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PROFA. RENATA LEANDRO FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL 1

Apostila Fundamentos Teórico-metodologico

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PROFA. RENATA LEANDRO

FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL

Serviço SocialUNIP

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AULA 01 – A RELAÇÃO SERVIÇO SOCIAL E SISTEMA CAPITALISTA

Profa. Renata Leandro

1. O TRABALHO NO CAPITALISMOO modo de produção capitalista marca o fim do modelo de sociedade baseada no

feudalismo. Nota-se que o capitalismo, conforme nasce como uma característica central de comprar e vender a mão-de-obra humana, baseada num sistema de assalariamento; o trabalhador, que antes realizava o seu trabalho de maneira artesanal e participava de todo o processo de produção, passa a vender a sua mão-de-obra.

É certo que as condições de vida e de trabalho no feudalismo não eram nada boas, todavia, no capitalismo, a situação não vai melhorar: o trabalhador passa a valer pelo que produz e a partir das condições estabelecidas no mercado. Nesse caso, o trabalho se caracteriza pela separação do homem de seus meios de produção, como terras, máquinas e ferramentas.

Conforme Meksenas (1994, p. 26) nos explica que asociedade capitalista é uma organização de trabalho que se caracteriza pela existência de, basicamente, duas classes sociais: os proprietários dos meios de produção e os proprietários apenas de sua capacidade de trabalho. Assim sendo, os trabalhadores trocam com os empresários (os donos dos meios de produção) a sua capacidade de trabalhar por um salário. Nessa sociedade, o trabalho industrial aparece como uma forma básica de produção de bens de consumo.

Com a Revolução Industrial (século XVIII), muitos tinham a esperança de que a vida seria melhor, uma vez que, pelo trabalho, poderiam, com dinheiro fruto da atividade laborativa, realizar seus desejos, adquirir produtos e serviços. Na verdade, não passou de um sonho que virou, posteriormente, pesadelo porque a vida não seria tão simples assim, uma vez que a exploração vai ser uma das principais características desse sistema.

a) Marx e o trabalho no capitalismoQuem estudou a sociedade capitalista de maneira crítica foi o pensador alemão Karl

Marx (1818-1883). Para esse teórico, o trabalhador é bastante explorado no capitalismo e, muitas vezes, devido à necessidade de sobrevivência e às condições de vida, a alienação consiste na forma com que esse sistema se reproduz.

A primeira forma de alienação do trabalhador é quando ele é separado do seu meio de produção. Em um segundo momento, vem à alienação pela falta de conhecimento da realidade de exploração que está vivendo.

b) A mais-valiaA partir de seus estudos sobre o trabalho no capitalismo, Marx chegou à conclusão

de que o trabalhador não recebe justamente o seu salário, o qual deveria suprir suas necessidades de alimentação, vestuário, lazer e bem-estar de sua família.

Este teórico crítico do capitalismo descobre que o salário pago ao trabalhador não corresponde ao tempo gasto no processo de produção, de modo que a maior parte do lucro produzido fica em poder do dono dos meios de produção, isto é, do capitalista. A esse

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cenário, Marx chamou de mais-valia. Vejamos uma explicação do que é mais-valia. Tomazi (2000, p. 50) assinala que

o trabalhador, ao assinar um contrato para trabalhar numa determinada empresa, está dizendo ao seu proprietário que se dispõe a trabalhar; por exemplo, oito horas diárias, ou quarenta horas semanais, por determinado salário. O capitalista passa, a partir daí, a ter o direito de utilizar essa força de trabalho no interior da fábrica. O que ocorre, na realidade, é que o trabalhador, em cinco ou seis horas de trabalho diárias, por exemplo, produz um valor que corresponde ao seu salário total, sendo o valor produzido nas horas restantes apropriados pelo capitalista; quer dizer, diariamente o empregado trabalha duas horas de graça para o dono da empresa, o que se produz nessas duas horas a mais se chama mais-valia. São as horas trabalhadas e não pagas que, acumuladas e reaplicadas no processo produtivo vão fazer com que o capitalista enriqueça rapidamente.

As ideias apresentadas por Marx chamaram a atenção de muitas pessoas, de trabalhadores a capitalistas; esses, por sua vez, ficaram preocupados e até irritados com tudo o que foi demonstrado claramente sobre mais-valia, o que dividiu nitidamente os que defendiam o capitalismo e os que se colocaram contrário a esse modelo.

Não é por acaso que as ideias marxistas incomodam aos que vive da exploração, por isso é que vários movimentos sociais, muitas vezes, são até discriminados por defenderem ideias como as de Karl Marx. Quem é alienado não percebe a exploração em que vivem os trabalhadores, de modo que criticam greves e movimentos sociais em geral que se colocam em defesa de melhores salários, condições de trabalho e de vida.

c) Como o trabalho se transforma em mercadoriaPode parecer complicado imaginar que o trabalho se transforma em mercadoria, mas

utilizaremos este momento para maior reflexão ao ponto proposto. No capitalismo, o trabalhador para atender suas necessidades básicas (como alimentação, vestuário e lazer) precisa trabalhar e, em troca, receber um salário que possa atender seus objetivos.

À medida que o trabalhador se coloca à disposição do mercado para trabalhar em troca de um salário, ele se torna também uma mercadoria, ou melhor, seu trabalho passa a ser uma mercadoria, pois ele a vende: o trabalho é um produto de compra e venda no capitalismo. Isto vale para qualquer tipo de trabalho, seja no campo ou na cidade, na indústria, no comércio ou no setor de serviços em geral.

Podemos imaginar uma situação, a do professor, que ministra as suas aulas numa determinada escola: na realidade toda a relação de trabalho se dá a partir de um contrato estabelecido pelas leis do mercado, entre o trabalhador (no caso o professor) e o empregador; o produto esperado são as aulas cujo beneficiário é o aluno. Esse material que você tem em mãos só se torna possível devido à relação de compra e venda da força de trabalho.

Pensar nessa situação parece uma coisa fora do comum ou fora de lógica ou que não se encaixa na realidade educacional, mas este é o modelo de produção e de funcionamento do capitalismo; o que muitas vezes pode se tornar uma relação conflituosa, e também desrespeitosa, quando o professor é visto pelo aluno como sendo apenas mero vendedor de sua força de trabalho e não como um intelectual a favor do conhecimento, do aprendizado e da cidadania.

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Por outro lado, quando o aluno, numa instituição privada, coloca-se como simples cliente, afasta toda possibilidade de uma educação primorosa e de qualidade, pois como o aluno está pagando uma mensalidade, às vezes se sente no direito de desrespeitar a metodologia do professor, isto quando não cria uma situação para afastar o professor de uma determinada disciplina simplesmente porque não gostou do seu jeito.

Devido às diversas situações, como as mostradas anteriormente no tocante as relações de trabalho podem afirmar que, principalmente nas sociedades em que a exploração se mostra de maneira patente, essas relações são constituídas por conflitos.

No caso do capitalismo, a situação é claramente conflituosa: de um lado está o capitalismo querendo atingir o maior lucro possível, às vezes até pela exploração, desrespeito aos direitos dos trabalhadores e, por outro lado, este último tenta a todo custo sair de uma situação de exploração, o que nem sempre consegue; desta maneira, há um número maior de pessoas querendo uma vaga de trabalho do que as disponíveis, assim proporciona a busca por trabalhos informais, desde que garanta o mínimo de sustento.

Assim, encontramos trabalhadores se submetendo a situações deprimentes, como as encontradas nos trabalhos precarizados em fazendas e em contratações terceirizadas.

Quando os trabalhadores tomam conhecimento e encontram meios e se organizam, passam a lutar por seus direitos. No campo, temos as organizações dos trabalhadores, como já houve no Brasil no século XX as chamadas Ligas Camponesas, cuja bandeira era a Reforma Agrária.

Tais movimentos se estenderam por vários estados do Brasil, sendo seu ponto mais forte na Paraíba e em Pernambuco. A partir da década de 1980, temos os movimentos dos trabalhadores rurais sem terras (MST) que se assemelham às ligas camponesas, em defesa da reforma agrária e por melhores condições de vida e de trabalho para o homem do campo.

Nas cidades, temos vários movimentos formados por inúmeras categorias de trabalhadores como os da construção civil, dos metalúrgicos, dos professores, dos comerciários, dentre outros, os quais se organizam e reivindicam melhorias para os seus pares.

A partir de 1980, os metalúrgicos do ABC paulista fizeram manifestações e greves por melhores condições de trabalho e de salário; nas bases desse movimento surgiram novas centrais sindicais, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), que fez frente à Central Geral dos Trabalhadores (CGT), assim como o ressurgimento de partidos políticos, como o PTB, o PC do B, o PCB, o PSB e o surgimento de novas correntes partidárias, entre elas o Partido dos Trabalhadores.

Em síntese, o conceito de trabalho, de forma geral, refere-se à maneira como os seres humanos realizam atividades, transformando a natureza e desenvolvendo a cultura da sociedade. As diferentes sociedades constituídas ao longo do tempo nos mostram como o trabalho assume características distintas.

Por isso, é muito importante saber que o desenvolvimento das sociedades depende da forma como os homens realizam o trabalho, inclusive para que não se adote uma postura preconceituosa, quando nos deparamos com culturas diferentes da nossa.

As concepções dos teóricos da sociologia, como Durkheim e Karl Marx, demonstram como o tema requer conhecimento amplo, afinal cada teoria é fruto de uma concepção de

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mundo, de uma ideologia. Se você se remeter apenas a uma concepção, como se fosse a única, ficará limitado/a, de modo que, a partir das diferentes teorias, terá condições de perceber como se organiza o trabalho na sociedade atual, quais as transformações ocorridas e qual a perspectiva da sociedade futura.

Enquanto teóricos como Durkheim fazem uma abordagem da sociedade e do trabalho, fundamentando o capitalismo, Karl Marx apresenta-se como um crítico do sistema capitalista.

A visão dialética marxista, a contradição do capitalismo está em ter como princípio básico a busca incessante pelo lucro, o que vai resultar numa estagnação da economia, caso essa tendência não seja cuidadosamente acompanhada, com vistas a manter a sociedade em condições de desenvolvimento e perpetuação desse tipo de economia.

Nessa perspectiva, a sociedade capitalista é estruturada em classes sociais, as quais, por sua vez, são antagônicas. Enquanto os capitalistas, proprietários dos meios de produção, buscam a todo custo manter-se na riqueza e na opulência à custa da exploração dos trabalhadores, esses, por sua vez, tentam, de todas as formas possíveis, primeiramente, sobreviver e, em seguida, sair dessa situação, por vezes, vulnerável, subalterna e exploratória, coisa que não acontecerá, conforme afirma Karl Marx, dentro do modelo capitalista, pois este utilizava todos os mecanismos e instrumentos para manter os trabalhadores no mínimo ocupados ou preocupados com o trabalho para atender suas necessidades básicas, o que faz pela Ideologia, tornando, assim, os trabalhadores alienados no processo de relações de produção.

No Brasil, como na maioria dos países, as contradições do capitalismo se fazem evidentes quando se observa a própria configuração das cidades, onde se pode perceber claramente a geografia formada por setores diferenciados, de modo que se tem, de um lado, áreas nobres, com casas luxuosas e, por outro lado, os núcleos residenciais (denominadas como antigas favelas), cortiços, e um emaranhado de pessoas vivendo em condições subumanas.

A forma com que as pessoas podem realizar seus objetivos e atender suas necessidades básicas é o trabalho. Em razão disso, muito se faz para que se tenha um trabalho. A história tem demonstrado que a realidade do trabalho tem sido marcada por profundas situações de conflitos e de sofrimento, enquanto alguns ficam com a melhor parte.

Para a realização do trabalho, existe o que chamamos de relações de produção, o que se dá, muitas vezes, de forma conturbada ou conflituosa. Já apresentado anteriormente, em que detectamos como o trabalho se configura e quais as consequências de determinado tipo de relação de produção; o escravismo, o feudalismo e o capitalismo são exemplos disso.

Para uma maior compreensão do que isso significa, vejamos então um exemplo: quando a pessoa necessita atender suas necessidades básicas de alimento, vestimenta e lazer precisa fazer alguma coisa, o que resulta num trabalho; para tanto, se não há como conseguir tudo na natureza, da maneira mais simples possível, o indivíduo passa a buscar outra forma de atender suas necessidades. Assim, nasceram o escravismo, o feudalismo e o capitalismo.

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No capitalismo, como a maioria das pessoas não possui máquina, equipamentos e fábricas em seu poder, necessita vender a sua força de trabalho, conforme determina o mercado capitalista. Desta feita, o trabalhador passa a ser uma mercadoria e, em muitas situações, trabalha demasiadamente e não recebe o salário de maneira justa o que, consequentemente, não dá para comprar alimento suficiente, para se vestir, para morar, para pagar a luz, a água, etc.

A realidade brasileira se apresenta com uma desigualdade considerável, uma vez que os capitalistas exploram o máximo possível e não oferecem condições de vida digna para os trabalhadores. No período da colonização, tivemos a exploração dos indígenas, depois tivemos a escravidão negra e, em seguida, a exploração dos imigrantes, europeus, em sua maioria.

Tomazi (2000, p.73) ensina que:a situação dos trabalhadores no Brasil, nesses últimos anos, portanto, tem sido uma das mais terríveis e trágicas de toda a sua história. Existem estudos comparativos que buscam analisar a situação dos trabalhadores brasileiros nos últimos tempos, em comparação com sua situação em épocas anteriores. A triste conclusão a que chegaram é que a maioria deles, hoje em dia, encontra-se em condições piores que as dos escravos no período colonial, pois, apesar da exploração intensa, eles tinham abrigo, roupa, alimentação.

1.1. As contradições do trabalho no capitalismoVocê já deve ter observado e analisado que, na visão dialética marxista, a contradição

do capitalismo, com vistas a manter a sociedade em condições de desenvolvimento e perpetuação desse tipo de economia.

Nessa perspectiva, a sociedade capitalista é estruturada em classes sociais, as quais, por sua vez, são antagônicas. Enquanto os capitalistas, proprietários dos meios de produção, buscam a todo custo manter-se na riqueza e na opulência à custa da exploração dos trabalhadores, esses, por sua vez, tentam, de todas as formas possíveis, primeiramente, sobreviver; tornando, assim, os trabalhadores alienados no processo de relações de produção.

Não somente no Brasil, como na maioria dos países, as contradições do capitalismo se fazem evidentes quando se observa a própria configuração das cidades, onde se pode perceber claramente a geografia formada por setores diferenciados, de modo que se têm, de um lado, áreas nobres, com casas luxuosas e, por outro lado, os núcleos residenciais (denominadas como antigas favelas), cortiços, e um emaranhado de pessoas vivendo em condições subumanas.

A forma com que as pessoas podem realizar seus objetivos e atender suas necessidades básicas é o trabalho. Em razão disso, muito se faz para que se tenha um trabalho. A história tem demonstrado que a realidade do trabalho tem sido marcada por profundas situações de conflitos e de sofrimento, enquanto o Estado fica com a melhor parte: o lucro.

Para a realização do trabalho, existe o que chamamos de relações de produção, o que se dá, muitas vezes, de forma conturbada ou conflituosa. Para uma maior compreensão do que isso significa, vejamos então um exemplo: quando a pessoa necessita atender suas

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necessidades básicas de alimento, vestimenta e lazer precisa fazer alguma coisa, o que resulta num trabalho; para tanto, se não há como conseguir tudo na natureza, da maneira mais simples possível, o indivíduo passa a buscar outra forma de atender suas necessidades. Assim, nasceram o escravismo, o feudalismo e o capitalismo.

No capitalismo, as pessoas vendem a sua força de trabalho, conforme determina o mercado capitalista. Desta feita, o trabalhador passa a ser uma mercadoria e, em muitas situações, trabalha demasiadamente e não recebe o salário de maneira justa o que, consequentemente, não dá para comprar alimento suficiente, para se vestir, para morar, para pagar a luz, a água, etc.

A realidade brasileira se apresenta com uma desigualdade considerável, uma vez que os capitalistas exploram o máximo possível e não oferecem condições de vida digna para os trabalhadores.

Tomazi (2000, p.73) ensina que:

a situação dos trabalhadores no Brasil, tem sido uma das mais terríveis e trágicas de toda a sua história. Existem estudos comparativos que buscam analisar a situação dos trabalhadores brasileiros nos últimos tempos, em comparação com sua situação em épocas anteriores. A triste conclusão a que chegaram é que a maioria deles, hoje em dia, encontra-se em condições piores que as dos escravos no período colonial, pois, apesar da exploração intensa, eles tinham abrigo, roupa, alimentação.

1.1.1. O capitalismo e a exploração da força de trabalhoO serviço social, antes de ocupar espaço no campo universitário, já existia como

prática social que respondia às demandas do sistema capitalista, no atendimento da questão social, aberta pela exploração da força de trabalho.

Martinelli (2006, p. 53) afirma que o sistema capitalista é um “[...] Modo de produção profundamente antagônico e pleno de contradições que desde o início de sua fase industrial instituiu-se como um divisor de águas na história da sociedade e das relações ente os homens”.

O homem capitalista sempre utilizou de estratégias, para alcançar o seu maior interesse: acumular lucros. A exploração da força de trabalho, segundo o Martinelli (2006, p. 55), diz que

visualizando a classes trabalhadora como um mero atributo do capital, como um modo de existência deste, os capitalistas não hesitavam em criar formas coercitiva de recrutamento do operariado e de sua abusiva exploração.

A exploração da força de trabalho ganha maior dimensão, a partir da Revolução Industrial, que se expande pelo mundo no século XIX até os dias atuais, demandando uma intensiva mão-de-obra até a contemporaneidade. Martinelli (2006, p. 57) afirma que

durante praticamente toda a primeira metade do século XIX, a burguesia se utilizou seu poder de classe para manipular livremente salários e condições de trabalho. Apoiando-se em um antigo dispositivo legal, cujas origens remontavam a longínquas épocas da história da humanidade – Estatuto dos Trabalhadores, de

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1349, que proibia reclamações de salário e de organização do processo de trabalho –, excluía o trabalhador das decisões sobre sua própria vida trabalhista.

Os trabalhadores, que se recusavam a vender sua força de trabalho para os capitalistas, poderiam ser recolhidos em casas de correção, que ofereciam como penalidades a restrição alimentar, os trabalhos forçados, entre outros. O estatuto dos trabalhadores do ano de 1349 assegurava às autoridades locais o direito de determinar o valor do salário a ser pago ao trabalhador, bem como formas de coerção para recrutamento de mão-de-obra. Martinelli (2006, p. 57) afirma que

as alternativas do trabalhador empobrecido, em face das condições de trabalho que os donos do capital estabeleciam, eram sombrias: ou se rendia à lei geral da acumulação capitalista, vendendo sua força de trabalho a preços de concorrências cada vez mais vis, ou capitulava diante da draconiana legislação urbana, tornando-se dependente do Estado, e no mesmo instante, declarado não-cidadão, ou seja, indivíduo destituído de cidadania econômica, da liberdade civil.

Nota-se que a força de trabalho, no modo de produção capitalista, foi mercantilizada. Isto é, o trabalhador foi obrigado a vender sua mão-de-obra para os donos do capital e se submeter a todo o processo de exploração do trabalho. Esse processo fez com que a classe trabalhadora se organizasse contra as formas de exploração impostas pelo capitalismo. Os trabalhadores se organizavam por meio de movimentos sindicais reivindicatórios, que tinham como bandeira de luta as questões trabalhistas, como regulamentar a jornada de trabalho que na época chegava há 14 horas diariamente. Assim Martinelli (2006, p. 59) assevera que:

as questões sindicais e trabalhistas continuavam, porém, a animar o movimento operário que prosseguia em sua marcha, predominantemente sob o signo da prática sindical. Assim nenhuma das medidas propostas pela legislação trabalhista, ao longo desse período, significou uma concessão do poder público ou dos donos do capital. Todas decorreram de árduas e complexas lutas e negociações dos trabalhadores.

Concomitantemente com a exploração da força de trabalho, o sistema capitalista provocou inúmeros problemas sociais, decorrentes do crescimento exorbitante da população urbana, visto que as cidades não tinham infraestruturas adequadas para comportar tantas pessoas. Assim, se alastra pela sociedade uma crescente pobreza acompanhada da fome, de doenças, de moradias precárias entre outros problemas. Todos os problemas sociais são denominados de expressões da questão social.

Com o afloramento da questão social e, consequentemente, a mobilização da classe trabalhadora por melhores condições de trabalho e sobrevivência, a burguesia passou a utilizar-se de estratégias para conter as reivindicações dos trabalhadores, pois,

obcecada por um pensamento fixo – o de expandir e consolidar o modo burguês de produção, tornando-o irreversível -, a burguesia se mantinha sempre em busca de estratégias e táticas que pudessem viabilizar a consecução de seus objetivos. A estrutura petrificada de sua consciência erguia-se como uma verdadeira muralha, através da qual tentava-se isolar-se e proteger-se dos inúmeros problemas sociais

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produzidos pela expansão do capitalismo, injusto regime que se nutre do que suga do trabalhador, da crescente exploração de sua força de trabalho (MARTINELLI, 2006, p. 60).

2. A INTRÍNSECA RELAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL COM O SISTEMA CAPITALISTAOs problemas sociais que afetaram a classe trabalhadora, no processo de instituição

do modelo econômico de monopólio, por parte da classe burguesa capitalista detentora dos modos de produção.

O processo de exploração acelerado, implantado pela expansão do capitalismo de monopólio, com o objetivo de aumento nos lucros, afetou, de forma recrudescida, a classe operária, que sofrem, como consequência desse processo, o desemprego, a redução dos salários em virtude do aumento do exército de reserva cultivado pelo capitalismo monopolista, o que fez surgir movimentos de organização por parte dos trabalhadores. Esses movimentos fizeram a burguesia ficar apreensiva e, como medida de autopreservação, com o apoio do Estado, implementa estratégias paliativas de proposição para sanar os problemas sociais das classes operárias.

