Qual solenidade da Igreja surgiu devido controvrsia com Berengrio de Tours? 4. Explique o conceito de ex opere operato e diga porque seu desenvolvimento foi importante nesse perodo. 5. Por que Santo Toms de Aquino achou por bem chamar de extrema uno o sacramento da uno dos enfermos? 6. O que era a missa privada? Qual sua consequncia para a arquitetura das igrejas?

    7. Assinale com um X os fatores que contriburam para a rarefao da comunho nesse perodo:

    ( ) vinculao da Igreja com o Estado ( ) colocao do altar no fundo das igrejas

    ( ) reduo do uso popular da lngua latina

    ( ) orao eucarstica comea a ser rezada em voz baixa ou em silncio ( ) perda do sentido de ao de graas e nfase no milagre da presena real ( ) crescimento das comunidades

    8. Nesse mesmo perodo, a rarefao da comunho faz crescer o sentido de culto Eucaristia. Cite alguns elementos que apontam para essa nova nfase.

    Exerccios de reviso

    A Liturgia de Gregrio Magno a Gregrio VII

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    IV. A Liturgia do Conclio de Trento

    Contexto histrico

    Voc se lembra dos temas abaixo?

    a) Reforma Protestante trs refutaes parecem ser as que mais afetam a rea litrgica: (i) Calvino nega o carter de sacrifcio da eucaristia; (ii) Lutero afirma a presena real na eucaristia, mas no aceita a transubstanciao - em, com e sob os elementos; Zwnglio diz ser em sentido figurado, pois Cristo est direita do Pai e no pode estar na hstia consagrada; Calvino, por sua vez, prega que Cristo no desce dos cus, mas nos leva at ele pelo Esprito;

    (iii) exigncia da comunho nas duas espcies, como Jesus realizou na ltima ceia.

    b) Conclio de Trento dividido em trs fases: (i) de 1545 a 1547, de modo geral, trata da Sagrada Escritura e dos sacramentos do Batismo e da Reconciliao; (ii) de 1551 a

    1552, cuida dos sacramentos da Eucaristia, Uno dos Enfermos e Confirmao; (iii) de 1561 a 1563, fala da

    comunho sob duas espcies, do carter sacrifical da missa e

    da doutrina dos sacramentos do Matrimnio e da Ordem. De modo geral, Matos (1997) sintetiza as vitrias de Trento em

    trs reas: fixou a doutrina catlica em definies dogmticas precisas, decretou numerosos documentos disciplinares, e

    incentivou e disciplinou a participao nos sacramentos.

    Enquanto isso, na Liturgia...

    1. Panorama da liturgia no outono da Idade Mdia (ou Baixa Idade Mdia, sculos XI a XV):

    a) Somente ver a hstia j suficiente (reduo da participao na comunho) introduo dos sinos e da elevao das espcies eucarsticas aps a consagrao;

    b) Multiplicao dos altares laterais das Igrejas; c) Aumento do ritualismo exagerado;

    d) Mudana na concepo popular dos sacramentos: os fiis, em geral, deixaram de ver os sacramentos como memorial do Mistrio Pascal de Cristo e passaram a encar-lo como remdio

    misterioso para cura dos males.

    2. Nesse perodo, surge a Devotio Moderna, que no uma escola de espiritualidade, mas um movimento amplo, de carter pedaggico, ou seja, que busca ensinar o homem a crescer como

    cristo. Tradicional e cristocntrica, ela no introduz prticas novas na Igreja; somente coloca

    em destaque alguns princpios e aperfeioa mtodos, colocando Cristo no centro da vida, no s sua Paixo, mas toda a sua vida, propondo que ela sirva de modelo para imitao.

    Caractersticas da Devotio Moderna:

    a) despreza cincia humana da Escolstica; b) possui tendncia moralizante prtica e apostlica;

    c) possui tendncia afetiva, que incentiva a santidade na vida cotidiana;

    d) prega uma vida espiritual metodizada, com um matiz mais individual do que litrgico.

    Igreja primitiva

    Igreja no Imprio

    De Gregrio Magno a

    Gregrio VII

    Conclio de Trento

    Vaticano II e Ps-Conclio

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    CAPTULO 1 Da imitao de Cristo e desprezo de todas as vaidades do mundo

    1. Quem me segue no anda nas trevas, diz o Senhor (Jo 8,12). So estas as

    palavras de Cristo, pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de

    corao. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo. 2. A doutrina de Cristo mais excelente que a de todos os santos, e quem tiver seu

    esprito encontrar nela um man escondido. Sucede, porm, que muitos, embora ouam frequentemente o Evangelho, sentem nele pouco enlevo: que no possuem

    o esprito de Cristo. Quem quiser compreender e saborear

    plenamente as palavras de Cristo -lhe preciso que procure conformar dele toda a sua vida.

    3. Que te aproveita discutires sabiamente sobre a SS. Trindade, se no s humilde, desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, no so palavras

    elevadas que fazem o homem justo; mas a vida virtuosa que o torna agradvel a

    Deus. Prefiro sentir a contrio dentro de minha alma, a saber defini-la. Se soubesses de cor toda a Bblia e as sentenas de todos os filsofos, de que te

    serviria tudo isso sem a caridade e a graa de Deus? Vaidade das vaidades, e tudo vaidade (Ecle 1,2), seno amar a Deus e s a ele servir. A suprema sabedoria

    esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos cus.13

    3. Como se pde notar, enquanto a liturgia tende a ligar as almas a Deus atravs de um contato objetivo com a humanidade de Cristo, vista como fonte real de redeno que se comunica aos

    seres humanos que com f o encontram e o tocam no sinal sacramental, a devotio moderna, pelo contrrio, busca um contato imediato, individual e pessoal, obtido por meio de um processo

    psicolgico, ou seja, atravs de um esforo de meditao-contemplao da humanidade de Cristo. A imitao de Cristo no nasce da presena sacramental do Senhor, como

    desenvolvimento da mesma (...), mas procede de uma viso de Cristo que est diante de ns como exemplo desapegado e que to mais vlido quanto mais for capaz de impressionar a

    nossa sensibilidade (...)14.

