APOSTILA SAMU - MÉDICOS E ENFERMEIROS

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KITT

CURSO DE ATENDIMENTO EM EMERGNCIA PR - HOSPITALAR MVEL

2010-1-

NDICEPoltica Nacional de Ateno as Urgncias ................................................ Servio de Atendimento Mvel de Urgncia - SAMU ................................ Veculos e equipamentos usados no atendimento Pr-hospitalar ............. Transporte inter hospitalar .......................................................................... tica e Humanizao no Atendimento Pr-hospitalar ................................ Biossegurana ............................................................................................ Cinemtica do Trauma ............................................................................... Avaliao da Cena e abordagem da Vtima .............................................. Vias Areas e Ventilao ........................................................................... Ferimento Curativos e Bandagens ............................................................ Choque Hipovolmico e Reposio Volmica .......................................... Trauma Msculo Esqueltico ...................................................................... Tcnicas de Imobilizaes .......................................................................... Acidentes com Mltiplas Vtimas e Catstrofes ......................................... Traumas Especficos : ................................................................................ Traumatismo Crnio Enceflico ....................................................... Trauma de Face ............................................................................... Traumatismo Raquimedular ............................................................. Traumatismo Torcico ...................................................................... Traumatismo Abdominal .................................................................. Trauma na Criana ........................................................................... Trauma na Gestante ......................................................................... Trauma no Idoso ............................................................................... Choque eltrico .......................................................................................... Queimaduras .............................................................................................. Afogamento ................................................................................................. Intoxicao exgena e Envenenamento ..................................................... Reanimao Crdiopulmonar Cerebral - adulto e peditrica ..................... Urgncias Clnicas: ..................................................................................... Crise Hipertensiva ....................................................................... Diabetes Mellitus .............................................................................. Sndromes Coronariana Aguda ........................................................ Acidente Vascular Cerebral .............................................................. Convulso ......................................................................................... Urgncias Obsttricas ................................................................................ Assistncia ao Parto Normal e Cuidado com Recm-nascido Complicaes da Gravidez Hemorragia e Abortamento Complicaes P-parto Urgncias Psiquitricas .............................................................................. Psicoses Tentativa de Suicdio Depresses 06 10 19 29 35 48 57 71 88 131 145 151 161 187 195 195 208 220 227 241 252 261 268 274 280 294 310 332 383 383 389 401 411 419 432

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Conceituao de urgnciaConceito formal Segundo o Conselho Federal de Medicina, em sua Resoluo CFM n. 1.451, de 10/3/1995 (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1995), temos: Urgncia: ocorrncia imprevista de agravo sade com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistncia mdica imediata. Emergncia: constatao mdica de condies de agravo sade que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento mdico imediato. Conceito ampliado Segundo Le Coutour, o conceito de urgncia difere em funo de quem a percebe ou sente: Para os usurios e seus familiares, pode estar associada a uma ruptura de ordem do curso da vida. do imprevisto que tende a vir a urgncia: eu no posso esperar. Para o mdico, a noo de urgncia repousa no sobre a ruptura, mas sobre o tempo, relacionado com o prognstico vital em certo intervalo: ele no pode esperar. Para as instituies, a urgncia corresponde a uma perturbao de sua orga- nizao, o que no pode ser previsto . No dicionrio da lngua portuguesa, l-se que emergncia relativo a emergir, ou seja, alguma coisa que no existia, ou que no era vista, e que passa a existir ou ser manifesta, representando, dessa forma, qualquer queixa ou novo sintoma que um paciente passe a apresentar. Assim, tanto um acidente quanto uma virose respiratria, uma dor de dente ou uma hemorragia digestiva, podem ser consideradas emergncias. Este entendimento da emergncia difere do conceito americano, que tem permanentemente influenciado nossas mentes e entende que uma situao de emergncia no pode esperar e tem de ser atendida com rapidez, como incorporado pelo prprio CFM. Inversamente, de acordo com a nossa lngua, urgncia significa aquilo que no pode esperar (tanto que o Aurlio apresenta a expresso jurdica urgncia urgentssima). Assim, devido ao grande nmero de julgamentos e dvidas que esta ambivalncia de terminologia suscita no meio mdico e no sistema de sade, optamos por no mais fazer este tipo de diferenciao. Passamos a utilizar apenas o termo urgncia, para todos os casos que necessitem de cuidados agudos, tratando de definir o grau de urgncia, a fim de classific-las em nveis, tomando como marco tico de avaliao o imperativo da necessidade humana.