Martinelli (2006, p. 61) assevera quetal expansão deixava a burguesia muito apreensiva, pois era um retrato vivo daquilo que, até mesmo como estratégia de autopreservação do capitalismo, pretendia ocultar: a face da exploração, da opressão, da dominação, da acumulação da pobreza e da generalização da miséria.

Para a permanência do capitalismo monopolista era importante à dissimulação dessa realidade antagônica e conflitante entre as classes sociais. Foi, portanto, imprescindível a criação de estratégias que contivessem o vigor das manifestações operárias e a proliferação da pobreza, bem como das consequências que normalmente a ela estão associadas.

A estratégia utilizada pela burguesia foi à aproximação desta com os agentes responsáveis por ações filantrópicas de intervenção junto à pobreza e às mazelas sociais provocadas pelo capitalismo. Dessa forma, Martinelli (2006, p. 63) afirma: “a burguesia queria apropriar-se da prática social para submetê-la aos seus desígnios”, o que nos faz apontar o surgimento das primeiras estratégias de prática social, como uma forma de garantir o agradecimento dos trabalhadores, podendo controlar os confrontos com o capital.

O Estado, a burguesia e a igreja, que atuava em práticas sociais humanistas, uniram-se para formar um bloco de fusão no resgate da convivência pacífica entre as classes sociais. Temos, nesses fatos, a origem do serviço social, uma profissão que nasce conservadora, engendrada pelo projeto hegemônico, com característica de ações assistencialistas e com caráter acentuado de prática de prestação de serviços.

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AULA 02 – A TRAGETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL

Profa. Renata Leandro

1. A IGREJA CATÓLICA E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIALA Igreja Católica desempenhou um importante papel no surgimento do Serviço

Social. De acordo com Castro (2003), a Igreja Católica exercia, junto à sociedade, a função de elaborar as diretrizes gerais de compreensão dos problemas sociais que afetavam os operários, estabelecendo normas para o exercício da fé cristã-católica, de forma doutrinária.

A prática social do serviço social era realizada a partir da doutrina da igreja católica, que contribui com o Estado e com seus agentes colaboradores na organização da força de trabalho. Nesse processo, conforme demonstra Castro (2003, p. 97),

cabia à igreja – a partir de seu ponto de vista particular – ser a força moral orientadora deste processo, ser o justo meio que direcionasse o destino da humanidade com o seu discurso caritativo e bondoso, com a entrega incondicional de seus militantes, evitando – tanto quanto possível – que o cientificismo e pragmatismo burgueses, ou o ameaçador “materialismo” socialista, se colocassem como alternativas ao evangelho católico.

Os agentes leigos da Igreja Católica desenvolveram um Serviço Social, por meio de uma ação social de cunho assistencialista para conter a luta dos movimentos de reivindicação dos trabalhadores por melhores condições de trabalho.

O Serviço Social tinha uma atuação fundamentada na ação católica de orientar os trabalhadores a se organizarem, em função da sua condição de assalariado, com vistas à sua adaptação como vendedor de sua força de trabalho para os donos do capital. Iamamoto (2002, p. 20) afirma que

o serviço social aparece aos militantes desses movimentos sociaiscomo um alternativa profissionalizante às suas atividades apostoladosocial, num momento de profundas transformações sociais epolíticas. A Ação Social e Ação Católica logo se tornam uma dasfontes preferenciais de recrutamento desses profissionais.

A Igreja Católica partia de uma visão messiânica, que tinha, como objetivo último, recristianizar a classe trabalhadora, que naquela época estava recebendo orientações dos movimentos socialistas contra a exploração da força de trabalho e com bases a-religiosas.

Segundo Castro (2003), para recristianizar a sociedade, a igreja propôs uma reforma social, orientada por um discurso político de cunho humanista e antiliberal. O que a igreja pretendia, também, era recuperar sua hegemonia política e ideológica que, na época, estava sendo ameaçada pela mobilização provocada pelos movimentos sociais.

Para recuperar sua hegemonia e conquistar um outro espaço de intervenção no Estado Moderno, a igreja utilizou-se também das Encíclicas Papais Rerum Novarum, divulgada pelo papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, e Quadragésimo Anno, divulgada pelo papa Pio XI, em 15 de maio de 1931, justiçadas pela questão social.

1.1. O Papel da Encíclica Rerum Novarum

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A Rerum Novarum foi divulgada no período de implantação do processo de industrialização, que propiciou grandes transformações nas relações de trabalho e inúmeros problemas sociais. Esse contexto foi marcado pelo acirramento da luta do movimento operário por melhores condições de trabalho.

Na época de divulgação da Rerum Novarum, deu-se o processo de profissionalização do serviço social. Nesse período, o serviço social começou a ter uma formação profissional de nível superior, pois até então existia apenas como prática social.

Segundo Castro (2003), a encíclica Rerum Novarum salientou as formas de exploração da força de trabalho e, com isso, a necessidade de se tocar na questão social. Essa tarefa, segundo a encíclica, competia à igreja, pois ela tinha como luta propiciar à sociedade o bem comum. Ao mesmo tempo que a encíclica critica a acumulação capitalista e a insensibilidade dos donos do capital, enfrenta as propostas dos movimentos socialistas realizados pelos trabalhadores, com a defesa do direito da propriedade privada. Conforme aponta Castro (2003, p. 52-53),

a encíclica salienta as formas de exploração da força de trabalho assalariada, que permitiriam a acumulação capitalista. E se é certo que critica a insensibilidade dos homens riquíssimos e opulentos, ela tem, igualmente, o objetivo de enfrentar as propostas socialistas que, à época, ganhava numerosos adeptos nas fileiras do movimento operário, defendendo a propriedade privada, pilar fundamental das relações de produção capitalista. De acordo com a encíclica, o direito à propriedade é um direito natural que procede da generosidade divina: quando Deus concedeu a terraao homem – diz – , fê-lo para que use e desfrute sem que isto se oponha em qualquer grau, à existência humana.

A Encíclica, comenta o mesmo autor, afirmou que a propriedade privada é um direito natural, dado por Deus e que a vontade divina é inquestionável. Sendo a terra um direito natural, só depende dos esforços dos homens para adquiri-la. Nesta perspectiva, a Rerum Novarum aprova a desigualdade social, visto que, nessa época, as propriedades privadas se encontravam nas mãos dos capitalistas.

A Rerum Novarum defendeu, também, que o Estado estava sujeito à vontade de Deus e, assim, os socialistas não podiam lutar contra o Estado, pois estariam contra a vontade divina, pois, de acordo com Castro (2003, p. 54),

assim como a propriedade é um direito natural outorgado e reconhecido pela divindade, a organização do Estado e da sociedade está sujeita à vontade de Deus – por isto, quando os socialistas lutam contra o Estado operam “contra a justiça natural”.

Para Castro (2003), a Rerum Novarum defende que a desigualdade é natural e conveniente à coletividade, visto que é necessária a variedade de talentos e ofícios. Para a igreja, Deus tinha premiado alguns com riqueza e outros com miséria. A igreja defende que as classes burguesa e operária precisavam estar sempre em harmonia.

A Igreja pregava que a relação conflituosa entre capital e trabalho deve buscar soluções conforme os desígnios da religião cristã, uma vez que só ela pode trazer a união entre as classes. Capital e proletários precisavam celebrar a compra e a venda da força de trabalho, submetendo-as à lógica e leis do mercado. Nessa perspectiva, Castro (2003, p. 57) aponta que

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o operário deveria contribuir para a conciliação de classe, aceitando disciplinadamente a sua condição de explorado e, por consequência, não só se negar a participar nos movimentos que pudessem atentar contra a segurança do capital, mas, mais ainda: deveria militar contra eles, especialmente contra as organizações sindicais proletárias, emergentes graças aos influxos do pensamento anarco-socialista.

A Rerum Novarum traz também, no seu discurso, recomendações de comportamento para os empresários no tratamento com os trabalhadores. A Encíclica defende que os empresários devem ser piedosos com os operários no que se refere à exploração da força de trabalho e ao pagamento de salários justos, pois oprimir os indigentes em benefício próprio e explorar a pobreza alheia para maiores lucros é contrário a todo direito divino e humano (CASTRO, 2003). O objetivo da igreja era humanizar a relação entre os donos do capital e os trabalhadores e, assim, contribuir para trazer a união e a concórdia entre as classes.

A Rerum Novarum indica, ainda, a necessidade de o Estado intervir na defesa e promoção dos interesses dos operários. Para este fim, na encíclica “recomendava-se a criação de associações e outras entidades semelhantes, que permitissem atender às necessidades tanto do operário e de sua família [...]”(CASTRO, 2003, p. 59).

Portanto, a Encíclica Rerum Novarum é um documento de cunho político, que tem, como finalidade, enfrentar as propostas do movimento socialista, que, segundo o pensamento da igreja, iam de encontro a todas as recomendações divinas. A Encíclica discute as relações de trabalho, no modo de produção capitalista, com foco na exploração da força de trabalho e sugere normas e condutas para os empresários e para o Estado no tratamento com os trabalhadores.

1.2. O Papel da Encíclica Quadragésimo AnnoA Quadragésimo Anno, em 1931, foi divulgada em comemoração aos quarenta anos

da Rerum Novarum. Ela traz as mesmas recomendações da Rerum Novarum, mas de forma mais expressiva, tendo em vista que, naquela época, a questão social tinha se agravado.

A Quadragésimo Anno, em seu discurso, recomendava normas de comportamento para os empresários e para a classe operária. Para Castro (2003), a encíclica se constitui como um código de deveres para favorecer a união entre as classes, para assim reinar entre operários e capitalistas a concórdia e a paz.

No modo de produção capitalista, o trabalhador não tem outra opção para manter sua sobrevivência a não ser vender sua força de trabalho para os donos do capital, que utilizam-se dessa situação de dependência para mascarar uma falsa liberdade de compra e venda da força de trabalho. No que concerne à liberdade dos trabalhadores, Castro (2003, p. 57) observa que

[...] a mensagem papal parte da ideia de que o operário faz uso da liberdade ao aceitar o jugo do capital. Juridicamente isto é certo, mas se trata de uma liberdade sem opção – a única maneira de exercê-la é entregar-se ao dono do capital, que se beneficia daquela “liberdade”. O capital, aliás, demanda este pré-requisito: necessita que o operário, portador da mercadoria força de trabalho, esteja livre da posse de meios de produção e liberado juridicamente de qualquer servidão, para celebrar com ele um contrato de compra e venda (força de trabalho versus salário) submetido totalmente às leis do mercado, ao sacrossanto jogo da oferta e da procura.

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A Igreja Católica, por meio do serviço social, contribui com o sistema capitalista para difundir, junto aos operários, a necessidade de aceitar o jugo do capital, sendo este jugo necessário para garantir a sobrevivência dos trabalhadores.

Em 1925, na I Conferência Internacional da Igreja Católica, que aconteceu em Milão, na Itália, foi criada a União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS), formada pelos grupos de escolas de serviço social e pelas Associações de Auxiliares Sociais. O objetivo da UCISS era destacar, junto à sociedade, a necessidade do serviço social, por meio de uma concepção católica e, nessa perspectiva, contribuir para o avanço da profissão. Isso estimulou a criação de escolas de serviço social, sob a influência do catolicismo. A Encíclica Quadragésimo Anno passou a ser, por meio da UCISS, um centro de difusão da doutrina católica.

Nessa perspectiva, Castro (2003, p. 61) salienta queno que se refere ao serviço social, recomendamos que, em 1925, fundou-se em Milão (Itália), por ocasião da I Conferência Internacional da União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS), que compreendia duas seções: o Grupo de escolas de serviço social e as Associações de Auxiliares Sociais, sendo o propósito de ambas enfatizar a necessidade e a eficiência do serviço social no mundo, assim como dar a conhecer a sua concepção católica e assegurar o seu avanço – o que, na prática, significou o estímulo à criação de escolas de serviço social em todo âmbito de influência do catolicismo.

A UCISS colocava, em suas conferências, o debate do trabalho profissional do assistente social, tendo como tema O serviço social como realizador da nova ordem crista.

Castro (2003) certifica que a Igreja Católica, por meio da Quadragésimo Anno, contribuiu para recuperar, junto às profissões, e, nesse caso, o serviço social, os aspectos técnicos para dar eficiência ao trabalho assistencial, estimulando os profissionais para ampliar seus estudos. Isso fez com que a igreja estimulasse diretamente a criação de centros de formação superior para modernizar o serviço social, na superação do trabalho leigo e voluntário. Para o desempenho do trabalho social, fazia-se necessário uma formação sistematizada, a partir do conhecimento de algumas disciplinas, bem como o manejo de instrumentais técnicos. Castro (2003, p. 67) assevera que

a modernização, que significava para o serviço social a ocupação de um lugar no esquema da educação superior [...] ademais, teve um impacto particular, pois o reconhecimento social que alcançou proporcionou-lhe uma base nova e mais ampla para a sua ação.

Com as recomendações das Encíclicas a Igreja Católica visava promover uma conciliação de classes, entre a classe burguesa e a classe operária. Foi naquela conjuntura histórica e política que o serviço social foi encontrando seu espaço de intervenção, assumindo uma prática caritativa e assistencial, fundamentada nos dogmas e ensinamentos da Doutrina Social da Igreja.

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AULA 03 – A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NA QUALIFICAÇÃO DOS AGENTES LEIGOS – ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL

Profa. Renata Leandro

1. A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NA QUALIFICAÇÃO DOS AGENTES LEIGOSAo final do século XIX passa a existir uma preocupação em qualificar os agentes

profissionais leigos, para o enfrentamento das expressões da questão social. A igreja católica contribuiu diretamente para o surgimento das primeiras escolas de serviço social no mundo, bem como no Brasil. Sendo assim, o serviço social, de acordo com Silva (2002, p. 25),

[...] apresenta-se como estratégia de qualificação do laicato da igreja católica que, no contexto do desenvolvimento urbano, vinha ampliando sua ação caritativa aos mais necessitados, para o desenvolvimento de uma prática ideológica junto aos trabalhadores urbanos e suas famílias. Procura-se, com isso, atender ao imperativo da justiça e da caridade, em cumprimento da missão política do apostolado social, em face do projeto de recristianização da sociedade, cuja fonte de justificação e fundamento é encontrada na Doutrina Social da igreja. (grifo meu).

A igreja católica buscou qualificar os seus agentes sociais leigos, para desenvolver uma atuação técnica junto aos trabalhadores. Ao qualificar seus agentes, a igreja buscou cumprir sua missão política de contribuir para minimizar os problemas sociais que afetavam os trabalhadores. A igreja buscou, também, contribuir para atenuar os conflitos de classes e, sobretudo, recristianizar a classe trabalhadora e recuperar sua hegemonia como instituição que orientava a vida em sociedade.

1.1. Criação das Primeiras Escolas de Serviço SocialAntes da criação da primeira Escola de serviço social no mundo, foi criada a Escola de

Filantropia Aplicada, idealizada por Mary Richmond, em 1897, em Toronto. Essa escola realizava cursos de aprendizagem da aplicação científica da filantropia, visando, conforme afirma Martinelli (2006, p. 106), a desenvolver “a tarefa assistencial como eminentemente reintegradora e reformadora do caráter [...]”.

A tese de Mary Richmond convenceu os donos do capital de que os problemas apresentados pela classe trabalhadora estavam associados aos problemas de caráter. Assim, trabalhando e reformando o caráter do indivíduo, contribuiria para retorná-lo para o mercado de trabalho. Essa proposta resultou em um curso que ocorreu em 1898 em Nova York.

Após o referido curso, a ação social, realizada com base na filantropia, caminhou rumo ao processo de institucionalização do serviço social. Em 1899, foi fundada a primeira escola de serviço social no mundo, em Amsterdã, capital da Holanda.

A primeira escola da América Latina foi criada em Santiago no Chile, pelo Médico Alejandro Del Rio. O Serviço Social era considerado como uma subprofissão da medicina, pois auxiliava os médicos no atendimento aos pacientes.

O Serviço Social se resumia em fazer bem ao próximo por amor a Deus, a partir de práticas imediatistas e assistencialistas.

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No Brasil, o Serviço Social foi primeiramente implantado em São Paulo, em 1936; depois, no Rio de Janeiro, em 1938.

Segundo Lima (2001), as escolas de Serviço Social visavam formar profissionais, a partir de uma personalidade cristã. Não era necessário somente a técnica profissional, necessitava-se de profissionais com uma mentalidade cristã frente ao homem e à sociedade, na perspectiva da justiça social e da caridade, por amor a Deus e ao próximo.

O objetivo último das escolas era formar a personalidade dos profissionais. Tudo em prol de uma prática conservadora, fundamentada na caridade cristã, por meio de uma pratica assistencialista.

O assistente social desenvolve, na sociedade, funções intelectuais ou ideológicas, em organizações públicas ou privadas, por meio de prestação de serviços sociais, para a classe trabalhadora. “Seu objetivo é transformar a maneira de ver, de agir, de se comportar e de sentir dos indivíduos em sua inserção na sociedade” (IAMAMOTO, 2002, p. 40).

O assistente social atua na administração de recursos institucionais. A sua função intelectual resulta na distribuição e controle desses recursos junto à população pobre para suprir suas necessidades de sobrevivência.

1.2. As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil: aspectos históricosAs primeiras instituições assistenciais surgiram no Brasil, em São Paulo, com a

Associação das Senhoras Brasileiras, em 1922 e, no Rio de Janeiro, com a Liga das Senhoras Católicas, em 1923. Essas instituições tinham como finalidade divulgar a doutrina da igreja católica, bem como formar e organizar a gama de profissionais leigos das mesmas.

A formação dos agentes católicos resultava da necessidade de intervenção junto à classe empobrecida, para diminuir os impactos negativos provocados pelo modelo monopólico de sociedade. Assim, conforme apontam Iamamoto e Carvalho (2000, p. 166),

o surgimento dessas instituições se dá dentro da primeira fase do movimento de reação católica, da divulgação do pensamento social da igreja e da formação das bases organizacionais e doutrinárias do apostolado laico. Têm em vista não o socorro aos indigentes, mas, já dentro de uma perspectiva embrionária de assistência preventiva, de apostolado social, atender e atenuar determinadas sequelas do desenvolvimento capitalista [...].

A organização dos profissionais leigos aconteceu a partir do desenvolvimento das instituições assistenciais que criaram condições propícias para implantar a ação social no Brasil, que teve como consequência a criação das primeiras escolas de serviço social.

Em 1932, foi criado, em São Paulo, o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), com o apoio e a organização da igreja católica. O CEAS tinha como objetivo ampliar as iniciativas realizadas sob fundamento da filantropia, desenvolvida pela burguesia paulista.

O CEAS promoveu um curso destinado à formação de moças. O curso foi realizado pela escola de serviço social de Bruxelas. Após o curso, foi proposta uma organização da ação social com base na educação religiosa. Importa enfatizar que a maior finalidade do CEAS era formar moças para atuar junto à classe trabalhadora, para afastá-las dos movimentos sociais em prol de melhores condições de salário e trabalho, por meio de práticas filantrópicas.

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O CEAS realizava cursos de trabalhos manuais, informações sobre higiene corporal. Os cursos eram voltados para as mulheres operárias como estratégia para sua inserção na classe trabalhadora. O interesse do CEAS com os trabalhos desenvolvidos pelas moças da igreja católica se resumia

[...] aos olhos dessas ativistas, a consciência do posto que cabe à mulher na preservação da ordem moral e social e o dever de tornarem-se aptas para agir de acordo com suas convicções e suas responsabilidades. Incapazes de romper com essas representações, o apostolado permite àquelas mulheres, a partir da reificação daquelas qualidades, uma participação ativa no empreendimento político e ideológico de sua classe, e da defesa de seus interesses. Paralelamente, sua posição de classe lhes faculta um sentimento de inferioridade e tutela em relação ao proletariado, que legitima a intervenção (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 172).

Foi em 1936, a partir do grupo de moças que realizava trabalhos junto aos operários, sob organização da hierarquia católica, que o CEAS funda a escola de serviço social de São Paulo, a primeira do Brasil.

A sistematização técnica da ação social no Rio de Janeiro ocorre em 1938.Nesta época, a cidade apresentava-se como grande pólo industrial, era a capital

federal do país e sediava os principais organismos da igreja católica.Nela se concentram, portanto, os centros nervosos da direção política e econômica. [...] é a cidade onde mais se desenvolve a infraestrutura de serviços básicos, inclusive serviços sociais assistenciais com forte participação do Estado (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 181).

O Rio de Janeiro contou com a participação ativa de instituições públicas para a realização da assistência e, ainda, com o apoio da administração federal, de organismos católicos e juízo de menores.

A primeira Semana de Ação Social da capital foi organizada pela hierarquia católica, em 1936, favorecendo a criação do serviço social. Esse evento decorria da necessidade de se discutir sobre a situação da Ação Social, dentre outros problemas sociais e, também, da necessidade de profissionais técnicos para realizar a assistência, visto que era grande a carência desses profissionais nas instituições públicas e privadas.

O juízo de menores começou a exigir agentes técnicos para prestar assistência ao menor e sua família. Em 1936, é realizado, no Rio de Janeiro, um curso na área do serviço social, que objetivava a realização de um ciclo de palestras acerca de temas sociais que envolvia problemas relacionados à situação de crianças abandonadas.

Em 1938, é implantada, na capital do país, a segunda escola de serviço social do Brasil. A partir da criação dessa escola, várias outras foram implantadas no Brasil, nas capitais dos estados.