    4. As resolues do Conclio de Trento deram Igreja um ar de vitria; um alvio aps as sucessivas

    crticas do movimento protestante. Uma atmosfera de triunfo e de festa invade tambm o recinto e a expresso clticos. As igrejas construdas no Barroco tm o ar de um elegante salo

    de espetculos, com paredes de mrmore e ouro, com pinturas no teto, ao qual no faltam os

    palcos e as galerias. (...) Esse o sculo de ouro da polifonia.15

    A celebrao dos sacramentos segundo o Conclio de Trento

    Batismo

    Cn. 5. Se algum disser que o batismo livre, ou seja, no necessrio salvao: seja antema.

    Cn. 7. Se algum disser que as pessoas batizadas, por seu batismo, esto obrigadas somente

    f e no obedincia de toda a lei de Cristo: seja antema.

    Cn. 10. Se algum disser que todos os pecados cometidos depois do batismo so perdoados ou

    se tornam veniais s com a recordao e a f do batismo: seja antema. Cn. 12. Se algum disser que ningum deve ser batizado a no ser na idade em que Cristo foi

    batizado ou no momento da morte: seja antema.

    13 Kempis, 2009, p. 23 e 24. 14 Marsili, 2009, p. 657. 15 Borobio, 1990, p. 118.

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    Confirmao

    Cn. 1. Se algum disser que a confirmao dos batizados uma cerimnia intil e no um

    verdadeiro e prprio sacramento; ou que, outrora, no foi mais que uma espcie de catequese, na qual os jovens, ao chegar adolescncia, davam contas de sua f perante a Igreja: seja

    antema. Cn. 3. Se algum disser que o ministro ordinrio da santa confirmao no s o bispo, mas

    qualquer simples sacerdote: seja antema.

    Eucaristia

    Cap. 2. Portanto, nosso Salvador, ao deixar este mundo para ir ao Pai, instituiu este sacramento, no qual como que derramou as riquezas do seu amor divino para com os homens, deixando o memorial de suas maravilhas (Sl 111,4), e ordenou-nos que, ao receb-lo, celebrssemos sua memria (1Cor 11,24) e proclamssemos sua morte, at que ele mesmo venha julgar o mundo (1Cor 11,26).

    Cn. 1. Se algum negar que, no sacramento da Santssima Eucaristia, est contido verdadeira,

    real e substancialmente o corpo e o sangue, juntamente com a alma e a divindade de nosso

    Senhor Jesus Cristo e, portanto, o Cristo inteiro, mas disser que s esto como que em sinal ou

    em figura ou na eficcia: seja antema. Cn. 3. Se algum negar que sob a espcie s do po recebido o Cristo todo e inteiro, fonte e

    autor de todas as graas, porque, como alguns afirmam erroneamente, no se recebem ambas

    as espcies segundo a instituio do prprio Cristo: seja antema. Cn. 11. Se algum disser que na Missa no se oferece a Deus um sacrifcio verdadeiro e

    prprio, ou que o ser oferecido no mais do que Cristo ser dado a ns em alimento: seja

    antema.

    Reconciliao

    O Senhor instituiu o sacramento da penitncia principalmente naquela ocasio em que,

    ressuscitado dos mortos, soprou sobre os apstolos... (Jo 20,22s). Com efeito, se estes [que pecaram aps seu batismo] se contaminarem depois com algum delito,

    devem, segundo a sua vontade, purificar-se, no por um novo batismo, o que de nenhum modo

    lcito na Igreja catlica, mas comparecendo como rus diante deste tribunal da penitncia, a fim de poderem, pela sentena do sacerdote, libertar-se, no apenas uma vez, mas todas as

    vezes que, arrependidos de seus pecados, recorrerem a ele. A respeito do ministro deste sacramento, o santo Snodo declara como falsas e inteiramente

    alheias verdade do Evangelho todas as doutrinas que perniciosamente estendem o ministrio

    das chaves a outros homens alm dos bispos e sacerdotes.

    Os atos do penitente so como que a matria deste sacramento, a saber: a contrio, a confisso

    e a satisfao.

    Uno dos Enfermos

    Cn 1. Se algum disser que a extrema-uno no , no sentido verdadeiro e prprio, um sacramento institudo por Cristo, nosso Senhor (Mc 6,13) e promulgado pelo bem-aventurado

    Tiago Apstolo, mas somente um rito recebido pelos Padres ou uma criao humana: seja antema.

    Cn 4. Se algum disser que (...) no s o sacerdote ministro prprio da extrema-uno: seja

    antema.

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    Ordem

    Cn. 1. Se algum disser que no h no Novo Testamento um sacerdcio visvel e externo ou

    no existe um poder de consagrar e de oferecer o verdadeiro corpo e sangue do Senhor e de perdoar os pecados e ret-los, mas s a funo e o simples ministrio de pregar o Evangelho

    (...): seja antema. Cn. 6. Se algum disser que na Igreja catlica no h uma hierarquia instituda por disposio

    divina e constando de bispos, presbteros e ministros: seja antema.

    Matrimnio

    Cn. 1. Se algum disser que o matrimnio no , verdadeira e propriamente, um dos sete sacramentos da Lei evanglica e institudo pelo Cristo Senhor, mas inventado por homens da

    Igreja, e que no confere a graa: seja antema.

    Cn. 4. Se algum disser que a Igreja no podia estabelecer impedimentos dirimentes do

    matrimnio, ou que errou ao estabalec-los: seja antema. Cn. 7. Se algum disser que a Igreja erra, quando ensinou e ensina, segundo a doutrina

    evanglica e apostlica, que o vnculo do matrimnio no pode ser dissolvido (...): seja antema.

    Cn. 12. Se algum disser que as questes matrimoniais no so da competncia dos juzes

    eclesisticos: seja antema.