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Avaliao multifatorial do grau de urgncia O grau de urgncia diretamente proporcional gravidade, quantidade de recursos necessrios para atender o caso e presso social presente na cena do atendimento e inversamente proporcional ao tempo necessrio para iniciar o tratamento.

U=

G * A* V * T*G ra u de urg ncia G ra vida de do cas o Tempo para iniciar o tra ta mento Ateno: recursos neces s rios para o tra ta mento V alor s ocia l que envolve o cas o

Gravidade perfeitamente possvel quantificar a gravidade do caso pelo telefone, por meio de perguntas objetivas dirigidas diretamente ao paciente ou pessoa que ligou solicitando ajuda, utilizando uma semiologia que ser definida e abordada nos protocolos especficos. Mais fcil ainda quantificar as urgncias nas transferncias interhospitalares, quando o contato telefnico feito diretamente entre mdicos. Tempo Tratamos aqui de utilizar o conhecimento dos intervalos de tempo aceitveis entre o incio dos sintomas e o incio do tratamento. Quanto menor o tempo exigido, maior a urgncia. Nas transferncias inter-hospitalares, com o atendimento inicial j realizado, esta avaliao deve ser mais cuidadosa, para evitar precipitaes.

Ateno Quanto maior for a necessidade de recursos envolvidos no atendimento inicial e no tratamento definitivo, maior ser a urgncia. Este subfator o que mais influi na deciso de transferir o paciente. Valor Social A presso social que envolve o atendimento inicial pode muitas vezes justificar o aumento do grau de urgncia de um caso simples. Este fator no pode ser negligenciado, pois muitas vezes uma comoo social no local do atendimento pode dificultar a prestao de socorro. de pouca influncia, porm, nas transferncias interhospitalares.

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Classificao das urgncias em nveis Com o objetivo de facilitar o estabelecimento de prioridades entre os diferentes casos de urgncia, podemos didaticamente classific-las da seguinte forma: Nvel 1 : Emergncia ou Urgncia de prioridade absoluta Casos em que haja risco imediato de vida e/ou a existncia de risco de perda funcional grave, imediato ou secundrio. Nvel 2 : Urgncia de prioridade moderada Compreende os casos em que h necessidade de atendimento mdico, no necessariamente de imediato, mas dentro de poucas horas. Nvel 3 : Urgncia de prioridade baixa Casos em que h necessidade de uma avaliao mdica, mas no h risco de vida ou de perda de funes, podendo aguardar vrias horas. Nvel 4 : Urgncia de prioridade mnima Compreendem as situaes em que o mdico regulador pode proceder a conselhos por telefone, orientar sobre o uso de medicamentos, cuidados gerais e outros encaminhamentos. Conceito de Potencialidade: Qualquer caso inicialmente classificado em um determinado nvel pode mudar sua colocao inicial, em funo do tempo de evoluo, tipo de transporte e outros fatores, sendo, portanto, necessrio estimar a gravidade potencial para cada caso.

