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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS – CECE CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA Fundamentos de técnicas de alta tensão Jonas Roberto Pesente. Foz do Iguaçu, 2004.

Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

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Page 1: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS – CECE

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

Fundamentos de técnicas de

alta tensão

Jonas Roberto Pesente.

Foz do Iguaçu, 2004.

Page 2: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

FUNDAMENTOS DE TÉCNICAS DE

ALTA TENSÃO

Apostila elaborada durante o projeto de extensão do acadêmico Jonas Roberto Pesente, a fim de cumprir com as atividades de extensão exigidas pela Universidade do Oeste do Paraná – Unioeste, para o título de graduação em Engenharia Elétrica.

Coordenador: Professor Marcelo Fabiano Latini

Foz do Iguaçu, 2004

Page 3: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe.

Page 4: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

AGRADECIMENTOS

Agradeço o apoio, a disposição e a paciência dos funcionários do

laboratório eletromecânico da UHE ITAIPU – SMIL.DT, em especial ao

Engenheiro eletricista Geraldo Carvalho Brito Junior pela orientação e

principalmente pela amizade; ao técnico em eletromecânica Jaci Florêncio

de Souza presente nos experimentos e nas explicações, ao Engenheiro

Eletrônico Luiz Marcelo Gasparetto pelo auxílio na programação e

entendimento dos algoritmos de comunicação, ao Engenheiro José Simão

Filho por proporcionar a realização dos ensaios viabilizando os

equipamentos, ao Engenheiro Marcelo Latini por ser veículo de minha

estadia junto ao laboratório eletromecânico de Itaipu e aos colegas e

futuros Engenheiros eletricistas Rafael, Fernando e Alysson pela amizade e

companhia. Além desses nomes, toda a equipe laboratorial deve ser

agradecida e relembrada, mesmo que informalmente: Laerti, Borges,

André, João Carlos, Cristian, Neves, Edson (filosofo informal), Olivi, Walter,

Júlio, Paulo Nunes e a todos que minha memória insiste em não recordar

neste momento, mas que serão com certeza, relembrados dia após dia,

durante minha carreira como profissional de eletricidade.

Page 5: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

EPÍGRAFE

“Question of science and progress don’t speak as loud as my heart”.

Coldplay

Page 6: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

RESUMO

PESENTE, J. R. (2004). Fundamentos de técnicas de alta tensão.

Atividade extracurricular (Extensão) – Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2004.

As atividades desenvolvidas durante o período de extensão se

concentraram na montagem das bancadas, verificação das instalações

físicas e calibração dos equipamentos: uma fonte de tensão DC 50 kV,

barramentos reduzidos que reproduzem barramentos energizados em alta

tensão, uma barra e um segmento de barra estatórica, um resistor e um

capacitor de potência, um equipamento de medição de descargas parciais e

medidores de resistência de isolamento (meggers). Primeiramente, foi feita

uma reforma das instalações do laboratório eletromecânico de propriedade

de Itaipu Binacional, onde estão alojados os equipamentos.

Seqüencialmente, foram construídas cercas de contenção com a fim de

garantir a segurança dos alunos e dos operadores, feitas as instalações dos

equipamentos juntamente com a malha de aterramento. A apostila

formulada é parte complementar da implantação do laboratório e, visa tanto

à reunião de vários tópicos de importância à disciplina de técnicas de alta

tensão oferecida aos alunos de Engenharia Elétrica da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, que cursam ênfase em sistemas

de potência, como a congruência da teoria de técnicas de alta tensão com a

prática.

Page 7: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

ABSTRACT

The activities done between May and September of 2004 got

concentrate in mounting the workbenches, physical installations and

calibration of the equipments of the high voltage’s lab, which are: a DC

Voltage Source-50 kV, reduced buses which express high voltage buses, a

full and a fragmented stator’s bar, a power resistor and a power capacitor, a

partial discharges tester, and meggers. First, a building reform was

performed in the Itaipu Binacional’s electromechanic lab, where the high

voltage’s lab remain, then, retaining fences were build to yield security

guarantee to student and users, and finally, an earth network was made,

and the equipments installed were earthed. This work is a complementary

part of the lab’s construction, and has the purpose to be as much as an

assembly of the most important topics to the High Voltage Techniques

course available to the students of Electric Engineering in Univeridade

Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste which course the Power Systems

emphasis, as a link of the theory to practice in high voltage techniques.

Page 8: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Balança de torção utilizada por Coloumb. ______________________________________ 7

Figura 2.2- Polarização nas extremidades do dielétrico ______________________________________ 9

Figura 2.3 - Refração do campo elétrico, as linhas de campo podem ser observadas em branco _____ 10

Figura 2.4 a) e b) - Modelo do dispositivo e configuração do campo elétrico ____________________ 11

Figura 2.5 a) e b) - Modelo do dispositivo e configuração do campo elétrico correspondente _______ 12

Figura 2.6_________________________________________________________________________ 15

Figura 2.7_________________________________________________________________________ 16

Figura 2.8_________________________________________________________________________ 18

Figura 2.9_________________________________________________________________________ 18

Figura 2.10________________________________________________________________________ 19

Figura 2.11________________________________________________________________________ 20

Figura 2.12________________________________________________________________________ 21

Figura 2.13________________________________________________________________________ 28

Figura 2.14 - o campo elétrico entre os materiais não é modificado quando um material condutor é

colocado entre eles. _________________________________________________________________ 29

Figura 2.15________________________________________________________________________ 29

Figura 2.16 – placas paralelas separadas por camadas de cristais e uma camada de ar____________ 31

Figura 2.17 – linhas equipotenciais do capacitor do exemplo E-1._____________________________ 32

Figura 2.18 – Exemplo E-2.___________________________________________________________ 33

Figura 2.19 – Resolução de E-2, c)._____________________________________________________ 34

Figura 2.20________________________________________________________________________ 35

Figura 2.21 – Representação de um dispositivo onde existe extra-rigidez._______________________ 36

Figura 3.1 – molécula com dipolo elétrico permanente H2O _________________________________ 38

Figura 3.2 – Alinhamento das moléculas com a aplicação do campo elétrico.____________________ 38

Figura 3.3 a) um atómo em sua configuração natural, b) com dipolo induzido.___________________ 39

Figura 3.4 – mecanismo de polarização dos dielétricos._____________________________________ 40

Figura 3.5 – Polarização iônica, material sem o efeito do campo elétrico e sob efeito do campo elétrico.

_________________________________________________________________________________ 42

Figura 3.6 – Polarização por orientação de dipolos. _______________________________________ 43

Figura 3.7 – Polarização de cargas espaciais. ____________________________________________ 43

Figura 3.8 – Polarização versus freqüência. As polarizações com resposta mais rápida prosseguem nas

freqüências mais elevadas.____________________________________________________________ 44

Figura 3.9_________________________________________________________________________ 44

Figura 3.10________________________________________________________________________ 46

Figura 3.11________________________________________________________________________ 47

Figura 3.12 – Curvas típicas mostrando a variação da resistência de isolamento com o tempo para

isolamento de classe B. ______________________________________________________________ 50

Figura 3.13 – Definição de fator de perdas. ______________________________________________ 51

Page 9: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

Figura 3.14 – Dielétrico ideal com fator de perdas igual a zero. ______________________________ 52

Figura 3.15 – Variação do ângulo d com a temperatura, para materiais orgânicos. _______________ 55

Figura 3.16 – Variação do fator de perdas de acordo com a temperatura do papel (orgânicos polares).55

Figura 3.17________________________________________________________________________ 57

Figura 3.18________________________________________________________________________ 58

Figura 3.19 – Circuito esquemático do Megôhmetro _______________________________________ 59

Figura 3.20________________________________________________________________________ 60

Figura 3.21________________________________________________________________________ 60

Figura 3.22________________________________________________________________________ 61

Figura 3.23________________________________________________________________________ 63

Figura 3.24 a) e b), respectivamente ____________________________________________________ 64

Figura 3.25________________________________________________________________________ 68

Figura 3.26________________________________________________________________________ 68

Figura 3.27________________________________________________________________________ 69

Figura 3.28________________________________________________________________________ 69

Figura 4.1 – Processo das descargas ___________________________________________________ 74

Figura 4.2-a, b e c exemplificando, respectivamente, o diagrama da Figura 4.1. _________________ 75

Figura 4.3 – Fenômenos produzidos pelas descargas parciais. _______________________________ 76

Figura 4.4 – Comparação entre sinais elétricos comuns e sinais gerados pelas DP’s. _____________ 78

Figura 4.5 – Representação de uma cavidade em um dielétrico: “I” corresponde à porção defeituosa do

dielétrico e “II” corresponde a parte não-defeituosa._______________________________________ 79

Figura 4.6 – Comportamento das DP’s em uma cavidade. ___________________________________ 79

Figura 4.7 – Circuito elétrico que representa o dielétrico. ___________________________________ 80

Figura 4.8 – Circuito elétrico simplificado._______________________________________________ 80

Figura 4.9 – Circuito com impedância em série com capacitor de acoplamento.__________________ 83

Figura 4.10 – Circuito onde a impedância de medição fica em série com o OT. __________________ 83

Figura 4.11 – Circuito utilizado quando tanto o lado de baixa do OT, quanto o capacitor estão isolados

da terra. __________________________________________________________________________ 84

Figura 4.12 – Circuito de ensaio. ______________________________________________________ 84

Figura 4.13 – Circuito com impedância resistiva.__________________________________________ 85

Figura 4.14 – Circuito com impedância indutiva. __________________________________________ 85

Figura 4.15 – Diagrama simplificado do circuito de ensaio. _________________________________ 86

Figura 4.16 – Calibração direta do circuito de ensaio.______________________________________ 87

Figura 4.17 – Calibração indireta do circuito de ensaio. ____________________________________ 88

Figura 4.18 –Circuito de detecção de descargas parciais____________________________________ 90

Figura 4.19 – Resposta ao impulso com impedância igual à RC. ______________________________ 91

Figura 4.20 – Resposta ao impulso de tensão de uma impedância RLC. ________________________ 92

Figura 4.21 – Relação entre a tensão e a freqüência dos pulsos de Trichel.______________________ 95

Figura 4.22 – Mecanismos de falhas nos sólidos. __________________________________________ 96

Figura 5.1 – Elementos de um gerador de alta tensão DC.__________________________________ 101

Page 10: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

Figura 5.2 – Forma de onda de um retificador monofásico de meia onda de alta tensão. __________ 103

Figura 5.3 – Circuito dobrador de “n” estágios __________________________________________ 104

Figura 5.4 – Formas de onda de um dobrador de “n” estágios.______________________________ 104

Figura 5.5 – Seções transversais dos transformadores utilizados para testes em alta tensão. _______ 108

Figura 5.6 – Utilização de dois elementos em série sobre um núcleo magnético _________________ 109

Figura 5.7 – Diagrama esquemático de transformadores em cascata. _________________________ 109

Figura 5.8 – Circuitos série-ressonantes. _______________________________________________ 111

Figura 5.9 –Conversor de freqüência utilizado junto com o gerador de alta tensão. ______________ 113

Figura 5.10 -Forma de onda plena para o impulso de tensão. _______________________________ 114

Figura 5.11 - Onda de tensão escarpada na frente.________________________________________ 115

Figura 5.12 – Circuito representativo de um Gerador de Marx ______________________________ 116

Figura 5.13 – Forma de ligação para o ensaio de impulso. _________________________________ 116

Figura 5.14 – Tensões normalizadas para ensaios de impulso. ______________________________ 117

Figura 6.1 – Representação esquemática de um medidor de esferas de centelhamento vertical. _____ 121

Figura 6.2 – Modelo aceito do divisor de alta tensão.______________________________________ 127

Figura 6.3 – Circuito equivalente do divisor resistivo de tensão, utilizado nas medições de alta tensão.

________________________________________________________________________________ 129

Figura 6.4 – Modelo mais simplificado para o circuito do divisor resistivo de alta tensão._________ 131

Figura 6.5 – Comparação entre as respostas ao degrau, de acordo com a Equação 6.7. __________ 132

Page 11: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Evolução do expoente de "d" na Equação 2.1 ____________________________________ 7

Tabela 2.2 – Comparação entre os valores das constantes. __________________________________ 23

Tabela 2.3 – Propriedades de alguns dielétricos. __________________________________________ 27

Tabela 3.1 – Comparativo entre os ensaios de resistências de isolamento dos diferentes materiais

isolantes __________________________________________________________________________ 48

Tabela 3.2 – Condição da isolação indicada pelas razões de absorção dielétrica e índice de polarização

pela aplicação de uma tensão de 500V CC._______________________________________________ 50

Tabela 3.3 – Resistência de isolamento à diferentes temperaturas _____________________________ 65

Tabela 3.4 – Fatores de correção ______________________________________________________ 66

Tabela 5.1 – Capacitâncias características de elementos de alta tensão. _______________________ 107

Tabela 6.1 – Relações mínimas de construção, parâmetros A e B. ____________________________ 120

Tabela 6.2 – Valores de tensão de acordo com a distância entre esferas - 1ª parte _______________ 122

Tabela 6.3 - Fatores de correção das tensões nas tabelas anteriores __________________________ 125

Page 12: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT – Associação brasileira de normas técnicas

FRA – Frequency response analysis

FRF – Função de resposta em freqüência

IEC – International Electrotechnical Commission

LIT – Linear e invariante no tempo

MCPD – Medição de correntes de polarização e despolarização

SMIL.DT – Superintendência de manutenção – ingenería de laboratorio, Diretoria

técnica

SOM – Sistema de Operação e Manutenção

UHE – Usina Hidrelétrica

Page 13: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1

1.2 PESQUISAS DESENVOLVIDAS PELO LABORATÓRIO ELETROMECÂNICO

DA ITAIPU BINACIONAL 2

1.3 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS 2

2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS. 4

2.1 INTRODUÇÃO 4

2.2 CARGA ELÉTRICA 4

2.3 LEI DE COLOUMB 5

2.4 MÉTODO EXPERIMENTAL UTILIZADO POR COULOMB 6

2.5 INFLUÊNCIA DO MEIO 8

2.6 CAMPO ELÉTRICO 9

2.7 REFRAÇÃO DO CAMPO ELÉTRICO 10

2.8 CAMPO ELÉTRICO EM QUINAS E BORDAS 10

2.9 SUSCEPTIBILIDADE ELÉTRICA – UMA VISÃO MICROSCÓPICA 12

2.9.1 EFEITO DE DISTORÇÃO – CAMPO ESTÁTICO 13

2.9.2 EFEITO DE DISTORÇÃO – CAMPO VARIÁVEL 14

2.9.3 MOLÉCULAS COM MOMENTO DE DIPOLO PERMANENTE 15

2.9.4 COMPORTAMENTO DO DIELÉTRICO NO CAMPO ELÉTRICO E A SUSCEPTIBILIDADE

ELÉTRICA 17

2.9.5 SUSCETIBILIDADE, CONSTANTE DIELÉTRICA E PERMISSIVIDADE 21

2.10 LEI DE GAUSS 23

2.11 DIFERENÇA DE POTENCIAL ELÉTRICO E POTENCIAL ELÉTRICO 24

2.12 CAPACITÂNCIA 26

2.13 CAPACITOR DE PLACAS PARALELAS COM ISOLANTE ESTRATIFICADO 28

2.14 EXEMPLOS. 31

2.15 DISPOSITIVOS COM MATERIAIS ISOLANTES DISPOSTOS EM CAMADAS

LONGITUDINAIS 35

Page 14: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

3 INTERPRETAÇÃO ATÔMICA DAS PROPRIEDADES DOS DIELÉTRICOS 37

3.1 INTRODUÇÃO 37

3.2 COMPORTAMENTO DIELÉTRICO DOS ISOLANTES - POLARIZAÇÃO DO

DIELÉTRICO 37

3.2.1 POLARIZAÇÃO NOS DIELÉTRICOS POLARES 37

3.2.2 POLARIZAÇÃO NOS DIELÉTRICOS NÃO POLARES 38

3.3 POLARIZAÇÃO NOS CAPACITORES 39

3.4 MECANISMOS E EFEITOS DA POLARIZAÇÃO NOS DIELÉTRICOS 41

3.4.1 POLARIZAÇÃO ELETRÔNICA – PE 41

3.4.2 POLARIZAÇÃO IÔNICA – PI 42

3.4.3 POLARIZAÇÃO POR ORIENTAÇÃO DE DIPOLOS (DIPOLAR) - PO 43

3.4.4 POLARIZAÇÃO DE CARGAS ESPACIAIS (ESTRUTURAL) - PS 43

3.4.5 POLARIZAÇÃO ESPONTÂNEA - PT 43

3.5 RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA DOS DIELÉTRICOS 44

3.6 MODELAGEM DE UM CIRCUITO DIELÉTRICO 44

3.7 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DOS PARÂMETROS DOS DIELÉTRICOS 47

3.7.1 MEDIDA DA RESISTÊNCIA DE ISOLAMENTO 47

3.7.2 ENSAIO DE ABSORÇÃO DIELÉTRICA 49

3.7.3 ENSAIO DE FATOR DE PERDAS(TG δ) 51

3.8 O USO DO MEGÔHMETRO 56

3.8.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 56

3.8.2 OBSERVAÇÕES FINAIS A RESPEITO DOS MEGAOHMÍMETROS 61

3.8.3 MEDIÇÃO DA RESISTÊNCIA DE ISOLAMENTO 63

3.8.4 EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO DO MEGÔHMETRO COM O TERMINAL “GUARDA”: 68

3.9 SUMÁRIO 69

4 RUPTURA DOS DIELÉTRICOS 71

4.1 INTRODUÇÃO 71

4.2 RUPTURA NOS GASES 71

4.2.1 TRANSIÇÃO ENTRE AS DESCARGAS NÃO SUSTENTADAS AO ROMPIMENTO. 72

4.2.2 A FORÇA DE CAMPO DE ROMPIMENTO (EB) 72

4.2.3 DESCARGAS PARCIAIS 73

4.2.4 DESCARGAS ATRAVÉS DO EFEITO CORONA 93

4.3 DESCARGAS NOS SÓLIDOS 95

4.4 DESCARGAS NOS LÍQUIDOS 98

Page 15: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

4.5 SUMÁRIO 99

5 GERAÇÃO DE ALTAS TENSÕES 100

5.1 INTRODUÇÃO 100

5.2 GERAÇÃO DE ALTAS TENSÕES EM CORRENTE CONTÍNUA 100

5.2.1 RETIFICAÇÃO DE TENSÕES EM AC 101

5.3 GERAÇÃO DE ALTAS TENSÕES ALTERNADAS 106

5.3.1 TRANSFORMADORES UTILIZADOS PARA TESTE 107

5.3.2 CIRCUITOS SÉRIE RESSONANTES. 110

5.3.3 TENSÕES DE IMPULSO 114

5.4 SUMÁRIO 117

6 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DE ALTAS TENSÕES 119

6.1 INTRODUÇÃO 119

6.2 MEDIÇÕES DE TENSÕES DE PICO ATRAVÉS DE FENDAS DE

CENTELHAMENTO 119

6.3 DIVISORES DE TENSÃO 126

6.3.1 DIVISORES DE TENSÃO RESISTIVOS 128

6.3.2 DIVISORES DE TENSÃO CAPACITIVOS 133

6.3.3 DISTORÇÃO CAUSADA PELO BRAÇO DE BAIXA TENSÃO 133

6.4 SUMÁRIO 133

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 134

ANEXO 1 – ENSAIO DE UM TRANSFORMADOR TRIFÁSICO DA COMPANHIA DE

ELETRICIDADE DE PERNAMBUCO. 135

Page 16: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As altas tensões são particularmente interessantes em equipamentos

que trabalham com potências elevadas e no transporte de energia, no

primeiro caso pelo fato de diminuir a corrente e o aquecimento dos

materiais daqueles, e no último caso pelo fato de minimizar as perdas - que

são tão menores quanto maiores forem as respectivas tensões. Em

contrapartida, tensões elevadas geram grandes complicações no que diz

respeito à isolação dos equipamentos, e, elevando muito a gravidade dos

danos quando um acidente acontece. Somado às complicações, a

complexidade de um modelamento matemático se torna tanto maior quanto

mais elevada for a tensão, portanto, o estado da arte atual dessas técnicas

é basicamente composto por aproximações, por novas tecnologias ou

processamentos numéricos computacionais. Por essas razões, técnicas de

alta tensão são desenvolvidas e pesquisas relacionadas a elas são feitas

extensivamente.

Esta apostila visa em primeira instância à consolidação da disciplina de

“Técnicas de Alta Tensão” oferecida pela Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – Unioeste, aos alunos do curso de Engenharia Elétrica que estão

matriculados na ênfase de Sistemas de Potência. Atualmente, essa

disciplina é lecionada pelo Professor e Engenheiro Marcelo Fabiano Latini,

gerente do Laboratório Eletromecânico da Usina Hidrelétrica de Itaipu

Binacional (SMIL.DT / IB), onde as aulas são ministradas, e por essa razão

existe a possibilidade de se fazer um link direto da teoria e da prática de

técnicas de alta tensão.

O SMIL.DT é acreditado atualmente nos padrões internacionais de

resistência, tensão, freqüência, grandezas mecânicas, entre outras, com

precisão e exatidão suficientes para que seja um laboratório respeitável, e é

responsável pela padronização industrial de equipamentos da IB.

Page 17: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

2

Nesta primeira edição desta apostila, se pretende auxiliar estudantes e

profissionais a conhecer técnicas básicas de geração e medição de altas

tensões, conhecer fisicamente os mecanismos básicos de condução e

ruptura de dielétricos, os procedimentos e efeitos da polarização, e os

métodos de calibração de equipamentos.

1.2 PESQUISAS DESENVOLVIDAS PELO LABORATÓRIO

ELETROMECÂNICO DA ITAIPU BINACIONAL

Além da disciplina em que o SMIL.DT dá suporte, o laboratório

incentivado pelo convênio da IB com a Unioeste e pela parceria entre PTI /

ITAI / ITAIPU fomenta várias pesquisas, em andamento podemos citar:

“Modelagem matemática do rotor da Unidade 9A” pela Acadêmica Suzana

Mensh, a “Modelagem matemática do acelerômetro Piezoelétrico” pelo

Acadêmico André Pasqual, ambas coordenadas pelo Professor e Mestre

Geraldo Brito, dentre outras.

1.3 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

O segundo capítulo tem caráter introdutório. Dessa maneira são

abordados os conceitos físicos relevantes à tensão elevada – características

eletrostáticas, leis físicas, definições, etc.

O terceiro capítulo se contém basicamente no efeito de polarização e

suas implicações, pois o entendimento deste proporciona várias conclusões

em relação aos materiais isolantes, comportamento das tensões, etc. Além

disso, este capítulo possui duas seções direcionadas a definição e ao

procedimento dos principais ensaios que são efetuados nos setores

industriais na avaliação da condição de isolamento de um equipamento – a

IB possui um programa de manutenção que é responsável pela execução

destes ensaios, programa que é coordenado pelo Sistema de Operação e

Manutenção da IB (SOM), assim como a descrição minuciosa dos

equipamentos que são utilizados nessas medições.

Page 18: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

3

O quarto capítulo volta sua atenção às principais causas e

conseqüências do rompimento dos isolamentos. Neste capítulo são

apresentadas as técnicas de avaliação e análise desses fatos.

O capítulo quinto é voltado para os equipamentos e procedimentos de

geração de altas tensões, dando ênfase na aplicação industrial destes

equipamentos. O sexto capítulo então, é voltado à medição dessas tensões,

também descrevendo os equipamentos e as diferentes técnicas de medição,

e também acrescentando seções que evidenciam as aplicações industriais

de tais equipamentos.

Page 19: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

4

2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS.

2.1 INTRODUÇÃO

Os equipamentos elétricos que trabalham submetidos a altas tensões

geram grandes preocupações no que se trata de seu isolamento, que pode

ser representado por modelos de circuitos eletrostáticos, principalmente

capacitâncias.

Esse capítulo tem o intuito de apresentar os conceitos básicos de

eletricidade estática, das leis de Coulomb e Gauss, o conceito de

capacitâncias e as aplicações na engenharia de eletricidade.

2.2 CARGA ELÉTRICA

Os átomos são formados basicamente por elétrons, prótons e

nêutrons. Por convenção, elétrons possuem cargas negativas e prótons

positivas, assim a carga elétrica líquida de um corpo é igual a diferença

entre a quantidade de seus elétrons e prótons, de forma que um corpo com

excesso de elétrons tenha uma carga negativa e com excesso de prótons

uma carga positiva.

A unidade SI de carga elétrica é o Coulomb[C], que é a carga

necessária de dois corpos carregados com carga de sinais opostos para que

haja uma força de atração entre eles igual à um Newton quando separados

por uma distância de 1 metro.

Um Coulomb de carga negativa equivale ao excesso de 6,25 x 1018

elétrons em relação ao número de prótons.

Page 20: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

5

2.3 LEI DE COLOUMB

A força eletrostática existente entre duas cargas pontuais, Q1 e Q2,

separadas por uma distância R e situadas no vácuo, é dada pela lei de

Coulomb e é igual à:

][*

*2

210 N

R

QQkF =

Equação 2.1

onde Q1 e Q2 são as cargas líquidas dos corpos em Coulombs[C], R é a

distância de separação entre os dois corpos em metros [m] e k0 é uma

constante de proporcionalidade influenciada pela permissividade do meio

( 0ξ , permissividade do vácuo, neste caso) e igual à:

2

29

2

2

0

.10.9

.

..4

1

C

mN

C

mN

ξπ

Equação 2.2

Observa-se que com o aumento da permissividade do meio a força

eletrostática entre dois corpos diminui. A permissividade de um meio é

sempre maior que a do vácuo, que por definição é igual a um.

Preenchendo-se, então, o meio com qualquer material, está se aumentando

a permissividade do meio (a permissividade do ar é muito próxima da do

vácuo, porém mesmo assim ainda é maior).

