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PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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PROJETOPOLÍTICO PEDAGÓGICO

FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular Fundação da Criança e do Adolescente

PROJETOPOLÍTICO PEDAGÓGICO

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EXPEDIENTEMichel TemerPresidente da República Federativa do Brasil

Gustavo do Vale RochaMinistro de Estado dos Direitos Humanos

Luís Carlos Martins Alves JúniorSecretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

Guilherme Astolfi Caetano NicoCoordenador-Geral do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

Flávio Dino de Castro e CostaGovernador do Estado do Maranhão

Carlos Orleans Brandão Junior Vice-Governador do Estado do Maranhão

Francisco Gonçalves da ConceiçãoSecretário de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular

Elisângela Correia CardosoPresidente da Fundação da Criança e do Adolescente - FUNAC/MA

Sorimar Sabóia AmorimChefe da Assessoria de Planejamento e Ações Estratégicas – ASPLAN/FUNAC

Wellington Silva da CostaDiretora Administrativa Financeira – DAF/FUNAC

Lúcia das Mercês Diniz AguiarDiretora Técnica – DIRTEC/FUNAC

Nelma Pereira da SilvaCoordenadora de Programas Socioeducativos – CPSE/FUNAC

Eunice da Conceição FernandesCoordenadora de Programas Socioeducativos – CPSE Regionalizada

Alexandro Farias de SousaCoordenador Geral de Segurança Socioeducativa

Magdahyl Tereza Silva Vasconcelos Portela e SilvaDiretora da Escola de Socioeducação do Maranhão - ESMA

Sistematização FinalAlexandrina Santos de AbreuAndréia da Silva Barbosa Lúcia das Mercês Diniz Aguiar Marilda Vera Cerqueira de CarvalhoNelma Pereira da Silva Nikson Daniel Souza da SilvaSorimar Sabóia AmorimTatiana Araújo Sousa Wolf

Editoração - Priscilla Swaze Anchieta Silva

Impressão - Poligrafica

Endereço: Fonte do Bispo, Rua Cândido Ribeiro nº 850, Centro, São Luís/MA;CNPJ: 05.632.559/0001-58Telefone: (98) 3232 – 6484 / E-mail: [email protected] / [email protected]: http://www.funac.ma.gov.brSão Luís – Maranhão – 2018Distribuição gratuita 1ª Edição 500 exemplares

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São Luís - MA2018

PROJETOPOLÍTICO PEDAGÓGICO

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................091 GESTÃO..........................................................................................................................................................111.1 Identificação do órgão.............................................................................................................................111.2 Histórico........................................................................................................................................................111.3 Missão............................................................................................................................................................111.4 Visão...............................................................................................................................................................121.5 Valores...........................................................................................................................................................121.6 Estrutura Organizacional.........................................................................................................................121.6.1 Organograma da Gestão.........................................................................................................................131.6.2 Organograma das Unidades Socioeducativas................................................................................141.6.3 Organograma da Gestão das Unidades.............................................................................................141.7 Gestão Participativa..................................................................................................................................152 MARCO SITUACIONAL..............................................................................................................................193 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS.................................................................................273.1 Concepção de homem e de sociedade..............................................................................................273.2 Concepção de adolescente em cumprimento de medidas socioeducativas......................283.3 Concepção de família..............................................................................................................................303.4 Conceito de justiça e práticas restaurativas.....................................................................................314 DIRETRIZES PEDAGÓGICAS DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO .......................................334.1 Eixos estratégicos do atendimento....................................................................................................364.1.1 Saúde.............................................................................................................................................................364.1.2 Educação......................................................................................................................................................374.1.2.1 Educação Básica.........................................................................................................................................394.1.2.2 Ensino Fundamental.................................................................................................................................404.1.2.3 Ensino Médio...............................................................................................................................................414.1.2.4 Educação de Jovens e Adultos – EJA..................................................................................................424.1.3 Profissionalização......................................................................................................................................464.1.4 Convivência Familiar e Comunitária...................................................................................................484.1.5 Cultura, Esporte e Lazer...........................................................................................................................514.1.6 Espiritualidade............................................................................................................................................514.1.7 Segurança....................................................................................................................................................524.1.8 Assistência Material e Cidadania.........................................................................................................534.2 Procedimentos do atendimento socioeducativo..........................................................................544.2.1 Diagnóstico Polidimensional................................................................................................................544.2.2 Estudo de caso...........................................................................................................................................554.2.3 Plano Individual de Atendimento - PIA.............................................................................................564.2.4 Relatório de Acompanhamento do/a Adolescente.......................................................................574.2.5 Pareceres/Laudos......................................................................................................................................58

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4.2.6 Atendimento individual e em grupo..................................................................................................584.2.7 Procedimento Disciplinar........................................................................................................................594.2.7.1 Metodologia de Aplicação do Processo Disciplinar.......................................................................615 PROPOSTA DE ATENDIMENTO...............................................................................................................635.1 Proposta de Atendimento Inicial e da Medida de Internação Provisória..............................635.1.1 Atendimento Inicial...................................................................................................................................635.1.2 Internação Provisória...............................................................................................................................655.1.2.1 Intervenção junto ao Egresso da internação provisória..............................................................695.2 Proposta de Intervenção Socioeducativa da Internação e da Semiliberdade.....................705.2.1 Atendimento Socioeducativo de internação...................................................................................705.2.1.1 Acolhimento e Integração do(a) Adolescente na Medida de Internação..............................705.2.1.2 Implementação do PIA............................................................................................................................725.2.3 Acompanhamento ao Egresso da Medida de Internação..........................................................775.2.4 Atendimento Socioeducativo de Semiliberdade..........................................................................785.2.4.1 Acolhimento e Integração......................................................................................................................785.2.3.2 Implementação do PIA............................................................................................................................806 RECURSOS HUMANOS.............................................................................................................................836.1 Formação......................................................................................................................................................847 PLANEJAMENTO E SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO..........................................877.1 Planejamento..............................................................................................................................................877.2 Monitoramento e avaliação...................................................................................................................87 REFERÊNCIAS..............................................................................................................................................89 ANEXOS..........................................................................................................................................91

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APRESENTAÇÃOEste documento trata do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Fundação da Criança e do

Adolescente (FUNAC) para o atendimento socioeducativo privativo e restritivo de liberdade no Estado do Maranhão, conforme preceituam as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE, 2012).

Este Projeto Político Pedagógico estrutura-se em sete capítulos, a saber: Gestão, Marco Situacional, Fundamentos Teórico-Metodológico, Diretrizes Pedagógicas para o Atendimento, Proposta de Atendimento, Recursos Humanos e Planejamento, Sistema de Monitoramento e Avaliação. O capítulo Gestão situa a identificação institucional, estrutura organizacional, visão, missão e valores. O Marco Situacional é aquele que explicita como está organizado o Sistema Socioeducativo do Maranhão atualmente, a organização da gestão do sistema socioeducativo e o perfil dos atendidos. Os Fundamentos Teórico-Metodológicos desvela o que compreendemos pelo termo socioeducação e quais os fundamentos teóricos, metodológicos e conceituais o orientam. No capítulo das Diretrizes Pedagógicas para o atendimento apontamos a atuação e a orientação política e pedagógica da FUNAC e situamos parâmetros que devem ser seguidos pelas Unidades Socioeducativas. A Proposta de Atendimento indica o marco operacional que almejamos alcançar para a operacionalização da prática socioeducativa. O capítulo sobre Recursos Humanos elucida que a gestão dessa área tem uma função estratégica na administração pública, que ultrapassa a perspectiva meramente administrativa e cartorial: vai desde a formação de equipes mínimas para o atendimento até formação e qualificação profissional para o exercício consoante a legislação. E finalmente o Planejamento, sistema de monitoramento e avaliação, entendendo que na implementação deste Projeto, a Fundação adota procedimentos e instrumentos de gestão e de controle imprescindíveis na execução das ações e levantamento dos resultados alcançados.

Ainda que o PPP seja subdivido em seções, é importante mencionar que uma seção está liga-da à outra, intrinsecamente, pelo marco conceitual e pelos princípios que relacionam o macro (Gestão) com o micro (Execução). A elaboração desse documento se pauta em outros docu-mentos institucionais já organizados anteriormente, o que pressupõe sua constante atualização e consolidação.

O delineamento do atendimento socioeducativo desenvolvido pela Fundação e da especifi-cidade da sua execução de acordo com cada medida socioeducativa/programa, sendo: projeto pedagógico do atendimento inicial; da internação provisória; da internação e da semiliberdade.

Acreditamos que esta atualização será importante para consolidar procedimentos adequa-dos à legislação vigente.

Desejamos a todos um bom trabalho.

Elisângela Correia CardosoPresidente da Funac

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1 GESTÃO1.1 Identificação do órgão

A Fundação da Criança e do Adolescente (FUNAC)1 , é um órgão do Poder Executivo Estadu-al, vinculado à Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP), conforme Decreto nº 30.660 de 2015, publicado no Diário Oficial do Estado, em 06 de março de 2015.

1.2 Histórico

A Fundação da Criança e do Adolescente foi instituída pela Lei nº 5.650, de 13 de abril de 1993, com a finalidade de promover, no âmbito estadual, a execução das políticas de proteção especial às crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, observados os prin-cípios constitucionais pertinentes a esse segmento, após a extinção da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor do Maranhão (FEBEM/MA) instituída pela Lei Delegada nº 128/1977.

Em 2007, houve o reordenamento da sua missão institucional para adequar-se a Política Na-cional de Assistencial Social - PNAS, e ao Sistema Nacional do Sistema Socioeducativo - SINASE, tornando-se responsável, apenas, pela execução das medidas socioeducativas restritivas e pri-vativas de liberdade.

Atualmente, a FUNAC é vinculada à Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP), cujos parâmetros de fundamentação se baseia na Constituição Federal de 1988, na Lei nº 8.069/1990 (ECA), na Lei 12.594/2012 –(SINASE), além de normativas internacio-nais das quais o Brasil é signatário, tais como: Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU), Regras de Beijing e Diretrizes de Riad. 1.3 Missão

Garantir atendimento aos adolescentes a quem se atribua autoria de ato infracional e em cumprimento de medida acautelatória de internação provisória e socioeducativa privativa e restritiva de liberdade, com gestão participativa e intersetorial, envolvimento das famílias, das comunidades e da sociedade e valorização do servidor.

1 A Funac está registrada no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de São Luís sob o nº 1811993. Outras informações relevantes sobre a FUNAC podem ser acessadas pelo website: <http:http://www.funac.ma.gov.br/>.

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1.4 Visão

Ser reconhecida pela promoção do atendimento socioeducativo integral e sistemático aos adolescentes para (re) construção do seu projeto de vida desvinculado da prática de ato infra-cional.

1.5 Valores

• Respeito aos direitos humanos e às diferenças;• Gestão democrática e participativa;• Crença na possibilidade de transformação das pessoas;• Descentralização das ações; e• Ética e transparência.

1.6 Estrutura Organizacional

A estrutura Organizacional da Funac foi publicada no Diário Oficial no dia 01 de setembro de 2004 e é composta por quatro níveis: o primeiro está relacionado à Administração Superior; o segundo é de Assessoramento; o terceiro de suporte operacional; e o último nível está vin-culado à execução programática. O organograma da FUNAC apresenta o nível hierárquico da gestão do Sistema Socioeducativo do Estado do Maranhão, no qual as Unidades Socioeduca-tivas encontram-se no nível de execução programática, sendo a Diretoria Técnica responsável pela condução técnica das ações socioeducativas das Unidades de atendimento por meio das Coordenações são de Programas Socioeducativos da Capital e Regionalizada e da Coordenação Geral de Segurança Socioeducativa, responsável pela implementação do Plano de Segurança Institucional.

Com a alteração do marco legal, que transformará a Funac em Fundação do Atendimen-to Socioeducativo do Maranhão - FASE/MA, pretende-se alcançar o organograma institucional apresentado na Figura 1 a seguir:

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1.6.1 Organograma da Gestão - FASE/MA

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1.6.2. Organograma das Unidades Socioeducativas

1.6.3 Organograma da Gestão das Unidades

A ação programática está diretamente vinculada às Coordenações de Programas Socioe-ducativos (CPSE) da Capital e Regionalizada e Coordenação Geral de Segurança Socioe-ducativa, subordinadas à Diretoria Técnica da Fundação.

Deste modo são finalidades da CPSE:• Apoiar e fortalecer as ações socioeducativas, sendo:I. Articular e acompanhar a garantia do processo de educação formal e não formal nas Unida-

des visando ao desenvolvimento integral ao adolescente;

Centro Socioeducativode Semiliberdade de

Timon

Centro Socioeducativoda Região dos Cocais

Centro Socioeducativo de Internação Masculina

de São Luís

Centro Socioeducativo

de Internação do São Cristóvão

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II. Impulsionar e apoiar o desenvolvimento das práticas restaurativas em todos os programas socioeducativos;

III. Diligenciar para garantia do acompanhamento às famílias, de forma ampla, garantindo o seu envolvimento no processo de (re)socialização dos adolescentes em cumprimento de medi-da socioeducativa e no fortalecimento de suas potencialidades;

IV. Impulsionar a garantia do atendimento e apoio aos adolescentes egressos da medida so-cioeducativa privativa ou restritiva de liberdade, para oportunizar-lhes atividades de trabalho educativo e atenção psicossocial;

V. Diligenciar para garantia da profissionalização dentro das Unidades privativas e restriti-vas de liberdade e em instâncias externas, assessorando e monitorando a oferta de atividades de profissionalização, pautada no trabalho educativo, a fim de oportunizar ao adolescente em conflito com a lei uma experiência que agregue valores ao seu projeto de vida laboral de forma cidadã;

VI. Diligenciar para garantia das atividades profissionalizantes no âmbito da Fundação por meio de oficinas de iniciação profissional voltadas para o trabalho educativo (marcenaria, reci-clagem, padaria, entre outros), contemplando os adolescentes oriundos de quaisquer das me-didas socioeducativas e do atendimento cautelar.

• Acompanhar, monitorar e avaliar a execução das medidas socioeducativas:I. Apoiar e participar do planejamento das Unidades; II. Monitorar e avaliar in loco os programas socioeducativos, visando assegurar a eficiência,

eficácia e efetividade das ações;III. Analisar e acompanhar dos relatórios mensais das Unidades.A Coordenação Geral de Segurança Socioeducativa, sem prejuízo de outras atribuições, pre-

vistas no regimento interno da Fundação, possui as seguintes:I – Planejar, avaliar e monitorar os procedimentos de segurança preventiva e interventiva nas

Unidades e na Sede Administrativa;II – Monitorar a implementação do Plano de Segurança nas Unidades de Atendimento.III – Acompanhar a intervenção da segurança externa nas Unidades em situações limite, sob

supervisão da Presidência ou outra pessoa por ela designada;IV – Coordenar atividades formativas sobre segurança.

1.7 Gestão Participativa

A FUNAC adota, conforme o SINASE, a Gestão Participativa, cuja postura está associada no compartilhamento de responsabilidades e participação dos atores que integram a execução do atendimento socioeducativo.

Esta organização se dá com uma equipe de gestão chefiada pelo responsável legal da instituição (Presidência), além da Assessoria de Planejamento e Ações Estratégicas, Diretoria Técnica, Diretoria Administrativa Financeira, Coordenação dos Programas Socioeducativos da Grande Ilha e Regionalizada e, quando necessário, a Coordenação Geral de Segurança Socioeducativa.

Além disso, é realizada mensalmente uma reunião da Presidência com os chefes de setores e diretores dos Programas de Atendimento Socioeducativos, na qual são feitos os devidos alinha-mentos das estratégias de atuação da Fundação.

A Gestão das Unidades é feita por um coletivo composto por diretores, pelos coordenadores técnicos, de segurança, de higiene e alimentos e pelos supervisores de plantão, descrito no organograma a seguir:

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DIREÇÃO

Realizar reuniões com as coordenações e realizar assembleias gerais com os servidores;Participar de Reuniões de Trabalho, Planejamento e Ações realizados pela Fundação, bem como encaminhar relatórios à Fundação;

Zelar pelo cumprimento do Regimento Interno, pela preservação e conservação do patrimônio;Organizar escala mensal das equipes em conjunto com as coordenações; Organizar e Deliberar sobre viagens de recâmbio e audiência;

Demandar e Receber devolutiva das coordenações e do administrativo e realizar os encaminhamentos pertinentes;Acompanhar visita e/ou inspeção dos demais atores do sistema socioeducativo;

Realizar reunião de avaliação com os adolescentes sobre o atendimento na unidade;

Receber e liberar os adolescentes conforme solicitação do sistema socioeducativo, bem como realizar Atendimento aos adolescentes diariamente;

Garantir a implantação e implementação de todas as ações da medida com unidade dos setores, zelando pelas deliberações da gestão da Fundação e fazer a representação legal da unidade;

SUPERVISOR DE PLANTÃO

Ser pontual e cobrar pontualidade dos servidores para garantir o acompanhamento dos horários dos educadores para facilitar o funcionamento da equipe.

Executar ações passadas pela Coordenação de segurança tais como: revistas, checagem de higiene dos alojamentos e outros;Garantir que todos os adolescentes tenham os seus direitos internos assegurados tais como: ligações, atendimentos médicos, psicológicos, educação, esporte, cultura, lazer, etc.;Repassar para a coordenação de segurança qualquer situação de risco que for detectado contra qualquer pessoa dentro do ambiente (adolescente, funcionários) para que seja tomada providência de urgência;

Acompanhar todos os procedimentos de segurança tais como: revista dos internos e familiares, mudança de alojamentos, entre outros;

Instruir, auxiliar, incentivar os socioeducadores a implementar e desempenhar as suas atividades e suas obrigações;

Fazer o registro das ocorrências em livro especíco;

Garantir a saída dos adolescentes para hospitais, audiências ou qualquer outra saída externa com pontualidade;

Garantir a integridade física de todos da comunidade socioeducativa;

Contribuir com a garantia da execução da jornada pedagógica cumprindo os horários determinados na mesmo;

Organizar visitas de familiares dos adolescentes em conjunto com a coordenação de segurança;Revisar e entregar Relatórios;

Realizar atendimento técnico sempre que necessário;

Acompanhar os procedimentos da Comissão Disciplinar;Garantir unidade do setor de forma justa e respeitosa.

COORDENAÇÃO TÉCNICACo o rd e n a r a e xe c u ç ã o d a s a çõ e s biopsicossocial, jurídicas e educacionais de acordo com o Projeto Político e Pedagógico da Fundação e demais normativas;Organizar a realização das ligações telefônicas para os adolescentes em c o n j u n t o c o m a c o o r d e n a ç ã o d e segurança;

Participar de Reuniões de Trabalho e Planejamento interno e externo;

Acompanhar a coordenação de segurança nas ações de intervenção junto aos adolescentes, sempre que necessário;

Elaborar e entregar Relatórios à direção;Repassar à direção as demandas do setor.de do setor de forma justa e respeitosa.

Organizar e distribuir o kit higiene pessoal dos adolescentes;

COORD. DE HIGIENE E ALIMENTOS

R e a l i z a r p e d i d o s d e m a t e r i a i s e mantimentos à direção;Repassar ao setor os procedimentos de segurança de acesso ao almoxarifado e cozinha; Orientar e acompanhar a limpeza de todas as dependências da unidade;

Coordenar a organização e controle dos produtos do almoxarifado;

Orientar adolescentes sobre a limpeza dos a l o j a m e n t o s e m c o n j u n t o c o m a coordenação de segurança;Supervisionar a entrada e saída de material de limpeza nos alojamentos em c o n j u n t o c o m a c o o r d e n a ç ã o d e segurança;R e a l i z a r co nt ro l e , h i g i e n i z a ç ã o e distribuição das roupas dos adolescentes e de cama e banho;

Contribuir com a coordenação técnica na organização e realização das ligações telefônicas para os adolescentes;

Acompanhar a coordenação técnica, sempre que necessár io, contr ibuindo com o cumprimento da rotina pedagógica;

Contribuir com a Coordenação Técnica na organização das visitas de familiares dos adolescentes;

Elaborar e entregar relatórios;

Repassar ao setor os procedimentos de segurança, reforçando-os sempre que necessário;

Zelar pela aplicação do RI e cumprimento da comissão disciplinar com justeza;

Coordenar os procedimentos de segurança em conformidade com o Plano de Segurança da Fundação;

Fazer a supervisão geral dos procedimentos de segurança, em cada turno das equipes;

COORD. DE SEGURANÇA

Acompanhar as revistas nos alojamentos diariamente, instruindo a equipe;

Participar das reuniões de trabalho e planejamentos internos e externos;

Repassar à direção todas as demandas relativas ao setor.

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O referido grupo gestor promove reuniões sistemáticas, encontros e assembleias para deli-berações de assuntos necessários ao funcionamento e monitoramento das Unidades, estabele-cendo uma interlocução com a comunidade socioeducativa.

Com base nessa organização, a Fundação, realiza suas ações a partir dos procedimentos téc-nicos e metodológicos descritos neste Projeto, norteados pela Resolução nº 119 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que instrumentaliza os opera-dores do sistema socioeducativo com parâmetros de gestão pedagógica para tentar responder às problematizações da política de atenção ao adolescente em conflito com a lei, implicando um esforço para o alinhamento de conceitos e práticas de atendimento.

Assim, a partir das relações internas do sistema socioeducativo, apresentadas na Figura 4, nos elementos em azul, ocorre a trajetória jurídica e processual da medida socioeducativa, bem como da sua execução em caso de medida cautelar e de sentença. No entanto, conforme esta-belecido na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente, as Institui-ções de atendimento, obrigatoriamente, devem favorecer o acesso do adolescente aos direitos fundamentais que se articulam em cinco eixos demonstrados na cor amarela, representativo da intersetorialidade entre as políticas sociais, haja vista a sua incompletude institucional.

Figura 4 – Intersetorialidade das Políticas

Desse modo, as ações de educação são garantidas pela Secretaria Estadual de Educação, por meio de escolas de referência, com oferta de ensino fundamental e médio.

As ações de saúde são realizadas pelas Unidades e pela rede de saúde estadual e municipal. Para melhor atender essa demanda ocorrerá a implantação desses serviços, de acordo com o SINASE (2012):

Art. 60. A atenção integral à saúde do adolescente no Sistema de Atendimento Socioedu-cativo seguirá as seguintes diretrizes:

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I - previsão, nos planos de atendimento socioeducativo, em todas as esferas, da implantação de ações de promoção da saúde, com o objetivo de integrar as ações socioeducativas, estimulando a autonomia, a melhoria das relações interpessoais e o fortalecimento de redes de apoio aos adolescentes e suas famílias; II - inclusão de ações e serviços para a promoção, proteção, prevenção de agravos e doenças e recuperação da saúde; III - cuidados especiais em saúde mental, incluindo os relacionados ao uso de álcool e outras substâncias psicoativas, e atenção aos adolescentes com deficiências; IV - disponibilização de ações de atenção à saúde sexual e reprodutiva e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis; V - garantia de acesso a todos os níveis de atenção à saúde, por meio de referência e con-trarreferência, de acordo com as normas do Sistema Único de Saúde (SUS); VI - capacitação das equipes de saúde e dos profissionais das entidades de atendimento, bem como daqueles que atuam nas unidades de saúde de referência voltadas às especificidades de saúde dessa população e de suas famílias; VII - inclusão, nos Sistemas de Informação de Saúde do SUS, bem como no Sistema de Informações sobre Atendimento Socioeducativo, de dados e indicadores de saúde da população de adolescentes em atendimento socioeducativo; e VIII - estruturação das unidades de internação conforme as normas de referência do SUS e do SINASE, visando ao atendimento das necessidades de Atenção Básica.

No âmbito da Assistência Social, a Fundação garante as demandas materiais e se articula com a rede socioassistencial para os benefícios que cabem ao público assistido, bem como articula e encaminha os adolescentes egressos da privação de liberdade aos CRAS e CREAS dos seus municípios de origem para garantir a complementariedade dos serviços sociais no território local.

Concernente ao esporte, lazer e cultura, buscam-se parcerias junto às Secretarias responsá-veis. Todavia, as atividades relacionadas a essa área ainda são insuficientes. As ações que são realizadas dizem respeito ao que a própria Fundação desenvolve. No entanto, há interesse de se efetivar uma parceria que venha possibilitar tal direito aos adolescentes que estão restritos e privados de liberdade.