    Atividades

    1. Qual foi a nfase do Conclio de Trento? 2. Qual a maior obra e maior limitao do Conclio?

    3. Por que chamamos o perodo ps-tridentino de era das rubricas? 4. Quais foram os trs principais pontos de ataque dos reformadores cristos do sculo XVI? 5. Por que a Igreja no introduziu a liturgia em lngua verncula aps o Conclio de Trento?

    Questionrio de reviso

    A Liturgia no Conclio de Trento

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    V. A Liturgia no Conclio Vaticano II e no ps-Conclio

    Contexto histrico

    fundamental ter em mente o mundo onde vivia a Igreja antes do Conclio Vaticano II:

    (i) Jansenismo a teoria jansenista, que passou de sistema teolgico a movimento de espiritualidade, praticamente nega o livre arbtrio. Aqui tocamos o erro bsico do Jansenismo: Cristo no morreu por todos os homens; a Igreja, na sua forma pura, para poucos. A espiritualidade jansenista afeta um

    ponto bsico da doutrina catlica: a universalidade da salvao.16

    (ii) Iluminismo Os pensadores iluministas propagavam o racionalismo como uma espcie de nova religio com novos dogmas: a crena num progresso todo abrangente e retilneo; a reivindicao de total

    liberdade; e, sobretudo, o direito de criticar tudo e todos17. Do pensamento ilustrado tambm surge a concepo da religio natural, o chamado desmo, que aceita a ideia da existncia de Deus, porm, um

    Deus que no se manifesta no mundo.

    (iii) Modernismo O Modernismo um tentativa de conciliar a f e as filosofias modernas de tipo imanentista. Os erros modernistas seguem uma linha agnstica, imanentista e um evolucionismo

    radical18. Em 1864, em meio s diversas doutrinas e formas de pensamento que ameaavam a Igreja, o Papa Pio IX publicou a encclica Quanta Cura, contendo um Syllabus com o resumo das falsas doutrinas divididas da seguinte maneira: (i) Pantesmo, Naturalismo, Racionalismo absoluto; (ii) Racionalismo moderado; (iii) Indiferentismo, latitudinarismo (taxismo ou liberalismo moral; (iv) Socialismo, comunismo, sociedades clandestinas, sociedades bblicas, sociedades clrico-liberais; (v) Erros sobre a Igreja e seus

    direitos; (vi) Erros sobre a sociedade civil considerada em si e em suas relaes com a Igreja; (vii) Erros sobre tica natural e tica crist; (viii) Erros sobre o matrimnio cristo; (ix) Erros sobre o poder

    temporal do Romano Pontfice; e (x) Erros que se referem ao liberalismo do sculo XIX.19

    No se pode perder de vista que os anos que seguiram o Conclio Vaticano II apresentaram e continuam

    a apresentar diversos desafios para a Igreja. Selecionamos e listamos aqui algumas questes que podem

    impactar diretamente a celebrao da liturgia catlica:

    (iv) A Teologia da Libertao foi um movimento que se desenvolveu, sobretudo e com maior

    intensidade, na Amrica Latina, a partir dos anos de 1970. O fundamento dessa dita teologia bblico,

    com toda segurana: olhar para a realidade do povo mais pobre e oprimido e esforar-se pela sua

    libertao, ou seja, pela melhoria de sua vida. O grande problema da Teologia da Libertao foi o exagero essa opo pelos pobres, que o Magistrio da Igreja, no Documento de Puebla, esclareceu

    como sendo, de forma correta, opo preferencial e no-exclusiva pelos pobres. Alguns filhos da Igreja, impregnados com os conceitos marxistas da luta de classes, buscaram revestir essa teoria com a

    mensagem crist, gerando um grande equvoco na interpretao do Evangelho.

    16 Matos, 1997, p. 155. 17 Ibid, p. 173. 18 Arce e Sada, 1992, p. 229. 19 Relao retirada de Bettencourt, Curso de Histria da Igreja, p. 193.

    Igreja primitiva

    Igreja no Imprio

    De Gregrio Magno a

    Gregrio VII

    Conclio de Trento

    Vaticano II e Ps-Conclio

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    (v) Sem dvida, o relativismo no se originou aps o Conclio Vaticano II, uma vez que podemos

    encontrar autores como Max Weber e Nietsche, ambos do sculo XIX, j escrevendo sobre conceitos

    relativistas. De forma geral, o relativismo prega que no se pode chegar a uma verdade nica e que

    todas as afirmaes so desenvolvidas a partir de um ponto-de-vista, que no pode se fechar a outras possibilidades. Ou seja, o relativismo nega o verdadeiro absoluto, que, sob a nossa tica, o prprio

    Deus.

    (vi) Outro grande mal do nosso tempo a laicizao da sociedade, isto , a perda dos referenciais

    religiosos do povo. O laicismo reveste-se com o discurso de que se deva construir um Estado

    completamente isolado dos valores religiosos. Por outro lado, fundamental lembrar que foram exatamente os valores religiosos que permitiram a construo de nossa sociedade ps-moderna. Nesse

    ponto, o que se deve defender o direito a todos os cidados para, livremente, expressar suas crenas religiosas, sem opresso ou discriminao.

    (vii) Os movimentos neopentecostais so uma corrente que, de certa forma, congrega diversas

    denominaes crists no-catlicas, por apresentarem praticamente as mesmas caractersticas de culto. Os primeiros movimentos neopentecostais surgiram nos Estados Unidos, no sculo XX. Alm da forte

    nfase ao Esprito Santo e aos exorcismos, uma das principais caractersticas desse movimento a

    Teologia da Prosperidade, ou confisso positiva, que defende ser possvel trazer existncia tudo aquilo que confessado ou pedido com a boca, com fortes clamores a Deus.

    Enquanto isso, na Liturgia...