O valor da constante k0 está relacionada com duas equações

fundamentais da eletricidade, a força representada pela lei de Coulomb

(Equação 2.1), e a força entre correntes, representada pela equação

(Equação 2.3), que indica a existência de uma força entre duas correntes

paralelas, e é diretamente proporcional à duas vezes o produto de suas

correntes e sua indutância mútua e inversamente proporcional à sua

distância de separação;

][2

´ ´´

NLR

IIKF m=

Equação 2.3

onde Km é a constante de proporcionalidade entre a força e as

variáveis correlatas.

Page 21: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

6

Tanto k0 como Km correspondem a forças elétricas e magnéticas,

porém existe apenas um grau de liberdade porque há apenas uma nova

quantidade física, a carga elétrica, relacionada com a corrente pela equação

“i = dq/dt”. Assim podemos escolher um valor arbitrário apenas para uma

constante.

A décima primeira conferência geral sobre pesos e medidas, reunida

em 1960, decidiu adotar Km = 10-7, e escolheu Ampère como unidade

fundamental de corrente, que uma vez definido, o Coulomb é aquela

quantidade de carga que flui através de qualquer seção reta de um

condutor em um segundo, quando a corrente é um Ampère.

Dessa forma, as duas constantes estão relacionadas por uma terceira

constante, a velocidade da luz[C], k0 = Km.C2 = 10-7.C2.

2.4 MÉTODO EXPERIMENTAL UTILIZADO POR COULOMB

Os primeiros registros de evidências da existência de propriedades

elétricas da matéria foram feitos por Tales de Mileto aproximadamente em

600 AC, na observação de que quando âmbar era atritado com substâncias

secas, passava atrair corpos leves.

O termo “eletrizado” foi difundido então como propriedade que o

âmbar absorvia quando era atritado com outros objetos secos, uma vez que

em grego âmbar se chama Elektron.

Somente em meados do século XVIII foram deliberadas o que hoje se

chamam de “cargas elétricas” por um cientista chamado Du Fay, na

observação de que cargas elétricas semelhantes se repeliam e cargas

elétricas diferentes atraiam-se, baseado em conclusões obtidas a partir das

cargas absorvidas pelo atrito entre vidro e seda e entre resina e lã,

denominando-se como positiva a carga absorvida pelo vidro quando atritado

com seda – uma vez chamada carga vítrea; e como carga negativa a

absorvida pela resina quando atritada com lã – uma vez também chamada

carga resinosa.

Charles A. Coulomb, engenheiro militar francês, nascido em 1736 e

falecido em 1806, tendo trabalhado também nove anos na Índia, foi

responsável pela quantificação da força existente entre dois corpos com

Page 22: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

7

carga elétrica líquida, formulando a primeira lei fundamental estabelecida

no campo da eletricidade.

Suas observações partiram da construção de uma balança de torção

que leva seu nome, e é representada pela Figura 2.1. O princípio de

funcionamento é o seguinte: duas esferas estão equilibradas nas

extremidades de uma haste horizontal suspensas por um fio. Uma vez que

a esfera “a” está eletrizada, quando a esfera “b”, também eletrizada é

aproximada de “a”, a força que se manifesta entre as esferas gira a haste,

provocando uma torção no fio, que pode ser medida a partir da indicação do

medidor do ângulo de torção do fio. Um relatório das experiências de

Coulomb foi apresentado à Academia de ciências da França em 1785, sendo

o desenho da Figura 2.1 ao lado uma cópia do próprio desenho feito por

Coulomb da balança de torção no relatório citado, balança qual podia medir

forças de até 10-8 [N].

Figura 2.1 – Balança de torção utilizada por Coloumb.

Tabela 2.1 - Evolução do expoente de "d" na Equação 2.1

Teste da lei de Coulomba

Pesquisadores Data Aproximação

Page 23: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

8

Benjamim Franklinc 1755 -----

Joseph Priestleyc 1767 "...de acordo com o quadrado da distância..."

John Robinsonb 1769 menor ou igual à 0,06

Henry Cavendish 1773 menor ou igual à 0,02

Charles A. Coulomb 1785 Alguns por cento, no máximo

James Clerk Maxwell 1873 Menor ou igual à 5.10-5

Samuel J. Plimptone e

Williard E. Lawtonc,d 1936 Menor ou igual à 2.10-9

Edwin R. Williams,

James E. Faller e

Henry A. Hillc,e

1971 Menor ou igual à 2.10-16

a – Valores de n supondo que o expoente de R na equação 1.1 seja igual à (2 + n)

b – os resultados de Robinson e de Cavendish só foram tornados públicos após

Coloumb haver publicado seus resultados

c – essas são as experiências da "lei de Gauss", enquanto que as demais são da de Coulomb

d - trabalho realizado no Worcester Polytechnic Institute

e – trabalho realizado na Wesleyan University

As experiências realizadas por Coulomb verificaram a hipótese

levantada pelos cientistas da época, em que a força existente entre dois

corpos carregados eletricamente é proporcional ao inverso do quadrado da

distância (Fα 1/R2), que é exemplificada cronologicamente na Tabela 2.1.

2.5 INFLUÊNCIA DO MEIO

Como foi dito anteriormente, se os corpos carregados forem separados

por outro material que não ar (e.g. óleo, água), se observa que a força de

interação entre os corpos sofre uma redução que é representada na Equação

2.1 pela constante de proporcionalidade, denominada constante dielétrica

do meio.

Essa constante é função da permissividade do meio, e pode ser

interpretada como grau de polarização que as partículas de um material

podem obter sob a influência de um campo elétrico, como segue:

Se entre duas placas carregadas com cargas de sinais opostos forem

separadas por um determinado material, o campo elétrico existente entre

as duas placas tende a polarizar as partículas desse material, de forma que

na superfície das placas em contato com o mesmo apareçam cargas de

sinais opostos as das placas, de acordo com a Figura 2.2, cargas que são

chamadas cargas de polarização de forma que uma carga livre existente

entre as duas placas sofra a ação de duas forças, F0 devido as cargas

Page 24: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

9

existentes nas placas A e B e Fp devido as cargas de polarização, sendo que

a força resultante seja então, F = F0 - Fp.

Figura 2.2- Polarização nas extremidades do dielétrico

Dessa forma, a força resultante sobre a carga é sempre menor quando

imersa em um material onde existam cargas de polarização do que no

vácuo, o que leva a concluir que a constante dielétrica do meio seja uma

característica que permite medir seu grau de polarização quando sob efeito

de um campo elétrico.

2.6 CAMPO ELÉTRICO

O campo elétrico E é definido, em qualquer ponto, em termos da força

eletrostática F que seria exercida sobre uma carga teste positiva qo colocada

naquele ponto, de acordo com a Equação 2.4 subseqüente:

=

→→

m

V

q

FE

o

Equação 2.4

Uma forma de visualizarmos a direção, sentido e módulo de um campo

elétrico é pela construção de linhas de campo elétrico, que sempre se

originam em cargas positivas e se extinguem sobre cargas negativas, e

onde o módulo do campo pode ser representado nesse caso pela

concentração das linhas de campo.

O módulo do campo elétrico criado por uma carga puntiforme sobre

uma carga de prova positiva qo, de acordo com a lei de Coulomb, é igual a:

=

m

V

R

qE

204

1

πξ

Equação 2.5

Page 25: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

10

e este campo aponta radialmente para fora da carga puntiforme se ela

for positiva e radialmente para dentro da carga puntiforme se ela for

negativa.

2.7 REFRAÇÃO DO CAMPO ELÉTRICO

Ao passar de um meio (permissividade ε1), para outro (permissividade

ε2), o campo elétrico sofre uma variação de direção. Este efeito se chama

refração do campo elétrico e é semelhante ao que ocorre em raios

luminosos na passagem por meios de índices de refração diferentes. Quanto

maior a variação de permissividade, maior será a variação angular do vetor

campo elétrico. Esse efeito pode ser representado pela Figura 2.3, na página

a seguir:

Figura 2.3 - Refração do campo elétrico, as linhas de campo podem ser

observadas em branco

2.8 CAMPO ELÉTRICO EM QUINAS E BORDAS

Em dispositivos elétricos que possuem quinas e bordas, os campos

elétricos podem se tornar infinitamente grandes com pequenas tensões, de

forma que dispositivos isolantes com cantos pontiagudos podem se tornar

Page 26: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

11

não adequados. Muitas vezes, no entanto, essas circunstâncias

desfavoráveis não podem ser evitadas na prática, no entanto, se pode

através das linhas de fluxo representar o traçado do campo, e sua

intensidade com a técnica de elementos finitos1, e dividir esses dispositivos

de acordo com o traçado que possuem:

- Primeiro grupo: Canto situado paralelamente a um plano.

Dispositivos com essa configuração de canto podem ser representados pela

Figura 2.4, e, a configuração de campo elétrico na Figura 2.4, onde se pode

obter uma idéia da intensidade de campo, de acordo com a escala à

esquerda da figura, onde as cores avermelhadas são de intensidade

máxima, as de cores azuladas de intensidade mínima e as regiões em preto

são onde não existe campo elétrico.

Figura 2.4 a) e b) - Modelo do dispositivo e configuração do campo elétrico

- Segundo grupo: ângulos retos. Dispositivos com essa configuração

podem ser representados pela Figura 2.5 e suas configurações de campo

elétrico de acordo com a Figura 2.5, sendo feitas as mesmas considerações

do primeiro grupo:

Page 27: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

12

Figura 2.5 a) e b) - Modelo do dispositivo e configuração do campo elétrico

correspondente1

2.9 SUSCEPTIBILIDADE ELÉTRICA – UMA VISÃO MICROSCÓPICA

Quando um material iônico ou com carga líquida sofre o efeito de um

campo elétrico há uma tendência de que as cargas diferentes sejam

separadas, efeito ao qual se dá o nome de polarização (ver cap. 2). Mas,

mesmo nos materiais onde não há carga líquida, se um campo elétrico for

aplicado, pode haver a polarização por separação de cargas.Aos materiais

que podem ser polarizados se dá o nome de dielétrico.

A polarização de um material é então definida como o momento de

dipolo elétrico do meio por unidade de volume. Assim se “p” é o momento

dipolo induzido em cada átomo ou molécula e “n” o número de átomos ou

moléculas por unidade de volume a polarização é: P = n p [C/m2], que pode

ser provada através da Equação 2.4. Em geral P é proporcional ao campo

elétrico aplicado (E).

Assim, a polarização da matéria pode ser escrita de acordo com a

Equação 2.6:

1 Os modelos da Figura 2.5 são resultados de simulações feitas pelo Engenheiro José Simão utilizando

o software EFcad® - desenvolvido e patenteado pela UFSC.

Page 28: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

13

=

2m

CEP oe εχ

Equação 2.6

onde χe é a suscetibilidade elétrica da matéria e é um número puro.

A suscetibilidade elétrica χe, que descreve a resposta de um meio à

ação de um campo elétrico externo, está, naturalmente, relacionada com as

propriedades dos átomos e moléculas do meio, embora, essa quantidade

seja de caráter macroscópico. Como vimos os átomos adquirem um

momento dipolo elétrico induzido “p” diante de um campo elétrico externo

“E”. Podemos admitir que p é proporcional a E, cujo resultado foi

confirmado através de experiências, e podemos escrever: “p = α εo E” ,

onde “α” é uma constante característica de cada átomo, chamada

polarizabilidade; expressa em [m3]. Se existe n átomos ou molécula por

unidade de volume, a polarização do meio é : P = n p = n α εo E., que

comparando com a equação da suscetibilidade elétrica do material temos a

Equação 2.7.

[ ]ladmensionaane .=χ

Equação 2.7

Desta forma, o cálculo da suscetibilidade elétrica reduz-se ao cálculo

da polarizabilidade dos átomos (ou moléculas) da substância. Isso equivale

a determinar o movimento de um campo externo sobre o movimento dos

elétrons atômicos. Mas para isso é necessário o conhecimento sobre o

movimento eletrônico em um átomo o que envolve as leis da mecânica

quântica.

2.9.1 Efeito de distorção – campo estático

Quando as moléculas de uma substância não têm um momento de

dipolo elétrico permanente, a polarização provém inteiramente do efeito de

distorção produzido pelo campo elétrico sobre as órbitas eletrônicas.

Podemos descrever esse efeito como um deslocamento do centro da

distribuição de carga eletrônica em relação ao núcleo. Tal efeito produz um

Page 29: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

14

dipolo elétrico induzido que, nos átomos, e na maioria das moléculas, é

paralelo ao campo elétrico aplicado.

Cada átomo(ou molécula) tem uma série de freqüências características

ω1…ωn, que corresponde às freqüências da radiação eletromagnética que a

substância pode emitir ou absorver. Essas freqüências constituem o

espectro eletromagnético da substância. Quando o campo elétrico é

constante, a polarizabilidade atômica, denominada polarizabilidade estática,

é dada pela Equação 2.8.

[ ]ladmensionaf

m

e

i i

i

e

i ∑=2

0

2

ϖεα

Equação 2.8

Onde ωi se refere a qualquer das freqüências do espectro

eletromagnético da substância e a somatória estende-se sobre todas as

freqüências. As quantidades designadas por ƒi; são chamadas de

intensidade de oscilador da substância. Estas são todas positivas e menores

do que um, e representam a proporção relativa na qual cada uma das

freqüências do espectro contribui para a polarizabilidade do átomo.

Usando a equação (1.6) encontramos que a suscetibilidade elétrica

estática está de acordo com a equação (1.8).

[ ]ladmensionaf

nxf

m

ne

i i i

i

i

i

e

e ∑ ∑==2

32

0

2

1019,3ωωε

χ

Equação 2.9

Essa expressão relaciona uma propriedade macroscópica, χe , às

propriedades atômicas n, ωi e ƒi da substância.

2.9.2 Efeito de distorção – campo variável

Se um campo é dependente do tempo, podemos esperar um resultado

diferente para a polarizabilidade atômica, nesse caso chamada

polarizabilidade dinâmica, porque a distorção do movimento eletrônico, sob

um campo elétrico dependente do tempo, será naturalmente diferente da

de um campo elétrico estático. Suponhamos que o campo elétrico oscila

com uma freqüência definida “ω”. Esse campo oscilatório sobreporá uma

perturbação oscilatória ao movimento natural dos elétrons. Quando o

Page 30: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

15

amortecimento não é considerado, usando as técnicas da mecânica

quântica, o resultado do cálculo fornece a suscetibilidade dinâmica de

acordo com a Equação 2.10.

[ ]ladmensionaf

m

ne

i i

i

e

e ∑−

=22

0

2

ωωεχ

Equação 2.10

Considerando a constante dielétrica ou permissividade relativa do

meio, que é: “εr = 1 + χe”, no caso dinâmico pode ser expressa pela Equação

2.11.

[ ]ladmensionaf

m

ne

i i

i

e

r ∑−

+=22

0

2

1ωωε

ε

Equação 2.11

Essas equações podem ser discutidas na Figura 2.6, onde εr está em

termos de ω, e se pode observar as freqüências características ω1, ω2…ωi de

cada substância. Essa variação tem uma enorme influência sobre o

comportamento ótico e elétrico da substância.

Figura 2.6

2.9.3 Moléculas com momento de dipolo permanente

As polarizabilidades discutidas no item anterior são "induzidas" porque

advêm de uma distorção do movimento eletrônico por um campo externo.

Entretanto, quando existe um dipolo elétrico permanente, um outro efeito

entra em ação. Consideremos um gás polar cujas moléculas têm um

momento de dipolo permanente Po. Na ausência de qualquer campo elétrico

externo, esses momentos de dipolo são orientados ao acaso e não se

Page 31: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

16

observa qualquer momento de dipolo macroscópico ou coletivo. Entretanto,

quando se aplica um campo elétrico estático, este tende a orientar todos os

dipolos elétricos ao longo da direção do campo, de acordo com a Figura 2.7.

Figura 2.7

O alinhamento poderia ser perfeito na ausência de todas as interações

moleculares, porém as colisões moleculares tendem a desordenar os dipolos

elétricos. O desarranjo não é completo porque o campo elétrico aplicado

favorece a orientação na direção do campo em relação à orientação

contrária. Conseqüentemente, o valor médio da componente do momento

de dipolo elétrico de uma molécula paralela ao campo elétrico é dado pela

Equação 2.12.

=

2

20

3 m

CE

TK

PPmed

Equação 2.12

onde k é a constante de Boltzmann e T é a temperatura absoluta do

gás. Observe que Pmed decresce quando a temperatura aumenta. Essa

dependência da temperatura ocorre porque a agitação molecular aumenta

com um aumento da temperatura; quanto mais rapidamente as moléculas

se movem, mais efetivas elas se tornam na compensação do efeito de

alinhamento do campo elétrico aplicado. Isso produz um decréscimo na

média do momento de dipolo ao longo da direção do campo.

Comparando a Equação 2.11 com a Equação 2.12, obtemos a média ou a

polarizabilidade efetiva de uma molécula; como “α = (po)2/3.εo.k.T” e, se

existe “n” moléculas por unidade de volume, a suscetibilidade efetiva “χe=

n.α” é:

Page 32: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

17

KT

npo

e

0

2

3εχ =

Equação 2.13

Resumindo, observa-se pelas formulas desenvolvidas que na

polarização os fatores preponderantes são: a Intensidade do campo elétrico,

a temperatura e o tipo de constituição molecular do isolante.

2.9.4 Comportamento do Dielétrico no campo elétrico e a susceptibilidade

elétrica

Sempre que um corpo, condutor ou dielétrico, é colocado em um

campo elétrico, há nele uma redistribuição de cargas. Se o corpo for um

condutor, os elétrons livres se distribuem, formando um volume (superfície)

equipotencial, em cujo interior o campo é nulo.

As cargas nas faces do condutor são denominadas cargas induzidas.

No condutor em si, não há excesso de cargas. Em qualquer ponto, no

interior do condutor, o campo é nulo. Nos espaços entre condutor e as

placas, o campo é o que existia antes da inserção do condutor.

Vejamos agora como se comporta um dielétrico quando colocado entre

duas placas. Podemos dizer que em um dielétrico existem moléculas de

polares e não polares conforme Figura 2.7.

a) uma molécula não polar se torna polar quando um dipolo induzido

sob a ação de um campo externo;

b) uma molécula polar, ou dipolo permanente, se orienta segundo a

direção do campo;

c) moléculas polares, em um dielétrico submetido a um campo E,

dirigindo da. Esquerda para a direita.

Page 33: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

18

Figura 2.8

Na Figura 2.8, temos o campo originado no dielétrico pelas cargas

induzidas superficiais. Esse campo é oposto ao campo das duas placas

paralelas, mas, como no dielétrico, as cargas não podem se deslocar

livremente, o campo originado não chega a se igualar ao campo das duas

placas. Portanto, o campo no interior do dielétrico está enfraquecido, mas

não nulo.

Figura 2.9

Numa esfera condutora pode ser feita a mesma análise. Alguns

materiais, tais como a maioria dos metais, contêm partículas carregadas

que podem se mover mais ou menos livremente através do meio. Esses

materiais são chamados condutores. Na presença de um campo elétrico,

eles são também polarizados, mas de uma maneira que, essencialmente,

difere da dos dielétricos.

A menos que as cargas móveis num condutor sejam devidamente

removidas, elas se acumulam sobre a superfície até que o campo por elas

Page 34: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

19

produzido cancele completamente o campo aplicado externo no interior do

condutor, produzindo, dessa forma, o equilíbrio (Figura 2.9). Concluímos,

então, que no interior de um condutor que está em equilíbrio elétrico o

campo elétrico é nulo. Pela mesma razão, o campo elétrico na superfície

deve ser perpendicular à mesma, porque, se houver uma componente

paralela, as cargas se moverão ao longo da superfície do condutor. Além

disso, todos os pontos de um condutor que está em equilíbrio devem estar

a um mesmo potencial, porque o campo, no interior do condutor, é nulo.

Figura 2.10

Se o campo elétrico, no interior do condutor, é nulo, temos também

que div “E = 0”, e portanto a lei de Gauss, na forma diferencial, “div E=

σ/εo” dá “σ = 0” e, desse modo, a densidade de carga no volume do

condutor é zero. Isso significa que toda a carga elétrica de um condutor em

equilíbrio está na sua superfície. Com essa afirmação queremos dizer

realmente que a carga resultante é distribuída sobre uma seção da

superfície tendo uma espessura de diversas camadas atômicas, não uma

superfície no sentido geométrico.

Vamos agora relacionar o campo elétrico na superfície de um condutor

com a carga elétrica superficial. Para isso vamos considerar um condutor de

forma arbitrária, como o da Figura 2.10. Para determinar o campo elétrico

num ponto muito próximo, mas externo, à superfície do condutor,

construímos uma superfície cilíndrica rasa semelhante a uma pastilha, com

uma das bases um pouco externa à superfície do condutor e a outra base

Page 35: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

20

em uma profundidade tal que toda a carga da superfície esteja no interior

do cilindro e possamos dizer que o campo elétrico ali é nulo. O fluxo elétrico

através dessa superfície é composto de três termos. O fluxo através da base

interna é zero, porque o campo é nulo. O fluxo através do lado é zero,

porque o campo é tangente a essa superfície. Portanto permanece apenas o

fluxo através de sua base externa.

Figura 2.11

Dado que a área da base é S, temos “ФE= ES”. Por outro lado, se “σ”

é a densidade de carga superficial do condutor, a carga do interior do

cilindro é “q=σ.S”. Portanto, aplicando a lei de Gauss, “ФE =q/εo” vem:

“E.S = σ.S /εo” ou seja:

=

m

VE

σ

Equação 2.14

A expressão da Equação 2.14 dá o campo elétrico num ponto externo,

mas muito próximo à superfície de um condutor carregado, enquanto que,

no interior, o campo é nulo. Portanto, enquanto a superfície de um condutor

carregado é atravessada, o campo elétrico varia da maneira ilustrada na

Figura 2.11.

Page 36: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

21

Figura 2.12

A Figura 2.12 mostra a força por unidade de área sobre as cargas da

superfície de um condutor. Estas cargas estão sujeitas a uma força

repulsiva devida às outras cargas. A força por unidade de área, ou pressão

elétrica, pode ser calculada multiplicando-se o campo elétrico médio pela

carga por unidade de área. O campo elétrico médio seria: “Emed= σ/2εo.

Portanto, a pressão elétrica é: “Fs = σ Emed = σ2/2εo”.

Qualquer que seja a forma do condutor, os princípios físicos são os

mesmos; as expressões matemáticas do campo são relativamente simples

para a esfera ou elipsoidal, porém para outras formas se tornam

extremamente complexas.

Todo o estudo feito pode então ser aplicado a uma esfera isolante.

Como no caso da Figura 2.12, as cargas induzidas superficiais enfraquecem

o campo no interior da esfera, mas não o torna nulo. O campo no interior

da esfera dielétrica e dos materiais em geral depende das características do

material isolante, denominando assim Ee sendo o campo externo e Ed o

campo no dielétrico, que se relacionam por Er = Ee - Ed.

2.9.5 Suscetibilidade, constante dielétrica e permissividade

Considerando a Figura 2.11 e desprezando o efeito das bordas,

densidade superficial “σ” das cargas induzidas é uniforme. Podemos definir

σ como sendo a densidade de carga nas placas e σi a densidade superficial

das cargas induzida no dielétrico.

Page 37: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

22

As cargas induzidas neutralizam, parcialmente, as cargas livres das

placas, reduzindo a densidade superficial efetiva de “σ” para “σ – σi”.

Portanto, o campo elétrico resultante no interior do dielétrico será:

−=−=

m

VE i

iR

000

)(1

ε

σ

ε

σσσ

ε

Equação 2.15

onde “E = σ/εo” é a componente de campo devido as cargas nas

placas, “Ed=σi/εo” a componente de campo devido as cargas induzidas; “σi”

depende da intensidade de campo “E” ( que induziu as cargas) e da

natureza do dielétrico, “Er” é o campo resultante. Desenvolvendo a equação

acima temos:

,00

i-ERER

ER

EEi

÷−=⇒=

εσ

ε

σ

: temosidade,suscetibil de seja,ou de E

σ Chamando ε1

E

E

E

σ

R

i0

RR

ieχ

−=

∴+=∴=−=

oeR

EooR

EoE

e εχσσεεε

χ E mas

+

=m

V

oo

e

R

ε1ε

χ

σE

No entanto, são feitas as seguintes observações: quanto maior for “χe”

de uma substância, tanto maior será a carga induzida por um dado campo;

para temperatura constante e campos pouco intensos, χe é uma constante,

logo, a densidade superficial de carga induzida é proporcional ao campo

resultante; no vácuo, “χe” é = 0; “Ke =KR” é a constante dielétrica relativa

de uma substância; tanto χe como Ke variam com a temperatura e

intensidade de campo; e εo é a permissividade do dielétrico no vácuo, se “Ke

= 1”, então “ε = εo”.

As propriedades dielétricas de uma substância ficam bem

determinadas quando se conhece “χe” ou “Ke”, ou “ε” e “εo” são ligadas

pelas relações:

o

e

o ε

χ

ε

ε+== 1k e

Equação 2.16

Page 38: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

23

+= =

2

2

eo .

Ck

mNoe εχεε

Equação 2.17

)./( 221 mNCER

oe

σεεχ =−=

Equação 2.18

Finalmente, alguns valores das constantes discutidas podem ser

exemplificados pela Tabela 2.2.

Tabela 2.2 – Comparação entre os valores das constantes.

Substância χe KR

Vácuo 0 1

Vidro 35 a 80.10-12 5 a 10

Mica 18 a 45.10-12 3 a 6

Borracha 13 a 290.10-12 2,5 a 35

Água 708.10-12 81

Ar - 1,00059

Vapor d’água - 1,00705

2.10 LEI DE GAUSS

A lei de Gauss da eletricidade é uma forma alternativa de

representação da lei de Coulomb, ou seja, constituem modos equivalentes

de descrever as relações entre a carga e o campo elétrico em condições

estáticas. A lei de Gauss é dada como

[ ]Cq=φε 0

Equação 2.19

onde “q” é a carga líquida dentro de uma superfície imaginária

fechada, chamada de superfície gaussiana, “Φ” é o fluxo líquido do campo

elétrico (“Φ=E*A”, para uma área “A” conhecida) através da superfície e a

constante multiplicando é a permissividade.