É por meio da proposta intersetorial (SINASE, 2006) que se pode alcançar a participação dos(as) adolescentes em diferentes programas e serviços sociais e públicos. Para tanto, os pro-gramas de execução de atendimento socioeducativo ocorrerão articulados com os demais ser-viços e programas que tratam dos direitos dos(as) adolescentes (saúde, defesa jurídica, traba-lho, profissionalização, escolarização etc). Isso mostra que cada instituição é incompleta, que precisamos trabalhar numa rede integrada, para que o desenvolvimento do(a) adolescente e sua ressocialização/reintegração à sociedade aconteça.

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2 MARCO SITUACIONAL

Na sociedade contemporânea, as transformações societárias, políticas e econômicas se de-terminam a partir da globalização econômica e, por conseguinte, nos pressupostos neoliberais. A constituição de um Projeto Político Pedagógico, nesse contexto se torna uma empreitada conflituosa, pois surgem questionamentos junto aos sujeitos que atuam no sistema socioedu-cativo e na própria sociedade, considerando a não homogeneidade das concepções e dos pro-jetos apresentados de acordo com suas visões de sociedade de cada um.

Neste sentido, o Brasil, país de dimensões continentais, de disparidades regionais e com uma população multicultural, passa por um momento de crise institucional e instabilidade políti-ca, onde o acesso à justiça ainda é limitado, o jogo político é marcado fortemente pelo poder econômico, os meios de comunicação atuam no sentido de manter a estrutura de poder e a concentração de renda e o poder na mão de poucos.

Por vezes, o estado do Maranhão, assim como os demais estados, não está apartado deste cenário e de suas consequências políticas, sociais e econômicas. Assim, situar-se-á o estado do Maranhão na perspectiva geográfica, demográfica e socioeconômica, localizando-se à poste-riori o atendimento socioeducativo desenvolvido no estado e o perfil do público por ele aten-didos.

De acordo com IBGE (2015) o Estado tem uma população total de 6.850.884 habitantes, sen-do que as mulheres representam 50,3%, superando em 0,6% a população masculina. Além dis-so, o Estado conta com cerca de 46,9% de seu contingente populacional na faixa etária entre os 0 a 17 anos e destes, aproximados 63,7% estão sob a tutela de famílias que recebem até meio salário mínimo mensal.

Com referência ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado é de 0,639, conferin-do-lhe, ainda, a penúltima posição no ranking em comparação a outros estados brasileiros. Os índices de pobreza e extrema ainda são alarmantes, apesar da adoção de políticas que visam à reversão deste cenário. É importante ressaltar que os dados do IDH são levantados a cada decênio e que as intervenções ora adotadas (aplicação de programas de governo para alcance de metas, centrando-se na intersetorialidade) tendem a apresentar resultados a médio e longo prazo, externando como impacto mais imediato o aumento da oferta de serviços públicos aos municípios que apresentam menor IDH no Estado.

Os municípios mais populosos do Estado são: São Luís e Imperatriz, concentrando aproxi-madamente 20% da população total do Maranhão. O município de São Luís conta com uma população de 1.091.868 habitantes (estimativa do IBGE 2017), já a cidade de Imperatriz, que é

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considerada a mais importante do interior do Estado, possui aproximadamente 252.320 habi-tantes. A cidade de Imperatriz localiza-se na mesorregião do Oeste Maranhense e tem como atividades centrais a agropecuária, extrativismo, indústrias e siderúrgicas.

No tocante ao atendimento socioeducativo, em âmbito nacional, os dados do Levantamen-to Anual referente ao ano de 2015, consolidados pela Coordenação–Geral do SINASE, indicam um número total de 26.209 (vinte e seis mil, duzentos e nove) adolescentes e jovens (12 a 21 anos) em restrição e privação de liberdade (internação, internação provisória e semiliberdade) na data de 30 de novembro de 2015. Outros 659 (seiscentos e cinquenta e nove) adolescentes em outras modalidades de atendimento (atendimento inicial, internação sanção e medida pro-tetiva), com um total geral de 26.868 (vinte e seis mil, oitocentos e sessenta e oito) adolescentes e jovens brasileiros incluídos no sistema socioeducativo.

O levantamento foi produzido com base nas informações enviadas pelos estados e o Distrito Federal referentes à situação do atendimento em 30 de novembro de 2015. O objetivo da siste-matização foi permitir uma avaliação do atual cenário das unidades de privação ou restrição de liberdade, identificando, entre outros aspectos, o perfil desses adolescentes, atos infracionais praticados e a estrutura (unidades e profissionais) disponível nos sistemas estaduais e distrital.

Em relação ao perfil dos adolescentes e jovens em restrição e privação de liberdade, o levan-tamento mostra que a maior parte – 96% do total – é do sexo masculino e 61,03% negros. A maior proporção (57%) estava na faixa etária 16 e 17 anos.

Os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em unidades de internação praticaram 27.428 atos infracionais em 2015. Desse total, 46% (12.724) foram classificados como análogo a roubo e 24% (6.666) foram registrados como análogo ao tráfico de drogas. O ato in-fracional análogo ao homicídio foi registrado em 10% (2.788) do total de atos praticados.

No âmbito do Maranhão, conforme as diretrizes do SINASE, a execução precípua da FUNAC é o atendimento socioeducativo aos adolescentes em cumprimento de medida privativa e restritiva de liberdade e àqueles a quem se atribua a autoria de ato infracional. Para isso dispõe, de 12 (onze) unidades, localizadas em São Luís, Paço do Lumiar, São José de Ribamar, Imperatriz e Timon, sendo: 01(uma) atendimento inicial, 05 (cinco) unidades de internação masculina, 01 (uma) internação e internação provisória feminina, 02 (duas) de internação provisória masculina e 02 (duas) unidades de semiliberdade.

As Unidades se constituem em bases físicas imprescindíveis para a organização e funciona-mento dos Programas de Atendimento Socioeducativos de Internação, Semiliberdade e Inter-nação Provisória.

NAI - Núcleo de Atendimento InicialCJF - Centro de Juventude FlorescerCJC - Centro de Juventude CanaãCSIMSL - Centro Socioeducativo de Internação Masculina de São LuísCSISC - Centro Socioeducativo de Internação do São Cristovão

São Luís

São José de Ribamar

Paço do Lumiar

CSISJR - Centro Socioeducativo de São José de Ribamar

CSRC - Centro Socioeducativo da Região dos CocaisCSST - Centro Socioeducativo de Semiliberdade de Timon

CJC - Centro de Juventude CidadãCJS - Centro de Juventude SemearCSRT - Centro Socioeducativo da Região Tocantina

CJSNV - Centro de Juventude Sítio Nova Vida

Timon

Imperatriz

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De 2014 a 2017 foram duplicadas a oferta de vagas nas Unidades de atendimento, passan-do de 143 para 291 vagas, o que representou um aumento de 103%. Também, nesse período, houve aumento de Unidades de Atendimento socioeducativo no Maranhão, saindo de 7 para 12 Unidades. O ano de 2017 respondeu por esse crescimento com a abertura de 3 novas Unida-des (duas de medida de internação e uma de medida de semiliberdade), além da melhoria nas instalações do atendimento provisório de Imperatriz.

A oferta de vagas para o atendimento de adolescentes com medida de internação foi a que mais recebeu incremento, entre 2014 e 2017, num total de 198%, saindo de 47 para 139 vagas. Com a abertura das Unidades de Semiliberdade, a Funac chegou a ofertar 52 vagas para essa medida, o que representou um crescimento 117%. Contudo, as vagas ofertadas de Semiliber-dade não foram plenamente utilizadas ao longo de 2017 na região da Baixada Maranhense, mesmo após intensa mobilização da Funac junto aos operadores do Sistema de Justiça daquela região e do próprio Tribunal de Justiça do Maranhão. Essa mobilização buscou esclarecer aos magistrados a importância da aplicação da medida de semiliberdade, conforme orienta o SI-NASE em detrimento da aplicação de medida de internação. O insuficiente uso das vagas de semiliberdade forçou o encerramento das atividades da Unidade no fim de novembro.

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No período de janeiro a dezembro de 2017, a Fundação atendeu 1.662 adolescentes, representando um decréscimo de 0,71% em relação ao ano anterior. Em 2016 foram atendidos 1.674 adolescentes, revelando um crescimento de 23,54% em relação a 2015, quando foram registrados 1.355 adolescentes atendidos. É importante notar que ocorre de um mesmo adolescente receber mais de um atendimento, seja em virtude da mudança de Fases2 , progressão de medida ou por mudança no cumprimento da medida socioeducativa. Portanto, para fins de melhor entendimento, considera-se distintamente os dados de adolescentes e de atendimentos. Assim, em 2017, os 1.662 adolescentes atendidos receberam 2240 atendimentos, em 2016, os 1.674 adolescentes receberam um total de 2.516 atendimentos e, em 2015, 1.355 adolescentes receberam 1.849 atendimentos. Em 2014 não era realizado o levantamento do número de adolescentes sem repetição, conforme gráfico a seguir:

Os números do Gráfico 4 apresentam comparação anual do atendimento inicial, semiliberda-de, internação provisória e internação, nos anos de 2014 a 2017.

No atendimento inicial houve aumento de 3,35%, de 2014 para 2015; um aumento de 53,85%, de 2015 para 2016 e um decréscimo de 13,94% em 2017 com relação a 2016. Na semiliberdade se observa um crescimento na ordem de 283,33% em 2015 comparado a 2014, de 39,13% em 2016 quando comparado a 2015 e uma redução de 6,25% em 2017 quando comparado a 2016.

Os atendimentos na internação provisória apresentaram crescimento de 17,9%, de 2014 para 2015; de 18,9%, de 2015 para 2016 e um decréscimo de 11,94% em 2017 quando comparado a 2016.

Na internação houve um aumento significativo de atendimentos de 2014 para 2015 (132,50%), ocasionado pela abertura de 30 vagas na Unidade Centro da Juventude Sítio Nova Vida. Em comparação com 2015, o ano de 2016 apresentou aumento de 69%; já em 2017 houve um acréscimo de 2% de atendimentos quando comparado ao ano de 2016.

2 No período de setembro de 2015 até junho de 2017 a Funac usava a Metodologia de Fases. Contudo esta foi suspensa pela justiça a pedido do Ministério Público.

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Quanto à caracterização dos adolescentes, buscou-se traçar o perfil dos adolescentes privilegiando o comparativo dos últimos três anos. Em 2017, registrou-se 674 adolescentes procedentes da capital do Estado, 976 adolescentes do interior do Estado e apenas 12 adolescentes de outros estados da federação. Entre os anos 2015 e 2016 houve crescimento no número de adolescentes procedentes de São Luís em 24,68% e de outros municípios maranhenses em 23,78%. Em 2017, quando apresentados os dados da Grande Ilha de São Luís, incorporando os municípios de São José de Ribamar (82), Paço do Lumiar (42) e Raposa (18), aferimos 49% contra 51% de adolescentes atendidos de outros municípios.

Na comparação quanto ao gênero nos anos anteriores, percebe-se que se mantém a tendência de maior presença do gênero masculino, sendo, em 2015, 1.286 atendimentos do gênero masculino e 69 feminino. Em 2016, 1.602 eram masculino e 72 eram do gênero feminino, produzindo um crescimento de 24,5% dos atendimentos de gênero masculino e de 4,3% do gênero feminino em relação ao ano anterior. Em 2017 houve um decréscimo de 0,62% dos

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atendimentos quanto ao gênero masculino e de 2,7% do gênero feminino, se comparado com 2016.

Considerando a caracterização dos adolescentes atendidos em 2017, podemos aferir que 66% dos atendimentos realizados eram a adolescentes na faixa etária de 16 a 17 anos, 26% en-tre 12 a 15 anos e 8% de jovens de 18 a 21 anos.

Percebe-se uma crescente tendência quanto à participação de adolescentes, desta faixa etá-ria, na autoria de atos infracionais. Elementos que desencadeiam a necessidade real de um estu-do mais aprofundado sobre as motivações e a realidade objetiva apresentada à juventude, para que as leis e as políticas públicas nacionais estejam orientadas a fortalecer as trajetórias juvenis, oferecendo-lhes um ambiente favorável para construírem seus projetos de vida, para fazerem escolhas conscientes, bem como as condições necessárias para transitarem de forma segura e saudável da adolescência para a idade adulta.

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Considerando o número de atendimentos em 2017 por raça/etnia, podemos aferir que 63,47% (1.055) foram a adolescentes que se autodeclaram pardos, 21,66 % (360) se autodecla-raram negros, 13,83% (230) se autodeclararam brancos, 0,72% (12) não informaram sua raça/etnia, 0,24 (4) se autodeclararam amarela e somente 0,12% (1) se autodeclararam indígena.

Ao analisar a natureza dos atos infracionais atribuídos a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de privação de liberdade, percebe-se que os dados de 2017 ratificam a tendência dos últimos três anos, apresentando como maior incidência a infração de crime contra o patrimônio (roubo) (77,55%) que se mantém variando entre 70% a 77% do total de casos atendidos. As demais infrações como homicídio (8%), tráfico de drogas (1,9%), associação criminosa (1,9%), tentativa de roubo (1,5%), furto (1,5%) e latrocínio (1,4%) podem estar associa-das à busca por renda pelo adolescente. O número de adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos de idade que vivem em famílias com renda inferior a ½ salário mínimo per capita é 7,9 milhões. Isso significa dizer que 38% dos adolescentes brasileiros estão em condição de pobreza.

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No Maranhão a situação de pobreza e extrema pobreza são preocupantes. Apesar dos esfor-ços desprendidos pelo atual governo estadual em garantir infraestrutura e oferta de serviços, os impactos destas intervenções não podem ser mensurados em curto prazo. Por isso, o Estado ocupa o penúltimo lugar no IDH do Brasil. Evidentemente que estes dados não se apresen-tam como justificativa para a ocorrência do ato infracional, no entanto, a dinâmica competitiva, meritocrática e individualista estabelecida no atual sistema social, político e econômico, assim como a seletividade imposta por este, são expressivos fatores para a incidência da prática de atos infracionais. Portanto, é preciso que se avalie os percursos e as estratégias históricas que são impostas a esta população em situação de múltiplas vulnerabilidades e desassistidas pelas políticas públicas.

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3 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS3.1 Concepção de homem e de sociedade

De acordo com a concepção teórico-metodológica adotada por Karl Marx a sociedade é per-meada por relações de conflitos. As relações de conflito são resultantes do antagonismo entre o capital e o trabalho e, portanto, da divisão da sociedade em classes sociais.

Os interesses entre as classes sociais se opõem irredutivelmente, pois a luta do trabalhador, que perde o controle da sua força de trabalho e do seu produto final (alienação) coexiste com o esforço de emancipação, evidenciando o movimento de afirmação e negação das potencialida-des e possibilidades humanas.

Paulo Freire pauta-se no pensamento marxista para explicar a visão de mundo, de homem e de sociedade. De acordo com os escritos freireanos, o polo “mundo” é entendido como espaço histórico e, portanto, contraditório, mutável. É o mundo da opressão de classe e de múltiplas contradições.

Na perspectiva freireana, a sociedade se constitui em um espaço contraditório de relações sociais historicamente tecidas. O elemento “sociedade” é visto como um espaço fortemente condicionante da ação humana, mas nunca determinante.

O ser humano, graças ao seu potencial criativo, crítico-propositivo, exercitado pelo trabalho transformador de si, do mundo e da história, empenha-se em que suas práticas sejam capazes de sinalizar o tipo de sociedade e de mundo que se acham comprometidos em construir. É na dimensão da vida social que o indivíduo procura responder às necessidades de autoconserva-ção.

Freire compreende que o ser humano – como ser de relação no e com o mundo e com os outros – busca a liberdade, o espaço de autonomia em vista de um renovado compromisso com a causa emancipatória, seja no plano pessoal, seja no âmbito coletivo. Com isso, assume a sua condição de ser político, de militante, de protagonista.

Na perspectiva freireana, os polos de mundo, de homem e de sociedade se manifestam sem-pre como uma unidade dialética, em que um se acha necessariamente remetido aos demais, em virtude do qual nenhum deles se basta. Eles se distinguem, mas não se separam. Possuem uma

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relação de complementaridade. O elemento “mundo” não teria sentido, descolado do polo “ho-mem” ou do polo “sociedade”. Da mesma forma não conseguiria o polo “homem” ser compre-endido fora de suas relações com o mundo e a sociedade. E esta, por sua vez, não teria sentido dicotomizado do mundo sem o homem.

Nessa perspectiva, concebe-se o homem como um ser eminentemente social que tem o seu desenvolvimento constituído nas relações históricas, materiais e sociais, sendo visto como su-jeito de sua própria história com capacidade de se transformar e se desenvolver de forma crítica e reflexiva, autônoma e solidária e como agente de transformação do mundo, cabendo-lhe lutar por uma sociedade essencialmente inclusiva, na qual todos sem exceção tenham seus direitos humanos garantidos.

Esta concepção permite-nos entender que a questão do adolescente em conflito com a lei tem raízes históricas e sociais e resulta da forma como a sociedade se organiza política e social-mente. Ou seja, não deve ser rotulado como um infrator ou um bandido, mas como um indiví-duo que, em razão de suas condições e relações materiais e históricas, cometeu uma infração. A conduta do adolescente sempre revela algo do indivíduo e de seu ambiente social.

Com base nesta compreensão, destaca-se a contribuição do educador Antonio Carlos Go-mes de Costa, cuja orientação básica é resgatar o que há de positivo na conduta dos jovens em dificuldades, sem rotulá-los, nem classificá-los em categorias baseadas apenas nas suas defi-ciências, ajudando a vencerem as dificuldades pessoais e a reconciliarem-se consigo e com os outros, condição necessária para mudança de sua forma de inserção na sociedade. Para o autor, “fazer-se presente na vida do educando é o dado fundamental da ação educativa dirigida ao adolescente em situação de dificuldade pessoal e social. A presença é o conceito central, o ins-trumento-chave e o objetivo maior desta pedagogia (COSTA, 2001, p. 23).

O referido autor enfatiza que a pedagogia da presença “convoca para a ação a pessoa hu-mana, o educador e o cidadão. E é nesta última condição que cabe ao educador empenhar-se também no sentido daquelas mudanças amplas e profundas, tendo como horizontes de seus esforços a história de seu povo” (COSTA, 2001, p. 37).

3.2 Concepção de adolescente em cumprimento de medidas

socioeducativas

Compreende-se a adolescência como uma fase de transição da infância para a vida adulta, momento em que o indivíduo molda a sua identidade, faz suas escolhas e se prepara para o ingresso do mundo adulto, podendo-se afirmar que a adolescência é um período de constantes transformações no corpo, na mente e na vida social. Com todas essas mudanças, é natural que os adolescentes se sintam angustiados e não saibam lidar com tais transformações. Assim, é im-portante que os adultos compreendam com clareza estas mudanças, para não tratar pequenos eventos como grandes problemas ou recriminar o adolescente por atos e fatos que não depen-dem do seu controle.

A adolescência é uma fase de busca da maturidade, na medida em que nada é estável, nem definitivo. É uma fase também de novas sensações e experiências antes desconhecidas. Para aqueles que a acompanham, a exemplo dos pais, esta etapa é percebida como uma fase difícil no processo de educação dos filhos.

A adolescência, portanto, é um processo caracterizado por conflitos internos, que exige do

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adolescente a elaboração e a ressignificação de identidade, imagem corporal, relação com a família e com a sociedade, sendo um período rico de experiências estruturantes da identidade do ser humano.

Sua condição de sujeito de direito implica considerar o seu protagonismo ativo nos proces-sos decisórios que diz respeito ao seu projeto de vida, garantindo assim o respeito à sua auto-nomia no contexto do cumprimento das normas legais.

Conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente, o adolescente é concebido como pessoa em processo de desenvolvimento, sujeito de direito e destinatário de proteção integral. Nessa condição de pessoa em processo de desenvolvimento, cabe ao órgão respon-sável pela operacionalização das medidas a missão de protegê-lo, cujo processo se dá a partir de um conjunto de ações que propicia a educação formal, a profissionalização, saúde e demais direitos assegurados legalmente. Esta legislação restringe a fase da adolescência entre os 12 e 18 anos de idade.

Quanto às transformações sociais, estas são influenciadas por uma série de variáveis: cultu-rais, estruturais, familiar, condição socioeconômica, entre outras. Todos esses fatores determi-nam formas distintas de vivenciar a adolescência, uma vez que a construção da identidade é pessoal e social, acontecendo por meio de troca entre o indivíduo e o meio em que está inserido.

Assim, para compreender o adolescente, tanto em seu desenvolvimento pessoal quanto na sua relação com o mundo, é preciso olhar para ele de vários ângulos, que inclua não só as transformações biológicas e psicológicas, mas também o contexto socioeconômico, cultural e histórico no qual está inserido, pois, as relações sociais, culturais, históricas e econômicas da sociedade são decisivas na constituição da adolescência.

Atualmente, o contexto da violência tem acompanhado o cotidiano das crianças e adoles-centes em qualquer lugar que estejam, seja na escola, na família ou na comunidade. Notícias como assaltos, crime organizado, homicídios, chacinas etc, são evidenciados diariamente pela mídia, passando a noção de violência como algo natural e de que a intolerância é inerente à vida em sociedade. Prevalece a concepção de sociedade na qual os conflitos são resolvidos por meio da força e da coerção.

Esse cenário permeia a vida de grande parte dos adolescentes envolvidos com a prática da infração, além do que a maioria é oriunda de famílias vitimadas pela exclusão social em de-corrência da ausência ou precariedade de políticas públicas direcionadas aos adolescentes e jovens. Esse tipo de contexto histórico de desigualdade, com suas manifestações culturais e sociais exerce certa influência na história de vida dos adolescentes e repercute profundamente em seus comportamentos. Deste modo, temos claro que a situação da pobreza isoladamente não explica a ocorrência de práticas de delitos, mas sim um conjunto de fatores de risco asso-ciados entre si.

Muitas vezes esses adolescentes são vítimas de agressão física, da violência sexual, da discri-minação e vivem em organização familiar normalmente com relações conflituosas, cujas carên-cias afetivas e materiais fazem com que ingressem no mundo da droga, do crime e da violência, conforme enfatiza Costa (2006, p. 24):

Imerso, por um lado, nas solicitações da mídia que, a todo o momento, coloca-o diante de apelos cada vez mais amplos, profundos e sutis ao consumo desenfreado de bens e serviços. Por outro lado, num contexto inibidor de oportunidades reais de inclusão, ele vê restringirem-se cada vez mais suas possibilidades de acesso aos objetos de um desejo que se universaliza.

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Para o pleno desenvolvimento das pessoas que se encontram na fase da adolescência é es-sencial que sejam fornecidas condições sociais adequadas à consecução de todos os direitos a elas atribuídos.

Considerando ainda que o fenômeno da infração é construído, acredita-se na possibilidade de mudança de atitudes e no desenvolvimento de suas potencialidades como pessoas e como cidadãos.

Um ato infracional cometido por adolescente – por mais grave que seja – nunca é o todo de um ser humano. Haverá sempre além das dificuldades específicas outras dimensões a serem trabalhadas. Será necessário descobrir nesse adolescente aptidão e capacidades que apenas um balanço criterioso e sensível permitirá despertar e desenvolver. (COSTA, 2006): “É necessário reconhecer o adolescente como sujeito com potencial para superar suas limitações e fazer exi-gências possíveis de serem realizadas por eles, respeitando sua condição peculiar e seus direitos humanos”.

Tal compreensão requer a execução de uma política de atendimento socioeducativo de cará-ter inclusivo, em que sejam garantidas novas oportunidades e perspectivas de vida e prevaleça uma intervenção metodológica capaz de ajudá-los a desconstruir o envolvimento com o mun-do da violência.

3.3 Concepção de família

Conforme análise socioantropológica, traz-se aqui a compreensão da realidade familiar para além da parentalidade. Concebe-se como um grupo de pessoas que são unidas não só por la-ços de consanguinidade, mas de aliança e de afinidade. As funções de proteção e socialização podem ser exercidas nos mais diversos arranjos familiares e contextos socioculturais, descons-truindo-se a ideia preconcebida de modelo familiar “normal”. Nesse sentido, a desmistificação da família natural e a afirmação de nova concepção de família fundamentam-se no cuidado e socialização entre seus membros.

Também é preciso superar a compreensão de que as famílias que fogem do modelo nuclear são desestruturadas e responsabilizadas pelo envolvimento dos filhos com a prática das transgressões. Compreende-se que a capacidade da família de proteger os filhos tem a ver com as condições que dispõem e não com o tipo/modelo de família que possui.

Seja qual for a modalidade de estrutura familiar, há o reconhecimento da família como primeiro espaço de formação de valores afetivos, éticos e morais, educacionais e cultu-rais que dão suporte à estruturação do caráter e da personalidade da criança e do ado-lescente.