O serviço social é implantado no Brasil com um caráter conservador, fundamentado na doutrina católica a favor da consolidação dos interesses dos donos do capital.

A prática profissional do assistente social era determinada por seus empregadores e sua identidade profissional era balizada pelo capitalismo, conforme os seus ideais. Sobre a identidade profissional Martinelli (2006, p. 134) certifica que

a fragilidade da consciência social e do processo organizativo da categoria profissional forneceu as bases necessárias para que se instalasse o fenômeno da

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aristocracia profissional. Recriando os mecanismos próprios da sociedade de classe, produziu-se na categoria um movimento de “estratificação social” [...] o que veio fragilizar ainda mais a já enfraquecida identidade profissional. A reificação, infiltrada na consciência dos profissionais, levava-os a reproduzir os fetiches da sociedade capitalista, transformando a sua própria relação profissional em uma relação mediatizada por interesses econômicos, por posição no processo produtivo e por posições políticas.

Os assistentes sociais contribuíam para a difusão da ideologia hegemônica burguesa, em detrimento da defesa dos interesses do operariado.

O assistente social defendia, literalmente, os interesses dos grupos hegemônicos dominantes.

Portanto, o significado social da prática do assistente social é resultado da relação capital/trabalho, firmada com a classe dominante quando esse profissional se tornou socialmente necessário ao mercado de trabalho.

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AULA 04 – POSITIVISMO, FUNCIONALISMO E SUA INFLUÊNCIA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL.

Profa. Renata Leandro

A prática profissional do Assistente Social no decurso de sua institucionalização na América Latina e no Brasil incorporou várias correntes de pensamento, as quais deram sua contribuição no processo de consolidação da profissão. As vertentes, positivista e funcionalista, apesar de suas limitações, serviram como norteadoras para a prática profissional em seus primórdios de implantação no Brasil.

O positivismo enquanto corrente de pensamento originária das ciências sociais tem por base a teoria sociológica, a qual lhe serve de suporte. Esta vertente caracteriza-se como de cunho conservador, cuja orientação é de manutenção do status quo. O Assistente Social recebe influência dessa corrente e passa a expressar sua prática pautada nas ideias conservadoras, contribuindo assim para a manutenção e perpetuação da ideologia dominante, legitimando-a.

A referida corrente teórica revela suas limitações e restrições, pois caracteriza-se pela visão fragmentada da realidade social, não considera a subjetividade, apenas os fatos que podem ser observados, quantificados. Outra característica fundamental é a despreocupação e desinteresse em conhecer as causas dos fenômenos, limitando-se à consequências destes.

No que tange ao funcionalismo, esta corrente recebeu influência do positivismo, cuja interpretação da realidade social se dá a partir do paralelo entre a sociedade e o organismo biológico, ou seja, comparam-se as duas situações.

Desse modo, assim como no positivismo, o funcionalismo reflete uma visão fragmentada dos fenômenos sociais ao revelar que cada parte tem sua função específica e que o todo funciona harmonicamente.

Diante disso, o Serviço Social pautou suas práticas sociais inserido nessa concepção tradicional-conservadora desde sua gênese ao movimento de ruptura com o tradicionalismo na profissão por ocasião do segundo lustro dos anos 70, cuja prática voltava-se para correção de disfunções sociais, contribuindo assim para o ajustamento do indivíduo ao meio.

1.1 O PositivismoO Positivismo é uma corrente de pensamento que foi sistematizada por August

Comte, no século XIX, e que tem como ideia principal a premissa de que a vida social é regida por leis que são similares às leis da natureza. Os precursores desta teoria recorrem aos mesmos procedimentos utilizados nas ciências naturais para a explicação dos fenômenos naturais para explicar também os fenômenos sociais portando, esta corrente teórica foi denominada “Física Social”.

A corrente do positivismo tem sua origem em uma das ciências sociais: a sociologia. A sociologia é a base teórica que vai dar suporte para os estudos teóricos e metodológicos do Serviço Social, a sociologia é uma ciência social capaz de explicar/ interpretar a realidade social a fim de intervir para legitimar uma realidade social ou transformá-la. Partindo deste

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princípio podemos afirmar que a corrente teórica do positivismo foi utilizada para legitimar a sociedade capitalista, uma vez que a sociologia positivista recorre aos mesmos procedimentos que as ciências naturais utilizavam na explicação dos fenômenos naturais, assim naturalizando os problemas sociais advindos da expansão do sistema capitalista tais como: fome, miséria, exploração, doenças, essas mazelas da sociedade capitalista burguesa eram consideradas imutáveis, uma vez que para o positivismo as leis da natureza são imutáveis.

Para o positivismo a sociedade foi concebida como um “organismo” constituído de partes integradas que funcionam harmonicamente seguindo um modelo físico ou mecânico. O que caracteriza o positivismo com o nome de biologismo, fisiologismo ou mesmo como apontado parágrafos acima, física social.

As principais características do Positivismo são:• visão isolada dos fenômenos sociais, analisar a realidade não de forma totalitária,

mas por partes isoladas;• a realidade é somente dos fatos sociais que podem ser observados, os desejos e as

subjetividades não são considerados;• desinteresse pelas causas dos fenômenos, ou seja, não busca o “porquê” dos

acontecimentos sociais.

Segundo assevera Triviños (1987, p. 36).Mas ao positivismo não interessavam as causas dos fenômenos, porque isso não era positivo, não era tarefa da ciência. Buscar as causas dos fatos, sejam elas primeiras ou finais, era crer demasiado na capacidade de conhecer do ser humano, era ter uma visão desproporcionada da força intelectual do homem de sua razão. Isso era metafísico.

A teoria do Positivismo defende a neutralidade científica, a ciência deve estudar os fatos para conhecê-los, e apenas de modo desinteressado, sem buscar a intervenção e muito menos a transformação. Segundo Triviños (1987) “Este propósito do espírito positivo engendrou uma dimensão que foi defendida com muito entusiasmo e ainda hoje, em alguns meios, se levanta como a bandeira da verdade: a da neutralidade da ciência”. Para a corrente teórica do positivismo toda afirmação sobre o mundo deve ser analisada, confrontada e verificada, somente se constituindo em verdade o fenômeno que pode ser comprovado por meio de experiência.

August Comte asseverou que a ordem do conjunto da sociedade é que a levaria para o progresso, ele analisava a dinâmica social partindo do conjunto para as particularidades. Para o positivismo de Comte, a ideia natural do direito dos seres humanos é substituída pela ideia do dever, o dever de todos para com todos é que faria a harmonia na sociedade, esta deveria se organizar em torno da moral e do altruísmo (sacrifício e dedicação de todos) para alcançar o progresso.

1.2 FuncionalismoO Funcionalismo é uma corrente teórica trabalhada por Émile Durkheim, tem origem

no positivismo, e faz uma interpretação da realidade social a partir da comparação da

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sociedade com um organismo biológico. O pensamento funcionalista parte do princípio de que a sociedade é um “todo orgânico”, e cada parte que compõe a mesma tem sua função específica e deve funcionar perfeitamente para a manutenção da ordem, ou seja, o organismo social é um conjunto de órgãos em funcionamento, assim como o organismo biológico do homem.

Durkheim afirmava que a sociedade é igual a um organismo social, e assim como o organismo possui vários órgãos (coração, pulmão, rins) o corpo social possui vários órgãos (instituições sociais, família, estado, escola, igrejas, clubes, sindicatos, etc.) com funções específicas, cada instituição possui objetivos próprios diferentes, contudo, um depende do outro para funcionar bem.

Se um órgão não vai bem o todo social (sociedade) ou o organismo se recente (adoece), e prejudica o bom funcionamento do organismo social.

Para Durkheim, a sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade como também encontrar soluções para a vida social. A sociedade, como todo organismo, apresentaria estados normais e patológicos, isto é, saudáveis e doentios. (COSTA, 1997, p. 61)

Para o bom funcionalismo ou harmonia desse organismo social (sociedade), existem dois fatores segundo Durkheim: a moral social ou consciência coletiva e a divisão social do trabalho.

A moral social ou consciência coletiva é o conjunto de normas de conduta ou de valores que são compartilhados pelos indivíduos na sociedade.

A consciência coletiva não se baseia na consciência de indivíduos singulares ou grupos específicos, mas está espalhada por toda a sociedade. Ela revelaria, segundo Durkheim, o “tipo psíquico da sociedade”, que não seria apenas produto das consciências individuais, mas algo diferente, que se imporia aos indivíduos e perduraria através das gerações. (COSTA, 1997, p. 62)

A moral social tem a função de manter ordem, de acordo com Emile Durkheim sem leis de convivência a vida coletiva em sociedade seria impossível, para esse teórico o que mantém o “organismo social” saudável é a moral, e quando não pode ser exercida, ou perde sua eficácia na sociedade, faz com que apareçam problemas graves, dessa forma podemos apontar que para o funcionalismo a causa dos problemas sociais nas sociedades é exatamente a existência de uma crise moral.

A divisão social do trabalho no organismo social de Durkheim distribui as tarefas, funções, profissões entre os indivíduos, essa divisão social do trabalho causa uma interdependência entre os indivíduos e os organismos, provocando segundo essa teoria uma relação de cooperação e de solidariedade entre os homens.

A sociologia Durkheimiana tem outro elemento importante para compreendermos a sociedade dita como um “todo orgânico,” de acordo com essa teoria os “fatos sociais” devem ser tratados como coisas, o que ocorre com os indivíduos na sociedade não está de fato relacionado ao contexto vivido por estes, mas são fatos isolados, desconectados, que acontecem por “culpa do próprio indivíduo”, como exemplo podemos apontar o suicídio que foi também o foco de estudo de Émile Durkheim.

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Procurando garantir à sociologia um método tão eficiente quanto o desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim aconselhava o sociólogo a encarar os fatos sociais como coisas, isto é, objetos que, lhe sendo exteriores, deveriam ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos envolvidos pensassem ou declarassem a seu respeito (COSTA, 1997, p. 61).

Para Émile Durkheim o funcionalismo explica ainda a solidariedade social, esta se divide em solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. A solidariedade mecânica é o princípio que rege as organizações das sociedades primitivas, onde existe uma homogeneidade econômica e cultural entre os clãs, as famílias os indivíduos. A solidariedade orgânica é produzida nas sociedades contemporâneas, e imputada através da divisão do trabalho, onde existe a diferenciação e complementações de funções. A divisão social das funções no trabalho exige cooperação entre os indivíduos de uma sociedade, imprimindo o conceito de que todos devem contribuir para o funcionamento do trabalho e consenso entre as classes.

A partir dessa compreensão da solidariedade social apontamos que o princípio que rege a solidariedade mecânica é a semelhança o consenso, e o que rege a solidariedade orgânica é a diferença. Essa diferença na sociedade orgânica para o funcionalismo não quer dizer exatamente a discórdia ou o conflito, mas ao contrário, as diferenças entre as funções é que fazem com que essas se complementem e cooperem entre si. Daí a importância da consciência coletiva ser estabelecida na solidariedade orgânica como elemento que estabelece o equilíbrio e a forma de integração social e funcionalismo das sociedades contemporâneas. A consciência coletiva é responsável por estabelecer regras e normas que coletivamente estarão ditando a integração e o bom funcionamento do organismo social.

2. O SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL E A ATUAÇÃO PAUTADA NO POSITIVISMO E FUNCIONALISMO

A atuação positivista, funcionalista, permeou a atuação tradicional do Serviço Social conservador, esse período pode ser apontado desde a gênese da profissão até meados dos anos 60, e tem uma ruptura com o Movimento de Reconceituação após anos 70.

Durante esse longo período em que o Serviço Social tradicional atuou pautado sob as concepções teóricas das correntes: neotomista, positivista e funcionalista, esteve colaborando com a expansão do sistema capitalista e legitimando-o.

Esse fato pode ser confirmado a partir da constatação de uma atuação assistencialista, de correção dos indivíduos (principalmente a classe trabalhadora), desenvolvendo uma política que promova a integração e a cooperação entre as divergentes classes sociais capital/trabalho, e ainda coibindo as iniciativas de reivindicação por parte dos trabalhadores explorados pelo capital.

Está voltado para uma ação de soerguimento moral da família operaria, atuando preferencialmente com mulheres e crianças. Através de uma ação individualizadora entre as “massas atomizadas social e moralmente”, busca estabelecer um contraponto às influências anarco-sindicalistas no proletariado urbano (IAMAMOTO, 2007, p. 19).

Conforme citação acima podemos apreender que o Serviço Social tradicional positivista/ funcionalista, foi utilizado como um mecanismo de sustentação do sistema

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capitalista como também foi instituído para corrigir as ditas “disfunções” que por ventura pudessem atrapalhar o crescimento da industrialização no Brasil, e assim garantir a força de trabalho elemento indispensável à manutenção e reprodução do lucro do capital e reprodução do sistema capitalista.

A mediação exercida pelo Assistente Social nas relações entre a indústria e a vida privada do trabalhador se efetiva, ainda, pelo controle do acesso e uso dos chamados “benefícios”, previstos pela política de pessoal da empresa (empréstimo financeiros, adiantamentos salariais para necessidades urgentes, cooperativas de consumo etc), e pela política previdenciária. Esta área se revela como uma instância privilegiada de interferência em decisões que, no capitalismo, tem sido atribuída ao próprio trabalhador, sem ingerência direta do capital. Trata-se de um empreendimento de tutela e programação do cotidiano do operário, incutindo nesse uma racionalidade de comportamento adequada à ordem capitalista (IAMAMOTO, 2007, p. 47).

O Serviço Social em sua atuação tradicional atuava sob grande influência da Igreja Católica, essa influência acompanha a profissão desde sua gênese, mas também pode ser atribuída na tentativa da igreja católica em resgatar um espaço perdido por esta instituição, como também contrapor-se as ideias comunistas que estavam sendo difundidas no país entre o operariado. A atuação da profissão seguia os moldes doutrinários de manutenção da ordem, com uma atuação missionária e evangelizadora da sociedade voltada para um projeto de recristianização da sociedade burguesa.

Os assistentes sociais reafirmavam a ideia liberal em que todos eram livres e baseavam-se na ideia da lei natural, que todos os indivíduos têm aptidões, capacidades e talentos, e podem vender sua força de trabalho livremente, portanto, aptos para conquistarem uma posição social privilegiada. O sucesso e o fracasso dos indivíduos são de responsabilidade exclusiva destes, a conquista de uma posição social privilegiada estava condicionada ao esforço pessoal de cada trabalhador. Uma vez afirmada essa condição, os assistentes sociais “culpabilizavam” os indivíduos que por ventura não estão em conformidade com esta ideia de acumulação e esforço para trabalhar para o capital e conseguir acumular bens por meio do trabalho.

A ideologia da classe dominante transfere das relações sociais de produção para o preparo individual, para a capacidade e o mérito pessoal, o vínculo causal responsável pela situação de privação material em que a classe trabalhadora se encontra” (ROSSI, 1978, p. 30).

Destarte, a profissão trabalhava com os “clientes” (terminologia utilizada para denominar os usuários) que todos têm as mesmas igualdades de oportunidades no sistema capitalista, o que leva a camuflar o real sobre as verdadeiras condições das classes sociais neste sistema de produção entre capital/trabalho.

O termo cliente tão enfatizado pelo Serviço Social Tradicional, deve ser questionado por estabelecer uma relação de dominação/subordinação, onde o assistente social é considerado o dono do saber da verdade, o agente do processo, enquanto o “cliente”, é um ignorante que nada sabe, necessitando da ajuda profissional. Este posicionamento reduz o “cliente” a um mero objeto manipulável, uma vez que não crê no homem como um dotado de criatividade e capacidade de agir (COSTA, 1992, p. 3).

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Evidencia-se a intrínseca relação da profissão com o capital, e a afirmação das ideias positivistas/ funcionalistas, que se tornam instrumento de orientação dos profissionais para buscar junto aos trabalhadores e suas famílias uma adequação à ordem social e correção das “condutas desviadas”, já que os problemas advindos da questão social eram considerados desvios de comportamento de quem não contribuía para a ordem e progresso, e sob orientação dessas correntes, incompatíveis com as normas sociais e a dignidade humana.

Ao profissional assistente social era exigida a “neutralidade científica” tônica do pensamento positivista, este profissional não poderia se envolver com os problemas de seus clientes, e também não primava pela transformação das situações em que se deparava, pois para o positivismo os fenômenos sociais são acontecimentos naturais, portanto imutáveis. Segundo Lowy (1975) “a sociedade é regida por leis naturais, quer dizer, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humana”, a essência do princípio do positivismo. Outra premissa básica do positivismo que guiava a atuação profissional era que na sociedade reina uma harmonia natural o que Lowy (1975) denomina como “naturalismo positivista”, afirmação que claramente escamoteia as contradições entre capital/trabalho nas sociedades modernas.

As ideias difundidas pelo Serviço Social na sociedade estavam profundamente carregadas de um conservadorismo positivista, com características de estaticidade, empregadas da noção “ordem e progresso”, inculcando consenso e harmonia social, primando pela manutenção da consciência coletiva, essa ideias eram acompanhadas de uma atuação caridosa que tinha na “ajuda’ o foco do exercício profissional. Segundo Lima (1975) o objeto do Serviço Social tem sido o homem desvalido, desajustado, desequilibrado, que não se adapta à ordem estabelecida. Trata-se de qualquer homem que precise de controle e direção.

Para o estabelecimento do perfeito equilíbrio da ordem social era necessária a colaboração de todos, e para que a sociedade mantivesse essa harmonia era necessário um profissional que contivesse os conflitos e as divergências existentes entre as classes sociais, o Serviço Social se encarregava desse papel, e para atingir esse propósito essa profissão estava submetida a uma formação de prática conservadora, com forte característica no empirismo, que tinha como meta o alcance da execução de atividades preestabelecidas, com premissa no caráter imediatista e sem nenhuma possibilidade de impactar ou transformar os problemas sociais postos à profissão até meados dos anos 60. Outro aspecto que permeava a formação do Serviço Social tradicional e deve ser apontado era que os modelos teóricos operacionais da profissão estavam submetidos à realidade europeia, sem a mínima ligação com o contexto da realidade brasileira, uma vez que foram trazidos por profissionais dos países hegemônicos europeus, esvaziados de um teor crítico, e completamente divergentes dos anseios e necessidades de nossa população, o que mais uma vez afirma o caráter positivista de “neutralidade científica”.

A posição de “neutralidade” por parte do Assistente Social implica num posicionamento totalmente conservador, pois, ele está tomando partido pela omissão frente à realidade, assegurando assim, a permanência da situação vigente que ele considera ser compatível com o seu padrão de vida. Logo, não podemos considera-lo “neutro”, haja vista ele está praticando um ato político, ou seja, a política do dominador (COSTA, 1992, p. 5).

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A sociedade é entendida do ponto de vista do Serviço Social tradicional positivista/ funcionalista, como um todo harmônico integrado, essa integração corresponde à funcionalidade dos Papéis ou funções que cada indivíduo deve desempenhar para o equilíbrio da sociedade. Quando não se desempenha corretamente essas funções, coloca-se em desequilíbrio o “todo social”, e a função do técnico assistente social, é justamente assegurando a eficácia em sua atuação, corrigir as disfunções dos indivíduos.

Esse equilíbrio almejado na sociedade pelas teorias positivista/ funcionalista, visa o “bem comum” e a “felicidade de todos”, tendo no Estado seu representante maior de autoridade e naturalmente que assegura o equilíbrio, por meio da imposição do respeito e da coerção utilizando-se da violência, em caso de necessidade de manutenção da ordem social. E o profissional de Serviço Social serve a essa ordem conscientizando os indivíduos seus clientes, em relação aos valores universais, difundidos pela ideologia dominante: dignidade, liberdade, perfectibilidade, autodeterminação, participação, colaboração, trabalho etc. Segundo Costa (1992) partindo do pressuposto de que comprometimento com o desvendar o real, a verdade é papel de toda profissão que pretende ser científica, o Serviço Social tradicional se mostrou insuficiente, pois esteve longe de selar uma prática ou compromisso que contribuísse para libertar o homem de seu estado de domesticação em que se encontrava.

Ao contrário o que pode apontar foi uma ação voltada para humanização dos homens, harmonização da sociedade, e correção de tudo que não se encaixa na perfeição da ordem, induzindo aos inaptos a se adaptar, integrar e colaborar com o meio social em que produziam lucro para o capital.

O Serviço Social utilizava a metodologia de: caso, grupo e comunidade, sendo a formação social, moral e intelectual das famílias a célula básica do trabalho dos assistentes sociais, com intenção de instituir a hierarquia e a ordem na família e no trabalho, desconsiderando a substância profundamente desigual da sociedade capitalista, considerando como natural as condições de exploração e as relações sociais que sustentavam o trabalho alienado inerentes ao processo de dominação e manutenção da ordem burguesa.

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AULA 05 – SERVIÇO SOCIAL, A FENOMENOLOGIA E O DESENVOLVIMENTISMO.

Profa. Renata Leandro

1. A FENOMENOLOGIA DE EDMUND HUSSERLPara entendermos o que é fenomenologia, primeiramente, vamos saber o que é

fenômeno.Para a fenomenologia, fenômeno é tudo que se mostra ou aparece, o que se torna

visível. Fenômeno da palavra grega phainómenom, que semanticamente significa iluminar e também mostrar-se ou aparecer. “Fenômeno é tudo que é percebido pelos sentidos ou pela consciência” (SANTOS, 1995).

Entende-se por fenômeno tudo aquilo de que podemos ter consciência, seja qual for o modo, deste modo os fenômenos são “[...] não só os objetos da consciência, mas os atos da consciência sejam eles intelectivos, volitivos ou afetivos (PAVÃO, 1981, p. 5)”.