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A POLTICA NACIONAL DE ATENO S URGNCIASAntecedentes histricos As urgncias vm sendo objeto de algumas iniciativas do governo federal, mas que no lograram causar impacto significativo na sua ateno. Em junho de 1998, foi publicada a Portaria GM/MS n. 2.923, que determinou investimentos nas reas de Assistncia Pr-hospitalar Mvel, Assistncia Hospitalar, Centrais de Regulao de Urgncias e Capacitao de Recursos Humanos. Em abril de 1999, foi publicada a Portaria GM/MS n. 479, que criou uma srie de prrequisitos para o cadastramento de hospitais que, depois de habilitados, passaram a receber uma valorizao no valor das internaes realizadas dentro de uma lista prdeterminada de procedimentos considerados de urgncia. Ainda neste perodo, foram destinados tambm recursos do Reforsus para equipamentos, reforma e modernizao gerencial de hospitais que atendessem s urgncias. Em abril de 2000, foi realizado o IV Congresso da Rede Brasileira de Cooperao em Emergncias (RBCE), em Goinia (Rede Brasileira de Cooperao em Emergncias, 2000), sob a denominao: Bases para uma Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, com grande mobilizao de tcnicos da rea de urgncias e participao formal do Ministrio da Sade que, a partir desse evento, desencadeou a organizao de duas vertentes de atividades relacionadas ateno s urgncias: a) Alguns tcnicos foram convidados a compor um grupo-tarefa para avaliao do impacto da aplicao dos recursos acima mencionados, que produziu um relatrio que foi remetido ao Reforsus no final de 2000; b) A Secretaria de Assistncia Sade (SAS) do Ministrio da Sade designou um profissional para interlocuo especfica da rea, que at ento no contava com tal representao. A partir da definio dessa interlocuo, iniciou-se um ciclo de seminrios de discusso e planejamento conjunto de redes regionalizadas de ateno s urgncias, envolvendo gestores estaduais e municipais, em vrios estados da federao e, ainda neste perodo, que se estendeu de junho de 2000 at meados de 2002, foi feita uma reviso da Portaria GM/MS n. 824, de junho de 1999, republicada como Portaria GM/MS n. 814, em junho de 2001. Foram tambm elaboradas diretrizes tcnicas para as Unidades no Hospitalares de Atendimento s Urgncias, Transporte Inter-hospitalar, grades de capacitao para todos os nveis de ateno s urgncias e diretrizes gerais para o desenho de uma rede regionalizada de ateno s urgncias, que acabaram por compor o texto da Portaria GM/MS n. 2.048: Regulamento Tcnico dos Sistemas Estaduais de Urgncia e Emergncia, publicado em novembro de 2002.

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A Portaria GM/MS n. 2.048, de 5 de novembro de 2002 A Portaria GM/MS n. 2.048/02 (BRASIL, 2002a) estabelece os princpios e diretrizes dos sistemas estaduais de urgncia e emergncia, define normas, critrios de funcionamento, classificao e cadastramento dos hospitais de urgncia, determina a criao das Coordenaes do Sistema Estadual de Urgncias e composta de sete captulos em que esto contemplados os seguintes tpicos: Captulo I: Estruturao dos sistemas locorregionais de ateno s urgncias, dentro dos preceitos da Noas-SUS; Captulo II: Diretrizes da Regulao Mdica das Urgncias; Captulo III: Diretrizes e responsabilidades das vrias unidades componentes do atendimento pr-hospitalar fixo; Captulo IV: Diretrizes do Atendimento Pr-hospitalar Mvel; Captulo V: Diretrizes do componente hospitalar de atendimento s urgncias; Captulo VI: Transferncias e transporte inter-hospitalar; Captulo VII: Diretrizes dos Ncleos de Educao em Urgncias com respectivas grades de temas, contedos, habilidades e cargas horrias.