Desse modo, a família é o lugar privilegiado ao desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Cabe a ela criar e educar as crianças e adolescentes, garantir-lhes o usufruto de to-dos os direitos de que são titulares como pessoas humanas em situação peculiar de desenvolvi-mento. Porém, tem sido uma tarefa difícil de ser cumprida, sobretudo, por aquelas famílias que se encontram em situação de pobreza absoluta, sem trabalho ou subempregadas, sem condi-

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ções para garantir alimentação adequada, moradia digna, atendimento de saúde, educação de forma regular, restando-lhes muitas vezes a informalidade, improvisos ou a desassistência total, bem como reprodução de violências em todos os sentidos (sofrer e praticar violências sistema-ticamente). No geral, esta é a realidade das famílias dos adolescentes em conflito com a lei.

O SINASE, orientado pela Constituição Federal e pelo Estatuto Criança e do Adolescente, além das normativas internacionais das quais o Brasil é signatário, estabelece dentre os seus princípios, a “responsabilidade solidária da família, sociedade e Estado pela promoção e a defe-sa dos direitos de crianças e adolescentes”. Ou seja, os familiares também devem ser parte ativa no processo socioeducativo dos adolescentes em cumprimento de medidas.

Para fazer valer o que diz o ECA e o SINASE sobre a importância da família, foi aprovado em 2006 o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, que consiste em um conjunto articulado de ações que envolvem a corresponsabilidade do Estado, da família e da sociedade.

Em 1993, foi promulgada a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) que também destaca a família como responsável pela proteção social dos seus membros, inclusive de crianças e ado-lescentes. A Política de Assistência Social definiu como princípio a centralidade na família para todas as suas ações, programas, projetos, benefícios e serviços. Mais tarde, em 2005, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) reafirmou a família como foco central, inclusive diferencian-do os níveis de proteção social a partir da situação de vulnerabilidade das famílias.

Nesse sentido, a família como provedora de cuidados aos seus membros, precisa também de cuidados e proteção do Estado. Cabe ao Estado apoiá-las no cumprimento de suas funções de cuidado e socialização de seus membros, buscando promover sua inclusão social e impulsionar à superação das vulnerabilidades existentes nos grupos familiares.

Com relação aos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas também é sig-nificativo o papel da família no acompanhamento da ação socioeducativa. Os programas de execução de medidas devem oferecer condições reais para as famílias participarem ativa e qua-litativamente no processo socioeducativo dos adolescentes, possibilitando o fortalecimento dos vínculos e a inclusão dos adolescentes no ambiente familiar e comunitário. Nesse processo, devem-se identificar ainda as necessidades socioeconômicas e afetivas dos familiares e encami-nhá-los aos programas públicos de assistência social e apoio à família.

3.4 Conceito de justiça e práticas restaurativas

Justiça restaurativa constitui-se num conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucio-nais e sociais motivadores de conflitos e violência. Por meio desse instrumento, os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de modo estruturado, com a participação do ofensor, e, quando houver, da vítima, bem como, das suas famílias e dos demais envolvidos no fato danoso.

A Justiça Restaurativa tem como foco a responsabilização ativa daqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o fato danoso e o empoderamento da comunidade, destacando a necessidade de reparação do dano. A partir dessa concepção, as práticas restaurativas compre-endem um conceito ampliado de justiça, e, assim, transcendem a aplicação meramente judicial de princípios e valores da justiça restaurativa.

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A expressão “práticas restaurativas” se refere, de forma generalizada, às diversas estratégias (judiciais ou não) que se valem da visão, dos valores e dos procedimentos restaurativos, dando a oportunidade aos envolvidos de uma nova abordagem como resposta às infrações e para a resolução de problemas ou conflitos. Portanto, são consideradas práticas alternativas aos méto-dos tradicionais, correcionais e autoritários para se resolver situações de conflitos.

Os valores restaurativos devem ser incorporados e praticados cotidianamente por todos, sem exceção, e são válidos para orientar reunião de qualquer natureza , independente de sua finalidade.

Na Justiça Restaurativa propicia-se um encontro entre as pessoas diretamente envolvidas em uma situação de violência ou conflito, assim como os familiares, amigos e a comunidade. Ela valoriza o diálogo entre as pessoas, criando oportunidades para que envolvidos e interessados conversem e identifiquem suas necessidades não atendidas, a fim de restaurar uma relação de entendimento entre todos. Tem como objetivo buscar soluções pacíficas para conflitos e tensões sociais geradas por violência, crimes ou infrações, por meio de encontros denominados círculos restaurativos.

De acordo com a filosofia da justiça restaurativa, as necessidades das vítimas e o restabele-cimento da paz social são finalidades básicas. É um processo que envolve ativamente a vítima, o agressor e a comunidade para decidir coletivamente como lidar com as circunstâncias decor-rentes do fato que causou ofensa e suas implicações para o futuro, bem como tratar os danos causados à vítima e atender às necessidades que esses danos provocam a ela. Portanto, mais do que reprimir o responsável, este deve reconhecer o sofrimento e reparar o dano, restaurando a vítima.

Esse modelo de justiça critica o caráter meramente repressivo e retributivo do sistema de jus-tiça penal. Ao invés de centrar-se unicamente no ato criminal, no autor e no castigo, a proposta restaurativa investe em um modelo alternativo de atenção ao crime, consistindo em atender a vítima e o dano ocasionado.

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4 DIRETRIZES PEDAGÓGICAS DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO

Neste item reproduzimos as diretrizes pedagógicas do SINASE, constante na Resolução nº119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), para nortear o atendimento desta Fundação, devendo cada Unidade atuar de acordo com:

I. Prevalência da ação socioeducativa sobre os aspectos meramente sancionatórios

As medidas socioeducativas possuem em sua concepção básica uma natureza sancionató-ria, vez que responsabilizam judicialmente os adolescentes, estabelecendo restrições legais e, sobretudo, uma natureza sociopedagógica, haja vista que sua execução está condicionada à garantia de direitos e ao desenvolvimento de ações educativas que visem à formação da cida-dania. Dessa forma, a sua operacionalização se inscreve na perspectiva ético-pedagógica.

II. Projeto pedagógico como ordenador de ação e gestão do atendimento socioeduca-tivo

Os programas devem ter, obrigatoriamente, projeto pedagógico claro e escrito em conso-nância com os princípios do SINASE. O projeto pedagógico deverá conter minimamente: objeti-vos, público-alvo, capacidade, fundamentos teórico-metodológicos, ações/atividades, recursos humanos e financeiros, monitoramento e avaliação de domínio de toda a equipe. Este projeto será orientador na elaboração dos demais documentos institucionais (regimento interno, nor-mas disciplinares, plano individual de atendimento). Sua efetiva e consequente operacionaliza-ção estará condicionada à elaboração do planejamento das ações (mensal, semestral, anual) e consequente monitoramento e avaliação (de processo, impacto e resultado), a ser desenvolvido de modo compartilhado (equipe institucional, adolescentes e famílias).

III. Participação dos adolescentes na construção, no monitoramento e na avaliação das ações socioeducativas

É fundamental que o adolescente ultrapasse a esfera espontânea de apreensão da realidade para chegar à esfera crítica da realidade, assumindo conscientemente seu papel de sujeito. Esse processo de conscientização acontece no ato de ação-reflexão. Portanto, as ações socioedu-cativas devem propiciar concretamente a participação crítica dos adolescentes na elaboração, monitoramento e avaliação das práticas sociais desenvolvidas, possibilitando, assim, o exercício – enquanto sujeitos sociais – da responsabilidade, da liderança e da autoconfiança.

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IV. Respeito à singularidade do adolescente, presença educativa e exemplaridade como condições necessárias na ação socioeducativa.

Fazer-se presente na ação socioeducativa dirigida ao adolescente é aspecto fundamental para a formação de um vínculo. A presença construtiva, solidária, favorável e criativa representa um passo importante para a melhoria da qualidade da relação estabelecida entre educadores e adolescentes, incluindo também a internação provisória. Nesse sentido, a exemplaridade é aspecto fundamental. Educar – particularmente no caso de adolescentes -

consiste em ensinar aquilo que se é. Portanto, toda essa dimensão deve fazer parte da orga-nização das ações do programa de atendimento socioeducativo e na postura dos profissionais, considerando bases éticas, frente às situações do dia-a-dia, contribuindo para uma atitude ci-dadã do adolescente.

A ação socioeducativa deve respeitar as fases de desenvolvimento integral do adolescente – levando em consideração suas potencialidades, sua subjetividade, suas capacidades e suas limitações – garantir a particularização no seu acompanhamento e ter o Plano Individual de Atendimento (PIA) como um instrumento pedagógico fundamental para garantir a equidade no processo socioeducativo.

V. Exigência e compreensão, enquanto elementos primordiais de reconhecimento e respeito ao adolescente durante o atendimento socioeducativo

Exigir dos adolescentes é potencializar suas capacidades e habilidades, é reconhecê-los como sujeitos com potencial para superar suas limitações. No entanto, a compreensão, a orien-tação com clareza deve sempre anteceder a exigência. É preciso conhecer cada adolescente e compreender seu potencial e seu estágio de crescimento pessoal e social. Além disso, devem-se fazer exigências possíveis de serem realizadas pelos adolescentes, respeitando sua condição peculiar e seus direitos.

VI. Diretividade no processo socioeducativo

A diretividade pressupõe a autoridade competente. Técnicos e educadores são os responsá-veis pelo direcionamento das ações, garantindo a participação dos adolescentes e estimulando o diálogo permanente. É vedada qualquer forma de autoritarismo que estabelece arbitraria-mente um único ponto de vista.

VII. Disciplina como meio para a realização da ação socioeducativa

A disciplina deve ser considerada como instrumento norteador do sucesso pedagógico, tor-nando o ambiente socioeducativo um pólo irradiador de cultura e conhecimento, e não ser vis-ta apenas como um instrumento de manutenção da ordem institucional. A questão disciplinar requer acordos definidos na relação entre todos no ambiente socioeducativo (normas claras e definidas) e deve ser meio para a viabilização de um projeto coletivo e individual, percebida como condição para que objetivos compartilhados sejam alcançados. É importante, sempre que possível, envolver os adolescentes na construção das normas disciplinares.

VIII. Dinâmica institucional garantindo a horizontalidade na socialização das informa-ções e dos saberes em equipe multiprofissional

As ações desenvolvidas pela equipe multiprofissional (técnicos e educadores) são diferen-ciadas, e devem se apoiar na construção conjunta do processo socioeducativo de forma res-

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peitosa, democrática e participativa. Para tanto, é necessário garantir uma dinâmica institucio-nal que possibilite a contínua socialização das informações e a construção de saberes entre os educadores e a equipe técnica dos programas de atendimento, evitando-se uma hierarquia de saberes.

IX. Organização espacial e funcional das Unidades de atendimento socioeducativo que garantam possibilidades de desenvolvimento pessoal e social para o adolescente

O espaço físico e sua organização espacial e funcional, as edificações, os materiais e os equi-pamentos utilizados nas Unidades de atendimento socioeducativo devem estar subordinados ao projeto pedagógico, com a finalidade de garantir a melhor forma de circulação, convivência e interação das pessoas no ambiente, pois a concepção pedagógica em momento algum deve ser inviabilizada.

X. Diversidade étnico-racial, de gênero e de orientação sexual norteadora da prática pedagógica

Questões da diversidade cultural, da igualdade étnico-racial, de gênero, de orientação se-xual compõem os fundamentos teórico-metodológicos deste projeto, bem como a discussão e conceituação de desenvolver metodologias que promovam a inclusão desses temas, inter-ligando-os às ações de promoção de saúde, educação, cultura, profissionalização e cidadania na execução das medidas socioeducativas, possibilitando práticas mais tolerantes e inclusivas.

XI. Família e comunidade participando ativamente da experiência socioeducativa

A participação da família, da comunidade e das organizações da sociedade civil voltadas à defesa dos direitos dos adolescentes na ação socioeducativa é parte fundamental deste pro-jeto, pois acredita-se que contribuirão para a consecução dos objetivos da medida aplicada ao adolescente. As práticas sociais oferecem condições reais, por meio de ações e atividades programáticas à participação ativa e qualitativa da família no processo socioeducativo, possi-bilitando o fortalecimento dos vínculos e a inclusão dos adolescentes no ambiente familiar e comunitário. As ações e atividades são programadas a partir da realidade familiar e comunitária dos adolescentes para que em conjunto – programa de atendimento, adolescentes e familiares – possam encontrar respostas e soluções mais aproximadas de suas reais necessidades.

XII. Formação continuada dos atores sociais

A formação continuada dos atores sociais envolvidos no atendimento socioeducativo é fun-damental para a evolução e aperfeiçoamento de práticas sociais ainda muito marcadas por con-dutas assistencialistas e repressoras. Desse modo, a periódica discussão, elaboração interna e coletiva dos vários aspectos que cercam a vida dos adolescentes, bem como o estabelecimento de formas de superação dos entraves que se colocam na prática socioeducativa exigem capaci-tação técnica e humana permanente e contínua considerando, sobretudo, o conteúdo relacio-nado aos direitos humanos. A capacitação e a atualização continuada sobre a temática “Adoles-cente”, bem como as políticas de saúde, de educação, esporte, cultura e lazer, e de segurança pública serão fomentadas dentro da Fundação por meio da Escola Socioeducativa.

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4.1 Eixos estratégicos do atendimento

4.1.1 SaúdeA saúde faz parte do rol de direitos fundamentais de responsabilidade do Estado, da famí-

lia e da comunidade, devendo estes garanti-la com absoluta prioridade para as crianças e os adolescentes: “a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (BRASIL, art. 7º, 1990). Portanto, as ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde devem ser efetivados de maneira igualitária, não admitindo qualquer tipo de pré-conceito para seu usufruto.

No contexto da ação socioeducativa, as demandas no campo da saúde devem ser comparti-lhadas com as Secretarias de Saúde Municipal e Estadual em cumprimento ao que determina a Portaria Interministerial MS/SEDH/SPM nº 1.426 de 14/07/2004 e a Portaria de Atenção à Saúde nº 340 de 14/07/2004 que estabelecem normas para operacionalização de saúde dos adoles-centes em conflito com a lei, em regime de internação e internação provisória.

É imprescindível, ainda, a garantia do acesso e tratamento de qualidade, no âmbito ambu-latorial de saúde mental, dos centros de atendimento psicossocial e outros espaços da rede de atenção à saúde, conforme a lei de nº10216/2001, para que as ações previstas neste Projeto possam se efetivar, considerando que no contexto das Unidades constata-se um número signi-ficativo de adolescentes e jovens que apresentam problemas de saúde, sendo os mais citados:

Doenças infecto-contagiosas e parasitárias, sendo mais frequentes a escabiose;

Doenças sexualmente transmissíveis;

Distúrbios psicossociais (de aprendizagem, baixa autoestima);

Problemas odontológicos.

É importante, pois, promover espaços que propiciem a participação e trocas de experiências, além de garantir atendimento de casos mais complexos por meio da rede de referência muni-cipal e estadual de saúde.

Além dos atendimentos médicos, odontológicos e campanhas de vacinação, mensalmente os adolescentes deverão participar de oficinas temáticas que favoreçam a vivência, a discussão e a reflexão coletiva sobre os seguintes temas:

Corpo e auto-cuidado;

Autoestima e auto-conhecimento;

Relações de gênero;

Relações étnico-raciais;

Cultura da paz;

Relacionamentos sociais: família, escola, turma, namoro;

Prevenção ao abuso de álcool, tabaco e outras drogas;

Violência doméstica e social, com recorte de gênero;

Violência e abuso sexual, com recorte de gênero;

Alimentação, nutrição e modos de vida saudável;

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Desenvolvimento de habilidades: negociação, comunicação, resolução de confli-tos, tomada de decisão.

Prevenção e tratamento de DST e AIDS,

Saúde sexual e reprodutiva, bucal e mental.

O desenvolvimento dessas atividades observará também o calendário local, regional e na-cional das diversas instituições envolvidas na promoção, proteção e recuperação da saúde dos adolescentes.

Convém especificar que a atenção à saúde mental dos adolescentes se constitui uma priori-dade dada as condições de envolvimento de sua maioria com substâncias psicoativas (álcool, tabagismo, maconha, crack e derivações).

4.1.2 Educação

O conceito de educação está para além da instituição escolar, a qual está definida como edu-cação formal. Entretanto, uma visão ampliada de educação abrange dois aspectos: o informal e o formal ou ensino. Para Libâneo apud Aranha (2000, p. 51), “a educação é um conceito gené-rico, mais amplo, que supõe o processo de desenvolvimento integral do homem, isto é, sua ca-pacidade física, intelectual e moral [...]”. Isso significa dizer que estão imbricadas as experiências vivenciadas na família e na sociedade pelo indivíduo.

Paralelamente, a educação formal ou ensino assume uma característica institucionalizada que pressupõe planejamento. Tal sistematização, no decorrer da história da humanidade, incor-porou várias correntes ou filosofias do modo de ensinar. Para este trabalho, pretende-se deixar clara a adoção de uma concepção progressista, com tendência histórico-crítica de educação, com raízes na lógica dialética. Entretanto, alguns nomes que enveredaram pelas origens do construtivismo, a exemplo do soviético Vygotsky, bem como da pedagogia de tendência liber-tadora, deixada por Paulo Freire, também nos representem em determinados momentos.

Partindo desses pressupostos de educação formal e informal é que pretendemos desenvol-ver a socioeducação. O termo, datado historicamente, passou a existir no ordenamento jurídico brasileiro após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, na década de 1990. O conceito é utilizado para designar o atendimento institucionalizado de adolescentes em confli-to com a lei, seja em privação ou restrição de liberdade ou, ainda, no cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto.

Ainda que a educação e a socioeducação tratadas aqui sejam duas formas institucionalizadas de educar, a primeira se compromete com a transmissão do saber acumulado e sistematizado pela humanidade e a segunda se compromete com a educação mais ampla do adolescente em conflitualidade. Para darmos materialidade ao termo socioeducação e, com vistas a compre-endermos o que é essencial para que a prática socioeducativa se efetive, analisamos o termo a partir de autores que a tem como objeto de estudo. Para Costa apud Pedrossian (2010, p.131), “[...] assim como existe a educação profissional, deve existir socioeducação no Brasil, cuja mis-são é preparar os jovens para o convívio social, de modo que não assimilem aquelas regras de convivência consideradas como crime ou contravenção no Código penal de Adultos”.

O termo socioeducação, portanto, passou a ser utilizado para definir o modelo de educação realizado nas instituições de atendimento socioeducativo compreendendo a responsabilidade de educar socialmente o adolescente em cumprimento de medida socioeducativa, o que signi-fica que a sua intencionalidade está para além do ensino curricular;

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Em razão da singularidade do público atendido por esta Fundação, entende-se por educação o ato de investir na humanidade do adolescente a partir de um atendimento também huma-nizado e, sobretudo, acredita-se na possibilidade de transformação do educando por meio da ação educativa baseada nos princípios da cooperação, da presença e solidariedade humana.

Acredita-se que os problemas que o adolescente possui em âmbito familiar, comunitário, social, econômico, escolar ou psicológico influenciam na sua resposta em relação ao cumpri-mento da medida. Nessa perspectiva, as equipes multiprofissionais que acompanham os ado-lescentes em conflito com a lei atuam de maneira a minimizar os conflitos e problemas que podem aumentar a reincidência no cometimento de atos infracionais.

Sob essa ótica, a educação não se resume a uma relação específica entre o socioeducador e o socioeducando. A diferença que se faz numa atuação concreta entre aqueles que institucional-mente estão como educadores e aqueles que institucionalmente estão como educandos é que os educadores devem ter conhecimentos específicos e aprofundados sobre concepções, teorias e metodologias que subsidiem o trabalho educativo nas Unidades de atendimento.

Sendo assim, a prática pedagógica não pode prescindir da importância do mediador ou pro-fessor enfatizada por Vygotsky e Leontiev apud Mello (1999) e do conceito de presença educa-tiva, evidenciada por Costa (2001). Sobre a mediação do conhecimento, Vygotsky e Leontiev apud Mello (1999, p.19) comentam:

Para a concepção materialista - concepção agora confirmada pelas pesquisas no campo das neurociências - o desenvolvimento da inteligência e da personalidade é externamente motivado. As características inatas do indivíduo são condição essencial para seu desen-volvimento, mas não suficientes, uma vez que não têm força motora em relação a esse [...] Essa relação aprendizagem-desenvolvimento nos leva a repensar o papel da educação. Se, numa perspectiva naturalizante, o papel da educação é facilitar o desenvolvimento de ap-tidões que estão naturalmente dadas, numa perspectiva materialista, o papel da educação é garantir a criação de aptidões que são inicialmente externas aos indivíduos, dadas como possibilidades incorporadas nos objetos da cultura. Para garantir a criação de aptidões nas novas gerações é necessário que as condições de vida e educação possibilitem o acesso dessas novas gerações à cultura historicamente acumulada.

Portanto, nessa perspectiva,

O educador - os pais, a professora, as gerações adultas, os parceiros mais experientes - têm papel essencial nesse processo, pois as aptidões, as capacidades, as habilidades de que cada novo ser humano precisa reproduzir para si estão, nas palavras de Leontiev (1978a, p.272), "apenas postas" nos objetos da cultura. "Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, os 'órgãos da sua individualidade' (Marx, 1962), a criança deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através dos outros homens." (op.cit,idem) (MELLO, 1999, p. 20)

A presença educativa da qual tratamos corresponde à proposição de Costa (2001, p.27), cuja ideia de transformação de comportamentos e de aprendizagem se dá em meio à mediação de alguém que supõe confiança, respeito e exemplo educativo. Para esse autor, “fazer-se presença construtiva na vida de um adolescente em dificuldade pessoal e social é, pois, a primeira e a mais primordial das tarefas de um educador que aspire assumir um papel realmente emancipa-dor [...]” (Costa, op. cit, 2001).

Nesse sentido, o adolescente em situação de conflito com a lei é um sujeito social, historica-mente produzido e determinado no bojo dessa sociedade capitalista. Ele é também, espelho e semelhança das relações capitalistas estabelecidas nessa sociedade em que as instituições

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socioeducativas se configuram em aparelhos do Estado responsáveis por conter o ir e vir dos adolescentes que violaram criminalmente a norma social. Em contrapartida, são, também, su-jeitos de direitos em quaisquer condições.

Assim sendo, no que se refere ao direito fundamental da educação formal para adolescentes que cometeram ato infracional, deter-nos-emos à Lei n° 8069/1990, ECA; Lei n° 9394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB); e Lei 12.594/2012, que institui o SINASE.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, sem fazer distinção de quaisquer situações enfati-za categoricamente, que “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1990, art. 53), assegurando-lhes, ainda, igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 4º, esclarece competências para com o referido direito fundamental, afirmando que “o dever do Estado com educação es-colar pública será efetivado mediante a garantia de Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria, bem como universalização do Ensino Médio gratuito” (BRASIL, 1996). Vale ressaltar que o público das medidas socioeducativas está contemplado na parcela de adolescentes que está fora da faixa-etária regular de escolari-dade.

Por fim, o SINASE prevê, como primeiro requisito específico para a inscrição de programas de regime de semiliberdade ou internação “a comprovação da existência de estabelecimento edu-cacional com instalações adequadas e em conformidade com as normas de referência (BRASIL, 2012, art. 15, I);

Diante do exposto, tem-se a clareza de que cabe ao Estado oferecer as condições para a inserção do socioeducando na escola, considerando sua especificidade, garantindo seu acesso à educação escolar e desenvolvendo estratégias que favoreçam a real aprendizagem e perma-nência em sala de aula.

4.1.2.1 Educação Básica

De acordo com a LDB, a educação básica é formada pela educação infantil, ensino funda-mental e ensino médio, além das modalidades de ensino. Assim, em meio ao público de ado-lescentes em situação de conflito com a lei, a educação escolar aos quais se destina perpassa os níveis Fundamental e Médio.

Para tais níveis de ensino, o artigo 26 da já citada LDB prevê que:

Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (BRASIL, 1996).

Partindo desse pressuposto, há que se considerar a organização dessa base nacional comum curricular3 , a qual deve ser contemplada em qualquer situação de educação escolar e, portanto, nas unidades de atendimento socioeducativo.

3 O Conselho Nacional de Educação emitiu a Resolução CNE/CP nº 2, de 22 de dezembro de 2017 que institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Infantil e ao Ensino Fundamental. A Base do Ensino Médio é objeto de elaboração e deliberação posteriores.