Fenomenologia do termo grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos, explicação, estudo.

A fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938) teve grande influência na filosofia contemporânea. A fenomenologia estuda o universal, o que é conhecido por todos, o que é válido para todos os sujeitos. O que eu conheço o que eu vivencio. Para Husserl a fenomenologia é a vivência de todos, e por isso, o mundo que eu conheço é o mundo que pode ser conhecido por todos.

Para Husserl, fenomenologia é uma ciência eidética (eidos = essência) descritiva da realidade vivida. Fenomenologia é uma ciência eidética descritiva.

Para Husserl, a Fenomenologia é o “estudo das essências”, ou podemos dizer o “estudo das significações”, por exemplo, a essência da percepção, a essência da consciência, a essência da imaginação, da paixão etc.

Segundo Husserl, as ideias principais da fenomenologia como ciência, significa que ela é descritiva da estrutura essencial do vivido, que ela é concreta, intencional, compreensiva e interpretativa. Descrever o fenômeno, não explicar e nem analisar. O estudo da realidade social se volta para a vida cotidiana.

Os significados sociais que se busca compreender e interpretar emergem da vida cotidiana.

A Fenomenologia não se interessa pela historicidade dos fenômenos. Ela busca a essência dos fenômenos, e, para tanto defende o isolamento do fenômeno visando compreender a pureza do fenômeno e, sobretudo descrevê-lo.

Husserl combateu o psicologismo que afirmava que “pensar” e “conhecer” eram eventos psíquicos e que, por isto, a lógica dependia das leis psicológicas.

Para Husserl, a lógica nada mais seria do que a técnica do pensamento correto [...] a técnica nada mais é do que um caso particular de uma ciência geral e normativa.

Husserl apud CBCISS aponta que o caminho para chegar à evidência das essências é “[...] a partir das vivências intencionais fundamentais. Os atos intencionais são as vivências, por exemplo, do ato de significar, do ato de perceber, do ato de querer, do ato de imaginar, do ato de agir etc.

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A intencionalidade é outra ideia fundamental da fenomenologia. É a intencionalidade da consciência que sempre está dirigida a um objeto, o que nos remete ao princípio de que não existe objeto sem sujeito. Intenção é a tendência para algo.

Segundo GamboaA fenomenologia consiste na compreensão dos fenômenos. Em suas várias manifestações, na elucidação dos supostos, dos mecanismos ocultos e suas implicações, no contexto no qual se fundamentam os fenômenos. A compreensão supõe a interpretação, é dizer, revelar o sentido dos sentidos, o significado que não se dá imediatamente, razão pela qual necessitamos da hermenêutica, da indagação, do esclarecimento das fases ocultas que se escondem detrás dos fenômenos (1993, p. 19-20).

A fenomenologia, ao contrário da ciência empírico-analítica, não confia na percepção imediata do objeto, é pela interpretação que descobre a essência dos fenômenos. O empirismo significa estabelecer argumentações à luz da experiência, do cotidiano, como, por exemplo, aquele que trata doenças com remédios caseiros, sem noções científicas sobre doenças. Ou aquele que constrói uma casa, ou moveis, sem ter noções de matemática.

A fenomenologia apresenta outras categorias de análise em que não nos deteremos neste texto, pois a ideia é apresentar a aproximação a postura do serviço social com essa corrente.

1.1 A aproximação do Serviço Social com a fenomenologiaA prática profissional, na perspectiva da fenomenologia, leva em conta a reflexão do

vivido; no nível teórico possibilita ao profissional questionar o valor do mundo, já no nível da prática, agir com responsabilidade em relação a esse mundo. O que implica respeito à dignidade humana e à capacidade de autodeterminação do homem.

A preocupação do Serviço Social está em proporcionar condições para o homem agir, livre e conscientemente, e que para tal necessita de uma atitude reflexiva, a partir de situações vividas, buscando novos modos de ser, de modo crítico e consciente, estabelecendo relações com o mundo e no mundo, e o próprio mundo em si.

As autoras do Serviço Social que representam esta proposta são Anna Augusta de Almeida (1978) que sintetiza os seguintes pressupostos teóricos: diálogo, pessoa e transformação social, e Ana Maria Braz Pavão em seu livro “O Princípio de Autodeterminação no Serviço Social: visão fenomenológica”, que entende que a filosofia é imprescindível na prática profissional do assistente social, à medida que possibilita uma reflexão sobre essa prática, aponta a preocupação do Serviço Social com o homem a fim de torná-lo mais crítico e reflexivo. Entende que é um processo educativo, que o homem enfrenta os desafios da realidade de forma dialógica, ao considerar a estrutura de vivido na sua historicidade e na sua cultura.

Em relação ao mundo Pavão afirma queO mundo é assim um conjunto de significados, e o homem tem consciência de si mesmo à medida que percebe os significados que são atribuídos por ele, inclusive o significado de sua própria pessoa, em relação ao ente que ele é, ou seja, experiência de ser si mesmo (1981, p. 36).

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É nesse sentido que o Serviço Social poderá possibilitar ao homem a tomada de consciência de si em relação ao próprio mundo. Este mundo são as estruturas de relações significativas nas quais o homem escolhe o seu modo de ser.

O relacionamento entre o profissional e o usuário corresponde à maneira pela qual ambos percebem o mundo e travam relações com ele. O estabelecimento dessa relação, o acontecimento que é vivido irá refletir na própria ação profissional. Há de se considerar que as relações sociais estabelecidas não estão somente relacionadas à intenção de cada profissional, mas também com a realidade a sua volta, determinada por conjunturas distintas em tempo e espaço.

Pavão (1981, p. 74) observa que:Para o Serviço Social, trata-se de questionar, num sentido, num sentido teórico, o valor do mundo, ou seja, da realidade encontrada e confrontá-la com um “dever-ser”. Na prática, esse agir supõe compreender o valor ilimitado do mundo e colocá-lo a distância, renovando sempre a responsabilidade em relação a ele. Isso significa que o agir ético procura transformar o mundo para lhe dar uma essência. Então, “teoricamente a questão se prende ao sentido das ações, e na prática, a questão refere-se aoobjetivo das ações”.

A perspectiva da fenomenologia considera que o Serviço Social se preocupa com o homem com o propósito de torná-lo mais crítico e reflexivo em relação à realidade em que está inserido. É uma ação educativa, pois permite ao homem enfrentar os desafios da realidade, de forma dialógica. Essa atitude crítico-reflexiva situa o homem no mundo, como atuante e participante de um processo que o torna “ser no mundo em si mesmo e ser com os outros”. Em síntese, é uma descoberta da “consciência em si” e uma formação da “consciência crítica”.

2. CONFIGURAÇÕES DO SERVIÇO SOCIAL EM FACE DA PERSPECTIVA DESENVOLVIMENTISTAA Organização das Nações Unidas – ONU considerou a década de 60 como a década

do desenvolvimento, focando o capital humano, o potencial do homem, enquanto condição básica para tal. Trabalhar esse recurso presume o emprego de mecanismos de ação voltados para a existência e realidade comunitária, o que se dá com o Desenvolvimento de Comunidade – DC, sobre o qual, no decurso de seu processo histórico, observa-se “um conjunto de concepções que o realçam continuamente como meio de autonomização e enfrentamento das preocupações e interesses da população comunitária” (SOUZA, 1987, p. 56).

O cenário do primeiro lustro, da década de 60, especialmente os anos de 1960-1963, segundo Ammann (1987, p. 57), “representam, em particular, um período de gestação da consciência nacional-popular e de engajamento de amplas camadas sociais na luta pelas reformas de estrutura.” Constituiu-se, portanto, um período de efervescência das classes operárias aliadas ao caráter audacioso e otimista do Governo Jk, o qual “conclama os brasileiros à luta pela ‘libertação econômica’, que deveria vir com a industrialização e seria capaz de trazer ao país a riqueza e a prosperidade que beneficiaria a sociedade inteira”(AMMANN, 1987, p. 59).

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O Governo brasileiro, nesta época, era representado pela pessoa do presidente Juscelino Kubitscheck. Souza (1987) afirma que, através da industrialização, o país alcançaria níveis de riqueza que poderia abranger a todo.

Conforme assinalam Vieira e outros (1987, p. 116), as mudanças ocorridas na economia nacional, no período em voga, contêm elementos caracterizados

pela deterioração das relações de troca, o esgotamento das reservas monetárias e o crescente endividamento externo, aliada à luta para criar condições favoráveis à expansão econômica nos marcos do capitalismo dependente, são os elementos do quadro geral dentro do qual se engendra a ideologia desenvolvimentista e se definem as suas vertentes.

O governo JK ratifica essa ideologia, pois a palavra de ordem visa ao crescimento econômico acelerado com metas de prosperidade, de grandeza material da nação, bem como da soberania daí decorrente, aliada à paz e ordem social. A vertente juscelinista, na perspectiva desenvolvimentista, tem como foco de preocupação: “A industrialização de base do país, o crescimento econômico e a própria continuidade da expansão [...], o que une, de forma categórica, desenvolvimento e industrialização” (Vieira e outros, 1987, p. 116).

Diante disso, evidencia-se a magnitude do peso do componente econômico nessa visão desenvolvimentista, enquanto parâmetro de desenvolvimento.

O governo JK sentia os efeitos da miséria enquanto perigo à ordem social, daí considerar importante a ajuda dos países desenvolvidos aos subdesenvolvidos.

Entretanto, a política do Estado reúne as condições de acesso à penetração do capital monopolista e a ideologia desenvolvimentista, afirma Souza (1987, p. 71).

Nesse ínterim, a ideologia desenvolvimentista adentra a vida profissional, diluindo resistências e acelerando a adesão dos assistentes sociais ao desenvolvimento.

Ao citar Maria Lúcia Carvalho da Silva, Vieira e outros (1987) afirmam que no intuito de superação do estágio transitório de subdesenvolvimento se estabelece intercâmbio com os EUA, engajando os assistentes sociais brasileiros na proposta norte-americana de desenvolvimento de comunidade “como técnica e como campo de intervenção profissional”. Essa oferta é entendida como estratégia dos EUA de, sob sua hegemonia, propiciar dinamicidade no desenvolvimento do capitalismo dependente latino-americano.

Vale destacar que a matriz desenvolvimentista referencia-se como proposta marcadamente funcionalista, cuja perspectiva de mudança não questiona as estruturas socioeconômicas, excluindo da análise as lutas de classe. Mesmo assim, o desenvolvimento de comunidade constitui-se como força, “instrumento eficaz para o desenvolvimento econômico e social” (VIEIRA e outros, 1987, p. 117).

O Serviço Social, nessa conjuntura, moderniza-se. É inserido na dinâmica social, o que não significa dizer que inexistia oposição por parte de alguns assistentes sociais a esse projeto de cunho desenvolvimentista-funcionalista.

A título de ilustração, utilizaremos o posicionamento de Cortez, citado por Vieira e outros, em contraposição à referida concepção desenvolvimentista. “A comunidade [...] é um sujeito histórico e, como tal, capaz de reagir aos planos que lhe são impostos, ao assistente social, que é sempre revolucionário contestador” (VIEIRA e outros,1987, p. 118).

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No governo Jânio Quadros, o social em seus diversos aspectos constitui-se alvo demagógico. O discurso janista traz em seu bojo a formação de uma nação e de um povo forte, uma economia globalmente vigorosa. Busca atenuar a pobreza para que no plano econômico se faça a democracia e que desse modo, a nação possa se constituir em um todo harmônico e equilibrado. O Serviço Social, nesse contexto, “é situado como instrumento de democracia, indispensável, portanto, para a consecução dos objetivos nacionais, especialmente através de sua atuação ao nível das comunidades” (VIEIRA e outros, 1987, p. 119).

A XI Conferência Internacional de Serviço Social, ocorrida em Petrópolis, no ano de 1962, representou momento de reflexão sobre a prática profissional, configurada nos moldes do desenvolvimentismo janista. O evento revela apoio às estratégias desenvolvimentistas.

Com relação ao desenvolvimento de comunidade, Junqueira citada por Vieira e outros afirma que ele passou a ser visto “como uma metodologia adequada aos programas e projetos de desenvolvimento econômico-social, como um instrumento de busca de bem-estar social” (1987, p. 119) .

Configura-se o cenário apropriado para o surgimento do assistente social enquanto agente de mudança na perspectiva da ideologia dominante. Diante disso, o profissional reorienta sua prática nos planos institucional, teórico e metodológico em função do projeto em vigor. Assume uma postura modernizadora e reformista e busca respostas para os problemas estruturais de cunho meramente técnicos.

1.1. Redefinições do Serviço Social no processo de expansão capitalista na era do desenvolvimentismo

No período de 1961 a 1968, a perspectiva em foco ganhou força no Serviço Social, tanto no plano do discurso e do ensino, quanto no plano da prática.

No plano do discurso, conforme já mencionamos, destacamos alguns eventos como a XI Conferência Internacional de Serviço Social, onde os assistentes sociais expressaram unanimidade em defesa do princípio da mudança social e econômica equilibrada; o II Congresso Brasileiro que ocorreu no Rio de Janeiro em 1961 com a temática “Desenvolvimento nacional para o bem-estar social”. Esse evento contou com a presença do então Presidente da República Jânio Quadros. Na ocasião explicitou em seu discurso uma demanda dos setores dominantes ao Serviço Social.

O Serviço Social se transforma num instrumento de democracia ao permitir a verdadeira integração do povo em todas as decisões da comunidade.[...] cumpre estimular nas populações locais o espírito progressista, a necessidade de criar novos hábitos, novos processos e métodos de trabalho, a fim de, pelo aumento de emprego, melhorar as rendas da família. (VIEIRA e outros, p. 102).

Nesse contexto, tendo em vista a realidade de subdesenvolvimento, havia o entendimento da importância da necessidade de ação conjugada dos diversos segmentos da sociedade e os assistentes sociais aí inseridos. Os estudiosos Vieira e outros compreendem que

o desenvolvimento de comunidade, o mais novo ‘método’ aplicado pelo Serviço Social na sua prática, pode se constituir num instrumento que contribua para o

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desenvolvimento da nação. A perspectiva de desenvolvimento [...] é entendida pelos assistentes sociais como dotada de forte conotação humanista cristã, envolvendo as ideias de justiça social, caridade e de harmonia entre os fatores econômicos e sociais (1987, p. 103).

O assistente social, nesse cenário, exerce o papel de líder indireto da comunidade, intermediando as ações entre governo e povo, considerando seu domínio do método de lidar com as pessoas, bem como do manejo de técnicas. Vale ressaltar aqui a contribuição dada por esse profissional ao aglutinar valores, ação, conhecimento e intermediação.

Outro evento marcante, ocorrido em 1967, promovido pelo CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social), foi a realização do Seminário de Teorização do Serviço Social. Esse evento resultou na sistematização do pensamento dos assistentes sociais da época – o Documento de Araxá. É ressaltado o papel do Serviço Social de “levar as populações a formar consciência dos problemas sociais, contribuindo, também, para o estabelecimento de formas de integração popular no desenvolvimento do país” (VIEIRA e outros, p. 106).

Nesse seminário, os assistentes sociais defendem também uma nova perspectiva de metodologia para a profissão, integrando a docência ao exercício profissional e à pesquisa. O referido Documento reflete o ecletismo de propostas levantadas, porém, cabe salientar o predomínio de propostas de cunho conservador.

No plano do ensino, as escassas escolas que ofereciam o curso de Serviço Social sofriam influência das diretrizes educacionais implantadas pelo Estado, regido pela Lei n. 1.889, de 13 de junho de 1953. Essa Lei dispõe sobre os objetivos, estrutura e, também, sobre as prerrogativas dos portadores de diplomas de assistentes sociais e agentes sociais. Convém mencionar aqui o Decreto-Lei n. 35.311 que regulamentou a referida Lei, datado de 8 de abril de 1954.

As exigências quanto às novas orientações para a educação só se consolidaram com a Lei de Diretrizes e Bases de 1961. Essa Lei contempla o caráter descentralizador da educação ao salientar que tanto o setor público como o privado “têm o direito de ministrar o ensino no Brasil, em todos os níveis e omitindo a questão da gratuidade do ensino.” (VIEIRA e outros, p. 107) Acrescentam ainda as autoras que “O sistema educacional será reestruturado para assegurar o controle social e político, colocando-se a serviço dos interesses econômicos que orientam sua reformulação”.

Proliferam-se as escolas de Serviço Social, amplia-se o número de assistentes sociais formados, o que favorece a criação dos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS) e o Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) em 1962, cuja finalidade é a de disciplinar o exercício profissional.

As denominações acima foram alteradas respectivamente para Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) e Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), conforme Art.6º da Lei n. 8.662, de 07 de junho de 1993, atual lei em vigor que regulamenta a profissão.

Vale destacar que o CBCISS – Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais, nesse período de evolução do Serviço Social brasileiro, teve papel de relevo no processo de disseminação da ideologia desenvolvimentista.

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Não apenas pelas produções de textos publicadas, mas também pela realização de cursos, inclusive para o corpo docente. Teve uma grande importância na organização da XII Conferência Internacional de Serviço Social. Organizou também o II e o III Congresso Brasileiro de Serviço Social, que ocorreram, respectivamente, nos anos de 1961 e 1965, bem como o Seminário Nacional em Araxá no ano de 1967. Este último é considerado como grande marco “na difusão da visão de mundo desenvolvimentista no Serviço Social” (VIEIRA e outros, p. 112).

No plano da prática, a introdução da noção de Desenvolvimento de Comunidade (DO), se deu por volta de 1960, ocasião em que os assistentes sociais tiveram oportunidade de conhecer experiências desenvolvidas em colônias inglesas, através dos encontros internacionais de Serviço Social. A partir desse ano, o DO expandiu-se para áreas urbanas através do Serviço Social da antiga Guanabara no Rio de Janeiro e de São Paulo.

Segundo Vieira e outros,Na Guanabara, o assistente social trabalha ligado aos Conselhos de Obras existentes em cada Administração Regional do Estado, com a função de estudar os problemas da comunidade, sugerir soluções e procurar envolver os grupos e associações dos bairros nos trabalhos (1987, p. 114).

As autoras informam ainda que a atuação dos assistentes sociais em projetos urbanos eram extensivos a experiências de erradicação de favelas. Serviam como elo entre essas camadas subalternas e os demais profissionais ou técnicos.

As iniciativas de desenvolvimento de comunidade em São Paulo eram coordenadas por assistentes sociais. Segundo Cortez citado por Vieira e outros (1987, p. 114), buscavam a “organização da comunidade para a solução de seus próprios problemas, tornando-a agente de seu próprio processo de desenvolvimento.”

É pertinente ressaltar que, nessa época, as experiências profissionais davam ênfase à abordagem individual, ou seja, ao processo de caso individualizado. Isso se deu devido ao desconhecimento de outros processos com profundidade, conforme menciona Luiz Cava Neto citado por Vieira e outros (1987). Contudo, a conjuntura desenvolvimentista foi se impondo ao nosso país, os assistentes sociais inseriram-se num processo de compreensão do desenvolvimento econômico e social.

Ilustrando as afirmações acima, Castro (2003) assinala que esse cenário da profissão ocorreu graças ao empenho da ONU em atuar no incentivo às capacitações e qualificações de técnicos, visando cobrir as demandas emergentes relativas aos níveis de administração do desenvolvimento.

O cenário socioeconômico, cultural e político do desenvolvimentismo exigiram, por parte dos técnicos, sobretudo do assistente social, a preparação e adesão aos trabalhos de cunho comunitário. O objetivo era de engajar a comunidade, as massas subalternas na expansão da industrialização e, consequentemente, do desenvolvimentismo capitalista. A alegação era de que o desenvolvimento propiciaria a melhoria da qualidade de vida de todos; na verdade estava subjacente a ideologia dominante, que comungava interesses tanto da burguesia nacional quanto da estrangeira.

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AULA 06 – SERVIÇO SOCIAL E O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO

Profa. Renata Leandro

Em meados da década de 1960, o Serviço Social já desfrutava do status de profissão liberal inscrita na divisão social e técnica do trabalho com reconhecimento legal. É nesse período que surgem fortes questionamentos quanto às matrizes conservadoras subsidiárias do discurso e quanto à prática profissional, afirma Simionatto (2004).

Estudos revelam que, com a crise do modelo desenvolvimentista, o período entre 1961 e 1964 no Brasil e América Latina caracteriza-se por profunda agitação política, ocasião em que segmentos da sociedade insatisfeitos reivindicam mudanças. Silva e Silva (2007, p. 81) diz que “setores da categoria profissional dos Assistentes Sociais esboçam algumas tentativas de novas experiências de vinculação aos processos e lutas por mudanças”.

Em 1965 emerge o Movimento de Reconceituação como marco de questionamento dos referenciais teóricos e da prática profissional, atrelado às matrizes norte-americanas. É o momento de contestação das propostas do Serviço Social Tradicional. Caracterizava-se, portanto, um processo de crítica e ruptura inserido num cenário sociopolítico da América Latina, quando se buscava romper com as amarras imperialistas de exclusão, dependência e exploração.

Segundo Simionatto (2004, p. 174),Este movimento, que tem sua emergência em 1965 e seu exaurimento por volta de 1975, desenvolver-se-á a partir de várias vertentes, desde a de natureza nitidamente desenvolvimentista até as que, de forma mais radical, propunham a criação de um Serviço Social comprometido com a realidade dos povos latino-americanos, cujo referencial deslocava-se da visão funcionalista para a perspectiva dialética.

No Brasil, ante a realidade vigente do Golpe Militar, essa proposta não encontrou espaço para se desenvolver. Nesse momento, afirma Simionatto (2004, p. 175) “a perspectiva modernizadora terminou por ser efetivamente assumida pelo Serviço Social.” Nessa época, o Movimento de Reconceituação perdeu impulso e muitos de seus precursores foram perseguidos e exilados do país, outros foram cooptados pelo governo mediante oferta de altos cargos e generosas retribuições monetárias.