    1. Como praticamente todos os movimentos culturais, possvel perceber aspectos positivos e negativos

    no Iluminismo. Segundo Neunheuser (2007), o lado positivo afirma que o Iluminismo lutou com razo contra o fausto exuberante do barroco; pela primeira vez ps o acento no aspecto da pastoral litrgica (p. 197). Contudo, por outro lado, o movimento permaneceu por demais prisioneiro da dimenso humanstica, de um intelectualismo subjetivo. (...) Para o Iluminismo, a liturgia era pouco mais que um meio para a educao moral do homem, no a realizao da adorao de Deus em esprito e verdade20.

    2. A restaurao catlica [do sculo XIX] tem como objetivo reconstruir aquilo que se supe destrudo pelo

    Iluminismo. Neste aspecto ela busca uma estreita ligao com Roma e com a Alta Idade Mdia. Esta

    posio caracteriza tambm a relao com a liturgia

    que ela pretende cultivar na sua suposta forma originria romana, como um valor digno de venerao

    e para o qual quer despertar entusiasmo. Expoente de destaque desta posio o abade beneditino Prosper

    Guranger (+1875), fundador da abadia de

    Solesmes. (...) [Afirma que a Liturgia] realmente o verdadeiro modelo da orao crist,

    superando todas as escolas e mtodos particulares.21

    3. De forma mais abrangente, possvel considerar o perodo que compreende desde o Iluminismo at a

    restaurao catlica do sculo XIX como antecedente ou primeira fase do chamado Movimento Litrgico, que alcanou sua fase clssica (e geralmente a nica conhecida) do comeo do sculo XX at

    culminar com o Conclio Vaticano II. Para pontuar o estudo do Movimento, podemos analisar um dos

    autores dos primrdios, na Alemanha, e trs documentos Magisteriais: (i) o Motu Proprio Tra Le

    20 Neunheuser, 2007, p. 197. 21 Aug, 2007, p. 55 e 56.

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    Sollicitudine, do Papa Pio X; (ii) a Encclica Mediator Dei, do Papa Pio XII; e (iii) a Constituio Dogmtica Sacrosancto Concilium, do Conclio Vaticano II.

    4. Romano Guardini viveu entre 1885 e 1968. Tendo nascido na Itlia, sua famlia

    se mudou para a Alemanha quando ele tinha apenas um ano de idade. Foi ordenado presbtero e, desde ento, dedicou-se ao ensino e pesquisa acadmica. Sua maior

    obra e a que mais nos interessa chamada O Esprito da Liturgia, ttulo semelhante ao escolhido pelo ento Cardeal Ratzinger quando da publicao de uma obra de sua autoria, em 1999. Veja um trecho do livro, retirado do Captulo 1,

    intitulado A Orao Litrgica:

    Um velho provrbio teolgico diz: Nada feito pela natureza e pela graa feito em vo. Natureza e graa obedecem suas prprias leis, que so baseadas em certas hipteses

    estabelecidas. Tanto a vida natural da alma, quanto a sobrenatural, quando vividas de acordo com esses princpios, se mantm saudveis, desenvolvem-se e so enriquecidas. Em casos

    isolados, as regras podem ser deixadas de lado sem perigo, quando esse caminho exigido

    ou relevado devido a um distrbio espiritual, necessidade imperativa, ocasio extraordinria, fim importante sob uma perspectiva, ou semelhante. No fim, contudo, isso no pode ser feito

    impunemente. Assim como a vida do corpo entra em trajetria descendente e interrompida quando as condies de crescimento no so observadas, tambm assim ocorre na vida

    espiritual e religiosa ela adoece, perdendo seu vigor, fora e unidade.

    (...)

    A Liturgia catlica o supremo exemplo de uma regra de vida espiritual

    objetivamente estabelecida. Ela foi capaz de desenvolver-se kata tou holou, que quer dizer, em toda direo e de acordo com todos os lugares, tempos e tipos de cultura. Portanto, ela ser a melhor mestra da via ordinaria a regra da vida religiosa em comum, com, ao mesmo tempo, um olhar para as necessidades concretas e exigncias.

    (...)

    Ao litrgica e orao litrgica so consequncias lgicas de certas premissas morais o desejo de justificao, contrio, disposio ao sacrifcio, dentre outros e remete, mais uma vez, s aes morais.

    (...)

    A orao deve ser simples, salutar e poderosa. Ela deve estar estreitamente relacionada com

    a realidade e no deve temer chamar as coisas pelos nomes. Na orao, ns devemos encontrar nossa vida inteira mais uma vez. Por outro lado, ela precisa ser rica em ideias e em

    imagens poderosas, e precisa usar uma linguagem desenvolvida, contudo restrita; sua construo deve ser clara e bvia para os mais simples, estimulante e refrescante para os

    intelectuais. Ela deve ser intimamente permeada com uma erudio, que no seja, de forma alguma, demasiada, mas que esteja enraizada na capacidade da expectativa espiritual futura

    e no controle interior do pensamento, da volio e da emoo.

    E essa precisamente a maneira segundo a qual se formou a orao litrgica.

    5. Odo Casel (1886-1948) foi monge beneditino da importantssima Abadia de Maria

    Laach. Todos os seus escritos esto voltados, de certa forma, ao tema do mistrio.

    Para isso, Odo Casel vai buscar nas fontes da Tradio a autntica doutrina crist. Foi

    ele o responsvel por lanar as ideias para o fundamento teolgico da liturgia. Nas palavras do Papa Bento XVI: Talvez a doutrina dos mistrios de Dom Odo Casel seja o pensamento teologicamente mais fecundo de nosso sculo.

    Cristo o Mistrio em pessoa, porque revela na carne a divindade invisvel. Os atos de seu esvaziamento, sobretudo sua morte sacrifical na

    cruz, so mistrios, porque Deus neles se revela num modo que ultrapassa toda medida humana. Mas so mistrios sobretudo sua ressurreio e sua exaltao, porque a glria divina

    se revelou no homem Jesus de uma forma escondida ao mundo e patente s a quem cr. Este

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    Mistrio de Cristo os apstolos anunciaram Ekklesa, e a Ekklesa o transmite a todas as geraes. Mas, como o plano salvfico no compreende s pura doutrina, mas, em primeiro

    plano, a ao salvfica de Cristo, assim tambm a Igreja conduz a humanidade salvao no

    s pela palavra, mas por aes sagradas. Pela f e pelos mistrios Cristo vive na Igreja.