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4.1.2.2 Ensino Fundamental

Dentre os objetivos para o Ensino Fundamental, descritos na LDB, tem-se, conforme artigo 32:

desenvolver a capacidade do aluno para aprender, tendo como meios bási-cos o domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

compreender o ambiente natural e social, o sistema político, a tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

desenvolver a capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

fortalecer os vínculos de família, os laços de solidariedade humana e de to-lerância recíproca em que se assenta a vida social.

A LDB observa que no currículo do Ensino Fundamental deve estar incluso, obrigatoriamen-te, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz o Esta-tuto da Criança e do Adolescente.

Em conformidade e a partir do direcionamento legal, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) para o Ensino Fundamental, os quais constituem orientação curricular, também descre-vem objetivos para esse nível de ensino. Seguem alguns deles:

compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, ati-tudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;

posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de con-fiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-rela-ção pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhe-cimento e no exercício da cidadania;

utilizar as diferentes linguagens — verbal, musical, matemática, gráfica, plás-tica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação.

Os objetivos acima mencionados devem, por conseguinte, estar contemplados nas diferen-tes áreas de conhecimento de forma a considerar, conforme os PCNs (1998):

obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o co-nhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especial-mente do Brasil;

o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos;

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a educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componen-te curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos;

o ensino da história do Brasil levará em conta as contribuições das diferen-tes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matri-zes indígena, africana e européia;

na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da ins-tituição.

4.1.2.3 Ensino Médio

Quanto ao Ensino Médio, também há objetivos próprios para essa etapa final da Educação Básica, previstos na LDB em seu artigo 35. Selecionamos os seguintes:

consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no ensino funda-mental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

preparar-se para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condi-ções de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

aprimorar-se como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desen-volvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

compreender os fundamentos científico-tecnológicos dos processos pro-dutivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

Diretrizes básicas também foram registradas, na lei em questão, para essa etapa:

destacar-se-á a educação tecnológica básica, a compreensão do significa-do da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania;

será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição;

serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio;

A exemplo do Ensino Fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2000) também distribuem os objetivos amparados legalmente nas seguintes áreas de conhecimento:

Linguagens e códigos;

Ciências da natureza, Matemática;

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Ciências humanas e suas tecnologias.

A área de Linguagens e códigos abrange Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física, Arte e Informática; a área de Ciências da natureza e Matemática é composta por Biologia, Física, Química e Matemática; e a área de Ciências humanas é formada por História, Geografia, Sociologia, Antropologia e Política e Filosofia. Todos esses componentes possuem competências e habilidades específicas a serem desenvolvidas pelos alunos do Ensino Médio.

Entretanto, faz-se necessário comentar a necessidade de uma proposta mais adequada ou específica à realidade das medidas socioeducativas, inclusive em nível nacional, haja vista que, até o momento, uma diretriz nacional para a educação em medidas socioeducativas não se configurou no país, ainda que exista um movimento nacional, embora tardio, para a construção desse documento.

Tal contexto se estende ao estado do Maranhão, o qual, diferente de alguns estados da fe-deração, também ainda não possui documento oficial que regulamente a educação formal nas unidades de atendimento socioeducativo. Em contrapartida, essa situação já vem sendo levan-tada pela FUNAC junto à Secretaria Estadual de Educação, bem como ao Conselho Estadual de Educação para a legitimação da educação formal citada.

Um avanço significativo da escolarização foi a criação, no âmbito da Secretaria de Estado da Educação, da Coordenação de Medidas Socioeducativas que, entre outras atribuições presta acompanhamento às Unidades e propiciou o seletivo para professores nas medidas socioedu-cativas. A participação dos adolescentes em mostras científicas, apresentações culturais, expo-sição de telas e objetos confeccionados pelos adolescentes em shopping e feiras, debates sobre temas diversos, oficinas de artesanato, aulas de percussão, capoeira e hip hop também são des-taques no processo socioeducativo para a construção de novos projetos de vida desassociados da prática de ato infracional.

4.1.2.4 Educação de Jovens e Adultos – EJA

Ao se considerar o público de adolescentes em situação de conflito com a lei, há uma reali-dade de fácil e lamentável constatação. Trata-se da maioria estar fora da faixa-etária regular de escolaridade. Isso nos remete à adoção da modalidade educacional, disponível pelos sistemas de ensino, que mais se aproxima dessa realidade, a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Sobre essa modalidade, a LDB, em seu artigo 37, destaca que deverá ser destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental, na idade própria.

O texto da legislação prevê, que devem ser consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. Os exames aos quais se refere deverão ser realizados no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos, e no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. No exame, devem ser considerados também os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais (BRASIL, 1996, art. 38).

Para o desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos, e seguindo as Diretrizes Nacionais para a EJA, o sistema estadual de ensino, que nos oferta tal modalidade, dispõe de uma propos-ta curricular que está alicerçada nas funções reparadora, equalizadora e permanente para o pú-blico atendido. Defende, ainda, os seguintes princípios: formação crítico-reflexiva e emancipa-tória; integração da escola no espaço e vivência cultural; disciplinaridade/interdisciplinaridade; letramento; e prática escolar democrática, compartilhada, cooperativa e dialógica.

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Sendo assim, para o 1º e 2º segmentos do Ensino Fundamental, tem como áreas de conhe-cimento:

Quadro 1 - Organização da EJA Ensino Fundamental no Maranhão

Estes segmentos possuem os seguintes quadros curriculares:

Quadro 2 – Quadro curriculares

Estes segmentos devem cumprir 800 horas de acordo com a realidade da escola.

Para o Ensino Médio, tem-se como áreas de conhecimento e disciplinas:

Quadro 3 - Organização da EJA Ensino Médio no Maranhão

ÁREAS DE CONHECIMENTO 1ª E 2ª ETAPAS ÁREAS DE CONHECIMENTO 3ª E 4ª ETAPAS Língua Portuguesa Língua Portuguesa

Língua Estrangeira Educação Física Arte

Matemática Matemática Conhecimentos da Sociedade e da Natureza História

Geografia Ciências Ensino Religioso Filosofia

Componentes curriculares Etapas 1ª etapa 2ª etapa 3ª etapa 4ª etapa

CHS CHT CHS CHT CHS CHT CHS CHT Base

Comum

Língua Portuguesa 07 280 07 280 04 160 04 160 Geografia - - - - 03 120 03 120 História - - - - 03 120 03 120 Ciências - - - - 03 120 03 120 Estudo da Sociedade e Natureza 06 240 06 240 - - - - Matemática 07 280 07 280 04 160 04 160 Arte - - - - 01 40 - - Ensino Religioso - - - - 01 01 40 40

Parte Diversifi-cadada

Filosofia

-

-

-

-

-

-

01

40 Língua Estrangeira Moderna - - - - 01 40 01 40

Total 800 800 800 800

ÁREAS DE CONHECIMENTO 1ª E 2ª ETAPAS ÁREAS DE CONHECIMENTO 3ª E 4ª ETAPAS Linguagens Língua Portuguesa

Língua Estrangeira Moderna (Inglês e ou Espanhol) Educação Física Arte

Ciências da Natureza Biologia, Física e Química Ciências Humanas

História Geografia Sociologia Filosofia

Matemática Matemática

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Para esta modalidade tem-se a seguinte Matriz Curricular:

Quadro 4 – Quadra da Matriz Curricular

Nesse sentido deve-se cumprir 200 dias letivos, sendo 40 horas semanais e cinco dias por semana.

Transversalidade e Interdisciplinaridade

Outra consideração, não menos importante, corresponde à concepção de transversalidade, também prevista nos PCNs. Esse princípio contempla, significativamente, os adolescentes que cumprem medida socioeducativa, haja vista que a prática educativa a ser desenvolvida nas Uni-dades deve estar pautada em valores que perpassem todas as áreas de conhecimento.

Sobre a transversalidade, tem-se que:

Por serem questões sociais, os Temas Transversais têm natureza diferente das áreas con-vencionais. Tratam de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano. São deba-tidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações macrosso-ciais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conte-údos relativos a essas duas dimensões (BRASIL, 1998, p. 26)

Nessa perspectiva, temas transversais como Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saú-de, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo, bem como os descritos no SINASE e outros que se fizerem necessários, precisam ser discutidos e experienciados em caráter educativo pelos adolescentes em questão.

O princípio da interdisciplinaridade também deve estar subjacente às ações pedagógicas pretendidas, o que corresponde a uma prática coesa, não fragmentada, que reafirma a impor-

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tância da articulação não apenas das áreas de conhecimento, mas das atividades planejadas pelos vários profissionais das Unidades e, portanto, de todos os sujeitos envolvidos.

A interdisciplinaridade também é uma prerrogativa dos parâmetros para o Sistema Nacional Socioeducativo, para os quais deve-se “desenvolver os conteúdos escolares, artísticos, culturais e ocupacionais de maneira interdisciplinar no atendimento socioeducativo” (BRASIL, 2006). Já para Fazenda (2008, p.41)

Tanto quanto o agir, também o saber não pode se dar na fragmentação: precisa acontecer da perspectiva da totalidade [...] Rompidas as fronteiras entre as disciplinas, mediações do saber, na teoria e na pesquisa, impõe-se considerar que a interdisciplinaridade é condição também da prática social.

Educação escolar nas Unidades de atendimento

Para que a educação escolar se efetive nas unidades de atendimento há que se manter uma permanente articulação com as Secretarias de Educação Estadual e Municipal para a oferta do ensino fundamental, médio e modalidades já existentes, bem como para a discussão de moda-lidades alternativas, levando em consideração a idade, as condições de desenvolvimentos dos adolescentes e jovens envolvidos em ato infracional e a cultura que lhes é inerente. Ressalta-se, ainda, que àqueles que não se adequarem ao perfil de aluno a ser contemplado com a EJA de-verá ser garantida a frequência ao ensino regular.

Sendo assim, a educação formal será ofertada aos adolescentes em situação de conflito com a lei conforme preconiza o SINASE. Para isso, as atividades desenvolvidas serão de responsabi-lidade compartilhada entre FUNAC e Secretarias de Educação, praticando o que chamamos de incompletude institucional.

A respeito da incompletude institucional, o SINASE (2006, p.49) caracteriza-a como “a utili-zação do máximo possível de serviços na comunidade, responsabilizando as políticas setoriais no atendimento aos adolescentes”, o que também se fundamenta no art. 86 do ECA, para o qual “a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.

Faz-se necessário comentar que a especificidade de cada medida também deverá ser pensa-da e detalhada nas propostas pedagógicas de cada uma delas, bem como firmada em convênio ou legislação específica para a educação escolar nas Unidades de atendimento junto às Secre-tarias de Educação.

Nesse sentido, acredita-se que uma proposta metodológica e curricular peculiar para o pú-blico de adolescentes em situação de conflito com a lei deve ser pensada em comum acordo com os sistemas de ensino e com o Conselho Estadual de Educação, a fim de qualificar a educa-ção escolar desse público.

No que se refere à medida socioeducativa de internação, a escolarização acontecerá no es-paço das Unidades, embora se considere o que o parâmetro do SINASE afirma quando se deve “estabelecer uma progressividade para a realização de atividades externas (SINASE, 2006)”. Para isso, deverão ser observados, no adolescente, os seguintes critérios para escolarização externa: fase de atendimento, comportamento e avaliação minuciosa realizada por toda a equipe multi-profissional que o acompanha e comunicação ao juizado responsável. Além disso, será analisa-da a logística de segurança para a efetivação das saídas dos adolescentes.

Já a atividade escolar destinada aos adolescentes em cumprimento de Semiliberdade deverá

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acontecer, exclusivamente, em escolas do entorno da Unidade, haja vista a natureza da medida, utilizando-se os recursos necessários para uma inserção escolar eficaz.

Para a medida provisória, o tempo de internação é fundamental para a definição de proce-dimentos metodológicos diferenciados. Sendo assim, questões como currículo, documentação escolar, carga-horária, dentre outros, devem ser pensados de forma específica junto aos siste-mas de ensino a fim de validar e legitimar a educação escolar dessa medida. Portanto, como definido na LDB, a EJA e os exames para certificação do Ensino Fundamental e Ensino Médio constituem propostas que, atualmente, devem contemplar, também, os adolescentes da medi-da cautelar.

As Unidades de internação e internação provisória, por sua vez, disponibilizarão de espaço para funcionamento das salas de aula e se responsabilizarão pela solicitação das matrículas à escola; solicitação, aos pais e/ou responsáveis, de documentos necessários para compor o dos-siê escolar; formação das turmas, observando critérios de segurança; e material escolar básico quando não for disponibilizado para os determinados níveis ou modalidade de ensino pelos sistemas educacionais aos quais se vinculam.

No que diz respeito à qualidade do ensino, é imprescindível a realização periódica de reu-niões sistemáticas entre sistema de educação, escola vinculada e Unidades a fim de que sejam discutidos: proposta pedagógica, política adotada pela Secretaria de Educação responsável, planejamento, avaliação da comunidade escolar, procedimentos a serem adotados pelos en-volvidos na ação educativa, formação e participação de representantes dos adolescentes e de toda a equipe educativa em conselho escolar etc.

No tocante aos conteúdos a serem executados, estes deverão estar em acordo com as deter-minações nacionais para cada nível de ensino, dentre elas os Parâmetros Curriculares Nacionais e demais Diretrizes Nacionais, além da Proposta Estadual ou Municipal de Educação correspon-dente a cada nível ou modalidade. Ressalta-se que o seguimento de tais referenciais não exclui a consideração da realidade exposta pelo público ao qual se destina o presente projeto, de-vendo ser construídas as adequações sob forma de registro documental, seguidas das devidas regulamentações legais.

Quanto aos profissionais da educação que adentrarão ao sistema socioeducativo, estes de-verão estar vinculados às Secretarias de Educação, lotados, por formação específica a cada com-ponente curricular, em escolas próximas às Unidades ou nas próprias Unidades, havendo anexo ou escola regulamentados. Tal procedimento deve ser adotado inclusive para a internação pro-visória.

4.1.3 Profissionalização

Conforme Lei Federal 8.069/90 (ECA), em seu artigo 69, capítulo V, do título II, “O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observado os seguintes aspectos”:

I - Respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;

II - Capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

A consolidação de parcerias e/ou a revitalização dos espaços existentes nas Unidades de atendimento da FUNAC é de suma importância para a promoção da aprendizagem e da for-mação profissional, com o intuito de minimizar os casos de reincidências e contribuir para o processo de socialização/ressocialização de adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa. Portanto, a profissionalização é, sobretudo, um direito a ser garantido e efetiva-

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do com atenção da família, da sociedade e do poder público. É o que referenda a Constituição Federal, Capítulo VII, em seu Art. 227 e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

É de competência da Coordenação de Programas Socioeducativos articular, viabilizar, acom-panhar e monitorar as atividades pertinentes à execução do processo de capacitação em cursos de iniciação e qualificação profissional desses adolescentes e familiares, mas em conjunto com as Unidades de atendimento e instituições parceiras, com foco na inserção no mercado produ-tivo.

Assim, esta proposta justifica-se pelo fato de que a educação profissional requer, além do domínio operacional, a compreensão global do processo produtivo, a valorização da cultura do trabalho e o desenvolvimento de um pensar crítico capaz de orientar desempenhos no mundo do trabalho em constante mutação e permanente desenvolvimento.

A execução das ações de qualificação profissional efetivar-se-ão por meio de parcerias com instituições capacitadoras e certificadoras, as quais desenvolverão metodologias adequadas e apropriadas a jovens/adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.

Cabe ressaltar que essa proposta possui caráter extensivo a todos os adolescentes atendidos por esta Fundação, em cumprimento de medidas socioeducativas restritivas e privativas de li-berdade, mediante a participação em oficinas, cursos profissionalizantes, palestras formativas e informativas, com vista a representar uma possibilidade de conquista de sua autonomia por meio da inserção no mundo do trabalho, à mudança de conduta e novos rumos de vida.

Deste modo, a presente proposta consiste num programa de qualificação profissional capaz de atender aos adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas de priva-ção e restrição de liberdade, visando o desenvolvimento de competências e habilidades, bem como a sua inserção no mundo produtivo, da seguinte forma:

Garantindo a profissionalização dentro das Unidades e em parceiras, assessorando e mo-nitorando as Unidades em regime de privação e restrição de liberdade, na oferta de cursos, oficinas e palestra pautada na orientação para o trabalho educativo;

Oportunizando ao adolescente em conflito com a lei uma experiência que agregue valores ao seu projeto de vida laboral de forma cidadã.

O público da profissionalização são os adolescentes/jovens na faixa etária de 16 (dezesseis anos completos) a 21 (vinte e um anos incompletos) em cumprimento de medida socioeducati-va privativa e restritiva de liberdade, bem como daqueles que passarem pela medida acautela-tória que tiver interesse nas ações profissionalizantes oferecidas pela Fundação.

O procedimento metodológico desta ação visa possibilitar aos adolescentes vivenciar um processo de aprendizagem dinâmico, realista e sistemático no sentido de tornar o jovem mais capaz de atuar no mercado em condições de igualdade.

Habilidades Básicas

Serão desenvolvidas as habilidades e valores que favoreçam maior compreensão dos conhe-cimentos teóricos/práticos, viabilizando a formação integral dos adolescentes como cidadão crítico e competitivo.

Habilidades Específicas

Serão desenvolvidas atividades teórico-práticas de cada área especifica, com foco no merca-do produtivo.

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Estratégia de Execução

O processo pedagógico e formativo dar-se-á fundamentalmente por meio de estratégias que propiciem a celebração de convênios com instituições governamentais e não governamentais, com as seguintes etapas:

Reunião técnica com representantes das instituições para discussão e definição dos cursos;

Celebração de convênios entre a Fundação e as instituições;

Os cursos serão oferecidos nos espaços físicos das instituições parceiras e/ou nas oficinas de iniciação profissional da Fundação;

Reunião sistemática com coordenação técnica das Unidades de atendimento, CPSE e Di-reção Técnica da Funac e representante das instituições parceiras para avaliação e alinhamento das ações previstas;

Serão desenvolvidas mensalmente oficinas temáticas, as quais abordarão temas diversos conforme sugestão prévia da coordenação pedagógica das Unidades, quando se procederá às ações em apoio às equipes locais;

Garantir a organização dos cursos com turmas compostas por 12 adolescentes/jovens;

Considerar o interesse e perfil dos adolescentes;

Cumprimento de uma carga horária mínima de 45horas /aula destinada a curso de inicia-ção profissional;

Sensibilização dos parceiros e instrutores quanto ao perfil do público atendido;

Certificação para os participantes que obtiverem no mínimo 85% de frequência nos cur-sos/ emitido pela instituição executora;

Acompanhar e monitorar o processo sociopedagógico dos adolescentes durante os cur-sos.

Os cursos de iniciação profissional têm uma grade curricular pré-estabelecida no que tange as habilidades básicas e de gestão, além da grade estabelecida pelas instituições parceiras.

4.1.4 Convivência Familiar e Comunitária

O Estatuto da Criança e do Adolescente inaugurou a doutrina da proteção integral e da prio-ridade absoluta, rompendo com o antigo Código de Menores e com a doutrina da situação irre-gular. Essa conquista é resultante de um processo de mudanças imprimida pela indignação de parcelas da sociedade pela situação de vulnerabilidade e de negação de direitos que permeava a realidade de crianças e adolescentes, mais destacadamente aqueles que viviam em situação de institucionalização ou em situação de rua.

O ECA reafirma, no seu 4º artigo, o que está disposto na Constituição Federal de 1988, no artigo 227:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público, assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1990).

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Com essas mudanças foi ampliado o compromisso e a responsabilidade do Estado e da So-ciedade Civil para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Uma dessas garantias diz respeito ao Sistema Socioeducativo voltado para adolescentes autores de atos infracionais, as-segurando a eles oportunidade de reconstrução do seu processo de desenvolvimento e de pro-jetos de vida.

Em 1993 foi promulgada a Lei Orgânica de Assistência Social) que também destaca a família como responsável pela proteção social dos seus membros, inclusive de crianças e adolescentes. A Política de Assistência Social definiu como princípio a centralidade na família para todas as suas ações, programas, projetos, benefícios e serviços. Em 2005, o Sistema Único de Assistência Social reafirmou a família como foco central, inclusive diferenciando os níveis de proteção social a partir da situação de vulnerabilidade das famílias

Um marco fundamental das políticas públicas brasileiras voltadas para o público infanto-ju-venil foi o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do Ado-lescentes a Convivência Familiar e Comunitária PNCFC, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), aprovado em 2006.

O Plano reconhece a importância da proteção integral e da indissociabilidade do desenvolvi-mento da criança e do adolescente junto à família e à comunidade, rompendo com a cultura da institucionalização de crianças e adolescentes ainda presentes no Brasil.

O SINASE define como um dos parâmetros socioeducativos o eixo ligado à abordagem fami-liar e comunitária, em consonância com o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitá-ria. A abordagem familiar e comunitária definida no SINASE deve orientar todas as organizações que executam as medidas socioeducativas, tanto em meio aberto quanto em meio fechado. Nessa direção, o cumprimento das medidas socioeducativas dependerá do Plano Individual de Atendimento (PIA) como instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem de-senvolvidas com o adolescente, que deverá contemplar a participação efetiva deste e de sua família, representada por seus pais ou responsável.

A família é assumida como um elemento importante no processo socioeducativo, pois par-te-se do entendimento que é o primeiro grupo de mediação do indivíduo com o meio social. Deve ser o espaço privilegiado de acolhida e de defesa da criança e adolescente e ponto de apoio consistente para dar continuidade ao processo pós-cumprimento de medida. Portanto, faz-se fundamental o investimento e articulação de políticas sociais de atendimento e fortaleci-mento das famílias, que muitas vezes são submetidas a condições de ausência a direitos sociais básicos em seus territórios e a uma série de problemáticas relacionadas a essa precarização, como alcoolismo, violência doméstica, abuso e maus tratos da população infanto juvenil, agra-vam situações sociais formando um cenário preocupante sobre as famílias.

A FUNAC, no âmbito da execução das medidas socioeducativas, deve garantir o atendimen-to às famílias dos adolescentes estruturado em conceitos e métodos que assegurem a qualifica-ção das relações afetivas, das condições de sobrevivência e do acesso às políticas públicas dos integrantes do núcleo familiar, visando seu fortalecimento.

Deste modo, a presente proposta tem por objetivo geral viabilizar a inclusão e envolvimento das famílias no processo socioeducativo dos adolescentes, potencializando o seu acesso às polí-ticas públicas de forma a propiciar condições para o exercício de sua função. Para cumprimento deste objetivo, visa-se:

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Atendimento sistemático às famílias dos adolescentes favorecendo a sua presença positi-va junto aos filhos, possibilitando o fortalecimento dos vínculos familiares e reinserção familiar e comunitária.

Garantir que o trabalho com famílias seja realizado de forma articulada, no âmbito institu-cional, entre os profissionais e as diversas organizações do Sistema de Garantia de Direitos, na perspectiva da defesa dos direitos das famílias e dos adolescentes.

Para tanto, adota-se os seguintes princípios de trabalho com famílias:

Considerar a inclusão e participação da família no atendimento socioeducativo;

Garantir a participação das famílias na elaboração e execução do Plano Individual de Aten-dimento do Adolescente;

Valorizar a família como sujeito de direitos, considerando os aspectos socioeconômicos e culturais, suas diversidades territoriais e locais, assim como a particularidade de cada família na definição das ações do atendimento socioeducativo;

Desenvolver-se numa dimensão educativa, de forma sistemática e contínua, na perspecti-va do exercício da cidadania e da garantia de direitos;

Potencializar seu protagonismo social, respeitando a autonomia da família na definição das ações e na perspectiva de favorecer a sua inserção nos espaços de participação política, na direção da construção de sua cidadania;

Fortalecer o núcleo familiar por meio do resgate e a (re)construção dos laços afetivos;

A intervenção no trabalho com família deve identificar os limites e os recursos potenciais na família, da rede de parentesco, da comunidade e as experiências vividas nas sucessivas ge-rações.

A estratégia metodológica deve buscar um trabalho em rede, na compreensão de que a mu-dança de realidades locais implica na produção de iniciativas articuladas e abrangentes que envolvam diferentes atores em sua construção. Assim, o trabalho deve ser baseado na moda-lidade de atendimento familiar individual: acolhimento, acompanhamento psicológico, social e jurídico; e no atendimento em grupos multifamiliares: oficina de geração de renda, grupo de acolhimento de pai/familiares e grupo multifamiliar para pais de adolescentes em conflito com a lei.

O grupo multifamiliar oferece aos familiares a possibilidade de compartilharem suas vivên-cias de êxitos e fracassos, ou reconhecerem seus próprios recursos, fazendo-os se sentirem mais competentes para cuidar de si mesmos e solucionar suas dificuldades com os filhos, diminuindo o distanciamento na relação entre eles através do restabelecimento e resgate da confiança e do diálogo entre pais e filhos.

