104
DIREITO EMPRESARIAL III Títulos de Crédito e Contratos Empresariais

Apostila - Direito rial III - 2010

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III

Títulos de Crédito e Contratos Empresariais

Marcelo Figueiredo2010

Page 2: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

TÍTULO 1 - TÍTULOS DE CRÉDITO

CAPÍTULO 1

1. CONCEITO DE CRÉDITO E DE TÍTULO

O crédito, portanto, possui dois requisitos:

A confiança; O tempo.

O credor confia (acredita) no devedor e lhe dá um tempo para liquidar a obrigação. Sem confiança e sem o transcurso de um tempo para o devedor liquidar a obrigação, não há que se falar em título de crédito.

É bem verdade que essa confiança pode vir acompanhada de garantias. Temos dois tipos de garantias aplicáveis aos títulos de crédito:

- Garantia Pessoal ou Fidejussória : Aval;- Garantia real : Penhor, hipoteca, anticrese etc.

Título é o documento (o papel) que irá representar o crédito nele mencionado. O título não apenas prova a existência da obrigação (de pagar), mas a representa, de modo que o exercício do direito constante do título de crédito pressupõe a sua apresentação. Por isso, é comum empregar-se como sinônimo de título a palavra cártula, que, conforme veremos, retrata um dos princípios dos títulos de crédito

2. CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO

“Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”. (Vivante)

3. ATRIBUTOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Os títulos de crédito possuem aspectos que os diferenciam dos demais documentos. Somente os títulos de crédito estão sujeitos ao chamado Direito Cambiário, com suas regras e seus princípios próprios.

O título de crédito irá se distinguir dos demais documentos representativos de direitos e obrigações em 3 aspectos:

a) Os Títulos de Crédito referem-se unicamente às relações creditícias . Não documentam obrigações de dar, fazer ou não fazer.

Exceções: Títulos de Créditos Impróprios, que asseguram direitos não creditícios ao portador.

Ex. 1. Warrant e o Conhecimento de Depósito . Eles representam a propriedade de mercadorias depositadas em Armazéns Gerais.

Ex. 2. A Apólice de Seguro representa um crédito eventual do segurado ou de 3º beneficiário, mas não se pode considerar título de crédito.

Essa característica de representar exclusivamente direitos creditórios, por si só não é suficiente para distinguir os títulos de crédito dos demais documentos representativos de obrigações.

b) Os Títulos de Crédito atribuem uma maior facilidade de cobrança em juízo . Ele é definido pelo Código de Processo Civil como título executivo extrajudicial (art. 585, I). Dá direito ao credor de promover a Ação de Execução Judicial do seu direito.

2

Page 3: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Para exemplificar esse atributo dos títulos de crédito, temos 3 tipos de ações que podem ser propostas para o recebimento de algum crédito. São elas:

a) Ação de Cobrança ;b) Ação Monitória ;c) Ação de Execução .

Contudo, existem outros documentos, que não são títulos de crédito, mas que também são considerados títulos executivos (Ex. o contrato particular assinado por 2 testemunhas e outros).

c) Os Títulos de Crédito ostentam o atributo da negociabilidade , ou seja, são títulos de fácil circulação no mercado.

4. CAMBIARIDADE

Os títulos de crédito também são chamados de títulos cambiais ou simplesmente de cambiais. Afirma-se, por isso, a cambiaridade ou cambialidade como uma de suas características essenciais, que consiste na possibilidade de circulação do crédito (de mudança de titularidade), desvinculando-o do negócio que o originou.

Em latim, cambiare traduz a idéia de mudança, troca, permuta.

5. PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO

5.1 – Cartularidade ou Incorporação : “Documento Necessário”

O exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe a sua posse, pois somente quem exibe a cártula (o papel) pode pretender a satisfação de uma pretensão relativamente ao direito documentado pelo título.

Esse princípio não se aplica inteiramente quando se tratar de DUPLICATA.

O princípio da cartularidade também é chamando de incorporação. Mas, por que incorporação? Porque o título incorpora de tal forma o direito creditício mencionado, que a sua entrega a outra pessoa significa a transferência da titularidade do crédito e o exercício das faculdades só existe com a posse do documento.

5.2 – Literalidade: “O direito decorrente do título é literal no sentido de que, quanto ao conteúdo, à extensão e às modalidades desse direito, é decisivo exclusivamente o teor do título” (Messineo).

Em outras palavras: Somente produzem efeitos jurídico-cambiais os atos lançados no próprio título de crédito, como, por exemplo, a quitação, o aval, o endosso.

O princípio da literalidade também não se aplica inteiramente quando se tratar de DUPLICATA.

5.3 – Autonomia: Quando um único título documenta mais de uma obrigação, a eventual invalidade de qualquer delas não prejudica as demais. Ou seja, os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica não se estendem às demais relações abrangidas no mesmo documento.

- AbstraçãoAutonomia(subprincípios)

- Inoponibilidade das exceções pessoais.

Esses dois subprincípios são modos diferentes de se reproduzir a independência entre as obrigações documentadas no mesmo título de crédito e nascem apenas quando o título é posto em circulação pelo endosso.

- Abstração : Quando o título de crédito é posto em circulação, diz-se que se opera a abstração, isto é, a desvinculação do ato ou negócio jurídico que deu ensejo à sua criação.

3

Page 4: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

- Inoponibilidade das exceções pessoais : É a possibilidade ou não de se opor exceções de natureza pessoais ao terceiro de boa-fé. Dessa forma, o executado (devedor) não pode alegar, em sua defesa (cujo nome é embargos à execução), matéria estranha à sua relação direta com o exeqüente (credor), salvo se provar má-fé deste. Só poderá, em regra, alegar matérias fundadas no título.

O que são exceções pessoais?

São defesas fundadas na relação existente entre as partes. Como inexiste negócio jurídico subjacente (um contrato anterior), não existe defesa pessoal a ser oposta, a não ser aquelas fundadas no título, tais como:

- Nulidade do título por ausência de requisito essencial;- Prescrição da ação cambial.- Falsificação.

6. MOMENTOS EXISTENTES EM UM TÍTULO DE CRÉDITO

É importante para compreender os subprincípios da abstração e da inoponibilidade das exceções pessoais examinarmos os momentos existentes em um título de crédito.

1º Momento: Momento Contratual: Estaremos diante desse momento quando a emissão do cheque for feita para documentar um negócio jurídico subjacente, também chamado de relação fundamental ou negócio originário. Em decorrência dessa característica, ou seja, de estar relacionado a um negócio originário, o devedor do título poderá opor exceções pessoais. Ex: Não pagarei o título porque a geladeira tem um vício, isto é, o seu motor está estragado.

2º Momento: Promessa Unilateral de Pagamento: Esse momento é unicamente cambial, ou seja, decorre de uma das declarações cambiais (Emissão, Endosso ou aval). Não há negócio originário a ser documentado entre as pessoas que figuram nesse momento. Dessa forma, o devedor não poderá opor exceções pessoais. Ou seja, a alegação de que a geladeira está com o motor estragado não influenciará o direito de crédito.

7. NATUREZA DA OBRIGAÇÃO CAMBIAL

A natureza da obrigação cambial é de solidariedade. Os devedores de um título de crédito são solidários.

Considerando que os devedores estão no pólo passivo da relação obrigacional, há duas espécies de solidariedade passiva:

a) Solidariedade civil passiva (art. 264 a 285 CC);b) Solidariedade cambial passiva.

Conceito: SOLIDARIEDADE CAMBIAL PASSIVA É a existência de mais de um devedor obrigado pela dívida toda. O credor poderá exigir, atendidos determinados pressupostos, a totalidade da obrigação de qualquer um dos devedores do título (art. 275 CC).

SOLIDARIEDADE PASSIVA NO REGIME CIVIL: De acordo com o art. 283 do CC, o devedor solidário que paga ao credor a totalidade da dívida pode exigir, em regresso, dos demais devedores a quota-parte cabível a cada um.

No caso de 3 devedores solidários, aquele que adimpliu a obrigação integral junto ao titular do crédito, pode cobrar, em regresso, a terça parte do valor pago, de cada um dos outros dois co-devedores.

Vejamos um exemplo de solidariedade passiva civil:

4

Page 5: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

B

A C(credor)

D(devedores)

Observação:

A poderia, à sua escolha, optar por acionar B, C e D, isoladamente ou os três em conjunto.No caso, optou por acionar apenas B.Se B pagar a dívida integral ao credor A, tem ação de regresso contra C e D.No entanto, somente poderá cobrar em regresso 1/3 de C e 1/3 de D.Se a dívida for de R$ 300,00, B somente poderá cobrar, em regresso, R$ 100,00 de C e R$ 100,00 de D.

“SOLIDARIEDADE PASSIVA” NO REGIME CAMBIAL: No regime da solidariedade cambial é diferente. Vejamos:

A B(Devedor Principal)

(Endosso)

B e C são coobrigados. C(Endosso)

D (Credor)Observação:

D, credor, pode acionar tanto A, B e C, isoladamente ou em conjunto. Se, por exemplo, acionar somente B e este pagar integralmente a dívida, poderá regredir somente contra A, que é o devedor principal, podendo cobrar tudo aquilo que pagou a D.Mas existe outra possibilidade: Se D aciona C, que paga a dívida integral, este tem ação regressiva contra A e B, isoladamente ou em conjunto.

EM SUMA:

Na solidariedade passiva regulada pelo regime cambial, o devedor solidário que paga a dívida tem o direito de exigi-la, também integralmente, dos demais devedores solidários.

Já na solidariedade passiva do regime civil, o devedor solidário que paga a dívida integral somente pode exigir dos demais devedores a quota parte de cada um deles e nunca a dívida toda.

Nesses dois regimes de solidariedade há uma diferença:

Diferença: Quando se tratar de discutir composição, em regresso, dos interesses desses devedores.

Ressalva: O professor Fábio Ulhoa Coelho contesta essa solidariedade cambial, dizendo que a única coisa da solidariedade civil ou comum que se aplica aos títulos de crédito é que todos os devedores, quando demandados, respondem pela dívida toda (integralmente). Para ele, é incorreta a afirmativa de que os devedores de títulos de crédito são solidários. Eles se submetem, ao contrário, a um complexo sistema de regressividade, que é exclusivo da obrigação de natureza cambial.

8. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO – CRITÉRIOS

1) Quanto ao modelo:

- Títulos de Modelo Vinculado : São aqueles que têm um padrão definido.- Títulos de Modelo Livre : São aqueles em que não há um padrão de utilização obrigatória.

5

aciona

Page 6: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

2) Quanto à estrutura:

- Ordem de Pagamento : São aqueles em que a obrigação deverá ser cumprida por terceiros. Esses títulos dão origem a 3 situações jurídicas distintas:

o Sacador : Aquele que ordenou a realização do pagamento. O emitente;o Sacado : Para quem a ordem é dirigida. Pessoa que deverá cumprir a ordem;o Tomador ou Beneficiário : É o beneficiário da ordem (credor).

- Promessa de Pagamento : São aqueles em que a obrigação deverá ser cumprida pelo próprio emitente e não por terceiros. Esses títulos dão origem a 2 situações jurídicas:

o Subscritor ou Emitente : Aquele que assume a obrigação de pagar (Promitente);o Tomador ou Beneficiário : Aquele que irá receber o pagamento.

3) Quanto às hipóteses de emissão:- Causais : A lei dispõe sobre as hipóteses em que esses títulos podem ser emitidos.

- Limitados : Título que não pode ser emitido em certos casos, por expressa vedação legal. - Não causais : Podem ser criados em qualquer hipótese.

4) Quanto à circulação- Ao portador : Aquele que não ostenta o nome do beneficiário (credor). Circula-se pela

simples tradição (entrega do título);- Nominais : Aqueles em que há o nome do beneficiário (credor). Subdividi-se em:

À ordem : Identifica o nome do beneficiário (credor) e se transfere mediante endosso;

Não à ordem : Identifica o nome do beneficiário (credor) e se transfere mediante cessão civil de crédito.

- Nominativo – É aquele que contém o nome do beneficiário (credor) e a transmissão ocorre, além do Endosso em preto, mediante termo, em registro nos livros próprios do credor (art. 921 e 922 do Código Civil).

9. QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DO TÍTULO DE CRÉDITO

A utilização dos títulos de crédito no mundo jurídico pode se dar de forma variada. A emissão e entrega do título pode caracterizar:

1. Pagamento;2. Garantia de pagamento (mera representação da obrigação de pagar).

A emissão e entrega do título, na primeira hipótese, é de pro soluto e, na segunda, pro solvendo.

Significados das palavras:

Pro soluto: Para pagamento. A título de pagamento, para valer como pagamento.

Pro solvendo: Destinado ao pagamento. Para pagar, para solver uma dívida. Caso não seja efetuado o pagamento do título, a obrigação não será extinta.

A entrega do título pro soluto resolve a obrigação originária, ou seja, equipara-se ao pagamento (adimplemento). Haverá uma novação (art. 360, I do Código Civil – novação objetiva); extingui-se a obrigação original (ex. a obrigação de pagar do comprador na compra e venda), substituindo-se pelo título de crédito.

Em oposição, a entrega do título pro solvendo não resolve a obrigação originária; apenas a representa, postergando-se sua solução do negócio.

6

Page 7: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 2

ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO

Temos duas grandes espécies de títulos de crédito.

Os chamados títulos de crédito próprios, que são aqueles que se submetem integralmente às normas e princípios do regime jurídico cambial.

São exemplos de títulos de crédito próprios:

- Nota Promissória- Letra de Câmbio- Cheque- Duplicata

Além dos títulos de crédito próprios, existem os que a doutrina chama de títulos de crédito impróprios.

São chamados títulos de crédito impróprios, porque eles não se submetem integralmente às normas e princípios do regime jurídico cambial. São instrumentos jurídicos que aproveitam, em parte, do regime jurídico das cambiais.

São exemplos de títulos de crédito impróprios:

- Títulos de Legitimação: Passagem aérea.- Títulos de Investimento: Ações, Debêntures;- Títulos de Financiamento: Cédulas de Crédito;- Títulos Representativos: Conhecimento de depósito e Warrant, conhecimento de frete etc.

7

Page 8: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 3

CONSTITUIÇÃO E EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO CAMBIÁRIO

1. INTRODUÇÃO

Deve-se eleger um dos títulos de crédito para servir de referência. E o escolhido por toda a doutrina, como sendo o mais didático, é a LETRA DE CÂMBIO.

Mas há um inconveniente: no Brasil, quase não existe a letra de câmbio, o que provoca uma defasagem com a realidade.

No entanto, a letra de câmbio é melhor que qualquer outro título de crédito para se estudar os institutos jurídico-cambiários,

2. ORIGEM E EVOLUÇÃO

Na idade média, criou-se a seguinte sistemática:

O banqueiro recebia, em depósito, as moedas com circulação no burgo de seu estabelecimento, e escrevia uma carta ao banqueiro estabelecido no local de destino do mercador depositante. Nessa carta, ele dizia ao colega que pagasse ao comerciante, ou a quem ele indicasse, em moeda local, o equivalente ao montante depositado. Posteriormente, os banqueiros faziam o encontro de contas das cartas emitidas e recebidas. Dessa carta, que viabilizava o câmbio de moedas, originou-se a letra de câmbio.

No século XX, devido a importância do título para o desenvolvimento econômico, deu ensejo à iniciativas diplomática que redundaram, em 1930, na assinatura da “Convenção de Genebra para a adoção de um lei uniforme sobre letra de câmbio e nota promissória”, do que o Brasil foi signatário.

Mas o Brasil já possuía uma legislação interna sobre letra de câmbio e nota promissória, o Decreto 2.044/1908.

Talvez por já possuir essa legislação, o Brasil acabou retardando o cumprimento da Convenção de Genebra, sendo que somente em 1966 foi editado o Decreto 57.663/66, que “promulga as Convenções para adoção de uma Lei Uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias”.

PROBLEMA JURÍDICO: O Decreto 2.044/1908 possui status de lei ordinária em nosso ordenamento jurídico. Como se revoga uma lei? (art. 2º da LICC – quando lei posterior expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior). Ou seja, só uma lei revoga outra. No entanto, a LUG ingressou em nosso ordenamento jurídico através de Decreto do Poder Executivo. O correto era ter sido enviado o texto da LUG ao Poder Legislativo, através de projeto de lei, e ai sim teria condições de revogar a o Decreto 2.044/1908.

Solução:

- O STF resolveu que, apesar da ausência de técnica, a LUG estava em pleno vigor e apenas derrogou alguns dispositivos do Dec. 2.044/1908. Assim, as duas legislações convivem em nosso ordenamento.

A Convenção de Genebra contém 2 Anexos:

- Anexo I: A LUG corresponde ao Anexo I da Convenção de Genebra de 1930; é a principal norma para interpretar e aplicar o direito às letras de câmbio e às notas promissórias. É a base da legislação cambial. É a primeira consulta para análise e aplicação do direito. Mas ela, em alguns artigos, está afetada pelas reservas, conforme quadro abaixo.

8

Page 9: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

- Anexo II: As Reservas corresponde ao Anexo II da Convenção de Genebra de 1930. Só são aplicados os artigos das reservas que o Brasil adotou, conforme consta do Decreto 57.663/66

Reserva: É a faculdade de fazer pequenas mudanças no texto uniforme, ao introduzi-lo em seu ordenamento. E essas mudanças somente podem ser previstas pela mesma Convença, para fins de se garantir o propósito fundamental da uniformidade.

Segundo Fábio Ulhoa Coelho, o Brasil adotou 13 artigos das reservas. Por isso, a lei uniforme não vigora inteiramente entre nós. Nas matérias reservadas, permanecem em vigor as normas correspondentes do Decreto 2.044/1908.

Portanto, as 13 reservas incidem sobre os seguintes artigos:

- Art. 2º; - Art. 13;- Art. 3º; - Art. 15;- Art. 5º; - Art. 16;- Art. 6º; - Art. 17;- Art. 7º; - Art. 19;- Art. 9º; - Art. 20.- Art. 10;

Os demais artigos do Anexo II, que trata das reservas, não foram adotados no Brasil, pelo que não estão em vigor.

EM SUMA:

Diante de um caso concreto, tratando-se de letra de câmbio ou nota promissória, o aplicador do direito deverá seguir os seguintes passos:

Primeiro consulta-se a LUG (Anexo I).

Se o artigo da LUG não estiver afetado pelas reservas, ele será aplicado tal como se encontra (sem nenhuma modificação);

Se o artigo da LUG estiver afetado pelas reservas, torna-se necessário a leitura do artigo da reserva (Anexo II). As soluções, nesse caso, poderão ser as seguintes:

Pode ser aplicado o texto da LUG afetado (modificado) pelas reservas; ou

Pode ser o texto do artigo das Reservas a ser aplicado ao caso concreto (se a reserva não remeter a questão para outra lei); ou

Pode ser aplicado um ou mais artigos do Dec. 2.044/1908, se o artigo das reservas remeter a questão para a nossa legislação interna.

ESQUEMA

O Brasil assinou 13 reservas. Essas matérias reservadas serão regidas pelo Dec. 2.044/1908.

9

LUG RESERVAS

DECRETO 2.044

Page 10: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CONVENÇÃO DE GENEBRA – 1930 – Análise de algumas reservas

Artigos da LUG que não serão aplicados ou que terão que ser

complementados em decorrência das reservas do Anexo II.

Reservas – Artigos do Anexo II da LUG

Observação

Art. 10 Art. 3ºVigora os arts. 3º e 4º Dec. 2.044/1908

Art. 41, terceira alínea Art. 7ºArt. 43, números 2 e 3 Art. 10 Art. 19, II Dec. 2044/1908.Art. 44, 5ª e 6ª alíneas Art. 10 Art. 19, II Dec. 2044/1908.

Art. 38Deve ser completado

pelo art. 5º.

As letras de cambio pagáveis no Brasil devem ser apresentadas ao aceitante no próprio dia do vencimento

Arts. 48 e 49 (taxa de juros moratórios)

Art. 13A taxa de juros é a autorizada pelo Banco Central.

Segundo Fábio Ulhoa, os seguintes artigos permanecem em vigor do Dec. 2.044/1908:

- Art. 3º (relativo aos títulos incompletos);- Art. 10 (sobre a pluralidade de sacados);- Art. 14 (quanto à possibilidade de aval antecipado);- Art. 19, II (em decorrência da reserva do art. 10 do Anexo II);- Art. 20 (salvo quanto às conseqüência da inobservância do prazo);- Art. 36 (trata da ação de anulação de títulos);- Art. 48 (quanto à ação cabível, após a prescrição da execução da letra);- Art. 54, I (referente à denominação “nota promissória”).

A LUG tem 78 artigos. Desses somente os arts. 75, 76, 77 e 78 são relativos à nota promissória. O demais, referem-se à Letra de Câmbio.

O art. 77 dispõe que alguns preceitos sobre a Letra de Câmbio se aplicam à Nota Promissória, desde que não sejam contrários à sua natureza.

Essas questões sobre a lei cambial interna suscitam algumas divergências, mas nenhuma de repercussão prática relevante.

10

Page 11: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 4

DECLARAÇÕES OU ATOS CAMBIAIS

1. ESPÉCIES

Declaração cambial necessário ou obrigatória : SAQUE OU EMISSÃO

Declarações cambiais eventuais ou sucessivas : ACEITE, ENDOSSO E AVAL.

Observação : Declaração cambial sucedânea: Quando alguém assina uma cambial na qualidade de mandatário ou representante legal de outrem, sem ter poderes para tanto ou sem o ser, fica diretamente obrigado no título e não o seu pseudo-representado.

Outras declarações : VENCIMENTO, PAGAMENTO E PROTESTO.

CONCEITOS BÁSICOS DAS DECLARAÇÕES CAMBIAIS

- SAQUE OU EMISSÃO: É a declaração principal. Sem ela o título não existirá. É ato de criação do título de crédito.

- ACEITE: É a declaração cambial eventual ou sucessiva pela qual o signatário (até então chamado sacado) reconhece dever o valor do título e promete cumprir a ordem contra ele dada. Não é necessário para a validade do papel. Após o aceite, o sacado passa a se chamar aceitante, tornando-se obrigado principal e direto do título.

- ENDOSSO: É a declaração eventual ou sucessiva pela qual o signatário transfere o título e também o direito dele emergente a terceiros. O endosso por ser em branco (é aquele em que o endossante não identifica a pessoa do endossatário) ou em preto (é aquele em que o endossante identifica a pessoa do endossatário).

- AVAL: É a declaração eventual ou sucessiva pela qual o signatário (avalista) garante o pagamento do título. O avalista, quanto à sua obrigação, torna-se equiparado ao avalizado, que pode ser o emitente ou ao aceitante (Letra de Câmbio) ou ao endossante. É a garantia pessoal de pagamento.