    5. Motu Proprio Tra Le Sollicitudine, do Papa Pio X, de 1903, sobre a msica sacra:

    Entre os cuidados do ofcio pastoral, no somente desta Suprema Ctedra, que por imperscrutvel disposio da Providncia, ainda que indigno, ocupamos, mas tambm de todas as Igrejas particulares, , sem dvida, um

    dos principais o de manter e promover o decoro da Casa de Deus, onde se

    celebram os augustos mistrios da religio e o povo cristo se rene, para receber a graa dos Sacramentos, assistir ao Santo Sacrifcio do altar, adorar

    o augustssimo Sacramento do Corpo do Senhor e unir-se orao comum da Igreja na celebrao pblica e solene dos ofcios litrgicos.

    Nada, pois, deve suceder no templo que perturbe ou, sequer, diminua a

    piedade e a devoo das fiis, nada que d justificado motivo de desgosto ou de escndalo, nada, sobretudo, que diretamente ofenda o decoro e a

    santidade das sacras funes e seja por isso indigno da Casa de Orao e da

    majestade de Deus.

    Sendo de fato nosso vivssimo desejo que o esprito cristo refloresa em tudo e se mantenha

    em todos os fiis, necessrio prover antes de mais nada santidade e dignidade do templo,

    onde os fiis se renem precisamente para haurirem esse esprito da sua primria e indispensvel fonte: a participao ativa nos sacrossantos mistrios e na orao

    pblica e solene da Igreja.

    (...)

    E por isso, de prpria iniciativa e cincia certa, publicamos a Nossa presente instruo; ser

    ela como que um cdigo jurdico de Msica Sacra; e, em virtude da plenitude de Nossa

    Autoridade Apostlica, queremos que se lhe d fora de lei, impondo a todos, por este Nosso quirgrafo, a sua mais escrupulosa observncia.

    1. A msica sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que

    a glria de Deus e a santificao dos fiis. A msica concorre para aumentar o decoro e

    esplendor das sagradas cerimnias; e, assim como o seu ofcio principal revestir de adequadas melodias o texto litrgico proposto considerao dos fiis, assim o seu fim

    prprio acrescentar mais eficcia ao mesmo texto, a fim de que por tal meio se excitem mais facilmente os fiis piedade e se preparem melhor para receber os frutos da graa,

    prprios da celebrao dos sagrados mistrios.

    2. Por isso a msica sacra deve possuir, em grau eminente, as qualidades prprias da liturgia,

    e nomeadamente a santidade e a delicadeza das formas, donde resulta espontaneamente

    outra caracterstica, a universalidade.

    Deve ser santa, e por isso excluir todo o profano no s em si mesma, mas tambm no modo como desempenhada pelos executantes.

    Deve ser arte verdadeira, no sendo possvel que, doutra forma, exera no nimo dos

    ouvintes aquela eficcia que a Igreja se prope obter ao admitir na sua liturgia a arte dos

    sons. Mas seja, ao mesmo tempo, universal no sentido de que, embora seja permitido a cada nao admitir nas composies religiosas aquelas formas particulares, que em certo modo

    constituem o carter especfico da sua msica prpria, estas devem ser de tal maneira subordinadas aos caracteres gerais da msica sacra que ningum doutra nao, ao ouvi-las,

    sinta uma impresso desagradvel.

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    6. Encclica Mediator Dei, do Papa Pio XII, de 1947, sobre a Sagrada Liturgia:

    4. Certamente conheceis, venerveis irmos, que, no fim do sculo passado e nos princpios do presente, houve singular fervor de

    estudos litrgicos; j por louvvel iniciativa de alguns particulares, j sobretudo pela zelosa e assdua diligncia de vrios mosteiros da nclita

    ordem beneditina; assim que no somente em muitas regies da

    Europa, mas ainda nas terras de alm-mar, se desenvolveu a esse respeito uma louvvel e til emulao, cujas benficas consequncias

    foram visveis, quer no campo das disciplinas sagradas, onde os ritos litrgicos da Igreja oriental e ocidental foram mais ampla e profundamente estudados e

    conhecidos, quer na vida espiritual e ntima de muitos cristos. As augustas cerimnias do

    sacrifcio do altar foram mais conhecidas, compreendidas e estimadas; a participao aos sacramentos maior e mais frequente; as oraes litrgicas mais

    suavemente saboreadas e o culto eucarstico tido, como verdadeiramente o , por centro e fonte da verdadeira piedade crist. Alm disso, ps-se em mais clara evidncia

    o fato de que todos os fiis constituem um s e compacto corpo de que Cristo a cabea, com o consequente dever para o povo cristo de participar, segundo a prpria condio, dos

    ritos litrgicos.22

    Encontram-se, abaixo, os temas da primeira parte do documento:

    I) A Liturgia culto pblico

    II) A Liturgia culto externo e interno

    III) A Liturgia regulada pela hierarquia eclesistica

    IV) Progresso e desenvolvimento da Liturgia V) Tal progresso no pode ser deixado ao arbtrio de particulares

    7. Constituio Sacrosanctum Concilium, do Conclio Vaticano II, de 1964, sobre a Sagrada Liturgia:

    A constituio no trata apenas de considerar as [reformas] que poderamos definir como reformas espetaculares, como a comunho sob duas espcies, a concelebrao e a adoo da lngua verncula

    para o uso litrgico. Trata-se, sobretudo, de uma viso mais profunda e de uma ideia mais completa do

    que liturgia e de como ela, em conformidade com este melhor conhecimento que dela temos, deve encontrar a fonte que melhor se adapta ao nosso mundo de hoje.23

    8. Carta Apostlica Dies Domini, de Joo Paulo II, em 31.05.1998, sobre o domingo:

    Exorto-vos, portanto, amados Irmos no episcopado e no sacerdcio, a trabalhar incansavelmente, unidos com os fiis,

    para que o valor deste dia sagrado seja reconhecido e vivido cada vez melhor. Isto produzir frutos nas

    comunidades crists, e no deixar de exercer uma benfica

    influncia sobre toda a sociedade civil.