A seguir, abordaremos os acontecimentos da fase “Geração 1965” do Serviço Social a partir do processo de instalação da Ditadura Militar no Brasil em 1964, reportando-nos aos rebates na formação profissional e sua luta pela efetivação de um projeto ético profissional.

1. O SERVIÇO SOCIAL E OS DITAMES DA DITADURA A PARTIR DE 1964No Brasil, início dos anos 60, o contexto em vigor era o do nacionalismo econômico e

político onde se buscava um desenvolvimento capitalista autônomo, ou seja, sustentado internamente. Porém, com o golpe militar de 1964, as ilusões nacionalistas foram à bancarrota revelando a aliança da burguesia industrial nacional ao capital estrangeiro, bem como o forte caráter conservador e autoritário da burguesia nacional ou classes dominantes (VITA, 1999).

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Em face dessa realidade de repressão, Simionatto (2004, p.175) afirma que: “O projeto de cunho ‘nacional-desenvolvimentista’ cedeu lugar a uma proposta ‘pragmático-tecnocrática’, destinada a responder às necessidades do crescente processo de acumulação capitalista”.

Segundo Vieira e outros (1987), o período pós-Golpe trouxe marcas profundas no que concerne à radicalização do modelo capitalista. Esse modelo era escoltado por uma concentração exacerbada do poder estatal e de um aniquilamento dos instrumentos de defesa das classes subalternas.

No governo Castelo Branco, o modelo desenvolvimentista tomou fôlego utilizando a educação como um instrumento nesse processo, mediante a abertura ao capital estrangeiro. Freitag citado por Vieira e outros (1987, p. 107) afirma que “os aparelhos repressivos do Estado assumem o controle dos mecanismos e aparelhos ideológicos [...]”. Evidencia-se, nesse período, uma tendência ao fortalecimento do ensino particular, o que contribui para reformulação geral do ensino a partir de 1967.

A citação a seguir dá o tom das medidas implantadas pela reforma universitária nesse período, através do Decreto-Lei 477, que atribuía às autoridades universitárias e educacionais “o poder de desligar e suspender estudantes envolvidos em atividades que fossem consideradas subversivas, isto é, perigosas para a segurança nacional”. (VIEIRA e outros, p. 108). Vale salientar que tais medidas eram extensivas aos funcionários das universidades e ao corpo docente.

Nesse cenário do Golpe Militar convém mencionar que houve corte nos trabalhos desenvolvidos com a comunidade. Segundo Helena Junqueira e Maria Lúcia Carvalho da Silva citadas por Vieira e outros (1987, p. 114), “o trabalho com a comunidade foi confundido, por alguns dos usuários, com comunismo”.

Isso se deu, principalmente, em relação às práticas desenvolvidas extra âmbito estatal vinculadas à Igreja ou a movimentos operários.

Nessa conjuntura política da Ditadura Militar, já consolidada no país, ocorre uma forte expansão da demanda pelo trabalho com comunidades.

Nesse momento é imposta a ideia de participação popular, sendo o Assistente Social chamado, conforme afirmam Vieira e outros (1987, p. 115), “a atuar na implementação de estratégias que viabilizem esta participação em planos de governo.”

Os Assistentes Sociais muito contribuíram na veiculação da ideologia da integração nacional junto à população. Nesse ínterim, as práticas profissionais do Serviço Social multiplicaram-se conjuntamente com outros profissionais, principalmente nas áreas rurais, com intuito de aplicar o desenvolvimento de comunidade como processo educativo, criando condições de envolver a população no progresso do país. A título de exemplo, tivemos na ocasião as agências Sudene, Sudam, Sudesco e Sudesul.

1.1.1 Serviço Social na conjuntura de 1964 a 1968As repercussões da conjuntura de opressão e repressão circunscrevem-se no âmbito

do Serviço Social brasileiro de modo a frear sua vertente crítica. Nesse primeiro momento do Regime Militar no país e na América Latina, “o Serviço Social é bastante marcado em suas perspectivas e possibilidades de avanços críticos” (SILVA, 2007, p. 29-30). Este regime

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político esteve fundado na Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento, que se atrelou “a teorias geopolíticas, ao antimarxismo e ao pensamento católico de tendência conservadora” (SILVA, 2007, p. 30).

A conjuntura, entretanto, é a de gestação do Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina. Esse movimento canalizou as insatisfações profissionais no campo teórico-instrumental e político-ideológico. Isso se deu graças à tomada de consciência progressiva sobre a realidade de subdesenvolvimento, dependência, dominação e opressão das classes subalternas da sociedade civil por parte dos profissionais, assevera Silva (2007).

A cisão do bloco histórico impõe uma realidade de desmobilização, que culmina em mudanças de rumo dos movimentos políticos gestados anteriormente numa conjuntura populista, como: o Movimento de Educação de Base (MEB), o sindicalismo rural, bem como as experiências de Desenvolvimento de Comunidade. O Estado passa, então, a controlar a relação capital-trabalho.

Essa realidade rebate no Serviço Social, pois resta-lhe atuar na execução de políticas sociais em expansão, assim como em programas de Desenvolvimento Comunitário. Conforme já vimos anteriormente, essas atividades visam à integração das populações aos programas de desenvolvimento tolhendo-as, o que caracteriza um retrocesso ou refluxo das lutas em processo.

Vale ressaltar que é neste cenário que ocorrem em 1961 e 1965, respectivamente, o II e III Congressos Brasileiros de Serviço Social, bem como os chamados “seminários de teorização do Serviço Social”, promovidos pelo CBCISS. Esses momentos servem de reflexões profissionais inscritas no processo de renovação do serviço social no Brasil, que culminou na elaboração do Documento de Araxá em 1967. Ainda em 1965, o CBCISS lança o periódico Debates Sociais, o que constitui um relevante meio de difusão editorial da profissão (NETTO, 1994).

Segundo Castro citado por Netto (2003, p. 138), “o assistente social quer deixar de ser um ‘apóstolo’ para investir-se da condição de ‘agente de mudança’.” O II Congresso Brasileiro, ocorrido no Rio de Janeiro, significou não somente a descoberta do desenvolvimentismo, mas, “efetivamente entronizou a intervenção profissional inscrita no Desenvolvimento de Comunidade como aquela área do Serviço Social a receber dinamização preferencial” [...], afirma Netto (1994, p. 138-139).

Na esteira da erosão do Serviço Social Tradicional, Netto (1994), Iamamoto e Carvalho (1985) mencionam três elementos relevantes nesse processo. O primeiro refere-se ao reconhecimento de que ou a profissão se sintoniza com as demandas de mudança e crescimento da sociedade, em condições de competir com os demais protagonistas, ou ficará relegada a segundo plano. O segundo elemento decorre da exigência acima, requer o aprimoramento profissional teórico, técnico, científico e cultural dos Assistentes Sociais. O terceiro elemento revela o caráter subalterno da profissão, devido ao exercício em funções executivas.

Reivindica-se, então, a inserção do Serviço Social em funções que vão além da mera execução na programação e implementação de projetos de desenvolvimento. Esses

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elementos caracterizam-se como sinalizadores da dinâmica do Serviço Social, pois ainda não há uma intensa dinâmica ou crise no seio da profissão.

Nesse sentido, começa a ser posto em questão o Projeto Profissional que vinha sendo desenvolvido desde a institucionalização do Serviço Social ao incitar buscas de novas bases teórico-políticas para a profissão. Surgem dois outros projetos com direções diversas, permeados por novos elementos de compreensão da metodologia do Serviço Social e de seu instrumental técnico-operativo, bem como por concepções diferenciadas de sociedade e profissão. Trata-se do Projeto Modernizador e do Projeto de Ruptura, ocorridos no final da década de 60.

Diante disso, é pertinente que atentemos para as demandas e respostas do Serviço Social na conjuntura mais rígida da Ditadura Militar, que ocorreu no período de 1968 a 1974. A seguir, dialogaremos sobre as exigências impostas à profissão e suas respostas neste cenário.

1.1.2 Panorama do Serviço Social no contexto da Ditadura Militar a partir de 1968A partir de 1968, inaugura-se nova conjuntura e novo momento para o Serviço Social

instituído com o Ato Institucional n. 5 (AI-5). Vivencia-se uma forte repressão à luz da ideologia da integração e do desenvolvimento, pautada pela expressa e notória repressão da sociedade brasileira. O período em foco, segundo Silva e Silva (2007, p. 310),

é marcado profundamente pela repressão aos setores populares organizados e àqueles considerados inimigos do regime, com abertura de espaço para os conservadores, só sendo possível a sobrevivência das organizações de oposição na clandestinidade (2007, p. 310).

Assim sendo, imprime-se a ‘cultura da tortura e do medo’, fortalecendo a imposição do silêncio. Esse modelo econômico, aliado ao poder político, constitui-se momento de favorecimento da expansão do capital. É o momento que o Brasil vive o chamado “milagre econômico”, cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresce aceleradamente. Segundo Singer citado por Silva e Silva (2007, p. 31), “só é possível mediante a repressão das tensões sociais que permite o estabelecimento de medidas importantes na transformação das relações de trabalho.”

Daí você pode se questionar: Diante desse panorama social, político, cultural e econômico, como se desenhava a política social? Convém reforçar que o desenvolvimento do capitalismo, nesse período, caracterizou-se por intensa desmobilização dos movimentos organizados impondo medidas importantes na transformação das relações de trabalho, ou seja, a política de arrocho salarial, a substituição do sistema de estabilidade no emprego pelo FGTS e abolição do direito de greve. Segundo Silva e Silva (2007, p. 32),

A política social se coloca como estratégia para atenuar sequelas do desenvolvimento do capitalismo monopolista no Brasil, marcado pela superexploração da força de trabalho e pela forte concentração de renda.

Constata-se um forte vínculo da política social com o sistema produtivo. O objetivo é corrigir as distorções entre produção e consumo, afirma Silva e Silva (2007). Acrescenta a autora, “a política social serve como parâmetro ou medida de impacto para legitimar o

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regime da Ditadura, mediante o controle dos pontos de estrangulamento do crescimento econômico.”

O sistema educacional possível no âmbito de resistências às mudanças exerce um papel fundamental nesse contexto. A ele é atribuída “a tarefa de preparar recursos humanos para atendimento dos projetos de investimento no campo econômico, destacando-se a política de profissionalização e privatização da educação” (SILVA e SILVA, 2007, p. 32).

Em 1969, institui-se o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Vale ressaltar que esse cenário é disseminado praticamente por todo o elenco de atividades institucionalizadas, operando na reprodução das relações sociais.

Na etapa de transição das décadas de 60 e 70, antes vivenciada por um cenário ditatorial, o Estado brasileiro, no momento de redefinições modernizadoras e de cunho conservador, reordena as políticas sociais.

Diante disso, cabe ao Serviço Social se modernizar para atender aos objetivos do Estado, constituindo-se uma tecnologia social enquanto parte integrante do aparato técnico-burocrático. Assume a racionalização da intervenção nas sequelas das expressões da questão social, geradas pelo modelo econômico implantado durante o regime ditatorial.

Convém mencionar Faleiros (19, p. 61), que ressalta essa realidade no âmbito institucional ao afirmar que “A intervenção profissional passa a ser enquadrada não em função da problemática real da população, mas em função da perturbação da ordem institucional”.

Nesse ínterim, profissionais alinhados com a modernização passaram a questionar a cientificidade da prática profissional, seus métodos e teorias; sem questionar, contudo, seu papel político nesse contexto. Os Seminários de Teorização do Serviço Social, ocorridos em Araxá (1967) e Teresópolis (1970), refletem esse momento de redefinições enquanto esforço de alguns segmentos da categoria em sistematizar teoria e prática profissional.

2. Teorização do Serviço Social: O Documento de AraxáA partir de agora você conhecerá a relevância do processo de teorização do Serviço

Social focado no Encontro de Araxá. O Serviço Social como prática institucionalizada, desafiado pelas exigências do processo de desenvolvimento apoiado na ideologia desenvolvimentista, buscou integrar-se na dinâmica da realidade em mudança como um dos instrumentos. A proposta era a de propiciar ao homem meios à plena realização de sua condição humana. Esse envolvimento suscitou a revisão do seu quadro de referência em termos de objeto, objetivos, papéis, funções e metodologia de ação (AMANN, 1984).

O CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais), antenado com a realidade do contexto do final da década de 60, reconheceu o imperativo inadiável dessa revisão, logo encetou esforços de teorização do Serviço Social.

O Encontro de Araxá ocorreu em Minas Gerais no ano de 1967. Reuniu 38 Assistentes Sociais de diversas partes do Brasil. Este evento foi promovido pelo CBCISS e teve como objetivo repensar, de modo mais profundo, a teoria básica e a metodologia do Serviço Social. Nessa ocasião, produziu-se o Documento de Araxá que teve expressiva ressonância dentro e fora do Brasil. Inicia-se, portanto, com o Seminário de Araxá o processo de reconceituação.

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Segundo Ammann (1984), esse processo caracteriza-se como uma etapa de modernização; seu foco concentra-se na melhoria e adequação da tecnologia profissional às demandas institucionais, bem como na busca por uma racionalidade científica. Embora reconheça contradições no referido Documento, o mesmo expressa forte vínculo com essa ordem quando o toma como base e como referência. Vejamos o que diz o documento citado por Netto (1994, p. 167).

[...] Como prática institucionalizada, o Serviço Social se caracteriza pela atuação junto a indivíduos com desajustamentos familiar sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas.

Desse modo, a proposta de Araxá, segundo Ammann (1984, p. 154) “se coloca em função do aperfeiçoamento da ordem, passa a orientar as discussões teóricas, a investigação científica, a prática profissional e a formação profissional.”

Netto (1994) afirma de modo enfático a notoriedade da dominância teórica que dá forma ao Documento de Araxá, isto é, o estrutural-funcionalismo.

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AULA 07 – SERVIÇO SOCIAL NA DÉCADA DE 70

Profa. Renata Leandro

As décadas de 60 e 70 marcam uma conjuntura de profunda erosão das práticas do Serviço Social até então inseridas no tradicionalismo profissional, ou seja, orientadas por uma ética liberal-burguesa, funcionalista, cujas características ressaltam práticas empiristas, reiterativas, paliativas e burocráticas.

Na esteira do processo de Renovação do Serviço Social, o Seminário de Teresópolis em 1970 marcou o esforço de segmentos da categoria no sentido de elaborar uma sistematização teórico-prática da profissão.

A seguir, contextualizamos os anos 70 enfocando a configuração das políticas sociais vigentes, bem como o papel do Assistente Social nesse cenário e suas mobilizações no sentido de repensar a prática profissional.

1. POLÍTICA DO ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL E SERVIÇO SOCIAL NOS ANOS 70

A década em foco foi marcada por dois momentos: o primeiro, a euforia do chamado “milagre econômico”; e o segundo, por uma crise.

A década de 70 foi palco de acelerado crescimento econômico, constituindo-se de motivos ou precondições que o favoreceram, segundo Junqueira e outros (1981, p. 9),

- legitimação de um regime político autoritário e eliminação da expressão e organização popular;- capacidade produtiva implantada em períodos anteriores, não utilizada plenamente até então;- forte controle governamental em relação aos instrumentos da política econômica (salários, moeda, crédito, câmbio, preços);- existência de um grande exército de reserva, representado por fortes contingentes de desempregados e subempregados, que favoreciam o custo reduzido da mão-de-obra de baixa qualificação;- fase ascendente do comércio internacional e das transações no mercado internacional de capitais.

Acrescentam as autoras que diante dessa realidade adotaram medidas estratégicas, que viabilizaram o milagre econômico:

- forte entrada de capital estrangeiro;- estímulo de formação de conglomerados industrial-financeiros;- aumentos significativo do poder aquisitivo das classes média e alta, garantindo um consumidor interno, em detrimento das classes inferiores (JUNQUEIRA, 1981, p. 9).

Assim sendo, fica explícito, com franca notoriedade, o compromisso dos governos, até então no comando do país, com as minorias abastadas da sociedade espoliando as camadas de baixo poder aquisitivo.

O período de crise, momento de afloramento dos problemas inerentes ao modelo implantado, se consubstanciou no período de 1974 a 1978, no governo Geisel. O plano

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econômico apresentava crescentes dificuldades em sua efetivação, o que incitou a necessidade de revisar a política global da Ditadura, a qual com seu colossal aparato repressivo já não atendia às reais demandas da sociedade, afirmam Junqueira e outros (1981).

Diante disso, acentua-se consideravelmente o quadro de carências do cidadão brasileiro em meados dos anos 70, depreendendo-se situar essa crise não só no plano econômico, mas principalmente no social e político. Ilustram-se as insatisfações existentes, o crescimento dos movimentos populares, as manifestações sindicais e de vários profissionais liberais.

O cenário do capitalismo monopolista é fortemente marcado pela magnitude da concentração de renda, bem como da superexploração da força de trabalho, segundo Silva e Silva (2007, p. 32) “Até o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) [...], até 1974, era atribuída à política social a função de eliminação dos pontos de estrangulamento do crescimento econômico [...]”.

No período de 1972-1974, vigência do I PND, Silva e Silva (2007, p. 32) afirmam que “a política social é definida em termos de integração social, significando articulação harmônica entre governo e setor privado; entre União e Estados, entre regiões desenvolvidas e regiões subdesenvolvidas [...]” Daí os programas de impacto como PIS/PASEP, BNH, MOBRAL, FUNRURAL, PROTERRA, Projeto Rondon (1975), Centros Sociais Urbanos e CRUTACs.

Nessa conjuntura de ampliação do aparato público, salienta Silva e Silva (2007), vale destacar a importância da política social na área da assistência social assumida pela Legião Brasileira de Assistência, FUNABEM e o Ministério da Previdência e Assistência Social nas esferas Federal e Estadual.

Enfim, partindo desse desenho da política social vigente na década de 70, você verá, no próximo item, como se deu a inserção do Assistente Social nesse contexto.

2. SERVIÇO SOCIAL E SUAS RESPOSTAS ÀS DEMANDAS SOCIETÁRIAS: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO NOVO PROJETO PROFISSIONAL

Considerando o panorama da política social descrito anteriormente, você estudará neste item a contribuição do Serviço Social conforme as demandas da sociedade, objetivando dar respostas significativas e condizentes com a realidade vigente.

Nesse ínterim, entra em cena o Assistente Social, responsável direto pela operacionalização da política social, a qual exerce forte influência na profissão.

Assumindo uma perspectiva modernizadora,a formação profissional [...] passa a ser pautada pela busca de eficiência e da modernização da profissão, sendo que o planejamento, a coordenação e a administração passam a desempenhar papel fundamental, aliado ao esforço de capacitação profissional para uma atuação em nível macro e para participação em equipes interprofissionais (SILVA e SILVA, 2007, p. 34).

Diante dessa realidade, alguns estudiosos apontam como sendo este o início dos esforços de Reconceituação do Serviço Social, que culmina na realização de vários encontros para discutir sobre a sistematização teórico-prática da profissão, como Araxá (1967) e

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Teresópolis, em 1972. Esse eventos reafirmam a diretriz tradicional do Serviço Social na perspectiva da integração social, afirma Silva e Silva (2007).

Convém salientar que estudiosos do Movimento de Reconceituação enfatizam seus componentes básicos, os quais se encontram consubstanciados pela fragilidade teórica, inadequação teórico/prática e limitação profissional, ou seja, atividade profissional predominantemente institucionalizada.

Vale ressaltar também que os estudos de teorização do Serviço Social contaram com a realização do III Seminário, em 1978, promovido pelo CBCISS, enquanto possibilidade de novos questionamentos para sistematização teórica, afirma Ammann (1984). A autora ainda enfatiza: “É somente neste Seminário que se realiza a reflexão sobre novas proposições que, naquele momento, estão a exigir um esforço de crítica e formulação teórica” (p. 154).

Na ocasião desse seminário, Ammann (1984, p. 154) cita duas propostas e questionamentos apresentados:

1.”O Serviço Social a partir de uma abordagem de compreensão”, ou seja, interpretação fenomenológica do estudo científico do Serviço Social;

2.”O Serviço Social a partir de uma abordagem dialética”, ou seja, teoria de interpretação com base no método dialético, entendido em sentido metodológico: a relação entre o objeto construído por uma ciência, o método empregado e o objeto real visado por essa ciência.

Quanto à fenomenologia, método não usual no desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, Netto (1994, p. 208) assinala que essa abordagem emerge “como o insumo para a reelaboração teórica e prática da profissão”.

Após este breve panorama da política social configurada na década de 70, bem como a inserção e o papel do Assistente Social nesse contexto, você estudará no próximo item o que representou o Encontro de Teresópolis no processo de organização política dos Assistentes Sociais, bem como na construção do novo projeto ético-político da profissão.

3. PERSPECTIVA DE REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO NO SERVIÇO SOCIALNeste item, tomaremos como referência a sistematização de Netto, citada por Silva e

Silva (2007), no que tange ao processo de renovação do Serviço Social na perspectiva de reatualização do conservadorismo.

O Documento de Teresópolis, consolidado na tessitura da autocracia burguesa, reflete a mesma visão de mundo encetada pelo Seminário de Araxá, afirma Ammann (1984). Assim sendo, assevera a mencionada autora: “Não é de estranhar que o enfoque da intervenção do Serviço Social seja no sentido de reforçar projetos que modernizem a situação dos grupos atingidos sem atentar para os aspectos formativos da intervenção” (p. 154).