A lei de Gauss, se utilizada com certos argumentos de simetria, pode

implicar em resultados importantes em situações eletrostáticas, com certa

simplicidade, a saber:

Page 39: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

24

As cargas em excesso sob um condutor isolado estão totalmente

localizadas sobre a superfície externa do condutor.

O campo elétrico próximo à superfície de um condutor carregado é

perpendicular a superfície e tem módulo ][VEoε

σ= , onde “σ” é a

densidade de carga por unidade de área.

O campo elétrico num ponto, criado por uma linha infinita de carga,

com densidade linear de carga constante e igual à “λ”, está numa

direção perpendicular à linha de carga e tem módulo ][2

Vr

Eoπε

λ= , onde

“r” é a distância perpendicular da linha ao ponto.

O campo elétrico criado por uma chapa infinita (ou plano infinito)

de carga com densidade superficial de carga constante σ é perpendicular

ao plano da chapa e tem módulo ][2

VEoε

σ= .

O campo elétrico fora de uma casca esférica de carga, de raio “R” e

carga total “q”, tem direção radial e módulo ][.4

12

VR

qE

oπε= , e a carga

se comporta como concentrada no centro da casca para pontos fora

desta, e com “E = 0” exatamente dentro da mesma.

O campo elétrico dentro de uma esfera uniformemente carregada

tem direção radial e módulo ][..4

13

VrR

qE

oπε= , sendo “R” o raio da

esfera e “r” a distância do centro da esfera.

2.11 DIFERENÇA DE POTENCIAL ELÉTRICO E POTENCIAL ELÉTRICO

A variação de energia potencial elétrica de uma carga puntiforme

quando ela se move de um ponto inicial i e um ponto final f inserida num

campo elétrico, é igual ao negativo do trabalho realizado para movimentá-la

nesse trajeto, ou seja,

[ ]JWUUU ifif −=−=∆

Equação 2.20

Page 40: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

25

de modo que se for definido como sendo zero a energia potencial da

carga no infinito, a energia potencial de uma carga num ponto é igual ao

negativo do trabalho que um campo elétrico realizou para trazei-la desde o

infinito para o ponto em questão, definindo assim a energia potencial de

uma carga puntiforme elétrica.

A partir daí, a diferença de potencial elétrico entre dois pontos, é

definida como sendo a variação da energia potencial elétrico da carga

dividida por uma carga de prova sob a qual o campo elétrico realiza

trabalho, ou seja,

][Vq

WVVV

o

if

if −=−=∆

Equação 2.21

Onde “qo” é a carga de prova sob qual o campo realiza trabalho.

Dessa forma, o potencial elétrico em um ponto é igual ao negativo do

trabalho que um campo elétrico exerceu para trazer a carga de prova do

infinito até o ponto em questão, sob a carga de prova.

As superfícies equipotenciais são superfícies onde todos os pontos

possuem o mesmo potencial elétrico. Em muitas circunstâncias, as

superfícies equipotenciais podem ser representadas simetricamente em

relação aos dispositivos energizados, para efeito de facilidade de cálculo,

uma vez que o trabalho realizado por um campo para movimentar uma

carga de prova entre duas superfícies equipotenciais é independente do

caminho a ser tomado, e dependendo do grau de simetria, o campo é

função apenas de uma distância em uma direção. Outra consideração a ser

feita é que o campo elétrico é sempre perpendicular às superfícies

equipotenciais.

O campo elétrico e a diferença de potencial entre um ponto inicial “i” e

um ponto final “f” são relacionados por:

[ ]

∂=⇔−=− ∫

→→

m

V

s

VEVsdEVV s

f

i

if .

Equação 2.22

Para os engenheiros, o potencial de terra é sempre tomado como

referência, uma vez que para o uso da energia da eletricidade é suficiente

Page 41: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

26

saber a diferença de potencial entre dois pontos. Assim, para efeito de

simplificação pode-se fazer “Vi = 0”, que implica em “Vf = V”.

Como consideração final sobre potencial elétrico, pode-se dizer que

uma carga em excesso colocada sobre um condutor estará, no equilíbrio,

localizada sobre a superfície externa do condutor, levando todo o condutor,

inclusive a superfície e os pontos internos ao mesmo potencial elétrico.

2.12 CAPACITÂNCIA

A energia potencial elétrica pode ser armazenada em forma de campo

elétrico, em dispositivos condutores que podem manter esses campos

estáticos. Normalmente esses dispositivos são denominados capacitores e

são representados por duas placas metálicas paralelas, onde existe uma

relação entre a carga armazenada nas suas placas e a diferença de

potencial entre elas, que é uma constante de proporcionalidade chamada

capacitância, representada pela Equação 2.23:

[ ]FV

qCCVq =⇔=

Equação 2.23

A unidade da capacitância é o “Farad”, e “1 Farad = 1 Coulomb por 1

Volt”.

A capacitância de um capacitor pode ser determinada teoricamente

utilizando a lei de Gauss (calculando o campo criado por uma carga

hipotética, e calculando a diferença de potencial entre as placas através da

distância entre as superfícies equipotenciais), sendo possível notar que ela é

unicamente função da permissividade do meio que está entre as placas

carregadas, e da geometria do capacitor (quanto maior a superfície onde se

depositam cargas, maior a capacitância).

A energia potencial elétrica armazenada em um capacitor carregado

pode ser determinada sabendo que é igual ao trabalho exercido para

carregar o capacitor, e está de acordo com a Equação 2.24.

[ ]JCVC

qU 2

2

2

1

2==

Equação 2.24

Page 42: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

27

Tabela 2.3 – Propriedades de alguns dielétricos.

Material Constante dielétrica κ Rigidez dielétrica (kV - mm)

Ar (1 atm) 1,00054 3

Poliestireno 2,6 24

Papel 3,5 16

Óleo de transformador 4,5

Pirex 4,7 14

Mica 5,4

Porcelana 6,5

Silício 12

Germânio 16

Etanol 25

Água(20C) 80,4

Água(25C) 78,5

Cerâmica 130

Titanato de estrôncio 310 8

Para o vácuo, κ = unidade

Como a capacidade de armazenar energia potencial elétrica é

proporcional à capacitância e esta depende também da permissividade do

meio, são usados dielétricos (elementos não condutores que possuem

permissividades maiores que a do vácuo) para aumentar a isolação ou a

capacidade de armazenamento de energia de dispositivos que se

comportam como capacitores. Michael Faraday, que criou o conceito de

capacitância, percebeu, em 1837 que aumentando o isolamento elétrico

entre as duas placas de um capacitor, a capacitância aumentava por um

fator numérico, que chamou de constante dielétrica (κ), uma vez

comentada anteriormente. A intensidade máxima de campo elétrico que um

dielétrico pode suportar sem sofrer ruptura é conhecida como rigidez

dielétrica e alguns valores de rigidezes e constantes dielétricas podem ser

vistos na Tabela 2.3.

É comum equipamentos sofrerem solicitações elétricas da ordem de 1

a 5 pu ou mais. Deste modo, os equipamentos são fabricados com isolantes

elétricos possuindo um coeficiente de segurança principalmente nas partes

mais solicitadas pelos campos elétricos estressantes. De um modo geral, na

Figura 2.13 temos um isolante entre duas placas metálicas separados pela

distância “dab”, e aumentando-se gradualmente a tensão entre as duas

Page 43: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

28

placas, chega um momento em que o isolante é perfurado por uma

descarga elétrica. A tensão em que ocorre a perfuração é conhecida como

tensão de perfuração(Vp).

Figura 2.13

De acordo com a Equação 2.25 a intensidade de campo elétrico no

instante da perfuração ou ruptura é:

=

cm

kV

d

VE

ab

p

p

Equação 2.25

Esta intensidade de campo é então conhecida como intensidade de

campo de perfuração ou rigidez dielétrica, e o coeficiente de segurança é

definido como a razão entre a tensão de ruptura e a tensão nominal de

funcionamento do equipamento, como segue:

[ ]ladmensionaV

VC

n

p

s =

Equação 2.26

2.13 CAPACITOR DE PLACAS PARALELAS COM ISOLANTE

ESTRATIFICADO

Consideramos um capacitor de placas em que o isolante está

constituído por três camadas de distintos materiais. Cada camada é paralela

as placas “p1” e “p2” da Figura 2.14. Estamos considerando que as camadas

estão dispostas de tal forma que as superfícies de separação coincidam com

as superfícies equipotenciais. Assim, as linhas de campo serão normais às

interfaces dielétricas. Estamos considerando também que as camadas

dielétricas são isolantes ideais. Um isolante ideal é aquele que cuja rigidez

Page 44: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

29

dielétrica é independente da forma dos eletrodos e da sua própria

espessura.

Se entre as superfícies de contato das camadas isolante se intercala

uma folha metálica fina cuja superfície S seja igual a das placas “p1” e “p2”

(Figura 2.14), não se introduz variação alguma no campo elétrico por ser

equipotenciais estas superfícies de contato.

Figura 2.14 - o campo elétrico entre os materiais não é modificado quando um

material condutor é colocado entre eles.

Assim sendo, podem-se considerar as três camadas de isolante como

sendo três capacitores conectados em série conforme a Figura 2.15, abaixo:

Figura 2.15

cujas respectivas capacitâncias são:

3

033

2

022

1

011a

Ca

C;a

CSSS

εεεεεε ===

e a capacitância total,

Page 45: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

30

321 C

1

C

1

C

1

1++=

C =

s

a

s

a

s

a

1

3

2

2

1

1

ooo εεεεεε++ =

++

a

a

a

1

3

3

2

2

1

1

o εεεε s[F]

fazendo

Assim a capacitância total poderá ser fornecida por “k

s C oε= ” onde

“C” é dada em [F], “S” em [cm2] e sendo “εo = 8,84.10–14”, e “k” conforme

definido anteriormente.

Designando por “U1”, “U2” e “U3” as diferenças de tensão que

correspondem, respectivamente, a cada uma das camadas isolantes e “U” a

tensão total entre as placas “p1” e “p2”, resulta em:

332211 CUCUCUUC ===

De onde se deduz que para a primeira camada isolante a tensão “U1”

será:

UK

aU

SK

SaU

C

CU

1

1

01

10

11

εεε

ε===

Analogamente, para a segunda camada,

UK

aU

2

22 ε

=

E, de forma geral, para a nésima camada…

UK

aU

n

nn ε

=

Sendo homogêneo o campo elétrico em cada camada, a intensidade do

campo na primeira será:

K

U

a

UE

11

11

ε==

Dividindo U1 por U2 temos:

ka

ka

U

U

12

21

2

1

ε

ε= …⇒

1

2

2

1

1

2

2

2

1

1

1

2

2

1

2

1

ε

ε

ε

ε

ε

ε=∴=⇒=

E

E

U

a

a

U

a

a

U

U

Ou seja, os esforços dielétricos nas camadas isolantes são

inversamente proporcionais a suas constantes dielétricas.

Page 46: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

31

2.14 EXEMPLOS.

E-1) Duas placas metálicas de superfície igual a 400 cm2 cada uma,

onde sobre cada qual se existe uma camada de cristal de 0,5 cm de

espessura, sendo as camadas de cristais separadas por uma camada de ar

de 1 cm, de acordo com a Figura 2.16. Entre elas existe uma tensão elétrica

de 40 kV. A constante dielétrica do cristal é nove (9) e a do ar é um (1).

Pede-se determinar: a) O esforço dielétrico no cristal; b) O esforço

dielétrico no ar; c) a capacitância total; d) O esforço dielétrico no ar

supondo retiradas as camadas de cristal.

Figura 2.16 – placas paralelas separadas por camadas de cristais e uma camada de ar

Resolução:

a)9

10

9

5,0

1

1

9

5,0

3

3

2

2

1

1 =++=++=εεε

aaaK

O esforço é o mesmo para as duas camadas do cristal, a saber:

./.410.9

9.40

121 cmkV

K

UEE ====

ε, valor este muito aceitável para o

cristal.

b) O esforço no ar é:

./.3610.1

9.40

22 cmKV

K

UE ===

ε

Page 47: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

32

Como a tensão de perfuração elétrica do ar é de 30 [kV/cm], resulta

que se produzirá descarga ao chegar nesta tensão.

.3,339

10.1.3022 KVKEU === ε , ou seja, não alcançará a tensão de 40kV.

c) ][10.16,710.10

9.400.84,8 1114

Fk

sC o

−=== ε

d) Retirando as duas camadas de cristal haverá uma separação de ar

de “a = 2 cm” entre as placas metálicas, sendo então o esforço dielétrico

de:

cmkVa

UE .20

2

40=== , valor este perfeitamente aceitável para o ar,

resultando que houve uma melhora dielétrica do dispositivo ao se retirar às

camadas de cristal. Este é um fato muito relevante, pois nem sempre ao

acrescentarmos materiais isolantes em um dispositivo qualquer estamos

melhorando suas condições dielétricas. Em alta Tensão devemos ter

sempre em conta ao fato que podemos piorar as condições de um

dispositivo isolante ao utilizar materiais estratificados (em camadas).

A Figura 2.17 representa o traçado das linhas equipotenciais e as

intensidades dos campos elétricos nos dois materiais em questão, o cristal

em azul e o ar em preto e com as intensidade de campo de “4 kV/m” e “36

kV/m” respectivamente.

Figura 2.17 – linhas equipotenciais do capacitor

do exemplo E-1.

Page 48: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

33

Questionamentos:

a) a presença do isolante (camadas de cristal) no dispositivo garantirá

a rigidez dielétrica do mesmo?

b) Você se sentiria mais seguro se o dispositivo não tivesse as duas

camadas isolantes de cristal?

E-2) Duas placas metálicas circulares de 10 cm de raio se encontram

separadas por uma distância de 3 cm de acordo com a Figura 2.18. Entre as

placas há uma camada de cristal e um intervalo de ar. A descarga de

perfuração deve ocorrer com uma tensão de 60kV. A constante dielétrica do

cristal é igual a sete (7) e a do ar é um (1). A rigidez dielétrica do ar é 30

kV. Determinar: a) a espessura de camada de ar; b) a espessura da

camada de cristal; c) A tensão com relação à placa da direita; d) A

capacidade total.

Figura 2.18 – Exemplo E-2.

Solução:

21.30

60: ====

aaa

aE

Uk

k

UE

εε,

mas c

a

cc

c

a

a aaaak

εεεεε−+==+=

a

aac

a K logo, a - a a como ,

Explicitando aa na equação acima temos:

Page 49: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

34

][833,117

1 . 3 - 1 . 7 . 2cm

aka

ac

aac

a =−

=−

−=

εε

εε

b) “ac = a – aa = 3 – 1, 833 = 1,167 [cm]”. Pelo resultado notamos

que é indiferente a camada de cristal esta ou não em contato com a placa

metálica.

c) Conforme a Figura 2.19 subseqüente, a camada de cristal está

encostada na placa da esquerda. A distribuição de tensão no cristal e no ar

será:

kV 5 60 . 2 . 7

1,167 === U

k

aU

c

c

O esforço dielétrico no cristal será:

cmkVa

UE c

c /43,31,167

5===

A diferença de tensão no ar é: “ kV 55 60 . 2.1

1,833=== U

k

aU

a

a

Figura 2.19 – Resolução de E-2, c).

d) agora é com vocês…

Page 50: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

35

2.15 DISPOSITIVOS COM MATERIAIS ISOLANTES DISPOSTOS EM

CAMADAS LONGITUDINAIS

Entre as placas “P1” e “P2” da Figura 2.20 há vários materiais isolantes

de distintas constantes e rigidezes dielétricas, cujas superfícies de contatos

seguem os sentidos das linhas de força. Como todos os elementos isolantes

estão submetidos na mesma tensão, é lógico supor que ao elevar-se esta se

produza à perfuração transversalmente da camada isolante de menor

rigidez.

Figura 2.20

A prática ensina que a perfuração se produz seguindo a superfície de

contato de dois elementos isolantes contínuos em que a rigidez nesta

superfície é menor que em qualquer dos elementos que separa. A rigidez

dielétrica desta superfície de contatos se designa com o nome de rigidez

dielétrica longitudinal.

Quando os dois elementos isolantes contínuos têm estados físicos

distintos, como no caso de porcelana e ar ou vidro e óleo, a descarga pela

superfície de contatos se chama extra-perfuração, e a rigidez

correspondente, extra-rigidez.

A extra-rigidez, ou rigidez longitudinal não pode ser deduzida das

rigidezes e constantes dielétricas das substancias em contatos.

Page 51: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

36

Na Figura 2.20, “C” é um cilindro de porcelana rodeado de ar. A tensão

entre as placas “P1” e “P2” é elevada até produzir a descarga. A tensão

correspondente a esta se designa de tensão de extra-perfuração “U2” Sendo

“L” a distância da trajetória de descarga de extra-perfuração, a rigidez

correspondente será:

=

cm

V

L

UE e

e

Equação 2.27

Onde “Ee” é dado em Volts por centímetro [V/cm], quando “Ee” está

em Volts [V] e “L” em centímetros [cm]. Isto considerando que a hipótese

de que a tensão na superfície de contato decresce gradualmente de uma

para outra placa. Esta situação não se cumpre exatamente na prática.

Quanto maior as dimensões dos eletrodos (placas) em relação a distância

“L” mais se aproxima a tensão real da tensão ideal ou seja, decrescer

gradualmente.

Figura 2.21 – Representação de um dispositivo

onde existe extra-rigidez.

SUMÁRIO

De uma forma geral, os dielétricos apresentam uma característica

chamada rigidez dielétrica, que é a capacidade de isolamento em [kV/cm],

e que mede quão bom é tal dielétrico.

Um capacitor tem sua capacitância representada pelas equações do

tópico 26 que culminam na conclusão de que os esforços dielétricos que

podem ser submetidos determinados isolantes são inversamente

proporcionais às suas constantes dielétricas.

Page 52: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

37

3 INTERPRETAÇÃO ATÔMICA DAS PROPRIEDADES DOS

DIELÉTRICOS

3.1 INTRODUÇÃO

O termo dielétrico é dado ao material onde são considerados aspectos

eletrostáticos, ou seja, propriedades específicas mensuráveis, tais como rigidez

dielétrica, absorção dielétrica, constante dielétrica e fator de potência, ao

contrário de isolante, que sugere apenas que o material é um mau condutor de

eletricidade.

Sendo assim, o método mais comum de checar as condições de isolação de

dispositivos de alta tensão, é a medição destas características dos dielétricos em

corrente alternada e freqüência industrial. O presente capítulo trata-se de

esclarecer os principais conceitos de ensaios dielétricos para medição da

qualidade do isolante, tais como fator de perdas e fator de potência do

isolamento.

3.2 COMPORTAMENTO DIELÉTRICO DOS ISOLANTES - POLARIZAÇÃO DO

DIELÉTRICO

Se aplicarmos um campo elétrico sobre um material constituído por cargas

elétricas de ambas polaridades, existe uma tendência das cargas com sinais

opostos de se moverem em sentidos contrários, fenômeno que é conhecido como

polarização. Como tanto materiais naturalmente polares como naturalmente

apolares podem ser polarizados, podemos classificar os dielétricos no que se diz

respeito à sua polarização, como segue:

3.2.1 Polarização nos dielétricos polares

Page 53: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

38

Alguns dielétricos, como a molécula de água da Figura 3.1, possuem um

momento de dipolo elétrico permanente.

Figura 3.1 – molécula com dipolo elétrico permanente H2O

Tais materiais (chamados de dielétricos polares) tendem a se alinhar como

campo elétrico externo como nos mostra a Figura 3.2. Pelo fato de as moléculas

estarem em constante agitação térmica, este alinhamento não é completo, mas

aumenta quando cresce a intensidade do campo aplicado ou quando a

temperatura diminui.

Figura 3.2 – Alinhamento das moléculas com a aplicação do campo elétrico.

3.2.2 Polarização nos dielétricos não polares

No caso de dielétricos não polares, como no caso do átomo eletricamente

neutro representado pela Figura 3.3, se submetido a um campo elétrico, há uma

tendência de esticar o átomo, separando o centro de carga negativa e o centro

de carga positiva, apresentando o que se chama de dipolo elétrico induzido,

representado na Figura 3.3. No caso de um material dielétrico então, sendo os

Page 54: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

39

centros de cargas separados na ação de um campo elétrico, se depositam

“cargas” sob as placas com sinal contrário da carga daquelas.

Figura 3.3 a) um atómo em sua configuração

natural, b) com dipolo induzido.

3.3 POLARIZAÇÃO NOS CAPACITORES

Como os dielétricos são utilizados como isolantes, ou seja, ficam

submetidos a grandes tensões de trabalho, eles apresentam, ou podem ser feitos

para apresentar uma configuração de dipolo elétrico, podendo ser polarizados.

Nos capacitores, por exemplo, a densidade de carga superficial “D” é igual

ao produto do módulo do campo elétrico aplicado sobre ele e da constante

dielétrica do material que está entre as placas, concordando com a Equação 3.1:

=

2.

m

CED ε

Equação 3.1

De onde se percebe que a quantidade de carga sobre as placas do capacitor

aumenta com o aumento da constante dielétrica do meio. Algumas vezes D é

também chamado de deslocamento dielétrico.

A exemplo do primeiro capítulo, novamente o aumento da capacitância

pode ser explicado usando um modelo simplificado de polarização dentre de um

material dielétrico. Considere o capacitor da Figura 3.4, na situação de vácuo,

dentro do qual uma carga “+Q0” está armazenada na placa superior, e “–Q0” na

placa inferior. Quando um dielétrico é introduzido e um campo elétrico é

aplicado, o sólido introduzido dentro das placas torna-se polarizado, como na

Figura 3.4. Como resultado desta polarização, há um acúmulo adicional de carga

negativa de magnitude “–Q’ ” na superfície do dielétrico próxima da placa

positivamente carregada, e de forma similar, uma carga adicional “+Q’ ” na

superfície adjacente à placa negativa.

Page 55: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

40

Para a região do dielétrico mais distante destas superfícies, os efeitos de

polarização não são importantes. Assim se cada placa e suas superfícies

adjacentes do dielétrico forem consideradas como uma simples entidade, a carga

induzida pelo dielétrico (+Q’ ou –Q’) pode ser considerada como anulando

alguma das cargas que originalmente existiam na placa para a condição de vácuo

(+Q0 ou –Q0).

Figura 3.4 – mecanismo de polarização dos

dielétricos.

Com relação à fonte, elétrons são obrigados a fluir para a placa negativa de

forma a restabelecer a tensão, e assim a carga em cada placa é agora “Q0 + Q’ ”,

tendo sido incrementada de um montante “Q’ ”.

Na presença de um dielétrico, a densidade de carga superficial nas placas

do capacitor pode ser representada por:

+=

2.

m

CPED ε

Equação 3.2

Onde “P” é a polarização, ou o incremento de densidade de carga em

relação à densidade de carga no vácuo, devido à presença do dielétrico, podendo

Page 56: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

41

ainda ser entendia como “P = Q’/ A”, onde “A” é a área de cada placa. As

unidades de “P” são as mesmas da densidade de carga por área, ou seja, [C/m2].

A polarização “P” pode ser considerada como o momento dipolar total por

unidade de volume do material dielétrico, ou como uma polarização do campo

elétrico dentro do dielétrico, que resulta de um alinhamento mútuo de muitos

dipolos atômicos ou moleculares com o campo externo aplicado. Para muitos

materiais dielétricos, “P” é proporcional à “E” através da relação:

−=

20 ).1(m

CEP Rεε

Equação 3.3

Sendo, neste caso, “εR” independente da magnitude do campo elétrico.

3.4 MECANISMOS E EFEITOS DA POLARIZAÇÃO NOS DIELÉTRICOS

Podemos resumir tudo que foi dito até aqui da seguinte forma: os isolantes

elétricos têm um número reduzido de elétrons ou íons móveis, permitindo uma

ínfima passagem de corrente elétrica quando sob efeito de um campo elétrico,

que por sua vez, provoca um deslocamento dos centros de cargas formando um

dipolo elétrico (que apresenta um momento de dipolo que é definido pela

equação (2.3) e é um vetor que vai da carga negativa para a carga positiva) e

assim denominados dielétricos.

][. Jdqp =

Equação 3.4

Onde q é a carga líquida do dipolo em Coulombs e “d” a distância entre os

centros de cargas do dipolo em metros. O campo elétrico gera então um torque

que implica numa tendência de alinhar as cargas, fenômeno conhecido como

polarização, que nos isolantes se apresentam de formas diferentes, podendo ser

classificadas como segue.

3.4.1 Polarização eletrônica – Pe

É a polarização a nível atômico, ou seja, quando um campo elétrico é

aplicado sob um isolante há um ligeiro deslocamento dos elétrons que circundam

Page 57: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

42

o núcleo na direção do eletrodo positivo e por sua vez o núcleo é ligeiramente

deslocado em direção ao eletrodo negativo. Como os centros de cargas não são

coincidentes há a formação de um pequeno dipolo. Apesar de haver tantos

momentos dipolares quanto o número de átomos presentes, o momento dipolar

resultante, µe, é baixo de forma que a polarização eletrônica resultante, também

é baixa e é dada pela Equação 3.5:

=

m

CP ee µ

Equação 3.5

A resposta da polarização eletrônica é rápida, e a freqüências elevadas, da

ordem de 1016 Hz, ela responde rapidamente às mudanças que ocorrem no

campo elétrico. A remoção do campo elétrico aplicado provoca um retorno dos

elétrons do núcleo para a posição original. Este tipo de polarização está presente

em todos os isolantes.