11

Page 12: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 5

LETRA DE CÂMBIO

1. SAQUE DA LETRA DE CÂMBIO

O saque é o ato de criação do título de crédito. A doutrina distingue CRIAÇÃO de EMISSÃO, dizendo que o primeiro é a confecção material do documento e a segunda é a entrega ao tomador.

Para Fábio Ulhoa, essa distinção perdeu a importância pelo disposto no art. 16 da LUG (portador de boa-fé). Para ele, criação e emissão são palavras sinônimas.

A Letra de Câmbio é a ordem que o sacador dá ao sacado, no sentido de pagar determinada importância ao tomador.

Logo, temos 3 SITUAÇÕES JURÍDICAS DISTINTAS:

- A do Sacador: Aquele que cria/emite a ordem de pagamento (a letra);- A do Sacado: Aquele que recebe a ordem para realizar o pagamento;- A do Tomador: É o beneficiário da ordem. Aquele que vai receber o pagamento (o credor).

O sacado, a partir do momento que dá o “aceite”, passa a ser classificado como “aceitante”.

O aceitante é o devedor principal da letra de câmbio.

Já o sacador, aquele que cria a letra, é classificado como “co-devedor”. Responde juntamente com o devedor principal.

o Art. 3º da LUG : Determina que a mesma pessoa pode ocupar simultaneamente mais de uma situação jurídica.

a) Saque da letra à ordem do próprio sacador (sacador = tomador);b) Saque da letra contra o próprio sacador (sacador = sacado).

Emitida a letra pelo sacador, o título é entregue ao tomador que deve procurar o sacado normalmente 2 vezes:

- A primeira, para consultá-lo se ACEITA ou NÃO cumprir a ordem de pagamento;- Se aceitar, a segunda, para RECEBER o pagamento.

2 REQUISITOS DA LETRA DE CÂMBIO (ver anexo - Modelo)

Os requisitos da Letra de Câmbio estão expressos nos arts. 1º e 2º LUG

(a) Palavra “letra” ou “letra de câmbio” inserida no texto .(b) A ordem incondicional de pagamento .(c) O nome do sacado .(d) A época do pagamento .(e) Lugar do pagamento .(f) Identificação do tomador .(g) Data do saque .(h) Lugar do Saque .(i) Assinatura do sacador .

IMPORTANTE: REQUISITOS ESSENCIAIS E NÃO ESSENCIAIS

No caso de ausência de um ou alguns dos requisitos essenciais, a própria LUG determinou que o título não produzirá efeito como letra (art. 2º da LUG). Ou seja, não será considerado título de crédito e, portanto, não legitima o ajuizamento de ação de execução.

12

Page 13: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Logo, é importante definir quais desses requisitos são essenciais e quais deles não são essenciais, pois a ausência de requisitos essenciais implica em não considerar o título uma letra de câmbio.

Para Fran Martins, são requisitos não essenciais: Lugar do pagamento, Lugar do saque e Época do pagamento.

Para Fábio Ulhoa, somente a época do pagamento é requisito não essencial, os demais são essenciais, pois, na ausência deles, o título não produzirá efeito de letra de câmbio.

Justifica a sua posição dizendo que a lei aponta que caso falte, no título, a menção ao lugar do pagamento ou ao lugar do saque, há critérios equivalentes para suprimento. Apesar disso, caso estes últimos também faltem no título (ou seja, faltem os critérios equivalentes), ele não produzirá o efeito de letra de câmbio.

Por isso, para ele, só a época do pagamento é não essencial, pois possui uma regra equivalente que sempre existirá.

3 CLÁUSULA-MANDATO (ART. 8º DA LUG)

O saque, assim como os demais atos cambiais, pode ser praticado por PROCURADOR COM PODERES ESPECIAIS. A exorbitância praticada pelo procurador, gera a conseqüência prevista no art. 8º da LUG.

A CLÁUSULA-MANDATO é um instrumento muito utilizado em contratos bancários, em que o mutuário (devedor), nomeava o mutuante (credor) seu procurador, com poderes especiais para emitir um título pelo mutuário em favor do mutuante.

Para Fábio Ulhoa, a CLÁUSULA-MANDATO é plenamente válida, como forma de proteção do direito dos credores. Mas o STJ firmou posicionamento considerando-a nula (Súmula 60 do STJ).

4 TÍTULO EM BRANCO OU INCOMPLETO

Qualquer título de crédito pode ser emitido e circular validamente, em branco ou incompleto.

Os requisitos essenciais da lei não precisam estar totalmente atendidos no momento em que o sacador assina o documento, ou o entrega ao tomador.

O elemento essencial desse caso é a questão da BOA-FÉ do mandatário do devedor. Caso venha a exorbitar as instruções recebidas, ou lance dado inverídico, o sucesso da execução ficará condicionada a prova dessa exorbitância (má-fé).

Art. 3ª do Decreto 2.044/1908. Súmula 387 do STF.

5 ACEITE DA LETRA DE CÂMBIO (ARTS. 21 A 29 DA LUG)

A ordem de pagamento na letra de câmbio é dirigida ao sacado. Este não tem nenhuma obrigação cambial de cumprir a ordem, enquanto não manifesta sua concordância, através de ato lançado no próprio título. Esse ato é o ACEITE.

COM O ACEITE O SACADO ADQUIRE UM NOVO NOME: ACEITANTE, E TORNA-SE O DEVEDOR PRINCIPAL DO TÍTULO.

Local do aceite:

- Normalmente, no ANVERSO, no sentido vertical, com a simples assinatura do sacado.- Admite-se também o aceite no VERSO, desde que com a expressa “aceito” ou outra equivalente (art. 25 LUG).

13

Page 14: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

O aceite é FACULTATIVO. Na duplicata a regra é diferente, ou seja, o aceite é obrigatório.IMPORTANTE: Mas deve ser lançado o aceite no próprio título, por força do princípio da literalidade.

Como o aceite é FACULTATIVO, a RECUSA do sacado é plenamente válida, não lhe causando qualquer prejuízo.

A conseqüência da RECUSA TOTAL OU PARCIAL de aceite será o VENCIMENTO ANTECIPADO DO TÍTULO, tornando-o exigível de imediato do(s) co-devedor(es) (art. 43 da LUG).

5.1 RECUSA PARCIAL DO ACEITESe é possível a recusa total, porque não seria possível a recusa parcial? Quem pode o mais, pode o menos.A Recusa Parcial do Aceite configura-se em duas espécies:Aceite Limitativo.

(a) Aceite Modificativo .

Implicação: VENCIMENTO ANTECIPADO DO TÍTULO (art. 43 da LUG). O tomador poderá exigi-lo e imediatamente do sacador a totalidade do seu valor.

OBSERVAÇÃO: O sacado se vincula ao pagamento da LC, nos termos do seu aceite (art. 26 LUG), mesmo com o acerte limitativo ou modificativo.

Um dos requisitos essenciais da LC é a ordem incondicional de pagamento. Logo, no saque, não é possível aposição de condição, sob pena de não produzir o efeito de título de crédito. Mas no aceite é possível a aposição de condição suspensiva (até o implemento da condição, a obrigação fica suspensa; com a ocorrência da condição, a obrigação pode ser exigida) ou resolutiva (com o implemento da condição extingue-se a obrigação). É também modalidade de aceite modificativo, que acarreta o vencimento antecipado da obrigação contra o sacador. Mas a ação de regresso do sacador ficará condicionada ao implemento da condição constante do aceite.

5.2 CLÁUSULA NÃO ACEITÁVEL (Art. 22 da LUG)

Para se resguardar, o sacador pode incluir na letra uma cláusula proibindo a sua apresentação ao sacado antes da data do vencimento ou incluindo cláusula com data limite, antes da qual a apresentação ao sacado é vedada. Essa é a CLÁUSULA NÃO ACEITÁVEL.

Essa cláusula não exonera o sacador do pagamento; apenas evita o vencimento antecipado.

Cláusula não aceitável – inserção na letra com os seguintes dizeres:

“aos trinta e um de janeiro de ..., pagará V. Sª por esta única via de letra de câmbio não aceitável, a importância ....”

6 ENDOSSO (Arts. 11 a 20 da LUG) – Endosso Próprio (pleno) e Endosso Impróprio

Conceito: Endosso é a declaração eventual ou sucessiva pela qual o signatário transfere o título e também o direito dele emergente a terceiros.

6.1 ESPÉCIES DE ENDOSSO

6.1.1 Endosso Próprio ou Pleno.

Também chamado Translativo é o ato típico de circulação cambial, pelo qual o credor de um título de crédito com a cláusula à ordem transmite o título e os seus direitos a outrem.

Duas situações jurídicas:- Endossante: É o credor do título que resolve transferi-lo a outrem.- Endossatário: É aquele para quem o título foi passado.

O endosso próprio ou pleno produz 2 efeitos:

14

Page 15: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

1º) Transfere o título ao endossatário;2º) Vincula o endossante ao seu pagamento (co-devedor).

O endosso pode ser:

- Em Branco: Quando não identifica o endossatário;- Em Preto: Quando identifica.

Regras sobre o endosso:

A simples assinatura do endossante no VERSO do título; A assinatura do endossante, no VERSO ou ANVERSO, sob a expressão “pague-se”, ou outra

equivalente; A assinatura do endossante, no VERSO ou ANVERSO, sob a expressão “pague-se a

Fulano”, ou outra equivalente.

As duas primeiras caracterizam-se endosso em branco. A última é endosso em preto.

Aspectos importantes:

a) Cláusula não à ordem

É possível que o sacador impeça a sua circulação por endosso, inserindo no título a cláusula não à ordem.

Isso irá acarretar, em relação à letra de câmbio, a circunstância de que ela somente poderá ser transferida pode meio de cessão civil de crédito.

b) Cláusula sem garantia (art. 15 da LUG)

Se o endossante quiser se exonerar da responsabilidade pelo pagamento do título, deve inserir a cláusula “SEM GARANTIA”, que apenas o endosso admite. Pode ser feito através da expressão, “pague-se, sem garantia, a fulano”.

6.1.2 Endosso Impróprio

Denomina-se endosso impróprio porque ele destina-se a legitimar a posse de certa pessoa sobre um título de crédito, sem lhe transferir o direito creditício. Ou seja, o endossatário, no endosso impróprio, não se torna o credor do título.

Temos duas modalidades de Endosso Impróprio:

a) Endosso-Mandato (Art. 18 da LUG). Cobrança.

b) Endosso-Caução (art. 19 da LUG). Garantia.

Importância: Para a incidência do princípio da inoponibilidade de exceções pessoais.

O endosso-mandato atrai a OPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS, porque aquele que está fazendo a cobrança judicial do crédito (execução), o faz em nome do mandante, que é o credor do título.

Já o endosso-caução atrai a INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS, porque como o título foi dado em garantia do pagamento de outra obrigação e, se estamos na fase de cobrança judicial (execução), é porque o caucionado não cumpriu a obrigação principal.

6.2 ENDOSSO E CESSÃO CIVIL DE CRÉDITO

- Regime de direito cambiário, se for título à ordem, pois a circulação será por Endosso.

15

Page 16: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

- Regime de direito civil, se for título não à ordem, pois a circulação será por Cessão de Crédito.

Diferenças entre o Endosso e a Cessão Civil de Crédito:

Endosso Cessão Civil de Crédito

É ato formal. Pode revestir-se de qualquer forma.

O endossante, em regra, responde pela solvência do devedor. É coobrigado.

O cedente geralmente responde apenas existência do crédito. Não é coobrigado

Atrai a inoponibilidade de exceções pessoais. Atrai a oponibilidade de exceções pessoais.

Exemplo: CARLOS vendeu um automóvel a ANTÔNIO e este o revendeu a BENEDITO, sendo que ANTÔNIO sacou uma letra de câmbio em favor de CARLOS contra BENEDITO, que a aceitou. Após, CARLOS transferiu seu crédito a DARCY. Se, no vencimento, o aceitante BENEDITO está insolvente, DARCY poderá acionar CARLOS para reclamar o pagamento? Resposta: Depende. Se a transferência foi por endosso, poderá fazê-lo, porque, em regra, o endossante é coobrigado, ou seja, responde pela solvência. Mas se recebeu a letra por cessão civil de crédito, DARCY não poderá cobrá-la de CARLOS, porque o cedente só responde pela existência do crédito, ou seja, não é coobrigado. Nesse caso, para cobrar CARLOS, DARCY deverá provar que lhe foi transmitido direito inexistente ou simulado.

Por outro lado, se BENEDITO não é insolvente, mas no prazo da lei havia rescindido o contrato de compra e venda do automóvel, feito com ANTÔNIO, por vícios ocultos, ele (BENEDITO) estará obrigado a pagar o título a DARCY? Resposta: Depende. Se a transferência foi por endosso, não poderá opor exceções pessoais. Se foi por cessão civil de crédito, poderá opor exceções pessoais.

IMPORTANTE: Na cessão, com a transferência do título a outrem, ele não se desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem, atraindo a oponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé. Já no endosso, com a transferência, o título se desvincula do negócio originário.

Esses efeitos de cessão civil de crédito ocorrem:

a) Nos casos de endosso praticado após o protesto por falta de pagamento, ou depois de expirado o prazo para a sua efetivação. Denomina-se ENDOSSO PÓSTUMO OU TARDIO;

b) Quando praticado em título em que se inseriu a CLÁUSULA NÃO À ORDEM.

6.3 ENDOSSO PÓSTUMO OU TARDIO (ART. 20 DA LUG).

Verifica-se tal endosso quando, comprovadamente, o endosso ocorre após o protesto por falta de pagamento ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto. É que, normalmente, o endosso pleno só pode ocorrer até o vencimento do título, que corresponde à sua vida normal. Vencido, o título não deve circular mais por endosso. Por isso, o legislador procurou dar tratamento diferente ao endosso quando realizado após o vencimento do título.

A solução para o endosso póstumo ou tardio é considerá-lo como mera cessão civil de crédito.

6.4 ENDOSSO PARCIAL

É aquele em que o endossante procura transmitir apenas parte da importância mencionada no título. Expressa-se assim: “Pague-se ao Davi apenas 50 % do valor”.Nos termos da 2ª alínea do art. 12 da LUG, o endosso parcial é considerado nulo, pois o endosso deve ser puro e simples. Mas, se for considerado nulo, ele desfaz a cadeia de endossos e os outros eventuais endossos posteriores serão considerados nulos?

16

Page 17: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Segundo Wille Duarte, o mais correto não é considerar o endosso parcial nula, pois, se assim o fosse, quebraria a cadeia de endosso e o credor posterior, que estivesse na posse do título, não teria como justificar seu direito de credor, tendo em vista que ficaria interrompida a série de endossos.

A solução mais correta, para Wille Duarte, é considerar o endosso parcial como cláusula não escrita.

7 AVAL

7.1 CONCEITO

É a declaração cambial eventual ou sucessiva pela qual o signatário garante o pagamento do título. Somente pode ser prestada em títulos de crédito, no corpo da cártula, ou em folha anexa.

No aval, temos duas figuras:

a) Avalizado: É a pessoa cuja obrigação foi garantida por aval. Pode ser, conforme o título de crédito, o sacador ou emitente, o aceitante ou o endossante;

b) Avalista: É a pessoa que prestou a garantia e assumiu a obrigação de pagar o título de crédito.

Usualmente, o avalista garante todo o valor do título, mas a lei admite o AVAL PARCIAL (LUG, art. 30).

7.2 REGRAS SOBRE O AVAL

O aval se pratica por uma das seguintes formas:

1ª) A simples assinatura do avalista, lançada no ANVERSO do título, desde que não se trate das assinaturas do sacado e sacador (ou emitente);

2ª) A assinatura do avalista, no VERSO ou ANVERSO, sob a expressão "por aval", "bom para aval" ou outra de mesmo sentido;

Podemos ilustrar com um exemplo clássico, digamos que o avalista assina seu nome no verso do título sem a expressão “por aval”. Considera-se esta garantia inexistente, pois não obedeceu a forma prevista na lei. Isso se deve porque este é, por definição, o local apropriado para o endosso.

Registre-se, também, a possibilidade de aval em branco, quando o avalizado não é identificado e aval em preto, quando há identificação do avalizado.

AVAL EM BRANCO: Quando o avalista não define o devedor em favor de quem está prestando a garantia, a lei, para cada título de crédito, estabelecerá qual devedor é o beneficiado. No caso da letra de câmbio, o aval em branco que considerar-se que foi dado em favor do sacador (art. 31 da LUG).

7.3 CARACTERÍSTICAS DO AVAL

Possui duas características principais em relação à obrigação avalizada, que são a autonomia e a equivalência.

O avalista assume, perante o credor do título, uma obrigação autônoma, mas equivalente à do avalizado (“nas mesmas condições que o avalizado”).

AUTÔNOMA , porque quem presta aval prontamente se vincula, mesmo se é inexistente, nula ou ineficaz a obrigação do avalizado, exceto se houver vício na formação do título. Entende-se por vício tudo aquilo que não estiver em conformidade com a formação do título de crédito, ou seja, com o princípio da cartularidade e da literalidade.

17

Page 18: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

EQUIVALÊNCIA significa que o avalista é devedor do título "na mesma maneira que a pessoa por ele afiançada” (avalizada) (LU, art. 32).

7.4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE O AVAL E A FIANÇA

DIFERENÇAS

AVAL FIANÇASó há em títulos de crédito É um contrato acessório.Não admite substituição do avalista. Admite substituição do fiador.O avalista não pode estabelecer prazo de validade do aval.

O fiador pode estabelecer prazo de validade da fiança.

A responsabilidade é solidáriaA responsabilidade é subsidiária, em regra (benefício de ordem – pode renunciar).

Obrigações autônomas, ou seja, a nulidade da obrigação do avalizado não prejudica a do avalista.

Por ser contrato acessório, a nulidade do contrato principal, implica na nulidade da fiança.

SEMELHANÇAS

AVAL FIANÇA1. São espécies de garantia pessoal ou fidejussória.2. Exigem outorga uxória (art. 1647, inciso II do CC).3. Podem ser parcial ou total4. Podem ter garantia de um único ou vários garantidores da obrigação do devedor principal.

7.5 DOS EFEITOS DA AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE NO AVAL E NA FIANÇA

Existe ressalva expressa em nosso ordenamento quanto à necessidade de autorização do cônjuge para que seja prestada fiança ou aval, salvo no caso do regime da separação absoluta de bens.

Art. 1647. Ressalvado o disposto no art. 1648 (caso do suprimento da outorga pelo juiz), nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:III – prestar fiança ou aval;

Partindo de tais dados em concorrência com a análise do art. 1.649 do Código Civil, poderia nos levar à conclusão que a fiança e o aval tornam-se atos jurídicos anuláveis se prestados sem a devida autorização, sendo o prazo prescricional de dois anos após o findar da sociedade conjugal.

No entanto, para alguns doutrinadores exigir a anuência do cônjuge para a outorga de aval é afrontar a Lei Uniforme de Genebra e descaracterizar o instituto. Ademais, a celeridade indispensável para a circulação dos títulos de crédito é incompatível com essa exigência, pois que não se pode esperar que, na celebração de um negócio corriqueiro, lastreado em título de crédito, seja necessário, para a obtenção de um aval, ir à busca do cônjuge e da certidão do seu casamento, determinadora do respectivo regime de bens.

Em face disso, na Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, no período de 11 a 13 de setembro de 2002, sob a coordenação científica do Ministro Ruy Rosado, do STJ, foi aprovado o Enunciado 114, que assim dispõe:

Enunciado 114 – Art.1.647: O aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o inc. III do art. 1.647 apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu.

Dessa forma, não será afetada a meação do cônjuge que não anuiu com o aval.

Quanto à fiança, há uma peculiaridade: se ela for prestada por um cônjuge sem a autorização do outro, implicada na nulidade da garantia. É o que prevê a súmula 332 do STJ:

Súmula 332: A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.

18

Page 19: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

A tese é pacificada no sentido de que a fiança sem a outorga de um dos cônjuges, em contrato de locação, é nula de pleno direito, invalidando, inclusive, a penhora efetivada sobre o bem, integralmente (até mesmo a penhora sobre a meação do cônjuge que prestou a fiança será invalidada).1

7.6 AVAIS SIMULTÂNEOS E AVAIS SUCESSIVOS

Devem-se distinguir os avais simultâneos dos sucessivos.

AVAIS SIMULTÂNEOS : Mais de um avalista assume responsabilidade solidária (entre eles) em favor do mesmo devedor. Serão co-avalistas. Portanto, nos avais simultâneos vigora a solidariedade do direito civil (De acordo com o art. 283 do CC, o devedor solidário que paga ao credor a

totalidade da dívida pode exigir, em regresso, dos demais devedores a quota-parte cabível a cada um).

AVAIS SUCESSIVOS : O avalista garante o pagamento do título em favor de um devedor e tem a sua própria obrigação garantida também por aval.

Repercussão:

"Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos" (Súmula 189 do STF).

7.7 AVAL E OS CONTRATOS

São comuns os bancos, ao emprestarem dinheiro aos clientes, a elaboração dois instrumentos: Um contrato de mútuo e um título de crédito (geralmente uma nota promissória).

Nesses negócios também é muito comum a presença de avalistas, que assinam os dois documentos, o que desperta duas questões relevantes:

1ª) O AVALISTA RESPONDE PELOS ENCARGOS2 ESTABELECIDOS NO CONTRATO?

O avalista, que se obrigou no título de crédito, só responderá pelos encargos estabelecidos no instrumento contratual se também o assinou. Caso se verifique que o avalista assinou só a cambial, a previsão de encargos no contrato não o poderá alcançar.

Vejamos, a propósito, a Súmula 26 do STJ:

"O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário" (Súmula 26 do STJ).

2ª) PODE SE UTILIZAR NOS CONTRATOS A EXPRESSÃO AVAL?

Em contratos de financiamento outorgado a sociedade empresária, em que se estipula cláusula pela qual o sócio majoritário da sociedade garante, com o seu patrimônio pessoal, as obrigações da pessoa jurídica, na qualidade de "avalista".

Trata-se, no entanto, de uma impropriedade técnica.

Aval é ato exclusivo de títulos de crédito e não pode ser firmado senão nos documentos dessa natureza. Na verdade, a obrigação que sócio assumiu, na oportunidade, foi a de uma verdadeira fiança, e o nome correto a adotar seria "fiador" ou "devedor solidário".

Apesar do erro na expressão utilizada, considera-se a garantia como sendo fiança e o regime jurídico a se aplicar deve ser o do direito civil. Daí decorre o benefício de ordem e o caráter acessório da garantia.

1 Ver STJ, Recursos Especiais números 860.795, 525.765, 94.094 e 111.877.2 Tais como juros, comissão de permanência, não constantes do título de crédito, mas expressos no contrato de mútuo subjacente.

19

Page 20: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

7.8 AVAL ANTECIPADO – Dec. 2.044/08, art. 14

Cronologicamente, o aval deve ocorrer depois que o avalizado se obriga no título de crédito. Mas, pode surgir antes da obrigação do avalizado. É o aval antecipado.