Tomando por base as análises de Netto (1994), a perspectiva modernizadora se afirma no Documento de Teresópolis, sobretudo, enquanto pauta interventiva, cristaliza-se a operacionalidade do sentido sóciotécnico do Serviço Social, privilegiando assim seu aspecto instrumental. Desse modo, no campo do saber e do fazer profissional, é proposto tanto uma redução quanto uma verticalização, ou seja, o Assistente Social ocupa o status de funções

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meramente executivas, bem como precisa se apropriar de técnicas de intervenção de cunho prático-imediatista.

Nesse contexto, o Serviço Social passou a ser questionado do ponto de vista de sua cientificidade, de seus métodos e teorias, porém sem questionar seu papel político neste cenário. Havia uma visão endógena de que partindo de uma metodologia bem organizada, os problemas da prática profissional estariam resolvidos.

Diante disso, é pertinente ressaltar que apesar dos esforços empreendidos no processo de renovação do Serviço Social rumo à modernização, seja por ocasião do Documento de Araxá ou de Teresópolis, não romperam com o tradicionalismo no seio da profissão. Entretanto, não se consegue suplantar as implicações político-ideológicas que influenciam a profissão desde os seus primórdios.

Segundo Iamamoto (1994), configura-se este processo como “atualização da herança conservadora”, visto que o Serviço Social apesar de promover um desenho histórico como resposta às novas demandas societárias, não consegue suplantar a tendência conservadora mencionada anteriormente.

Convém reforçar que a perspectiva modernizadora, cujo auge se deu com os Encontros de Araxá e Teresópolis em virtude de não atender às expectativas da categoria de Assistentes Sociais, perde sua hegemonia por volta do segundo lustro dos anos 70, quando ressurge o espírito coletivo questionador no seio da profissão, o qual tomará grande vulto na década de 80, alcançando aí sua hegemonia (SILVA e SILVA, 2007).

Vale mencionar um outro momento histórico na trajetória do Serviço Social, por volta de 1978 com o Encontro de Sumaré. Esse evento “representa o deslocamento da vertente modernizadora no Movimento de Reconceituação do Serviço Social no Brasil” (SILVA e SILVA, 2007, p. 98). A perspectiva modernizadora passa a dividir espaços com outras vertentes, as quais emergem nas discussões da profissão como a referência ao pensamento marxista.

É importante frisar que o cenário do regime autocrático exerceu forte influência nas delimitações desse Projeto Profissional dificultando sua expansão, cujo avanço se deu com a redemocratização do país na década seguinte, sinalizando o Projeto Profissional de Ruptura.

Esse projeto, consubstanciado no conhecido “Método BH”, é “considerado um marco do Projeto de Ruptura do Serviço Social, conforme Silva e Silva (2007). Tem por base a proposta de segmentos de Assistentes Sociais da Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais, cuja preocupação está voltada para “critérios teóricos, metodológicos e interventivos, explicitamente direcionada aos interesses das classes e camadas exploradas e subalternas” (p. 101).

Nesse contexto, a partir de 1978, o Movimento de Reconceituação recebe forte influência do teórico Gramsci. De acordo com Silva e Silva (2007, p. 39) “procura se orientar por uma perspectiva dialética, com base na concepção de Estado ampliado, que permite perceber a instituição como espaço contraditório e de luta de classes”. Esse espaço foi anteriormente refutado enquanto campo de atuação do Serviço Social.

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AULA 08 – SERVIÇO SOCIAL E A TEORIA MARXISTA

Profa. Renata Leandro

O Serviço Social tradicional atuava pautado nas perspectivas das correntes teóricas do neotomismo, positivismo e funcionalismo. A partir do final dos anos 70, no contexto da América Latina e Brasil, a profissão inicia um processo de reflexão crítica de seus posicionamentos políticos-ideológicos e interventivos.

Desencadeia mudanças em segmentos da categoria que absorvem uma nova corrente teórica capaz de explicar a realidade do ponto de vista dialético e de provocar uma revolução na atuação do Serviço Social voltada para a perspectiva de transformação da realidade social brasileira.

1. O MÉTODO DO MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICOA doutrina da corrente filosófica do Materialismo Histórico Dialético tem como

fundador Karl Marx. Conforme Costa (1987, p. 71) é “a corrente mais revolucionária do pensamento social nas consequências teóricas e na prática social que propõe”. O marxismo, como corrente revolucionária, apresentou mudanças radicais na forma de explicar e entender as relações sociais e econômicas das sociedades modernas. Esse pensamento desmistificou a relação capital/trabalho focando os aspectos do materialismo dialético, do materialismo histórico e da economia política.

O materialismo dialético tem como premissa a interpretação na perspectiva de visão de mundo, cujos princípios se fundamentam na dialética, na matéria e na prática social. Tem como foco central a materialidade e a superação na transformação da natureza em mercadoria. Estuda como as relações sociais, imbuídas neste processo dialético, se desenvolvem em uma dinâmica processual.

O método dialético impõe reciprocidade no mundo dos fenômenos.Compreende e explica as mudanças que ocorrem na matéria, nas forças produtivas e

nas relações de produção existentes no mundo moderno. Esse método tem como intenção entender o capitalismo, não apenas do ponto de vista de desenvolvimento do aspecto científico, o qual trouxe contribuição à ciência; mas, sobretudo, segundo Costa ( COSTA, 1998, p. 84), na proposição de uma ampla transformação política econômica e social para as sociedades.

Há um alcance mais amplo nas suas formulações, que adquiriram dimensões de ideal revolucionário e ação política efetiva. As contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de superação apontadas pela obra de Marx não puderam, pois, permanecer ignoradas pela sociologia.

Essa ciência, como estuda as leis sociológicas e a caracterização dessas leis para sociedade, entende a história e seu processo evolutivo no desenvolvimento da humanidade. A historicidade tem força central para o pensamento dialético, compreendendo os homens como capazes de força motriz que conduz as mudanças que ocorrem nos fundamentos materiais dos agrupamentos humanos.

O materialismo histórico se constitui uma ciência filosófica esclarecedora dos seguintes conceitos como assevera Hermany:

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Ser social: relações materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em forma objetiva, independente da consciência.Consciência social: são as ideias política, jurídicas, filosóficas, estéticas, religiosas, etc. Meios de produção: tudo o que os homens empregam para originar bens materiais (máquinas, ferramentas, energia, matérias químicas etc.). forças produtivas: são os meios de produção, os homens, sua experiência de produção, seus hábitos de trabalho. Relações de produção: podem ser de cooperação, de submissão ou de tipo de relações que signifique transição entre as formas assinaladas. Modos de produção: da comunidade primitiva, escravista, feudalista, capitalista e comunista (grifo meu).(Disponível em: <http://www.unisc.br/cursos/graduacao/servico_social/artigo_ines.doc>. Acesso em 13 jan. 2011).

Assim sendo, a concepção materialista apresenta peculiaridades relevantes como a materialidade do mundo, que considera os fenômenos como reflexo das nossas sensações e delas independe; a dimensão da consciência, a qual reflete sobre a realidade objetiva, de sorte que se imbrica com a realidade material.

Isso revela uma forte relação entre as duas características apontadas no universo do materialismo.

2. RELAÇÃO CAPITAL/TRABALHO E MAIS-VALIAAs relações sociais de trabalho desenvolvidas no sistema capitalista transformam a

força de trabalho em mercadoria de compra e venda, caracterizando o trabalhador em um assalariado, que vende sua força de trabalho para os donos do capital, em troca de salário, mediante contrato. A apreensão dessa relação de compra e venda da força de trabalho no modo capitalista foi desvelada por força da construção da teoria marxista.

Sabemos que o capitalismo traz em seu bojo a intenção de produzir para auferir lucro. Utiliza-se da força de trabalho alienada como mão de obra explorada e desprovida dos meios de produção, de cujo produto do trabalho realizado é alijada. Valendo lembrar que, nesse contexto, somente as mercadorias vendáveis é que têm valor de troca, aquelas que servem como bens de uso aglutinam apenas valor de uso.

O capitalismo converteu o trabalho em mercadoria numa visão de lucro, estabelecendo relações frias, impessoais e desiguais. Esse sistema faz do trabalho uma alienação, porque o trabalho não é um prazer, uma criação, mas diante desses fatos ele se torna exploração e alienação. O trabalho, neste sistema, tem um modo de produção fragmentado, onde cada trabalhador faz uma parte do produto, não se apropriando do resultado final do trabalho e nem de seus lucros.

A este fato Marx denomina trabalho alienado, o produto produzido pelo trabalhador não lhe pertence. Ele participa de pequenas partes do processo de produção, desconhecendo a totalidade do processo ou do trabalho produzido.

O trabalhador não consegue compreender essa alienação, esse processo foi inteiramente desmitificado pela corrente do materialismo histórico dialético, que explicitou o quanto esse processo de alienação desencadeou a exploração e a degradação da classe operária. Essa corrente teórica afirmou que quando o conjunto dos trabalhadores, que Marx

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denominava a classe operária, entendesse o processo de alienação essa classe se revoltaria e destruiria o sistema capitalista criando um mais racional: o socialismo.

O trabalhador, no sistema capitalista de produção, perdeu ainda o controle do produto de seu trabalho, também apropriado pelo capitalista. A industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separaram o trabalhador dos meios de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital (COSTA, 1987, p. 73).

Outro aspecto característico do sistema capitalista que contribui em grande escala para a degradação econômica das classes menos favorecidas que vivem do trabalho é a mais-valia. A mais-valia pode ser caracterizada pela apropriação que o capitalista faz em relação ao excedente produzido pelos trabalhadores.

Para que você possa entender melhor esse conceito, podemos pontuá-lo da seguinte maneira: os trabalhadores concluem uma mercadoria, o capitalista vende as mercadorias por uma quantia superior à quantia investida no início do processo, o lucro que ele adquire com a venda, o excedente produzido pelo trabalhador, Marx denominou mais-valia.

Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas e confeccione um par de sapatos a cada três horas. Nestas três horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é suficiente para obter o necessário à sua subsistência. Como o capitalista lhe paga o valor de um dia de força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram um valor maior do que lhe foi pago na forma de salário. A duração de jornada de trabalho resulta, portanto, de um cálculo que leva em consideração o quanto interessa ao capitalista produzir para obter lucro sem desvalorizar seu produto (COSTA, 1997, p.89).

3. O SERVIÇO SOCIAL E A APROXIMAÇÃO COM A TEORIA MARXISTAO Movimento de Reconceituação do Serviço Social representou um marco decisivo

no processo de ruptura com as bases de atuação tradicionais e a possibilidade de uma revisão crítica das concepções até então influentes nesta profissão.

Esse movimento, que ocorreu com a profissão na América Latina, possibilita um alargamento dos horizontes teóricos e de atuação da profissão, terreno fértil para mudanças e o encontro com a revolucionária corrente teórica do método do Materialismo Histórico Dialético. Por volta de 1970, a perspectiva marxista toma vulto no Serviço Social brasileiro, a princípio com ideias vulgarizadas da corrente marxista, o que despertou um pensamento equivocado de negação da prática institucionalizada no interior das políticas públicas efetivadas pelo Estado brasileiro.

Conforme Lima e Rodrigues citados por Silva e Silva (2007, p. 91),A necessidade de ruptura com a prática assistencialista, numa perspectiva inicial do movimento, conduz à negação da assistência e, consequentemente da prática desenvolvida no espaço institucional, visto como “vínculo reprodutor do sistema e cristalizador do interesse da classe dominante”.

Faleiros citado por Silva e Silva (2006, p. 91) acrescenta que essa postura constitui-se numa falha do Movimento de Reconceituação pelo fato de “superestimar a força da crítica, sem ter em conta as resistências ao processo de mudanças institucional”, diante da dinâmica da correlação de forças.

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Vale destacar que o Método Belo Horizonte apresentou uma proposta inovadora no campo da formação profissional do Serviço Social. A ide ia é aprofundar uma prática pautada na busca de apoio aos interesses dos segmentos explorados que constituem a base de intervenção da profissão, recolocando necessariamente a perspectiva de transformação das realidades sociais apresentadas no contexto brasileiro desenvolvimentista.

Nesta perspectiva, a profissão questiona a vinculação histórica do Serviço Social com os interesses dos setores dominantes e aponta a necessidade de desvendar a dimensão política da prática profissional e da busca de novas bases de legitimação.

Na segunda metade da década de 70, instaura-se intensa mobilização da categoria dos assistentes sociais que teve impacto nas três dimensões que constituem a profissão:

a) A dimensão política organizativa das entidades como: Associação Brasileira de Ensino e Serviço Social; Conselho Federal de Assistentes Sociais (essa nomenclatura era utilizada anteriormente); Associação Nacional de Assistentes Sociais.

b) Dimensão acadêmica com a criação de cursos de pós-graduação para especialização dos profissionais assistentes sociais; iniciação da pesquisa no campo do Serviço Social; iniciação de publicações dos autores brasileiros; abertura da Cortez Editora.

c) Dimensão da intervenção profissional tanto inserida nas instituições de políticas sociais implantadas e implementadas pelo Estado, quanto nas Organizações não Governamentais, que ganharam expressividade a partir da segunda metade da década de 70.

Depois de constituídas essas mudanças a profissão esboça os primeiros passos em direção à construção de articulações da categoria com os interesses dos setores populares.

Segundo assevera Silva e Silva (2007, p. 96),[...] O Movimento de Reconceituação do Serviço Social tornou evidente o caráter político da profissão, buscando a ruptura com uma prática historicamente articulada aos interesses dominantes e colocando a possibilidade de desenvolvimento de uma prática comprometida com os interesses populares.

A teoria marxista possibilita à profissão a compreensão dos conflitos existentes nas relações capital trabalho e a divisão do trabalho no sistema capitalista. Dessa forma, os assistentes sociais contemplam a historicidade da divisão do trabalho e as formas que foram sendo implementadas. Os profissionais, de posse do conhecimento da corrente materialista histórica dialética, desmistificam a ideia positivista de naturalização dos acontecimentos sociais e da exploração da classe trabalhadora.

O Serviço Social só pode afirmar-se como prática institucionalizada e legitimada na sociedade ao responder as necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais na produção e na reprodução dos meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada (IAMAMOTO, 1994, p. 55).

A forma de apreensão da expansão do capital industrial, sob a perspectiva das explicações marxistas, fez com que os profissionais entendessem a complexidade das mazelas advindas da “questão social’, que se torna o foco de atenção dos profissionais de Serviço Social. Essa categoria, após descortinada a forma latente de exploração e mais-valia,

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tem por obrigatoriedade a resolução dos problemas apresentados, assim como o despertar da consciência de alienação e de exploração em que vive a classe trabalhadora.

Silva e Silva (2007, p. 96) ainda assevera que[...] Ao preconizar, de forma explícita, a necessidade de assumir a dimensão político-ideológica da profissão, desmistifica a suposta neutralidade assumida pelo assistente social e evidencia a inserção da profissão no contexto da forças sociais antagônicas, o que passa a indicar a possibilidade do estabelecimento de vínculo de profissionais com uma classe social determinada a partir de uma opção voluntária e consciente.

Essa ruptura com o Serviço Social, que se apresenta na profissão após a aproximação com o método do materialismo histórico dialético, não foi um processo homogêneo na profissão, foi um processo hegemônico. Isso quer dizer que nem todos os profissionais aderiram aos pensamentos marxistas e as mudanças propostas nos posicionamentos políticos da profissão. Grande parte dos profissionais, à frente das instituições de pesquisa e dos conselhos da categoria, aprovou esse novo projeto, criando, inclusive, uma situação que pode ser traduzida como: “o projeto ético político da profissão é hegemônico, mas não é homogêneo”.

A teoria marxista aponta uma compreensão da sociedade em sua totalidade. O Serviço Social, após essa compreensão, busca a mudança não apenas das relações econômicas, do estancamento da exploração e da usurpação do lucro por parte dos capitalistas, mas busca, acima de tudo, a implementação de mudanças nas ideias políticas difundidas pelo capital. A atuação volta-se para uma perspectiva transformadora e criadora de um outro sistema que ande na contramão das ideologias capitalistas, das ideias de subordinação e de estagnação dos antagonismos e pobreza infringida à população minoritária.

Como afirma Silva e Silva (2007, p.152),[...] a transformação social é compreendida, explicitamente, como um processo histórico, que deriva da luta política de grupos sociais organizados. Essa concepção extrapola o entendimento da transformação social enquanto mera modificação das relações de produção, ou seja, a transformação das relações sociais extrapola o âmbito do econômico, visto que se estende a todos os níveis que compõem a totalidade social.

O Serviço Social torna-se uma profissão que luta por um processo revolucionário com objetivo de atingir não apenas uma distribuição justa de renda, mas também uma profissão que busca a articulação, organização, mobilização, a conquista de espaços, interlocução e a participação de diversos segmentos da sociedade contemporânea nos processos decisórios que implementam as políticas sociais no cenário brasileiro.

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AULA 09 – A PROFISSÃO DE ASSISTENTE SOCIAL: EQUÍVOCOS, ESTIGMAS E A ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

Profa. Renata Leandro

1. O EXERCÍCIO DA PROFISSÃODe acordo com a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social, somente

podem exercer essa profissão as pessoas que têm diploma em curso de graduação em Serviço Social, reconhecido e registrado pelo órgão competente, que é o Ministério da Educação.

O exercício da profissão de Assistente Social requer prévio registro nos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado nos termos da lei. A designação profissional de Assistente Social é privativa dos habilitados em curso de graduação em Serviço Social, não devendo, em hipótese alguma, ser usado para identificar práticas assistenciais.

1.1. Quem é o Assistente SocialO Assistente Social é um profissional com bacharelado em Serviço Social, que exerce

seu trabalho de forma remunerada nas organizações pública e privada, organizações não-governamentais, movimentos sociais etc. Sua função deve ser desenvolvida com competência teórica, técnica, metodológica, política e atribuições específicas. Sua atuação se dá nas diversas expressões da questão social que afetam a qualidade de vida da população, em diferentes áreas (criança e adolescente, idoso, deficientes, habitação, etc.), por meio das políticas públicas sociais. Tem como objetivo viabilizar os direitos dos usuários assegurados por lei.

A atuação do Assistente Social está mais voltada, em especial, para a classe empobrecida da sociedade. No entanto, como o objetivo precípuo da profissão é efetivar direitos, sua atuação alcança outras parcelas da população.

Exige-se do Assistente Social que seja um profissional ético, crítico, propositivo, competente, instrumentalizado e articulado com vistas à busca de melhoria de vida da população no que concerne à saúde, educação, moradia, assistência social, previdência social, etc.

1.2 A natureza da profissão de Assistente SocialAtuando nos problemas sociais que afetam a qualidade de vida das classes mais

pobres, o Assistente Social deve primar pela efetivação de direitos assegurados pela legislação vigente no país. Nessa perspectiva, ele precisa estar revestido de conhecimentos científicos e instrumentais técnicos para decifrar a realidade na qual está inserido, para intervir, de forma propositiva, em uma perspectiva transformadora e emancipatória e, assim, promover a qualidade de vida dos usuários de seus serviços. A atuação do Assistente Social pode ter caráter:

a) socioeducativo;

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b) político-educativo;c) psicossocial;d) técnico-consultivo;e) didático-pedagógico;f) político-administrativo;g) político-representativo.O caráter socioeducativo deve estar presente em todas as intervenções do Assistente

Social. Ao atuar na luta por acesso aos direitos sociais em organizações e movimentos populares, essa atuação tem caráter político-educativo.

Tem caráter psicossocial quando o Assistente Social atua em pronto socorro e clínica ou ambulatório de saúde mental. Quando esse profissional presta serviços de assessorias, consultorias, supervisão e assistência técnica, seu trabalho tem um caráter técnico-consultivo. O caráter didático-pedagógico diz respeito à docência, à pesquisa e à produção científica.

Quando o Assistente Social atua na área de administração, planejamento e gestão de serviços sociais públicos em organizações governamentais e não-governamentais, bem como nos setores privados, sua intervenção tem caráter político-administrativo. Ao atuar na direção de entidades representativas da profissão, como no Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), o trabalho do Assistente Social tem um caráter político-representativo.

2. EQUÍVOCOS DA PROFISSÃOOs equívocos da identidade profissional que precisam ser desconstruídos são:

assistência social é igual à Assistente Social que, por sua vez, é igual a Serviço Social que é igual a assistencialismo. No quadro a seguir, você conhecerá o que é a assistência social, quem é o Assistente Social, o que é o Serviço Social e o que se caracteriza por assistencialismo.

DENOMINAÇÃO CARACTERISTICAS

Assistência SocialÉ uma política pública regulamentada pela Lei Orgânica da

Assistência social. A assistência social é um direito garantido por lei, como um direito do cidadão e um dever do Estado.

Assistente Social

É o profissional graduado em curso superior de Serviço Social, habilitado para atuar nas expressões da questão social, nas políticas sociais públicas, privadas e nas organizações não-governamentais. Profissão regulamentada pela Lei n° 8.662/93. Há código de Ética Profissional e organizações que fiscalizam e protegem o exercício profissional.

Serviço SocialÉ o nome do curso de nível superior que forma profissionais

para exercerem a profissão de Assistente Social.

Assistencialismo

É a prática que se opõe à assistência social. É o acesso a um bem ou serviço por meio de doação, favor, que depende de boa vontade e interesse de alguém. No assistencialismo, não há garantias e nem direitos.

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Ainda há o equívoco em relação à denominação do público alvo do Serviço Social. O equívoco é achar que a denominação para o público alvo é paciente ou cliente. Essas são terminologias, respectivamente, da área médica e da área empresarial. O público/pessoas/sujeitos/indivíduos são denominados de usuários, pois são usuários de serviços, não são clientes e nem pacientes de serviços. Não há contrapartida na prestação do serviço entre o profissional e o usuário.