3.4.2 Polarização Iônica – Pi

Este tipo de polarização envolve o deslocamento de íons positivos e

negativos sob a ação de um campo elétrico aplicado e é o tipo mais comum nos

materiais cerâmicos, e está representada pela Figura 3.5 O campo elétrico

aplicado ao material pode provocar um deslocamento comparativamente grande

em algumas estruturas, porém muito menor do que 1,0 Ângstron e assim,

desenvolver constantes dielétricas relativamente altas, devido à polarização

iônica. A polarização iônica é mais vagarosa do que a polarização eletrônica sob

a ação de um campo elétrico variável aplicado. A resposta máxima é da ordem

de 1013 Hz.

Figura 3.5 – Polarização iônica, material sem o efeito do campo elétrico e sob efeito do campo

elétrico.

Page 58: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

43

3.4.3 Polarização por orientação de dipolos (dipolar) - Po

É a polarização das moléculas polares, e na maioria das vezes, não podem

ser orientados a menos que e mo haja destruição da estrutura dos cristais, como

nas cerâmicas, se tornando assim importante somente nos polímeros. Está

representada pela Figura 3.6.

Figura 3.6 – Polarização por orientação de dipolos.

3.4.4 Polarização de cargas espaciais (estrutural) - Ps

É a polarização de cargas estranhas que se situam nas interfaces. Em

outras palavras estas cargas são cargas randomicamente causadas por radiação

cósmica, deterioração térmica, ou são aquelas absorvidas no material durante o

processamento. Seu valor e a freqüência de resposta depende mais da geometria

dos contaminantes do que das outras propriedades do material. Está

representada pela Figura 3.7

Figura 3.7 – Polarização de cargas espaciais.

3.4.5 Polarização espontânea - Pt

Polarização causada principalmente da tendência natural de degradação do

isolamento, da fadiga do dielétrico e da temperatura, caracterizada apenas em

uma quantidade pequena de materiais utilizados em isolação elétrica.

Page 59: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

44

3.5 RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA DOS DIELÉTRICOS

Como cada polarização individual tem diferentes respostas de freqüência, a

polarização total é função da freqüência como na ilustração esquemática da

Figura 3.8. A variação na polarização é refletida pelas constantes dielétricas.

Figura 3.8 – Polarização versus freqüência. As

polarizações com resposta mais rápida prosseguem nas freqüências mais elevadas.

Cada uma das polarizações citadas é reversível e essencialmente

proporcional ao campo elétrico aplicado, para pequenos campos e baixas

freqüências podendo-se até escrever que “P / E = módulo constante”.

3.6 MODELAGEM DE UM CIRCUITO DIELÉTRICO

Um circuito dielétrico pode ser modelado pelo modelo representativo da

Figura 3.9 como segue:

Figura 3.9

O circuito pode ser interpretado como sendo, o ramo composto por “C” e

“Ri”, aquele que representa a permissividade do material, ou seja, associado às

perdas energéticas por absorção na massa do material – pois durante a

Page 60: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

45

ocorrência da polarização, o choque entre as partículas, transforma energia

cinética em energia térmica, com conseqüente elevação da temperatura, que se

interpreta como perdas - e às capacitâncias de polarização; e o ramo composto

por “Rf” como aquele que representa a condutância do dielétrico, ou seja, as

cargas condutoras “livres” existentes no dielétrico – elétrons e íons, apesar de

serem poucas, estão sempre presentes e fazem com que diminutas correntes

apareçam na aplicação de um campo elétrico.

Assim, a corrente de fuga de um dielétrico, de acordo com a Figura 3.9,tem

duas componentes:

- A que flui através da seção transversal do isolante (na Figura 3.9 igual à

i1);

- A que flui pela superfície do isolante (na Figura 3.9 igual à i2).

No dielétrico ideal “Ri” seria zero e “Rf” seria infinito, porém tais condições

nunca são observadas na prática, e os parâmetros determinados por essas

correntes são a rigidez dielétrica e a resistência superficial de descarga,

respectivamente. Os valores de “C”, “Ri” e “Rf” são influenciados por fatores

como temperatura, freqüência e fadiga (do material) do dielétrico.

Na maioria dos dielétricos, a polarização se apresenta linear com relação ao

campo elétrico aplicado, porém às vezes essa linearidade não se apresenta e se

pode fazer uma analogia a não linearidade ao fenômeno da saturação no

magnetismo.

As características relevantes na escolha de um isolante elétrico são

resistência de isolamento, poder dielétrico, resistência de impulso de tensão,

absorção dielétrica, perdas por fuga, resistência de ruptura e resistência de

isolação favoráveis.

Como uma vez determinado, existem cinco tipos de polarizações, de acordo

com o tipo de material dielétrico que constitui o isolante:

• Polarização eletrônica – todos os dielétricos;

• Polarização iônica – sólidos, cujas partículas são íons;

• Polarização dipolar – em dielétricos com estrutura química dipolar;

• Polarização estrutural – ocorre em sólidos cristalinos amorfos, como o

vidro;

• Polarização espontânea – ocorrendo devido a temperatura e

tendências naturais do material;

Page 61: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

46

Sendo assim, se pode constituir um modelo mais realista do dielétrico, de

acordo com a Figura 3.10, onde “Qo” é a carga que um capacitor possui no vácuo

e “Qe” resultante da polarização eletrônica, cargas que estão sempre presentes.

As demais cargas (“Qi”,”Qd” e “Qs”) resultantes das polarizações iônica, dipolar e

estrutural respectivamente, dependem do tipo de dielétrico a ser analisado. Já

“Co” representa a capacitância obtida quando todo o material entre as placas do

capacitor é retirado, “Ce” aparece com o preenchimento desse espaço com

qualquer dielétrico e “Ci”, “Cd” e “Cs”, dependem do material. Observe que essas

últimas três possuem um resistor em série, que indica a dificuldade de

polarização, acarretando em perdas Joule. O resistor “Rf”, por sua vez,

representa a condutância do dielétrico, a exemplo da Figura 3.9.

De acordo com a Figura 3.10 e sua interpretação, classificam-se os

dielétricos nos seguintes grupos:

Grupo 1: dielétricos com polarização eletrônica predominante, incluindo

todos os materiais amorfos e cristalinos sólidos (cujas moléculas apresentam

fraco momento dipolar como polistirol, enxofre ou parafina), e os líquidos e

gases com comportamento semelhante, como o benzol e o hidrogênio.

Figura 3.10

Grupo 2: dielétrico que possuem principalmente polarizações iônica e

eletrônica, estando neste grupo isolantes cristalinos com composição iônica,

como quartzo, sal, mica e óxido de alumínio.

Grupo 3: neste grupo incluem-se os dielétricos que possuem principalmente

polarização estrutural e eletrônica, podendo apresentar alguma polarização

Page 62: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

47

iônica, citando-se os dielétricos orgânicos, como celulose, resinas sintéticas

termofixas e materiais como vidros e isolantes cristalinos como mica e porcelana.

Grupo 4: grupo onde pertencem materiais dielétricos como o askarel, o óleo

e ricíno e produtos geralmente líquidos ou pastosos, por apresentarem

principalmente polarizações dipolar e eletrônica.

Grupo 5: caracterizado por dielétricos que apresentam principalmente as

polarizações expontânea e eletrônica, incluindo apenas os dielétricos conhecidos

como sais de Seignette, tomando como exemplo o metatitanato de báno.

3.7 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DOS PARÂMETROS DOS DIELÉTRICOS

3.7.1 Medida da resistência de isolamento

3.7.1.1 Resistência de isolamento Superficial.

É a medida da resistência sob a superfície de um isolante, por definição,

feita entre dois lados opostos de um quadrado de um centímetro de lado, feita

com o megôhmetro, de acordo com a Figura 3.11. Na prática, costuma-se

colocar dois condutores sob tensão, afastados por um (1) cm de uma placa do

isolante para a análise, e, a partir da fuga, se estabelecer o valor da resistência,

que sozinha e desta forma determinada, indica valores para uma mera

comparação.

É importante salientar que a resistência superficial varia significativamente

com a umidade relativa do ar, pois esta pode reter partículas condutoras

existentes na atmosfera, provocando o aumento da corrente de fuga.

Figura 3.11

Page 63: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

48

3.7.1.2 Resistência de isolamento volumétrica.

Resistência de Isolamento Volumétrica - a resistividade volumétrica é

medida entre duas faces opostas de um cubo de aresta unitária, e é expressa em

megohm x centímetro, e também é medida com o megôhmetro.

Na maioria dos casos práticos, a porção de fuga pelo interior do dielétrico é

bem menor que a que ocorre pela película superficial, a não ser no caso do

produto volume versus resistividade ser menor do que 1014[ohms] por

centímetro e o isolante está num ambiente com umidade inferior a 25%.

A resistência interna para tensões alternadas é freqüentemente menor do

que para tensões contínuas e decresce progressivamente, via de regra, com o

aumento da freqüência devido às perdas no dielétrico, e, em materiais como

ardósia e mármore, ou demais materiais porosos, fazem com que o produto

volume versus resistividade decresça sensivelmente com a tensão de teste

aplicada.

3.7.1.3 Valores da Resistência de Isolamento

De acordo com as definições acima, pode–se fazer uma comparação da

qualidade dos isolantes de acordo com a tabela 2.1.

Tabela 3.1 – Comparativo entre os ensaios de resistências de

isolamento dos diferentes materiais isolantes

Material Resistência superficial em

Megaohms

50% de

umidade

70% de

umidade

90% de

umidade

Resistência volumétrica

em Megaohms por

centímetro

Celulóide 6.108 2.108 105 5.1010

Fibra de vidro 2.104 3.103 2.103 5.103

Mica incolor 2.107 4.105 8.103 2.1011

Porcelana 6.105 7.103 5.10 3.108

A medição da resistência de isolamento de materiais isolantes, ou seja, do

isolamento de máquinas elétricas e equipamentos é realizada em corrente

contínua através do instrumento denominado Megôhmetro (ver O USO DO

MEGÔHMETRO).

Page 64: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

49

O ensaio de resistência de isolamento é um ótimo meio de detecção e

prevenção de defeitos na isolação de equipamentos elétricos. Através dele pode-

se determinar preventivamente se a isolação está deteriorada, antes que ocorra

um defeito.

3.7.2 Ensaio de absorção dielétrica

O ensaio de absorção dielétrica é feito aplicando-se o megôhmetro aos

terminais da isolação que se deseja medir, lendo-se a resistência de isolamento a

cada minuto até completar 10 minutos. Esse ensaio fornece mais informações

sobre a condição da isolação do que o teste de medição de resistência de

isolamento, e é feito quando não se tem nenhum registro anterior da condição

desta isolação, proporcionando assim um diagnóstico inicial preciso sobre a

mesma.

A partir dos valores lidos, monta-se um gráfico, que pode ser analisado da

seguinte maneira (de forma prática): curvas elevando-se ininterruptamente

indicam enrolamentos, limpas e secas, ou isolações em bom estado de

conservação e funcionamento, enquanto que curvas ligeiramente achatadas

indicam enrolamentos sujos e úmidos ou isolações em mau estado de

conservação. O ensaio é feito normalmente com megôhmetros de 500 a 5000

Volts, e é pouco interferido pela temperatura ambiente, porém é aconselhável

ensaiar as máquinas logo após a parada da mesma, para evitar o “ponto de

orvalho”, ou a condensação de umidade na isolação.

A Figura 3.12 exemplifica algumas curvas típicas da variação da resistência

com o tempo de ensaio, para enrolamentos de armadura de máquinas classe B.

Page 65: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

50

Figura 3.12 – Curvas típicas mostrando a variação

da resistência de isolamento com o tempo para

isolamento de classe B.

A razão entre duas leituras imediatas de resistência durante o ensaio é

chamada razão de absorção dielétrica, e a razão entre a última e a primeira

leituras, ou seja, entre a leitura da resistência aos 10 minutos de ensaio pela

leitura da resistência de 1 minuto de ensaio é chamada de índice de polarização.

Essas razões proporcionam um quantidade avaliável da condição da isolação

com respeito a umidade e outros contaminantes.

Os valores recomendados do IP, que determinam se os enrolamentos de

máquina estão limpos e secos são:

• isolação classe A 1,5 ou mais;

• isolação classe B 2,O ou mais;

• para isolação classe F 2,5 ou mais.

Se o índice de polarização for menor do que 1, indica a necessidade de um

imediato recondicionamento.

A Tabela 3.2 exemplifica valores das razões, dos índices, e as

correspondentes condições da isolação que as mesmas indicam.

Tabela 3.2 – Condição da isolação indicada pelas razões de absorção dielétrica e índice

de polarização pela aplicação de uma tensão de 500V CC.

Condição da

Isolação

Razão de Absorção

Dielétrica

Índice de

Polarização

Perigoso ----- Menor que 1

Page 66: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

51

Ruim Menor que 1,1 Menor que 1,5

Questionável 1,1 a 1,25 1,5 a 2

Regular 1,25 a 1,4 2 a 3

Boa 1,4 a 1,6 3 a 4

Excelente Acima 1,6 acima de 4*

(*) Em muitos casos valores aproximadamente 20% maior do que os mostrados indicam um

enrolamento seco e quebradiço que falham sob condição de choques ou durante o início de

funcionamento (na partida).

3.7.3 Ensaio de fator de perdas(tg δ)

Quando um campo elétrico altera a orientação anterior das moléculas de um

isolante, uma parte da energia fornecida pelo campo elétrico é transformada em

energia térmica, denominadas perdas. Duas análises podem ser feitas para o

estudo dessas perdas:

Para um campo contínuo, gerado por uma fonte CC, não há polarização

periódica e a qualidade do isolante ensaiado fica determinada pelo

estabelecimento da resistividade transversal e pela resistência superficial.

Para um campo alternado, as perdas podem ser determinadas pelo ensaio

de tangente delta (tg δ), que é definido como uma forma da medida da potência

real consumida pelo isolamento e determinada pelo fator de potência. Como o

ângulo do fator de potência (ϕ) é inversamente proporcional às perdas no

isolamento – quanto menor ϕ maior o fator de potência e maior as perdas –

define-se δ , por convenção, como sendo o complemento de ϕ, de forma que este

novo ângulo seja proporcional as perdas.

Figura 3.13 – Definição de fator de perdas.

Page 67: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

52

Dos modelos comentados de dielétricos nas páginas antecedentes, espera-

se que o isolante ideal seja representado por um capacitor puro e a defasagem

entre a tensão e a corrente de ensaio de isolamento seja de exatamente 90o,

porém na prática isso não é realizável, e, de acordo com a norma PV – 130 da

ABNT, cada isolante possui uma temperatura limite - pelos quais eles são

classificados – que pode ser atingida se as perdas se tornarem excessivamente

grandes.

Figura 3.14 – Dielétrico ideal com fator de perdas igual a zero.

De uma forma rápida, o ensaio de tangente delta pode ser estimado, se ao

invés de medirmos o fator de potência da isolação sob determinadas condições

de ensaio, utilizarmos as aproximações:

3.7.3.1 Ensaio de tg δ nos isolantes gasosos

As perdas dielétricas nos gases, desde que o campo elétrico à que o isolante

está submetido seja menor que o campo de ionização, são muito pequenas,

podendo, nesse caso, se considerar penosamente um isolante à gás como um

isolante ideal.

Dessa forma, as perdas existentes são conseqüência da condutividade

elétrica, ao invés de um consumo de energia efetivo na polarização do dielétrico,

e, essa condutividade é de valor bastante baixo, mesmo em altas freqüências,

podendo, genericamente, o valor de tg δ ser calculado a partir da Equação 3.6.

[ ]ρε

δf

xtg

12108,1)( =

Equação 3.6

Page 68: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

53

Onde “ε ” é a constante dielétrica, “f” é a freqüência em hertz [hz], e “ ρ ” a

resistividade do isolante, neste caso, normalmente em torno de 1017 e 1018

[Ω.cm].

3.7.3.2 Ensaio de tg δ nos isolantes líquidos

Nos líquidos não polares, as perdas dielétricas são provenientes unicamente

das correntes de descarga devido à condutividade elétrica do material, sendo

assim, o acréscimo de moléculas polares afeta significantemente a condutividade

deste isolante, e o valor do ensaio depende da temperatura e da intensidade do

campo a que é submetido o isolante a ser ensaiado.

O valor de tg δ pode então, ser obtido pela da Equação 3.7.

[ ]tf

xtg

ρεδ

12108,1)( =

Equação 3.7

Onde “ tρ ” é a resistividade transversal do isolante, nas condições de uso.

Nos líquidos polares, as perdas são mais sensíveis às variações de

temperatura, freqüência e também são sensíveis às variações de viscosidade.

Perdas quais, que são somadas às perdas devidas à condutividade, que na

temperatura ambiente fica em torno de 10-12 e 10-13 [Ω−1.cm-1].

Na prática, os óleos isolantes são geralmente misturas entre óleos polares e

apolares, como é o caso mais comum de óleo isolante de transformadores. Uma

comparação entre os isolantes pode ser feita baseado em valores práticos, onde

os valores de tg δ para óleo mineral de capacitores – um composto muito puro e

não polar – é igual a 2 x 10-4 a 20 oC e freqüência igual a 106 [Hz], enquanto é

igual a 0,015 para óleo de rícino – um isolante principalmente polar – sob as

mesmas condições.

3.7.3.3 Ensaio de tg δ nos isolantes sólidos

O fator de perdas em isolantes sólidos pode ser previsto combinando o tipo

de estrutura do sólido – cristalino ou amorfo – e o tipo do isolante sob o ponto de

vista químico – orgânico ou inorgânico.

Isolantes sólidos que apresentam exclusivamente polarização eletrônica,

tem perdas desprezíveis, podendo ser tomado como exemplo, a parafina e o

polistirol, que são recomendados para uso em altas freqüências, sendo que as

Page 69: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

54

perdas existentes – mesmo que desprezíveis – são originárias das impurezas

existentes no isolante.

Nos materiais inorgânicos onde há predominância de polarização eletrônica

e iônica, as perdas – apesar de continuarem baixas – são funções da freqüência,

e podem ser calculadas de acordo com a Equação 3.8.

[ ]fx

xtg tr

ε

γδ

.108,1)(

12

=

Equação 3.8

Onde trγ é a condutividade transversal do material.

Nos materiais amorfos, inorgânicos onde há principalmente as polarizações

eletrônica, iônica e estrutural, as perdas são abordadas sob os seguintes

aspectos:

As perdas que pouco dependem da temperatura e que se elevam

proporcionalmente à freqüência, porém o tg δ independe da freqüência.

Perdas que variam exponencialmente com a temperatura e dependem

pouco da freqüência com tg δ decrescendo com a elevação da freqüência.

Uma visualização prática de como o ângulo δ varia com a temperatura para

os materiais imediatamente citados, é dada pela Figura 3.15.

Nos isolantes inorgânicos policristalinos, predominam freqüentemente

características de materiais semicondutores, destacando-se, neste caso, óxido de

ferro, carbono e isolantes porosos como mármore, que possuem elevada

hidroscopia, e por isso, são muito sensíveis à presente de umidade.

Normalmente possuem diferentes valores de perdas, devido aos processos de

fabricação, já que são também muito sensíveis no que se diz respeito a

impurezas.

Page 70: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

55

Figura 3.15 – Variação do ângulo d com a

temperatura, para materiais orgânicos.

Nos isolantes orgânicos, na existência de moléculas polares, as perdas

estão em função da polarização estrutural, resultante de deslocamentos

dipolares, devido a vazios internos, com conseqüente elevação da temperatura,

já nos isolantes orgânicos polares, a temperatura dita as perdas, existindo uma

temperatura crítica específica para cada material. Geralmente possuem valores

de fator de perdas bastante elevados, não podendo ser utilizados em altas

freqüências.

Uma visualização prática de como o fator de perdas varia com a

temperatura para os materiais orgânicos polares, é dada pela Figura 3.16.

Figura 3.16 – Variação do fator de perdas de

acordo com a temperatura do papel (orgânicos

polares).

Os papéis têm seu fator de perdas determinado principalmente pelo

impregnante que é utilizado junto com ele, e os isolantes com polarização

instantânea, como os sais de Seignette, o fator de perdas que depende

Page 71: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

56

excessivamente da temperatura, e se caracterizam por ter perdas relativamente

elevadas.

3.8 O USO DO MEGÔHMETRO

O megôhmetro é um instrumento portátil, robusto e de fácil manuseio,

projetado e desenvolvido para efetuar medições de resistências elevadas em

equipamentos e ou acessórios elétricos como motores, transformadores,

geradores, cabos de força e de controle e barramentos, sendo utilizado nos

ensaios de resistência de isolamento, fator de perda ou tangente delta, tensões

de ruptura (fase de fabricação) e descargas parciais entre outros, porém nenhum

destes ensaios é conclusivo isoladamente e nem possui um valor absoluto. Por

norma, o ensaio de tensão aplicada só é realizado após a realização do ensaio de

resistência de isolamento e com resultados satisfatórios (de acordo com valores

da IM.LA.215-R05). O megôhmetro pode ser: manual, motorizado, elétrico e

eletrônico, possui uma fonte de tensão contínua interna que pode gerar vários

níveis: 100, 500, 1000, 2500, 5000 e 10000 V.

3.8.1 Princípio de funcionamento

3.8.1.1 Quocientímetros

O megaohmímetro é um instrumento cuja deflexão é proporcional ao

quociente de duas correntes. Em geral estes instrumentos são chamados de

“quocientímetros” ou ainda instrumentos de bobina cruzada. Consta

essencialmente de duas bobinas retangulares, rigidamente presas uma a outra, e

formando entre si um ângulo de 90o como mostra a figura abaixo. São

instrumentos desprovidos de conjugado antagonista, portanto não possuindo

molas, sendo o equilíbrio do conjunto móvel conseguido pela ação oposta dos

conjugados motores atuantes sobre as respectivas bobinas referidas.

Sejam duas bobinas “A1” e “A2” colocadas na indução magnética “B” de um

imã permanente, e percorridas respectivamente pelas correntes contínuas “I1” e

“I2”. O conjugado motor sobre este conjunto móvel é:

].)[90(coscos 2211 mNIICM θθ −Φ−Φ= °

Equação 3.9

Page 72: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

57

Onde Φ1 é o fluxo máximo abraçado pela bobina A1 e Φ2 é o fluxo máximo

abraçado pela bobina A2.

No equilíbrio temos CM = 0, logo:

2

1

2

1

2

1 .I

Ik

I

Itg =

Φ

Φ=θ

Equação 3.10

Daí, da Figura 3.17 onde se conclui que o desvio θ é função do quociente

I1/I2.

Figura 3.17

3.8.1.2 Circuito simplificado do megôhmetro

O princípio de funcionamento do megôhmetro está de acordo com a Figura

3.18, sou seja, um resistor de resistência “R” invariável, próprio do instrumento,

é posto em série com a bobina “A”, chamada “bobina de controle”. A resistência

X a medir é ligada aos terminais “T” e “L” do instrumento, ficando em

conseqüência em série com a bobina “B”, chamada “bobina defletora”.

Page 73: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

58

Figura 3.18

Com esta providência, qualquer que seja a velocidade do gerador “M”, a

tensão “E” nele originada fará circular correntes inversamente proporcionais a

“R” e “X” considerando-se as resistências das bobinas desprezíveis em relação a

estas:

R

X

I

I

X

EI

R

EI =→==

2

121 ,

Equação 3.11

Mas, para o quocientímetro deste tipo se tem “Φ=k.I1/I2”, e levando-se em

consideração a relação das correntes na Figura 3.18 chega-se então a “Φ=k.X/R”.

Portanto, como “R” é fixa, a deflexão “θ” será proporcional à “X” qualquer que

seja o valor da tensão “E” do gerador.

A escala do instrumento pode então ser graduada diretamente em valores

da resistência posta nos seus terminais, sendo valores já expressos em

megaohms.

Observar em “Φ = k.I1/I2” que, quanto maior for a corrente “I2”, mais

próxima do “zero” será a indicação do ponteiro, o que coerentemente

corresponde a um valor pequeno da resistência “X”. Quando “X” for “zero”, a

corrente “I2” terá valor máximo e então o ponteiro indicará “zero”.

Na realidade, os fabricantes aconselham trabalhar com o gerador

imprimido-lhe uma velocidade adequada para com isto obter um resultado mais

estável na medição. Na placa de identificação do instrumento vem indicado o

número ótimo de rotações por minuto em que o operador deve girar a manivela,

situando-se na ordem de grandeza de 120 a 160 rpm.

Page 74: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

59

Os megaohmímetros feitos para medirem resistência da ordem de 1.000

megaohms, ou maiores, são providos de três terminais, e não de apenas dois

como foi indicado na Figura 3.18. Estes três terminais (Figura 3.19) são bem

distinguidos através de letras externamente nas caixa de madeira ou plástico que

contem o instrumento (“L” – line ou linha, “E” – earth ou terra e “G” – guard ou

guarda).

Figura 3.19 – Circuito esquemático do Megôhmetro

A resistência “X” a medir deve ser ligada entre os terminais “T” e “L”.

O terminal "guarda” é previsto para desviar do quocientímetros as correntes

"estranhas”, isto é, forçar a circularem pelo gerador, e não pelo quocientímetro,

as correntes que durante a mesma operação percorrem outras resistências que

estão intrinsecamente ligadas a resistência a medir, evitando assim que o

instrumento indique um valor que não corresponda àquele que se está realmente

querendo medir. Por exemplo, na Figura 3.19, deseja-se medir a resistência “X12”.

Se o "guarda" “G” não estiver ligado ao ponto “3”, a “bobina defletora” será

percorrida por “I2+I3” e consequentemente o valor indicado pelo ponteiro na

escala corresponderá ao equivalente à “X12” em paralelo com “X13+X23”, portanto

um valor menor do que o verdadeiro valor de “X12”. Ao passo que, estando ligado

o "guarda", como mostra a Figura 3.19, a corrente “I3” circulará através do

gerador “M”, não influindo na indicação do instrumento.

Devemos sempre tomar o cuidado de consultar o manual do instrumento

que se quer utilizar, já que alguns megôhmetros possuem o “Guarda” na Alta

tensão, ou seja, a tensão é aplicada ao enrolamento que se deseja guardar,

deixando-o no mesmo potencial do enrolamento que será testado, o que elimina

Page 75: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

60

correntes de fuga pois não há diferença de potencial entre os enrolamentos.