A lei cambial interna autoriza o aval antecipado, isto é, dado antes do aceite ou do endosso do título (Dec. 2.044/08, art. 14). Assim, o tomador que não conhece o sacado, ou tem dúvidas sobre a aceitação do título, pode exigir que o sacador, antes de lhe entregar a letra, encontre quem esteja disposto a garantir o seu pagamento, como avalista do devedor principal.

Contudo, o aval antecipado depende da existência formal da declaração do avalizado. Só existe, se ocorrer a obrigação do avalizado. Se não existir a obrigação do avalizado, a do avalista considera-se não escrita.

8. VENCIMENTO

Conceito: O vencimento é o fato jurídico que torna exigível o crédito cambiário.

Espécies de vencimento:

Ordinário.

Extraordinário: Em 2 (duas) as hipóteses de vencimento antecipado:

a) RECUSA DO ACEITE (total ou parcial).

b) FALÊNCIA DO ACEITANTE.

Não acarretam o vencimento antecipado:

a) A falência do avalista do aceitante.b) A falência do sacador, endossante e avalista;

Classificação das letras de câmbio quanto ao vencimento:

a) Letra de câmbio em dia certo : é aquela em que o sacador escolhe data futura ao saque como vencimento;

b) Letra de câmbio com vencimento à vista : é aquela que vence com a sua apresentação ao sacado.

c) Letra de câmbio com vencimento a certo termo de vista : é aquela em que o prazo de vencimento, fixado pelo sacador, se inicia a partir da data do aceite.

d) Letra de câmbio com vencimento a certo termo de data : é aquela em que o sacador fixa o prazo para vencimento do título, que começa a fluir da data do saque.

9. PAGAMENTO

Conceito: O pagamento é a forma natural de extinção das obrigações. Pode provocar a extinção de uma, algumas ou todas as obrigações cambiais mencionadas no título de crédito, dependendo de quem o realiza.

O pagamento feito:a) Pelo Devedor Principal (aceitante) : Extingue todas as obrigações cambiais.b) Pelos Co-devedores (sacador/endossante/avalista) : Extingue uma ou algumas obrigações

cambiais. Ou seja, extingue a obrigação cambial de quem pagou e a dos devedores posteriores.

9.1 PRAZO DE APRESENTAÇÃO

20

Page 21: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

A letra deve ser apresentada, ao aceitante, para pagamento, no dia do vencimento (art. 38 do Anexo I, c/c art. 5º do Anexo II da LUG).

A inobservância desse prazo, por si só, não acarreta grandes conseqüências ao credor da letra de câmbio, sendo importante, apenas, para disciplinar o início da fluência do prazo para o protesto (que é no primeiro dia útil seguinte ao vencimento do título).

Somente se a letra contiver a CLÁUSULA “SEM DESPESAS”, que dispensa o protesto, a inobservância do prazo de apresentação a pagamento redunda na PERDA DO DIREITO DE COBRANÇA EM RELAÇÃO AOS CO-DEVEDORES (art. 53 da LUG).

9.2 CAUTELAS NO PAGAMENTO

O pagamento válido é o que se efetua à vista da cártula (do título), com a sua entrega ao devedor. Isso decorre do princípio da cartularidade.

Além da entrega o título, o devedor deve exigir que a quitação (especialmente a parcial) seja dada no próprio título, em razão do princípio da literalidade, que traduz a idéia de que o credor só pode exigir do devedor aquilo que consta expressamente no título.

A quitação dada em separado, com base no art. 320 do Código Civil, é valida, mas não dispensa a apresentação do título.

10. PROTESTO (Lei 9.492/97)

Conceito: Protesto é ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.

Apresentado o título no Tabelionato de Protestos, o Tabelião deverá examinar a regularidade formal do documento, como os requisitos, a legitimidade ativa do portador, o vencimento e a sua natureza cambial. Não cabe ao Tabelião examinar questões de prescrição ou caducidade (art. 9ª da Lei 9.492/97).

Se contiver vício, o protesto dever ser obstado.

Mas se o título contiver algum desses vícios mencionados e, mesmo assim, for protestado, o oficial público responde perante o prejudicado.

Se não há vícios, o Tabelião expedirá intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título, considerando-se cumprida quando comprovada sua entrega no mesmo endereço (por Aviso de Recebimento – AR ou documento equivalente) (art. 14 da Lei 9.492/97).

Admite-se intimação por edital (art. 15 da Lei 9.492/97), afixado no Tabelionato e publicado em jornal local de circulação diária, que o devedor for desconhecido, endereço incerto ou ignorado, residente ou domiciliado fora da competência territorial do Tabelionato ou for recusado o recebimento da intimação no seu endereço.

O devedor terá o prazo de 3 dias úteis para fazer o pagamento, contados do recebimento da intimação, excluindo o dia o início e incluindo o dia do vencimento desse prazo.

Os tipos de protesto, de acordo com o art. 21 da Lei 9.492/97, são:a) Protesto por falta de aceite (§ 1º): somente será efetuado antes do vencimento e após o

decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução;b) Protesto por falta de pagamento (§ 2º): após o vencimento do título, o protesto será sempre

efetuado por falta de pagamento.c) Protesto por falta de devolução (§ 3º): devido quando o sacado retiver a letra de cambio ou

a duplicata envida para aceite e não proceder à devolução dentro do prazo legal (30 dias).

10.1 Protesto por Falta de Pagamento

21

Page 22: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

O mais comum é o protesto por falta de pagamento.

O prazo para o protesto por falta de pagamento letra de câmbio ou da nota promissória deve ser feito no primeiro dia útil seguinte ao vencimento do título.

Importância desse prazo: Se o credor perde o prazo para a efetivação do protesto, a conseqüência é a inexigibilidade do crédito contra os co-devedores e seus avalistas (art. 53 da LUG). Entretanto, continua com o direito creditício contra o aceitante e o avalista do aceitante.

Diante dessa relevância, podemos classificar o protesto da seguinte forma:

a) Protesto necessário : Quando o credor quiser assegurar/conservar a responsabilidade dos co-devedores (sacador e endossantes) e seus respectivos avalistas;

b) Protesto facultativo : Quando o credor for cobrar judicialmente apenas do devedor principal e respectivo avalista, porque, nesse caso, o protesto é dispensável.

NOTAS:

A inserção cláusula SEM DESPESA (ou SEM PROTESTO), dispensa o credor de realizar o protesto cambial, contra quaisquer devedores, se for inserir no momento do saque.

Mas um endossante e avalista também podem inseri-la. Nesse caso, o credor estará dispensado de fazer o protesto contra eles, apenas.

O protesto pode ser CANCELADO ou SUSTADO.

11. AÇÃO CAMBIAL

É a ação judicial pela qual o credor busca o recebimento da quantia certa mencionada no título de crédito.

As ações cambiais são duas: a execução e a de enriquecimento indevido.

A ação de execução pressupõe a existência de um título de crédito contendo todos os seus requisitos formais exigidos pelas legislações de cada espécie de título, pois aí sim serão considerados títulos executivos extrajudiciais (art. 585, I CPC).

A ação de enriquecimento é de natureza não executiva, ou seja, sua natureza é cognitiva e pode ser proposta após a prescrição da execução O portador do título, através do processo de conhecimento ou ação monitória, pede a condenação judicial de qualquer devedor cambiário no pagamento do valor do título, sob fundamento que se operou o enriquecimento indevido. De fato, se o título não foi pago, o demandado locupletou-se sem causa lícita, em prejuízo do demandante e essa é, em princípio, a matéria de discussão.

Outra questão importante:

a) Execução contra sacador, endossante e seus avalistas : Além da letra de câmbio, deve ser obrigatoriamente apresentado o instrumento de protesto, que comprove a sua regularidade;

b) Execução contra aceitante e seus avalistas : Basta a simples apresentação da letra de câmbio.

Prazos prescricionais para a ação de execução: Art. 70 da LUG.

a) Contra aceitante e seus avalistas: 3 anos, a contar do vencimento;b) Contra sacador, endossantes e seus respectivos avalistas: 1 ano, a contar do protesto, ou do

vencimento se tiver cláusula sem “despesa”;c) Ação de regresso contra co-devedor: 6 meses, a partir do pagamento ou do ajuizamento da

execução.

Ocorrendo a prescrição da ação cambial (execução e da ação de locupletamento), a letra de câmbio servirá, apenas, como prova de uma obrigação extracambial.

22

Page 23: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Neste caso, o credor tem duas ações:

- Ação de Conhecimento (cobrança);- Ação Monitória.

São chamadas ações causais, porque discutem a causa da obrigação, sendo admitidas quaisquer matérias de defesa por parte do demandado.

IMPORTANTE: A obrigação do avalista, após a prescrição das ações cambiais, desaparece.

AÇÃO DE EXECUÇÃOAÇÃO DE

LOCUPLETAMENTO*AÇÕES FUNDAMENTAIS

(CAUSAIS)É a ação cambial, por excelência. Um dos atributos dos títulos de crédito.

Também é ação cambial.

Quando o título está prescrito e está-se cobrando o negócio jurídico subjacente.

Petição inicialNão precisa discutir a origem da obrigação, por força do princípio da abstração.

Não precisa discutir a origem da obrigação, por força do princípio da abstração, mas deve demonstrar-se que a outra parte enriqueceu-se com o não pagamento do título.

Tem que discutir a origem da obrigação.

Início da prescrição

Do vencimento, contra devedor principal.Do protesto, contra co-devedores.Do pagamento ou do dia que foi demandado, ação de regresso.

Com a consumação do prazo prescricional da execução.

Da data do fato que deu origem à obrigação.

Prazo prescricional

Na LC e na NP: 3 anos, devedor principal e avalistas; 1 ano, co-devedores e avalistas; 6 meses, ação de regresso. No cheque, 6 meses, dev. principal e co-devedores e seus avalistas; 6 meses, ação de regresso;.

- 3 anos, no caso de LC e NP, por força do art. 205, § 3º, IV do CC.- 2 anos, no caso de cheque.

Varia conforme a obrigação subjacente (que deu origem). Por exemplo: responsabilidade civil 3 anos.

ProcedimentoDa ação de execução de título extrajudicial do CPC.

Ação monitória ou procedimento ordinário, sumário ou sumaríssimo.

Ação monitória ou procedimento ordinário, sumário ou sumaríssimo.

Réu Pode ser o devedor principal e seu avalista e os co-devedores e seus avalistas.

Na LC, sacador e aceitante.Na NP, emitente.No Cheque, emitente ou outros obrigados (art. 61 da L. 7357/85).

Só poderá ser proposta contra quem o autor manteve a relação subjacente. Não poderá ser réu o endossante ou avalista.

* A ação de locupletamento é cabível na letra de câmbio, na nota promissória e no cheque.

23

AÇÕES CAUSAIS

Page 24: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 6

NOTA PROMISSÓRIA

É uma Promessa de Pagamento: Dá ensejo a 2 situações jurídicas:

o Promitente : Aquele que assume a obrigação de pagar. Também chamado emitente ou subscritor;

o Beneficiário : Aquele que irá receber o pagamento. Também chamado tomador.

Devedor principal: Subscritor (ou emitente).

A nota promissória também deve se revestir de determinadas formalidades (requisitos). Caso não atenda, não produz os efeitos cambiais e os benefícios, ao credor, da inoponibilidade de exceções pessoais de terceiros de boa-fé.

Requisitos:

a) A expressão “NOTA PROMISSÓRIA”;b) A promessa incondicional de pagar quantia determinada;c) Nome do tomador (credor);d) Data do saque;e) Assinatura do subscritor;f) Lugar do saque, ou menção de um lugar ao lado do nome do subscritor.

Requisitos não essenciais:

- Época e lugar do pagamento. (na falta, considera-se à vista e pagável no local do saque ou no mencionado ao lado do nome do subscritor)

REGIME JURÍDICO (Adaptações em relação à Letra de Câmbio)

A nota promissória está sujeita às mesmas normas aplicáveis à letra de câmbio, com algumas exceções estabelecidas pela Lei Uniforme, em seus arts. 77 e 78.

Contudo, devem ser observadas as seguintes prescrições específicas deste tipo de título cambial:

a) A nota promissória é uma promessa de pagamento e, por isso, não se aplicam, a ela, as normas relativas à letra de cambio incompatíveis com esta natureza da promissória. Assim, não há que se cogitar de aceite, vencimento antecipado por recusa de aceite, cláusula não-aceitável etc.

b) O subscritor da nota promissória é o seu devedor principal. Por essa razão, a lei prevê que a sua responsabilidade é idêntica à do aceitante da letra de câmbio (art. 78). Neste sentido, pode-se concluir que o protesto é facultativo para o exercício do direito de crédito contra o emitente; também se pode concluir que o exercício desse direito prescreve em 3 anos.

c) O aval em branco da nota promissória favorece o seu subscritor (art. 77, in fine).

d) As notas promissórias, embora não admitam aceite, podem ser emitidas com vencimento a certo termo da vista. Nesta hipótese, o credor deverá apresentar o título ao visto do emitente no prazo de 1 ano do saque (art. 23), sendo a data desse visto o termo a quo do lapso temporal de vencimento. A nota promissória desta espécie pode ser protestada por falta de data (art. 78, segunda alínea).

Portanto, desde que observadas as especificidades da nota promissória acima mencionadas, estará este título sujeito ao mesmo regime jurídico da letra de câmbio, quanto à constituição e exigibilidade do crédito cambiário.

No tocante ao SAQUE, ENDOSSO, AVAL, VENCIMENTO, PAGAMENTO, PROTESTO, AÇÃO CAMBIAL E PRESCRIÇÃO permanece as mesmas disposições acerca da Letra de Câmbio.

24

Page 25: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 7

CHEQUE – Lei nº. 7.357/85

1. CONCEITO

O cheque é uma ordem de pagamento à vista, sacada contra um banco ou instituição financeira equiparada e com base em suficiente provisão de fundos depositados pelo sacador em mãos do sacado ou decorrente de contrato de abertura de crédito entre ambos.

2. PRESSUPOSTOS DA EMISSÃO DO CHEQUE

a) Ser o sacado um banco ou instituição financeira a ele equiparada:

b) Existir em poder do banco ou da instituição financeira uma provisão (fundos) do emitente ou sacador:

c) Ter o emitente ou sacador disponibilidade sobre os fundos ou provisão:

d) Haver entre o emitente e o banco sacado um contrato, expresso ou tácito para que o primeiro disponha dos fundos ou provisão por meio de cheque:

A ausência de algum desses pressupostos não prejudica a validade do título como cheque (art. 4º Lei 7.357/85).

3. PESSOAS INTERVENIENTES

No cheque estão presentes 3 (três) pessoas. São elas:

o emitente (emissor ou sacador), que é aquele que emite o cheque; o beneficiário, que é a pessoa a favor de quem o cheque é emitido; e o sacado, que é o banco em que está depositado o dinheiro do emitente.

O devedor principal de um cheque é o seu sacador.

4. CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS DO CHEQUE

- O cheque é uma ordem de pagamento à vista (art. 32 da Lei 7.357/85);- Não é papel de curso forçado (não é de aceitação obrigatória);- O cheque é título de modelo vinculado.- Tem implícita a cláusula “à ordem”; se transmite normalmente mediante endosso;- O endosso admite a cláusula “sem garantia”, que tem efeito apenas de transferir a titularidade do título sem se obrigar ao seu pagamento;- Admite o endosso mandato (não admite endosso caução)- Não admite cláusula de juros (art. 10). Juros só são devidos na cobrança judicial de cheque não pago (art. 53, II).- Aval em branco: favorece o sacador-emitente (art. 30 parágrafo único);- O Endosso e o Aval por parte do sacado (banco): proibido (arts. 18, § 1º e 29), salvo o endosso de uma agência do sacado para outra;- Endosso após vencimento do prazo para apresentação: efeitos de cessão civil de crédito. - Divergência de valores: Quanto ao valor, deve ser indicado por extenso e em algarismos, prevalecendo, em caso de divergência, o primeiro (por extenso). (art. 12).- Em regra, a quitação do cheque é “pro solvendo”, ou seja, só produz quitação após a liquidação do cheque. Contudo, pode ser convencionado e firmado “pro soluto”.

5. REQUISITOS DO CHEQUE (ARTS. 1º e 2º)

Podemos distinguir os requisitos do cheque em essenciais e não essências; os primeiros, são de presença obrigatória no ato de cobrança judicial do título, sob pena de não valer como cheque e

25

Page 26: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

consequentemente um título de crédito (título executivo extrajudicial); os segundos, em caso de ausência, podem ser supridos, nos termos do art. 2º da Lei de Cheque.

a) Requisitos Essenciais :

1. A denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido;

2. A ordem incondicional de pagar quantia determinada;3. O nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar

(sacado); 4. A indicação da data de emissão;5. A assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com

poderes especiais.

b) Requisitos Não Essenciais :

1. Lugar de pagamento (art. 2º, I – “na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão”);

2. Lugar de emissão (art. 2º, II – “não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente”);

Observações sobre os requisitos do cheque:

O nome do beneficiário/tomador do cheque é facultativo (admite-se cheque ao portador, exceto para os cheques superiores a R$ 100,00, nos quais a identificação do tomador é necessária, de acordo com o art. 69 da Lei 9.069/95). O cheque permite vários beneficiários.

A indicação do lugar do saque é importante para a questão do prazo de apresentação do cheque ao banco sacado.

Sobre a data de emissão do cheque, Fran Martins (Títulos de Crédito, 14ª edição, página 304) entende que o cheque que conste data incompleta ou inexistente (ex: 30 de fevereiro) é inválido, pois impactará na fixação da data de apresentação ao sacado.

Em relação à quantia determinada a constar no cheque, pode-se referir à moeda nacional ou estrangeira, obedecendo, em relação à moeda estrangeira, os termos do art. 42 da Lei de Cheque.

Quanto à assinatura do sacador/emitente, este deverá ser capaz, tanto a pessoa física como a pessoa jurídica, esta através de seu representante legal nomeado no contrato social. Obs.: Se o cheque for assinado por incapaz ou contiver assinatura falsificada, isso não isenta de responsabilidade os endossantes e avalistas, por força do princípio da autonomia (art. 13 da Lei de Cheque).

Nas contas conjuntas, em que constam duas pessoas como emitente, somente aquele que efetivamente assinou o cheque como emitente é que pode ser acionado judicialmente para pagá-lo. Ou seja, não há solidariedade, a não ser que ambas assinem o cheque.

A chancela mecânica ocorre pelo uso de máquinas especiais, com autorização do Banco Central do Brasil, devendo o clichê da assinatura ficar preso ou anexado à máquina. A assinatura assim fixada deve ser levada a registro em Cartório de Títulos e Documentos e no Banco sacado (Resolução nº. 885/83 do Banco Central).

Como já vimos, o cheque não tem curso forçado. Dessa forma, ninguém é obrigado a documentar sua dívida por cheque; se o faz, concorda em vir a pagar, eventualmente, o valor do título a terceiro portador de boa-fé, mesmo que tenha razões juridicamente válidas para questionar a existência ou extensão da dívida, perante o credor originário.

26

Page 27: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

6. CIRCULAÇÃO DO CHEQUE

O cheque contém implícita a cláusula à ordem, transmitindo-se via endosso.

Conceito: É a declaração eventual ou sucessiva pela qual o signatário transfere o título e também o direito dele emergente a terceiros.

Admite a cláusula “sem garantia”, que implica na desoneração da responsabilidade do endossante.

Cabe também o endosso-mandato, em que o endossatário se investe na condição de mandatário do endossante e não se torna titular do crédito (art. 26).

Poderá o emitente inserir no título a cláusula não à ordem, hipótese em que a sua circulação será regida pela cessão civil de crédito.

A cláusula não à ordem é diferente da cláusula não transmissível, que impediria qualquer ato de circulação do crédito. A Lei 7.357 não cuidou essa hipótese e, portanto, no direito brasileiro não se admite cheque não transmissível, sendo inválida e ineficaz qualquer cláusula inserida no cheque para impedir a sua negociação.

A sua circulação, portanto, segue o regramento da circulação da letra de câmbio.

Salientem-se, no entanto, três diferenças em relação a tal disciplina:

a) Não se admite o endosso-caução (Instrumento adequado para a instituição de penhor sobre títulos de crédito), em razão da natureza do cheque de ordem de pagamento à vista.

b) O endosso feito pelo sacado é nulo como endosso, valendo apenas como quitação, salvo se o sacado tiver mais de um estabelecimento e o endosso feito por um deles em cheque a ser pago por outro estabelecimento (art. 18, §§ 1º e 2º);

c) O endosso feito após o prazo para apresentação é tardio ou póstumo e, por isso, gera os efeitos de cessão civil de crédito (art. 27).

Em suma, quanto à circulação, como o meu cheque pode ser emitido?

O cheque pode ser emitido de 3 (três) formas (art. 8º da Lei nº. 7.357/85). São elas:

Nominal (ou nominativo) à ordem ; Nominal (ou nominativo) não à ordem ; e Ao portador .

Para tornar um cheque não à ordem, basta o emitente escrever, após o nome do beneficiário, a expressão “não à ordem” ou “proibido o endosso” ou outra equivalente.

Repita-se: O cheque ao portador não pode ter valor superior a R$ 100,00. Ou seja, deve adotar, necessariamente, a forma nominativa e pode conter a cláusula "à ordem" ou a cláusula "não à ordem".

7. AVAL

Conceito: É a declaração cambial eventual ou sucessiva pela qual o signatário garante o pagamento do título. Somente pode ser prestada em títulos de crédito, no corpo da cártula, ou em folha anexa.

No tocante ao aval, a lei estabelece que o aval em branco, aquele que não identifica o avalizado, favorece o emitente (art. 30, parágrafo único); além disso, proíbe-se o aval por parte do sacado (art. 29).

No mais, aplica-se o mesmo regime reservado ao aval da letra de câmbio.

27

Page 28: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

8. MODALIDADES DE CHEQUE

8.1 Cheque Cruzado – é aquele que só pode ser depositado em conta corrente. Basta a colocação, no anverso do título, duas linhas transversais na extremidade superior à inferior. (Arts. 44 e 45 da Lei nº. 7.357/85).

Existem duas espécies de cruzamento:

- Geral ou em branco – aquele que não identifica em qual banco deve ser feito o depósito;

- Especial ou em preto – aquele que identifica em qual banco deve ser feito o depósito – basta escrever entre as linhas o nome do banco.

8.2 Cheque para se levar em conta – É aquele em que o emitente ou o portador proíbem o pagamento do título em dinheiro. (Art. 46, Lei nº. 7.357/85).

Basta escrever no anverso do cheque a expressão “cheque para ser creditado em conta”, ao invés de colocar as linhas transversais.

8.3 Cheque visado – É aquele em que há o visto do gerente do banco, que reserva da conta do devedor o valor equivalente ao cheque, para garantir seu pagamento após o prazo de apresentação. (Art. 7º, §1º, Lei nº. 7.357/ 85).