É necessário que utilizemos metodologias baseadas no diálogo, na reflexão e na participação ativa das famílias. A metodologia favorável aos nossos objetivos de resgatar as competências das famílias deverá ser: participativa, integradora, construtora do conhecimento, promotora da reflexão, facilitadora do autoconhecimento e do desenvolvimento da autoestima, facilitadora da autonomia e da responsabilidade e promotora da tolerância e da paz.

Por fim, o atendimento familiar deve ser desenvolvido a partir de conceitos ampliados de família ou de arranjos familiares, nas modalidades individual e grupal. Também através de mé-todos que primem pela qualificação das relações afetivas, das condições de sobrevivência e do acesso às políticas públicas pelos integrantes do núcleo familiar, além da realização das visitas

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domiciliares, de atividades de integração para as famílias dos adolescentes, inclusive os de ou-tros municípios, e do trabalho com temáticas relevantes e necessárias (FUNAC, 2012).

Considerando que na Política de Assistência Social o público usuário são cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, atendidos através dos equipamen-tos CRAS e CREAS faz- se necessários a integração com esses equipamentos a fim de garantir o atendimento integral à família.

4.1.5 Cultura, Esporte e Lazer

A cultura, esporte e lazer se integram ao projeto pedagógico na perspectiva do atendimento integral aos educandos pela sua natureza educativa estimuladora, indutora e promotora de hábitos e padrões que propiciem a criatividade, participação, o respeito às diferenças, a amiza-de e inclusão social. Constituem-se espaços de construção coletiva de um processo educativo, pois são um espaço privilegiado para expressão dos sentimentos e emoções com a intenção de promoção e recuperação da saúde física e mental, além de ensino de valores, lideranças, tole-râncias e, sobretudo, a disciplina.

Nesta perspectiva as atividades propostas serão realizadas no dia-a-dia e levarão em conta as peculiaridades e particularidades das manifestações da cultura popular regional e local, as diversas formas de expressão artísticas (capoeira, hip hop, pintura em tela, artes cênicas, literatura, artes plásticas, músicas, orquestra de batuque, grafitagem, artesanatos, teatro etc), que se concretizarão por meio de: oficinas, mostras, exposições, apresentações, festivais, dentre outros.

Portanto, a realização das atividades esportivas e de lazer (futebol, basquete, ping pong, vô-lei, dama e xadrez), como parte do processo socioeducativo, é um importante instrumento de construção de cidadania e espaço privilegiado para o desenvolvimento do socioeducando. A exibição de filmes também será promovida e a seleção obedecerá critérios educativos. Dentro dessas atividades caberão, ainda, oficinas temáticas relevantes ao desenvolvimento individual e coletivo dos socioeducandos, sempre desenvolvidas dentro de um espaço de respeito e que possibilite a participação de todos, inclusive a integração na comunidade que está inserida. Essas atividades pedagógicas serão desenvolvidas diariamente por profissionais habilitados e acompanhadas pelo setor técnico pedagógico, que deverá sondar as atividades de interesse dos adolescentes em cumprimento de medidas.

Paralelamente às atividades oferecidas pela própria Fundação, parcerias com Secretarias municipal e estadual, responsáveis pela política da cultura, esporte e lazer, também deverão ser firmadas a fim de que se garantam atividades e ou eventos dos quais os adolescentes são agentes de direitos.

4.1.6 Espiritualidade

O artigo 3° do ECA ressalta os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana e, portanto, à criança e ao adolescente, evidenciando a proteção integral para estes. O referido artigo tam-bém trata das oportunidades destinadas a esse público, as quais devem lhes facultar, dentre outros, o desenvolvimento espiritual.

Isto se estende aos artigos 94 e 124 da mesma lei que descrevem, respectivamente, obriga-ções aos programas de internação e direitos do adolescente privado de liberdade. Neles, consta a assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças. O SINASE também

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propõe o oferecimento de atividades de espiritualidade, respeitando o interesse dos adolescen-tes em participar.

Com isso, a espiritualidade se constitui como um aspecto importante no trabalho socioedu-cativo, na medida em que promove a vivência de sentimentos e perspectivas que transcendem o mundo concreto e imediato, fortalecendo a fé que atua como instrumento do processo de mudança e crescimento humano e espiritual do educando. Diante desse entendimento, os ado-lescentes e jovens terão o direito de cumprir os preceitos de sua religião, participar de cultos, ter em seu poder livros ou objetos de culto ou instrução religiosa, de acordo com seus credos.

A assistência religiosa será realizada em parceria com as instituições religiosas, as quais deve-rão apresentar suas propostas de trabalho a fim de serem acompanhadas pela equipe técnica das unidades.

4.1.7 Segurança

O dia-a-dia da Unidade deve ser delineado pela rotina de segurança como procedimento preventivo a qualquer tipo de atividade ou de conflito na Unidade. Todas as ações devem ser realizadas dentro de normas e regras que garantam a dinâmica de convivência e permanência na Unidade de forma regular. Para isto, a Fundação instituiu o Plano de Segurança, fruto de construção coletiva, com disseminação para todas as Unidades e definiu uma coordenação ex-clusiva para garantir os procedimentos de segurança nas Unidades.

A segurança do adolescente está relacionada com a liberdade, respeito e dignidade. Manter o adolescente em segurança significa pensar e operacionalizar práticas cotidianas que possibili-tem a realização de todas as atividades sem que o adolescente se coloque em risco, coloque em risco os seus pares e/ou os trabalhadores da comunidade socioeducativa. A rotina de segurança interna é o que permite que a prática de socioeducação se efetive a cada dia.

Deste modo, são princípios desta estratégia o direito de todos ao respeito e à dignidade como direitos fundamentais individuais e coletivos. Por isso, podemos convencionar que a atenção a esse direito remete a todos os demais.

Respeitar significa honrar, dar atenção, importância, considerar, e ainda, agir de modo que não fira, não prejudique ou ofenda e, por isso, é tênue o limite entre o respeito aos direitos e sua efetiva aplicação na execução da medida.

Quando da ocorrência de situações de crise desencadeadas por motins, fugas e tumultos em geral, esta Fundação possui o Grupo de Intervenção Tática (GIT) para realizar os procedimentos de mediação, intervenção e contenção desses episódios sob o comando da Coordenação Geral de Segurança Socioeducativa.

Com relação à segurança externa, a Fundação conta com a ação da Segurança Pública por meio das equipes de policiais militares, que realizam rondas diárias nas proximidades das Uni-dades. Em casos extremos de conflito esta Fundação poderá solicitar a intervenção da polícia militar.

Sabe-se que conflitos e crises podem ocorrer e nesses casos, considerados excepcionais, se faz necessário fazer intervenções. A Fundação considera necessárias intervenções desse nível quando:

I. Os recursos a outros métodos de controle se revelaram inoperantes;

II. Os casos de legítima defesa, de tentativa de fuga/evasão e de resistência física ativa ou

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passiva a uma ordem baseada na lei ou nos regulamentos da Unidade;

III. Quando o socioeducando oferece grave ameaça à sua integridade física, a integridade física de terceiros ou ao patrimônio público.

Os princípios e detalhamentos da proposta de segurança encontram-se no Plano de Segu-rança instituído pela Fundação.

4.1.8 Assistência Material e Cidadania

A assistência material é garantida visando atender integralmente o socioeducando em todas as suas necessidades, para o seu pleno desenvolvimento físico, social e emocional, seguindo os parâmetros descritos a seguir.

A distribuição de itens de higiene, uniforme e roupas de cama aos adolescentes se dá após o seu acolhimento na Unidade, com exceção da semiliberdade, que não faz uso de uniforme.

O kit de materiais pessoais é composto por:

As roupas de cama são recolhidas 02 (duas) vezes por semana e levadas para lavanderia, que providencia a higienização. Esse controle de entrega à lavanderia é realizado pelo Coordenador de Higiene e Alimentos. E um inventário de pertences do adolescente é preenchido conforme modelo disponibilizado pela FUNAC.

Do fornecimento de alimentação

O fornecimento de alimentação será ofertado em quantidade e qualidade necessárias ao desenvolvimento dos adolescentes. Para isso, a Fundação assegura uma alimentação balance-ada e rica em nutrientes, planejada e indicada por nutricionista e testada pelas Unidades para garantir o equilíbrio entre a especificação técnica e o bem estar dos adolescentes e servidores que fazem consumo da mesma.

Toda alimentação é produzida na cozinha das Unidades, o que permite ajustes, quando ne-

02 camisas02 bermudasCuecas e sandálias podem ser disponibilizadas pela família como peça do próprio adolescente e a Fundação também disponibiliza estes itens.

01 escova de dente01 sabonete01 barbeador de lâmina (recolhido e descartado após o uso)

01toalha de banho01 toalha de rosto01 lençol01 coberta de cama

Itens deVestuário

Higiene PessoalIndividual

Roupa de Camae Banho

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cessário. As refeições são garantidas aos socioeducandos e servidores de vínculo plantonista do dia. Aos adolescentes são garantidas seis refeições por dia (café da manhã, lanche, almoço, lanche, jantar e ceia noturna).

A Fundação orienta que as refeições sejam servidas nos refeitórios de acordo com a estrutura e logística de cada Unidade, pois possui um caráter pedagógico, terapêutico e simbólico, que garante a equidade de relações, a horizontalidade, a dignidade de todos e o fortalecimento dos princípios da comunidade socioeducativa apontados pelo SINASE. Esta modalidade se efetiva a partir da avaliação feita pela gestão da unidade, subsidiada pela coordenação técnica e de segurança, sempre que o adolescente esteja apto a participar desse momento.

Do fornecimento de materiais pedagógicos

Para o correto e adequado funcionamento da proposta pedagógica, é imprescindível o fornecimento regular de materiais pedagógicos que garantam a execução das atividades escolares, profissionalizantes, terapêuticas, esportivas e de lazer.

4.2 Procedimentos do atendimento socioeducativo

4.2.1 Diagnóstico Polidimensional

O primeiro passo da intervenção, pela equipe, consiste em conhecer cada adolescente individualmente, uma vez que cada adolescente tem necessidades específicas. Este é o fundamento para a elaboração do PIA conforme diz o SINASE:

[...] A elaboração do Plano Individual de Atendimento constitui-se numa importante ferramenta no acompanhamento da evolução pessoal e social do adolescente e na conquista de metas e compromissos pactuados com esse adolescente e sua família durante o cumprimento da medida socioeducativa. A elaboração do PIA se inicia na acolhida do adolescente no programa de atendimento e o requisito básico para sua elaboração é a realização do diagnóstico polidimensional por meio de investigações técnicas junto ao adolescente e sua família, nas áreas: Jurídica, Saúde, Psicológica, Social e Pedagógica (BRASIL, 2012, art.52).

Para a área pedagógica, exemplifica o SINASE (2012, p.61).

[...] estabelecem-se metas relativas à: escolarização, profissionalização, cultura, lazer e esporte. Oficinas e autocuidado. Enfoca os interesses, potencialidades, dificuldades, necessidades, avanços e retrocessos. Registra as alterações (avanços e retrocessos) que orientarão na pactuação de novas metas.

Sendo assim, o diagnóstico polidimensional é o resultado e contribuição de várias áreas sociais que atuam em cada Unidade e num processo de investigação para compreender a problemática e diálogo, elencar as situações emergentes e a proposta de intervenção com vista à superação do problema.

O Diagnóstico Polidimensional, portanto, deve ser um instrumento de conhecimento da história, características e demandas de cada adolescente por parte dos profissionais que o atendem e deverá conduzir toda a prática dos profissionais no dia a dia do atendimento na Unidade. Refere-se, portanto, ao estudo pessoal e social de cada caso de que trata o Estatuto da Criança e do Adolescente ou ainda à avaliação interdisciplinar, a que se refere o SINASE.

Deste, aponta-se que o Diagnóstico Polidimensional é o instrumento básico em que o histórico de vida do socioeducando é analisado nos âmbitos psicológico, pedagógico, familiar, comunitário, social e processual, realizado a partir de entrevistas individuais, visitas domiciliares

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e atendimento familiar, nas quais os profissionais técnicos de cada área (jurídico, social, psicológico, saúde e pedagógico) coletam dados do socioeducando, de sua família, bem como de sua realidade e relações sociais e, a partir destes, elaboram o Plano Individual de Atendimento.

As entrevistas são realizadas utilizando um roteiro estruturado, específico e diferenciado, segundo a especificidade de cada área, com questões que visam à coleta aprofundada de dados pessoais e familiares (Vide Compêndio de Instrumentais). Estas entrevistas podem durar quantos encontros se fizerem necessários, devendo ser analisados por cada técnico (assistente social, pedagogo, psicólogo, assistente jurídico e agente socioeducativo referência em saúde) de acordo com a especificidade e individualidade de cada caso.

Conforme o SINASE, o levantamento detalhado de dados, realizado a partir do Diagnóstico Polidimensional (BRASIL, 2012, art. 54, inc. I), possibilita a elaboração, planejamento e construção de intervenções sistemáticas e integradas permitindo que o socioeducando seja entendido de maneira global, compreendendo-o como um sujeito singular e em desenvolvimento.

4.2.2 Estudo de caso

O estudo de caso é um instrumento legal que possui embasamento jurídico no inciso XIII, artigo 94, do ECA. O artigo define as obrigações de todas as entidades que desenvolvem programas de internação, sendo uma delas “proceder o estudo social e pessoal de cada caso” (BRASIL, 1990).

As orientações técnicas do SINASE enfatizam que o estudo de caso deve estar contemplado no Projeto Político Pedagógico. Assim, o gestor precisa garantir encontros sistemáticos frequentes da equipe multiprofissional com vistas a promover o estudo social dos adolescentes. Nessa perspectiva, o estudo de caso é um instrumento essencial para acompanhamento, avaliação e intervenção no (e do) processo socioeducativo.

O caso é a história de vida do sujeito, é construído na relação entre o individual e o social e obtido a partir do contato com informações oriundas de diversas fontes, internas e externas. O foco do estudo de caso está no adolescente, suas relações familiares e sociais, seus sucessos e fracassos e os motivos que o levaram a praticar o ato infracional. Para que as informações sejam consistentes, a equipe multidisciplinar observa cotidianamente o adolescente, realizando atendimentos técnicos, analisando documentos e registros, contactando instituições pelas quais o adolescente passou e dialogando com seus familiares, instituições e pessoas próximas a ele antes e depois do cumprimento da medida.

O levantamento de informações pode ser um procedimento científico, quando acontece baseado no questionamento e confronto de situações, quando analisa o cenário social no qual o adolescente encontra-se envolvido e principalmente quando propõe novas abordagens. E pode ser um procedimento de senso comum, quando é superficial, depreciativo, individualista e também informal.

O estudo evidencia aspectos que merecem atenção e que ajudam a gerar novas alternativas de trabalho, oferecendo referência da metodologia do trabalho desenvolvido pela instituição.

O estudo de caso pode ocorrer antes da elaboração do relatório da Internação Provisória, da elaboração do PIA ou da avaliação do/a adolescente para sugestão da progressão, extinção ou manutenção da medida, ou ainda, para uma possível transferência entre unidades.

Na Internação Provisória, o estudo de caso levanta informações possíveis sobre o caso estudado, colhe dados processuais do histórico infracional, das circunstâncias relacionadas ao

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ato praticado, das condições socioeconômicas, do contexto familiar, da escolarização e também das possibilidades de inserção social após o desligamento da instituição.

Na Medida Socioeducativa de Internação ou semiliberdade, o estudo de caso é aprofundado, passando a conter informações sobre as características pessoais do adolescente, suas aptidões, sentimentos, sonhos, ideais e direcionamento das condições que favorecerão um maior aproveitamento da proposta socioeducativa durante o tempo em que o adolescente estiver internado. As observações do estudo de caso são sempre interdisciplinares, ou seja, cada profissional contribui com o conhecimento da sua área de formação, sendo que, nenhum saber se sobrepõe ao outro e todos coadunam para o desenvolvimento do adolescente. Igualmente, as diferenças de opinião sobre o caso são comuns e favoráveis, desde que a equipe multidisciplinar saiba aproveitá-las para enriquecer o consenso sobre os encaminhamentos.

Na Internação ou semiliberdade, o estudo passa a analisar qualitativamente as informações, organizando os dados, convergindo informações, relatando vivências subjetivas do contexto social e pessoal do adolescente. Essa metodologia é a mais recomendada para subsidiar a elaboração do PIA do adolescente na perspectiva da Gestão Democrática.

4.2.3 Plano Individual de Atendimento - PIA

De acordo com o SINASE (2006; 2012), o PIA busca a construção com o adolescente de um projeto de vida que vise uma reflexão crítica acerca do ato infracional praticado, as formas de reparação e o caminho que ele poderá trilhar na Unidade com vistas a prepará-lo para deixar a privação ou restrição de liberdade.

A viabilização do PIA constitui-se da junção de valores interiores (subjetivos) e exteriores ao adolescente e vinculados aos compromissos que ele deve alcançar, com o apoio da equipe multidisciplinar, da família e da comunidade, observando-se os princípios expressos no artigo 35 e o disposto nos artigos 54 a 57, da Lei nº 12.594/2012, além do artigo 100, parágrafo único, incisos XI e XII, do ECA.

O PIA é precedido do estudo de caso, com base no diagnostico polidimensional quanto às avaliações de saúde física e mental, das características pessoais, do comportamento institucional, da estrutura familiar, da qualidade dos vínculos, do comprometimento pelo uso de substância psicoativa (álcool e outras drogas) e também a história do comportamento infracional, as habilidades para o trabalho e o nível de escolaridade do adolescente. Essas informações são utilizadas para construir junto ao adolescente uma proposta coerente com suas habilidades, potencialidades e expectativas quanto ao futuro, evidenciando os limites da sua escolha.

A ação socioeducativa deve respeitar as fases de desenvolvimento integral do adolescente levando em consideração suas potencialidades, sua subjetividade, suas capacidades e suas limitações, garantindo a particularização no seu acompanhamento. Portanto, o plano individual de atendimento (PIA) é um instrumento pedagógico fundamental para garantir a equidade no processo socioeducativo (BRASIL, 2006, p. 48).

Desse modo, o PIA exprime o projeto de vida em metas e estratégias de superação ou alcance. Cada META deve ser preenchida no quadro específico, numerado sequencialmente, podendo ter mais de uma estratégia com seus devidos prazos e responsáveis pela execução.

Importante atentar-se para a definição das metas para que possam alcançar devidamente seu intento. Assim uma boa meta pode ser definida com os seguintes verbos:

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Igual preocupação deve ser levada em conta quanto as Eixos do SINASE, quais sejam:

Ainda considerando o processo evolutivo que a trajetória de um adolescente deve ter dentro da medida socieoducativa, o PIA deve explicitar requisitos das competências e habilidades a que se propõe a contribuir na evolução do adolescente na socioeducação. Deste modo, sugere-se o uso dos seguintes parâmetros listados abaixo, conforme a Pedagogia da Presença de Antonio Carlos Gomes da Costa:

Na Fundação, o processo de elaboração do PIA é conduzido pelo coordenador técnico com o envolvimento da equipe multiprofissional, adolescente e família para que sua elaboração e cumprimento sejam efetivados de acordo com os prazos e metodologia, conforme roteiro e orientações previsto no Compêndio de Instrumentais.

Finalmente, o PIA deve sofrer periódica avaliação e monitoramento para verificação do seu cumprimento. Nesse processo, as metas definidas no PIA bem como os requisitos evolutivos referentes ao programa socioeducativo são avaliados numa escala de 1 a 5, onde 1 corresponde a “Totalmente Insatisfatório” e 5, “Totalmente Satisfatório”. A verificação será realizada a cada dois meses, antecedendo a elaboração do Relatório de Acompanhamento do Adolescentes a ser encaminhado para o Sistema de Justiça.

4.2.4 Relatório de Acompanhamento do/a Adolescente

O Relatório consiste na avaliação feita do adolescente para subsidiar a audiência processual. Neste relatório são fornecidos as avaliações e ações de cunho sociofamiliar, pedagógico, psicológico, processuais e de segurança com o objetivo de subsidiar a autoridade judiciária no momento da reavaliação da medida socioeducativa imposta ao adolescente.

O Relatório de Acompanhamento deverá orientar-se pelas metas estabelecidas no PIA, demonstrando toda a evolução do socioeducando durante o cumprimento da medida socioeducativa.

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Cabe ressaltar que o relatório se trata de um conjunto de produções técnicas elaboradas a partir da análise detalhada e criteriosa dos profissionais da Unidade, os quais são responsáveis pelo acompanhamento do socioeducando tanto em atividades e atendimentos individuais quanto em espaços grupais. Para tanto, devem se pautar pelo rigor técnico-científico e metodológico, seguindo as diretrizes deste Projeto Político Pedagógico.

Deste modo, conforme a definição do SINASE, o relatório deverá ser apresentado ao poder judiciário no máximo a cada seis meses (período correspondente à avaliação e reavaliação da medida, seguindo os instrumentais padrões da Fundação/DIRTEC/CPSE). No entanto, podem ser encaminhados relatórios extraordinários, solicitando reavaliações de medida, repactuação de metas ou outros entendimentos jurídicos.

Ressalte-se que além do relatório avaliativo, o adolescente tem o direito de peticionar pessoalmente a qualquer autoridade, bem como ser informado de sua situação processual, sempre que este solicite, conforme Art. 124, inciso I, II, III e IV do SINASE.

4.2.5 Pareceres/Laudos

Os pareceres e laudos consistem em documentos técnicos científicos emitidos por cada profissional e seguem as normas técnicas de sua especificidade. O profissional pode ser demandado a qualquer época para se manifestar a respeito do adolescente quanto à situação jurídica, social, psicológica, de saúde, pedagógica etc.

Assim, a Fundação orienta que, quando se fizer necessário, haja a produção fundamentada da manifestação do profissional com vista a contribuir com a melhor medida a ser adotada ao adolescente.

O parecer ou laudo é um instrumento que se aplica a qualquer das medidas acautelatória, privativa ou restritiva de liberdade.

4.2.6 Atendimento individual e em grupo

A perspectiva do trabalho deve ser a atenção integral aos(as) adolescentes, tomando o Plano de Atendimento Individual como a base de orientação da equipe para as intervenções a serem realizadas, sejam elas individuais e de grupo.

Busca-se, nesses espaços, orientar os adolescentes em relação a seus projetos de vida, à necessidade de profissionalização, escolarização, acerca de sua situação processual, à reflexão, à tomada de consciência e à socialização, bem como seus direitos no que diz respeito ao cumprimento da medida socioeducativa. Procura-se, ainda, nestes atendimentos, trabalhar questões familiares e questões relacionadas ao dia a dia na Unidade.

A equipe poderá também acompanhar as saídas dos adolescentes da Unidade para a realização de atividades externas (campeonatos esportivos, eventos culturais), que se constituem em momentos oportunos para a orientação e informação dos(as) adolescentes.

A perspectiva de atendimento integral considera a família como alvo da intervenção, uma vez que são também partícipes no processo socioeducativo. A família é fundamental na construção que se faz com o(a) adolescente, visto que o meio familiar é, em geral, para onde o adolescente volta depois do cumprimento da medida e, portanto, carece também de intervenção.

Logo na entrada do adolescente na Unidade, a família é chamada a participar do projeto socioeducativo, visitando o adolescente regularmente, comparecendo aos atendimentos

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individuais, de grupo e reuniões propostas. Os profissionais vão procurar conhecer a dinâmica familiar, as necessidades, os recursos, utilizando-se para isso do estudo social, da visita domiciliar e de entrevistas.

A partir da particularidade de cada família, os profissionais terão condições de desenvolverem junto aos(as) adolescentes, estratégias para o fortalecimento de vínculos familiares e, caso seja necessário, realizarem encaminhamentos da família à rede de serviços sociais dos municípios, com vistas à geração de renda familiar, solução de conflitos, entre outros, ficando a cargo do assistente social da unidade o encaminhamento da família a esses serviços.

4.2.7 Procedimento Disciplinar

Para as situações indisciplinares ocorridas no interior das Unidades, a Fundação adota os princípios, valores e a metodologia das Práticas Restaurativas e do devido processo legal para a responsabilização dos agressores por meio da Comissão de Avaliação Disciplinar (CAD) e da Sindicância.

No que consiste às práticas restaurativas, estas se dão através de sequencia contínua de práticas restaurativas e círculos de justiça restaurativa e de construção de paz, sendo estas as mais utilizadas na FUANC, porém existem diversas no âmbito da literatura nacional e internacional.