Neste caso deve-se também verificar se o enrolamento que será guardado pode

ser submetido à tensão de teste.

Para que fique bem entendido o uso do "guarda”, vamos exemplificar o caso

de um transformador com enrolamento de alta tensão (A), enrolamento de baixa

tensão (B) e carcaça (C). Entre os enrolamentos (A) e (B) há uma resistência de

isolamento RAB, como também entre cada um deles e a carcaça (C) há “RAC”, e

“RBC”, respectivamente.

Medição de “RAB” (Figura 3.20), excluída “RAC” e “RBC”:

Figura 3.20

Medição de RAC (Figura 3.21), excluída “RAB” e “RBC”:

Figura 3.21

Medição de “RBC” (Figura 2.22), excluídas RAB e RAC:

Page 76: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

61

Figura 3.22

Disto se conclui que, para o uso correto do "guarda", é aconselhável então

que o operador faça um pequeno esquema para cada equipamento elétrico a

ensaiar tendo em vista a resistência que deseja medir e as que devem ser

excluídas em cada medição.

3.8.2 Observações finais a respeito dos megaohmímetros

1a) “G'” é um anel de material condutor (Figura 3.19) que circunda o

terminal “L”, sem com ele fazer contato elétrico, tendo a finalidade de desviar do

quocientímetros as correntes que possam circular através da própria caixa

isolante que contém o instrumento, quando este está em operação.

2a) “R'” é uma resistência limitadora (Figura 3.19), própria do instrumento,

ajustada por ocasião da sua fabricação para fazê-lo indicar "zero" quando os

terminais “T” e “L” são curtos-circuitados. Ela é de cerca de 100.000 ohms e

1,65 megaohms para os instrumentos de menor e de maior porte,

respectivamente. Sendo “E” a tensão do gerador, a tensão “V” aplicada à

resistência “X” a medir será:

').'(

.

2

2

RX

XEV

IRXE

IXV

+=∴

+=

=

Equação 3.12

Page 77: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

62

A expressão acima mostra que, quanto maior for “X” em relação à “R’”

maior será a tensão a que ficará submetida, isto é, mais próximo estará “V” de

“E”.

3ª) A corrente máxima que os megaohmímetros podem fornecer curto-

circuitando os seus terminais “T” e “L”, é da ordem de dois a três [mA].

4a) A "classe de exatidão" dos megaohmímetros é definida em relação ao

comprimento linear sobre a escala que pode ser varrido pelo ponteiro em torno

do valor verdadeiro da resistência medida. Por exemplo: um megaohmímetro de

"classe de exatidão" mais ou menos 0,85 mm significa que o seu ponteiro poderá

indicar, na escala, qualquer valor dentro da faixa de mais ou menos 0,85 [mm]

em torno do valor verdadeiro da resistência medida.

5ª) São encontrados no mercado megaohmímetros com geradores para:

500, 1.000, 1.500, 2.000, 2.500 e 5.000 [Volts], sendo que muitos deles são

feitos para operarem com várias tensões através da simples mudança de uma

chave comutadora. Há megaohmímetros de acionamento somente manual, como

também há outros com possibilidade de duplo acionamento, manual ou

motorizado, sendo nestes últimos empregado um pequeno motor elétrico

monofásico (cerca de 1/20 a 1/16 [cv], 1.725 [rpm], 110 ou 220 V, 60 [Hz])

para movimentar o gerador. Eles são utilizados sobre tudo em medições em que

a tensão aplicada à resistência sob ensaio não pode variar e também o tempo de

ensaio deve ser longo para se obter um resultado correto.

6ª) Os megaohmímetros de maior responsabilidade devem trabalhar com o

mostrador em posição nivelada, sendo para isto providos de um nível de bolha e

de apoios ajustáveis, os quais devem ser regulados antes do início da medição.

7ª) Depois de nivelado, aciona-se o gerador, sem nada introduzir nos

terminais do instrumento, para se ajustar o ponteiro no “infinito”, o que é

conseguido girando levemente o “botão”, externo à caixa, marcado “ajuste do

infinito”. Esta operação faz alterar o conjugado motor que atua sobre a "bobina

de controle" A (Figura 3.19) graças ao deslocamento suave de uma lâmina

ferromagnética no entreferro do imã permanente em que está a referida bobina.

8ª) É interessante observar ainda que o megaohmímetro pode também ser

utilizado como fonte de corrente contínua entre os terminais “T” e “G”. A

corrente máxima que pode daí ser retirada vem normalmente indicada nas

características do instrumento fornecidas pelo seu fabricante.

Page 78: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

63

9ª) Além dos megaohmímetros a magneto, existem os megaohmímetros a

retificador em que o gerador é substituído por um retificador de onda completa.

Alguns deles são previstos para funcionamento com retificador e também com

gerador de acionamento manual, podendo o operador utilizar uma fonte ou

outra, e não as duas ao mesmo tempo.

10ª) Está consagrado pelo uso o nome de "MEGGER" para todos os

instrumentos deste tipo, qualquer que seja o seu fabricante: Evershed & Vignolos

Limited (Inglaterra), James G. Biddle Co.(U.S.A.), Yokogawa (Japão);

Schlumberger (França), etc. Entretanto, MEGGER é na realidade uma marca e

não um tipo de instrumento.

3.8.3 Medição da resistência de isolamento

Na prática industrial emprega-se corrente contínua para medição da

resistência de isolamento dos equipamentos elétricos, sendo o megaohmímetro o

instrumento mais utilizado, sobretudo o tipo motorizado em virtude da

necessidade de ser mantida uma tensão aplicada constante durante um período

de tempo relativamente longo. É um ensaio não destrutivo.

Observa-se que, durante um certo tempo a partir do início do ensaio, os

valores lidos no megaohmímetro aumentam, para depois tornarem-se estáveis,

isto é, o ponteiro não mais se desloca.

Este fenômeno é perfeitamente normal uma vez que estão em presença

dois elementos condutores separados por meio isolante, constituindo portanto

um capacitor. Assim sendo, a Figura 3.23 esquematiza o circuito elétrico

equivalente do espécime sob ensaio ao qual se aplica a tensão contínua “V”,

originada pelo gerador “M”, fazendo circular a corrente total “It” que pode ser

considerada como tendo duas componentes:

Figura 3.23

Page 79: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

64

1ª) A corrente “Ir” que circula através do isolante, cuja resistência de

isolamento “RX” se quer medir, chamada de "corrente de condução". Esta

"corrente de condução" não varia durante o tempo de ensaio. Nos capacitores

usuais “RX” é a “resistência de fuga”.

2ª) A corrente “I” que por sua vez pode ser considerada também como

tendo duas componentes:

A componente “Ic” responsável pela carga da capacitância natural do

espécime sob ensaio, chamada de "corrente de carga". Esta capacitância

depende da forma e das dimensões do equipamento ensaiado. A "corrente de

carga" decresce durante o tempo de ensaio à proporção que a capacitância

armazena carga (Figura 3.24), tornando-se desprezível num tempo relativamente

curto: cerca de 15 segundos de ensaio para os equipamentos usuais.

Figura 3.24 a) e b), respectivamente

A componente “Ia” responsável pela energia necessária à "polarização do

dielétrico", chamada de "corrente de absorção dielétrica". A "corrente de

absorção" decresce muito lentamente durante o tempo de ensaio à proporção

que o dielétrico se polariza (Figura 3.24), tornando-se desprezível num tempo

relativamente longo: cerca de 10 minutos a várias horas, dependendo do tipo e

do estado do dielétrico.

A fim de que a carga da capacitância e a polarização do dielétrico não

estejam sofrendo variações durante o ensaio, a tensão aplicada ao espécime

deve ser mantida constante.

A deflexão “θ” do megaohmímetro é dada pela expressão:

R

Xk

I

Ik ==

2

1.θ

Equação 3.13

Nestes ensaios, a corrente “I2” é a própria corrente “It”:

Page 80: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

65

ract IIIII ++==2

Equação 3.14

Conforme foi dito acima, as correntes “Ic” e “Ia” tendem a serem

desprezíveis. De modo que “It” tende para “Ir” e conseqüentemente a indicação

do instrumento tende a ser o valor de “RX”:

R

Rk

I

Ik X

r

== 1.θ

Equação 3.15

Neste ponto ressaltamos três observações importantes sobre resistência de

isolamento:

A resistência de isolamento depende do tipo de equipamento elétrico, do

seu projeto, dos materiais isolantes empregados na isolação, da temperatura, e

de outros fatores.

Quando a temperatura aumenta, a resistência de isolamento diminui. Para

se acompanhar o comportamento da resistência de isolamento ao longo dos

anos, é aconselhável medi-la periodicamente, sempre à mesma temperatura, ou

considerar uma temperatura de referência e converter para esta os valores

medidos sob qualquer outra temperatura, cujos fatores de correção estão

indicados na Tabela 2.3.

A respeito dos valores mínimos aceitáveis para a resistência de isolamento,

há várias "filosofias" relacionadas a cada tipo de equipamento elétrico. É

conveniente que o interessado consulte as Normas Técnicas específicas, como

também as indicativas dos seus fabricantes.

Sendo os transformadores os equipamentos elétricos mais utilizados nas

empresas industriais e concessionárias de serviços elétricos, ressaltaremos

alguns dados a respeito dos mesmos.

1ª) A ABNT-NB-108 (reimpressa em 1977) sugere na Tabela 3.3 os valores

mínimos aceitáveis de resistência de isolamento para transformadores imersos

em óleo:

Tabela 3.3 – Resistência de isolamento à diferentes temperaturas

Tensão nominal do enrolamento(kV) Resistência de isolamento (MΩ)

Temperatura (graus centígrados) 20 30 40 50 60

66 e acima 1200 600 300 150 75

22 a 44 1000 500 250 125 65

Page 81: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

66

6,6 a 19 800 400 200 100 50

Abaixo de 6,6 450 200 100 50 25

2ª) A ABNT sugere também a fórmula seguinte:

][.65,2

Ω=

f

N

VR

Equação 3.16

Onde “R” é a resistência de isolamento a 75oC, em [MΩ], “V” é a tensão

nominal do enrolamento sob ensaio, em [kV], “N” é a potência nominal do

transformador, em [kVA], e “f” é a freqüência nominal, em [Hz].

Tabela 3.4 – Fatores de correção

Temp. (ºC) Fator de correção Temp. (ºC) Fator de correção Temp. (ºC) Fator de correção

0 0,25 27 1,61 54 10,9

1 0,268 28 1,73 55 11,2

2 0,287 29 1,85 56 12

3 0,306 30 1,98 57 12,87

4 0,331 31 2,12 58 13,79

5 0,354 32 2,27 59 14,78

6 0,38 33 2,43 60 15,85

7 0,407 34 2,61 61 16,98

8 0,436 35 2,8 62 18,2

9 0,46 36 3 63 19,5

10 0,5 37 3,21 64 20,9

11 0,54 38 3,44 65 22,4

12 0,57 39 3,69 66 24

13 0,62 40 3,95 67 25,75

14 0,66 41 4,23 68 27,61

15 0,71 42 4,54 69 29,61

16 0,76 43 4,87 70 31,75

17 0,81 44 5,22 71 34,35

18 0,87 45 5,6 72 36,85

19 0,93 46 5,99 73 39,4

20 1 47 6,41 74 42,28

21 1,07 48 6,86 75 44,7

22 1,14 49 7,34 76 48,73

23 1,23 50 7,85 77 52,2

24 1,31 51 8,65 78 56

25 1,4 52 9,34 79 59,6

26 1,51 53 10,1 80 63,75

Page 82: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

67

3ª) A Tabela 3.4 mostra os “fatores de correção” pelos quais se devem

multiplicar o valor da resistência de isolamento de um transformador imerso em

óleo, medida a uma temperatura qualquer, para convertê-lo no valor equivalente

a 20ºC.

4a) Na realidade, o valor absoluto da resistência de isolamento não tem

muito significado, conforme se vem constatando na prática. A melhor sistemática

é a medição periódica desta resistência e a comparação destes valores com os

resultados anteriores, convertidos sempre aos equivalentes a uma mesma

temperatura. Se há disparidades, então e provável que problemas estejam para

vir e providências imediatas devem ser tomadas no sentido de saná-los antes

que o pior aconteça.

Nos transformadores, estas medições são realizadas mais ou menos de seis

em seis meses e, em cada ensaio, são feitas pelo menos oito leituras: entre os

enrolamentos de alta tensão e baixa tensão com o “guarda” ligado à massa AT-

BT (GLM); entre o enrolamento de alta tensão e a massa com o “guarda” ligado

ao enrolamento de baixa tensão AT-M (GLB); e finalmente entre o enrolamento

de baixa tensão e a massa com o “guarda” ligado ao enrolamento de alta tensão

BT-M (GLA). Um exemplo real está mostrado no Anexo 1, o qual pode servir

como sugestão de modelo de relatório de campo para outros usuários, inclusive

como ficha de arquivo para guardar os resultados. Para que o ensaio não se

prolongue por muito tempo, consideram-se como importantes os valores obtidos

a 30[s], 1[min] e 10[min], definindo-se os índices de absorção e polarização, já

comentados durante os tópicos precedentes.

Nos transformadores nacionais, consideram-se como aceitáveis os índices

em torno de 1,25 e 2,00 para absorção e polarização, respectivamente.

No exemplo do Anexo1 vê-se que os índices encontrados no ensaio AT-M

(GLB) apresentam-se inferiores aos valores aqui citados como aceitáveis. Mas

isto não deve causar preocupação uma vez que, neste ensaio, as leituras obtidas

permaneceram estáveis a partir de três minutos, o que indica estar em situação

normal o isolamento. Neste mesmo exemplo, aplicando-se a equação (2.13),

encontra-se como valor mínimo aceitável para R no lado de alta tensão (AT): R =

11,56 megaohms à 75ºC ou R = 517 megaohms a 20ºC.

No Anexo 1 vê-se que todos os resultados encontrados nas medições são

superiores a este mínimo aceitável, como também superiores ao mínimo a 20ºC

Page 83: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

68

sugerido na referida tabela. Está portanto o transformador, novo como é,

considerado em bom estado, sob o ponto de vista de isolamento.

3.8.4 Exemplos de utilização do megôhmetro com o terminal “guarda”:

Finalizando a demonstração de como se utiliza o megômetro, são

demonstrados a seguir ensaios que são feitos como técnicas preditivas em alta

tensão, representados pelas respectivas figuras.

A Figura 3.25 representa um ensaio de resistência de isolamento entre os

enrolamentos de transformadores.

Figura 3.25

A Figura 3.26 representa um ensaio de resistência de isolamento entre o

enrolamento secundário e a carcaça de transformadores.

Figura 3.26

A Figura 3.27 representa um ensaio de resistência de isolamento da “bucha

de um transformador, exemplificando um ensaio onde pode se ter uma idéia do

condicionamento da isolação fase-terra de um transformador.

Page 84: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

69

Figura 3.27

E, finalmente, a Figura 3.28 representa um ensaio de resistência de

isolamento de um “cabo de força”, verificando também a sua condição de

isolamento.

Figura 3.28

3.9 SUMÁRIO

As condições de isolamento dos equipamentos que funcionam sob altas

tensões pode ser determinada a partir de ensaios utilizando equipamentos de

medida – principalmente o megômetro – e/ou fazendo ensaios químicos.

A teoria dos dielétricos é baseada no seu aspecto microscópico, de forma

que os ensaios afirmam algo sob a propriedade e condições dos materiais

utilizados para o isolamento. É importante salientar que a condição e as

características são afetadas pela polarização intrínseca e as diferentes maneiras

de polarização de cada dielétrico.

Os ensaios que mais tomam forma praticamente e são mais utilizados nas

técnicas de alta tensão são os de resistência de isolamento (medida DC) e fator

de perdas ou tangente delta (medida AC), sendo que o último é mais conclusivo

Page 85: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

70

a cerca de que pode dar também indicação da resposta em freqüência dos

isoladores.

Page 86: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

71

4 RUPTURA DOS DIELÉTRICOS

4.1 INTRODUÇÃO

As faltas elétricas acontecem normalmente devido ao rompimento dos

dielétricos, total ou parcialmente. Dois motivos acarretam esse tipo de

acontecimento: o mau condicionamento do dielétrico ou o excessivo campo

elétrico sob o isolante num determinado ponto.

O rompimento dos dielétricos sempre causa prejuízos, seja pelo fato de

perda de energia, deterioração do isolante ou mesmo dano ao equipamento. O

presente capítulo tem o intuito de apresentar as formas principais de descargas

nos dielétricos, dando ênfase aos gases, e, as descargas parciais, quanto às

formas de detecção, técnicas de prevenção e eliminação.

4.2 RUPTURA NOS GASES

A ruptura dos gases é regida pelas leis elementares dos gases, entre elas a

lei de Boyle e Mariotte e a de Gay-Lussac, de onde é derivada a principal lei

fundamental da teoria dos gases (pV = nRT). Maxwell provou verdadeira tal

teoria alguns séculos mais tarde.

A temperatura ambiente e pressões normais, os gases são ótimos isolantes

elétricos, com condutâncias da ordem de 10-17[A/cm2], corrente que resulta da

radiação cósmica e substâncias radioativas presentes na terra. Essas radiações

podem transformar sua energia cinética em energia potencial sob as moléculas

dos gases, ionizando-os, e esta, é a principal forma de ruptura elétrica dos

gases. Por exemplo, se um gás estiver submetido a uma diferença de potencial

muito grande, e este for ionizado, há uma tendência natural e forte de

movimento de cargas de um eletrodo para o outro, causando o “rompimento” do

dielétrico e a condução de eletricidade através do isolante.

Page 87: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

72

Um cientista chamado Townsend fez observações a respeito da ruptura dos

gases: um dielétrico sobre uma “ddp” tem um movimento de elétrons entre o

catodo e o anodo que aumenta até uma estabilização da corrente, denominada

“corrente de ionização”. Essa corrente é mantida até que a tensão alcance tal

valor de tensão que a corrente aumenta exponencialmente com a tensão, e daí

se dá a ruptura do isolante ou condução através do dielétrico.

Essa ionização acontece devida fotoionização causada por radiação,

interação entre átomos que tem sua vida decaída em frações de segundo (meta-

estados) e os átomos do dielétrico e devido a fatores térmicos. Dito isso, se pode

esperar que alguma deionização seja causada pela recombinação dos elétrons ao

dielétrico e pela formação de íons negativos, o que também é verdade.

4.2.1 Transição entre as descargas não sustentadas ao rompimento.

Townsend propôs um mecanismo de ruptura que explica a condução através

dos gases, que está de acordo com a Equação 4.1, de onde há uma transição da

corrente de ionização ou “corrente escura” para uma descarga auto-sustentável.

Esse ponto é onde A corrente I se torna indeterminada ou o denominador se

torna igual a “0”, de acordo com a Equação 4.2.

][)1(10 A

e

eII

d

d

−−=

α

α

γ

Equação 4.1

onde I0 é a corrente inicial, I a corrente instantânea passando através do

cátodo, “γ ” é o segundo coeficiente de Townsend [em número de elétrons que

liberados pelo cátodo devido a incidência de íons positivos], “d” é o comprimento

do dielétrico [m], e “α” é a inclinação da reta.

]º[1)1( élétronsdene d =−αγ

Equação 4.2

4.2.2 A força de campo de rompimento (Eb)

Uma força de campo elétrico de rompimento pode ser definida a partir do

estudo de Townsend, e está de acordo com a equação (3.3).

Page 88: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

73

].

[

)/11ln(ln)( Torrcm

V

Apd

B

p

E

pd

V bb

γ+

==

Equação 4.3

Onde “Eb” é o campo elétrico sobre o dielétrico, também denominado por

força de campo de rompimento, “p” é a pressão sobre o dielétrico, “d” é o

comprimento do dielétrico “γ ” é o coeficiente de Townsend já citado, e “A” e “B”

são constantes de ionização dos gases, “A” em par de íons [cm-1*Torr-1] e “B”

em [V/cm*Torr].

A Equação 4.3 mostra que essa força é diminuída com o aumento do

comprimento do dielétrico (d), com a pressão mantida constante, porém, é

principalmente função do produto (p.d) e é incrementada lentamente com o

decréscimo da pressão e acréscimo do comprimento do dielétrico.

4.2.3 Descargas parciais

Quando estudamos vários fenômenos que ocorrem nos sistemas elétricos,

começam a surgir alguns problemas de unidades e nomenclaturas que podem

acarretar alguma confusão.

Assim, antes de começarmos a falar sobre as descargas parciais (DP), é

conveniente fazermos alguns comentários gerais sobre a utilização dos termos

técnicos que normalmente são encontrados na literatura.

Em alta tensão todos sabem que quando temos aplicado um determinado

valor de tensão por sobre um arranjo qualquer, automaticamente teremos

tensões induzidas em outros objetos próximos, ionização das moléculas de ar

nas superfícies condutoras, geram-se sinais eletromagnéticos e forma-se uma

distribuição de campo elétrico no espaço em volta do arranjo pois este está

diretamente relacionado com a tensão aplicada.

Conforme a intensidades e o mapeamento deste campo elétrico é que

surgem os diversos fenômenos com os quais nos preocupamos em determinar as

influências e intensidade. Desse modo surgem os diversos problemas nos

sistemas de transmissão tais como perda de energia, interferência nas

freqüências auditivas, ondas curtas de rádio (SW – Short Wave) e TV, corona

visual, descargas parciais, como veremos agora, e até mesmo descargas

disruptivas quando o campo elétrico é suficientemente alto para promover

Page 89: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

74

ionização de todo um percurso até outro elemento porventura existente nas

proximidades.

“O campo eletromagnético é o responsável inicial de todos os fenômenos e

conforme o problema que queiramos resolver, nomenclaturas adequadas e

grandezas são utilizadas de modo mais conveniente”.

Figura 4.1 – Processo das descargas

Todos os fenômenos anteriormente descritos ocorrem devido à ''ionização''

das moléculas de ar em regiões onde o campo elétrico torna-se crítico e por isto

este termo não é empregado para retratar nenhum dos itens acima. A

''ionização'' apenas representa a separação dos componentes de uma molécula

neutra, conforme o quadro representado pela Figura 4.2.

Page 90: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

75

Figura 4.2-a, b e c exemplificando, respectivamente, o diagrama da Figura 4.1.

Observe que o termo ''descargas parciais'' é utilizado tanto para o caso de

descargas nas cavidades de um material isolante (sólido, gás (bolha), óleo),

quanto nas superfícies condutoras.

Assim, uma descarga parcial (DP) é uma descarga elétrica localizada, ou

seja, que não chega a percorrer o caminho dentro de um material isolante

colocado entre dois eletrodos.

Quando temos uma determinada tensão aplicada aos terminais de um

dielétrico (ar, óleo, gás, fenolite, resinas, etc.) podem ocorrer descargas em

partes deste dielétrico nos pontos onde houver maior intensidade de campo

elétrico ou onde a constante dielétrica “ε” for menor, como no caso de pequenas

bolhas de ar no interior de um isolante sólido.

No caso de dielétricos sólidos estas descargas são produzidas pela ionização

de pequenas cavidades de ar no interior do dielétrico; no caso dos líquidos, pela

ionização de bolhas de gás no seu interior; no caso do ar pela ionização das

moléculas de ar que se encontram nos pontos de maior gradiente de potencial.

“As DPS podem ocorrer em qualquer ponto do dielétrico; na junção de dois

dielétricos diferentes ou adjacentes ao condutor; podem também ocorrer

seguidamente em várias pontos do dielétrico”.

A necessidade do ensaio de DPS vem do fato que estas descargas são uma

fonte contínua de deterioração do material isolante, ou seja, modificam suas

propriedades dielétricas, além de poderem, dependendo de sua intensidade,

gerar interferências em recepção de rádio, TV e sistemas digitais em geral.

Dependendo da intensidade das DPS, a vida útil do material será reduzida.

Inclusive, um dos itens a que se propões o ensaio de DPS é o de determinar a

Page 91: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

76

relação existente entre as grandezas que regem as DPS e a vida útil do

dielétrico. Outro motivo é a utilização cada vez mais freqüente dos materiais

poliméricos que envelhecem mais rapidamente sob os efeitos da ionização,

conjuntamente com razões econômicas que tendem a minimizar as espessuras

isolantes.

4.2.3.1 Meios de detecção

Descargas dão origem a muitos fenômenos, os quais podem ser utilizados

em seu diagnóstico, e compõe o diagrama da Figura 4.3.

Figura 4.3 – Fenômenos produzidos pelas descargas parciais.

A detecção do fenômeno elétrico é mais freqüentemente realizada, com

vistas à medição de perdas dielétricas e detecção de impulsos elétricos. Os

métodos de detecção não elétricos ultimamente tem sido utilizados com bons

resultados, destacando-se o método acústico acelerométrico.

3.1.2.2 Características da DP’s

As DP’s tem como característica ocorrer sempre em pequenas regiões do

isolante, ter curta duração em relação ao ciclo da senóide (da ordem de nano

segundos), tem frente muito íngreme e formas de onda discretas no tempo,

podendo ser tratadas como “função impulso”, são repetitivas e ocorrem

seguidamente em vários pontos do dielétrico - em alguns casos aleatórias

Page 92: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

77

dependentes da configuração (≈ 4 a 10 ciclos) -, a grandeza utilizada para a

medição das DPS é a carga “q” medida normalmente em pico Coulombs; que

está diretamente associada à deterioração do dielétrico (a taxa de repetição, ou

seja, o número de DPS por unidade de tempo, também é importante), mas

também pode ser medida em [µV] o que não é muito freqüente visto a grande

influência na leitura da capacitância do objeto que se está ensaiando, promovem

elevação de temperatura do fluído e erosões pelo choque mecânico entre

elétrons e moléculas da parede da cavidade e, finalmente, e incitam perdas de

energia nas cavidades.

4.2.3.2 Sinal gerado por uma descarga parcial

Para efeito de medição e análise, pode ser feita uma comparação entre os

sinais usuais gerados pelas tensões na área da engenharia e o sinal de uma

descarga parcial, de acordo com a Figura 4.4.