8.4 Cheque administrativo ou bancário – É emitido pelo banco sacado, para liquidação por uma de suas agências. Emitente e sacado são a mesma pessoa, ou seja, o banco. (Art. 9º, III, Lei nº. 7.357/ 85). Essa emissão é autorizada por lei.

8.5 Cheque de viagem ou “traveller´s check” – Finalidade: visa conferir maior segurança aos viajantes.

9. PRAZOS NA LEI DE CHEQUE

Existem dois prazos que afetam o cheque:

Prazo de apresentação , que é de 30 dias, a contar da data de emissão, para os cheques emitidos na mesma praça do banco sacado; e de 60 dias para os cheques emitidos em outra praça; e

Prazo de prescrição , que é de 6 meses após a expiração (o término) do prazo de apresentação.

9.1 Prazo de apresentação (art. 33)

A definição de mesma praça e de praça distinta é dada pela coincidência ou não entre o local de emissão e o local da agência pagadora.

A conseqüência da inobservância desse prazo é a PERDA DO DIREITO DE EXECUTAR OS ENDOSSANTES DO CHEQUE E SEUS AVALISTAS, se o título é devolvido por insuficiência de fundos (art. 47, inciso II).

No entanto, o portador do cheque ainda permanece com o direito de executar o emitente e seus avalistas, mesmo que não tenha apresentado o cheque no prazo (SÚMULA 600 DO STF).

Agora, se o emitente tinha fundos disponíveis em conta durante o prazo de apresentação (30 ou 60 dias) e, por motivo não imputável a ele (emitente) deixaram de existir, o portador também perderá o direito de executar o emitente (art. 47, §3º).

9.2 Prazos de prescrição (art. 59/62)

São os prazos previstos na Lei 7.357/85.

28

Page 29: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Contra o emitente e seu avalista e endossantes e seus avalistas: prazo de 6 meses, contados da expiração do prazo de apresentação.

A ção de regresso: prazo de 6 meses, contados do dia em que o obrigado pagou ou do dia em que foi demandado.

Ação de Enriquecimento Indevido: prazo de 2 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista no art. 59

10. CHEQUE PÓS-DATADO (ou pré-datado)

A lei de cheque fulmina com a ineficácia absoluta a inserção, no título, de qualquer menção contrária ao seu pagamento à vista (art. 32).

A pós-datação não produza efeitos perante o banco sacado, na hipótese de apresentação para liquidação, pois o banco deve pagar o cheque, desde que atendidos evidentemente os demais pressupostos (regularidade de assinatura, existência de fundos etc.).

A inserção de data futura representa um acordo entre tomador e emitente, consiste em obrigação de não fazer (não apresentar o título antes do prazo fixado).

A apresentação precipitada do cheque significa o descumprimento desse acordo e pode gerar direito ao emitente prejudicado de ser indenizado pelos prejuízos:

(a) Materiais, com o pagamento de taxas bancárias, encargos contratuais e bancários.

(b) Morais, com a negativação do nome do emitente (SPC, SERASA, CCF – Cadastro de Emitentes de Cheque sem fundos).

SÚMULA N. 370-STJ Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. Rel. Min. Fernando Gonçalves, em 16/2/2009.

SÚMULA N. 388-STJ. A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral. Rel. Min. Fernando Gonçalves, em 26/8/2009.

Temos que diferenciar duas questões sobre a apresentação antecipada (ou seja, antes da data aposta no cheque pós-datado):

1. Apresentação para fins de liquidação:2. Apresentação para fins de desconto.

CHEQUE PÓS-DATADO – CONSEQÜÊNCIA: A circunstância de haver sido aposta no cheque data futura, embora possua relevância na esfera penal (atipicidade do estelionato), no âmbito dos direitos civil e comercial traz como única conseqüência prática a ampliação real do prazo de apresentação.

11. REVOGAÇÃO E SUSTAÇÃO DE CHEQUE

O pagamento do cheque pode ser sustado/impedido pelo emitente em 2 hipóteses:

Contra-ordem ou revogação (art. 35) : Revoga em definitivo o cheque. Somente produz efeitos a partir do término do prazo de apresentação. Só pode ser determinada pelo emitente do cheque.

Oposição ao pagamento ou sustação (art. 36) : Produz efeitos imediatos, suspendendo o pagamento do título. Ocorre durante o prazo de apresentação, fazendo sustar o pagamento do cheque. Pode ser determinada pelo emitente ou pelo portador.

12. RESPONSABILIDADE DO SACADO – art. 39, parágrafo único da Lei 7.357/85

O sacado de um cheque não tem, em nenhuma hipótese, qualquer obrigação cambial.

29

Page 30: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

A instituição financeira sacada só responde pelo descumprimento de algum dever legal (por ato ilícito que venha a praticar), como:

- o pagamento indevido de cheque;- a falta de reserva de numerário para liquidação no prazo de apresentação de cheque visado;- o pagamento de cheque cruzado diretamente ao portador não-cliente;- o pagamento em dinheiro de cheque para se levar em conta etc.

13. CHEQUE SEM FUNDOS – PROTESTO

Será facultativo em relação ao devedor principal e necessário em relação ao direito creditício contra os coobrigados do cheque (exceto se contiver a cláusula “sem despesas”).

O protesto pode ser substituído por declaração escrita do banco.

A emissão de cheques sem fundos é punida como crime pelo art. 171 do Código Penal, além das sanções de natureza administrativas, de competência do Banco Central.

14. REPRESSÃO AO USO DE CHEQUES SEM FUNDOS

O STF entende que a emissão de cheque pós-datado não configura o crime (Súmula 246 STF).

Administrativamente, o Banco Central prevê duas sanções:

a) Inscrição no CCF (Cadastro de Emitentes de Cheque Sem Fundos) .b) O pagamento da taxa do Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis .

15. AÇÕES CAMBIAIS

Em relação à generalidade dos títulos de crédito, há previsão de uma única ação cambial, que é a Ação de Execução. Quanto ao cheque, a lei prevê duas: a Ação de Execução e a Ação de Enriquecimento Indevido (art. 61).

Conforme já vimos, a prescrição da ação de execução é de 6 meses contadas da expiração do prazo de apresentação. Pouco importa o dia em que o cheque foi efetivamente apresentado. O termo inicial para a contagem desse prazo prescricional é a expiração dos 30 ou 60 dias, conforme a praça de emissão e de pagamento sejam as mesmas ou diversas.

IMPORTANTÍSSIMO: A regra de contagem do prazo prescricional a partir do término do prazo de apresentação comporta exceção no caso de cheque pós-datado, apresentado antes da data de emissão nele escrita. Nesse caso, o início do prazo de prescrição da ação de execução (6 meses) inicia-se a partir da data da primeira apresentação ao banco sacado.

Se prescrever a ação de execução, o portador ainda tem o prazo de 2 anos para promover a AÇÃO DE ENRIQUECIMENTO INDEVIDO contra o emitente, endossantes e avalistas (art. 61).

A ação de enriquecimento indevido tem natureza cognitiva, pois se desenvolverá através de um processo de conhecimento, no qual o pedido ser a condenação judicial de qualquer devedor cambial, sob o fundamento de que se operou o enriquecimento indevido.

Nas duas ações cambiais, operam-se os princípios do direito cambiário e, assim, o demandado não pode argüir, na defesa, matéria estranha à sua relação com o demandante (inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé).

16. ENCARGOS DO EMITENTE E DAQUELE QUE PAGOU O CHEQUE

Art. 52. O portador pode exigir do demandado: I - a importância do cheque não pago; II - os juros legais desde o dia da apresentação; III - as despesas que fez;

30

Page 31: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

IV - a compensação pela perde do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

Art. 53. Quem paga o cheque pode exigir de seus garantes: I - a importância integral que pagou; II - os juros legais, a contar do dia do pagamento; III - as despesas que fez; IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

- Juros e Correção monetária: Desde a data da apresentação ao banco sacado;

- Reembolso das despesas: taxas bancárias, custas de protesto, além das judiciais.

17. CHEQUE – ACEITAÇÃO OBRIGATÓRIA?

Lei estadual (MG) nº. 14.126, de 14 de dezembro de 2001 x art. 39, IX do Código de Defesa do Consumidor.

31

Page 32: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 8

DUPLICATA - Lei 5.474/68

1. CONCEITO DE DUPLICATA

É um título de crédito que é emitido pelo credor, declarando existir, a seu favor, um crédito de determinado valor em moeda corrente, fruto – obrigatoriamente – de um negócio jurídico subjacente de compra e venda de mercadorias ou de prestação de serviços.

2. CARACTERÍSTICAS

Título Causal (Causalidade): A emissão da duplicata somente se pode dar para a documentação de crédito nascido de compra e venda mercantil ou prestação de serviços.

Conseqüência: Se a duplicata for originada (sacada) para documentar ato ou negócio jurídico diverso da compra e venda mercantil e da prestação de serviços, será considerada insubsistente. Sem as causas mencionadas, a duplicata denomina-se sem lastro ou fria ou simulada.

Questão importante que excepciona a falta de lastro da duplicata: Mesmo a falta de causa legítima não pode ser oposta pelo sacado perante o endossatário de boa-fé.

3. DIFERENÇA ENTRE A LETRA DE CÂMBIO E A DUPLICATA

A diferença básica entre a letra de câmbio e a duplicata diz respeito ao ACEITE, que na letra de câmbio é facultativo. Já na Duplicata, é obrigatório (art. 8º da Lei 5.474).

4. SUJEITOS NA DUPLICATA

Vendedor: É o sacador/emitente e primeiro credor (tomador ou beneficiário) do título. Comprador: É o sacado. Devedor principal. Co-devedores: Endossantes e seus avalistas.

5. ESPÉCIES DE DUPLICATA

Com base no conceito de duplicata, as suas espécies são:

(a) Duplicata Mercantil;(b) Duplicata de Prestação de Serviços (Conta de Serviços)

6.1 Duplicata Mercantil

Quando o empresário realiza venda de mercadorias com prazo não inferior a 30 dias, deve extrair a FATURA ou a NOTA-FISCAL FATURA. Ou seja, é obrigatória a extração da fatura nesse caso.

Já no caso de venda mercantil à vista ou com prazo inferior a 30 dias, a extração da fatura é facultativa.

A FATURA ou NOTA-FISCAL FATURA, na compra e venda mercantil, é um documento escrito e numerado, em que discrimina, de acordo com o § 1º do art. 1º da Lei 5.474/68:

- As mercadorias vendidas (quantidade, qualidade e espécie) ou os serviços prestados;- Preço unitário e total etc.

Não é a fatura um título de crédito; ela é apenas uma conta, uma relação escrita das mercadorias ou serviços prestados, que servirá de base para a emissão da duplicata (arts. 1º e 3º, §2º), que, essa sim, é o título de crédito.

32

Page 33: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Pois bem, nas vendas mercantis com prazo não inferior a 30 dias, uma vez extraída a fatura, poderá, no mesmo ato, ser emitida a duplicata, que deve conter os requisitos do art. 2º, §1º, que são os seguintes:

Art. 2º.§ 1º A duplicata conterá: I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem; II - o número da fatura; III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador; V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI - a praça de pagamento; VII - a cláusula à ordem; VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;IX - a assinatura do emitente.

A falta de quaisquer desses requisitos retira a qualidade de título de crédito da duplicata.

6.1.1 - Aceite da duplicata mercantil

Uma vez emitida a duplicata pelo credor, este deverá providenciar a sua remessa ao devedor (ao sacado).

O prazo para a remessa é de 30 dias contados da emissão da duplicata (art. 6º da Lei 5.474/68).

A finalidade dessa remessa é a obtenção da assinatura pelo sacado reconhecendo a existência do débito e a obrigação de pagar. Essa assinatura tem o efeito de um aceite.

- Se o título for à vista: Recebendo o título, o comprador/sacado deve fazer o pagamento da importância devida.

- Se o título for a prazo: Comprador deve assinar a duplicata, no campo próprio para o aceite e restituí-la ao sacador, em 10 dias.

Isso se não ocorrer quaisquer das hipóteses de recusa do aceite, quando a duplicata será devolvida ao sacador com as razões da recusa (art. 7º e § 1º), no mesmo prazo de 10 dias.

Quais são os motivos que ensejam a recusa do aceite? Art. 8º.

Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

O Aceite é obrigatório; porém, a duplicata não é irrecusável. Quando o vendedor não cumpriu satisfatoriamente suas obrigações, o comprador pode se exonerar do cumprimento das suas, recusando justificadamente o aceite.

Assim, manifestada a recusa do aceite, a duplicata não pode ser protestada e nem se cobrada pela ação de execução.

Do contrário, aceitando o título, o sacado transforma-se em aceitante, tornando-se obrigado principal no título. Tornando-se inadimplente, pode contra ele ser proposta ação de execução, sem necessidade de protesto.

Se ele não aceitou, aí sim o protesto cambial é necessário para a propositura da ação de execução, juntamente com o comprovante de entrega das mercadorias.

O aceite, embora obrigatório, não é requisito essencial da duplicata, como em nenhum outro título, pois a sua falta pode ser suprida pelo protesto, desde que acompanhada do comprovante de entrega das mercadorias, conforme veremos abaixo.

33

Page 34: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Modalidades de Aceite:

1) Ordinário: Com a assinatura do devedor no campo próprio do documento, que, segundo padrão do CMN (Conselho Monetário Nacional), é no canto esquerdo inferior do título. A duplicata com aceite ordinário é título executivo extrajudicial contra o sacado e seu avalista, independentemente de protesto ou não (art. 15, I);

2) Por Presunção: Decorre do recebimento das mercadorias pelo comprador, sem que ele tenha realizado recusa formal do aceite e sem que ele tenha dado o aceite na duplicata. É o aceite presumido, no qual só importa o recebimento das mercadorias sem manifestação formal de recusa, mesmo que o sacado tenha retido, inutilizado ou restituído a duplicata sem assinatura;

3) Por Comunicação: É a menos usual. Opera-se mediante a retenção da duplicata pelo comprador e envio de comunicação escrita ao vendedor, transmitindo seu aceite. Pode ser através de carta, telegrama, fax, exceto e-mail (art. 7º § 2º), segundo entendimento do professor Fábio Ulhoa Coelho.

6.1.2 - Endosso na Duplicata

Como visto a cláusula à ordem é inerente à duplicata, o que implica na sua circulação mediante endosso.

Aplica-se ao endosso na duplicata as regras já analisadas em relação à letra de câmbio, com apenas uma diferença:

Na duplicata o primeiro endossante é sempre o sacador (vendedor ou prestador de serviços), beneficiário do título.

Destacamos as seguintes questões:

Endosso posterior ao vencimento do título: aplica-se o disposto na LUG, art. 20:

o Se o endosso verifica-se dentro do prazo para se fazer o protesto (30 dias do vencimento), produz o mesmo efeito do endosso anterior;

o Se o endosso verifica-se após o protesto ou após o prazo para se fazer o protesto (após 30 dias do vencimento), seu efeito é o de uma cessão civil de crédito (é o chamado Endosso Póstumo ou Tardio).

Endosso com a cláusula “sem garantia” segue as mesmas regras da letra de câmbio, com a ressalva de que, quando o endossante for o sacador (que é o primeiro beneficiário da duplicata), ele não pode se exonerar do pagamento com a inserção dessa cláusula, nos termos do disposto no art. 9º da LUG, aplicável por força do art. 25 da Lei 5.474/68 (“o sacador é garante tanto da aceitação como do pagamento...”). Logo, para o sacador-endossante, não é válida a cláusula sem garantia.

Permite o endosso impróprio (endosso-mandato e endosso-caução).

6.1.3 - Aval na Duplicata – art. 12 da Lei 5.474/68

Segue as mesmas regras do aval na letra de câmbio, previsto na LUG (art. 30 a 32), podendo ser dado no próprio título ou em folha anexa (é considerada aquela que, por falta de espaço no título para outras assinaturas, é colada no título para expandir o espaço para novas assinaturas).

O aval em branco, na duplicata, tem algumas particularidades e seguirá a seguinte ordem:

1º) Garante a obrigação daquele que tiver assinado acima da assinatura do avalista;2º) Fora desse caso, garante a obrigação do comprador (aceitante).

34

Page 35: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

O aval antecipado, aquele em que se dá antes de obrigar-se no título o avalizado, é permitido, mas fica condicionado à aceitação da obrigação cambial do avalizado.

No caso de aceite presumido (aquele em que não há recusa formal), desde que tenha sido feito o protesto e juntamente com o comprovante de entrega das mercadorias, autoriza a propositura de ação de execução contra o avalista antecipado e o avalizado.

6.1.4 - Vencimento da Duplicata

O vencimento pode ser:

(a) Ordinário: Com o decurso do prazo;

(b) Extraordinário: Quando ocorre antecipadamente, nas seguintes hipóteses (art. 19 Dec. 2.044/1908):

b.1) Protesto pela falta ou recusa do aceite;b.2) Protesto pela falência do aceitante.

Somente a falência do aceitante provoca o vencimento antecipado.

6.1.5 – Pagamento da Duplicata

O pagamento da duplicata pode ser feito a qualquer momento, inclusive antes do vencimento.

A prova do pagamento far-se-á por recibo, no verso do próprio título ou em documento separado, que faça referência expressa à duplicata, de acordo com o § 1º do art. 9º da Lei 5.474/68. Essa segunda prova do pagamento excepciona o princípio da literalidade.

Mas esse dispositivo deve ser visto com restrição, pois a jurisprudência, apesar de considerar válido o recibo em documento separado, tem determinado que o devedor deva pagar novamente o título se este for transferido a terceiro de boa-fé, vejamos:

STJ – REsp 37.907/PR: “o recibo pode ser passado em documento à parte, em que haja referência expressa à duplicata. Todavia, ocorrendo circulação do título, o devedor só ficará livre de repetir o pagamento se provar a má-fé do endossatário ou conluio entre este e o endossante”.

Assim, por cautela, é prudente que o devedor exija a entrega da duplicata, guardando-a com o documento de quitação.

Permite-se ao devedor, quando do pagamento da duplicata, deduzir créditos resultantes de devolução de mercadorias, diferenças de preço, enganos verificados, pagamentos por conta e outros motivos assemelhados, desde que devidamente autorizado (art. 10 da Lei 5.474/68).

Essa regra só tem aplicabilidade se o título não circular, pois só podem ser opostas ao emitente, que participou do negócio jurídico dando ensejo à emissão da duplicata.

6.1.6 – Reforma ou Prorrogação

Trata-se de instituto próprio da duplicata, previsto no art. 11 da Lei 5.474/68.

A reforma é faculdade do credor, que poderá, se assim o quiser, prorrogar o prazo de vencimento do título.

Far-se-á na própria duplicata ou em documento separado. Se for feito em documento separado, não vincula o endossatário de boa-fé, ou seja, aquele que desconhece a prorrogação. Logo, para este, vale o vencimento constante da duplicata.

35

Page 36: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

6.1.7 – Protesto da duplicata mercantil

Há 3 tipos de protestos da duplicata (art. 13):

1. Protesto por Falta de Aceite: Ocorre quando a duplicata é devolvida sem a assinatura do sacado e sem recusa motivada dele. Realizado antes do vencimento;

2. Protesto por Falta de Devolução: Dar-se-á quando a duplicata enviada ao sacado não for devolvida no prazo legal (10 dias). É o caso de emissão de uma Triplicata não assinada ou de protesto por indicações relativas à duplicata retida. Também realizado antes do vencimento;

3. Protesto por Falta de Pagamento: Decorre no inadimplemento da obrigação até o prazo de vencimento. Realizado depois de vencido o título.

O protesto somente será realizado uma única vez, independente da hipótese, pois os efeitos são idênticos para os três, autorizando a propositura da ação de execução da duplicata.

Prazo para o protesto por falta de pagamento: 30 dias seguintes ao vencimento da duplicata, sob pena de perda do direito creditício contra os co-devedores do título e seus respectivos avalistas (art. 13, § 4º).

Lugar do protesto: Lugar do pagamento (art. 13, § 3º).

Importante: No caso de Aceite Presumido o protesto é indispensável (art. 15, II).

Para finalizar, devemos fazer considerações importantes sobre dois institutos particulares da duplicata, que são: a) O protesto por indicações; b) A triplicata.

a) Protesto por Indicações (art. 13, § 1º)

A retenção da duplicata pelo devedor impede a sua apresentação ao protesto. Para sua efetivação, a lei permite que o credor forneça elementos que individualizam a dívida, como o boleto bancário, contendo o nome do devedor, valor da dívida, vencimento etc. Está previsto no art. 14 da Lei 5.474/68.

Esses elementos são obtidos através do Livro de Registro de Duplicatas (art. 19), ensejando a extração de boleto, que será enviado ao cartório para processamento do protesto.

Importante observar que o boleto bancário não é título de crédito. Ele é apenas utilizado para se realizar o protesto por indicações, que, por sua fez, autoriza a propositura de ação de execução.

É uma exceção ao princípio da cartularidade.

b) Triplicata

Ao rigor da lei (art. 23), a triplicata somente poderia ser extraída no caso de PERDA ou EXTRAVIO, mas, segundo Fábio Ulhoa Coelho e parte da jurisprudência (REsp 174.221/SP, D.J. 27.03.2000), não há nenhum prejuízo para a sua emissão no caso de RETENÇÃO.

Por isso, ao invés do protesto por indicações, o vendedor pode extrair uma Triplicata, para envio ao cartório de protesto.

Não é um novo título, mas apenas uma segunda via da duplicata, extraída a partir dos dados escriturados no livro próprio, como os mesmos efeitos e requisitos da duplicata.

6.1.8 - Execução da duplicata mercantil

De acordo com o art. 585, I do CPC, a duplicata constitui-se título executivo extrajudicial.

A execução funciona assim:

36

Page 37: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

a) Para execução do sacado: Deve-se analisar o tipo de aceite:

- Se Ordinário: É suficiente a simples exibição da duplicata para o ajuizamento da execução (art. 15, I);

- Se Presumido: É necessária a exibição da duplicata ou triplicata protestada, ou com protesto por indicações, juntamente com o comprovante de recebimento das mercadorias (art. 15, II).

Conclusões:

1. Se o sacado restituiu ao sacador a duplicata assinada, basta esse documento;

2. Se restituiu sem assinatura ou se reteve a duplicata, a execução depende:

- Duplicata ou triplicata (no caso de retenção);- Instrumento de protesto;- Comprovante do recebimento das mercadorias.

3. Se houve retenção e o credor optou pelo protesto por indicações, a execução exige:

- Instrumento de protesto por indicações;- Comprovante do recebimento das mercadorias.

b) Para execução do avalista do sacado: É indispensável a exibição do título (duplicata ou triplicata) constando o aval, sendo dispensável o protesto.

c) Para execução do endossante e seu avalista:

É necessário:- A exibição do título (duplicata ou triplicata) em que foi praticado o endosso ou aval;- O instrumento de protesto realizado antes de transcorridos mais de 30 dias do vencimento (art. 13, § 4º).