São sequencias contínuas de práticas restaurativas:

Afirmações afetivas – é uma forma de o educador expressar verbalmente ao educando seus sentimentos sobre dada situação. Ajudam a criar uma relação empática com o outro.

Perguntas afetivas – possibilita ao educando uma oportunidade de refletir sobre as causas, impactos e como corrigir seu comportamento e aprender a ser empático com as pessoas afetadas por ele.

Pequena reunião restaurativa – o problema é abordado imediatamente para evitar que ele aumente de proporção e para resolvê-lo rapidamente. Provoca no educando expressar sentimentos, pensar no impacto causado por seu comportamento e resolver conflitos.

Círculo – são diálogos em formato de círculos com perguntas aos participantes com falas por cada pessoa sobre o tema abordado, passando um objeto de controle de fala em formato circular.

Reunião Restaurativa – são encontros circulares em que vítima, agressor, família e comunidade se reúnem, com a ajuda de um facilitar, para falar dos danos causados, reparar danos, restaurar relações e a forma como podem se entender.

Reunião familiar – são encontros circulares com familiares e representantes da comunidade para definir ações que irão resolver dificuldades ou problemas.

São Círculos de Justiça Restaurativa e de Construção de paz:

Método dialógico realizado em círculo, onde se constrói vínculos de afetividade, abordam-se sentimentos de valoração pessoal, colaborando na prevenção e ou resolução de conflitos.

Os círculos de construção de são assim chamados devido à forma espacial como as pessoas se distribuem nas reuniões e, ainda, por expressar grau de igualdade, horizontalidade e de inclusão entre os participantes. Isso acontece por meio do diálogo, que compartilha o poder, as escolhas nas decisões, aproxima e facilita a ação que beneficia a todos. Enquanto isso, com caráter preventivo, os círculos de paz promovem escuta empática, o respeito às diferenças, a tolerância,

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enfim fortalece as relações sociais. É uma forma concreta de prevenir a violência institucional e promover a convivência da paz, tais como: círculo de diálogo, círculo de cooperação, círculo de senso comunitário, círculo de celebração, de apoio e resolução de conflito.

Nos círculos de resolução de conflito estão presentes:

O autor – pessoa que praticou o fato. A pessoa que promove o conflito tem a oportunidade de ouvir o relato de todas as perdas de quem sofreu com o ocorrido, assumido as suas consequências e suas responsabilidades.

O receptor – pessoa que foi atingida pelo fato. A pessoa que sofreu o dano sente-se aliviada após falar sobre seus sentimentos e reclamar seus danos diante do autor do ocorrido. Assim é possível chegar a um acordo visando à reparação de seus danos.

Membros da Comunidade atingida pelo conflito – estar entre as pessoas que são de confiança encoraja os participantes se colocarem sobre o que desejam pedir e oferecer para amenizar as diferenças e seus efeitos do dano e todos se responsabilizam pelo ocorrido.

O facilitador é responsável pelo processo. As partes, pelo resultado.

A metodologia de círculos de construção de paz ou processos circulares foi desenvolvida pela especialista norte americana Kay Pranis. A autora é referência mundial em Justiça Restaurativa, com experiência no estado de Minnesota e na cidade de Chicago (EUA) e em outras regiões do mundo, inclusive com inserção na realidade brasileira.

Os processos circulares podem ser utilizados em diferentes contextos: famílias, escolas, hospitais, empresas, instituições governamentais e não governamentais, no sistema judiciário e em qualquer outro espaço.

Para além de uma representação geográfica, os círculos de paz possibilitam o estabelecimento de uma conexão entre as pessoas, simbolizam liderança compartilhada, igualdade, interação e inclusão.

Compreende-se, também, que as práticas restaurativas podem colaborar na prevenção da violência institucional, no estabelecimento de relações sociais saudáveis, fortalecendo a prática do diálogo e o cultivo da cultura da paz nos espaços socioeducativos.

Este procedimento restaurativo constitui-se, portanto, como um dos mecanismos facilitadores para superar práticas correcionais e repressoras ainda adotadas no trato com adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, além de se constituir como um processo educativo dos adolescentes, capaz de motivá-los para a prática de valores éticos e morais.

Com relação à Comissão de Avaliação Disciplinar, a Fundação da Criança e do Adolescente, por meio de seus servidores e com base nos princípios basilares instituídos no ECA e no SINASE, compreende a necessidade de analisar, apurar e propor procedimento convencionais ou restaurativos, aos adolescentes, que pratiquem atos contrapostos ao Regimento Interno de cada Unidade Socioeducativa, visando à humanização dos mesmos e à ressignificação de tais atos infringentes. Para tanto, cada Unidade deve constituir sua Comissão de Avaliação Disciplinar.

A Comissão Disciplinar constituir-se-á por, no mínimo, 03 (três) servidores da Unidade Socioeducativa. Necessariamente, farão parte da Comissão: 01 (um) representante da Direção da Unidade (Diretor ou Vice Diretor), 01 (um) membro da Equipe Técnica, dando preferência para o assessor jurídico e 01 (um) membro da equipe de segurança. Importante ressaltar que a participação desses agentes é de caráter obrigatório e seus atos devem seguir o rito, conforme definido no Regimento Interno da Unidade.

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4.2.7.1 Metodologia de Aplicação do Processo Disciplinar

1) O diretor da unidade fará comunicação oficial a presidente da FUNAC e a Justiça da Infância da Juventude e deverá instaurar a Comissão de Avaliação Disciplinar em casos de faltas disciplinares de natureza grave e reiteração de faltas médias. Informará ainda, à Defensoria Pública quanto a instauração da Comissão de Avaliação Disciplinar.

2) A Comissão de Avaliação Disciplinar apurará o fato ocorrido na Unidade, através dos depoimentos dos adolescentes (autores e vítimas) e testemunhas envolvidos com a ocorrência.

3) Após análise das oitivas e considerando as circunstâncias atenuantes e agravantes a CAD, com a participação do defensor público, emitirá parecer sobre qual sanção disciplinar ou procedimento restaurativo será aplicado com base nos fundamentos e artigos do Regimento Interno da Unidade;

4) O procedimento restaurativo será facilitado por uma comissão de práticas restaurativas, composta por no mínimo dois facilitadores que tenha formação e domínio na metodologia.

5) Ato contínuo, a Comissão de Avaliação Disciplinar fará relatório final do processo disciplinar que será encaminhado ao diretor da unidade para homologação do referido documento e no prazo de até 48h, prorrogável por mais 24h, para o Juiz competente.

6) Levando em consideração a manifestação de interposição de recurso pelo adolescente, a Comissão explicará, de forma clara e com base no Regimento Interno da Unidade, qual sanção será aplicada e se deseja recorrer da decisão da comissão.

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5 PROPOSTA DE ATENDIMENTO5.1 Proposta de Atendimento Inicial e da Medida de Internação Provisória

5.1.1 Atendimento Inicial

O Atendimento Inicial destinado ao adolescente a quem se atribui ato infracional e é desenvolvido pela FUNAC através do seu Núcleo de Atendimento Inicial (NAI) e está vinculado à proposta de integração operacional com os seguintes órgãos: Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, os quais formam o Centro Integrado, no estado do Maranhão. Essa proposta integrativa, que no Maranhão é ofertada num mesmo local, se fundamenta no art. 88 do ECA, inciso V para efeito de agilização do atendimento.

A lei 12.594/2012 também ampara a proposta citada, haja vista o que determina o art. 5º, inciso V, que trata do cofinanciamento do programa voltado ao atendimento inicial. Conforme o artigo, os municípios deverão cofinanciar, com os demais entes federados, a execução de programas e ações destinados ao atendimento inicial de adolescente apreendido para a apuração de ato infracional, bem como aqueles destinados a adolescente a quem foi aplicada medida socioeducativa em meio aberto.

Para este atendimento, adotam-se os princípios norteadores: 1) o adolescente como centro do atendimento; 2) articulação entre os órgãos parceiros e serviços; 3) agilidade no atendimento; 4) atendimento a todos os casos indistintamente; e 5) práticas restaurativas.

Nessa perspectiva, o atendimento inicial deve atuar, para o adolescente e sua família, como um elo com o Sistema Socioeducativo em meio aberto ou fechado. Sendo assim, tem o papel de prestar as orientações necessárias para o adolescente que seguirá no Sistema, bem como desenvolver atividades multidisciplinares que colocarão tais adolescentes em situação de reflexão favorável ao rompimento com a prática do ato infracional enquanto estiver sob custódia, estendendo o acesso às políticas públicas quando de sua saída.

As atividades a serem realizadas pela FUNAC, no atendimento inicial, deverão estar pautadas no seguinte fluxo, para o qual se orienta não exceder 24h:

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Para o cumprimento de Medida socioeducativa em

meio aberto: Liberdade Assistida ou Prestação de

Serviço à ComunidadeCompetência dos Municípios

Adolescente em

Internação

Adolescente Sentenciado

Presença do Responsável (Art. 174 ECA)

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Portanto, o primeiro atendimento é feito pelo educador que acolherá o adolescente, verificará a existência de pertences, efetuará os devidos registros e a guarda dos mesmos. Em seguida, o adolescente deverá receber o atendimento multiprofissional a fim de ter elaborado seu diagnóstico com identificação de demandas e encaminhamentos à família, rede socioassistencial ou Unidades de atendimento, conforme decisão judicial. Após isso, serão desenvolvidas atividades pedagógicas com vistas ao rompimento com o cometimento de infrações e, finalmente, realizado o desligamento.

Registra-se que o espaço de custódia do adolescente deve garantir alojamento, espaço para atividades educativas como sala de vídeo, de jogos, de oficinas, dentre outras. E, embora o adolescente deva passar o mínimo de tempo possível nesse espaço, conforme determinação policial, é necessário que seja considerado a segurança em todos os espaços a fim de que se evite fugas e situações de risco.

O conjunto da custódia deverá, ainda, prever espaços separados de acolhimento masculino e feminino; alojamentos com sanitários, chuveiros e lavatórios; refeitórios, salas de revista, salas de atendimento individual e grupal, enfermaria para primeiros socorros, almoxarifado, sala para monitores de plantão e cozinha.

5.1.2 Internação Provisória

A proposta de Internação Provisória da Fundação tem caráter educativo visando à educação para a cidadania, seguindo os princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, tendo como parâmetro a Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE.

Objetivo Geral

Atender adolescentes do sexo masculino e feminino na faixa etária de 12 a 18 anos incompletos sob medida de Internação Provisória, cujo prazo máximo legal é de 45 dias, propiciando aos mesmos informações, orientações e atividades relativas à responsabilização de seus atos, sua cidadania, bem como a garantia dos direitos fundamentais e a construção de um projeto de vida desvinculado do ato infracional.

Específicos:

Prestar atendimento social, psicológico, e pedagógico aos(às) adolescentes, visando ao redimensionamento de atitudes e formação de valores necessários à participação na vida social, de forma positiva;

Orientar as famílias dos adolescentes a fim de fortalecer os vínculos afetivos, bem como buscar a implicação de suas responsabilidades no acompanhamento e apoio aos seus filhos;

Prestar atendimento jurídico, objetivando o acompanhamento processual dos(as) adolescentes;

Garantir o ingresso, a permanência e acompanhamento escolar dos(as) adolescentes na rede oficial de ensino durante o período de internação provisória, com o atendimento na própria Unidade, por meio da implantação de salas de aula vinculadas à Secretaria de Estado da Educação, bem como estimular o seu retorno a vida escolar;

Possibilitar o atendimento à saúde física e mental dos(as) adolescentes com

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encaminhamentos aos serviços prestados pela rede de Saúde Pública de acordo com as necessidades;

Desenvolver práticas educativas que incentivem os(as) adolescentes à compreensão e à importância do mundo do trabalho para a construção de uma identidade e futuro projeto de cidadania;

Desenvolver práticas educativas que promovam o desenvolvimento integral do (a) adolescente, visando à educação para a vida com discussões de temáticas relacionadas ao momento atual e fases da adolescência;

Promover assistência espiritual por meio da realização de celebrações, atendimentos e momentos diários de orações, leitura e reflexões de textos bíblicos;

Promover por meio de atividades esportivas e de lazer, a aprendizagem de valores como disciplina, tolerância, cidadania e respeito étnico-racial e de gênero;

Assegurar vivências de diferentes manifestações artístico-culturais por meio de realização de atividades que contemplem esses aspectos.

Metodologia

Durante o período em que o(a) adolescente estiver cumprindo a medida, é obrigatório que ele participe das atividades pedagógicas (parágrafo único do art. 123 do Estatuto da Criança e do Adolescente). Portanto, é indispensável que os Programas garantam este atendimento por ser uma exigência da Lei, bem como por se fundamentar no pensamento de Paulo Freire de que a pedagogia enquanto prática da liberdade parte do amor e da confiança no sujeito e credita a ele uma esperança, a esperança de que a educação possa levá-lo adiante. Assim, os(as) adolescentes, mesmo que temporariamente privados de sua liberdade, têm direito à educação de qualidade.

Portanto, esta proposta se refere à escolarização, às atividades de esporte, cultura e lazer, oficinas de arte, de prevenção à saúde, dentre outras atividades que perpassam o comportamento que toda pessoa deve ter no meio social pautado na moral, na ética, no respeito entre as pessoas e a natureza, nos valores sociais, culturais, religiosos, etc.

Nesta concepção, o educador tem o importante papel de exercer a presença no processo pedagógico em toda a sua complexidade, isto é

Fazer-se presença construtiva na vida de um adolescente em dificuldade pessoal e social é, pois, a primeira e a mais primordial das tarefas de um educador que aspire assumir um papel realmente emancipador na existência de seus educandos (COSTA, 2001. P. 27).

As práticas restaurativas são a tônica da mediação dos conflitos e responsabilização dos adolescentes quando da conduta de indisciplina no interior da unidade, entendendo ser um instrumento efetivo na ressignificação dos atos infracionais.

Assim, também se faz necessário agir de forma protetiva aos adolescentes no espaço institucional sendo intolerável a qualquer tipo de violência praticada contra os mesmos, haja vista que a função da Fundação é educar e não punir. É com base nos pressupostos mencionados que se fundamentam as ações socioeducativas a serem desenvolvidas na Medida de Internação Provisória.

Com isso, durante o atendimento socioeducativo, os(as) adolescentes internos participarão

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de todas as atividades executadas, desde o despertar até o recolhimento ao final do dia.

A rotina pedagógica estabelece os horários por atividades, o que inclui:

I. Despertar, onde ocorre a higiene pessoal e limpeza do alojamento;

II. Cinco refeições diárias que correspondem ao café da manhã, dois lanches intercalados com as principais refeições do dia, almoço e jantar, com alimentação variada e de acordo com o cardápio diário;

III. Escolarização;

IV. Atendimento técnico especializado individual e grupal;

V. Oficinas temáticas diversas;

assistência religiosa;

VI. Recebimento de visitas e contato telefônico com os familiares;

VII. Assistência médica, iniciação profissional, atividades culturais, esportivas e de lazer e apresentação em audiência.

O recebimento de visita dos familiares pelos(as) adolescentes ocorrerá nos espaços abertos de convivência no interior da Unidade. Poderão visitar o(a) adolescente os pais ou responsável legal, os filhos, os avós, os irmãos, a companheira, os amigos e familiares. O(a) socioeducando(a) receberá visita, 01 vez por semana, por período máximo de 03 (três) horas. Dentre as pessoas indicadas, 02 (duas) delas, no máximo, por dia de visita4 , salvo em datas comemorativas que serão excepcionalmente permitidos até 03 (três) visitantes por interno.

A escolarização segue a proposta educacional especificada nos eixos estratégicos já descritos nesta proposta, consistindo numa sensibilização para o retorno dos adolescentes à escola, bem como no fortalecimento da importância da escola na vida dos mesmos. Os(As) adolescentes que estavam frequentando escola regularmente no ato da apreensão e ficaram ausentes de sua escola durante o período de internação têm direito ao abono de faltas. Deste modo, a proposta curricular segue a matriz regular da Educação de Jovens e Adultos, sendo vinculada oficialmente a uma escola dos sistemas oficiais de ensino público, que deverão garantir a matrícula dos alunos e o exame de conclusão e certificação do nível de ensino cursado, conforme a LDB.

As ações de profissionalização, considerando o prazo da medida de internação provisória (45 dias), deverão dar ênfase às ações educativas que despertem o interesse e potencializem os(as) adolescentes para o mundo do trabalho, entendendo o potencial transformador, a capacidade de criação, de aprendizagem e a importância do trabalho para o exercício da cidadania.

A profissionalização na socioeducação visa ao desenvolvimento e à aquisição de novas habilidades que permitam ao(à) adolescente seu crescimento no processo de integração, comunicação, organização e responsabilização – pressupostos necessários para construção do projeto de vida onde o trabalho seja contemplado como fonte de realização pessoal e social. Nessa perspectiva, serão ofertadas, por exemplo: oficinas temáticas e práticas de pintura em tela, artesanato e informática, dentre outras.

A cultura, esporte e lazer devem ser vistos enquanto momentos privilegiados para a vivência de experiências significativas, para a promoção da convivência em grupo e comunitária, para a construção de valores pessoais, sociais e cognitivos, enfim, para a formação do adolescente. Para tanto, é necessária uma reflexão pedagógica e comprometida com a importância do papel destas atividades no processo de inclusão social e cidadania.

4 Os filhos não entram nessa contagem.

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Sendo assim, a cultura, o esporte e o lazer complementam o processo pedagógico, favorecendo o desenvolvimento psicomotor, emocional, social e cognitivo do(a) adolescente. Neste sentido, as referidas atividades se propõem a estimular valores como a solidariedade, cooperação, respeito aos limites e diferenças, ressaltando aspectos históricos e culturais dos(as) adolescentes, fortalecendo a autoestima, criatividade e liberdade de expressão de cada um.

A assistência à saúde dos(as) adolescentes se dará por meio de ações educativas, preventivas e curativas e de forma articulada e integrada com o Sistema Único de Saúde nas instâncias municipais, estadual e federal, especialmente através de:

Acompanhamento médico de rotina (incluindo no caso das meninas: pré-natal e puerpério);

Acompanhamento psicológico;

Acompanhamento diário da equipe de enfermagem;

Encaminhamento a situações de urgência e emergência;

Orientação sexual e reprodutiva;

Imunização e saúde bucal;

Saúde mental e controle de agravos;

Recebimento de medicamentos e insumos farmacêuticos;

Em relação ao(à) adolescente que apresente indícios de transtorno mental, de deficiência mental, ou associada, deverá ser avaliado por equipe técnica multidisciplinar e encaminhados para avaliação neuropsiquiátrica que constate sua psicopatologia e grau de comprometimento do distúrbio.

Quanto às atividades religiosas, serão firmadas parcerias com as instituições religiosas, com acompanhamento sistemático pela Direção e equipe técnica de cada Unidade, respeitando a diversidade religiosa, proporcionando o fortalecimento espiritual, conforme preconiza o ECA.

O acompanhamento técnico aos(às) adolescentes internos(as) efetua-se por uma equipe multiprofissional formada por Assistente Social, Psicólogo, Pedagogo, Advogado e Técnico em Educação Física, Técnico em Assuntos Educacionais, entre outros.

No atendimento técnico, deverá ser garantido, pela equipe multiprofissional, o atendimento inicial, atendimento individual e com frequência regular, atendimento grupal, atendimento familiar, atividades de restabelecimento e manutenção dos vínculos familiares.

No atendimento ao(à) adolescente, priorizar-se-á uma postura acolhedora, esclarecedora e orientadora, valorizando a escuta e procurando identificar as necessidades pessoais e pontos de urgências de cada caso.

Para tanto, é imprescindível a utilização dos instrumentais adotados pela Fundação para o registro do atendimento, a exemplo das fichas de atendimento técnico/polidimensional; relatórios de acompanhamento e avaliação, registro das atividades individuais, grupais e com a família; relatórios mensais; relatórios anuais; e outros a serem cumpridos dentro dos prazos determinados internamente e externamente.

Em relação ao atendimento familiar, adota-se a mesma postura ética descrita acima. Este deve ser desenvolvido a partir do entendimento da dinâmica familiar e sua inserção comunitária, identificando suas fragilidades e seus pontos de fortalecimento dos vínculos inter e intra grupal; bem como do acesso às políticas públicas pelos integrantes do núcleo familiar; além da realização das visitas domiciliares, de atividades de integração para as famílias dos adolescentes.

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Ressalta-se que no ato da revogação da medida, o adolescente e sua família será encaminhado para acompanhamento do CRAS do seu município ou território em parceria com a gestão local e as unidades de atendimento da política de Assistência Social. Quando da determinação da medida em meio aberto o adolescente deverá ser encaminhado para o Centro de Referência Especializado da Assistência Social do seu município ou território. Além disso, a Unidade deverá oficializar para o programa egresso da FUNAC a saída do(a) adolescente para a continuidade do acompanhamento para os casos que se encontram no perfil para este programa.

5.1.2.1 Intervenção junto ao egresso da internação provisória

A intervenção junto aos adolescentes egressos de medida provisória tem a intenção de contribuir para a diminuição da reincidência da prática de ato infracional. O caminho institucional será a articulação com a política de Assistência Social para atendimento à família e adolescente, visando medidas conjuntas entre Estado e município para que estes possam ter condição de superar as dificuldades que se apresentam em seu contexto de vida, as quais os vulnerabiliza e os põem em risco social.

Para tanto, faz-se necessário que na Unidade de atendimento haja uma organização onde os técnicos responsáveis identifiquem as situações que precisam da intervenção dos equipamentos sociais no município de origem. Identificadas as demandas, necessária se faz a articulação com os equipamentos da política de Assistência Social para planejamento do atendimento. Além da articulação, poderão ser realizadas visitas ao município ou a vinda da equipe do município para a Unidade a fim de realizar os estudos de caso com o objetivo de identificar as demandas relacionadas ao contexto social e as possíveis intervenções que cada caso exige.

Para maior aproximação dos organismos e Instituições, bem como a efetivação da proposta do atendimento aos egressos, deverão ser pactuadas as ações e atividades com as Secretarias de Assistência Social e seus equipamentos, CRAS/CREAS, além de instituições pertinentes, a exemplo da Pastoral da Juventude dos municípios que possuem maior índice de adolescentes em cumprimento de internação provisória (São Luís, São José de Ribamar, Imperatriz, Timon e Balsas), ficando os outros com acordos pelas equipes de ambos os espaços institucionais.

A Coordenação de Programas Socioeducativos indicará um profissional de referência na Unidade para a condução das ações da proposta; encaminhamentos dos adolescentes aos serviços dos municípios; comunicação semanal para a CPSE; procedimentos adotados ou a serem adotados a cada mês; monitoramento mensal junto aos CRAS/CREAS e Pastoral da Juventude por município; solicitação de relatório quando necessário; realização de encontros semestrais com CRAS/CREAS e Pastoral da Juventude, com representação de alguns adolescentes e apoio às equipes das Unidades para as situações emblemáticas.

Os procedimentos a serem adotados pela Unidade implicam em: informar de imediato a Secretaria de Assistência Social (CRAS/CREAS) da chegada do adolescente; orientar a família para o retorno desse adolescente; realizar mapeamento dos adolescentes liberados para a família; fazer contato com o CRAS/CREAS e Pastoral da Juventude para informar do retorno do adolescente ao município; realizar encaminhamento de oficio explicativo com relatório do adolescente em anexo ao CRAS/CREAS e Pastoral da Juventude e encaminhamento mensal da lista de adolescentes à CPSE conforme instrumental.

Deste modo, com relação aos adolescentes desligados da Unidade e com medida socioeducativa, seja privativa, restritiva ou em meio aberto, será encaminhado o relatório da sua permanência na Unidade com destaque para sua conduta e caracterização socioeducacional ao respectivo programa que irá recebê-lo.

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Com relação aos adolescentes sem medida socioeducativa, com retorno direto para a família, a Unidade encaminhará relatório aos serviços socioassistenciais (CRAS/CREAS) do município de origem e demais parceiros locais com vista ao seu acompanhamento. Além disso, encaminhará semanalmente a ficha de desligado de todos esses adolescentes para a CPSE.

Ressalte-se que o acompanhamento a egressos se iniciará com o adolescente ainda dentro da Unidade, tanto na preparação deste para sua saída, quanto na articulação da rede socioassistencial da sua localidade ou para onde o mesmo passará a residir.