Embora a profissão de Assistente Social possa contribuir efetivamente para mudar os rumos das políticas sociais do país, ainda não tem reconhecimento social expressivo. É confundido com serviço voluntário, caridade, benesse e, por outro lado, os meios de trabalho do profissional são parcos diante de tantas demandas, aliados à conjuntura política, social e econômica do país. Os profissionais não se reconhecem, não se identificam como profissionais habilitados para novas frentes de atuação, ou até para as ditas tradicionais. O não reconhecimento está ainda atrelado a ações focalistas, paliativas, endógenas1 e à própria imagem profissional, que tem suas matrizes na história do Serviço Social.

2.1. Desmistificando os estigmas da profissãoA mídia, na atualidade, constantemente mostra e denunciam às desigualdades e as

exclusões sociais, o sofrimento e as dificuldades com que vivem milhares de pessoas neste país. Além das demandas aos serviços sociais em relação às necessidades materiais, as pessoas buscam atenção, apoio, etc.

Ao buscarem um serviço, terão a compreensão e apoio de um profissional que poderá ser confundido como um amigo, um salvador. A confusão é compreensível, pois parte de pessoas que muitas vezes têm sua identidade não reconhecida socialmente, ou por se encontrarem em situação de baixa estima, devido aos diversos problemas que enfrentam cotidianamente. E, por outro lado, o Assistente Social é o profissional que mostra caminhos na solução dos mais variados problemas.

Embora alguns serviços prestados pelo Serviço Social sejam confundidos com caridade, favor, há de se desmistificar essa identidade atribuída. Ser compreensivo e atencioso são atributos pessoais, inerentes ao ser humano.

Já os conhecimentos científicos são adquiridos ao longo da formação acadêmica, por meio de disciplinas das mais diversas áreas de conhecimento.

A formação de Serviço Social utiliza-se de conhecimento da área de ciências sociais aplicadas, como História, Economia, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Direito, Psicologia, entre outras. No seu fazer profissional, os conceitos dessas áreas são utilizados para compreender a realidade em que as desigualdades ocorrem e, assim, buscar a resolução dos problemas, a partir de proposições.

2.1.1. Alguns estigmas da profissão

1 Endógena quer dizer uma visão de dentro do Serviço Social; uma visão interna sobrea profissão (IAMAMOTO, 2001).

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A profissão carrega estigmas atribuídos ao longo da construção de sua identidade, que precisam ser desconstruídos. O quadro a seguir apresenta alguns estigmas sobre o exercício profissional do Assistente Social.

ESTIGMA (não verdadeiro ) IDENTIDADE (verdadeira )

O trabalho do Assistente Social é voluntário, é caritativo, é de benesse.

O Assistente Social exerce seu trabalho de forma remunerada, em organizações públicas, privadas e organizações não-governamentais, com atribuições específicas regulamentadas por lei.

Os Assistentes Sociais são pessoas “boazinhas” que ajudam os pobres e oprimidos.

O Assistente Social é um profissional graduado no curso superior de Serviço Social. Atende as necessidades sociais da população em geral, nas áreas de assistência social, saúde, habitação, educação, etc. A atividade em si não é considerada ajuda, pois o profissional atua na perspectiva de assegurar direitos sociais garantidos pela Constituição Federal, visando ao fortalecimento da autonomia e da democracia.

O Assistente Social trabalha só com os pobres.

A realidade social e econômica do Brasil faz com que o trabalho do Assistente Social se volte mais para a questão da pobreza, da população excluída de bens e serviços. É uma profissão que atua também largamente no setor empresarial, que tem outro perfil de usuário, além de outros serviços prestados por órgãos públicos que atendem a população em geral. Não é uma profissão exclusiva para determinado segmento da sociedade, é uma profissão para toda a sociedade.

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AULA 10 – DEMANDAS E DESAFIOS DO PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL

Profa. Renata Leandro

1. AS PRINCIPAIS DEMANDAS DO SERVIÇO SOCIALAs demandas para o Serviço Social podem ser constituídas em dirigidas e

manifestadas, no entanto não podemos caracterizar as demandas somente dessa forma, uma vez que elas extrapolam esses conceitos.

Para melhor nos situarmos, vamos iniciar com as demandas dirigidas e manifestadas. No desdobramento do texto, você perceberá que as demandas podem ser caracterizadas de outras formas, dado o seu contexto profissional, institucional e a do usuário, levando em conta a realidade em que estão inseridos.

As demandas dirigidas ao Serviço Social são aquelas instituídas dado o caráter do serviço prestado. Caracterizam-se por rotinas apresentadas pela dinâmica da instituição ou serviço prestado ou pelo próprio profissional. Podem ser comuns a profissionais de determinada área ou específicas. Depende do setor em que o Assistente Social está lotado. Em uma área, há serviços setorizados, e outros que são comuns a todos os setores e profissionais.

As rotinas fazem parte do exercício profissional do Assistente Social que se efetiva no cotidiano da instituição na qual ele está inserido. O cotidiano transforma-se continuamente e diferencia-se conforme as experiências, vivências, em função de particularidades, valores, interesses e época histórica. A vida cotidiana é a vida dos mesmos gestos, atitudes, ritmos de todos os dias, o que implica a imediaticidade, o útil, o funcional. Cabe ao profissional romper com esses procedimentos. Como? Gostar do que faz, ter motivação, paixão, comprometendo-se com o trabalho e com os usuários.

AS rotinas dirigidas do Serviço Social em uma empresa: Entrevista domiciliar, visita hospitalar, atendimentos individuais para resolução de problemas relacionados a absenteísmo, financeiros, relacionamentos interpessoais no setor, etc.

As demandas dirigidas são explicitadas com clareza pela instituição, pelos profissionais. Pode ocorrer ou não o reconhecimento do serviço como demanda.

Essa é uma questão polêmica, o profissional e a instituição às vezes não têm meios/instrumentos (sociais e materiais) para realizar os serviços, aliados às políticas públicas que ainda não conseguiram ser efetivadas na sua totalidade.

A efetivação não se dá devido aos problemas burocráticos, políticos, ideológicos, ou por falta de profissionais qualificados para assumir a gestão.

Se as demandas explícitas, às vezes, se tornam complexas (pode ser difícil a sua identificação, ou não são priorizadas, pois não reconhecidas como serviço pelo profissional ou pela instituição), imagine como são tratadas as demandas manifestadas e as implícitas.

Faça uma reflexão de um serviço que você conhece, problematizando os aspectos levantados no decorrer do texto. Um serviço público fácil de problematizar é a saúde, tão polêmico e preocupante. Lembre-se de que as demandas existem e são muitas. Como equacioná-las, levando em conta os meios de trabalho para os profissionais e para as instituições e as políticas públicas existentes e sua real efetivação?

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As demandas manifestadas são aquelas que extrapolam a rotina dos serviços, geralmente são solicitadas pelos próprios usuários, outras vezes estão implícitas, não sendo identificadas inicialmente pelo profissional ou pela instituição.

Quando solicitadas pelos usuários, o profissional trata o atendimento como demanda individual/particular, negando o caráter coletivo. Contudo é preciso compreender que as demandas “[...] são coletivas não só porque vivenciadas por todos, mas também porque só coletivamente poderão ser enfrentadas” (VASCONCELOS, 2002, p. 171).

A manifestação por parte do usuário ocorre quando ele percebe a necessidade de um serviço complementar a que ele já está recebendo. Essa manifestação ocorre quando o usuário toma ciência da existência desse serviço.

A manifestação pode ocorrer também por solicitação de um serviço que não existe no bairro, comunidade etc. do usuário.

A demanda manifestada pode ser explícita ou implícita. Aí complica mais: como pode ser implícita dentro da manifestada? Vejamos: ao manifestar sua demanda, o usuário poderá apresentar uma demanda implícita (não identificada dentro de um processo maior). Por detrás da manifestada, o profissional poderá detectar situações implícitas que levaram à demanda manifestada, ou seja, o profissional está tratando a consequência, o efeito, e a causa não foi observada. Em outras palavras, está tratando a parte e não o todo é uma ação fragmentada, focalizada no problema e não no ser humano como um todo.

A implícita poderá ser muito maior que a manifestada, por isso o profissional tem de estar dotado de meios (conhecimentos para decifrar o problema). O implícito é aquilo não dito pelo usuário e o não percebido pelo profissional. É o que está nas entrelinhas da fala do usuário.

1.1. Demanda profissional: aumento da seletividade no âmbito das políticas sociaisDiante das demandas existentes, é notória a procura por serviços sociais.Entretanto há que se ressaltar o aumento da seletividade no âmbito das políticas

sociais, a diminuição de recursos, a redução dos salários, a imposição de critérios cada vez mais restritivos à população para ter acesso aos direitos sociais públicos.

Nessa perspectiva de seletividade, o profissional tem de trabalhar pautado nos princípios do Código de Ética Profissional, defendendo, intransigentemente, o usuário e os direitos que lhes são garantidos por lei e que “algumas” vezes, são repassados como forma de favor, clientelismo e paternalismo. O usuário, quando procura um serviço, geralmente é portador de uma necessidade material ou social. Paulo Netto e Falcão (2000, p. 54) mencionam que

sabemos que o atendimento dessas necessidades é realizado de forma setorizada, fragmentada, como se o indivíduo fosse um somatório de necessidades a serem satisfeitas, cada uma delas pela superposição de instituições específicas. Sabemos igualmente que, no caso brasileiro, o atendimento a estas necessidades é pulverizado e individualizado, requerendo sempre uma seleção ou triagem que confirme o mérito ou validade do pedido de atendimento.

Essa demanda requer mediação, por parte do Assistente Social, entre as necessidades básicas e as possibilidades institucionais. É um trabalho de ligação/ponte entre

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os grupos em situação de exclusão e as instituições. É um processo de passagem da situação de excluído para a de inclusão, em um serviço ou acesso a um bem.

A mediação é um processo que implica o engajamento ou compromisso dos Assistentes Sociais, em um conjunto de atividades com o usuário, que objetiva o fortalecimento da sua identidade, da autonomia, do reconhecimento e do uso de recursos.

Segundo Paulo Netto e Falcão (2000), a mediação é um instrumento de que o Assistente Social se utiliza no seu fazer profissional, categoria que está inserida tanto nas demandas, quanto nas práticas sociais e é compreendida também como um processo de passagem.

Na operacionalização de suas ações, o profissional é demandado pela organização/instituição a desenvolver quase sempre práticas imediatistas e focalistas. Cabe a ele, ao dar respostas às demandas, superar essa prática de forma crítica e propositiva. Iamamoto (2001, p. 22) ressalta que

olhar para fora do Serviço Social é condição para se romper tanto com uma visão rotineira, reiterativa e burocrática do Serviço Social, que impede vislumbrar possibilidades inovadoras para a ação, quanto com uma visão ilusória e desfocada da realidade que conduz a ações inócuas. Ambas têmum ponto em comum: estão de costa para a história, para os processos sociais contemporâneos.

Cabe ao Assistente Social dar respostas que vão além da imediaticidade. O profissional deve estar comprometido com sua profissão e com o usuário, ter o cuidado de não cair na subalternidade que existe na profissão em algumas instituições, achar que é tudo natural, normal e cumprir apenas as normas e rotinas estabelecidas. Sucintamente podemos definir como “novas demandas” para o Serviço Social:

a) identificar novas oportunidades de trabalho, demandas sociais: cooperativas, assessoria e consultoria, terceiro setor, responsabilidade social, turismo social, desenvolvimento sustentável, etc.;

b) decodificar expressões da questão social, buscar formas de enfrentamento, respeitando suas especificidades, como, por exemplo, gênero, etnia, raça, etc.

Para atender essas demandas e outras postas à profissão, é importante que o profissional identifique as oportunidades e as diversidades da realidade social. O social não é especificidade de nenhuma profissão: o que existe são formas diferentes, de cada profissão no trato do social.

Diante das novas demandas, apresentaremos, a seguir, os desafios postos para a profissão. As demandas e os desafios não se esgotam em um estudo, é preciso buscar o seu entendimento paulatinamente. Por isso a formação é contínua, e o desafio maior é aprender as alterações históricas que os processos sociais vêm gerando no campo profissional.

Detectar as demandas e exigências de reformulações no modo de ser, de fazer profissional, assegurando sua necessidade social, é buscar aprender o significado social da profissão, no contexto das profundas alterações na divisão internacional do trabalho.

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2. OS DESAFIOS PARA A ATUAÇÃO PROFISSIONALAtualmente, há um processo de minimização das funções sociais do Estado, mediante

a privatização dos serviços públicos básicos, a desregulamentação e flexibilização das relações de trabalho, o aumento dos níveis de exploração e desemprego, o que gera instabilidade profissional. Por sua vez, os Assistentes Sociais também sofrem com essas transformações societárias, pois fazem parte do mercado de trabalho em sua divisão sociotécnica. A desregulamentação e a flexibilização das relações trabalhistas têm provocado mudanças nas contratações e concursos públicos. O que ainda vem garantindo direitos são os planos de carreira dos funcionários públicos, mas percebe-se que é uma luta árdua para assegurar novas conquistas.

Não há constatação de que o espaço de atuação do Serviço Social esteja acabando. Há, sim, modificações em campos tradicionais, em função de novos reordenamentos das políticas públicas, como, por exemplo, os programas de renda mínima, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), bolsa família, etc., além daqueles que os estados e municípios criam para atender as demandas sociais.

Se os campos tradicionais passam por transformações, os sujeitos (usuários) também mudam seu perfil. Os usuários tradicionais, como idosos, crianças, famílias, entre outros, passaram a constituir grupos, segmentos organizados específicos, para defender seus interesses individuais (da sua categoria). Não deixaram de ser usuários dos serviços sociais, mas agora buscam sua categoria e atuam coletivamente.

Nesse cenário, observam-se campos “emergentes”, de categorias específicas, como os negros, os homossexuais, os índios, os usuários de álcool e outras drogas, que antes estavam organizados, mas não tinham dimensões organizativas e políticas de atenção especial.

Enquanto há uma retração por parte do Estado na prestação de serviços básicos, devido ao enxugamento de suas responsabilidades por medidas neoliberais, por outro lado há uma expansão do terceiro setor, por meio de organizações não-governamentais, que acaba assumindo papéis do Estado, em oposição a ele ou à margem dele, na prestação de serviços como na garantia de direitos.

O cenário mudou, passou e passa por transformações, e os atores e protagonistas também têm de mudar, na busca de papéis significativos em prol de garantia de direitos e prestação de serviços.

O trabalho muda, conforme as necessidades de cada região, município. Percebe-se uma forte tendência para a área de gestão de programas e projetos e terceirização de serviços. Faleiros (1996, p.13-14) afirma que

[...] os desafios prático-político que se apresentam para a profissão nessa conjuntura estão inseridos num movimento constante de enfrentamentos teóricos e mudanças econômicas, política e organizacionais, possibilitando visualizar, nos conflitos presentes, vários cenários de inter-relação entre as forças em presença.

Com a reestruturação dos processos produtivos, o mercado de trabalho espera de um trabalhador melhor produtividade para atender seus objetivos.

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O profissional tem de ser polivalente e comprometido com a filosofia empresarial e preparado para enfrentar desafios e demandas postas pela agilidade/rapidez de que as empresas precisam para se manter no mercado.

As modificações no trabalho exigem novas competências e habilidades profissionais. Isso não se dá só com o Serviço Social, mas com todas as demais profissões, que precisam constantemente se atualizar, pois correm o risco de ficar fora do mercado de trabalho. Serra (2000, p. 171-172) diz que

as habilidades devem ser um requisito imprescindível hoje a compor o tecido de formação profissional em todos os níveis, porque, inclusive elas ultrapassam o terreno da profissão, são exigências para respostas mais eficazes e efetivas às necessidades atuais, em todas as áreas profissionais. Necessidades essas que requisitam um profissional propositivo, formulador,articulador, gestor, implementador, negociador e equacionador, em face dos processos de alterações na ossatura do Estado e das exigências do mercado por conta das mudanças no mundo do trabalho.

Os exemplos mais nítidos para o Assistente Social são a falta de conhecimentos de informática, carência de boa redação, além do óbvio: falta de leituras para apreensão do real. A habilidade relacional é outro aspecto de suma importância em qualquer profissão.

Quando falamos “falta”, é porque o profissional, por vezes, não detém os conhecimentos mínimos para o desempenho de atividades rotineiras, como a digitação de documentos, a elaboração de um relatório, pareceres, laudos. A falta de leituras leva à limitação de argumentações, ou à repetição de ideias.

Esse fato resulta no risco de o Assistente Social ser acrítico e imediatista, o contrário do que se idealiza: um profissional crítico, reflexivo e propositivo. Quando se fala em ser crítico, não se pode confundir com a crítica pela crítica, sem fundamentação lógica.

Ser um profissional crítico significa argumentar e propor embasado/fundamentado; não aceitar o senso-comum; analisar o fenômeno social considerado; não aceitar concepções políticas e ideológicas como fim único. Ser crítico também é saber respeitar a opinião dos outros, mesmo que ela divirja da nossa. Não significa ficar calado e, sim, se posicionar respeitando a pluralidade de ideias e o direito do outro, ser um profissional pensante (reflexivo), propositivo e não apenas tarefeiro. Além de ser crítico, é importante ser propositivo.

As práticas imediatistas se opõem a planejar, projetar. É a prática que é realizada sem um prévio planejamento, é aplicada para atender uma demanda hoje, amanhã outra e assim por diante. Há que se considerar que existem práticas imediatistas, como no caso de hospitais, nos quais os profissionais atendem emergências, mesmo assim, é sabido que há condições, mesmo mínimas, de fazer planejamento e avaliação das rotinas de atendimento nos hospitais. Portanto as práticas em instituições de saúde tendem a ser imediatistas, nem por isso são equivocadas em suas atribuições, pelo contrário, há definições de papéis, dado o seu caráter emergencial.

Outro desafio é romper com práticas clientelistas, paternalistas. Você deve estar se perguntando: “isso já não foi superado na década de 1980?”

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Superado parcialmente, mas ainda persistem práticas desse tipo, por condições análogas, seja por parte do próprio profissional, ou por parte da instituição que “tenta” impô-las. Faleiros (1997, p. 51) destaca que

o clientelismo se caracteriza por uma forma de espoliação do próprio direito do trabalhador de ter acesso aos benefícios, pela intermediação de um distribuidor que se apossa dos recursos ou dos processos de consegui-los, trocando-os por formas de obrigações que se tornam débitos da população. Elas são cobradas, por exemplo, em conjunturas eleitorais ou mesmo por serviços pessoais aos intermediários. Eliminando-se a igualdade de acesso, característico do próprio direito burguês, o clientelismo gera a discriminação, a incompetência, o afilhadismo.

O saber teórico-metodológico é a fundamentação que o profissional tem para poder intervir, contribuir para acabar com o clientelismo e o paternalismo existentes em algumas instituições. O seu fazer profissional tem de superar a superficialidade, ir fundo na questão social, na defesa do usuário, na garantia de seus direitos.

O autoritarismo é um mecanismo que cerceia o direito a negociações, questionamentos, divergências, reivindicações e a elaboração de políticas públicas.

Contrapõe-se a projeto coletivo, pois se estabelece por interesses particulares, criando relações rígidas com a população. Faleiros (1997, p. 51) afirma que “[...] o clientelismo e o autoritarismo se articulam com formas burocráticas de atribuição dos recursos [...]”. Essa articulação faz com que concentre ou desconcentre recursos, serviços ou decisões, o que implica a desinformação e o desestímulo dos usuários dos serviços públicos.

Outro problema sério é a falta de conhecimento dos gestores não qualificados para a função, os recursos não são utilizados e repassados à população por meio de serviços. Um exemplo claro disso são os recursos federais que estão disponíveis para os estados e municípios e que não são utilizados. A não utilização dos recursos acarreta a precarização de bens e serviços a ser oferecidos à população.

O grande desafio do Serviço Social está em fazer com que seus profissionais atinjam a consciência necessária ao exercício ético, crítico, propositivo e comprometido da profissão. Para tanto, é necessário que o Assistente Social seja intelectual ou operativo, para romper com alguns vícios que perseguem a profissão há muito tempo, como a acomodação, o paternalismo, o desconhecimento do que é a própria profissão, entre tantos outros. É uma forma de reorientação do cotidiano profissional, levando em conta a correlação de forças existentes ao propiciar o acesso da população ao saber, aos serviços disponíveis e ao poder de decisão. Os desafios para a profissão são:

a) defender intransigentemente as conquistas sociais obtidas na Carta Constitucional de 1988, ameaçada pelas políticas neoliberais;

b) exercer uma prática profissional reforçadora de direitos sociais. Não em sua normatividade legal, mas em sua forma de operar os princípios;

c) ser profissionais informados, críticos e propositivos. Ter competências não só de conceito de teorias. É preciso ter competência no modo de pensar, no modo de explicar e sugerir;

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d) buscar constantemente pesquisar a realidade, produzir conhecimentos que permitam decifrar o presente, a análise concreta das situações sobre as quais incide o trabalho profissional;

e) buscar a formação continuada, para continuar a aprender;f) saber se relacionar e se comunicar;g) ter capacidade de análise e síntese (saber dar respostas);h) ter conhecimento generalista (diversas áreas) e específico (do Serviço Social e/ou

da sua área de atuação);i) ver a profissão como prática libertadora;j) trabalhar em equipes multidisciplinares;k) dominar novas tecnologias sociais e informacionais.Portanto as possibilidades de atuação não se esgotam, em um país com tantas

desigualdades e problemas sociais. Em tese, não falta trabalho para um profissional como o Assistente Social, dotado de habilidades e competências para atuar no campo das políticas sociais, na defesa e garantia de direitos sociais da população. Há, ainda, muitos espaços para se conquistar e se reconhecer no mercado de trabalho.