6.1.9 - Prescrição da Ação de Execução: art. 18

- 3 anos, a contar do vencimento, contra o sacado e seu avalista;- 1 ano, contado do protesto, contra os endossantes e seus avalistas;- 1 ano, a partir do pagamento, ação de regresso contra os co-devedores.

Juros: Incidem a partir do protesto (art. 40 da Lei 9.492/97).

Correção monetária: A partir do vencimento (Lei 6.899/81).

6.2 Duplicata por prestação de serviços e a conta de serviços

São títulos emitidos por sociedades empresárias ou por empresários individuais que desenvolvam a atividade econômica de fornecedora de serviços ao mercado.

A duplicata por prestação de serviços está sujeita ao mesmo regime jurídico da duplicata mercantil, com apenas 2 especificidades:

a) A causa da sua emissão, que a prestação de serviço, sendo a outra, a compra e venda mercantil;

b) O protesto por indicações depende da comprovação de vínculo contratual entre credor e devedor e da efetiva prestação dos serviços.

A conta de serviços é título emitido por profissional liberal ou pelo prestador de serviços de natureza habitual.

37

Page 38: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

6. DUPLICATA ESCRITURAL, ELETRÔNICA OU VIRTUAL

A duplicata escritural ou eletrônica ou virtual consiste no registro do crédito por meio magnético (eletrônico), sem cártula, sem papel, entregue a uma instituição financeira que cuida de enviar o boleto bancário para o devedor.

Funciona da seguinte forma:

O vendedor, via computador, saca/cria a duplicata e a envia pelo mesmo processo ao banco, que, igualmente, por meio magnético, realiza a operação de desconto, creditando o valor correspondente ao sacador, expedindo, em seguida, guia de compensação bancária (boleto), que, por correio, é enviada ao devedor da duplicata virtual, para que o sacado, de posse do boleto, proceda ao pagamento em qualquer agência bancária.

Na Lei 9.492/97 (Lei de Protesto) há previsão expressa dessa possibilidade, em seu art. 8º, parágrafo único.

Através da duplicata virtual há uma desmaterialização ou descartularização da duplicata. Há doutrinadores, incluindo Fábio Ulhoa Coelho, que afirmam a legalidade e validade deste título, sendo possível a sua execução, através do protesto por indicações.

Contudo, parte da doutrina (destacamos Gladston Mamede e Wille Duarte Costa) tem contestado muito essa possibilidade. Vejamos as razões:

O art. 2º, § 1º, IX da Lei 5.474/68, exige a assinatura do emitente como requisito essencial; O art. 6º da Lei 5.474/68 exige a remessa da duplicata ao devedor, o que não ocorre com a

duplicata virtual, na qual é emitido um boleto; Para se realizar o protesto por indicações, exige-se prova de que a duplicata foi retida pelo

sacado (art. 13, § 1º da Lei 5.474/68). E para se retida, é preciso que a duplicata tem sido extraída e remetida ao sacado. Se não for remetida, não tem como ser retida;

Além disso: como se prova a entrega das mercadorias ao sacado? Pois somente com essa prova é que se admite a execução através do protesto por indicações;

Boleto e duplicata são distintos, sendo que só a segunda autoriza a propositura da ação de execução;

Por fim, a duplicata virtual carece de caracterização legal (não há lei que a regule). Por isso, parte da doutrina afirma que a duplicata escritural, virtual ou eletrônica não seria título de crédito.

38

Page 39: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 9

OUTROS TÍTULOS DE CRÉDITO

1. INTRODUÇÃO

Para relembrar, temos duas grandes espécies de títulos de crédito:

a) Os chamados títulos de crédito próprios, que são aqueles que se submetem integralmente às normas e princípios do regime jurídico cambial, dos quais são exemplos de títulos de crédito próprios a Nota Promissória, a Letra de Câmbio, o Cheque e a Duplicata;

b) Os chamados títulos de crédito impróprios, que são denominados assim porque eles não se submetem integralmente às normas e princípios do regime jurídico cambial. São instrumentos jurídicos que aproveitam, em parte, do regime jurídico das cambiais.

São exemplos de títulos de crédito impróprios:

a) Títulos de Legitimação : Não são títulos executivos.

Ex.: Passagem aérea, bilhete de metrô, passe de ônibus.

b) Títulos de Investimento : Destinam-se à captação de recursos pelo emitente. Representam a parcela de um contrato de mútuo celebrado entre o sacador do título e os seus portadores.

Ex.: Ações, Debêntures;

c) Títulos de Financiamento : São os títulos bancários, ou seja, instrumentos cedulares representativos de crédito decorrente de financiamento aberto por uma instituição financeira. Costumam chamar-se CÉDULAS DE CRÉDITO, quando o pagamento do crédito é garantido por hipoteca ou penhor, ou NOTA DE CRÉDITO, quando inexiste garantia de direito real. Pelo princípio da cedularidade, estranho ao direito cambiário, a constituição dos direitos reais de garantia se faz no próprio instrumento de crédito, na própria cédula.

Ex.: Cédula de Crédito Rural, industrial, comercial. Cédula Hipotecária do Sistema Financeiro da Habitação (Dec. Lei 70/66).

d) Títulos Representativos : Representam a titularidade de mercadorias custodiadas, vale dizer, encontram-se sob os cuidados de terceiros (não-proprietários). A finalidade deles é distinta dos títulos de crédito próprios, pois tem por objeto mercadorias custodiadas e, em segundo plano, representado obrigações pecuniárias, que é a principal finalidade dos títulos de crédito próprios.

Ex.: Conhecimento de Frete, conhecimento de depósito e Warrant.

Vejamos os mais relevantes, que são dos Títulos de Financiamento e Representativos.

2. TÍTULOS BANCÁRIOS (OU DE FINANCIAMENTO)

A atividade típica dos bancos consiste na intermediação de crédito. O banco capta dinheiro das pessoas que o têm disponível (operações passivas), para fornecê-lo/emprestá-lo a quem dele precisa (operações ativas).

Operações passivas : O banco torna-se devedor do cliente. Ocorre quando uma pessoa deposita dinheiro na instituição financeira, adquire certificados de depósito bancário (CDB) ou faz aplicação em fundo de investimento.

39

Page 40: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Operações ativas : O banco é credor do cliente. Trata-se de fornecimento de dinheiro, crédito concedido pelo banco.

Nessas operações realizadas pelos bancos, os títulos de crédito exercem uma função instrumental de relevo. É comum no mútuo bancário documentar-se por contrato e também por nota promissória.

Mas os bancos também possuem títulos exclusivos. São eles:

As cédulas de crédito para financiamento da atividade econômica;

A cédula de crédito bancário.

2.1 Títulos de financiamento da atividade econômica

São documentos representativos das obrigações e garantias relacionadas à concessão de financiamento bancário a empresários. São títulos que representam contratos de financiamento firmados, via de regra, por instituições financeiras ou entidade equiparada.

Financiamento é espécie de mútuo bancário, em que o mutuário está obrigado a dar certa destinação ao dinheiro mutuado.

Esses títulos de financiamento da atividade econômica são as cédulas e as notas de crédito, que são concedidos por instituições financeiras a pessoa natural ou jurídica que se dedique às seguintes atividades:

1. Rural;2. Industrial;3. Comercial;4. Exportação;5. Imobiliária;6. Bancária.

A distinção entre as cédulas e as notas de crédito é a seguinte:

As CÉDULAS DE CRÉDITO são títulos de crédito cujo pagamento é garantido por hipoteca, penhor (garantia real) ou alienação fiduciária. Há cédula hipotecária (crédito garantido por hipoteca), cédula pignoratícia (crédito garantido por penhor), cédula fiduciária (crédito garantido por alienação fiduciária de bens adquiridos com o financiamento ou outros bens do próprio devedor) e cédula hipotecária e pignoratícia (crédito garantido por hipoteca e penhor).

As NOTAS DE CRÉDITO são títulos cujo pagamento não possui garantia real (hipoteca ou penhor).

De acordo com as atividades exercidas pelas pessoas que obtém o financiamento, as cédulas de crédito, podemos ser:

Cédula crédito rural : Destinadas ao fomento do empreendimento rural (Dec.-Lei 167/67 e Lei 8.929/94);

Cédula crédito industrial : Destinadas ao fomento da atividade industrial (Dec.-Lei 413/69);

Cédulas crédito comercial : Destinadas ao financiamento de atividade comercial ou de prestação de serviços (Lei 6.840/80).

Cédula crédito à exportação : Operações de financiamento à exportação ou à produção de bens para exportação, ou apoio e complementação integrantes e fundamentais à exportação (Lei 6.313/75).

Cédula de crédito imobiliário : Lei 10.931/04

40

Page 41: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Características das cédulas e notas de crédito:

São títulos causais, pois nascem obrigatoriamente de financiamento nas áreas rural, industrial, comercial, de exportação, imobiliária.

Nas notas e cédulas de crédito rural, industrial, comercial e de exportação o valor do crédito deverá ser, obrigatoriamente, empregado na respectiva atividade, devendo o título indicar a que se destina o financiamento concedido. Inclusive, o devedor deverá facultar a fiscalização do emprego do dinheiro (Dec.-Lei 167/67 ou 413/, art. 6º). A destinação do dinheiro emprestado é elemento essencial do título e de sua formação, com exceção da cédula de crédito bancário, que surge nos contratos de abertura de crédito em conta corrente.

Assemelham-se a contratos, com as respectivas cláusulas, sendo emitidas em tantas vias quantos forem as partes intervenientes, sendo por elas assinadas, sem necessidade de testemunhas.

Somente a via do credor pode ser transferida, por endosso ou cessão de crédito; as demais são impressas com a expressão não negociável.

As notas e cédulas de crédito rural, industrial, comercial, de exportação e bancária são emitidas pelo próprio devedor. A nota e cédula de crédito imobiliário são emitidas pelo credor (assim como acontece com a duplicata).

Seu valor não está obrigatoriamente expresso no título, mas apura-se a partir dele, pois a execução exige liquidez e certeza, vale dizer, é indispensável que o valor total do débito seja apurável de forma simples e que não demande prova.

A Cédula de Produto Rural (CPR) não representa obrigação de pagar determinada quantia (não tem um valor). A CPR contém a obrigação de entregar coisa certa, (um produto) que deve ser entregue pelo devedor, indicado por espécie, quantidade e qualidade.

A cédula e a nota de crédito comportam transferência por endosso em preto, na via do credor, que é a única que pode ser negociada. O endossante da cédula de crédito é responsável solidário. Entretanto, o Decreto-lei 167/67 excepciona dessa regra o primeiro endossante da cédula de crédito rural, que não está obrigado ao pagamento diante da inadimplência do devedor principal.

Importante : o PROTESTO É DISPENSADO para garantir o direito de regresso contra endossantes e avalistas.

As cédulas e notas devem ser registradas no Cartório de Registro de Imóveis, para produzir efeitos contra terceiros.

A execução ainda tem sido objeto de discussões, mas há posicionamento predominante de que o CPC não revogou as disposições dos Decretos-Leis 167/67 e 413/69, sendo que essas legislações continuam regulando a execução das cédulas de crédito.

Pelo princípio da cedularidade, estranho ao direito cambiário, a constituição dos direitos reais de garantia se faz no próprio instrumento de crédito, na própria cédula. A cédula é instrumento suficiente para registro da oneração, seja a hipoteca, seja o penhor (constituída cedularmente). Não depende de escritura pública para constituição da garantia.

2.2 Cédula de crédito bancário

Em muitas operações bancárias, não há como calcular previamente o valor da obrigação devida pelo cliente do banco. É o caso do contrato de abertura de crédito (cheque especial).

41

Page 42: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Nesse caso, por exemplo, o montante exato do débito do cliente só se pode calcular após o inadimplemento da obrigação, o que causa enorme dificuldade de cobrança judicial, pois falta ao contrato de abertura de crédito a liquidez, um dos atributos dos títulos executivos.

Inicialmente, os bancos tentaram solucionar esse impasse com a cláusula-mandato, pela qual o cliente nomeava o banco como seu procurador para emitir em favor dele (banco) nota promissória, caso ocorresse o inadimplemento.

Entretanto, a jurisprudência e o Código de Defesa do Consumidor consideraram tal prática abusiva e irregular (súmula 60 do STJ).

Súmula 60 do STJ: É NULA A OBRIGAÇÃO CAMBIAL ASSUMIDA POR PROCURADOR DO MUTUÁRIO VINCULADO AO MUTUANTE, NO EXCLUSIVO INTERESSE DESTE.

Outra solução era a emissão de extrato da posição devedor, que, acompanhado do instrumento contratual de mútuo ou abertura de crédito, constituiria título executivo extrajudicial.

Entretanto, parte da jurisprudência é contrária à sua executividade (súmula 233 e 258 STJ).

O que vingou nesse caso foi a criação da chamada CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO, pela Lei 10.931/2004, nos arts. 26 e seguintes.

Conceito: A cédula de crédito bancário é título emitido pelo devedor, a favor da instituição financeira ou de entidade a esta equiparada, decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade, inclusive contrato de abertura de crédito em conta corrente (cheque especial).

Características:

Pode ser emitida com ou sem garantia, real (hipoteca, penhor) ou fidejussória (aval ou fiança).

Seu valor é demonstrado por saldo em planilha ou extratos da conta corrente, de forma clara, precisa e de fácil compreensão do valor do principal e de todos os acessórios (multa, juros de mora, honorários advocatícios).

Pode ser protestada por indicações, desde que o credor apresente declaração de posse da sua única via negociável.

O protesto para garantir o direito de cobrança contra endossantes, seus avalistas e terceiros garantidores é dispensável.

A validade e eficácia da cédula de crédito bancário não dependem de registro, mas as garantias reais, por ela constituídas ficam sujeitas, contra terceiros, ao registro.

Aplica-se o princípio da cedularidade, segundo o qual a constituição dos direitos reais de garantia se faz no próprio instrumento de crédito, na própria cédula. Não depende de escritura pública para sua constituição (constituída cedularmente).

42

Page 43: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 10

TÍTULOS DE CRÉDITO RURAL

1. FUNDAMENTO LEGAL: Decreto-lei 167/67.

2. CARACTERÍSTICAS:

Normalmente, a cédula decorre de financiamento concedido pelas instituições financeiras, de acordo com a linha de crédito adotada pelo financiador.

Essa linha de crédito tem destinação certa, que o financiador examina e fiscaliza até sua liquidação.

Tais títulos têm a forma de um contrato, com requisitos essenciais para sua validade. Feito por pessoas físicas ou jurídicas; São títulos líquidos, certos e exigíveis. Autorizam a propositura de Ação de Execução; Não depende de escritura pública para sua constituição (garantia constituída

cedularmente); Pode ser aditada, ratificada e retificada por aditivos, datados e assinados pelo emitente e

pelo credor. Aplicam-se os princípios e as regras da legislação cambial, inclusive quanto ao endosso,

aval e prescrição. O protesto para garantir o direito de regresso é, todavia, legalmente dispensado.

Importante: O primeiro endossante da cédula de crédito rural não está obrigado ao pagamento pela inadimplência do devedor principal.

3. ESPÉCIES:

3.1 Cédula de Crédito Rural : É um título de crédito decorrente de operações de financiamento, por empréstimos concedidos por instituições financeiras, representando uma promessa direta de pagamento, com garantia real, constituída cedularmente, representada por hipoteca, penhor ou alienação.

Para ter eficácia contra terceiros, a Cédula de Crédito Rural deve ser inscrita no Cartório de Registro de Imóveis do local em que se localiza o bem hipotecado ou empenhado, ou no cartório dos dois bem, no caso de cédula hipotecária e pignoratícia.

Cabe ação de execução, para a cobrança da Cédula de Crédito Rural (art. 41 do Decreto-lei 167/67).

3.1.1 Espécies de Cédula de Crédito Rural

a) Cédula Rural Pignoratícia: Deve descrever os bens vinculados em penhor (móveis), com os seguintes requisitos:

Art. 14. A cédula rural pignoratícia conterá os seguintes requisitos, lançados no contexto: I - Denominação "Cédula Rural Pignoratícia". II - Data e condições de pagamento; havendo prestações periódicas ou prorrogações de vencimento, acrescentar: "nos têrmos da cláusula Forma de Pagamento abaixo" ou "nos têrmos da cláusula Ajuste de Prorrogação abaixo". III - Nome do credor e a cláusula à ordem. IV - Valor do crédito deferido, lançado em algarismos e por extenso, com indicação da finalidade ruralista a que se destina o financiamento concedido e a forma de sua utilização. V - Descrição dos bens vinculados em penhor, que se indicarão pela espécie, qualidade, quantidade, marca ou período de produção, se fôr o caso, além do local ou depósito em que os mesmos bens se encontrarem. VI - Taxa dos juros a pagar, e da comissão de fiscalização, se houver, e o tempo de seu pagamento. VII - Praça do pagamento. VIII - Data e lugar da emissão. IX - Assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com podêres especiais.

b) Cédula Rural Hipotecária: Deve descrever os bens vinculados em hipoteca (imóveis), com os seguintes requisitos:

43

Page 44: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Art. 20. A cédula rural hipotecária conterá os seguintes requisitos, lançados no contexto: I - Denominação "Cédula Rural Hipotecária".II - Data e condições de pagamento; havendo prestações periódicas ou prorrogações de vencimento, acrescentar: "nos têrmos da cláusula Forma de Pagamento abaixa" ou "nos têrmos da cláusula Ajuste de Prorrogação abaixo". III - Nome do credor e a cláusula à ordem. IV - Valor do crédito deferido, lançado em algarismos e por extenso, com indicação da finalidade ruralista a que se destina o financiamento concedido e a forma de sua utilização. V - Descrição do imóvel hipotecado com indicação do nome, se houver, dimensões, confrontações, benfeitorias, título e data de aquisição e anotações (número, livro e fôlha) do registro imobiliário. VI - Taxa dos juros a pagar e a da comissão de fiscalização, se houver, e tempo de seu pagamento. VII - Praça do pagamento. VIII - Data e lugar da emissão. IX - Assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com podêres especiais.

c) Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária: Deve descrever os bens vinculados em penhor e os hipotecados, com os seguintes requisitos:

Art. 25. A cédula rural pignoratícia e hipotecária conterá os seguintes requisitos, lançados no contexto: I - Denominação "Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária". II - Data e condições de pagamento havendo prestações periódicas ou prorrogações de vencimento, acrescentar: "nos têrmos da cláusula Forma de Pagamento abaixo" ou "nos têrmos da cláusula Ajuste de Prorrogação abaixo". Ill - Nome do credor e a cláusula à ordem. IV - Valor do crédito deferido, lançado em algarismos e por extenso, com indicação da finalidade ruralista a que se destina o financiamento concedido e a forma de sua utilização. V - Descrição dos bens vinculados em penhor, os quais se indicarão pela espécie, qualidade, quantidade, marca ou período de produção se fôr o caso, além do local ou depósito dos mesmos bens. VI - Descrição do imóvel hipotecado com indicação do nome, se houver, dimensões, confrontações, benfeitorias, título e data de aquisição e anotações (número, livro e fôlha) do registro imobiliário. VII - Taxa dos juros a pagar e da comissão de fiscalização, se houver, e tempo de seu pagamento. VIII - Praça do pagamento. IX - Data e lugar da emissão. X - Assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com poderes especiais.

d) Cédula de Produto Rural (CPR): Regida pela Lei 8.929/94. É uma promessa de entrega de produtos rurais certos, em quantidade e qualidade, diferindo, nesse aspecto, das outras cédulas, com os seguintes requisitos:

I - denominação "Cédula de Produto Rural"II - data da entrega;III - nome do credor e cláusula à ordem;IV - promessa pura e simples de entregar o produto, sua indicação e as especificações de qualidade e quantidade;V - local e condições da entrega;VI - descrição dos bens cedularmente vinculados em garantia;VII - data e lugar da emissão;VIII - assinatura do emitente.

Modelo de CPR:

CÉDULA DE PRODUTO RURAL

Vencimento: _____ de __________ de _____.

Aos ________ dias do mês de _____________ de _____, entregarei, por força dessa CÉDULA DE PRODUTO RURAL, nos termos da Lei 8.929 de 22/08/1994, a _________________________________________, ou a sua ordem, o seguinte produto: (_______) _______________________________ sacas de café bebida dura, seca boa e bom aspecto, com 150 defeitos tipo 6 com 60,5 kg cada uma.

A garantida cedular da obrigação consiste em ...... (a garantia é facultativa).

_________________________________________________Local de Entrega da Mercadoria

_____________________________local e data de emissão

________________________________________________________

44

Page 45: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Eminente (Produtor Rural ou suas associações, inclusive Cooperativa)

A Lei 10.200/01 permitiu a liquidação financeira da CPR, criando uma interessante prestação alternativa à promessa principal.

Na CPR financeira ocorre a transmutação da obrigação de entregar produtos rurais em outra prestação jurídica: pagar em dinheiro. Em suma, o devedor pode optar por pagar em dinheiro o valor dos produtos rurais que deveria entregar, observadas as condições do art. 4º-A da Lei 8.929/94:

Art. 4º-A. Fica permitida a liquidação financeira da CPR de que trata esta Lei, desde que observadas as seguintes condições: (Acrescentado pela L-010.200-2001)I - que seja explicitado, em seu corpo, os referenciais necessários à clara identificação do preço ou do índice de preços a ser utilizado no resgate do título, a instituição responsável por sua apuração ou divulgação, a praça ou o mercado de formação do preço e o nome do índice;II - que os indicadores de preço de que trata o inciso anterior sejam apurados por instituições idôneas e de credibilidade junto às partes contratantes, tenham divulgação periódica, preferencialmente diária, e ampla divulgação ou facilidade de acesso, de forma a estarem facilmente disponíveis para as partes contratantes;III - que seja caracterizada por seu nome, seguido da expressão "financeira".§ 1º A CPR com liquidação financeira é um título líquido e certo, exigível, na data de seu vencimento, pelo resultado da multiplicação do preço, apurado segundo os critérios previstos neste artigo, pela quantidade do produto especificado.§ 2º Para cobrança da CPR com liquidação financeira, cabe ação de execução por quantia certa.

Logo, por se tratar de obrigação de pagar determinada quantia, a sua cobrança far-se-á por ação de execução por quantia certa.

3.2 Nota de Crédito Rural : é também um título de crédito decorrente do financiamento rural, só que sem garantia real, com os seguintes requisitos:

Art. 27. A nota de crédito rural conterá os seguintes requisitos, lançados no contexto: I - Denominação Nota de Crédito Rural". II - Data e condições de pagamento; havendo prestações periódicas ou prorrogações de vencimento, acrescentar: "nos têrmos da cláusula Forma de Pagamento abaixo" ou "nos têrmos da cláusula Ajuste de Prorrogação abaixo". III - Nome do credor e a cláusula à ordem. IV - Valor do crédito deferido, lançado em algarismos e por extenso, com indicação da finalidade ruralista a que se destina o financiamento concedido e a forma de sua utilização. V - Taxa dos juros a pagar e da comissão de fiscalização se houver, e tempo de seu pagamento. VI - Praça do pagamento. VII - Data e lugar da emissão. VIII - Assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com podêres especiais.