Page 93: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

78

Figura 4.4 – Comparação entre sinais elétricos comuns e sinais gerados pelas DP’s.

4.2.3.3 Circuito de representação de uma descarga parcial

Seja um dielétrico entre os terminais do qual está sendo aplicada uma

tensão “V” tal qual mostra a Figura 4.5.

Page 94: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

79

Figura 4.5 – Representação de uma cavidade em um dielétrico: “I” corresponde à porção

defeituosa do dielétrico e “II” corresponde a parte não-defeituosa.

Na Figura 4.6 a alta tensão sobre o dielétrico é dada por “Va” e a tensão

sobre a cavidade é dada por “Vc”. Quando a tensão “Vc” alcança a tensão de

ruptura “U+” a descarga ocorre na cavidade; “U+” é dada pela curva de Paschen.

A tensão cai para “V+” (usualmente menor que 100V) quando a descarga se

extingue. A queda da tensão ocorre em menos de 10-7[s]. Este tempo é

extremamente pequeno se comparado com a duração de um ciclo de uma

senóide – e.g. em 50Hz (20ms).

Após a extinção, a tensão sobre a cavidade sobe novamente. Esta tensão é

determinada pela sobreposição do campo elétrico principal e o campo elétrico

superficial das cargas existentes nas paredes da cavidade, deixadas após a

última descarga.

Quando a tensão sobre a bolha alcança “U+” uma nova descarga ocorre.

Isto ocorre diversas vezes seguidas da queda de tensão “Va”, sobre a amostra e

a queda da tensão “Vc” para “U-” antes que uma nova descarga ocorra. Esta é a

maneira como grupos recorrentes de descargas aparecerão.

Figura 4.6 – Comportamento das DP’s em uma cavidade.

Page 95: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

80

Conforme as características do material, existirá em seu interior uma certa

quantidade de cavidades de várias formas e dimensões preenchidas com ar ou

gases.

Costuma-se, para efeito simplificado e de análise, considerar uma única

cavidade de contorno plano, pois as várias partes do dielétrico podem ser

simuladas idealmente por capacitores de placas paralelas e resistências.

Pode-se então, modelar o circuito equivalente do dielétrico para explicar a

descarga, de acordo com a Figura 4.7.

Figura 4.7 – Circuito elétrico que representa o dielétrico.

Na Figura 4.7 a capacitância “C2” representa a capacitância da cavidade. “C1”

é a capacitância total em série com “C2” e “C” é o restante da capacitância em

paralelo com o conjunto “C1” e “C2”. Para cada capacitância existe também uma

resistência correspondente, que normalmente costumam ser desprezadas (R, R1

e R2), de onde ainda pode se fazer uma simplificação resultando no circuito da

Figura 4.8.

Figura 4.8 – Circuito elétrico simplificado.

Page 96: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

81

“No caso de corrente contínua também podemos utilizar este circuito

apenas acrescentando “R1” sem a qual não haverá no circuito nem correntes de

fuga nem de deslocamento”.

A tensão nos terminais da cavidade (V2), em função dos parâmetros do

circuito e da tensão aplicada externamente, é dada pela Equação 4.4:

][21

12 V

cc

cVV

+=

Equação 4.4

Uma descarga parcial significa um curto circuito através da capacitância C2,

o que acarretará numa diminuição da tensão nos terminais do dielétrico de ∆V e

uma queda de tensão nos terminais de “C2” de “∆V2 = V2”.

Pode-se determinar o valor de “∆V” em função de “V2” e dos parâmetros do

circuito através do equilíbrio de cargas antes e após a descarga parcial, de

acordo com as equações (3.5) e (3.6):

])[.

(21

21 CCC

CCCVqantes

++=

Equação 4.5

])[(1 CVVCCqapós ∆−+=

Equação 4.6

Da igualdade “qantes=qapós” e de acordo com a Equação 4.4, concluímos que a

variação da tensão nos terminais (∆V) do Objeto sob Teste (OT) é proporcional à

tensão nos terminais da cavidade (V2 = ∆V2) e função das capacitâncias do

dielétrico (C1 e C), de acordo com a equação(3.7).

][1

12 V

CC

CVV

+=∆

Equação 4.7

Procuramos medir uma grandeza que esteja diretamente associada à vida

útil do dielétrico e que seja pouco sensível às variações de capacitância do

circuito de ensaios. A carga “q2”, que é a carga gerada nos terminais da cavidade

devido à DP é a grandeza mais indicada, porém esta carga não pode ser medida

na prática. Define-se então uma carga q, chamada de “carga aparente”, a qual,

caso seja injetada instantaneamente nos terminais do OT, produzirá uma queda

de tensão igual àquela provocada pela DP. Esta “carga aparente” “q” pode ser

medida.

Page 97: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

82

A carga acumulada nos terminais da cavidade (q2) é dada pela equação

(3.8) como segue:

])[.

(1

1222 C

CC

CCCVq

++=

Equação 4.8

Que corresponde ao equivalente de Thevelin nos terminais de “C2”.

Em relação à ordem de grandeza dos parâmetros podemos considerar que:

][)()/1

(, 22221221

1222112 CCVCVCCV

CC

CCVqCCCC ∆=≈+≈

++=→>>>>

Equação 4.9

A carga produzida nos terminais do dielétrico (q) devido à DP na cavidade é

dada pela Equação 4.10:

][)()/1

().

( 12121221

1

21

21222 CCVCVqCCV

CC

CCV

CC

CCCVq ∆==→+∆≈

++∆=

++∆=

Equação 4.10

A relação entre a carga que medimos nos terminais do dielétrico (q) e a

carga real produzida nos terminais da cavidade (q2) é:

][2 2

1

22

21

C

C

VC

VC

q

q=

∆=

Equação 4.11

Como consideramos as capacitâncias como sendo de placas paralelas

temos:

][021 Cd

ACe

h

AC εε ==

Equação 4.12

Onde “A” é a área dos capacitores “C1” e “C2”, “d” é a altura do capacitor

representativo da cavidade, “h” é a altura do capacitor em série com a cavidade,

“ε” é a permissividade do dielétrico e “εo” a permissividade do ar.

Dessas relações, temos:

][2 0 h

d

q

q

ε

ε=

Equação 4.13

Page 98: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

83

Percebe-se então, que a carga aparente (q) aumenta quando a cavidade

aumenta; quando a espessura do dielétrico diminui ou quando a relação entre a

permissividade do isolante e do gás aumenta.

Os valores limites da carga aparente (q) devem ser diferentes para cada

equipamento ou isolante ensaiado.

4.2.3.4 Circuito de medição

Basicamente são três circuitos de ensaio de DP’s.

O primeiro circuito tem a impedância de medição em série com o capacitor

de acoplamento, é utilizado nos casos que o OT possui uma extremidade

aterrada, de acordo com a Figura 4.9.

Figura 4.9 – Circuito com impedância em série com capacitor de acoplamento.

O segundo circuito tem a impedância de medição em série com o OT, e é

utilizado nos casos onde o lado de baixa do OT fica isolado da terra e tem a

vantagem de suprimir perturbações que diminuem na razão de “C/Ck” onde “C” é

a capacitância do OT e “Ck” a capacitância de acoplamento, de acordo com a

Figura 4.10.

Figura 4.10 – Circuito onde a impedância de medição fica em série com o OT.

Page 99: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

84

O terceiro e último circuito, também chamado de equilibrado ou

balanceado, está de acordo com a Figura 4.11, e é utilizado quando tanto o lado

de baixa do OT quanto do capacitor de acoplamento estão isolados da terra

através das impedâncias de medição “Zm1” e “Zm2”, é indicado para ensaios de

corrente contínua e apresenta poucos problemas de interferências externas.

Figura 4.11 – Circuito utilizado quando tanto o lado de baixa do OT, quanto o capacitor

estão isolados da terra.

Um circuito de ensaio completo pode ser como o esquematizado na Figura

4.12, onde o filtro “F” serve para impedir a passagem dos possíveis pulsos de

corrente de alta freqüência provenientes da fonte AC.

O capacitor “Ck” de acoplamento evita que a tensão AC passe para a

impedância de medição e constitui um caminho preferencial para os pulsos de

corrente correspondentes as DP’s.

Figura 4.12 – Circuito de ensaio.

A impedância de medição (Zm) pode ser resistiva' (aperiódica) ou indutiva

(oscilatória), de acordo como segue:

Page 100: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

85

4.2.3.4.1 Circuito com impedância resistiva é representado pela Figura 4.13:

Figura 4.13 – Circuito com impedância resistiva.

Onde “q” é a carga aparente, “Ci” é a capacitância do OT, “R” é a resistência

de medição e “Cp” a capacitância parasita.

A tensão nos terminais da impedância de medição é:

][..)( / VeqktV t

R

τ−=

Equação 4.14

Onde “K = 1/ [Ci(1+Cp/Ck) + Cp]”, “τ = R(Cp + Cs)”, “Cs =Ci.Ck/(Ci+Ck)” e

“Cp” é uma capacitância parasita de valor desprezível.

Para t = 0 temos:

][)0( VCi

qVR =

Equação 4.15

Logo, vemos que a tensão “Vr” varia diretamente com a carga aparente.

4.2.3.4.2 Circuito com impedância indutiva representado pela Figura 4.14:

Figura 4.14 – Circuito com impedância indutiva.

Page 101: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

86

Onde “L” é a indutância de medição e “R” a resistência de amortecimento.

A tensão nesse caso é oscilante e dada por:

][cos..)( 2/ VteqktV t

L ωτ−=

Equação 4.16

Onde “ω” é função de “R”, “L”, “Cp”, “Ci” e “Ck”.

Percebe-se que em ambos os itens (4.2.3.4.1 e 4.2.3.4.2) os valores iniciais

da tensão são idênticos.

Seja então um circuito simplificado conforme Figura 4.15:

Figura 4.15 – Diagrama simplificado do circuito de ensaio.

Onde “I2(t)” é a corrente na resistência (R) devido a DP, “q” é a carga

aparente real no objeto sob ensaio e “qm” é a carga aparente registrada através

da impedância de medição.

Dessa maneira, temos então (Equação 4.17 - Equação 4.20):

][21

21 FCC

CCCCi

++=

Equação 4.17

])[(.)( 2 VtiRtVR =

Equação 4.18

][)0( VC

qV

i

R =

Equação 4.19

][)( /Ve

Ci

qtV SRCt

R

−=

Equação 4.20

Logo:

Page 102: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

87

][..

)(2 ACR

qti sRc

t

i

= ε

Equação 4.21

E o medidor registrará uma carga (qm) igual à:

][)(20 CCC

Cq

C

Cqdttiq

ki

k

i

s

m+

==∫=∞

Equação 4.22

Assim, a carga aparente medida (qm) é menor que a carga aparente real (q)

e será tanto menor quanto maior for a capacitância do OT.

Para a realização de ensaios é requerido “qm ≥ 0,5.q[C]”, ou seja, devemos

ter normalmente “Ci ≤ Ck[F]”, para que não tenhamos problemas de

interferências.

4.2.3.5 Calibração do circuito

A calibração consiste em injetar no circuito de ensaio uma determinada

carga escolhida (qc) e medir a indicação correspondente no osciloscópio ou

instrumento de medição.

O calibrador consiste essencialmente de uma fonte de corrente contínua

(Ec) com uma pequena capacitância em série (Cc), e duas calibrações podem ser

feitas, como segue:

4.2.3.5.1 Calibração direta.

Pode ser representada pela Figura 4.16:

Figura 4.16 – Calibração direta do circuito de ensaio.

Page 103: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

88

A carga é injetada nos terminais de alta do OT, estando o circuito

desenergizado e ajusta-se no medidor, uma escala correspondente à carga que

foi escolhida.

4.2.3.5.2 Calibração indireta.

A calibração indireta pode ser representada pelo circuito da Figura 3.19:

Figura 4.17 – Calibração indireta do circuito de ensaio.

Neste caso, o mesmo valor de carga é injetado nos terminais da impedância

de medição. A calibração indireta é feita para que se tenha o valor de escala

conhecido na tela do medidor durante todo o ensaio, podendo ser verificado se

necessário.

4.2.3.6 Interferências externas nas medições

Quando efetuamos as medições, devemos atentar para algumas possíveis

interferências que possam vir a ocorrer, pois embora o local possa ser blindado

eletromagneticamente, isto sempre é possível de acontecer.

Algumas formas típicas de interferências causadas por diversas situações

tais como, motores, lâmpadas fluorescentes, contatos ruins, retificadores,

objetos flutuantes, etc. podem facilmente ser verificadas experimentalmente em

laboratório.

Também podemos determinar os ciclos positivos e negativos na base

elíptica pela utilização de eletrodos ponta-plano.

Page 104: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

89

4.2.3.7 Comentários sobre a realização de ensaio de acordo com a Norma IEC-270

À parte de alta tensão do circuito de ensaio após o filtro (capacitor de

acoplamento e ligações) devem estar isentas de corona (descargas parciais) até

a tensão máxima de ensaio de DP’s.

O OT deve estar limpo, seco e à temperatura ambiente, não tendo sofrido

solicitações mecânicas, térmicas ou elétricas anteriores ao ensaio.

As partes externas do OT que possam gerar ''descargas parciais'', tais como

saliências pontiagudas, devem ser protegidas eletricamente por intermédio de

toróides.

A tensão de ensaio é fornecida normalmente pela norma do equipamento ou

especificação do cliente.

O ruído ambiente deve ser no máximo 50% do nível especificado de

descargas parciais. Caso haja, e se for provado, a existência de algum pulso

apreciável de origem externa, este pode ser desprezado.

No caso de medições de nível baixos de DP’s (≤10 p[C]), o ruído poderá ser

maior que 50% do nível especificado porém não superior a este.

Nenhum ruído deve ser subtraído do valor de DP registrado.

Os ruídos podem variar desde alguns p[C] para ambientes blindados até

centenas de p[C] em áreas não blindadas.

As medições das DPS são realizadas, segundo a norma, com três finalidades

possíveis, sendo elas: a)verificar se o OT não ultrapassa um determinado nível

de DP numa tensão especificada; b)determinar os valores de tensão nos quais

um determinado valor de DP é ultrapassado em tensão crescente ou extinguido

em tensão decrescente e c)determinar a intensidade da DP numa tensão

específica.

O que fazemos normalmente e determinar, para alguns valores de tensão,

os valores correspondentes das DP’s. É um procedimento similar àquele utilizado

na medição de RI (Rádio Interferência), a menos do intervalo de leitura que é

neste caso de dez segundos.

Pode ser traçada então uma curva de tensão k[V] versus carga p[C].

Registram-se normalmente as temperaturas de bulbo seco e úmido e a

pressão atmosférica, embora não sejam feitas correções para a tensão de

ensaio.

Page 105: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

90

4.2.3.8 Princípios de detecção elétrica das descargas parciais

4.2.3.8.1 Diagramas básicos

As descargas parciais provocam impulsos de corrente pelos terminais do

objeto sob teste, ou em operação. Estes impulsos são muitos rápidos da ordem

de nano segundos. A medição de descargas parciais, pelo processo elétrico,

consiste em detectar estes impulsos. Existe uma grande variedade de circuitos

para detecção destes impulsos. Porém todos estes circuitos podem ser reduzidos

no diagrama básico mostrado na Figura 4.18:

Figura 4.18 –Circuito de detecção de descargas parciais

Onde “HV” é a fonte de alta tensão, a é o objeto sob teste ou amostra

afetada pelas DP’s, “Z” é a impedância através do qual impulsos de tensão

ocorrem causados pelos impulsos de corrente (i) em a, “k” é o capacitor de

acoplamento que deve facilitar a passagem de altas freqüências, “A” é um

amplificador de sinais e o é o instrumento de medição ou detecção: auto falante,

voltímetro, osciloscópio, analisador de espectro, etc.

4.2.3.8.2 Impedância de detecção (Z)

A impedância “Z” pode ser conectada ao objeto sob ensaio de dois modos

diferentes, em série com o objeto sob teste ou em série com o capacitor de

acoplamento.

Ambos os modos são eletricamente iguais, porém deve-se ter o cuidado no

caso da capacitância do objeto ser muito grande, pois desta forma, a corrente

de carga do objeto também será grande e poderá danificar a impedância da

medição.

Page 106: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

91

Neste caso será preferível a ligação em série com o acoplador “k”. Além

disso, na prática, em muito casos, a ligação em série com o objeto em teste não

é possível de ser feita como é o caso dos geradores da Itaipu Binacional.

A impedância “Z” é constituída geralmente de uma resistência “R” em

paralelo com uma capacitância parasita “C”, ou por um circuito “RLC”. É a

impedância de medição que determina a faixa de freqüência em que a medição

será feita.

No caso do circuito “RC” o pulso de corrente originado pelas descargas

parciais provocam na impedância de medição “Z” uma tensão impulsiva,

unidirecional mostrado na Figura 4.19, cuja expressão matemática calculada pela

transformada de Laplace é dada pela Equação 4.23:

][.)1(

)/( V

cak

c

qV Rmt−

++

= ε

Equação 4.23

Que, de modo simplificado pode ser considerada igual a uma função de “q”

e “Cn” como na Equação 4.24.

][. VC

qV mR

t

n

= ε

Equação 4.24

Onde “Cn” é o capacitor relacionado pela Equação 4.25:

][)1( FCak

CCn ++=

Equação 4.25

E, onde “q” é a magnitude das descargas causadas pelos impulsos, “e” é

igual a “b*∆V”; onde “a”, “c” e “k” são mostrados na Figura 4.19.

Figura 4.19 – Resposta ao impulso com impedância igual à RC.

Page 107: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

92

Para uma impedância de medição constituída de tensão de um circuito

“RLC”, o impulso de tensão será atenuado como se pode ver na Figura 4.20, mas

terá o mesmo valor de pico como no caso da impedância “RC”, cujo valor é dado

pela Equação 4.26.

][)1(

cos)2

(V

Cak

C

qV

tRm

ε−

++

=

Equação 4.26

Onde

][4

1122

radMRLM

−=ω

Equação 4.27

Figura 4.20 – Resposta ao impulso de tensão de uma impedância RLC.

Notas:

Das equações acima percebemos que a amplitude do impulso de tensão é

proporcional à amplitude “q” das descargas.

Pode-se ainda observar que a amplitude da tensão independente de “R”.

Não obstante, “R” influencie na constante de tempo e quanto menor “R” menor a

constante de tempo e mais agudo será o impulso de tensão o que poderá

dificultar a amplificação do sinal.

Se a capacitância do objeto (a) for muito grande em relação ao capacitor de

acoplamento (K) e as capacitâncias parasitas (C) a amplitude do impulso de

tensão será basicamente determinada por (a), de acordo com a Equação 4.28.

][` Va

qV = se “a” >> “c” e “k”

Equação 4.28

Page 108: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

93

Exemplo E 3.1: Considerando “a = 1,8 nF” (uma fase do gerador da IB.), “k

= 80 mF” (capacitor de acoplamento Siemens) e “c = 10 pF” (capacitância

parasita) calcular as tensões relacionadas.

Resolução:

][10)

18,08,1( 6

Vk

k

qV

−+

=

][)1(

Vk

cak

c

qV

++

=

][1010108,1)10

101( 1263

Vk

xxxk

qV

−−− ++

=

][

10

1010108,1)10101(9

12612Vk

kx

xxx

qV

−−− ++=

][10)10

1808,1( 63

Vk

xk

qV

−−+

=

Para “k = 80 [nF]”

][008,1802,1

10. 6

1 kVq

V ==

Para “k = 10 [nF]”

][008,1802,1

10. 6

2 kVq

V ==

Podemos ainda, ver a importância do capacitor de acoplamento (k),

percebendo que ele diminui o denominador da equação, caso contrário a

amplitude do impulso de tensão será pequena.

4.2.4 Descargas através do efeito Corona

Nos campos elétricos uniformes ou quase uniformes a ionização usualmente

leva ao completo rompimento do dielétrico. Nos campos não uniformes, no

entanto, várias manifestações luminosas e sonoras são observadas muito antes

de ocorrer o completo rompimento do dielétrico.

Page 109: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

94

Esses fenômenos são conhecidos como “Coronas”. Esses efeitos são

responsáveis por consideráveis perdas de energia nas linhas de transmissão e

leva a deterioração da isolação pela ação combinada das descargas elétricas a

composição química de certos isolantes.

O campo elétrico crítico para o efeito do fenômeno visual corona, para

tensões ac, é expresso pela teoria desenvolvida por Peek, para aplicação sobre

cabos cilíndricos suspensos no ar, de acordo com a Equação 4.29:

r

Ec

.

63,953,31

δδ+=

Equação 4.29

Onde “Ec” é o módulo do campo elétrico, “r” é o raio do cabo e “δ” é a

densidade relativa do ar.

Estes fenômenos normalmente interferem nos sistemas de comunicação,

porém são muito utilizados industrialmente nos dispositivos de impressão de alta

velocidade, precipitadores eletrostáticos, contadores Gêiser, etc.

Os fenômenos corona visuais apresentam diferença de acordo com a

polaridade onde acontecem, sendo branco-azulados e formando superfícies sobre

o cabo nas polaridades positivas e aparecendo sobre o formato de manchas

brilhantes avermelhadas distribuídos ao longo do cabo na polaridade negativa.

No entanto, tanto tensões ac como dc’s produzem os mesmos efeitos.

Nos coronas positivos, as descargas se dão na forma de “fluxos de

corrente”, com a curiosa característica de nunca se cruzarem. Essas descargas

vão diminuindo até a extinção quando alcançam pontos no dielétrico de menor

campo elétrico.

Nos coronas negativos, os fenômenos visuais ocorrem sob a forma de

pulsos muito regulares que recebem o nome de “pulsos de Trichel”, por terem

sido minuciosamente estudados pelo cientista Trichel. Esses pulsos tem sua

freqüência aumentada com o aumento da tensão, e dependem também da

pressão, do comprimento do dielétrico e do raio do cátodo. A Figura 4.21

demonstra o aumento da freqüência dos pulsos de Trichel com o aumento da

tensão, para vários valores de raios diferentes de catodo.

Page 110: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

95

Figura 4.21 – Relação entre a tensão e a freqüência dos pulsos de Trichel.

4.3 DESCARGAS NOS SÓLIDOS

Os isolantes sólidos estão sempre presentes na alta tensão, seja como

suporte mecânico ou mesmo na separação dos condutores, porém, mesmo com

o fato de que foram formuladas várias teorias no século passado tentando

explicar o rompimento dos isoladores sólidos, essa teoria ainda se encontra

bastante crua e não conclusiva. Isso porque, esses isoladores sofrem a ação de

correntes que, ao contrário dos gases, vêm de várias fontes de polarização,

iônica, eletrônica e por movimento de dipolos, que é muito lenta, e, essas

correntes não apresentam diferenças do ponto de vista de medição, dificultando

o estudo de cada tipo separadamente.

Nas baixas temperaturas, se aceita que na maioria dos sólidos, a condução

se dá de acordo com a Equação 4.30:

kT

u

A−

Equação 4.30

Onde “A” e “u” são constantes empíricas.

Page 111: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

96

A temperatura é um fator relevante, quando nos referimos à isolação nas

cerâmicas, principalmente nos vidros, que provavelmente são de origem

eletrônica ou iônica. Acredita-se que a condução dá-se pelo fato que há injeção

de elétrons na banda proibida dos átomos do isolante, através dos portadores

nos eletrodos ou do próprio acúmulo de elétrons proveniente da polarização,

sendo ejetados pelo “efeito de emissão Schottky”, permitindo assim, a condução

através do isolador sólido.

Se o material for homogêneo e as condições de temperatura forem

rigorosamente controladas, são observadas tensões elétricas muito elevadas,

que surgem com tensões abaixo do limite de isolamento do isolante, duram na

ordem de 10-8[segundos], só são dependente da tensão aplicada e da

temperatura e são conhecidas como forças elétricas intrínsecas. Isso é explicado,

supondo que o stress que uma região determinada do dielétrico é muito maior

que nas outras, de acordo com a Figura 4.22.

Figura 4.22 – Mecanismos de falhas nos sólidos.

Essas tensões causam descargas e danificam o isolamento, sendo

conhecidas como rompimento intrínseco.

As descargas por avalanche seguem um processo similar as descargas por

avalanche nos gases, isto é, um elétron ou íon livre ganha energia através da

ação do campo elétrico e perde energia na colisão com elétrons dos demais

átomos, se a energia absorvida for maior que a perdida nas colisões, e a energia

Page 112: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

97

das colisões for suficiente para retirar elétrons das bandas adjacentes de seus

átomos, este processo pode desencadear uma avalanche.

O rompimento mecânico é característico daqueles sólidos que podem se

deformar significantemente, de forma a alterar sua configuração mecânica, sem

que haja uma fratura. Isso acontece devido a que a pressão mecânica exercida

sobre o isolante pode ser muito alta, devido a atração dos eletrodos.

Segundo Stark e Garton, a espessura inicial, chamada módulo de Young

“Y”, decresce para um valor igual a “d” [m] quando uma tensão de módulo igual

a “V” é aplicada, de acordo com a Equação 4.31.

][ln2 20

0

22V

d

dYdV

rεε=

Equação 4.31

Onde o primeiro quociente representa as permissividades do ar e relativa

respectivamente, “d0” é a espessura inicial de uma espécime de material Young,

que decresce a uma espessura “d” depois da descarga.

Quando um isolante é percorrido por correntes de fuga, devido a

polarização, calor está sendo gerado continuamente no isolante, a condutividade

(σ) normalmente aumenta com o aumento de temperatura, podendo ocasionar

descargas térmicas.

Estas descargas são representadas por uma certa instabilidade, ou seja, há

uma tendência de desencadear cada vez mais elétrons, pois a condução de um

elétron aumenta um pouco mais a temperatura formando uma reação em cadeia.

A teoria das descargas elétricas é explicada sob a teoria de condutividade

calorífica dos materiais, a capacidade de dissipação e o sistema de refrigeração

de tais sistemas.