    Os homens e as mulheres do terceiro Milnio, ao encontrarem

    a Igreja que cada domingo celebra alegremente o mistrio

    donde lhe vem toda a sua vida, possam encontrar o prprio Cristo ressuscitado. E os seus discpulos, renovando-se constantemente no memorial semanal

    da Pscoa, tornem-se anunciadores cada vez mais credveis do Evangelho que salva e construtores ativos da civilizao do amor.24

    22 MD, n 4. 23 Triacca, 1992, p. 797. 24 Dies Domini, n 87.

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    9. Carta Apostlica Spiritus et Sponsa, de Joo Paulo II, em 04.12.2003, no 40 aniversrio da Sacrosanctum Concilium:

    Depois do primeiro perodo, em que houve uma insero gradual dos textos renovados no contexto das celebraes litrgicas, torna-se agora necessrio um aprofundamento das riquezas e das potencialidades que eles encerram em si mesmos. Na base deste

    aprofundamento deve existir um princpio de plena fidelidade Sagrada Escritura e

    Tradio, autorizadamente interpretadas, de modo particular pelo Conclio Vaticano II, cujos ensinamentos foram confirmados e desenvolvidos no Magistrio sucessivo.25

    10. Instruo Redemptionis Sacramentum, da Congregao para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, sobre alguns aspectos que se devem observar e evitar acerca da Santssima Eucaristia:

    A Instruo no oferece um conjunto de normas relativas Santssima Eucaristia, mas sim

    retoma alguns elementos j expostos e estabelecidos, porm algumas vezes esquecidos ou alterados.

    A observncia meramente exterior das normas no nos leva ao encontro com o Cristo Vivo. Por isso, a Igreja insiste que o ato externo deve ser iluminado pela f e pela caridade que nos unem a Cristo e uns aos outros e geram o amor para com os pobres e os aflitos. Alm

    disso, as palavras e os ritos da liturgia so expresso fiel e amadurecida nos sculos dos sentimentos de Cristo e nos ensinam a sentir com ele. (RS 5)

    Todos os fiis gozam do direito de ter uma liturgia verdadeira, que siga o que prescrito nos

    livros litrgicos, isto , que seja como a Igreja quis e estabeleceu (RS 12).

    Todos (...) esto sujeitos autoridade do bispo diocesano em tudo que se refere matria litrgica. (RS 23)

    Os sacerdotes no devem, em fidelidade ao que prometeram em sua ordenao, esvaziar o

    significado profundo do mistrio eucarstico, deformando a celebrao litrgica com mudanas,

    redues ou acrscimos arbitrrios (RS 31). A eficcia das aes litrgicas no consiste na contnua modificao dos ritos, mas no

    aprofundamento da Palavra de Deus e do mistrio celebrado. (RS 39) (...) a participao dos fiis na celebrao da Eucaristia e dos outros ritos da Igreja no pode ser

    reduzida a mera presena, muito menos passiva, mas deve ser considerada um verdadeiro exerccio da f e da dignidade batismal. (RS 37)

    Participao ativa no significa fazer algo concretamente, mas sim participar com

    compreenso plena acerca do mistrio celebrado.

    A CORRETA CELEBRAO DA SANTA MISSA:

    A orao eucarstica no pode ser alterada (RS 51);

    25 Spiritus et Sponsa, n 7.

    "A Eucaristia um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e redues.

    Joo Paulo II (Ecclesia de Eucharistia)

    Todos (...) faam somente e tudo aquilo que de sua competncia.

    (Sacrosanctum Concilium)

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    O sacerdote o nico que pode dizer a orao eucarstica (RS 52);

    Enquanto o sacerdote diz a orao eucarstica, calam-se os instrumentos e as vozes (RS 53); A hstia grande no deve ser partida no momento da consagrao (RS 55);

    A proclamao da Palavra de Deus deve ser dignamente preparada (RS 58);

    Ningum, quer seja sacerdote, dicono ou fiel, pode alterar textos da sagrada liturgia por ele

    pronunciado (RS 59); No permitido omitir ou substituir as leituras, nem mesmo o salmo (RS 62);

    A leitura do Evangelho, por tradio da Igreja, reservada ao dicono ou sacerdote (RS 63);

    A homilia deve se concentrar no mistrio da salvao, baseando-se nas leituras e nos textos

    litrgicos (RS 67);

    Cada um deve dar a paz somente queles que lhe esto mais prximos, de modo sbrio. No se

    deve executar qualquer canto para dar a paz (RS 72); A Santa Missa no deve ser celebrada numa mesa de refeio para que no se assemelhe a

    qualquer refeio (RS 77).

    A SANTA COMUNHO:

    Quando o comungante recebe a hstia na mo, ele deve comungar diante do ministro, de modo

    que ningum se afaste levando na mo a espcie eucarstica. Se houver perigo de profanao,

    no se deve distribuir a hstia na mo (RS 92);

    No permitido aos fiis pegarem por si a sagrada hstia ou o sagrado clice (RS 94);

    No permitido que o comungante molhe por si mesmo a hstia no clice, nem receba na mo a

    hstia molhada (RS 104).

    A CONSERVAO DA SANTSSIMA EUCARISTIA E O SEU CULTO FORA DA MISSA:

    As espcies sejam conservadas para serem levadas aos doentes ou ancios que no puderem ir

    missa. Alm disso, os fiis devem prestar adorao ao Santssimo Sacramento conservado nas Igrejas (RS 129);

    O Santssimo Sacramento jamais deve permanecer exposto sem guarda suficiente (RS 138).