Para ter eficácia contra terceiros, a Nota de Crédito Rural deve ser inscrita no Cartório de Registro de Imóveis do local do imóvel a cuja exploração se destina o financiamento.

3.3 Nota Promissória Rural : É uma promessa de pagamento que o emitente faz em favor do credor. Semelhante à nota promissória da LUG, mas esta somente é criada diante da venda de produtos rurais ou, nos casos de cooperativas, pela entrega de tais produtos a elas, para revenda a terceiros. Por essa razão é um título causal. (art. 42 Dec.-lei 167/67).

3.4 Duplicata Rural : É um título causal e à ordem, que pode ser emitida só nas vendas a prazo de quaisquer bens de natureza agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuada diretamente por produtores rurais ou por suas cooperativas (arts. 46 a 54 do Decreto-lei 167/67).

3.5 Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) : É título de crédito nominativo, de emissão exclusiva de cooperativas de produtores rurais e de outras pessoas jurídicas que exerçam a atividade de comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos e insumos agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária, de livre negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título executivo extrajudicial (Lei 11.076/2004, arts. 23, I e 24).

3.6 Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) : É título de crédito nominativo, de emissão exclusiva de instituições financeiras públicas ou privadas, de livre negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título executivo extrajudicial (Lei 11.076/2004, arts. 23, II e 26).

45

Page 46: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

3.7 Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) : É título de crédito nominativo, de emissão exclusiva das companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio, de livre negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título executivo extrajudicial (Lei 11.076/2004, arts. 23, III e 26).

3.8 Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) e Warrant Agropecuário (WA) : O CDA é um título de crédito representativo de promessa de entrega de produtos agropecuários depositados em armazéns gerais. O WA confere direito de penhor sobre o produto objeto de CDA. Ver Lei 9.973/2000 e 11.076/2004. Semelhantes ao Conhecimento de Depósito e ao Warrant de emissão dos Armazéns Gerais, que veremos a seguir.

46

Page 47: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 11

CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT Decreto 1.102, de 21/11/1903

1. ARMAZÉNS-GERAIS

São estabelecimentos próprios para depósito e conservação de mercadorias.

Motivos para fazer o depósito de mercadorias nos armazéns gerais:

a) Aguardar um melhor preço, pois, durante a safra, a oferta é muito maior que a procura;b) Falta de espaço para armazenamento dos bens.

2. CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT

Warrant é palavra inglesa que significa garantia ou penhor, pois tem a função de servir como instrumento do penhor sobre as mercadorias depositadas a que se refere o Conhecimento de Depósito a ele ligado. O Conhecimento de Depósito é um título de crédito correspondente às mercadorias depositadas no armazém-geral.

O Warrant é o instrumento de penhor (direito real de garantia) sobre a mesma mercadoria.

São títulos causais, assim como as duplicatas, pois só decorrem de depósito de produtos ou mercadorias em armazéns-gerais.

São títulos à ordem, pois qualquer deles pode circular via endosso, o qual não pode ser proibido de ser lançado no título.

Os dois títulos:

- Oferecem grande segurança, pois as mercadorias são seguradas contra riscos de incêndio;

- Facilitam a negociação das mercadorias, pois elas não precisam ser transportadas para exibição ao comprador, pois é requisito essencial do título a obrigatória menção à nome dos produtos, natureza, quantidade, peso, estado do envoltórios ou embalagens, marcas e indicações próprias.

3. REQUISITOS ESSENCIAIS DOS TÍTULOS - Art. 15, § 1º do Dec. 1.102, de 21/11/1903.

Art. 15 - Os armazéns gerais emitirão, quando lhes for pedido pelo depositante, dois títulos unidos, mas separáveis à vontade, denominados - "conhecimento de depósito" e "warrant".§ 1º - Cada um destes títulos deve ser à ordem e conter, além de sua designação particular;1º - a denominação da empresa do armazém geral e sua sede;2º - o nome, profissão e domicílio do depositante ou de terceiro por este indicado;3º O lugar e o prazo do depósito, facultado aos interessados acordarem, entre si, na transferência posterior das mesmas mercadorias de um para outro armazém da emitente ainda que se encontrem em localidade diversa da em que foi feito o depósito inicial. Em tais casos, far-se-ão, nos conhecimentos warrants respectivos, as seguintes anotações:        a) local para onde se transferirá a mercadoria em depósito;        b) para os fins do art. 26, parágrafo 2º, às despesas decorrentes da transferência, inclusive as de seguro por todos os riscos. 4º A natureza e quantidade das mercadorias em depósito, designadas pelos nomes mais usados no comércio, seu pêso, o estado dos envoltórios e tôdas as marcas e indicações próprias para estabelecerem a sua identidade, ressalvadas as peculiaridades das mercadorias depositada a granel.5º - a qualidade da mercadoria tratando-se daquelas a que se refere o art. 12;6º - a indicação do segurador da mercadoria e o valor do seguro (art. 16).7º - a declaração dos impostos e direitos fiscais, dos encargos e despesas a que a mercadoria está sujeita, e do dia em que começaram a correr as armazenagens (art. 26, § 2º);8º - a data da emissão dos títulos e assinatura do empresário ou pessoa devidamente habilitada por este.

4. SISTEMÁTICA DE EMISSÃO

Ao efetuar o depósito de mercadorias no armazém-geral, o depositante recebe um recibo, declarando:

47

Page 48: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

- Natureza;- Quantidade;- Número;- Marcas;- Pesando, medindo ou contando as mercadorias.

Com esse recibo, o depositante terá o comprovante do depósito das mercadorias, servindo-se dele para recebê-las de volta. Além do recibo, o depositante pode pedir a emissão do Conhecimento de Depósito e Warrant.

Importante: O recibo não é título de crédito; por isso, não é endossável e nem pode ser negociado. O recibo é simples prova do contrato de depósito, não oferecendo qualquer garantia contra embargos.

O Conhecimento de Depósito e o Warrant são títulos conjuntamente emitidos pelo armazém-geral, a pedido do depositante das mercadorias, mas podem ser livremente separados posteriormente. Por força de lei, são criados unidos, mas separáveis à vontade do portador.

Os títulos são extraídos de um livro de talão (Livro de Entradas e Saídas), constituindo-se a folha do livro de talão em 3 partes:

A) TALÃO PROPRIAMENTE DITO;B) AS DUAS OUTRAS PARTES SÃO OS TÍTULOS QUE FICAM UNIDOS COM O TALÃO.

B1) Conhecimento de Depósito;B2) Warrant

5. CIRCULAÇÃO DOS TÍTULOS

Conjunta: O portador reúne todos os direitos sobre as mercadorias, tendo a sua livre disposição, o que inclui o direito de propriedade e o de constituir mandato para vender ou para receber as mercadorias; o Warrant, em conjunto com o C.D., certifica a plena disponibilidade das mercadorias.

Warrant separado do conhecimento de depósito: representa apenas o direito real de garantia (penhor), que irá limitar o direito de quem possua o Conhecimento de Depósito.

Conhecimento de depósito separadamente: representa um direito de disponibilidade, limitado pelo direito de garantia de quem possua o Warrant.

EM SUMA:

Se pretender negociar as mercadorias depositadas, basta ao depositante endossar os dois títulos ao comprador das mercadorias, que poderá retirá-las, restituindo os títulos ao armazém-geral e pagando as despesas de armazenamento.

Pode o portador dos dois títulos valer-se de um financiamento e, em garantia, endossar o Warrant ao seu credor, oferecendo-lhe, com isso, direito penhor sobre as mercadorias depositadas.

Importante: Se alguém for possuidor apenas do Warrant sua situação é a de um credor pignoratício, por intermédio do armazém-geral, que é o depositário e responsável pela guarda e conservação das mercadorias. Assim, o armazém-geral não pode consentir na retirada total ou parcial das mercadorias depositadas, sem que se prove a liquidação da dívida garantida pelo Warrant, ou a consignação do valor respectivo mais os juros e demais despesas no armazém-geral.

48

Page 49: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 11

TÍTULOS DE CRÉDITO SUJEITOS AO CÓDIGO CIVIL

1. INTRODUÇÃO

O Código Civil de 2002 disciplina os títulos de crédito nos arts. 887 e 926.

Os títulos de crédito só se regem pelo novo Código Civil não havendo disposição diversa em lei especial. É o que determina o art. 903 do Código Civil:

Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.

As normas do Código Civil são normas de aplicação supletiva, destinadas a suprir lacunas em regramento jurídico específico.

Portanto, o Código Civil não revoga as disposições das leis especiais sobre os títulos de crédito, como a LUG, a lei de cheque (Lei 7.357/85), lei de duplicata (Lei 5.474/68) etc.

O Código Civil somente será aplicado em dois casos:

A) TÍTULOS DE CRÉDITO NÃO REGULADOS POR LEI ESPECÍFICA; eB) TÍTULOS DE CRÉDITO ATÍPICOS OU INOMINADOS.

2. TÍTULOS DE CRÉDITO NÃO REGULADOS

Os dispositivos do Código Civil somente se aplicarão se uma lei, no futuro, criar um novo título de crédito e não o disciplinar. Assim, as disposições do Código Civil aplicam-se como regras gerais. É o que preceitua o art. 903.

Atualmente, não existe nenhum título de crédito nessas condições.

3. TÍTULOS DE CRÉDITO ATÍPICOS (OU INOMINADOS)

A disciplina estabelecida pelo Código Civil seria aplicável também aos títulos de crédito inominados ou atípicos, isto é, os criados pelos particulares independentemente de previsão em lei específica.

4. DIFERENÇAS ENTRE O REGIME DA LETRA DE CÂMBIO (LUG) E AS DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO CIVIL

a) Cláusulas Ilegais : Títulos de Crédito regidos pelo Código Civil não poderão conter cláusula de juros, cláusula não à ordem ou cláusula que dispense o devedor do pagamento das despesas (art. 890 Código Civil).

b) Títulos ao Portador : A letra de câmbio não pode ser emitida sem a identificação do beneficiário da ordem de pagamento, assim como a nota promissória. Já os Títulos de Crédito submetidos ao regime do Código Civil poderão ser emitidos ao portador (art. 907 Código Civil).

c) Responsabilidade do Endossante : Nos Títulos de Crédito submetidos ao regime do Código Civil, o endossante não responderá, em regra, pela solvência do devedor. Para responder, o título de conter cláusula sobre a sua responsabilidade (“pague-se com garantia”), de acordo com o art. 914 Código Civil. Na letra de câmbio, em regra os endossante é co-devedor.

49

Page 50: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

d) Aval Parcial : Nos Títulos de Crédito submetidos ao regime do Código Civil não há aval parcial (art. 897, p. único Código Civil). Na letra de câmbio, nota promissória e cheque o aval parcial é admissível (art. 30 da LUG e art. 29 Lei 7.357/85).

e) Títulos Nominativos : Nos Títulos de Crédito submetidos ao Código Civil, nominativos são aqueles emitidos em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente (art. 921) e sua transferência se dá por termo nos registros do emitente (art. 922) ou por endosso em preto (art. 923). Já na letra de câmbio e nos demais títulos de crédito típicos, nominativo (ou nominal) é o título que ostenta o nome do credor e é transferível por endosso (título à ordem) ou por cessão civil (título não à ordem). Títulos ao portador são aqueles transferidos pela simples tradição (entrega do título).

5. OS TÍTULOS DE CRÉDITOS ELETRÔNICOS

A norma contida no § 3º do art. 889 reconheceu os TÍTULOS ELETRÔNICOS, por permitir que o título possa ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.

A norma do art. 889, §3º, do novo Código Civil, vem robustecer o entendimento de parte da doutrina, como Fábio Ulhoa Coelho e Luis Emygdio Rosa Júnior, e da jurisprudência, no sentido de que a duplicata virtual é título executivo, desde que observados os requisitos essenciais e mínimos previstos no caput do art. 889, diferentemente do boleto bancário por faltar um dos requisitos essenciais.

No art. 889, caput, e § 3º, do Código Civil, de 2002:

"Art. 889. Deve o título de crédito conter a data de emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.(...)§ 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo".

Fábio Ulhoa Coelho posiciona-se da seguinte forma:

"Com a desmaterialização do título de crédito, tornaram-se as indicações a forma mais comum de protesto. Hoje, a duplicata, não é documentada em meio papel. O registro dos elementos que a caracterizam é feito exclusivamente em meio magnético e assim são enviados ao banco, para fins de desconto, caução ou cobrança." (duplicata escritural).

50

Page 51: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

TÍTULO 2 - CONTRATOS EMPRESARIAIS

CAPÍTULO 1

1. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

Para nós, os contratos que interessam são aqueles celebrados entre empresários, isto é, daqueles em que as duas partes contratantes são profissionais exercentes de atividade econômica organização para a produção ou circulação de bens ou serviços. São os contratos empresariais, também chamados mercantis ou comerciais.

Os contratos empresariais, dependendo de algumas características, podem ser submeter:

Ao regime civil : Quando as partes são iguais, ou seja, ambos têm amplas condições de negociar em pé de igualdade as cláusulas contratuais. Submetem-se às normas do Código Civil;

Ao regime consumerista : Quando as partes são desiguais, ou seja, um das partes está em posição de inferioridade ou vulnerabilidade em relação à outra. Esses contratos estão sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90).

O contrato é um negócio jurídico bilateral, cujo conjunto das obrigações decorre da vontade das pessoas interessadas, que definem a existência e extensão do dever, que certa pessoa tem de dar ou fazer algo para outra.

2. CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO CONTRATUAL

A constituição do vínculo contratual rege-se, especialmente, pelo princípio do CONSENSUALISMO.

Pelo princípio do consensualismo, um contrato se constitui, via de regra, pelo encontro das vontades manifestadas pelas partes, não sendo necessária mais nenhuma outra condição.

Do consensualismo decorre o princípio da autonomia da vontade, ao assegurar que os indivíduos são livres para contratar ou não fazê-lo, para escolher o parceiro contratual e o conteúdo do contrato firmado.

Em termos gerais os contratos estão constituídos (perfeitos e acabados) assim que se verifica o encontro de vontade das pessoas participantes do vínculo.

3. FASES DA CONTRATAÇÃO

PRELIMINAR DECISÓRIAa) Opção a) Proposta ou ofertab) Contrato preliminar b) Aceitaçãoc) Acordo Provisório

Na fase preliminar, existem os atos preparatórios para a formação de uma proposta definitiva contratual, sem que, entretanto, haja manifestação de vontade vinculante, ainda que sejam elaboradas minutas das tratativas.

Já na fase decisória, há manifestação de vontade vinculante.

Fase PreliminarNa opção, o outorgante se compromete a não revogar a avença, sob pena de responder por perdas e danos.O contrato preliminar, como negócio preparatório de outro, o definitivo, a sua característica é que as partes se obrigam à constituição deste último (do contrato definitivo), o que não ocorre na opção e nem no acordo provisório.No acordo provisório, estabelece-se uma condição para a conclusão do contrato em curso.

51

Page 52: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Fase DecisóriaA proposta ou oferta, também chamada policitação é a manifestação da vontade unilateral, clara e objetiva, com os elementos essenciais do negócio jurídico e que conduz à formação do contrato definitivo. Ao menos, vincula o proponente, salvo se declarar que a proposta não é obrigatória.

A aceitação é a manifestação de vontade, expressa ou tácita, do oblato que concorda com a proposta. Contudo, o oblato pode apresentar contraproposta, na qual estipula condições ou apresenta outros elementos ao proponente, seja modificativa ou aditiva da proposta.

As partes na fase decisória são:a) Proponente ou policitante : Aquele que realiza a proposta;b) Oblato ou aceitante : É a pessoa destinatária da proposta.

Como vimos, tanto a proposta, quanto a aceitação, são manifestação de vontade.

A doutrina classifica as declarações de vontade em tácitas ou expressas, mencionando que estas, por sua vez, podem ser orais, escritas ou simbólicas.

O contrato se aperfeiçoa pela declaração de aceite do oblato ou aceitante (art. 434 do Código Civil).

4. FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO E A REVISÃO DOS CONTRATOS

Ao se vincularem por um contrato, as partes assumem obrigações, podendo uma exigir da outra a prestação prometida.

Regra (implícita): CLÁUSULA “PACTA SUNT SERVANDA”:

“Os contratos existem para serem cumpridos”. O contrato tem força de lei entre as partes. Em outros termos, a ninguém é possível liberar-se, por sua própria e exclusiva vontade de uma obrigação assumida em contrato. Se o vínculo nasceu de um encontro de vontades, ele somente poderá ser desfeito por desejo de todas as pessoas envolvidas na sua constituição (ressalvadas as hipóteses de desconstituição por fatores externos à manifestação volitiva).

A cláusula pacta sunt servanda, no entanto, não tem aplicação absoluta, posto que se encontra limitada por uma outra cláusula, também implícita em certos contratos, que possibilita a sua revisão diante de alterações econômicas substanciais que surpreendem uma das partes contratantes durante a execução do avençado. Trata-se da CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS.

Oposição (também implícita, apenas nos contratos comutativos3): “CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS”.

Sintetiza a teoria da imprevisão. Segundo esta cláusula, se uma das partes contratantes tiver a sua situação econômica alterada em virtude de fatores IMPREVISÍVEIS e INDEPENDENTES DE SUA VONTADE, e em função desta alteração o cumprimento do contratado acabar se revelando EXCESSIVAMENTE ONEROSO para ela, então será possível a REVISÃO das condições em que o contrato foi estabelecido.

O contrato, portanto, tem força obrigatória. Quem expressa a sua vontade de assumir uma obrigação perante outra pessoa fica responsável pelos termos de sua manifestação. Há, contudo, duas hipóteses em que a força vinculativa do contrato suspende-se, ou seja, ele deixa temporariamente de ter força obrigatória, em dois casos:

a) Em primeiro lugar, a própria convergência de vontades constitutivas do vínculo pode sustar, pelo prazo e nas condições estabelecidas de comum acordo, o cumprimento do contrato.

3 Naqueles em que há equilíbrio entre a vantagem auferida e a prestação dada por cada uma das partes.

52

Page 53: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

b) Outra hipótese de suspensão do vínculo contratual é a ocorrência de caso fortuito ou força maior. Cuida, aqui, daquelas situações imprevisíveis que não comprometem definitivamente o cumprimento do contrato, mas apenas o postergam. Se houvesse a impossibilidade cabal de execução do prometido contratualmente, então o caso fortuito ou a força maior teriam dado ensejo à rescisão do contrato e não à sua suspensão.

Por fim, no tocante à força obrigatória, é necessário mencionar-se que os contratos bilaterais contêm, implícita, a CLÁUSULA DA EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRACTUS, pela qual uma parte não pode exigir o cumprimento do contrato pela outra, se estiver em mora em relação à sua própria prestação. Ainda em relação aos contratos bilaterais, prevê o art. 477 do Código Civil que a parte, à qual incumbe cumprir o objeto da avença em primeiro lugar, pode exigir da outra a prestação prometida, ou garantias, se tiver ocorrido uma diminuição no patrimônio desta última capaz de comprometer a execução do contrato.

4.1 – A Revisão do contrato no código de defesa do consumidor

No que tange à proteção ao efetivo equilíbrio contratual numa relação de consumo, o CDC traz, já no art. 6º, a seguinte disposição:

“São direitos básicos do consumidor:V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”.

A necessidade da revisão de cláusulas contratuais decorre do desequilíbrio entre as partes.

A teoria da imprevisão do Código de Defesa do Consumidor, já pelos consumeristas de “Teoria da Base Objetiva do Negócio” é melhor do que a do Código Civil (arts. 478, 479 e 480), pois dispensa a IMPREVISIBILIDADE, se satisfazendo, apenas, com a onerosidade excessiva.

5. PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL

5.1 – Efeito Relativo do Contrato

Conceito: Pelo princípio da relatividade, o contrato gera efeitos apenas entre as partes por ele vinculadas, não criando, em regra, direitos ou deveres para pessoas estranhas à relação, bem como não alcança bens estranhos ao seu objeto.

Há algumas exceções, como o seguro de vida ou a estipulação em favor de terceiro, que são contratos constitutivos de crédito em benefício de pessoa não participante do acordo, os sucessores, tanto a título universal como a título singular.

Uma discussão bastante interessante, no exame do princípio da relatividade, diz respeito àquelas situações aparentes, que iludem contratantes de boa-fé, baseadas na “teoria da aparência”, segundo a qual uma situação aparente pode gerar obrigações para terceiros quando o contratante, de boa-fé, tinha razões efetivas para tomá-la por real.

Imagine-se um empresário que, no decorrer de alguns anos, tivesse mantido reiteradas negociações com um certo atacadista através de um representante deste. Rompido o vínculo de representação, sem o conhecimento do empresário, os negócios posteriormente realizados através do antigo representante vincularão o atacadista.

Quando o contrato se insere no âmbito da tutela do consumidor, o princípio da relatividade também tem a sua pertinência ressalvada em alguns casos, pois se admite a reclamação contra o fabricante do produto viciado, embora a relação contratual de compra e venda tenha se estabelecido na verdade entre o consumidor e um comerciante.

5.2 – Função Social do Contrato

53

Page 54: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

O art. 421 do Novo Código Civil prescreve que:

"A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato".

De acordo com Paulo Lôbo o princípio da função social do contrato "determina que os interesses individuais das partes do contrato sejam exercidos em conformidade com os interesses sociais, sempre que estes se apresentem". Em caso de conflito entre eles, os interesses sociais hão de prevalecer.

5.3 – Boa-fé Objetiva

O princípio da boa-fé objetiva encontra assento nos artigos 113 e 422 do Novo Código Civil.

A boa-fé objetiva desempenha no campo obrigacional três funções distintas:

a) Interpretativa da vontade das partes (destinada ao intérprete autêntico, que é o juiz);b) Integrativa (preenchendo lacunas);c) Limitadora de direitos subjetivos (criação de deveres jurídicos – deveres anexos ou

secundários, de lealdade, probidade, informação, colaboração).

O dever principal, na relação contratual, é o objeto central da relação jurídica, consistindo em obrigação de dar, fazer ou não fazer.

Já os deveres anexos integram as obrigações laterais da relação jurídica, encontrando base na boa-fé objetiva que deve existir entre as partes bem como na solidariedade social.

O aplicador da norma tem por função, ao analisar o caso concreto, verificar se a obrigação está sendo cumprida de acordo com os ditames da boa-fé objetiva, pois poderá dar ensejo a deveres diversos, com ela condizentes, realizando e extremando, assim, a verdadeira solidariedade social.

6. DESCONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO CONTRATUAL

- Nulidade- Invalidação(Causas anteriores - Anulabilidadeou contemporâneas)

Desconstituição:- Inexecução: Resolução

- Dissolução(Causas posteriores) - Vontade das Partes: Resilição

CAPÍTULO 2

ESPÉCIES DE CONTRATOS EMPRESARIAIS

1. ESPÉCIES DE CONTRATOS EMPRESARIAIS

1.1. COMPRA E VENDA MERCANTIL OU EMPRESARIAL

1.1.1 Natureza da compra e venda

Com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, o direito privado das obrigações passou a ser integrado por três grandes regimes jurídicos:

a) O da tutela do consumidor, pertinente aos contratos das relações de consumo; eb) O empresarial ou mercantil, que disciplina os relativos à atividade comercial.

54

Page 55: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

c) O civil, que contém as normas gerais e, também, é aplicável aos contratos não abrangidos pelos outros dois regimes;

Atualmente, portanto, no direito brasileiro, podemos distinguir três diferentes contratos de compra e venda (civil, mercantil e ao consumidor), cada qual sujeito a uma disciplina própria.

O direito empresarial, evidentemente, se ocupa da compra e venda de natureza mercantil, ou seja, aquela relacionada com o exercício de uma atividade empresária.

Considera-se mercantil a compra e venda quando estão presentes as seguintes condições:

a) O objeto da avença é um bem móvel ou semovente (requisito objetivo);b) Pelo menos o comprador é empresário (requisito subjetivo);c) A compra é feita com o intuito de revender ou alugar o bem adquirido (requisito finalístico).

1.1.2 Formação do contrato de compra e venda mercantil

A compra e venda mercantil é um contrato consensual, ou seja, para a sua constituição é suficiente o encontro de vontades do comprador e do vendedor. Basta que eles se entendam quanto à coisa e ao preço para que o vínculo contratual se aperfeiçoe.

1.1.3 Responsabilidade das partes

O comprador assume a obrigação de pagar o preço e O vendedor a de transferir o domínio, ou seja, proceder à entrega da coisa no prazo.

1.2. SEGURO

1.2.1. Introdução

O seguro é o contrato em que uma parte (sociedade seguradora) se obriga, mediante o recebimento de um prêmio, a pagar a outra parte (segurado), ou a terceiros beneficiários, determinada quantia, caso ocorra evento futuro e incerto.

Encontra-se previsto no Código Civil nos arts. 757 a 802.

Trata-se, em termos estritamente econômicos, de instrumento de socialização de riscos.

Há duas grandes espécies de seguro, de acordo com a natureza do interesse segurado:

a) O de ramos elementares eb) O de vida.

1.2.2. Natureza do contrato de seguro

O seguro é:

Contrato de adesão (contratação de massa, com cláusulas pré-formatadas), Oneroso (porque cria vantagens ou expectativa de vantagens patrimoniais) e Bilateral (porque cria obrigações para o segurador e para o segurado).

Marca significativa do contrato de seguro é a sua extensa disciplina pela legislação e pelas autoridades securitárias. Trata-se de contrato em que as cláusulas são, em sua quase-totalidade, definidas pela ordem vigente ou pelos órgãos governamentais, restando às partes reduzida margem para negociações.

1.2.3. Obrigações das partes

55

Page 56: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Celebrado o seguro, assume a seguradora a obrigação de pagar ao segurado a importância determinada, se ocorrer o fato cujas conseqüências danosas se pretendeu eliminar ou atenuar com o contrato.

Já em relação ao segurado, a lei estabelece as obrigações de:

Pagar o prêmio, Prestar informações verídicas, Abster-se de aumentar o risco em torno do interesse segurado e Comunicar à seguradora tanto a verificação de incidente que aumente o risco como a do

próprio sinistro.

1.2.4. Seguro de ramos elementares

O seguro de ramos elementares compreende todos os seguros, menos o de vida. Assim, tem por objeto os interesses relacionados com o patrimônio (bens, valores, direitos etc.), obrigações, saúde e integridade física do segurado.

Característica essencial dos seguros de ramos elementares é a natureza indenizatória do pagamento devido pela seguradora. Ao contrário do que ocorre com o seguro de vida, o segurado contrata com a seguradora a recomposição de seu patrimônio, caso venha a ser atingido por evento futuro e incerto, como, por exemplo, a incapacidade laborativa, despesas com saúde, responsabilidade civil perante terceiros, inadimplemento de devedores, danos patrimoniais.

Neste contexto, portanto, não é lícito ao segurado contratar pelo seu valor integral mais de um seguro de ramo elementar, referente ao mesmo interesse (prática irregular denominada sobre-seguro), nem, por outro lado, segurá-lo em importância superior ao seu valor, pois caso contrário, sobrevindo o sinistro, ocorreria o seu locupletamento sem causa.

Pela mesma razão, se o interesse for segurado por importância inferior ao seu valor, entende-se que o segurado optou por assumir, pessoalmente, o risco em relação à parte não segurada.

1.2.5. Seguro de vida

Neste tipo de contrato, o pagamento devido ao segurado, em decorrência do evento futuro e incerto, não tem sentido indenizatório.

O devido pelas seguradoras, ao se verificar o evento futuro e incerto, não tem a natureza de ressarcimento ao beneficiário por dano sofrido. Cuida-se, simplesmente, do adimplemento de obrigação pecuniária decorrente de contrato aleatório.

Como a prestação assumida pela seguradora, no seguro de vida, não tem natureza indenizatória, não é vedado o sobre-seguro (é lícito contratar tantos seguros de vida quantos queira), e o beneficiário poderá, uma vez ocorrida a morte ou sobrevida daquele, reclamar o pagamento de todas as seguradoras.

Ao contratar seguro de vida, o estipulador, que não é necessariamente o segurado (a pessoa cuja morte ou sobrevida é objeto de contrato), nomeia o beneficiário da prestação contratada com a seguradora. Se este não estiver identificado na apólice, entende-se que o seguro foi estipulado em favor dos sucessores legais do segurado.

O recebimento pelo beneficiário da prestação contratada com a seguradora, quando falece o segurado, não tem a natureza de sucessão. É o próprio beneficiário o titular do direito de crédito, de modo que não incide sobre a importância paga qualquer tributo de transmissão causa mortis.

Preceitua a lei que, no seguro de vida, de liquidação condicionada à morte do segurado, o beneficiário não terá direito ao recebimento da prestação contratada se aquela é voluntária, tal como a decorrente de suicídio premeditado ou a ocorrida em duelo. O chamado suicídio não premeditado não é causa excludente de recebimento do valor do seguro (Súmula 61 do STJ).

56

Page 57: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Também não exonera a seguradora o falecimento ocorrido durante a prática de esportes arriscados, exercício de atividade profissional perigosa ou cirurgia.Nos seguros em grupo, aliás, a perícia médica sempre foi dispensada. O fato de a seguradora não condicionar o contrato à realização do exame de saúde, contudo, não libera o segurado do dever de prestar informações verídicas, quando da assinatura da proposta ou do bilhete, perdendo o beneficiário o direito ao seguro caso não tenha sido cumprida tal obrigação.

1.3. CONTRATOS DE COLABORAÇÃO

1.3.1 Introdução

Os contratos de colaboração

São aqueles em que um dos contratantes (empresário colaborador) se obriga a CRIAR, CONSOLIDAR ou AMPLIAR o mercado para o produto do outro contratantes (empresário fornecedor-produtor).

Os contratos de colaboração são classificados da seguinte forma:

a) Colaboração por Aproximação : O colaborador não é intermediário, ou seja, ele não adquire o produto do fornecedor para revendê-lo. O colaborador apenas identifica potenciais interessados em comprar produtos do fornecedor e motiva o ato de aquisição. Dessa forma, a compra e venda mercantil é celebrada entre fornecedor e consumidor, que foi identificado pelo colaborador. A sua remuneração é feita por um percentual dos negócios que ajuda a viabilizar, pago pelo fornecedor, denominado comissão.

i. O mandato mercantil,ii. A comissão mercantil,iii. A representação comercial,iv. A agência ev. A distribuição-aproximação.

b) Colaboração por Intermediação : O colaborador celebra com o fornecedor um contrato de compra e venda e adquire os produtos (ou serviços), em condições especiais, para revender aos consumidores. Neste caso, não há nenhuma remuneração por serviços. O colaborador ganha com o resultado positivo de sua atividade empresarial.

i. A distribuição-intermediação eii. A concessão mercantil.

Os contratos de colaboração possuem uma marca comum, que é a subordinação estabelecida entre as partes.

Aquele comerciante contratado para distribuir, junto ao mercado consumidor, a mercadoria oferecida pelo contratante tem, perante este, o dever de atender a determinados padrões de exploração da atividade comercial.

Em outros termos, o contratado deve organizar-se empresarialmente da forma definida pelo contratante, seguindo as orientações e determinações partidas deste.

Atente-se para a natureza específica desta subordinação, que não tem caráter pessoal, mas sim empresarial. Esta distinção é muito importante, na medida em que a subordinação pessoal caracteriza uma relação contratual significativamente diversa, que é a do vínculo empregatício, disciplinada pelo direito do trabalho. Já a subordinação empresarial está relacionada com a organização da própria atividade de distribuição.

1.3.2 Contratos de colaboração por aproximação

1.3.2.1 O mandato mercantil e a comissão mercantil

57

Page 58: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

O mandato é o contrato pelo qual uma pessoa (mandatário) se obriga a praticar os atos ou administrar os interesses de outra (mandante) em nome e por conta desta última. Caracteriza-se como mercantil se pelo menos o mandante for empresário e se os poderes outorgados disserem respeito à prática de atos negociais (cláusula ad negotia).

Na comissão mercantil uma das partes (comissário) se obriga a praticar atos por conta de outra pessoa (comitente), mas em nome próprio, assumindo, portanto, perante terceiros, responsabilidade pessoal pelos atos praticados. O comissário concretiza transações comerciais do interesse do comitente, mas este não participa dos negócios, podendo até permanecer incógnito.

A diferença entre o mandato e a comissão consiste na imputação da responsabilidade perante terceiros: o mandatário não responde, se agir nos limites dos poderes outorgados, porque pratica atos em nome do mandante; já o comissário, porque realiza negócios em seu próprio nome, será parte no contrato e responderá nos termos pactuados.

A comissão permite a estipulação da cláusula del credere, segundo a qual o comissário responde, perante o comitente, pelo cumprimento das obrigações assumidas pelo terceiro com quem contratou, solidariamente.

1.3.2.2 A representação comercial autônoma

Conceito: A representação comercial é o contrato pelo qual uma das partes (representante) se obriga a obter pedidos de compra de produtos fabricados ou comercializados pela outra parte (representado), recebendo, o representante, comissão pelos pedidos solicitados e que efetivamente se transformem em negócios a serem cumpridos pelo representado.

Sujeitos:

a) Representante: é o empresário individual ou sociedade empresária que irá obter os pedidos de compra para o produtor.

b) Representado: é o empresário individual ou sociedade empresária que produz os bens.

Os pedidos de compras obtidos pelo representante não vinculam o representado, que pode, simplesmente, recusá-los. Nesse caso, o representante não terá direito à comissão.

Inexiste qualquer vínculo de emprego entre o representado e o representante comercial autônomo. A subordinação deste àquele tem caráter exclusivamente empresarial, ou seja, cinge-se à organização do exercício da atividade econômica.

Trata-se de um contrato típico, disciplinado pela Lei n. 4.886/65, alterada pela Lei n. 8.420, de 1992.

A lei apresenta regras que se assemelham às leis laborais; porém, três fatores diferenciam a relação de representação comercial da relação de trabalho:

O representante poderá ter empregados; O representante deve arcar com os custos do seu negócio, ficando clara a autonomia entre

representante e representado; Poder o representante se fazer substituir por outrem no exercício de suas atividades.

O representante comercial autônomo deve registrar-se no órgão profissional correspondente, o Conselho Regional dos Representantes, cujo registro é obrigatório (art. 2º da Lei n. 4.886/65).

A sanção para a falta de registro está prevista no seu art. 5º e consiste na perda do direito à comissão sobre os negócios mediados.

Mas é legal essa regra? A jurisprudência decidiu que não. O recebimento da remuneração pelo representante independe de registro no Conselho. Por isso a jurisprudência proclamou a inconstitucionalidade desse art. 5º.

58

Page 59: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

São requisitos do contrato de representação (art. 27 Lei n. 4.886/65):

a) condições e requisitos gerais da representação; b) indicação genérica ou específica dos produtos ou artigos objeto da representação; c) prazo certo ou indeterminado da representação d) indicação da zona ou zonas em que será exercida a representação; (Redação dada pela Lei nº 8.420, de 8.5.1992)e) garantia ou não, parcial ou total, ou por certo prazo, da exclusividade de zona ou setor de zona; f) retribuição e época do pagamento, pelo exercício da representação, dependente da efetiva realização dos negócios, e recebimento, ou não, pelo representado, dos valôres respectivos; g) os casos em que se justifique a restrição de zona concedida com exclusividade; h) obrigações e responsabilidades das partes contratantes: i) exercício exclusivo ou não da representação a favor do representado; j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação. (Redação dada pela Lei nº 8.420, de 8.5.1992)

Comissões pagas aos representantes: A remuneração do representante é a comissão, proporcional ao valor dos pedidos de compra encaminhados através dele ao representado.

Contudo, o representante só terá direito à comissões se ocorrer duas condições:

1. A aceitação do pedido;2. O recebimento do preço pelo representado (art. 32).

Cláusula del credere: A cláusula del credere consiste em transmitir poderes para que outrem aja por conta do transmitente, mas não em seu nome, e também assuma os riscos do negócio.

Nos contratos de representação comercial é vedada a cláusula del credere. Assim sendo, não pode o representante ser responsabilizado pelo inadimplemento do comprador.

1.3.2.3 Agência

Para alguns doutrinadores, o contrato de agência e o de representação comercial são os mesmos, pois teriam objetos idênticos. Entretanto, o legislador não fez expressamente qualquer menção a esse respeito.

Dessa forma, o contrato de agência é um contrato assemelhado ao da representação comercial, diferente dele (Fábio Ulhoa Coelho).

Conceito: É aquele em que um dos contratantes (o agente) assume, em caráter não eventual e sem dependência, a obrigação de promover a realização de certos negócios do interesse do outro contratante (o proponente), numa zona determinada e por conta deste (Código Civil, art. 710).

Lembre-se que os sujeitos nesse contrato são empresários, individuais ou sociedades, registrados na Junta Comercial.

São obrigações do agente:a) Atuar com diligência na promoção do negócio de interesse do proponente;b) Acatar as orientações do proponente;c) Respeitar a cláusula de exclusividade de agenciamento, abstendo-se de promover

produtos concorrentes, a menos que conste ressalva expressa do instrumento contratual;d) Arcar com todas as despesas para o desempenho de suas atribuições contratuais;e) Não promover os produtos, sem autorização do proponente, junto a potenciais interessados

sediados fora de sua zona de atuação.

São obrigações do proponente:

a) Remunerar a colaboração do agente, nos valores ou percentuais contratados, por todos os negócios concluídos na zona de atuação deste;

b) Indenizar o agente na hipótese de, sem justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-las a níveis que tornam antieconômica a continuação da agência;

59

Page 60: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

c) Indenizar o agente quando a inexecução do negócio promovido decorrer de culpa dele, proponente;

d) Respeitar a cláusula de exclusividade de zona, abstendo-se de realizar negócios na área de atuação do agente, a não ser através deste, salvo se o contrato contiver cláusula expressa em sentido diverso;

e) Pagar a remuneração devida ao agente, caso desrespeite a cláusula de exclusividade de zona não ressalvada em contrato.

Diferenças em relação à representação comercial:

São cláusulas implícitas do contrato de agência a exclusividade de agenciamento e de zona. A primeira, direcionada ao agente, que não pode promover produtos concorrentes aos do proponente. A Segunda, ao proponente, que não pode constituir simultaneamente, na mesma zona de atuação, mais de um agente com atribuições, no todo ou em parte, iguais (art. 711 do Código Civil). Na representação, só é implícita a exclusividade a zona.

Para ser afastada uma ou outra forma de exclusividade há necessidade de cláusula expressa no contrato.

O contrato de agência pode ser celebrado por prazo determinado ou indeterminado, podendo ser prorrogado livremente, quantas vezes quiserem as partes, ao contrário da representação e da concessão mercantil, que contêm limitação legal para prorrogações.

No caso de prazo indeterminado, a resolução imotivada enseja aviso prévio de pelo menos 90 dias (art. 720 do Código Civil).

1.3.2.4 Distribuição-aproximação

Fábio Ulhoa Coelho conceitua o contrato de distribuição como o contrato em que uma das partes se obriga a encontrar interessados na aquisição dos produtos fabricados ou comercializados pelo outro.

O Código Civil definiu “distribuição” como sendo uma modalidade do contrato de agência, em seu art. 710, da seguinte forma:

“É o contrato em que o agente tem a posse das mercadorias para cujo escoamento colabora.”

Logo, por esse conceito legal, estão caracteriza a distribuição como um contrato de colaboração por aproximação, tendo em vista que o agente tem apenas a posse das mercadorias (não as adquire), visando a identificação de interessados na sua aquisição.

A distribuição difere do contrato de agência pelo maior grau de confiança que o proponente deposita no agente, pois entrega a ele as mercadorias.

É um contrato típico, previsto no Código Civil, como já dissemos.

1.3.3 Contratos de colaboração por intermediação

1.3.3.1 Distribuição-intermediação

Já a distribuição-intermediação era o único contrato de “distribuição” tratado pela doutrina antes do Código Civil. Contudo, esse diploma legal criou essa confusão, distinguindo:

DE UM LADO, o contrato de distribuição em que o “distribuído” não adquire as mercadorias do “distribuidor”; apenas tem a posse delas (Distribuição-Aproximação);

DE OUTRO LADO, o contrato de distribuição em que o “distribuído” adquire as mercadorias “distribuidor” (Distribuição-Intermediação). É o mais utilizado na prática.

Essa distinção só tem a importância para se evitar confundir-se um contrato pelo outro.

60

Page 61: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Portanto, a Distribuição-Intermediação é:

É o contrato de colaboração empresarial pelo qual um dos empresários contratantes (distribuidor) tem a obrigação de comercializar os produtos fabricados ou comercializados pelo outro (distribuído).

É um contrato atípico (não há disciplina legal), regido pelas cláusulas livremente pactuadas pelas partes.

As principais cláusulas do contrato de distribuição-intermediação são:

a) Exclusividade de distribuição e de zona ou territorialidade;b) Quota de fornecimento e aquisição: estoques compatíveis com a demanda;c) Concessão de crédito e garantia (real ou pessoal): distribuído dá vantagens ao distribuidor;d) Aparelhamento da empresa do distribuidor; ee) Resolução.

1.3.3.2 Concessão Mercantil (comercial)

Conceito: é o contrato em que um empresário (concessionário) se obriga a comercializar, com ou sem exclusividade, com ou sem cláusula de territorialidade, os produtos fabricados por outro empresário (concedente).

É um contrato próximo à distribuição-intermediação, diferenciando no fato de que na concessão há um grau maior de ingerência do fornecedor-concedente.

Em geral, o contrato de concessão comercial é um contrato atípico, significando que os direitos e deveres das partes são estipulados livremente, no contrato. Por isso, aplica-se aquelas mesmas cláusulas do contrato de distribuição-intermediação.

A concessão será, entretanto, um contrato típico, no caso de comercialização de veículos automotores terrestres, como os automóveis, caminhões, ônibus, tratores, motocicletas e similares.

Nesse caso, a concessão será regida pela Lei n. 6.729, de 1979, com as alterações introduzidas pela Lei n. 8.132, de 1990, conhecida como Lei Ferrari.

No contrato de concessão comercial de veículos automotores, o concedente assume as seguintes obrigações:

a) Permitir, gratuitamente, o uso de suas marcas pelo concessionário (art. 3º, III);

b) Vender ao concessionário os veículos de sua fabricação, na quantidade prevista em cota fixada de acordo com a estimativa de produção do mercado interno e a capacidade empresarial, desempenho e potencial de vendas do concessionário (art. 7º);

c) Observar, na definição da área operacional de cada concessionária, distâncias mínimas segundo o critério de potencial de mercado (art. 5º, II);

d) Não vender, diretamente, os veículos de sua fabricação na área operacional de uma concessionária, salvo à Administração Pública, direta ou indireta, ao Corpo Diplomático ou a clientes especiais (art. 15, II).

O concessionário, por sua vez, na concessão de veículos automotores se obriga a:

a) Respeitar a cláusula de exclusividade, se houver; vale dizer, não comercializar com nenhum outro veículo senão o fabricado pelo concedente, caso prevista esta vedação em contrato;

61

Page 62: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

b) Observar o índice de fidelidade para a aquisição de componentes que vier a ser estabelecido, de comum acordo com os demais concessionários e concedente, na Convenção de Marca (art. 8º, parágrafo único, I);

c) Comprar do concedente os veículos na quantidade prevista na cota respectiva, sendo-lhe facultado limitar o seu estoque (art. 10, § 1º);

d) Organizar-se, empresarialmente, de forma a atender os padrões determinados pelo concedente, para a comercialização dos veículos e para a assistência técnica aos consumidores (art. 20).

1.4. Franquia

A franquia é um contrato pelo qual um empresário (franquiador) licencia o uso de sua marca a outro (franquiado) e presta-lhe serviços de organização empresarial, com ou sem venda de produtos.

A franquia consiste, pois, na conjugação de dois contratos: o de licenciamento de uso de marca e o de organização empresarial.

Pela franquia, o franquiado adquire do franquiador os serviços de organização empresarial e mantém com os seus recursos, mas com estrita observância das diretrizes estabelecidas por este último, um estabelecimento que comercializa os produtos ou presta os serviços da marca do franquiador.

A franquia é previsto na Lei n. 8.955/94, que apenas estabelece regras aplicáveis a uma situação que antecede à formação do vínculo contratual. As relações entre franquiador e franquiado continuam regendo-se exclusivamente pelas cláusulas contratualmente pactuadas.

Essa lei determina que, antes da assinatura de um contrato de franquia, deverá o franqueador divulgar a chamada Circular de Oferta e Franquia (COF), indicando as condições e obrigações relevantes do contrato, visando a transparência nas negociações que antecedem a adesão do franquiado à franquia (art. 3º). A Circular de Oferta e Franquia deverá ser comprovadamente recebida pelo franqueado com, no mínimo, dez dias de antecedência à assinatura do contrato, sob pena de nulidade desse, facultando-se ao franqueado, nessa hipótese, exigir a devolução de todas as quantias pagas ao franqueador, bem como a indenização (arts. 4º a 7º).