Quando um dielétrico sólido tem uma falha, como, por exemplo, uma bolha

de ar em sua construção, há uma tendência de que sobre essa bolha a

intensidade de campo seja ainda maior que no dielétrico em si, sendo uma fonte

bastante grande de descargas, conhecidas por descargas por erosão.

Page 113: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

98

4.4 DESCARGAS NOS LÍQUIDOS

O mecanismo de ruptura nos líquidos é ainda mais obscuro e desconhecido

do que o mecanismo nos gases ou mesmo nos sólidos. Das várias teorias

surgidas através dos anos, muitas são contraditórias, de forma que não se pode

ainda formar uma teoria conclusiva aos líquidos.

Dois ramos de teorias diferentes, no entanto, podem ser citados: um

explica a ruptura dos dielétricos líquidos como uma extensão da teoria dos

gases, baseado na avalanche de elétrons ocasionada através da ionização dos

átomos causada pela colisão de elétrons com muita energia nestes.

Esta teoria se mostra razoável para líquidos de extrema pureza, onde a

polarização eletrônica e iônica. Quando há, no entanto, uma quantidade muito

grande de impurezas, o líquido tende a ter uma corrente crescente com o campo,

que depois é estabilizada, e por final, quando o campo aplicado é muito elevado,

tende a uma instabilidade, ocorrendo daí a “avalanche”.

O outro ramo de pensamento tenta explicar fisicamente o comportamento

dos líquidos, partindo daí para a explicação das razões e das características da

condução nos líquidos. Muitos cientistas da atualidade têm publicado vários

trabalhos a respeito, mas essa teoria ainda se apresenta bastante incerta.

Sabe-se, entretanto, que nos líquidos, existe a ruptura eletrônica, e que é

preferencial a ruptura térmica. Ela depende, do campo elétrico aplicado “E”, do

“caminho livre” do elétron “λ”, e do quanta de energia “hν” perdido na ionização

da molécula. De acordo com a Equação 4.32, “c” é uma constante arbitrária.

νλ cheE =

Equação 4.32

Impurezas sólidas, suspensas nos líquidos também ocasionam rupturas

dielétricas. Isso porque estas podem ter cargas líquidas, e ocasionar avalanches.

Uma explicação plausível e aceita, é a de que essa partícula carregada é levada

ao lugar onde o campo elétrico é maior e “grad E” igual a zero. Outras partículas

sólidas carregadas são levadas a essa região, que por possuir o campo mais

elevado, têm um campo praticamente uniforme. Nesse campo, as partículas vão

se alinhando, de maneira a se dispor na forma de cabeça-com-rabo, formando

certas “pontes” no dielétrico, podendo seguir daí a ruptura do dielétrico.

Page 114: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

99

Um outro tipo de ruptura conhecido como ruptura de cavidade é causado

por inclusões de gases dentro dos dielétricos líquidos, na forma de bolhas. Essas

bolhas causam mudanças na temperatura e na pressão do dielétrico, dissociação

de líquidos em sólidos devido à colisão dos elétrons e vaporização do líquido

devido as descargas do tipo corona, nos pontos de irregularidade dos eletrodos.

A Equação 4.33 representa como esse processo se torna uma descarga.

][2

3

.

0

m

VEE

liq

b+

Equação 4.33

Onde “E0” é a “força de ruptura”, e o quociente é igual à permissividade do

líquido somada de dois.

Da Equação 4.33 quando “Eb” se torna igual ao campo de ionização do gás,

descargas vão ocorrer, podendo causar a decomposição do líquido e podendo

assim, causar o rompimento do isolante.

4.5 SUMÁRIO

O rompimento dos dielétricos é uma grande preocupação no caso de

equipamentos de alta tensão. Eles são responsáveis pelo desgaste dos isolantes,

e indicadores de possíveis defeitos futuros, não deixando de se levar em conta

um defeito mais grave.

Por isso, se tornam parte importante do estudo de equipamentos de alta

tensão.

Page 115: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

100

5 GERAÇÃO DE ALTAS TENSÕES

5.1 INTRODUÇÃO

Geradores de altas tensões são fabricados com o intuito de produzir tensões

acima das tensões nominais, mesmo das tensões já consideradas de alta.

Isso porque, normalmente essas tensões são utilizadas na realização de

testes, de cunho científico ou prático, no caso de se desejar informações sobre a

isolação de determinado equipamento.

Esses testes são sempre feitos acima das tensões nominais de trabalho,

especificadas por normas nacionais e internacionais.

5.2 GERAÇÃO DE ALTAS TENSÕES EM CORRENTE CONTÍNUA

Altas tensões em corrente contínua são usualmente produzidas para

pesquisas puramente científicas, ou no caso de testes da capacitância de cabos

muito longos, onde tais testes consumiriam correntes muito altas em corrente

alternada, ou mesmo na física aplicada e equipamentos médicos como raios-x.

De acordo com a norma internacional a tensão gerada é igual ao seu valor

aritmético médio, de acordo com a Equação 5.1, ou seja, a integral da tensão

durante um período, dividida pelo próprio período, e isso se aplica pelo fato de

que os sinais DC de altas tensões possuírem um ripple, que por definição, é igual

a média entre o valor de pico e o menor valor, de acordo com a Equação 5.2,

enquanto que o fator de ripple é a razão entre o ripple e o valor médio da

tensão, ou seja, igual a δV/Vmed e, para efeitos de teste, não deve exceder três

por cento.

Page 116: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

101

][)(1

0

VdttVT

V

T

med ∫=

Equação 5.1

( ) ][2

1minmax VVVV −=δ

Equação 5.2

5.2.1 Retificação de tensões em AC

O fato do desenvolvimento dos retificadores semicondutores substituiu a

retificação de altas tensões geradas em AC por válvula, piscinas de mercúrio e

retificadores mecânicos onde o sistema auxiliar de aquecimento do catodo

dificultava sua aplicação.

A retificação monofásica pode ser feita através de simples retificadores

semicondutores, sempre construídos em Silício, que normalmente não suportam

tensões reversas maiores que 2500[V], porém, sem apresentar problemas em

relação a conexão destes dispositivos em série até atender a condição desejada.

5.2.1.1 Circuitos retificadores simples.

Um retificador monofásico de meia onda é representado pela Figura 5.1.

Figura 5.1 – Elementos de um gerador de alta tensão DC.

Sua interpretação é facilitada se for negligenciadas a reatância de dispersão

do transformador e a resistência de condução do diodo – que são muitas vezes

Page 117: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

102

menores que a dos aparelhos onde serão feitos os testes, normalmente em seu

isolamento – e, considerando o capacitor como sendo ideal.

Quando o diodo conduz, o capacitor carrega até a tensão máxima da fonte,

e tende a se manter carregado enquanto a tensão da fonte é menor que a tensão

do mesmo. Dessa forma, o diodo deve ser dimensionado de forma a suportar

uma tensão duas vezes maior que a tensão de pico da fonte.

Quando o circuito é conectado a carga, a tendência é de que o capacitor

descarregue sobre aquela, carga qual, que pode ser aproximada pela Equação

5.3:

][)(.1

)( Cf

IITdttV

RdttiQ

TLT

L ==== ∫∫

Equação 5.3

Onde “I” representa o valor médio da corrente DC fluindo pela carga.

Com o ripple incluído, a tensão sobre a carga varia entre o “Vmax” e o “Vmin”,

onde “Vmin = Vmax – 2.δ.V”, enquanto que a carga fornecida durante o período

pode ser, sem inserir grandes erros, igual à da Equação 5.3, uma vez que o

tempo de carga “αT << T”. O ripple poderia ser calculado exatamente se o

tempo de descarga fosse considerado diferente do período através da relação

T(1-α), mas como normalmente “α = 0”, o ripple pode ser calculado como

abaixo:

][22

2;2 CfC

I

C

ITITVCQ ==→== δδ

Equação 5.4

Levando-se em consideração que a carga é então função do valor máximo

da tensão da fonte e da carga, e, mostra que “f.C” é um importante parâmetro

de fabricação.

Deve-se, durante o projeto, levar em consideração um rompimento da

carga, ocasionando um curto-circuito, para dimensionar os componentes, de

forma que os semicondutores devem resistir a essa corrente de curto.

Usualmente, esses geradores produzem tensões na ordem de Megavolts (e.g

gerador de Prinz, de 1,2 MV, 60 mA).

Retificadores bifásicos também são construídos a partir de transformadores

com tap central, e talvez a principal consideração de projeto que deve ser feita, é

de que os diodos devem resistir também a duas vezes a tensão de pico da fonte

senoidal.

Page 118: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

103

Figura 5.2 – Forma de onda de um retificador monofásico de meia

onda de alta tensão.

5.2.1.2 Circuitos retificadores em cascata.

Circuitos dobradores de tensão foram projetados para se obter uma tensão

muito mais alta que a dos retificadores de meia onda monofásicos citados no

item anterior. O primeiro deles foi projetado por Greinacher, físico, em 1920,

sendo melhorado em 1932 por Cockcroft e Walton, com a finalidade de produzir

íons positivos com alta energia.

De acordo com a Figura 5.3 percebe-se que a idéia é utilizar capacitores

como dobradores de tensão a fim de se obter uma tensão de saída DC muito

maior que a amplitude da fonte senoidal de entrada.

O procedimento é o seguinte: se os terminais do circuito estão inicialmente

abertos, no primeiro semiciclo positivo C’n carrega a Vmax, e no semiciclo seguinte

negativo atinge 2Vmax, se, inicialmente o ponto n está aterrado, o capacitor Cn é

também carregado com 2Vmax, no próximo semiciclo positivo o ponto n’ atinge

novamente Vmax e então o capacitor C’n-s é carregado com Vmax e assim

sucessivamente até o estágio desejado.

Page 119: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

104

Figura 5.3 – Circuito dobrador de “n” estágios

As formas de onda podem ser observadas de forma lógica, de acordo com a

Figura 4.4.

Figura 5.4 – Formas de onda de um dobrador de “n” estágios.

Page 120: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

105

Deve-se observar que os potenciais dos nós à esquerda oscilam de forma

senoidal, respondendo a tensão da fonte de alimentação, os potenciais dos

capacitores da direita se mantêm constantes em relação ao terra, e com

magnitude de “2Vmax” cada – observe que somente se soma “2Vmax” por estágio –

com exceção de “C’n” que é submetido a no máximo “Vmax”, os diodos devem ser

projetados para suportar no mínimo “2Vmax” – tensão a qual estão submetidos –

e, a tensão obtida na saída, na condição de idealidade, é “2.n.Vmax”.

Quando uma carga é colocada nos terminais do gerador, no entanto, essa

tensão é sempre menor que “2nVmax”, pela queda de tensão causada pela

corrente que percorre a carga – “∆V0” - e pelo ripple existente – “2.δ.V”.

Para o cálculo do ripple, supõe-se que uma quantidade de elétrons “q” é

transmitida à carga pelos capacitores, igual a “q = I/f = IT”, assim, o ripple deve

ser igual à somatória da energia transferida por todos os capacitores a carga,

porém, como capacitores menores seriam submetidos a tensões muito elevadas

se a carga fosse rompida, os capacitores são projetados para ser todos iguais, o

ripple pode ser representado pela Equação 5.5.

A queda de tensão “∆V0” pode ser analisada considerando a queda do

primeiro estágio, “n”. Supondo que os elementos de circuito são idéias, “Cn’”

carregará com “Vmax”, mas devido a descarga desse capacitor Cn será carregado

com

][.2'

..2 maxmaxmax VVV

C

qnVV n

n

cn ∆−=−=

Equação 5.5

Onde “n.q” é a descarga do capacitor. Da mesma forma, “Cn” carrega “Cn-

1’”, que está sujeito ao mesmo efeito de descarregamento, assim:

]['

..2

.

'

..2 maxmax)1( V

C

qnV

C

qn

C

qnVV

n

cn

nn

nc −=−−=−

Equação 5.6

E assim sucessivamente, de forma que, se os capacitores tiverem a mesma

capacitância as quedas de tensão em através de cada estágio será

aproximadamente:

])][1(2)[(;)( 1 Vnnc

qVn

cq

V nn −+=∆=∆ −

Equação 5.7

E sabendo que “q = I/f”, encontramos:

Page 121: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

106

])[623

.2(

1 23

0 Vnnn

fCV −+=∆

Equação 5.8

Apesar de que os menores capacitores são responsáveis por todo o “∆V0”

como no caso do ripple, capacitores no valor de “Cn’” são usados por

conveniência, diminuindo “∆Vn” numa quantidade de “0.5.nq/c” por estágio

resultando finalmente em:

])[63

.2(

1 3

0 Vnn

fCV −=∆

Equação 5.9

De onde para casos onde “n” for maior ou igual a “4”, o termo “n/6” pode

ser desconsiderado.

5.3 GERAÇÃO DE ALTAS TENSÕES ALTERNADAS

Normalmente os testes nos equipamentos são feitos com a tensão nominal

dos equipamentos, salvo em enrolamentos de transformadores e isolações de

sistemas complexos. Como a maioria dos equipamentos elétricos, ao menos os

de alta tensão e normalmente mais caros, funcionam normalmente sob tensão

alternada e testes com tensões similares devem ser feitos sobre estes.

É admitido no sinal AC gerado, correntes harmônicas de aproximadamente

cinco por cento, ou seja, o valor RMS não deve ser menor que noventa e cinco

por cento ou menor que cento e cinco por cento do valor de pico sobre raiz de

dois.

Normalmente os testes em alta tensão são aplicados sobre equipamentos

que apresentam características capacitivas, de forma que esses equipamentos

devem possuir a capacidade de dissipação de potência igual a “Pn = k Vn2ωCt”,

onde “Vn” é a tensão RMS sobre o equipamento e “k” é um fator de segurança,

chegando, no máximo a 2 em tensões maiores ou iguais a 1 MV. Capacitâncias

características dos equipamentos estão de acordo com a Tabela 5.1.

As correntes RMS podem ser facilmente calculadas através da lei de Ohm e

devem estar na faixa de algumas dezenas de miliampères para tensões de

algumas centenas de kVA até ampères para tensões de milhares de volts. Como

os testes não são de longa duração, geralmente até 15 min, não deve haver

Page 122: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

107

problemas com refrigeração, mesmo em fontes compactas, uma vez que as

constantes térmicas são relativamente grandes e há uma certa demora para que

a temperatura chegue a um valor crítico.

Tabela 5.1 – Capacitâncias características de elementos de alta tensão.

Isolação de postes ou de cabos suspensos algumas dezenas de pF

Buchas 100-1000 pF

Tranformadores de potencial 200-500 pF

Transformadores de potência

> 1000 kVA 1000 pF

< 1000 kVA 1000-10000 pF

Cabos de alta tensão

Papel impregnado em óleo 250-300 pF/m

Isolados por gases 60 pF/m

Substação isolada a SF6 1000-10000 pF

Deve-se, ao testar equipamentos em alta tensão, saber que normalmente

os defeitos que serão observados nos testes não são de origem de curto-circuito,

uma vez que as correntes que são geradas internamente nos testes são pouco

elevadas, mas normalmente causadas pelo potencial elevado em determinados

pontos da isolação, sendo assim importante o levantamento dos pontos onde os

campos elétricos possuem valores mais críticos, e numa situação extrema,

aplicar-se-ão resistores de atenuação, entre 10 e 100kOhms, que normalmente

são bastante caros.

Finalmente, duas maneiras são as mais eficientes na geração de altas

tensões: os transformadores e os circuitos ressonantes.

5.3.1 Transformadores utilizados para teste

Transformadores geradores de altas tensões só se diferenciam aos

transformadores monofásicos de potencial no que diz respeito a densidade de

fluxo, que no primeiro é muito menor, para evitar elevadas correntes parasitas

que aumentam o número de harmônicas e causam defeitos à isolação.

Sua representação pode ser exemplificada pela Figura 5.5, que mostra

seções transversais de transformadores, de onde se pode ver que sua construção

é muito similar aos transformadores monofásicos de potencial, sendo que, uma

Page 123: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

108

das poucas diferenças é da bucha isolante “6”, utilizada para isolar as altas

tensões. Tensões menores que 1 kV podem ser utilizadas na transformação, que

podem ser aplicadas a um enrolamento, como na Figura 5.1, ou mesmo a

configurações de enrolamento, paralelo ou série, de acordo com a proposta de

funcionalidade. No lugar da bucha, pode ser utilizado também um cabo coaxial,

se este facilita a conexão da alta tensão ao equipamento a ser testado. Os

enrolamentos são dispostos de forma trapezoidal em volta ao núcleo de ferro e

suas bobinas são fortemente isoladas entre si (com papel Kraft, por exemplo).

Figura 5.5 – Seções transversais dos transformadores utilizados

para testes em alta tensão.

Se tensões maiores que 100 kV forem necessárias, técnicas como utilização

de dois enrolamentos acoplados ao mesmo núcleo de ferro, de forma que fiquem

em série, de acordo com a Figura 5.2, ou transformadores em cascata são

utilizados. Nas tensões entre 300 e 500 kV os transformadores em cascata

apresentam muitas vantagens, como, por exemplo, poderem apresentar

desacoplamento dos estágios da cascata, proporcionando entre outros fatores,

um manuseio mais fácil, mas um pré-requisito que devem ter é de utilizar dois

enrolamentos de alta tensão em série em cada núcleo, conforme anteriormente

comentado.

Page 124: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

109

Figura 5.6 – Utilização de dois elementos em série sobre um

núcleo magnético

Uma utilização de transformadores em cascata pode ser representada pela

Figura 5.7, de onde se pode perceber que a tensão de um dos dois enrolamentos

do secundário dos transformadores é colocada em série com o primário do

próximo estágio, e o outro enrolamento do secundário de um é utilizado para

fornecer tensão ao primário do próximo estágio.

Figura 5.7 – Diagrama esquemático de transformadores em cascata.

Page 125: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

110

A principal desvantagem de utilizar transformadores para geração de altas

tensões é a potência consumida pelo conjunto, que pode se relevar muito

elevada. A fonte poderia ficar muito carregada, pois deve fornecer a potência

consumida por todos os estágios. Podem ser necessários ainda, reatores a ser

utilizados em paralelo com o aparelho a ser testado e, filtros para reduzir a

quantidade de harmônicos, equipamentos auxiliares, que normalmente não são

baratos.

A sobrecarga dos estágios iniciais dos transformadores em cascata pode

resultar uma alta impedância de entrada aos transformadores em cascata. Se

desconsideramos as perdas devido as reatâncias de dispersão e magnetização, a

impedância equivalente pode ser calculada de acordo com a Equação 5.10:

][])1()([1

22 Ω−++−+=∑=

n

v

pvevhvres XvnXvnXX

Equação 5.10

Onde “Xhv” é a impedância de alta tensão, “Xpv” a do primário e “Xev” as de

excitação.

Como os equipamentos que são testados são estritamente representados

por capacitâncias, o circuito equivalente pode ser representado por um circuito

simples formado através do equivalente de um transformador ligado a uma

capacitância. Os transformadores em cascata são o método mais utilizado pelo

mundo na geração de altas tensões de teste, e quanto ao circuito ressonante

desses, se a carga nominal estiver presente, uma tensão com freqüência bem

abaixo da ressonante deve aparecer na saída do último estágio, se, no entanto,

pouco mais de meia tensão nominal for colocada sob o primeiro estágio, a tensão

de saída oscilará sobre a freqüência de ressonância e tensões maiores que a

nominal são facilmente geradas, se tornando assim, a impedância do

transformador em cascata e do equipamento a ser testado, parâmetros

importantes.

5.3.2 Circuitos série ressonantes.

Enquanto nos transformadores em cascata, ressonâncias teriam

conseqüências desastrosas, alguns circuitos podem ser construídos com a

intenção de se obter uma ressonância.

Page 126: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

111

Dessa forma, se produz uma ressonância que é controlada para resultar na

freqüência fundamental para que não ocorra nenhuma ressonância não desejada.

A Figura 5.8 mostra o esquema básico dos circuitos séries ressonantes utilizados

para gerar altas tensões, sintonizados na freqüência desejada. Nessa figura, “Ct”

é a capacitância pura da carga, e a freqüência da fonte é conhecida, se um

transformador de elevação é utilizado, e a condição de ressonância for

encontrada em relação a impedância do secundário do transformador, a energia

armazenada inicialmente na carga é totalmente compensada, no entanto, o

transformador carrega toda a corrente da carga, o que é uma grande

desvantagem. A Figura 5.8 é um circuito série ressonante utilizando

transformadores em cascata, como os já citados. Os indutores são ajustados de

acordo a se obter um alto fator de qualidade – de acordo com a Equação 5.10 –

dentro, é claro, dos limites de variação das indutâncias.

Figura 5.8 – Circuitos série-ressonantes.

Esses geradores passaram a ser construídos com mais freqüência no final

dos anos 60, quando se desenvolveu a tecnologia de núcleo variável das

Page 127: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

112

indutâncias, eliminando assim a necessidade de transformador elevador, de

acordo com a Figura 5.8.

A corrente nominal de projeto do transformador de acoplamento pode ser

tão baixa quanto “V/Q”, onde “Q” é o pior fator de qualidade do circuito,

enquanto que a tensão pode ser encontrada a partir da condição de ressonância

do circuito, não discutida aqui.

Esses circuitos apresentam algumas vantagens, enumeradas a seguir:

A forma de onda de saída é melhorada, pela eliminação de tensões em

freqüências diferentes da fundamental e também pela atenuação das harmônicas

que existem na fonte.

Normalmente esses equipamentos não consomem mais do que 5% da

potência consumida por outros equipamentos de teste com fator de potência

igual a um, e, analogamente, os kVA consumidos, são então muito menores.

Se ocorrer uma falha na isolação do espécime de teste, o arco é formado

apenas pela potência armazenada na capacitância, não apresentando, muitas

vezes potência suficiente para danificar o equipamento, e o arco existente é logo

extinguido.

Os transformadores de acoplamento podem ser utilizados sem os problemas

das altas impedâncias de entrada dos circuitos com transformadores em série.

Circuitos de auto-sintonização podem ser facilmente desenvolvidos, para

cargas onde a capacitância varia ao longo do tempo.

O peso dos circuitos ressonantes em série normalmente chegam de 3 a 6

kg/kVA, enquanto nos transformadores em série estão em torno de 10 a 20

kg/kVA (não incluindo o equipamento necessário de controle e regulação).

Quando a capacitância da carga estiver fora dos limites de ressonância para

freqüência da rede, um inversor de freqüência pode ser utilizado para ajustar a

freqüência da fonte à freqüência de ressonância, de acordo com a Figura 5.9,

onde a indutância “Ln” representa todas as indutâncias dos reatores em série ou

paralelo.

Page 128: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

113

Figura 5.9 –Conversor de freqüência utilizado junto com o gerador de alta tensão.

Um critério de projeto é a máxima corrente através do circuito, de forma

que o transformador não fique saturado ou cause sobre-aquecimento nas

bobinas, e está de acordo com a Equação 5.11 a seguir:

][)(2

2A

L

CV

fL

VI

n

nn

n

nn ==

π

Equação 5.11

Onde a resistência é muito menor que a impedância indutiva, de forma que

pode ser desconsiderada.

A indutância deve, se ajustada de acordo com a freqüência de ressonância –

Equação 5.12 – resultando na Equação 5.13 onde “Cn” é igual à capacitância

equivalente do espécime a ser testado.

][2

1Hz

CLf

nnπ=

Equação 5.12

n

nC

L2)2(

1

π=

Equação 5.13

Pode-se prever a corrente e a freqüência de funcionamento do circuito

quando a capacitância da espécime a ser testada é modificada, de acordo com as

Equação 5.14 e Equação 5.15 que demonstram as relações de freqüência, corrente

e tensão.

Page 129: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

114

n

t

nn C

C

f

f

I

I==

Equação 5.14

n

tn

t

C

CV

V 1=

Equação 5.15

Onde o índice “n” representa os valores nominais de funcionamento do

circuito série ressonante e o índice t representa os valores a serem testados.

Circuitos série ressonantes ainda apresentam uma quantidade menor de

circuitos de teste nos laboratórios mundiais, porém vêm dando terreno e têm se

mostrados muito importantes para testes na faixa de MV ou unidos a conjuntos

de testes com raios-X.

5.3.3 Tensões de impulso

São consideradas impulsivas, tensões com as seguintes formas de onda:

Figura 5.10 -Forma de onda plena para o impulso de tensão.

Page 130: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

115

Figura 5.11 - Onda de tensão escarpada na frente.

Onde “Up” é o valor de pico da tensão assumido com tolerâncias de ± 3%,

“T1” é o tempo de frente (0’ até o pico máximo de tensão igual à 1,67*T), T2 é

tempo de cauda da onda. Estes parâmetros são determinados pelos tempos “ta”

e “tb”.Os valores de T1 e T2 são T1/T2 =250 ± 30% / 2500 ± 20%[µs] para

impulso atmosférico e T1/T2 =250 ± 30% / 2500 ± 20%[µs] para impulso de

manobra. Finalmente, “d” é o pico de tensão reversa e deve ser menor que

½*Up.

Somente são permitidas oscilações nas formas de onda para freqüências

maiores que 500 kHz e cujas amplitudes não ultrapassem 5% do valor médio de

pico de tensão e sobre tensões com tempo de duração menor de 1µs sobre a

forma de onda. Essas deformações são provocadas pelas indutâncias naturais

dos cabos, instrumentos de medida e dos equipamentos sob testes.

As formas de onda sem oscilações podem ser calculadas pela utilização de

uma função composta por dois termos exponenciais que descrevem a dinâmica

do circuito ou obtidas através da modelagem matemática do circuito de ensaio

considerando a impedância do transformador infinita.

Nas formas de onda que apresentam oscilações e sobretensões permitidas

os parâmetros são calculados pela aproximação da curva real por uma curva

média, através do método dos mínimos quadrados.