    AS FUNES EXTRAORDINRIAS DOS FIIS LEIGOS

    Somente em caso de verdadeira necessidade se dever recorrer ajuda dos ministros extraordinrios na celebrao da liturgia. De fato, isso no est previsto para assegurar uma

    participao mais plena dos leigas, mas por sua natureza supletivo e provisrio. Alm disso, se por necessidade se recorrer aos ofcios dos ministros extraordinrios, multipliquem-se as oraes

    especiais e contnuas ao Senhor, a fim de que envie logo um sacerdote para o servio da comunidade e suscite com abundncia as vocaes s Ordens sagradas. (RS 151)

    Se os ministros sagrados forem suficientes para distribuir a sagrada comunho, os MESCs no

    devem ser delegados para essa tarefa (RS 157).

    OS REMDIOS

    De modo absolutamente particular, segundo as possibilidades, todos procurem fazer com que o Santssimo Sacramento da Eucaristia seja preservado de qualquer forma de irreverncia e aberrao, e todos os abusos sejam totalmente corrigidos. Essa tarefa de mxima importncia

    para todos e para cada um, e todos so obrigados a realizar tal obra, sem nenhum favoritismo. (RS 183)

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    11. Exortao Apostlica Sacramentum Caritatis, de Bento XVI, em 22.02.2007, sobre Eucaristia, fonte e pice da vida e da misso da Igreja:

    O Conclio Vaticano II colocara, justamente, uma nfase particular sobre a participao ativa, plena e frutuosa de todo o povo de Deus na celebrao eucarstica. A renovao operada nestes anos

    proporcionou, sem dvida, notveis progressos na direo

    desejada pelos padres conciliares; mas no podemos ignorar que houve, s vezes, qualquer incompreenso precisamente

    acerca do sentido desta participao. Convm, pois, deixar claro que no se pretende, com tal palavra, aludir a mera

    atividade exterior durante a celebrao; na realidade, a

    participao ativa desejada pelo Conclio deve ser entendida, em termos mais substanciais, a partir duma maior conscincia do

    mistrio que celebrado e da sua relao com a vida quotidiana. Permanece plenamente vlida ainda a recomendao

    da Constituio conciliar Sacrosanctum Concilium feita aos fiis quando os exorta a no assistirem liturgia eucarstica como estranhos ou espectadores mudos , mas a participarem na ao sagrada, consciente, ativa e piedosamente. E o Conclio,

    desenvolvendo seu pensamento, prossegue: Os fiis sejam instrudos pela palavra de Deus; alimentem-se mesa do corpo do Senhor; dem graas a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que no s pelas mos dele, a hstia

    imaculada; que, dia aps dia, por Cristo Mediador, progridam na unidade com Deus e entre

    si. (SC 52)

    O que acabo de afirmar no deve, porm, ofuscar o valor destas grandes liturgias; penso neste momento, em particular, s celebraes que tm lugar durante encontros

    internacionais, cada vez mais frequentes hoje, e que devem justamente ser valorizadas. A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi

    sugerido pelo Snodo dos Bispos, em sintonia com as diretrizes do Conclio Vaticano II: excetuando as leituras, a homilia e a orao dos fiis, bom que tais celebraes sejam em

    lngua latina; sejam igualmente recitadas em latim as oraes mais conhecidas da

    tradio da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano. (SC 62)

    12. Motu Proprio Summorum Pontificum, de Bento XVI, em 07.07.2007, sobre a Liturgia romana anterior reforma de 1970:

    Em primeiro lugar, h o temor de que seja aqui afetada a autoridade do Conclio Vaticano II e que uma das suas decises essenciais a reforma litrgica seja posta em dvida. Tal receio no tem fundamento. A este respeito, preciso antes de mais afirmar que o Missal publicado por Paulo VI, e reeditado em duas sucessivas edies por Joo Paulo II, obviamente

    e permanece a Forma normal a Forma ordinria da Liturgia Eucarstica. A ltima verso do Missale Romanum, anterior ao Conclio, que foi publicada sob a autoridade do Papa Joo XXIII em 1962 e utilizada durante o Conclio, poder, por sua vez, ser usada como

    Forma extraordinria da Celebrao Litrgica. No apropriado falar destas duas verses do Missal Romano como se fossem dois ritos. Trata-se, antes, de um duplo uso do nico e mesmo Rito.

    (...)

    Em segundo lugar, nas discusses volta do esperado Motu Proprio, manifestou-se o temor de que uma possibilidade mais ampla do uso do Missal de 1962 levasse a desordens ou at a

    divises nas comunidades paroquiais. Tambm este receio no me parece realmente fundado. O uso do Missal antigo pressupe um certo grau de formao litrgica e o conhecimento da

    lngua latina; e quer uma quer outro no muito frequente encontr-los. Por estes

    pressupostos concretos, j se v claramente que o novo Missal permanecer, certamente, a

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    Forma ordinria do Rito Romano, no s porque o diz a normativa jurdica, mas tambm por causa da situao real em que se encontram as comunidades de fiis.

    (...)

    No existe qualquer contradio entre uma edio e outra do Missale Romanum. Na histria da Liturgia, h crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as geraes anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande tambm para ns, e no pode ser de

    improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as

    riquezas que foram crescendo na f e na orao da Igreja, dando-lhes o justo lugar. Obviamente, para viver a plena comunho, tambm os sacerdotes das Comunidades

    aderentes ao uso antigo no podem, em linha de princpio, excluir a celebrao segundo os novos livros. De fato, no seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do

    novo rito a excluso total do mesmo.

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    Os Cantos do Ordinrio na Histria26 Os cantos do ordinrio da Missa so cantos invariveis em seu texto e precisam ser respeitados como textos litrgicos oficiais. No obstante, as adaptaes do texto e as parfrases proliferaram nestes anos

    de reforma conciliar. preciso, acima de tudo, respeitar a assembleia, que deseja cantar msicas que carregam sculos de tradio e que foram cantadas pelos cristos desde os tempos mais remotos,

    ultrapassando perseguies, formando uma personalidade musical e potica genuinamente crist. mais nobre cantar sculos de tradio do que cantar inspiraes poticas particulares, por melhores que

    tenham sido as intenes de seus autores.