5.2 Proposta de Intervenção Socioeducativa da Internação e da Semiliber-dade

5.2.1 Atendimento Socioeducativo de Internação

A medida de internação é adotada pela autoridade judiciária quando o ato infracional praticado pelo adolescente se enquadrar nas situações previstas no artigo 122 do ECA, quais sejam: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

Esta medida tem previsão máxima de 03 anos, porém está sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de desenvolvimento do adolescente. Para tanto, este PPP prevê ações de acolhida e de elaboração do Plano Individual de Atendimento para que o adolescente seja acompanhado de acordo com o seu PIA e avaliado semestralmente para as decisões judiciais cabíveis5 .

5.2.1.1 Acolhimento e Integração do(a) Adolescente na Medida de Internação

No tocante à dimensão socioeducativa da medida de internação, este momento se concretiza através de um conjunto de ações e atividades em que estão estabelecidos os parâmetros pedagógicos, de valores e respeito, de educação, de atenção à saúde, esporte e cultura e de avaliação de resultados dos processos de ensino e aprendizagem, levando em conta a elaboração do Plano Individual de Atendimento e sua devida pactuação, conforme preceitua o ECA e o SINASE.

O PIA precede da realização do diagnóstico polidimensional, de estudo de caso, escuta familiar, observação e acompanhamento do(a) adolescente nas atividades pedagógicas e do devido processo legal. Além disso, é devidamente assinado pelo adolescente, familiar e equipe responsável, seguido do seu envio ao juizado para homologação. Assim, são definidos os seguintes objetivos de ensino/aprendizagem:

Conhecer: auxiliar o socioeducando a reconhecer e aceitar a importância de normas, regras e procedimentos, bem como, apresentar os benefícios que o centro socioeducativo oferece como unidade de internação contextualizada, onde o adolescente desenvolverá diversas atividades, em um espaço de confiança e de responsabilidade, estabelecendo com o socioeducando e sua família, compromisso com o manual do adolescente para garantir sua participação e resultados.5 De 2015 a 2017 a FUNAC adotou, na medida de internação, o atendimento por fases, seguindo o que determina o SINASE, porém a 2ª Vara da Infância e Juventude, a pedido do Ministério Público, suspendeu liminarmente esta metodologia ocasionando, portanto, seu reordena-mento, conforme apresentamos nesta nova versão do PPP.

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Interagir: criar um espaço de integração, valorização e reconhecimento para que o adolescente assuma de forma assertiva o processo socioeducativo e o visualize como uma oportunidade de compromisso para seu crescimento pessoal e integração social, auxiliando o socioeducando a entender e aceitar o pacto de convivência. Auxiliar a família e o socioeducando a compreender que a duração da medida socioeducativa depende de seu empenho, compromisso e responsabilidade no cumprimento da mesma, sendo ele o protagonista da sua própria história.

Planejar: considerar o próprio cumprimento da medida socioeducativa como o primeiro problema e como situação inicial a serem abordados, dialogando com o(a) adolescente e sua família para entender e compreender com ele(ela), suas motivações, suas necessidades, dificuldades, suas justificativas, causas reais, consequências e alternativas a serem trabalhadas dentro do programa. Nesta etapa inicial, gera-se um processo de diálogo sobre fatos de sua trajetória infracional para planejar seu percurso na medida socioeducativa. O sucesso da intervenção está na capacidade que se tenha para estar atento a todas as situações do adolescente e interpretar as diferentes linguagens verbais e não verbais do que ele está expressando e, a partir daí, fazer seu acompanhamento.

Ações a serem desenvolvidas:

1. Recebimento - consiste na acolhida e ações em que técnicos, educadores e socioeducadores irão demonstrar ao adolescente como portar-se com atitudes de respeito, altruísmo, bom trato e coerência, conforme os seguintes procedimentos:

Recepção: ao ingressar na unidade, o socioeducando é recebido por um educador/socioeducador e também de um representante da equipe de gestão. Estes se apresentarão ainda na portaria da Unidade e desejando-lhe as boas vindas como sinal de respeito e de acolhida. Neste momento realiza-se a conferência da documentação (documentos pessoais, prontuário da Unidade anterior, exame de lesões corporais e Guia de Internação). Em seguida, iniciam-se os procedimentos de segurança (revista minuciosa, guarda de pertences, recebimento do kit inicial do socioeducando, entre outros). Finalmente, a equipe conduz o adolescente até seu alojamento.

Ambientação: Uma vez feita a acomodação do adolescente no seu alojamento e tendo sido entregue o primeiro kit de entrada (roupas de cama e banho, uniforme, chinelos, sabonete, creme dental, xampu, entre outros) os demais itens de asseio pessoal permanecem com a Coordenação de Higiene e Alimentos, para serem entregues no momento adequado e quando o/a adolescente precisar. Após este momento o educador/socioeducador e os demais integrantes da equipe técnica de referência avaliam a situação física, emocional e psicológica do socioeducando. O passo seguinte é da apresentação da Cartilha do Socioeducando e da Filosofia Institucional do Centro Socioeducativo para iniciar o estudo e compreensão destes. Este estudo é acompanhado pelos socioeducadores/educadores da Unidade nas 24 horas seguintes à recepção do socioeducando. Após este período é realizada a avaliação por um integrante da Equipe Técnica e um socioeducador/educador que acompanhou os estudos. Este período poderá ser prorrogado por mais 24 horas, dependendo dos resultados da avaliação. Esta avaliação inicial objetiva verificar a compreensão do socioeducando sobre as normas e princípios de convivência coletiva e harmoniosa na Unidade de internação.

2. Inserção –Após as ações de ambientação, passa-se a observar comportamentos, conflitos, habilidades e potencialidades para então fazer a sua inserção no grupo de pares da respectiva Unidade que seja favorável à sua boa convivência. Sua participação na rotina socioeducativa,

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como círculos temáticos, atendimentos grupais, jogos lúdicos, encontros na unidade, esportes e escola, será gradativa.

3. Elaboração do PIA – Após a primeira semana em que o adolescente foi instruído sobre a medida, a rotina da Unidade, regras e valores, inicia-se o PIA que segue o rito do diagnóstico, estudo de caso e Plano de Intervenção propriamente dito, conforme descrito no item 4.2.3.

5.2.1.2 Implementação do PIA

Considerando a pactuação do PIA e a sua a medida socioeducativa de internação deve guiar-se pelos seguintes os objetivos:

Reconhecer: desenvolver ações que levem o/a adolescente ao reconhecimento das suas demandas e de sua família. Através de um primeiro diagnóstico daquilo que o levou a cometer o ato infracional (responsabilização), busca-se conscientizar o adolescente sobre sua trajetória pessoal, considerando características que lhe trazem dificuldades na convivência social, além de avaliar as conquistas obtidas pelo adolescente e sua família, reforçando os aspectos positivos e superando os negativos.

Compete à equipe intervir sobre as demandas apresentadas oferecendo ao adolescente o apoio necessário a fim de que ele possa ter clareza de seus problemas específicos e aprenda a desenvolver ações e alternativas resilientes para lidar com eles, explorando as problemáticas pessoais e familiares, através da intervenção restaurativa e/ou socioterapêutica6 que contém as temáticas específicas relacionadas a estas áreas, ou seja, explorar socioterapeuticamente as origens e a razão dos sintomas se manterem nas áreas pessoal, familiar, comunitária e social, acadêmica e profissionalizante conforme os problemas identificados anteriormente, focando em auxiliar o socioeducando a praticar os compromissos estabelecidos no PIA a fim de quebrar os pactos de silêncio que impedem o processo de crescimento.

(Re)significar: Estabelecer um maior vínculo entre a família, o socioeducando e a equipe, apoiando-os no processo de (re)significação dos seus valores e elaboração do seu projeto de vida a curto, médio e longo prazo, a fim de auxiliar a família a conhecer a realidade do adolescente, tornando mais transparente as relações. Busca-se a construção de alternativas e resoluções para enfrentar a própria realidade, de forma que o socioeducando se utilize de todas as ferramentas sociopedagógicas e socioterapêuticas encontradas nas etapas anteriores e estabeleça relação com suas demandas pessoais, familiares e sociais na busca de resolução e (re)significação para as problemáticas encontradas.

Gerenciar: Preparar o adolescente para seu desligamento da Unidade, auxiliando a família no processo de ressignificação dos seus vínculos familiares e comunitários através das experiências socio familiares, utilizando os resultados para fortalecer o trabalho pedagógico e socioterapêutico. Neste contexto, o adolescente precisa ser gerente da sua própria vida, sabendo administrar fielmente o que aprendeu através de seu processo, tendo capacidade de associação positiva para superação de suas dificuldades. Cabe à equipe de referência oferecer acompanhamento aos adolescentes que estão em processo de desinternação da medida socioeducativa na Unidade7 , dando continuidade às intervenções pedagógicas e socioterapêuticas com enfoque dialético, nos aspectos que ele precisa reforçar para sua completa inserção na vida social.6 Intervenções socioterapêuticas consistem em processos de aprendizagem grupais que favoreçam a confiança e visam tornar o socioeducan-do apto a reconhecer os seus limites e o seu lugar em uma comunidade de regras de convivência. Visa ainda romper esquemas estabelecidos pela violência e propõe maneiras diferentes de atuação na perspectiva educativa. Pode ser utilizada por qualquer profissional, devendo ser focada na transformação de valores sendo possível o uso de ferramentas específicas das práticas restaurativas (diálogos, círculos, entre outros), terapia comunitária, grupos operativos etc, ou geral, como grupo temático programado com foco e metodologia de diálogo.7 Este momento deve ser feito em interface com a equipe do Programa Egresso na CPSE.

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Ações a serem desenvolvidas:

As ações a seguir são possibilidades a serem trabalhadas com os adolescentes. Devem constar do seu Plano Individual de Atendimento, tanto no ato da sua elaboração, quanto das repactuações após cada audiência de avaliação pelo Sistema de Justiça.

Assim, as Metas e Estratégias do PIA devem partir deste referencial levando em conta as necessidades e demandas de cada adolescente e também de acordo com o grau de seu desenvolvmento, sendo:

Receber atendimento técnico de forma regular e sistemática, com atenção diferenciada para casos de transtorno mental e de dependência química, seja pela equipe da Unidade, seja pela rede SUS e SUAS.

Ser encaminhado para avaliação médica e odontológica, na rede de atenção à saúde (SUS) de acordo com as necessidades encontradas a partir do atendimento da equipe de referência em saúde.

Ser orientado e acompanhado sobre a higiene pessoal, cuidados com pertences e limpeza/organização do alojamento e da Unidade.

Estudar a Cartilha do Socioeducando, metas pactuadas no PIA e a Filosofia Institucional.

Realizar contato telefônico com a família, conforme estabelecido no Regimento Interno da Unidade.

Participar ativamente das atividades e orientações pedagógicas (escolares e profissionalizantes).

Receber a visita da família na instituição para conhecer a Unidade8 , a proposta de atendimento e a equipe de referência, trazendo a documentação original existente do socioeducando (entrevista para autorização de visitantes distintos do núcleo familiar9) .

Ser gradativamente inserido nas demais atividades pedagógicas, especialmente ensino formal, cursos profissionalizantes e de terapia ocupacional (quando houver).

Participar das atividades pedagógicas, especialmente ensino formal, cursos profissionalizantes e de oficinas (quando houver);

Realizar contato com a rede socioassistencial (CRAS, CREAS, Conselho Tutelar, Unidade de Saúde, Escola, entre outros) da região que a família reside, a fim de articular o melhor encaminhamento às demandas apresentadas pela família (Equipe técnica).

Participar constantemente nos círculos temáticos, encontros da manhã e da tarde, seminários e atendimentos técnicos.

Participar e contribuir com a intervenção individual, explorando sua história de vida.

Realizar a avaliação de checagem de aprendizagem sobre este a Cartilha do socioeducando.

Elaborar compromissos pessoais e familiares coerentes com o estabelecido pela instituição nesta proposta.

Praticar todas as regras de convivência da instituição.

Submeter-se ao processo restaurativo ou disciplinar (CAD) quando do cometimento de

8 De acordo com o Plano de Segurança.9 A família deverá trazer toda a documentação pertinente ao trabalho da inclusão social e pedagógica (por exemplo: declaração ou histórico escolar, certificado de cursos profissionalizantes e cartão SUS). Quando a família não dispor desses documentos, a equipe de referência deverá procurar os devidos órgãos para providenciar.

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faltas disciplinares, conforme estabelecido no Regimento Interno da Unidade.

Participar da avaliação semanal com a equipe técnica e participação de todos os setores, bem como da família, quando possível.

Realizar Seminários Temático10.

Participar do estudo de caso no tocante à avaliação da medida para preparação do relatório semestral para o sistema de justiça.

Assumir funções de responsabilidade dentro da unidade.

Avaliar as conquistas obtidas pelo socioeducando e sua família.

Iniciar a orientação profissional, e sua participação nos cursos profissionalizantes.

Realizar visita domiciliar familiar para avaliação das situações habitacionais e encaminha-mentos realizados pela equipe quanto à Inclusão Social.

Realizar avaliação do comprometimento individual e familiar para liberação da prática de atividades pedagógicas externas.

Elaborar os compromissos pessoais a curto, médio e longo prazo, além de um resumo dos danos causados a si e a outros.

Avaliar as conquistas obtidas pela família dentro do processo e de acordo com os encaminhamentos feitos pela equipe técnica de referência.

Participar de grupos e capacitações voltadas à atividade laboral e mercado de trabalho, conforme avaliação da equipe técnica de referência, avaliando previamente junto com a família, os fatores de risco e proteção.

Elaborar currículo (escolaridade, cursos e experiências anteriores).

A partir do momento que o/a adolescentes passou pela avaliação/reavaliação do sistema de justiça com resultado de manutenção da medida este deve passar pela repactuação do seu PIA e deverá manter as ações realizadas anteriormente, além de serem acrescidas outras ações à sua rotina tais como:

Realizar estudo de caso para revisão e reavaliação as metas propostas no PIA junto com o responsável familiar e toda equipe de referência.

Viabilizar, a partir desse momento, encaminhamentos (entrevistas, exames, ofícios) ao mercado de trabalho, quando a equipe técnica assim entender;

Realizar avaliação quanto a habilidades e competências para o novo período de cumprimento da medida.

Avaliar o desempenho do socioeducando na escola e em cursos profissionalizantes, além da continuidade dessas atividades.

Intensificar o acompanhamento com as famílias, por parte da equipe técnica, para identificar e tratar possíveis problemáticas familiares, além de dar início ao preparo dos adolescentes e famílias para a reintegração social.

Realizar visita técnica aos locais ou instituições da rede socioassistencial.

Fortalecer a autonomia para assumir suas responsabilidades.

Realizar grupos reflexivos sobre autonomia e reconhecimento de suas conquistas.

10 Podem ser estipulados vários seminários de forma que o adolescente apresente crescimento e desenvolvimento no percurso da medida.

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Realizar grupos reflexivos sobre responsabilidade pessoal e social frente ao meio ambiente; desenvolvimento local, vida comunitária, família, grupos étnicos, comunicação, organizações populares, movimentos sociais e redes.

Elaborar e apresentar seus conhecimentos e experiência de vida às famílias durante reuniões ou assembleias e nos seminários;

Desenvolver e fortalecer alternativas distintas da vida no ato infracional, através dos instrumentos proporcionados no processo socioeducativo.

Participar de oficinas e cursos profissionalizantes (dar continuidade, ou aceitar novas oficinas e/ou cursos oferecidos desde o Acolhimento).

Participar ativamente das orientações pedagógicas, escolares e vocacionais, visando o seu projeto de vida e futuro profissional.

Elaborar seminários exploratórios a partir dos estudos de caso, encontros especiais e autoavaliações semanais.

Aprofundar na elaboração e confecção dos seminários, respeitando a Rotina Pedagógica e buscando confrontar assertivamente os colegas durante as apresentações.

Participar dos círculos temáticos com temáticas específicas: a) Sexualidade b) Meio ambiente c) Saúde d) Educação alimentar e) Drogas f ) Violência g) Solidariedade h) Ética e cidadania.

Auxiliar o adolescente e sua família a se conhecer melhor, por meio do autoconhecimento pessoal, social e comunitário.

Auxiliar o adolescente a identificar suas características pessoais, dificuldades, potencialidades e alternativas para superação.

Acompanhar o socioeducando até que ele possa fazer uma reflexão profunda de sua realidade, confiando que a equipe técnica de referência estará preparada para criar estratégias de intervenção nas diferentes áreas.

Resultados esperados

Garantia da matrícula, frequência e bom rendimento escolar.

Boa apresentação e higiene pessoal, além de cuidados dos seus pertences, do seu alojamento e de todo seu entorno.

Participação efetiva nos encontros da manhã e da tarde, dos círculos temáticos e de outras intervenções.

Responsabilizar-se com a Rotina Pedagógica e conhecer a Cartilha do Socioeducando.

Manter boa disposição para o diálogo e escuta.

Evitar linguagem de baixo calão.

Manter uma postura física adequada ao caminhar e ao sentar.

Evitar conflitos entre colegas como: discussões, agressões verbais e físicas, gestos obscenos e grosseiros, brincadeiras de mau gosto.

Ser prudente no manejo das informações, tanto com os colegas, quanto com as famílias.

Manter boas relações de respeito com a equipe, outros internos e com sua família, adquirindo

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normas e compromissos individuais e familiares, conforme o objetivo e as finalidades do Plano Individual de Atendimento – PIA.

Praticar a Cartilha do Socioeducando e o Plano Individual de Atendimento – PIA;

Aceitar suas dificuldades e potencialidades, adquirindo maior conhecimento destas através dos estudos de caso, encontros especiais e círculos temáticos.

Assumir responsabilidades no alojamento em que esteja inserido e demais dependências da Unidade, com as ações previstas na Rotina Pedagógica e após consentimento da equipe, de acordo com as atribuições de cada adolescente.

Reconhecer e aceitar suas demandas pessoais sociais e familiares, estabelecendo um compromisso pessoal e voluntário de mudança e superação.

Saber argumentar a respeito de suas conquistas com base na execução da medida.

Sempre que o(a) adolescente apresentar em suas avaliações regulares resultados positivos receberá os seguintes benefícios como forma de reconhecimento do seu esforço e compromisso com a medida socioeducativa:

O elogio, declaração afetiva e enaltecimentos;

Incentivos materiais (fotos, roupas no caso de atividades externas, outros em consonância com a proposta pedagógica);

Lazer em shopping, praia, cinema, teatro, restaurante, etc.;

Diplomação por reconhecimento de participação, respeito e educação, após expressa avaliação da sua conduta e aprendizagem.

Possibilidade de exercer liderança positiva, podendo ser auxiliar de monitoria em algumas atividades no Acolhimento e auxiliar da pedagogia, referência de plantão, coordenação, administrativo ou equipe técnica.

Possibilidade de receber autorização para participar de campeonatos esportivos externos representando a escola vinculada ou o Centro Socioeducativo e FUNAC.

Participação de mais saída pedagógica de caráter cultural (cinema, teatro ou outros).

• Inclusão em cursos, escola e outras atividades formativas fora da Unidade (depende de autorização da equipe técnica e pela justiça).

Atendimento Familiar

Objetivo:

Vincular a família ao atendimento da unidade, possibilitando que esta compreenda a importância e relevância das normas, regras e procedimentos da unidade.

Sensibilizar a família quanto a sua importância no acompanhamento ao socioeducando.

Proporcionar à família atendimento personalizado segundo suas demandas.

Ações a serem desenvolvidas com a família:

Realizar contato telefônico com familiar/responsável legal: o contato inicial deve ser realizado pela equipe técnica, objetivando orientar a família sobre o processo socioeducativo.

Promover a visita da família na instituição para contato de conhecimento, entrevista inicial e assinatura do Plano Individual de Atendimento – PIA do adolescente.

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Possibilitar a visita familiar aos sábados ou em outro dia conforme justificativa.

Realizar a visita domiciliar quando necessário;

Auxiliar no aprendizado das normas institucionais dentro das visitas.

Possibilitar a participação na Reunião familiar na ocasião de visitas.

Auxiliar no estudo da filosofia institucional.

Organizar Círculos temáticos, encontros especiais e confecção do PIA.

Encaminhar a família à rede socioassistencial quando necessário.

Aceitar a importância do exemplo familiar na educação.

Demonstrar preocupação com o futuro do grupo familiar.

Construir as metas familiares em curto, médio e longo prazo.

Aprofundar os temas abordados e as demandas reconhecidas na etapa anterior.

Reconhecer os fatores de risco e proteção para a reinserção social do adolescente e da família.

Realizar a avaliação da família sobre o respeito às normas, cuidado com as informações trazidas e aceitação das intervenções com a equipe técnica de referência.

5.2.3 Acompanhamento ao Egresso da Medida de Internação

No que tange aos adolescentes e jovens egressos das medidas de internação a maioria está com dificuldades em seus ambientes familiares e comunitários, muitas vezes devido ao uso e abuso de substâncias psicoativas e à baixa escolaridade e qualificação profissional que os colocam em baixa expectativa de inserção no mercado de trabalho. As famílias desses adolescentes e jovens apresentam dificuldades em suprir as suas necessidades básicas e de garantir os seus direitos fundamentais de educação, saúde, trabalho, esporte, lazer e cultura.

A proposta de acompanhamento desses adolescentes e jovens egressos será efetivada por meio da Coordenação de Medidas Socioeducativas, juntamente com as equipes das Unidades de Atendimento da Fundação, visando o fortalecimento da capacidade protetiva da família e comunidade dos adolescentes e jovens egressos de medida cautelar de Internação Provisória e medidas socioeducativas privativas e restritivas de liberdade, possibilitando a construção de novos projetos de vida desvinculados da prática do ato infracional.

Deste modo o acompanhamento ao regresso consiste no atendimento aos adolescentes e jovens da medida socioeducativa de internação, visando o seu desenvolvimento integral e contribuindo na garantia de novos projetos de vida.

Ressalte-se que o acompanhamento a egressos se iniciará com o adolescente ainda dentro da unidade, tanto na preparação deste para sua saída, quanto na articulação da rede socioassistencial da sua localidade ou para onde o mesmo passará a residir.

Com o desligamento do mesmo da unidade a CPSE passará a acompanhá-lo, de forma articulada com os CREAS e CRAS, ou outro parceiro de cada município que o mesmo residir, além disso poderá visitar a família nos casos que se fizer necessário uma ação mais intensa. Esta estratégia envolve a articulações com Gestores (as) municipais para efetivação de atividades intersetoriais para atendimento aos egressos, seja pela equipe técnica da Unidade, seja pela equipe técnica da CPSE, assim como do planejamento das ações de atendimento,

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acompanhamento e sistematização de dados pela CPSE.

Egresso com extinção da medida o acompanhamento se dará pelo período de até dozes meses com incentivo à escolarização, formação profissional e inserção no mercado de trabalho.

5.2.4 Atendimento Socioeducativo de Semiliberdade

O Programa de Semiliberdade vincula o adolescente a unidades especializadas, com restrição da sua liberdade, possibilitada a realização de atividades externas, sendo obrigatórias a escolarização e a profissionalização. O jovem poderá permanecer com a família aos finais de semana, desde que autorizado pela coordenação da Unidade de Semiliberdade.

Através do programa, são realizadas atividades socioterapêuticas e reflexivas individuais e em grupo, atividades diárias de autocuidado e organização coletiva e atendimentos diversos.

5.2.4.1 Acolhimento e Integração

Objetivos:

A equipe deve trabalhar com o adolescente e o jovem, as regras, os procedimentos e a importância da boa convivência com a comunidade socioeducativa quanto à formação de compromisso, motivação e acompanhamento, sendo:

Levar o socioeducando a compreender e reconhecer a medida de forma a se cooresponsabilizar pelo Projeto Sociopedagógico, assim como as metas preestabelecidas no PIA;

Trabalhar com os adolescentes e jovens a motivação e o empenho para execução do seu projeto de vida, contribuindo para seu crescimento pessoal e social;

Observar o desempenho, a linguagem e outras situações que expressam as mudanças, os comportamentos e atitudes dos adolescentes e jovens.

Ações a serem desenvolvidas:

Esta é a etapa inicial do atendimento, do ingresso do socioeducando na casa, momento de cuidado, com atitudes de respeito, seguindo as seguintes ações:

Da Recepção

No ato da recepção o socioeducando é recebido pelo educador e representante da direção ou coordenação, deverão ser conferidos os documentos necessários para a admissão (guia de execução definitiva da medida e Exame de Corpo de delito) caso não tenha não é permitido o ingresso, conforme portaria de nº 20/GJ2015-2ª Vara da Infância e Juventude. Também proceder à revista nos objetos fazer a conferência e preenchimento da ficha de comprovante de pertences esta (deve ser arquivada no dossiê).

Após esse momento o socioeducando passará por uma revista minuciosa, em seguida é encaminhado para direção ou coordenação.