O desafio maior está em gostar do que faz. Ter paixão, emoção são ingredientes indispensáveis ao dia-a-dia, evitando-se cair na visão heroica e de salvador do mundo.

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AULA 11 – A QUESTÃO SOICAL E O SERVIÇO SOCIAL

Profa. Renata Leandro

1. A QUESTÃO SOCIALCerqueira Filho citado por Netto (2005, p. 17) sustenta que a questão social significa

“[...] o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista”.

Netto (2005), ancorado na perspectiva marxista de compreensão da realidade, entende que a questão social é inerente ao capitalismo, ou seja, é uma condição para que o capitalismo possa se sustentar como modo de produção.

De acordo com Netto (2005), supõe-se que o termo questão social surgiu há mais ou menos 150 anos para explicação do fenômeno do pauperismo, relacionado ao primeiro ciclo de industrialização. O empobrecimento massivo da população levou os críticos da nova ordem a produzirem extensa literatura sobre o tema. A esse propósito, Netto (2005, p. 153) afirma que

Para os mais lúcidos observadores da época, independentemente da sua posição ideopolítica, tornou-se claro que se tratava de um fenômeno novo, sem precedentes na história anterior conhecida. Com efeito, se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas sociais, se vinha de muito longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiquíssima a diferente apropriação e fruição dos bens sociais, era radicalmente nova a dinâmica dapobreza que então se generalizava.

Um fato inédito começa a se registrar na história. Netto (2005, p. 153) nos informa que, “[...] pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riqueza”. Em períodos anteriores da história, a pobreza estava relacionada com a escassez de alimentos, causada por colheitas reduzidas em função de intempéries, guerras, mas, com o advento do capitalismo, não é isso que ocorre. A produção da pobreza estava relacionada com o aumento da produção.

O fenômeno do pauperismo foi explicado pelos críticos da nova ordem e também pelos defensores que naturalizavam o empobrecimento e compreendiam-no como obra do destino, vontade de Deus, justificando a pobreza em razão das dificuldades dos indivíduos.

O outro lado, a luta dos trabalhadores na França, a partir de 1848, em um processo revolucionário começou a questionar a expressão questão social, vista como uma expressão conservadora. A classe trabalhadora avançou na consciência política e compreendeu a questão social como um elemento estrutural. Netto (2005, p. 156) expõe que “as vanguardas trabalhadoras acederam, no seu processo de luta, à consciência política de que a ‘questão social’ está necessariamente colada à sociedade burguesa: somente a supressão desta conduz a supressão daquela”.

É por isso que, em nossa literatura, vamos encontrar a expressão questão social sempre com a utilização de aspas. Quando isso ocorre, o autor quer indicar que identifica a utilização da expressão com um subterfúgio conservador.

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Mas não foi somente a consciência política dos trabalhadores que permitiu essa apreensão crítica da questão social. Netto (2005, p. 156) ensina que

[...] a consciência política não é o mesmo que compreensão teórica – e o movimento dos trabalhadores tardaria ainda alguns anos a encontrar os instrumentos teóricos e metodológicos para apreender a gênese, a constituição e os processos de reprodução da ‘questão social’.

É com o empreendimento teórico de Karl Marx que houve um avanço dessa compreensão, em particular com a publicação do primeiro volume de O capital, em 1867. Ao verificar como o capital se produz, Marx nos esclarece a dinâmica da questão social (NETTO, 2005).

Ainda de acordo com Netto (2005, p. 157), a partir de Marx compreendemos que “[...] a ‘questão social’ está elementarmente determinada pelo traço próprio e peculiar da relação capital/trabalho – a exploração”.

Mas como é que o capitalismo vem enfrentando seus efeitos ao longo da história? Como já vimos anteriormente, o Estado de bem-estar social que existiu nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, durante o período em que vigorou, suscitava a ilusão de que a questão social havia sido dominada.

Entendia-se que apenas os países periféricos sofriam com ela em razão do subdesenvolvimento.

Netto (2005, p. 159) nos informa queApenas os marxistas insistiam em assinalar que as melhorias no conjunto das condições de vida das massas trabalhadoras não alteravam a essência exploradora do capitalismo, continuando a revelar-se por intensos processos de pauperização relativa [...].

A crise estrutural do capital, fenômeno amplamente discutido nos capítulos anteriores, também afeta a discussão acerca da questão social. Alguns autores começam a falar em “nova” questão social e aqui, no nosso entendimento, cabem as aspas, pois não entendemos que haja uma “nova” questão social.

Como você já teve oportunidade de estudar, a crise estrutural do capital afeta diretamente a classe trabalhadora. O desemprego estrutural traz grandes efeitos na realidade social. Netto (2005, p. 160) destaca que

A tese aqui sustentada – e, evidentemente, oferecida como hipótese de trabalho – é a de que inexiste qualquer ‘nova questão social’. O que devemos investigar é para além da permanência de manifestações ‘tradicionais’ da ‘questão social’, a emergência de novas expressões da “questão social” que é insuprimível sem a ordem do capital. A dinâmica societária específica dessa ordem não só põe e repõe os corolários da exploração que a constitui medularmente: a cada novo estágio de seu desenvolvimento, ela instaura expressões sócio-humanas diferenciadas e mais complexas, correspondentes à intensificação da exploração que é a sua razão de ser.

Assim, como tem sido de forma recorrente dito em nosso meio acadêmico, não há uma “nova” questão social, mas a velha questão social com suas novas expressões.

O desenvolvimento das forças produtivas coloca as necessidades de novas profissões, assim como considera outras desnecessárias. Mas, mesmo respondendo a uma necessidade social, o que pode ser corroborado pelo número de assistentes sociais inseridos no mercado

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de trabalho, pelo fato de que eles, efetivamente, trabalham desenvolvendo ações que têm um produto, produto social com dimensões econômicas e políticas, ainda assim o Serviço Social mantém, historicamente, o dilema da especificidade profissional.

Em termos bastante simples, a questão é: sobre o que trabalha o Serviço Social? A resposta a essa questão responde, também, com qual objetivo trabalha o Serviço Social. No item que se segue, compreenderemos a questão social e o Serviço Social em uma análise histórica.

1.1 A questão social e o Serviço Social: uma análise históricaO reconhecimento da questão social como objeto do Serviço Social se torna visível na

década de 1990, com a discussão do projeto profissional que culminou com a formulação das diretrizes curriculares de 1996.

Na literatura, entretanto, em 1982, com a publicação da obra de Iamamoto e Carvalho (1985), já verificamos o esforço dos autores em discutir a relação da implantação do Serviço Social no Brasil com a configuração da questão social na realidade social brasileira, a partir da industrialização do país. Sobre o surgimento da questão social no Brasil, Iamamoto e Carvalho (1985, p. 127) afirmam que

[...] diz respeito diretamente à generalização do trabalho livre numa sociedade em que a escravidão marca profundamente seu passado recente. Trabalho livre que se generaliza em circunstâncias históricas nas quais a separação entre homens e meios de produção se dá em grande medida fora dos limites da formação econômico-social brasileira. Sem que se tenha realizado em seu interior a acumulação primitiva que lhe dá origem, característica que marcará profundamente seus desdobramentos.

A partir da análise que Iamamoto e Carvalho (1985) fazem desse contexto, podemos situar os embates que se travam entre as classes fundamentais e que configuram a questão social.

É importante destacar que a questão social se apresenta em múltiplas expressões, e que compõem essas expressões também as lutas e as atividades organizativas para o enfrentamento dos problemas políticos, sociais e econômicos.

Iamamoto e Carvalho (1985, p. 128) asseveram queO desdobramento da questão social é também a questão da formação da classe operária e de sua entrada no cenário político, da necessidade de seu reconhecimento no nível de Estado e, portanto, da implementação de políticas de que de alguma forma levem em consideração seus interesses.

As lutas do proletariado por cidadania social resultam na formulação de leis sociais no referido contexto, como você já teve oportunidade de ver na disciplina Fundamentos I. Entretanto o Serviço Social não se origina dessas lutas e sim, surge, enquanto profissão com sua identidade atribuída pelo capitalismo.

Sobre esse assunto, Martinelli (2006, p. 7-8) afirma que[...] a ausência de identidade acaba por configurar um problema de graves consequências, pois fragiliza a consciência social da categoria profissional, impedindo-a de ingressar no universo da “classe em si” e “classe para si” do movimento operário.

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Diferentemente da ideia de que o Serviço Social nasce da evolução da filantropia, análise presente nas primeiras produções teóricas do Serviço Social, que passam pela reconceituação e pelo processo de ruptura, Martinelli (2006, p. 57) destaca que essa profissão

[...] nasce articulada com o projeto de hegemonia do poder burguês, [...] sob o manto de uma grande contradição que impregnou suas entranhas, pois produzida pelo capitalismo industrial [...] buscou afirmar-se historicamente – sua própria trajetória o revela – como uma prática humanitária sancionada pelo Estado e protegida pela Igreja, como uma mistificada ilusão de servir.

Dada essa vinculação do surgimento da profissão com o capitalismo, o Serviço Social “[...] teve roubadas as possibilidades de construir formas peculiares e autênticas de prática, expressando-se sempre como um modo de parecer típico do capitalismo, em sua fase industrial” (MARTINELLI, 2006, p. 58).

Notamos, dessa forma, a distinção entre as lutas para o enfrentamento da questão social e o Serviço Social. Pois, como nos afirmam Iamamoto e Carvalho (1985, p. 129),

Se as leis sociais são, em última instância, resultantes da pressão do proletariado pelo reconhecimento de sua cidadania social, o Serviço Social se origina de uma demanda diametralmente oposta. Sua legitimação diz respeito apenas a grupos e frações restritos das classes dominantes em sua origem e, logo em seguida, ao conjunto das classes dominantes. Sua especificidade maior está, pois, na ausência quase total de uma demanda a partir das classes e dos grupos a que se destina prioritariamente.

A questão social é alvo de interesse dos segmentos dominantes, do Estado e também da Igreja. De acordo com Iamamoto e Carvalho (1997, p. 18), a Igreja, baseada nas encíclicas Rerum Novarum e Quadragésimo Anno, entende que “[...] a ‘questão social’ antes de ser econômico-política, é uma questão moral e religiosa”. A ação doutrinária da Igreja visa a conter as influências das ideias socialistas no proletariado.

Esse movimento denominado de Reação Católica (IAMAMOTO; CARVALHO, 1985) tem por objetivo o controle da população. A Igreja quer, com ele, resistir às reformas que lhe sobrevieram, a protestante e a laica, enfrentar o Estado liberal e recuperar o poder hegemônico consolidado no período medieval.

Para finalizar, cabe destacar que, no processo de surgimento e institucionalização do Serviço Social, a profissão não tinha a compreensão de que a estrutura e a dinâmica do capitalismo determinavam a questão social, como também o próprio Serviço Social. A partir do processo de ruptura, a profissão começou a quebrar com a identidade atribuída pelo capitalismo e se aliou às lutas da classe trabalhadora.

1.2. O Serviço Social no século XXI e o enfrentamento da questão socialO Serviço Social entra no século XXI com uma grande tarefa. Iamamoto (2006, p. 20)

afirma queUm dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo.

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O Serviço Social, já no final da década de 1970, se alia às lutas da classe trabalhadora e com o PT – Partido dos Trabalhadores. Entretanto o governo Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2003, não se mostrou com as condições necessárias para a efetivação do projeto profissional do Serviço Social consolidado a partir de 1979.

Netto (2004, p. 15), analisando o governo Lula, nos informa que,Enquanto se espera o “espetáculo de crescimento”, as expressões da chamada questão social se agravam. Diante delas, os resultados da ação governamental, em 2003, foram absolutamente medíocres, inclusive pela inépcia operacional do governo, inépcia que não parece ter sido revertida no primeiro semestre de 2004.

O governo Lula não promoveu uma ruptura com os princípios da doutrina neoliberal, apesar da sua vitória estar relacionada com a crítica à orientação macroeconômica do governo de Fernando Henrique Cardoso.

E como ficam as expressões da questão social nesse contexto? Behring e Boschetti (2003, p. 156) afirmam que

[...] a tendência geral tem sido a de restrição e redução de direitos sob o argumento da crise fiscal do Estado, transformando as políticas sociais – a depender da correlação de forças entre as classes sociais e segmentos de classe e do grau de consolidação da democracia e da política social nos países – em ações pontuais e compensatórias direcionadas para os efeitos mais perversos da crise.

A proteção social no Brasil só ganha espaço para a construção a partir da Constituição de 1988. A seguridade social, no texto constitucional, como nos afirmam Behring e Boschetti (2003, p. 156): “[...] significou um dos mais importantes avanços na política social brasileira, com possibilidade de estruturação tardia de um sistema amplo de proteção social [...] mas que não se materializou permanecendo inconclusa”.

A Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS –, sancionada no ano de 1993, só foi efetivada a partir de 1995 (BEHRING; BOSCHETTI, 2003). A assistência social ainda não dispunha de uma política. A Política Nacional de Assistência Social – PNAS – só foi aprovada em 2004 (Resolução 145, de 15 de outubro de 2004), após deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social realizada em 2003. Essa aprovação materializa a assistência social como um dos pilares integrantes da seguridade social no sistema de proteção social do Brasil (POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2004).

Nesse sentido, a política pública de assistência social marca sua especificidade no campo das políticas sociais, pois configura responsabilidades de Estado próprias a serem asseguradas aos cidadãos brasileiros. O Governo Federal cria o Programa Bolsa Família para apoiar as famílias mais pobres e garantir o direito à alimentação. O governo Lula entende o programa Bolsa Família como um programa de transferência de renda, eixo de sua política social. O referido programa, no discurso do governo, “[...] foi criado para combater a miséria e a exclusão social e para promover a emancipação das famílias mais pobres” como nos informam Marques e Mendes (2007, p. 20).

O programa, na análise desses autores, alterou as condições de vida dos beneficiados, pois os tirou da pobreza absoluta, entretanto, como suas ações não alteram a estrutura da sociedade, não neutralizam os determinantes da pobreza.

Marques e Mendes (2007, p. 22) ponderam que,

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Apesar de o Bolsa Família não constituir um direito, sendo um benefício decorrente de um programa governamental, a rigor não pode ser comparado com as tradicionais políticas assistencialistas, voltadas para segmentos excluídos “minoritários” que, no falar da literatura, estavam à margem da dinâmica da sociedade.

Estamos concluindo nosso trabalho com esta disciplina. Começamos explicitando as mudanças que ocorrem a partir da crise estrutural do capital, e nos três últimos capítulos, traçamos um panorama da relação da profissão com a questão social da década de 1960 até os dias atuais.

Nossa profissão, atualmente, dispõe de uma base material que sustenta a ação profissional: a Lei que regulamenta a profissão, o Código de Ética, a legislação social indicada anteriormente e um projeto de formação profissional sintonizado com os tempos atuais, e que está em permanente discussão. Temos um Serviço Social crítico (NETTO, 2005).

Nossos desafios para o enfrentamento da questão social são grandes. Iamamoto (2003) nos afirma que

O desafio é redescobrir alternativas e possibilidades para o trabalho profissional no cenário atual; traçar horizontes para a formulação de propostas que façam frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles que a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da sua humanidade.

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AULA 12 – AS COMPETENCIAS E ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL

Profa. Renata Leandro

1. COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIALA Lei 8.662/93, no artigo 4º, expõe quais são competências do Assistente Social. São

elas:I – Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;II – Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;III – Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população;IV – Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais para identificar recursos e fazer uso deles no atendimento e na defesa de seus direitos;V – Planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;VI – Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;VII – Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo;VIII – Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;IX – Planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social;X – Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.

2. ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIALA Lei 8.662/93, artigo 5º, expõe quais são atribuições privativas do Assistente Social.

São elas:I – Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social;II – Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social;III – Assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social;IV – Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social;V – Assumir, no magistério de Serviço Social, tanto em nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;VI – Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social;VII – Dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação;VIII – Dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social;IX – Elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;

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X – Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social;XI – Fiscalizar o exercício profissional por meio dos Conselhos Federal e Regional;XII – Dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas;XIII – Ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

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AULA 13 – ENTIDADES REPRESENTATIVAS DO SERVIÇO SOCIAL

Profa. Renata Leandro

1. ENTIDADES REPRESENTATIVAS DO SERVIÇO SOCIALSão entidades representativas do Serviço Social a Executiva Nacional de Serviço Social

(ENESSO), Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).

A ENESSO é a entidade máxima de representação dos estudantes de Serviço Social. A Coordenação Nacional da Executiva é eleita anualmente no Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESS), que á instância máxima de deliberação

do Movimento Estudantil de Serviço Social. Tem por objetivo reunir os estudantes de todo país em torno dos temas pertinentes à conjuntura, movimento estudantil, universidade, formação ético-político-profissional, cultura e outros temas relevantes ao Serviço Social.

Conforme está descrito no seu estatuto, a ENESSO busca:

• fomentar e potencializar a formação político-profissional dos estudantes de Serviço Social, bem como suas entidades representativas;• promover o debate acerca dos problemas dos estudantes de Serviço Social;• garantir o contato permanente dos estudantes de Serviço Social com a categoria dos Assistentes Sociais, suas entidades nacionais e latino-americanas;• viabilizar a integração com os movimentos populares e sociais como forma de crescimento político dos estudantes e de reforço e ampliação das lutas desses movimentos;• consolidar o contato com as demais executivas de curso, a fim de reforçar o papel destas no movimento estudantil e construir novas alternativas de luta para o movimento;• coordenar e organizar os encontros Estaduais, Regionais e Nacionais, junto às escolas sede dos eventos, buscando a articulação com as demais entidades da categoria para a realização desses encontros (ESTATUTO DA ENTIDADE NACIONAL DE ESTUDANTES EM SERVIÇO SOCIAL).

O CRESS é uma autarquia federal de personalidade jurídica e de direito público, regulamentado pela Lei n.º 8.662, de 07 de junho de 1993. Está vinculado ao CFESS, no entanto tem autonomia administrativa e financeira.

Tem o poder de fiscalizar o exercício profissional do Assistente Social. Os Conselhos Regionais são responsáveis pelas inscrições dos Assistentes Sociais nos seus estados. Informam sobre anuidades, eventos, ofertas de trabalho, cursos de capacitação e ainda recebem denúncias de problemas relacionados à ética da profissão.

São objetivos dos CRESS:• orientar, disciplinar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de Assistente Social nos seus respectivos estados; • zelar pelo livre exercício, dignidade e autonomia da profissão;

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• organizar e manter o registro profissional dos Assistentes Sociais e das pessoas jurídicas que prestem serviços de consultoria, assessoria, planejamento, capacitação e outros em Serviço Social, no âmbito de sua jurisdição;• zelar pelo cumprimento e observância do Código de Ética Profissional do Assistente Social funcionando como Tribunal Regional de Ética Profissional;• fixar, em assembleias da categoria, o valor das anuidades a ser pagas pelos Assistentes Sociais (BRASIL, 2003)

O CFESS, regulamentado pela Lei n.º 8662/93, em conjunto com os CRESS, responde pela fiscalização do exercício profissional do Assistente Social. O Conselho Federal é representado por uma diretoria composta por 18 conselheiros, a qual é eleita a cada três anos pelo voto direto dos Assistentes Sociais de todo o país. O Art. 8º da Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social estabelece que compete ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), na qualidade de órgão normativo de grau superior, o exercício das seguintes atribuições:

• orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de Assistente Social, em conjunto com o CRESS;• assessorar os CRESS sempre que se fizer necessário;• aprovar os Regimentos Internos dos CRESS no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS;• aprovar o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais juntamente com os CRESS, no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS;• funcionar como Tribunal Superior de Ética Profissional;• julgar, em última instância, os recursos contra as sanções impostas pelos CRESS;• estabelecer os sistemas de registro dos profissionais habilitados;• prestar assessoria técnico-consultiva aos organismos públicos ou privados, em matéria de Serviço Social (BRASIL, 2003)

A ABEPSS é constituída pelas unidades de ensino em Serviço Social, pelos sócios institucionais e individuais (pesquisadores, docentes e discentes dos cursos de graduação e pós-graduação em Serviço Social). É uma entidade civil de natureza científica, de âmbito nacional, sem fins lucrativos. Com sede atual em Recife, busca mobilizar os profissionais de Serviço Social a ela associados, por meio da realização de eventos como o Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS).

O Estatuto da ABEPSS estabelece que a entidade tenha as seguintes finalidades:• propor e dinamizar uma política de formação em Serviço Social, que expresse a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, articulando a graduação e pós-graduação;• contribuir para aperfeiçoar a formação profissional do Assistente Social na perspectiva de atender às exigências regionais e ao projeto ético-político profissional, nos contextos nacional, regional e local;• representar e defender os interesses da área de Serviço Social, junto às agências de fomento, no que se refere ao ensino, pesquisa e extensão;• fomentar e estimular a formação e consolidação de grupos de pesquisa nas universidades e/ou outras instituições voltadas para pesquisa;• promover a publicação da produção acadêmica gerada no âmbito do Serviço Social;• promover eventos acadêmico-científicos de produção de conhecimento na área de Serviço Social;

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• atuar para fortalecer a concepção de formação profissional com amplo processo que abrange formação acadêmica, pesquisa, capacitação continuada e prática organizativa e profissional (ESTATUTO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL).

Ao conhecer a natureza da profissão de Assistente Social, quem é o Assistente Social, a legalidade do exercício profissional, fica evidente que compreenderá e, assim, desconstrua os equívocos e estigmas que acompanham o Serviço Social desde o surgimento. Não se limite ao conteúdo trabalhado nas aulas ministradas, busque pesquisar sobre a sua futura profissão nos sítios indicados nas referências bibliográficas.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

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