No entanto, costuma-se atribuir aos franquiados o seguinte conjunto de encargos ou obrigações:a) o pagamento de uma taxa de adesão e de um percentual do seu faturamento;b) o pagamento pelos serviços de organização empresarial fornecidos pelo franquiador;c) a obrigação de oferecer aos consumidores apenas os produtos ou serviços da marca do

franquiador, por ele fabricados, aprovados ou simplesmente indicados;d) observar, estritamente, as instruções e o preço de venda ao consumidor estabelecidos pelo

franquiador.

Por seu turno, o franquiador tem, normalmente, as seguintes obrigações:a) permitir ao franquiado o uso de sua marca;b) prestar os serviços de organização empresarial.

Os serviços de organização empresarial que o franquiador presta ao franquiado são, geralmente, os decorrentes de três contratos, que podem ser tratados autonomamente. São eles:

a) O contrato de engineering (de engenharia, estruturação), pelo qual o franquiador define, projeta ou executa o layout do estabelecimento do franquiado.

b) O management (de gerenciamento), relativo ao treinamento dos funcionários do franquiador e à estruturação da administração do negócio.

c) O marketing, pertinente às técnicas de colocação dos produtos ou serviços junto aos seus consumidores, envolvendo estudos de mercado, publicidade, vendas promocionais, lançamento de novos produtos ou serviços etc.

62

Page 63: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

CAPÍTULO 3

CONTRATOS BANCÁRIOS

1. ATIVIDADE BANCÁRIA

Por atividade bancária entende-se, juridicamente falando, a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros em moeda nacional ou estrangeira. Esse conceito, que se conclui da definição legal de instituições financeiras (Lei 4.595/64, art. 17), abarca uma gama considerável de operações econômicas, ligadas direta ou indiretamente à concessão, circulação ou administração do crédito.

Art. 17 - Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

Para se exercer atividade bancária, é necessária a autorização governamental, expedida pelo Banco Central do Brasil.

As instituições financeiras adotam sempre a forma de uma sociedade anônima.

Contratos bancários são aqueles em que uma das partes é, necessariamente, um banco. Isto é, se a função econômica do contrato está relacionada ao exercício da atividade bancária, ou, dizendo o mesmo de outro modo, se o contrato configura ato de coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, então somente uma instituição financeira devidamente autorizada pelo governo poderá praticá-lo.

As operações bancárias são costumeiramente divididas pela doutrina em:

a) Típicas (ou exclusivas)b) Atípicas (ou acessórias).

São típicas as relacionadas com o crédito e atípicas as prestações de serviços acessórios aos clientes, como a locação de cofres ou a custódia de valores.

As operações típicas ou exclusivas dos bancos, por sua vez, se subdividem em:

a) Passivas: São operações de captação de dinheiro, em que o banco assume a posição de devedor da obrigação principal;

b) Ativas: São operações de fornecimento de recursos monetários, em que o banco assume a posição de credor da obrigação principal.

Os contratos bancários podem ou não estar sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor (CDC, arts. 3º, § 2º e 52), dependendo da condição do cliente.

O banco é sempre fornecedor (art. 3º do CDC), porque explora atividade de prestação de serviços bancários, mas o cliente pode ou não enquadrar-se no conceito de consumidor (art. 2º do CDC).

Então, quando o cliente que contrata com o banco for destinatário final do produto ou serviço, essa relação será regida pelo CDC. Caso contrário, se o cliente atua como empresário, utilizando o produto ou serviço bancário como insumo, como para obter capital de giro para a sua atividade, essa relação será regida pelo direito civil.

SÚMULAS DOS STJ SOBRE CONTRATOS BANCÁRIOS:

a) A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aprovou a súmula 381, que trata de contratos bancários. O projeto foi apresentado pelo ministro Fernando Gonçalves e tem o seguinte texto: "Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas". (STJ, 29.4.9)

63

Page 64: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

b) A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aprovou a súmula 379, que limita os juros mensais de contratos bancários. A súmula 379 determina o seguinte: "Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os juros moratórios poderão ser fixados em até 1% ao mês". Ficam de fora da abrangência do novo mecanismo legal contratos como os da cédula rural. (STJ, 29.4.9)

2. OPERAÇÕES PASSIVAS

Nos contratos bancários compreendidos na categoria das operações passivas, a instituição financeira assume, na relação negocial, o pólo passivo, isto é, ela se torna devedora.

Os principais contratos dessa natureza são:

- o depósito bancário,- a conta corrente bancária e- a aplicação financeira.

O depósito bancário, por exemplo, é o contrato pelo qual uma pessoa (depositante) entrega valores monetários a um banco, que se obriga a restituí-los quando solicitados.

Há três modalidades de depósito:a) à vista , b) a pré-aviso ;c) a prazo fixo ..

3. OPERAÇÕES ATIVAS

Os contratos bancários relacionados com operações ativas são aqueles em que o banco assume, quanto à obrigação principal, a posição de credor.

Os principais contratos bancários de operações ativas são:

- Mútuo bancário,- Abertura de crédito,- Desconto e- Crédito documentário.

3.1. Mútuo bancário

O mútuo bancário é o contrato pelo qual o banco empresta ao cliente certa quantia de dinheiro, que se obriga a pagá-la, com os acréscimos remuneratórios, no prazo contratado. Essa figura contratual é similar ao mútuo civil, isto é, o empréstimo de coisa fungível (CC, art. 586).

O mútuo bancário possui 2 espécies:

a) Financiamento: é o mútuo bancário em que o mutuário tem a obrigação de conferir uma determinada finalidade ao dinheiro emprestado, por exemplo, investir no desenvolvimento de atividade econômica (industrial, comercial, rural etc.);

b) Abertura de crédito: Veremos na seqüência.

3.2. Abertura de crédito

Pelo contrato de abertura de crédito, o banco põe uma certa quantia de dinheiro à disposição do cliente, que pode ou não se utilizar desses recursos.

Associada a um contrato de depósito, costuma-se designar a abertura de crédito pelo nome de "cheque especial".

64

Page 65: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Cuida-se de um contrato consensual e bilateral, em que a marca distintiva é a disponibilização de recursos financeiros.

Distingue a doutrina duas modalidades de contrato de abertura de crédito.

a) a abertura simples, em que o cliente, uma vez utilizado o crédito, não tem a faculdade de reduzir o montante do devido antes de determinado prazo; e

b) de outro lado, a abertura em conta corrente, muito usual, em que o cliente pode, mediante entradas, reduzir seu débito perante a instituição financeira.

3.3. Desconto bancário

O desconto bancário é o contrato em que o banco descontador recebe em cessão o crédito que o cliente descontário (empresário) titularizar perante terceiro (consumidor ou adquirente) e antecipa-lhe o valor descontado de juros e encargos.

Por evidente, o banco, ao pagar pelo crédito descontado, deduz do seu valor a importância relativa a despesas e juros correspondentes ao lapso temporal entre a data da antecipação e a do vencimento.

3.4. Crédito documentário

É o contrato pelo qual um banco (emissor) obriga-se perante o seu cliente (ordenante) a pagar terceiro (beneficiário), caso este último apresente-lhe documentos comprobatórios do cumprimento de obrigações contraídas perante o cliente.

Exemplificativamente, com o crédito documentário, o importador pode contratar uma instituição financeira para que ela realize pagamento, de acordo com as suas instruções, em favor do exportador, quando este lhe exibir determinados documentos representativos das mercadorias transacionadas.

4. CONTRATOS BANCÁRIOS IMPRÓPRIOS

4.1. Alienação fiduciária em garantia

Por alienação fiduciária entende-se aquele negócio em que uma das partes (devedor fiduciante), proprietário de um bem, aliena-o em confiança para a outra (credor fiduciário), a qual se obriga a devolver-lhe a propriedade do mesmo bem nas hipóteses delineadas em contrato.

A alienação baseia-se na fidúcia (confiança), de modo que o credor fiduciário tem apenas o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa alienada, ficando o devedor fiduciante como seu depositário e possuidor direto. Feito o pagamento da dívida, ou seja, com a devolução do dinheiro emprestado, resolve-se o domínio em favor do fiduciante, que passa a titularizar a plena propriedade do bem dado em garantia.

O objeto do contrato pode ser bem móvel ou imóvel. Se o objeto for direitos creditórios ou títulos de crédito, o contrato é denominado na lei de cessão fiduciária (Lei 9.514/97, art. 17, II e art. 66-B, § 4º da Lei 4.728/65).

É contrato hoje disciplinado:

Pelo art. 66-B da Lei 4.728/ 65, quando celebrado no âmbito do mercado financeiro ou de capitais ou em garantia de créditos fiscais ou previdenciários;

Pelos arts. 22 a 33 da Lei 9.514/97, se tem por objeto bem imóvel; Pelo Decreto-Lei n. 911/69 (norma processual), alterada pela Lei 10.931/2004. Pelos arts. 1.361 a 1.368 do Código Civil, sobre a propriedade fiduciária de bens móveis

constituída por esse contrato é instituto de direito das coisas disciplinado.

65

Page 66: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Destaca-se a sua natureza instrumental, isto é, a alienação fiduciária será sempre um negócio-meio a propiciar a realização de um negócio-fim. A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental (acessório) do mútuo.

O contrato de alienação fiduciária prova-se somente por escrito, público ou particular, sendo necessário seu registro para valer perante terceiros, tendo eficácia entre as partes independentemente de registro.

No caso de veículo basta constar no Certificado de Registro (CRV) que estará preenchido o requisito da publicidade.

Tratando de bem móvel e sendo o caso de contrato celebrado no âmbito do mercado financeiro ou de capitais ou vise garantir créditos fiscais ou previdenciários (Dec.-Lei 911/69, art. 8º-A), a mora ou o inadimplemento do fiduciante acarreta a pronta exigibilidade das prestações vincendas e possibilita ao credor fiduciário requerer em juízo a busca e apreensão do bem móvel objeto do contrato, para vendê-lo a terceiros e tornar efetiva a sua garantia.

Requerida a busca e apreensão do bem móvel alienado fiduciariamente, que depende da comprovação da mora, o fiduciante (devedor) poderá emendar a mora, no prazo de 5 dias, com o depósito integral das prestações em atraso.

Não havendo emenda da mora nesse prazo, após a execução da ordem judicial liminar de busca e apreensão, consolida-se a propriedade do bem ao credor fiduciário.

Se o bem móvel não for encontrado na posse do fiduciante, a busca e apreensão pode transformar-se, a pedido do fiduciário (credor), em ação de depósito. Outrossim, tem também o credor a alternativa de promover a execução do seu crédito.

Faculta, a lei, a venda da coisa independentemente de leilão, avaliação prévia ou interpelação do devedor.

A lei vincula a satisfação da garantia à venda do bem a terceiros, considerando nula a cláusula que autoriza o credor fiduciário a ficar com a coisa se a dívida não for paga pelo fiduciante (é a chamada vedação da Cláusula Comissória ou Pacto Comissório – art. 1428 do Código Civil). Além disso, o credor fiduciário deve descontar o valor do seu crédito do importe apurado com a venda e por à disposição do devedor fiduciante eventual saldo.

4.2. Faturização ("factoring") ou Fomento Mercantil

CONCEITO: Faturização é o contrato pelo qual um empresário (faturizador) presta a outro (faturizado) serviços de ADMINISTRAÇÃO DO CRÉDITO concedido e GARANTE O PAGAMENTO das faturas emitidas. É comum, também, o contrato abranger a ANTECIPAÇÃO DO CRÉDITO, numa operação de financiamento.

A administração da concessão de créditos compreende:- Controle dos vencimentos;- Acompanhamento da flutuação das taxas de juros;- Contato com os seus devedores inadimplentes; etc.

O contrato de factoring tem como elementos pessoais:

Factor (faturizador): empresário que adquire os créditos, com ou sem adiantamento do respectivo valor, assumindo os riscos quanto ao inadimplemento do devedor.

Faturizado (aderente, devedor): empresário que cede crédito oriundo de suas relações empresariais;

Compradores do vendedor (clientes): pessoas que compram do faturizado, podendo ser pessoas físicas ou jurídicas, comerciantes ou não.

66

Page 67: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Há duas MODALIDADES de faturização:

O conventional factoring: a faturizadora garante o pagamento das faturas antecipando o seu valor ao faturizado. Essa modalidade compreende, portanto, três elementos: serviços de administração do crédito, seguro e financiamento.

O maturity factoring, modalidade em que estão presentes apenas a prestação de serviços de administração do crédito e o seguro e ausente o financiamento.

O faturizador assume, também, as seguintes OBRIGAÇÕES:

a) Gerir os créditos do faturizado, procedendo ao controle dos vencimentos, providenciando os avisos e protestos assecuratórios do direito creditício, bem como cobrando os devedores das faturas;

b) Assumir os riscos do inadimplemento dos devedores do faturizado;

c) Garantir o pagamento das faturas objeto de faturização.

Responsabilidade do faturizado pelo inadimplemento do devedor principal

Posição de Fábio Ulhoa:

FOMENTO MERCANTIL X DESCONTO BANCÁRIO

A principal diferença entre esses dois contratos é em relação ao direito de regresso (na hipótese de inadimplemento do terceiro devedor), que inexiste no Fomento Mercantil. Enquanto a faturizadora garante o recebimento do valor faturizado (não podendo cobrá-lo, em regresso, do faturizado), mesmo que inadimplente ou insolvente o devedor, o banco descontador não fornece essa garantia, pois poderá cobrar, em regresso, o valor do cliente descontário.

Posição do Min. Humberto Gomes de Barros, do STJ:

RECURSO ESPECIAL Nº 820.672 - DF (2006/0033681-3)RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS

CHEQUE - ENDOSSO - FACTORING - RESPONSABILIDADE DA ENDOSSANTE-FATURIZADA PELO PAGAMENTO.- Salvo estipulação em contrário expressa na cártula, a endossante-faturizada garante o pagamento do cheque a endossatária-faturizadora (Lei do Cheque, Art. 21).

4.3. Arrendamento mercantil ("leasing")

Em uma definição doutrinária, pode-se dizer que o arrendamento mercantil é a locação caracterizada pela faculdade conferida ao locatário (arrendatário) de, ao seu término do prazo locatício, optar pela compra do bem locado.

O leasing é a sucessão de dois contratos, o de locação e o de compra e venda, sendo este último opcional.

Inexiste tipificação legal desse negócio jurídico. Assim, rege-se este pelas cláusulas pactuadas entre os contratantes.

O contrato de leasing tradicional envolve três agentes:a) o arrendante ou arrendadorb) o arrendatário ec) o fornecedor do bem.

Modalidades de contrato de leasingA exploração da atividade de leasing é disciplinada pela Resolução BC nº. 2.309/96, do Conselho Monetário Nacional, que distingue 2 modalidades:

67

Page 68: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

Leasing financeiro ou tradicional : é a operação por meio da qual um empresário se dedica habitual e profissionalmente a adquirir bens, produzidos por outros, para arrendá-los mediante retribuição. É o chamado arrendamento mercantil financeiro. Aqui também se aplicam as regras da Lei n. 6.099/74.

No leasing financeiro existem três relações jurídicas distintas:

Contrato de mandato : Locação : Promessa de venda :

Leasing operacional ou renting : é celebrado entre o próprio fabricante ou proprietário do bem (arrendador) e o arrendatário. Não há participação de uma terceira parte.

Lease-back (ou Leasing de retorno) : é o contrato celebrado entre o próprio vendedor do bem, na qualidade de arrendatário, e a arrendante compradora. Nesse caso aplica-se a

regra da Lei n. 6.099/74. Utilizável como instrumento de obtenção de capital pelas

empresas, funciona como o arrendamento clássico, mas prescinde da figura do fornecedor, uma vez que o bem objeto do contrato já pertence ao locatário (art. 9º da Lei nº. 6.099/74);

Exemplo: uma empresa possui dez máquinas essenciais para o seu funcionamento. Se a empresa não tiver mais recursos para manter-se, é possível o lease-back, que consistiria na venda das máquinas ao arrendante, permanecendo a empresa com as mesmas, porém não mais na qualidade de proprietária, mas sim de arrendatária.

Observação 1: A principal diferença entre o leasing operacional e o leasing financeiro é o valor do resíduo (VRG), que no financeiro é inexpressivo e no operacional é expressivo, correspondendo ao valor de mercado do bem arrendado.

Observação 2: Tanto o leasing operacional e quanto o leasing financeiro podem ser oferecidos ao mercado por sociedades de arrendamento mercantil (S.A. dependente de autorização do Banco Central) ou por Bancos Múltiplos.

Observação 3: Self-lease: é realizado entre empresas que formam o mesmo grupo societário. De acordo com Silvio Venosa, essa modalidade é proibida entre nós pelo art. 2º da lei 6.099/74, é contrato realizado entre empresas coligadas ou do mesmo grupo. A vedação legal objetiva coibir fraudes.

O STJ revisou seu posicionamento e tem se firmado no sentido de que o pagamento antecipado do VRG não descaracteriza o contrato de leasing.

COM EFEITO, O STJ CANCELOU A SÚMULA 263.

Outro aspecto a acentuar é o da responsabilidade pelos danos decorrentes do uso da coisa arrendada. Enquanto a arrendatária não exerce sua opção de compra, a arrendadora tem a posição contratual de locadora e a situação jurídica de proprietária do bem. Em princípio, portanto, deveria responder por danos provenientes do uso da coisa de sua propriedade. Mas, não obstante, a jurisprudência tem entendido que não se pode responsabilizá-la neste caso. A Súmula 492 do STF, referente à responsabilização dos locadores de veículos, não tem sido aplicada às sociedades operadoras de leasing.

Inadimplemento do contrato de leasing

Se o arrendatário descumprir a obrigação de pagar as prestações, o contrato de arrendamento se resolve, podendo o arrendante retomar o bem por meio de uma ação de reintegração de posse.

68

Page 69: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

ADENDOS

69

Page 70: Apostila - Direito rial III - 2010

Declarações Cambiais nos Títulos de Crédito PrópriosBaseado na Letra de Câmbio

SAQUE ACEITE ENDOSSO AVAL VENCIMENTO PAGAMENTO PROTESTO AÇÃO CAMBIAL

Requisito não essencial (época do pagamento)

Facultativo (LC); Obrigatório (Dupl.)

Endosso (Próprio ou Pleno e Impróprio)

Obrigação autônoma e equivalente

Ato de exigibilidade do crédito cambial

Ato de extinção do crédito cambial

Prova inadimplência e descumprimento

de obrigação.

Aceitante e avalista: 3 anos, do

vencimento

Cláusula Mandato (Súmula 60 STJ)

Aceitante é o devedor principal da

LC.

Endosso impróprio: Endosso-Mandato (oponibilidade) e Endosso-Caução (inoponibilidade)

Em todos os títulos de crédito, o aval

em branco presume dado ao

emitente ou sacador.

Espécies: Ordinário e

Extraordinário

É vedado ao credor recusar o

pagamento parcial

Prazo: 2 dias úteis após o vencimento

Sacador, endossante e

avalista: 1 anos, do protesto ou do

vencimento se com a cláusula sem

despesa.

Título em Branco ou incompleto

(Súmula 387 STF)

Recusa total ou parcial acarreta o

vencimento antecipado

Cláusula Não à Ordem

Aval X Fiança (Diferenças)

Classificação:- Venc. dia certo;- Venc. à vista;-Certo termo de

vista;- Certo termo de

data;

Pgto. pelo devedor principal: Extingue

todas.Pgto. pelos co-

devedores: Extingue uma ou

algumas.

Protesto Necessário: Conservar

responsabilidade dos co-devedores;

Protesto Facultativo: Para o devedor principal.

É dispensável

Com a prescrição o título apenas serve

como prova de obrigação

extracambial.

Recusa Parcial (Limitativo ou modificativo)

Cláusula sem garantia ou sem

protesto

Exige outorga uxória (art. 1.647, III CC) – exceção

regime da separação obrigatória.

Apresentação para pagamento: no

vencimento.

Cláusula Sem Despesa (dispensa

protesto). Se inserida no

momento do saque (aproveita todos).

Duas ações restantes: Ação

Monitória e Ação de Conhecimento

(cobrança)

Cláusula Não Aceitável

Endosso X Cessão Civil

É possível o aval parcial. Exceto

para os títulos de crédito do Código

Civil.

Importância da apresentação: prazo para o

protesto

Se inserida pelo endossante e

avalista (apenas a eles aproveita)

Chamadas Ações Causais, porque discutem a causa

da obrigação.

Endosso Póstumo ou Tardio

Avais simultâneos. Súmula 189 do

STF.

Após prescrição da ação cambiais a

obrigação do avalista

desaparece.É nulo o endosso

parcial

Page 71: Apostila - Direito rial III - 2010

MODELO DE LETRA DE CÂMBIO

VENCIMENTO: _____/________________/_______. R$ _____________

No dia ________________ de ____________________ de ______ V. Sa. pagará por esta única via de LETRA DE CÂMBIO, na praça de

________________________________ ao (à) Sr. (a) ____________________________________________ ou à sua ordem, a quantia de R$

__________________, (_____________________________________________________), em moeda corrente do País.

Ao Sr.

_____________________________________________________

Endereço

CPF

(sacado) _______________________, __________________________

Local Data

_____________________________

(sacador)

Ace

ite:

___

____

____

____

____

____

____

____

___

Page 72: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

MODELO DE NOTA PROMISSÓRIA

Nº. _______________ Vencimento: _____ de ______________ de _______.

R$ _________________(valor)

 

No dia _________________________________________________________ (data do vencimento por extenso)

pagar______ (ei/emos) por esta única via de NOTA PROMISSÓRIA, na praça de __________________________

(Cidade e Estado) a _______________________________________________ (nome da pessoa a quem deve ser

paga), inscrito no CPF ou CNPJ nº. ____________________ ou à sua ordem a quantia de

(colocar por extenso a importância a ser paga), em moeda corrente deste país.

____________________________________Local e data da emissão da nota promissória.

 

________________________________ _______________________________(nome legível do emitente) Assinatura do Emitente

 

CPF ou CNPJ do emitente: ____________________________

Endereço completo do emitente: _______________________________________________________________

Ava

lista

1:

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

CP

F:

Ava

lista

2:

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

CP

F:

72

Page 73: Apostila - Direito rial III - 2010

DIREITO EMPRESARIAL III – TÍTULOS DE CRÉDITO5º PERÍODO

MODELO DE DUPLICATA

Modelo de declaração de entrega de mercadoriaa ser feito no verso de Duplicatas de Venda Mercantil (DM)

          "Declaro sob as penas da lei que a Nota Fiscal-Fatura que deu origem ao saque da duplicata, bem como o comprovante da efetiva entrega da mercadoria correspondente, são mantidos em nosso poder, comprometendo-nos a exibi-los a qualquer momento que exigidos, no lugar em que for determinado, especialmente no caso de sobrevir a sustação judicial do protesto. (Provimento CG n. 30/97, subitem 11.1)."

(local), _____ de ____________________________ de _____.

____________________________________________(assinatura e carimbo do responsável da firma credora)

73