Do acolhimento

A direção, coordenação ou técnico deve acolher o adolescente em lugar reservado (situar o adolescente sobre o contexto geral da instituição e do programa e outros procedimento de segurança). Em um terceiro momento o socioeducando será apresentado aos seus pares e profissionais da casa em um círculo de acolhimento, onde será acolhido e integrado, com espaço para falar de suas expectativas e anseios.

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Após o momento integrativo procede-se a entrega do kit básico que é composto de (sabonete, escova, roupas de camas e banho, roupas caso necessário).

Proceder orientações quanto ao tipo de roupas e objetos que ficarão sob o poder do adolescente (evitar posse na casa de objetos e roupas de marcas). Ainda nesse momento é definido o quarto onde deverá acomodar-se, observando procedimento de segurança com relação a (integridade física e problemas de convivência).

Nesta etapa é realizado o preenchimento da ficha de identificação (primeiro dia, deve sempre ser preenchida logo que o adolescente ingressar na casa por técnico/ coordenador ou membro da direção). Assim como a comunicação imediata ao responsável do ingresso do adolescente na casa e assinado o termo de compromisso.

Ainda é realizado o atendimento com auxiliar de enfermagem para observação dos aspectos gerais de saúde (lesão física, demandas psiquiátricas urgentes, entre outras). Após esse período iniciar os atendimentos técnicos para coleta de dados que servem de base para o diagnóstico polidimensional.

Neste período o adolescente/jovem deverá conhecer o regimento interno e a rotina sociopedagógica, assim como iniciar as atividades propostas na rotina (atividades individuais e grupais).

Da Integração

Ser acolhido pela direção nas primeiras 24h

Passar pelo círculo de acolhida;

Receber atendimento de um auxiliar de enfermagem nas primeiras 24 horas de estadia do adolescente no programa para identificação de demandas;

Realizar contato telefônico com a família até 48h;

Ser informado e orientado acerca das normas e regras da casa até 48h através estudos periódicos da rotina, filosofia da casa e outros;

Receber orientações sobre o processo de avaliação na unidade;

Participar gradativamente das atividades internas conforme programadas na rotina sociopedagógica nas primeiras duas semanas;

Receber a visita da família na casa;

Ser atendido para elaboração do Diagnóstico Polidimensional (Equipe Técnica);

Ser gradativamente inserido em atividades pedagógicas externas: escola e outras conforme avaliação da equipe;

Ser encaminhado para atendimentos conforme suas demandas;

Participar de momentos espirituais e celebrações no espaço de convivência da casa;

Ser encaminhado para a convivência familiar conforme regimento interno da casa;

Realizar estudo de caso para elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA);

Elaborar compromissos pessoais e familiares firmados no seu PIA;

Passar pelo processo de avaliação de cumprimento das metas do PIA.

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Das atividades externas (escola, cursos e convivência familiar)

Todo adolescente/jovem ao ingressar na casa só poderá frequentar qualquer atividade externa após transcorridos 7 dias (as exceções ficam submetidas as avaliações técnicas ou determinações judiciais).

5.2.4.2 Implementação do PIA

Para a execução do PIA teremos os seguintes objetivos:

Reconhecer - consiste no desenvolvimento de ações que levem ao reconhecimento das demandas do adolescente, através de um diagnóstico daquilo que o levou a cometer o ato infracional (responsabilização). Nesta etapa se busca conscientizar o adolescente sobre sua trajetória pessoal, considerando características que lhe trazem dificuldades na convivência social.

Apoiar - Compete à equipe intervir sobre as demandas apresentadas ao jovem e o apoio necessário a fim de que ele possa ter clareza de seus problemas específicos e aprenda a desenvolver ações e alternativas resilientes lidar com eles.

Explorar e aprofundar demandas - nesta fase busca-se explorar terapeuticamente as origens e a razão dos consultores se manterem nas áreas pessoal, familiar, comunitária e social, acadêmica e profissionalizante, focando no auxílio ao socioeducando para praticar os compromissos estabelecidos.

Criar necessidades - a equipe busca atuar de forma que o socioeducando se utilize de todas as ferramentas sociopedagógicas e socioterapêuticas para que possa estabelecer relação com suas demandas pessoais, familiares e sociais.

Consciência crítica - construir junto aos socioeducandos uma consciência crítica que lhes permitam diferenciar as condições de seu ambiente econômico, cultural, social e pessoal, além de desenvolver a possibilidade de escolher com responsabilidade aquilo que lhes corresponde fazer.

Acompanhar: Oferecer acompanhamento aos adolescentes que estão em processo de desligamento da medida socioeducativa nos aspectos que ele precisa reforçar para sua completa integração na vida social.

Ações a serem desenvolvidas:

Incluir o adolescente em todas as atividades da jornada sociopedagógica (inclusive oficinas esportivas, culturais, recreativas, de lazer e de espiritualidade);

Desenvolver círculos temáticos com temáticas específicas:

(sexualidade/DSTS, saúde, educação alimentar, drogas, violência, solidariedade, ética e cidadania, relações interpessoais, planejamento familiar, resolução de conflitos).

Apoiar o adolescente na elaboração dos compromissos pessoais a médio e longo prazo, além de um resumo dos danos causados a si e a outros.

Encaminhar o adolescente e o jovem para oficinas e cursos profissionalizantes (dar continuidade, ou aceitar novas oficinas e/ou cursos oferecidos desde o Acolhimento.

Oferecer atividades de orientações pedagógicas, escolares e profissionais, visando o seu projeto de vida e futuro profissional.

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Realizar estudos de caso periódicos para avaliação de conquistas das metas a médio e longo prazo.

Acompanhar o adolescente nas atividades da rotina sociopedagógica, de forma a estabelecer um maior vínculo com a equipe e acompanhar a evolução nas atividades;

Identificar os fatores de risco e proteção que poderá encontrar no momento da real inclusão social.

Revisão das metas do PIA a longo prazo;

Realizar grupos reflexivos sobre autonomia e reconhecimento de suas conquistas;

Realizar momentos sobre responsabilidade pessoal e social frente ao meio ambiente;

Realizar atendimentos individuais para reafirmar compromisso;

Preparar adolescente para desligamento;

Encaminhar para equipe do CREAS;

Realizar monitoramento da convivência após desligamento.

Atendimento a Famílias ou Responsáveis

Objetivos:

Estimular a participação no processo socioeducativo;

Propiciar o atendimento personalizado com a elaboração de diagnóstico;

Proporcionar informações e conhecimentos do programa (rotinas, normas e procedimentos);

Possibilitar a identificação e resgate da história familiar e identidade pessoal e social;

Identificar as dificuldades e potencialidade das famílias encaminhá-las para o atendimento de demandas emergenciais.

Contribuir com as famílias para fortalecer o processo de empoderamento e inclusão social.

Ações a serem desenvolvidas

Realizar contato telefônico para informar do ingresso do adolescente na medida;

Realização de círculos integrativos com a família;

Proceder estudo das normas da casa com familiares;

Realizar entrevista inicial com a equipe interdisciplinar;

Realizar encontros de sensibilização e informação (círculos temáticos, rodas de diálogos, círculos, terapias comunitárias e vivências);

Realizar visita domiciliares de monitoramento da convivência familiar e comunitária;

Viabilizar encaminhamentos para atendimento de demandas;

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6 RECURSOS HUMANOSA gestão de recursos humanos tem uma função estratégica na administração pública,

que ultrapassa a perspectiva meramente administrativa e cartorial. Marcada por grandes transformações, a gestão de recursos humanos vem ganhando adeptos num movimento para se tornar imperiosa a formulação e a implantação de um modelo de formação e de gestão da força de trabalho, baseado no enfoque das competências profissionais, como alternativa mais viável para alinhar a política de recursos humanos às diretrizes e estratégias institucionais.

É importante que sejam criados instrumentos de planejamento que dêem subsídios à relação entre as pessoas e a instituição, os quais, simultaneamente, devem favorecer a integração da gestão de recursos humanos com objetivos e metas institucionais.

No âmbito da FUNAC, o trabalho desenvolvido pelas equipes multiprofissionais, possui funções, atribuições e responsabilidades diferenciadas para cada área de conhecimento, com a mesma finalidade de garantir o atendimento aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa restritiva e privativa de liberdade. Sendo assim, os profissionais da Instituição, sem exceção, são educadores e, como tal, devem se perceber em processo contínuo de aprendizagem, de conhecimento e aperfeiçoamento para contribuir com a qualificação desse atendimento, pautado nos princípios dos direitos humanos definidos no SINASE.

O ingresso de pessoal é planejado na perspectiva da previsão de quantitativos de vagas a serem preenchidas, preferencialmente, por meio de concurso público, conforme determinação do SINASE e Resolução Nº 07/2007, do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente – CEDCA/MA. Em se tratando de contratação de pessoal vinculada a processo seletivo simplificado, observar-se-ão as seguintes etapas: avaliação de currículo, prova seletiva, entrevista, dinâmica de grupo, e exames admissionais.

A composição da equipe de profissionais é determinada pelo quantitativo de adolescentes atendidos, sendo indicado pelo SINASE um grupo reduzido de adolescentes para cada profissional, levando em conta a proposta socioeducativa e o vínculo a ser estabelecido com o socioeducando.

De acordo com o SINASE, a definição de uma equipe mínima será de acordo com a modalidade de atendimento, pois para a medida socioeducativa de semiliberdade, está previsto para

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o atendimento de 20 adolescentes uma equipe composta por 01 diretor, 01 vice-diretor, 01 coordenador técnico, 01 coordenador de segurança, 01 coordenador de higiene e alimentos, 01 assistente social, 01 psicólogo, 01 pedagogo, 01 advogado, 02 socioeducadores em cada jornada e um coordenador administrativo e demais cargos necessários ao atendimento.

Já para o programa de internação e internação provisória, está previsto para o atendimento de 40 adolescentes, uma equipe composta por: 01 diretor, 01 vice-diretor, 01 coordenador técnico, 01 coordenador de segurança, 01 coordenador de higiene e alimentos, 02 assistentes sociais, 02 psicólogos, 02 pedagogos, 02 advogados e demais profissionais necessários para o atendimento de saúde, escolarização, esporte, cultura, lazer e profissionalização. Os socioeducadores são previstos de acordo com o perfil dos adolescentes e suas necessidades pedagógicas, sendo em média um socioeducador para cada 02 adolescentes.

Ressalta-se que o socioeducador, além do desenvolvimento de suas atribuições pedagógicas, deve desenvolver atividades relativas à preservação da integridade física e psicológica dos adolescentes e funcionários.

Outros profissionais também compõem a equipe das Unidades de Atendimento, formada por: educadores, instrutor de informática, artesanato, cerâmica, horticultura, hip hop, auxiliar de consultório dentário, auxiliares de enfermagem, auxiliares administrativos e recepcionistas, vigilantes, cozinheiras, almoxarifes, auxiliares de serviços gerais, entre outros, caso seja requisitado.

Toda a comunidade socioeducativa atuará no sentido de prevalecer o caráter sociopedagógico em detrimento do caráter corretivo/repressor, de forma que o respeito mútuo e a disciplina são fundamentais no desenvolvimento das atividades. Nesse sentido, os documentos como Regimento Interno, Manual de Funções, Manual do Adolescente e Manual de Segurança serão seguidos por todos, sem nenhuma restrição, somente dessa maneira é possível que todos sejam capazes de atuar com a mesma linguagem.

Sabe-se que o investimento na gestão do trabalho influencia, decisivamente, na melhoria da qualidade do atendimento socioeducativo, de forma que a tecnologia do trabalho socioeducativo se constitui em seus trabalhadores, sendo indispensáveis para a efetividade do atendimento realizado, o que justifica esta proposta visando uma política de gestão do trabalho que privilegie a qualificação técnico-política dos trabalhadores do atendimento socioeducativo.

6.1 Formação

A FUNAC, em 2015, iniciou o processo de implantação da Escola de Formação Socioeducativa do Estado do Maranhão para qualificação dos trabalhadores do sistema socioeducativo. Essa proposta tem por finalidade a articulação da práxis, a construção coletiva do conhecimento, a troca de experiências, a valorização dos saberes profissionais, a reflexão crítica, a sistematização e o registro das práticas institucionais desenvolvidas pelos atores do sistema socioeducativo de acordo com os parâmetros da Escola Nacional de Socioeducação.

A Escola Socioeducativa do Maranhão (ESMA) está subordinada à orientação da matriz metodológica da Escola Nacional Socioeducativa (ENS), que prevê um programa de formação distribuídos em três núcleos: o básico, o específico e o de especialização, os quais, para o seu desenvolvimento, ocorrerão por meio das modalidades de ensino presencial, semi-presencial e à distância.

O núcleo básico corresponde a cursos de extensão de formação básica comum a todos os

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profissionais da socioeducação em âmbito estadual, com carga horária mínima de 160h. O núcleo específico diz respeito aos cursos de extensão focado em temas específicos da socioeducação com carga horária mínima de 40h. O núcleo de especialização se refere à formação em nível de pós-graduação lato senso com carga horária mínima de 360h.

Os núcleos acontecerão de forma gradativa e o público é de gestores e profissionais que atuam na execução das medidas socioeducativas restritivas, privativas de liberdade, em meio aberto e demais operadores do sistema de garantia de direitos do estado do Maranhão, articulados à execução do SINASE.

Para os trabalhadores da FUNAC, será priorizado nas formações específicas, o Plano de Segurança, com foco em ações preventivas e interventivas nas Unidades de atendimento. Destaca-se que todos os servidores serão submetidos a treinamentos práticos de segurança combate a incêndio e a prestação de atendimento de primeiros socorros, em consonância com o SINASE.

Outra ação importante para a capacitação dos profissionais diz respeito ao treinamento sistemático para atuar com eficiência e eficácia nas situações-limites do atendimento, o que envolve técnicas de abordagem, técnicas de negociação, entre outras, seguindo com o que já foi explicitado na concepção conceitual e de procedimento deste projeto.

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7 PLANEJAMENTO E SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIÇÃO

Para a implementação deste Projeto, a Fundação adota os procedimentos de planejamento, monitoramento e avaliação como instrumentos de gestão e de controle imprescindíveis na execução das ações e levantamento dos resultados alcançados. Assim, parte-se da dimensão do planejamento enquanto ação estratégica e depois do processo de monitoramento e avaliação, enquanto mensuração da práxis.

7.1 Planejamento

O planejamento considera indicadores qualitativos e quantitativos, buscando uma gestão eficaz, eficiente e efetiva com vistas nos indicadores de resultados..

Nesse sentido, a FUNAC elabora e revisa sistematicamente seu planejamento estratégico quadrienal, composto pelo detalhamento no plano de ação anual da gestão e dos programas socioeducativos que incorporam os eixos do atendimento de acordo com o estabelecido no SINASE. A metodologia utilizada pela instituição para construção do planejamento é participativa, pois se trata de uma prática descentralizada de gestão para efetivar a política socioeducativa com parâmetros democráticos.

O planejamento, monitoramento e avaliação das ações da Fundação são coordenados pela Assessoria de Planejamento e Ações Estratégicas, que dinamiza o processo por meio de instrumentais previamente discutidos e elaborados e com calendário construído coletivamente.

7.2 Monitoramento e avaliação

O monitoramento se articula com a prática avaliativa a partir da identificação dos problemas e busca da sua resolução. Em processos específicos de avaliação, verifica-se a relevância da ação planejada para sua manutenção ou não, com redefinição de prazos ou sua exclusão do planejamento, com a devida justificativa. Tal prática vai de encontro ao conceito de avaliação proposto por Cunha (2006), que afirma que:

A atividade de avaliação não é uma atividade isolada e auto-suficiente. Ela é uma das etapas do processo de planejamento das políticas e programas governamentais: gera informações que possibilitam novas escolhas; analisa resultados que podem sugerir a necessidade de reorientação das ações para o alcance dos objetivos traçados (CUNHA, 2006, p. 6).

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O Cronograma de Monitoramento da Fundação é organizado por períodos. Assim, mensalmente os setores e as unidades elaboram um relatório das ações executadas e semestralmente preenchem os instrumentos de monitoramento de cada área que são compartilhados num encontro coletivo. Ainda semestralmente, é realizada uma avaliação pelos adolescentes e suas famílias sobre o atendimento ofertado pela Funac, essa avaliação ocorre ao término do cumprimento da medida socioeducativa de internação e semiliberdade; a avaliação pelos adolescentes com medida de internação provisória se dá com aqueles que se encontram na unidade, no dia da aplicação (ver instrumentais no anexo). Anualmente, a Fundação realiza um encontro de avaliação e balanço das ações planejadas e executadas e, a partir dessas informações, a Assessoria de Planejamento elabora um relatório geral em que são publicizadas as informações coletadas.

Assim, o processo de monitoramento e avaliação diz respeito às categorias e indicadores de qualidade determinados pelo SINASE e deve envolver coletivamente os profissionais e também a participação dos adolescentes e suas famílias.

Direitos humanos:

Alimentação, vestuário, higiene pessoal, documentação civil, documentação escolar, escolarização, profissionalização, esporte, cultura, lazer, saúde, assistência espiritual, respeito e dignidade, direitos sexuais, direitos políticos.

Ambiente físico e infraestrutura:

Capacidade física, salubridade, refeitório, dormitórios, banheiros, espaço para escolarização, espaço para atendimento a saúde, espaço para práticas de esporte, cultura e lazer, espaço para atendimento técnico, espaço para oficinas, espaço para visitas intimas, espaço ecumênico, equipamentos e segurança.

Atendimento socioeducativo:

Atendimento familiar, atendimento técnico, encaminhamento para a rede de atendimento, atendimento ao egresso em caso de internação e Plano Individual de Atendimento-PIA.

Gestão e recursos humanos:

Capacidade de gestão, planejamento e projeto pedagógico, formação e capacitação de recursos humanos, plano de cargos e salários, supervisão e apoio de assessorias externas, fluxo de atendimento socioeducativo, coleta e registro de dados e informações, redução do índice de reincidência, avaliação e parcerias.

Deste modo, as ações empreendidas deverão verificar em que grau os programas/projetos e ou serviços estão sendo executados e ou prestados em relação ao programado; se os objetivos estão sendo atingidos e com que qualidade; se a concepção pedagógica e princípios educativos estão sendo considerados; o nível de satisfação dos adolescentes, educadores e famílias.

Os resultados obtidos serão registrados em instrumentais próprios e servirão de base para a tomada de decisão do órgão gestor, identificando possibilidades e os obstáculos a enfrentar.Neste processo de monitoramento e avaliação, a Fundação, quando julgar necessário, pode adotar a prática da supervisão e avaliação externa de modo a permitir o seu acompanhamento a partir de uma perspectiva mais distanciada do cotidiano das Unidades.

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ANEXOS

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Projeto Político Pedagógico 2018 | 93 |

FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEDiretoria Técnica | Coordenação dos Programas Socioeducativos da Grande Ilha e Regionalizada e Coordenação Geral de SegurançaAssessoria de Planejamento e Ações EstratégicasPROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO | PLANO DE SEGURANÇA - GUIA DE INSTRUMENTAIS

UNIDADE:MEDIDA: Data: __________de___________________ de 20______

AVALIAÇÃO DO ATENDIMENTO PELO ADOLESCENTE – INTERNAÇÃO E SEMILIBERDADE

Esta avaliação nos ajudará a melhorar nossos serviços. Para cada item, dê uma pontuação de 01 a 05, conforme escala abaixo:

Atendimento de equipes Nota

1. O acolhimento quando da sua chegada na Unidade

2. Direção

3. Vice-direção

4. Coordenação técnica

5. Coordenação de segurança

6. Coordenação de higiene e alimentos

7. Supervisores de Segurança e Educadores/monitores

8. Equipe técnica (assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, advogados, enfermeiros): atendimento individual; em

grupo; temáticas abordadas.

9. Oficineiras(os)

10. Professores(as)

11. Atendimento à sua família

12. Sua segurança na Unidade

Material e Infraestrutura Nota

13. Espaço físico da Unidade (alojamento)

14. Espaço físico da Unidade (demais áreas como salas de aulas, refeitório, sala de atendimento técnico)

15. Vestuário

16. Alimentação

17. Kit de higiene e limpeza

Atividades Nota

18. Escolarização (Interna ou Externa)

19. Oficinas

20. Cursos Profissionalizantes

21. Esporte, cultura e lazer

22. Atendimento de saúde

23. Assistência religiosa

Autoavaliação

24. Avalie seu compromisso com o cumprimento da medida socioeducativa

Deixe seu comentário sobre algum item:

Deixe sugestões para que possamos melhorar nosso atendimento:

_________________________________ _____________________________Nome Aplicador(a) Nome do(a) Adolescente

Ruim1 Regular2 Bom3 Muito bom4 Excelente5

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| 94 | Projeto Político Pedagógico 2018

FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEDiretoria Técnica | Coordenação dos Programas Socioeducativos da Grande Ilha e Regionalizada e Coordenação Geral de SegurançaAssessoria de Planejamento e Ações EstratégicasPROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO | PLANO DE SEGURANÇA - GUIA DE INSTRUMENTAIS

UNIDADE:MEDIDA: Data: _______de________________ de 2018

AVALIAÇÃO DO ATENDIMENTO PELO ADOLESCENTE – INTERNAÇÃO PROVISÓRIA

Esta avaliação nos ajudará a melhorar nossos serviços. Para cada item, dê uma pontuação de 01 a 05, conforme escala abaixo:

Atendimento de equipes Nota

1. O acolhimento quando da sua chegada na Unidade

2. Direção

3. Vice-direção

4. Coordenação técnica

5. Coordenação de segurança

6. Coordenação de higiene e alimentos

7. Supervisores de Segurança e Educadores/monitores

8. Equipe técnica (assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, advogados, enfermeiros): atendimento individual; em

grupo; temáticas abordadas.

9. Oficineiras(os)

10. Professores(as)

11. Atendimento à sua família

12. Sua segurança na Unidade

Material e Infraestrutura Nota

13. Espaço físico da Unidade (alojamento)

14. Espaço físico da Unidade (demais áreas como salas de aulas, refeitório, sala de atendimento técnico)

15. Vestuário

16. Alimentação

17. Kit de higiene e limpeza

Atividades Nota

18. Escolarização

19. Oficinas

20. Esporte, cultura e lazer

21. Atendimento de saúde

22. Assistência religiosa

Autoavaliação

25. Avalie seu compromisso com o cumprimento da medida socioeducativa

Deixe seu comentário sobre algum item:

Deixe sugestões para que possamos melhorar nosso atendimento:

_________________________________ _____________________________Nome Aplicador(a) Nome do(a) Adolescente

Insatisfatório1 Regular2 Bom3 Muito bom4 Excelente5

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FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEDiretoria Técnica | Coordenação dos Programas Socioeducativos da Grande Ilha e Regionalizada e Coordenação Geral de SegurançaAssessoria de Planejamento e Ações EstratégicasPROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO | PLANO DE SEGURANÇA - GUIA DE INSTRUMENTAIS

UNIDADE:MEDIDA: Data: __________de___________________ de 20______

AVALIAÇÃO DO ATENDIMENTO PELA FAMÍLIA

Esta avaliação nos ajudará a melhorar nossos serviços. Para cada item, dê uma pontuação de 01 a 05,

conforme escala abaixo. Agradecemos sua participação!

Como você se sente quanto ao atendimento de equipes? Nota1. Atendimento a você2. Atendimento ao/à ADOLESCENTE: como você avalia o atendimento e

acompanhamento ao/a adolescente?

3. Portaria/Recepção

4. Procedimento de Revista

5. Espaço físico da Unidade

6. Local de visitação

7. Direção/ Vice-direção

8. Atendimento técnico em geral

9. Atendimento por contato telefônico

10. Comunicação sobre ocorrências de conflitos na Unidade

11. Orientações sobre a medida e o papel da família na socioeducação

12. Eventos realizados na Unidade

13. Comunicação, apoio e orientação sobre desligamento do adolescente da medida

14. Recebimento de documentação quando do desligamento (ex: documentação civil,

escolar, profissionalizante e de saúde)

15. Adolescente comunicou ter sofrido alguma violência ou ameaça? (Sim/Não)

16. Autoavaliação: avalie seu envolvimento no processo socioeducativo do(a)

adolescente

Destaque o que você considera POSITIVO no desenvolvimento da medida

Destaque o que você considera NEGATIVO no desenvolvimento da medida

Deixe sugestões para que possamos melhorar nosso atendimento

________________________________________ ________________________________________Nome do(a) Aplicador(a) Nome do(a) Responsável

________________________________________Parentesco do(a) Responsável

Ruim1 Regular2 Bom3 Muito bom4 Excelente5

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