    1. Kyrie Eleison O Kyrie Eleison parece provir das oraes dos fiis. Estas desapareceram da missa, permanecendo a resposta da ladainha do povo: kyrie, eleison, que foi transferida para o comeo da missa. A partir do sculo IX, ficou estabelecido o nmero de nove para os kyries, aos quais foi atribudo um sentido trinitrio: trs vezes ao Pai, trs ao Filho e trs ao Esprito Santo, talvez por influncia da liturgia galicana, hoje desaparecida, desejosa de demonstrar em suas cerimnias o mistrio trinitrio.

    Originalmente, todavia, seu sentido no foi trinitrio, mas sim cristolgico. Tal o sentido que se restabeleceu na reforma conciliar: um canto mediante o qual os fiis aclamam o Senhor e imploram sua misericrdia (IGMR).

    2. Hino de louvor uma das mais antigas peas da liturgia. Remonta ao sculo II e foi precedida pelo hino Laus Magna, tambm do sculo II. Incorporou-se liturgia romana por ocasio do Natal, por comear com as palavras

    do cantos dos anjos em Belm (Lc 2,14). O Liber Pontificalis (sculo VI) atesta, como antigo costume, que para a missa do galo se intercalava entre o salmo e a coleta o canto do glria. Isso somente uma vez por ano. O papa Smaco (514 d.C.) ordenou que se cantasse nos domingos e festas dos mrtires, quando

    celebradas por um papa ou bispo. Pouco a pouco o privilgio foi-se ampliando, at que, entre os sculos VIII e XI, seu uso foi generalizado. De origem oriental, um hino que une ocidente e oriente.

    3. Santo Com esse trisgio, ou canto de triunfo, canto de serafins, como se chamou, toda a assembleia se une s

    hierarquias celestes em liturgia csmica, diante do Senhor do Universo. A incorporao do santus missa to remota que figura em todas as liturgias. De origem oriental, parece datar de fins do sculo II, mas antes de ser aceito pela liturgia, era muito usual nos atos de piedade privados, como hino em honra de Cristo. O benedictus incorporou-se ao sanctus no sculo XV.

    4. Cordeiro de Deus O papa Srgio (687 d.C.) quis que o rito da frao do po fosse acompanhado com algum canto por

    parte do povo e estabeleceu o canto do Agnus Dei, inspirado nas palavra de Joo Batista ao ver o redentor. No incio era um canto litnico, contudo, no sculo XI, o nmero de invocaes foi limitado a

    trs. As contnuas vicissitudes sofridas pela paz durante o sculo XI fizeram com que se trocasse o

    terceiro miserere nobis por dona nobis pacem.

    Os Cantos Processionais na Histria

    1. Canto de entrada Nasce em Roma, entre os sculos IV e V, a partir da solenizao dos ritos litrgicos e construo das

    baslicas, para acompanhar a procisso solene de entrada do papa e de seu cortejo. O texto, extrado do

    livro dos salmos, foi reduzido devido construo das sacristias, at tornar-se uma antfona.

    2. Canto de apresentao das oferendas No incio, a apresentao das oferendas era feita em silncio. J desde o sculo IV introduziu-se o costume de cantar um salmo maneira de antfona.

    3. Canto de comunho o processional mais antigo da missa e tambm o que se conservou durante mais tempo. Comeou a

    introduzir-se em algumas Igrejas no sculo IV e aparece na Igreja de Roma, definitivamente aceito, no

    sculo V. Inicialmente, era sempre o Sl 34(33), com sua antfona Provem e vejam como o Senhor bom. A partir do sculo VI, passou-se a variar o texto. Com a reduo da comunho dos fiis, foi reduzindo de tamanho, at se tornar uma antfona, cantada aps a comunho do sacerdote e dos fiis.

    26 Alcade, 1998 (texto adaptado)

  • Arquidiocese de So Sebastio do Rio de Janeiro Escolas de F e Catequese Escola Mater Ecclesiae Ncleo Jacarepagu Freguesia Liturgia 1B

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    TEXTO 1 O OFCIO DIVINO NO RITO ROMANO O OFCIO DIVINO NO RITO ROMANO

    Thiago Santos de Moraes27

    Do Brevirio Liturgia das Horas

    A Liturgia das Horas recebeu vrios nomes na histria. O mais difundido foi o de Brevirio, que indicava a reunio em um s volume, para facilitar a recitao individual, de todos os elementos necessrios para

    celebrar o Ofcio Divino, como salmos, leituras, hinos, etc. Mas esse nome encerrava uma mentalidade privatista e reducionista da prece eclesial que sempre se quis corrigir (pelo menos desde Trento), mas

    que o caminhar turbulento da Igreja sempre adiava. Depois do Vaticano II, recuperaram seu significados expresses Ofcio Divino e Liturgia das Horas. Ofcio quer dizer servio cultual e ao litrgica (ou seja, pblica), e divino indica em honra de quem se realiza a celebrao. Essa expresso equivalente Opus Dei (Obra de Deus), segundo a expresso de So Bento (Regra 43, 3): Nada se anteponha obra de Deus. O segundo nome faz aluso prece eclesial distribuda segundo as horas do dia. Nesse sentido, o Ofcio Divino verdadeira liturgia, exerccio do sacerdcio de Jesus Cristo para a santificao dos homens e para o culto a Deus (Sacrosanctum Concilium 7), e, consequentemente, celebrao de toda a Igreja, ou seja, orao de Cristo ao Pai com seu corpo eclesial (SC 84). Por esse motivo dever-se- preferir sempre a celebrao comunitria, com assistncia e participao ativa dos

    fiis, recitao individual e quase particular (SC 26-27).

    Antecedentes do Ofcio Divino

    A origem da orao das horas deve ser buscada na orao do Divino Mestre e das comunidades catlicas pr