Os circuitos que geram essas formas de onda são conhecidos como

“geradores de Marx” e podem ser representados pela Figura 5.12:

Page 131: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

116

Figura 5.12 – Circuito representativo de um Gerador de Marx

Segundo a Norma NBR 7570, para ensaios em transformadores de potência

deve-se aplicar um impulso de tensão entre 50% e 75% da tensão plena,

determinada pela NBI (Índices básicos de isolação) e três subseqüentes impulsos

no valor de tensão plena. A representa a disposição dos equipamentos durante o

ensaio:

Figura 5.13 – Forma de ligação para o ensaio de impulso.

Page 132: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

117

Os níveis de tensão utilizados em ensaios de impulso de tensão atmosférico

e de manobra foram, de acordo com a NBR 6930, são:

Figura 5.14 – Tensões normalizadas para ensaios de impulso.

Segundo o procedimento usual de aplicação das tensões que é descrito na

NBR 5380, para ensaios em transformadores de potência devem ser aplicadas

uma seqüência de impulsos a cada um dos enrolamentos do transformador. Para

os terminais que não estiverem sob ensaio, devem ser curto-circuitados através

de uma impedância de baixo valor, como um derivador de medição de corrente,

como mostrado na Figura 5.13.

5.4 SUMÁRIO

Ao longo do capitulo foram mostrados os principais métodos utilizados nas

indústrias de eletricidade para geração de energia elétrica de alta tensão e

Page 133: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

118

deliberados seus respectivos geradores mostrando o funcionamento dos

circuitos.

Uma ênfase especial foi dada a geração de tensões impulsivas, baseada no

trabalho desenvolvido pelo Engenheiro Rôman Kuiava durante o período de

estágio junto ao laboratório eletromecânico da Hidrelétrica Itaipu Binacional.

Page 134: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

119

6 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DE ALTAS TENSÕES

6.1 INTRODUÇÃO

A medição de altas tensões apresenta algumas inconveniências a que

alguns especialistas em eletricidade podem não estar acostumados, isto porque,

podem acontecer nesses equipamentos fenômenos como sobre-aquecimento,

descargas visuais ou mesmo na tentativa de controlar a configuração do campo

elétrico, que quanto maior, se torna mais instável.

O presente capítulo mostra as mais usuais formas de medição de altas

tensões pelo mundo, e as dificuldades em classificá-las em grupos, pois

dependem de muitos parâmetros, alguns muito importantes em uns medidores e

desprezíveis em outros, aleatoriamente.

6.2 MEDIÇÕES DE TENSÕES DE PICO ATRAVÉS DE FENDAS DE

CENTELHAMENTO

Fendas de centelhamento podem ser utilizadas na medição de tensões de

algumas dezenas de kV, mas envolve um complicado modelo físico para serem

bem compreendidas.

O método não é direto, consistindo na formação de um arco através da

isolação, produzido por um centelhamento, e, por isso a fonte deve poder

fornecer tal curto-circuito. Tais medições contêm um grau razoável de incerteza,

porém são de grande confiabilidade e simplicidade, sendo um bom método para

os laboratórios que desejam as duas qualidades citadas.

A geometria dessas fendas de centelhamento tem grande influência sobre o

resultado e durante muito tempo foram utilizados medidores esféricos que

somente há alguns anos se foram unidos aos haste/haste. Estes medidores

podem ser utilizadas para medição de tensões dc, ac e impulsivas.

Page 135: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

120

Nos medidores de fendas esféricas, estas são espacialmente idênticas e têm

sua separação limitada, para que um campo elétrico homogêneo e manipulável

exista entra as esferas, eliminando o efeito Corona antes do rompimento do

dielétrico. Para que haja uma boa medição, a configuração de campo elétrico

deve ser quase que totalmente devido à geometria da fenda e a densidade e

composição do ar deve ser bem conhecida.

A Figura 6.1 representa um desses equipamentos, que podem aparecer

também com uma construção horizontal, desde que uma das esferas esteja

aterrada. Os parâmetros A e B devem ser determinados a fim de se obter um

campo elétrico dentro dos limites estabelecidos, de forma que B determina a

distância da esfera exterior com intuito que também não haja qualquer perigo de

descarga sob objetos que estão por perto, ocupando a posição de importantes

parâmetros de construção, que estão de acordo com a Tabela 6.1. O ponto de

faísca ou centelhamento é mostrado por P e não deve ser maior que os limites da

esfera D, podendo ser informado através de tabelas.As esferas devem ser suaves

e o diâmetro não deve exceder dois por cento do nominal em qualquer ponto. A

região de centelhamento livre de irregularidades na superfície e as demais

regiões, assim como também ela, deve estar livre de qualquer defeito ou

depósito de substâncias não condutoras. Umidades relativas maiores que 90%

fazem a medição perder a precisão e a eficiência, pois líquidos podem se

condensar nas superfícies da esfera.

Nas medidas dc, o efeito do pó se intensifica, devendo assim, ser incluído

uma incerteza de ± 5 %. Os valores das tensões é função não linear da distância

entre as esferas centrais, de acordo com a Tabela 6.3, que foi obtida através da

interpolação de valores, que podem ser calculados através de polinômios de

sexto grau ou menos.

Tabela 6.1 – Relações mínimas de construção, parâmetros A e B.

Diâmetro da esfera - D [mm] Valor mínimo de A Valor máximo de A Valor mínimo de B

62,5 7D 9D 14S

125 6 8 12

250 5 7 10

500 4 6 8

750 4 6 8

1000 3,5 5 7

Page 136: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

121

1500 3 4 6

2000 3 4 6

Figura 6.1 – Representação esquemática de um medidor de esferas de centelhamento

vertical.

Page 137: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

122

Tabela 6.2 – Valores de tensão de acordo com a distância entre esferas - 1ª parte

• Esfera de fendas com uma esfera aterrada

• Valores de pico das tensões de descarga (50% para testes de impulso), válidas para:

• Tensões alternadas, tensão impulsiva luminosa negativa, tensões impulsivas de

chaveamento negativo e tensões dc de qualquer polaridade.

• Condições ambientais: temperatura igual à 20oC e pressão igual à 101,3 kPa (760

mmHg).

Tensão de pico [kV]

Diâmetro da esfera [cm] Espaço entre as esferas de fendas

6,25 12,5 25

5 17,2 16,8

10 31,9 31,7

15 45,5 45,5

20 58,5 59

25 69,5 72,5 72,5

30 79,5 85 86

35 87,5* 97 99

40 95* 108 112

45 101* 119 125

50 107* 129 137

55 112* 138 149

60 116* 146 161

65 154 173

70 161* 184

80 174* 206

90 185* 226

100 195* 244

110 203* 261

120 212* 275

125 214* 282

175 342*

200 366*

225 385*

250 400*

Page 138: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

123

Tabela 6.2– Valores de tensão de acordo com a distância entre esferas – 2ª parte

• Esfera de fendas com uma esfera aterrada

• Valores de pico das tensões de descarga (50% para testes de impulso), válidas para:

• Tensões alternadas, tensão impulsiva luminosa negativa, tensões impulsivas de

chaveamento negativo e tensões dc de qualquer polaridade.

• Condições ambientais: temperatura igual à 20oC e pressão igual à 101,3 kPa (760

mmHg).

Tensão de pico [kV]

Diâmetro da esfera [cm]

Espaço entre as esferas de fendas

50 75 100 150 200

50 138 138 138 138

75 202 203 203 203 203

100 263 265 266 266 266

125 320 327 330 330 330

150 373 387 390 390 390

175 420 443 443 450 450

200 460 492 510 510 510

225 530 585 615 630 630

250 585* 665 710 745 750

300 630* 735 800 850 855

350 670* 800 875 955 975

400 700* 850* 945 1050 1080

450 730* 895* 1010 1130 1180

500 970* 1110* 1280 1340

600 1025* 1200* 1390 1480

700 1040* 1230* 1440 1540

750 1260* 1490* 1600

800 1320* 1580* 1720

900 1360* 1660* 1840

1000 1730* 1940*

1200 1800* 2020*

1300 1870* 2100*

1400 1920* 2180*

1500 1960* 2250*

1600 2320*

1700 2370*

1800 2410*

1900 2460*

Page 139: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

124

Para as medidas de tensões impulsivas também deve ser incluída uma

incerteza de ± 3 %, e não são válidas para tensões menores que 10 kV. Nas

medidas onde as esferas estão separadas por distâncias menores que 0.05D não

se podem fazer aproximações, pela dificuldade de se regular as esferas com

precisão.

Essas esferas apresentam uma capacitância, de forma que se aconselha a

utilização de resistores de proteção da ordem de 0,1 a 1 Mega Ohms para

tensões dc e ac em freqüência industrial. Para tensões impulsivas, a tensão deve

diminuir e, os resistores de proteção devem ser omitidos, ou utilizados até no

máximo a 500 ohms.

Esse processo de medição não é definitivo. Normalmente, se trata de fazer

uma relação entre a medição feita pelas esferas e a indicação de um osciloscópio

ou voltímetro acoplado ao sistema de controle, logo quando as medições forem

feitas nesses equipamentos, a tensão aplicada não deve ser muito maior que a

necessária para causar a ruptura do dielétrico e não deve apresentar uma taxa

de subida maior do que o aparelho acoplado ao sistema de controle possa ler. Se

este último aparelho, no entanto, não puder ser utilizado, a medição pode ser

totalmente confiada aos medidores de esfera de fendas, desde que estes estejam

regulados adequadamente e sejam feitas as verificações das condições

ambientais.

Nas medições impulsivas, deverão ser feitas não menos que 6 medições,

em degraus não maiores que 2 % da distância esperada para a descarga elétrica,

e o intervalo entre as medições não deve ser menor que 5 segundos e o valor

obtido deve partir da interpolação dos valores obtidos.

Caso as condições ambientais sejam diferentes das ensaiadas e

apresentadas nas tabelas, deve ser utilizado um fator de correção, sobre a

tensão medida, de forma que a tensão seja igual ao fator de correção (kd) vezes

a tensão das tabelas apresentadas anteriormente; de acordo com a Tabela 6.3,

onde a densidade relativa do ar pode ser calculada de acordo com a Equação 6.1,

subseqüente:

00

0

0 )273(

)273(

T

T

p

p

t

t

p

p=

+

+=δ

Equação 6.1

Page 140: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

125

onde p são as pressões e t as temperaturas e, os índices zero, são para as

condições padrões.

Tabela 6.3 - Fatores de correção das

tensões nas tabelas anteriores

δ kd

0,7 0,72

0,75 0,77

0,8 0,82

0,85 0,86

0,9 0,91

0,95 0,95

1 1

1,05 1,05

1,1 1,09

1,15 1,13

Todo o estudo sobre medições por esfera de fendas foi desenvolvido nos

EUA, entre as décadas de 1930 e 1950, de forma que se deve levar em

consideração que as normas vigentes estão de acordo com a IEC e aprovado pelo

Comitê Americano em 1958. Não devem haver muitas variações dos valores

tabelados, porém, vale ressaltar que as condições ambientais brasileiras pode

diferenciar sensivelmente das americanas, e posteriormente, durante a extensa

utilização dos aparelhos, foram feitas novas ressaltas no que diz respeito a

correntes de surto, radiação provocada por descargas impulsivas e umidade

relativa do ar, mas, mesmo assim, não devem haver variações consideráveis dos

valores tabelados.

Quanto as medições feitas através de fendas de centelhamento com

geometria de haste/haste, estas são muito mais recentes. Primeiramente foram

utilizadas para medições de descargas sob tensões impulsivas, mas logo foi

obtida uma relação, para eletrodos com diâmetro de 20 [mm] e terminais

arredondados, de acordo com a Figura 6.1, que pode ser utilizada para tensões

dc, de acordo com a Equação 6.2.

][)65,8(10.1,5*).( 4 2kVhSBAVb ++= −δ

Equação 6.2

Page 141: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

126

Onde “S” é a distância entre os eletrodos, “h” é a umidade absoluta [g/m3],

e “A” e “B” são constantes iguais a 20 [kV] e 5,1 kV/cm respectivamente para

polaridade positiva e iguais a 15 [kV] e 5,45 kV/cm respectivamente para

polaridade negativa.

6.3 DIVISORES DE TENSÃO

Os divisores de tensão são talvez a forma mais eficiente de se fazer

medições em altas tensões. São utilizados normalmente, divisores capacitivos,

resistivos e híbridos. Sistemas divisores indutivos são muito pouco utilizados e só

não geram grandes problemas para medições de tensões abaixo de 1 kV. Acima

de uma centena de kV’s, estes sistemas se apresentam extremamente

problemáticos, de forma que normalmente são descartadas construções de tais

equipamentos; e, não serão explicados aqui.

Os divisores capacitivos e indutivos são relativamente grandes, para que

condições seguras de operação sejam atendidas. Normalmente, cada MV

necessita de 2,5 a 3 metros para tensões dc, 2 a 2,5 metros para tensões

impulsivas luminosas, mais do que 5 metros por MV (RMS) para tensões ac e

maiores que 4 metros por MV de tensões impulsivas de chaveamento.

Esses divisores, apesar de muito utilizados apresentam grandes dificuldades

de representação através de modelos matemáticos, já que, mesmo que os

capacitores e resistores responsáveis pela divisão propriamente dita, ou partes

ativas, sejam conhecidos, o mesmo não pode ser dito das outras capacitâncias

ou resistência existentes em vários pontos desconhecidos (e.g. entre um

terminal e um objeto próximo), que são tratadas como elementos de circuito

“perdidos”, dos quais não se tem uma localização conclusiva. Não dificilmente,

esses elementos assumem diferentes valores em todos os pontos dos divisores,

ficando impossível ter um modelo conclusivo sobre tais capacitâncias “perdidas”.

Um modelo não linear seria também muito difícil de ser construído, pois contaria

com um número muito grande de elementos de valores diferentes.

Um modelo adotado para a representação desses equipamentos, no

entanto, é aceito pela comunidade da engenharia, e, consta de se construir um

modelo com um grande número de parâmetros concentrados, de acordo com a

Page 142: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

127

Figura 6.2, onde existe “n” setores responsáveis pela redução da tensão até um

valor igual a “V2”, que pode ser lido.

Figura 6.2 – Modelo aceito do divisor de alta tensão.

Assim, o valor “n” por definição é chamado de razão de tensão ou fator de

escala, e é igual a “V/V2”. Assim, a impedância total do grupo de impedâncias é

dada pelas equações Equação 6.3 e Equação 6.4:

]´[.´ Ω==∑ lll ZnZZ

Equação 6.3

][´

´

1Ω==∑

n

Z

ZZ

q

q

q

Equação 6.4

Page 143: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

128

Para que sejam calculadas a resposta em freqüência e a resposta ao

degrau, é feita uma analogia à forma que resulta em parâmetros distribuídos de

uma linha de transmissão, resultando assim em:

)(

)(sinh

)()(1

sinh.

.)( 2

sZ

sZ

sZ

sZ

nn

V

Vnsh

q

l

q

l

t ==

Equação 6.5

E,

= )(

11)( sh

sLsg tt

Equação 6.6

6.3.1 Divisores de tensão resistivos

Os divisores resistivos podem ser representados pela Figura 5.3. Percebe-se

que existem indutores no circuito do modelo matemático, representados na

Figura 5.3 pelas indutâncias L’, isso porque existe um campo magnético inerente

a circulação de corrente pelo resistor, de forma que se estas indutâncias forem

desconsideradas, podem surpreender na medição os efeitos de acoplamento,

tanto dessas indutância com a carga a ser acoplada ao medidor, como com as

capacitâncias existentes pelo fato do dielétrico do ar que cerca o equipamento,

representados na Figura 6.3 pelas capacitâncias “Cp’ ’s” Em ambos os casos

(indutâncias e capacitâncias), desconsiderá-las, seria o mesmo que

desconsiderar o efeito da permissividade e da permeabilidade do ar.

Page 144: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

129

Figura 6.3 – Circuito equivalente do divisor resistivo de tensão,

utilizado nas medições de alta tensão.

Analogamente ao que foi dito na introdução deste tópico, a função de

transferência dos divisores resistivos é representada pela Equação 6.7.

p

e

p

e

t

sCsLR

sCsLR

sCsLR

sCsLR

nnsh

)(1

)(sinh

)(1)(1

sinh

)(

++

+

++

+

=

Equação 6.7

No caso da resposta ao degrau, a Equação 6.5 pode ser simplificada

considerando “n>>1”, nas equações que são utilizadas adiante. No caso mais

geral a resposta está de acordo com a Equação 6.8:

∑∞

=

+

+

−+=1 221

)sinh()cosh(

)1(21k

e

p

k

k

k

kat

t

kC

C

tbb

atb

eg

π

Equação 6.8

Onde

.,...,3,2,1;)1(

;2 22

222 ∞=

+

== ke

kC

CLC

kab

L

Ra

p

ee

k

π

π

Equação 6.9

Page 145: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

130

Para medições de tensões DC, esses divisores se tornam ideais, uma vez

que “a” para “s=0” nas equações anteriores obtemos diretamente os valores da

divisão de tensão através da Equação 6.10:

][´)1(

.2

22 VR

Rn

RV

n

VV +

−==

Equação 6.10

As medições de tensões AC dependem do decrescimento de “ht(s)” com a

freqüência, porém, nos divisores de tensões feitos de resistores com altos

valores ôhmicos, os valores de “L/R” são menores do que 1 microssegundo e

também “Cp<<Ce”, de forma que podem ser feitas as aproximações das

equações Equação 6.11 e Equação 6.12.

e

e

tsRC

sRCnnsh

sinh

1sinh

)( ≈

Equação 6.11

∑∞

=

−+=1

22

)1(21k

tsRC

k

k

teeg

π

Equação 6.12

A Equação 6.11 pode ser utilizada para calcular a largura de banda através

da amplitude da resposta em freqüência do modelo, |gt(s)|, fazendo |gt(s)| igual

a 0,707 aproximadamente, mostrando a forma simples da Equação 6.13.

][46.1

HzsRC

fe

B =

Equação 6.13

Analogamente, o tempo de resposta T0 pode ser calculado utilizando

conceitos de atraso de transporte, resultando na Equação 6.14:

TRC

T e ≈=6

0

Equação 6.14

Pode, ainda, ser feita outra aproximação. Considerando desprezível o atraso

de transporte, e sabendo que “dgt/dt=0” para “t=0[s]”, o modelo representativo

é muito simplificado, de acordo com a Figura 6.4 – Modelo mais simplificado para o

circuito do divisor resistivo de alta tensão..

Page 146: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

131

Figura 6.4 – Modelo mais simplificado para o circuito do divisor

resistivo de alta tensão.

De acordo com a Figura 6.4 – Modelo mais simplificado para o circuito do divisor

resistivo de alta tensão., a resposta ao degrau pode ser representada pelas

equações Equação 6.15 e Equação 6.16, e o valor de “CE” (valor da capacitância

não distribuída em relação ao potencial de terra) pode ser relacionado de acordo

como segue:

eEEe CC

RCRCT

3

2;

460 =→==

Equação 6.15

eE

eE

CCRCRC

44,0;46.1

2

4=→=

π

Equação 6.16

Considerando que seja feita uma comparação entre a largura de banda dos

dois sistemas para o seguinte valor da freqüência de banda:

][2

1Hz

tfB

π=

Equação 6.17

A Figura 6.5 – Comparação entre as respostas ao degrau, de acordo com a

Equação 6.7. representa a diferença entre ambas as respostas, feita as

aproximações anteriormente citadas.

Page 147: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

132

Figura 6.5 – Comparação entre as respostas ao degrau, de acordo

com a Equação 6.7.

Onde “L=Cp=0” e na Equação 6.11 onde “CE=2/3.Ce”.

O dimensionamento de um medidor divisor indutivo pode ser feito através

das equações Equação 6.18 e Equação 6.19, sabendo que se tratam apenas de

aproximações, de onde podem ser calculadas a largura de banda, tensão de

teste, assim como capacitâncias e resistências.

;][

)21(][

;][

)1510(][ MV

V

G

R

m

H

pF

Ce −≈Ω

−≈

Equação 6.18

=

MVemV

memH

Hzemf

comHV

f

B

B

150...50

Equação 6.19

Um divisor resistivo utilizado para medição de tensões dc pode ser

projetado para funcionar razoavelmente a uma largura de banda de 50 Hz, mas

para testes AC, essa largura deve ser projetada para pelo menos uma freqüência

de corte superior a 1000 Hz, para evitar as fugas. Num circuito para medição de

tensões impulsivas, a banda de freqüência deve ser, no entanto, muito maior,

uma vez que um impulso pode excitar uma gama grade de freqüências.

É bom salientar, que no projeto de tais divisores resistivos, o ripple deve

ser um parâmetro muito importante, uma vez que oscilações muito elevadas

podem implicar em um equipamento fora das normas adotadas. Outro problema

a ser levado em consideração é de que muitas vezes o aquecimento dos

Page 148: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

133

resistores pode ser muito elevado, pois a energia armazenada nos resistores se

eleva proporcionalmente a “V2”, e quase toda essa energia não é transmitida ao

dielétrico que o cerca devido ao pouco tempo que a tensão alcança seu valor

nominal. Por isso se torna praticamente impossível produzir divisores resistivos

para tensões maiores que 1,5 e 2 [MV], e resistores concentrados com valores

maiores que 10 a 20 [kOhms], e com uma parcela muito pequena indutiva, que

não deixa a corrente se elevar muito rapidamente.

Para medição de tensões impulsivas, a divisão de resistores em uma

quantidade de elementos de menor valor é válida, desde que se mantenha a

relação “L/R” não muito baixa, o que também é bastante prejudicial. A redução

da capacitância entre os eletrodos e o potencial de terra também melhora a

eficiência dos modelos e dos medidores, e pode ser obtida aumentando o

tamanho do condutor sob o potencial de alta tensão, o que é uma técnica que

vem sendo utilizada largamente e apresenta cada vez melhores resultados. Essa

técnica foi introduzida por Bellaschi. Esse método apresenta também duas

desvantagens: a resposta ao degrau se torna muito sensível aos equipamentos

que estão nas proximidades, e a interação entre a capacitância do equipamento

de medição e do equipamento onde será efetuada a medição pode trazer

complicações para o método de divisores resistivos.

6.3.2 Divisores de tensão capacitivos

6.3.3 Distorção causada pelo braço de baixa tensão

6.4 SUMÁRIO

As medições de altas tensões sofrem principalmente das dificuldades de

calibração. É difícil se obter uma calibração com erro bastante reduzido, uma vez

que os parâmetros elétricos do circuito de alta tensão são difíceis de se

determinar.

Foram então, apresentados neste capítulo, alguns modelos e técnicas de

medição utilizadas em alta tensão atualmente.

Page 149: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

134

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As técnicas de operação de equipamentos que funcionam expostos a altas

tensões e a teoria envolvida e exposta neste trabalho são de cunho tanto prático

quanto estudantil, sendo aceita por grande parte da comunidade científica.

Procurou-se com ele, abordar parte da ciência que envolve as principais

ocorrências no trabalho de um engenheiro que trabalha na manutenção de

equipamentos de alta tensão.

Ainda há de ser incluída, uma abordagem voltada a prática, incluindo

tópicos de ensaios usuais de laboratórios, metodologias, normas e

procedimentos, sugestivamente além de ensaios como tangente delta e

resistência de isolamento, capítulos abordando a metrologia, rastreabilidade e

calibração de equipamentos e a interferência eletromagnética.

Espera-se, que com o auxílio dos técnicos do laboratório eletromecânico da

Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional este trabalho venha a ser posteriormente

enriquecido, de acordo com a evolução da disciplina, que é relativamente nova.

Page 150: Apostila - Fundamentos de tecnicas de alta tensao

135

ANEXO 1 – Ensaio de um transformador trifásico da companhia de

eletricidade de Pernambuco.

COMPANHIA DE ELETRICIDADE DE PERNAMBUCO

MEDIÇÃO DE RESISTÊNCIA DE ISOLAMENTO

SUBESTAÇÃO: Boa Viagem DATA: 17/08/1978 INÍCIO: 9h

CONDIÇÕES DO AMBIENTE: Boas TEMPERATURA: 28ºC

INSTRUMENTO EMPREGADO: Megger motorizado, Biddle

Nº: 1.823.920, 2500 V, 50.000 megaohms (max.)

EQUIPAMENTO SOB ENSAIO: Transformador trifásico

POTÊNCIA: 15 MVA RELAÇÃO DE TENSÃO: 69 / 13.8 kV

FABRICANTE: ITEL – SP Nº SÉRIE: 31.281

DATA DO ENSAIO ANTERIOR: Novo

RESULTADOS OBTIDOS:

AT – BT (GLM) AT –M (GLB) BT – M (GLA)

TEMPO MAGAOHMS TEMPO MAGAOHMS TEMPO MAGAOHMS

30 s 2.500 30 s 1.750 30 s 1.200

45 s 3.500 45 s 2.000 45 s 1.350

1 min 4.000 1 min 2.000 1 min 1.500

2 min 6.500 2 min 2.150 2 min 2.250

3 min 8.000 3 min 2.250 3 min 3.000

4 min 10.000 4 min 2.250 4 min 3.500

5 min 10.500 5 min 2.250 5 min 4.750

10 min 20.000 10 min 2.250 10 min 5.000

VALORES CORRIGIDOS PARA 20ºC (FATOR DE CORREÇÃO: 1,73)

30 s 4.325 30 s 3.027 30 s 2.076

45 s 6.055 45 s 3.460 45 s 2.335

1 min 6.920 1 min 3.400 1 min 2.595

2 min 11.245 2 min 3.719 2 min 3.892

3 min 13.840 3 min 3.892 3 min 5.190

4 min 17.300 4 min 3.892 4 min 6.055

5 min 18.165 5 min 3.892 5 min 8.217

10 min 34.600 10 min 3.892 10 min 8.650

IA = 1,60 IA = 1,14 IA = 1,25

IP = 5,00 IP = 1,12 IP = 3,33

OBSRVAÇÕES:

GLM = guarda ligado à massa; GLA = guarda ligado à AT; GLB = guarda ligado à BT;

IA = índice de absorção (60s / 30s); IP = índice de polarização (10min / 1 min).