A Portaria GM/MS n. 1.863, de 29 de setembro de 2003

No novo ciclo de governo inaugurado em 2003, a rea das urgncias considerada prioritria e publicada na forma da Portaria GM/MS n. 1.863 (BRASIL, 2003a) a Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, ocorrendo a incorporao de novos elementos conceituais, alm da reviso e retomada de outros j bastante difundidos, que vinham sendo debatidos e formulados com a participao de tcnicos de todo o Pas, a saber: garantir a universalidade, eqidade e a integralidade no atendimento s urgncias clnicas, cirrgicas, gineco-obsttricas, psiquitricas, peditricas e as relacionadas s causas externas (traumatismos no-intencionais, violncias e suicdios); consubstanciar as diretrizes de regionalizao da ateno s urgncias, mediante a adequao criteriosa da distribuio dos recursos assistenciais, conferindo concretude ao dimensionamento e implantao de sistemas estaduais, regionais e municipais e suas respectivas redes de ateno; desenvolver estratgias promocionais da qualidade de vida e sade capazes de prevenir agravos, proteger a vida, educar para a defesa da sade e recuperar a sade, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a eqidade de indivduos e coletividades; fomentar, coordenar e executar projetos estratgicos de atendimento s necessidades coletivas em sade, de carter urgente e transitrio, decorrente de situaes de perigo iminente, de calamidades pblicas e de acidentes com mltiplas vtimas, a partir da construo de mapas de risco regionais e locais e da adoo de protocolos de preveno, ateno e mitigao dos eventos; -7-

contribuir para o desenvolvimento de processos e mtodos de coleta, anlise e organizao dos resultados das aes e servios de urgncia, permitindo que a partir de seu desempenho seja possvel uma viso dinmica do estado de sade da populao e do desempenho do Sistema nico de Sade em seus trs nveis de gesto; integrar o complexo regulador do Sistema nico de Sade, promover intercmbio com outros subsistemas de informaes setoriais, implementando e aperfeioando permanentemente a produo de dados e democratizao das informaes com a perspectiva de us-las para alimentar estratgias promocionais; qualificar a assistncia e promover a capacitao continuada das equipes de sade do Sistema nico de Sade na Ateno s Urgncias, em acordo com os princpios da integralidade e humanizao. Define ainda que a Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, deve ser implementada a partir dos seguintes componentes fundamentais: adoo de estratgias promocionais de qualidade de vida, buscando identificar os determinantes e condicionantes das urgncias por meio de aes transetoriais de responsabilidade pblica, sem excluir as responsabilidades de toda a sociedade; organizao de redes locorregionais de ateno integral s urgncias, enquanto elos da cadeia de manuteno da vida, tecendo-as em seus diversos componentes:

Componente Pr-Hospitalar Fixo: unidades bsicas de sade e unidades de sade da famlia, equipes de agentes comunitrios de sade, ambulatrios especializados, servios de diagnstico e terapias, e unidades no-hospitalares de atendimento s urgncias, conforme Portaria GM/ MS n. 2.048, de 5 de novembro de 2002 (BRASIL, 2002a). Componente Pr-Hospitalar Mvel: Servio de Atendimento Mvel de Urgncias (SAMU) e os servios associados de salvamento e resgate, sob regulao mdica de urgncias e com nmero nico nacional para urgncias mdicas 192; Componente Hospitalar: portas hospitalares de ateno s urgncias das unidades hospitalares gerais de tipo I e II e das unidades h o s p i t a l a r e s de referncia tipo I, II e III, bem como toda a gama de leitos de internao, passando pelos leitos gerais e especializados de retaguarda, de longa permanncia e os de terapia semi-intensiva e intensiva, mesmo que esses leitos estejam situados em unidades hospitalares que atuem sem porta aberta s urgncias; Componente Ps-Hospitalar: Modalidades de Ateno Domiciliar, Hospitais Dia e Projetos de Reabilitao Integral com componente de reabilitao de base comunitria; instalao e operao das Centrais de Regulao Mdica das Urgncias, integradas ao Complexo Regulador da Ateno no SUS; -8-

Capacitao e educao continuada das equipes de sade de todos os mbitos da ateno, a partir de um enfoque estratgico promocional, abarcando toda a gesto e ateno pr-hospitalar fixa e mvel, hospitalar e ps-hospitalar, envolvendo os profissionais de nvel superior e os de nvel tcnico, em acordo com as diretrizes do SUS e alicerada nos plos de educao permanente em sade, onde devem estar estruturados os Ncleos de Educao em Urgncias, normatizados pela Portaria GM/MS n. 2.048/02 (BRASIL, 2002a), que so propostos aos gestores como estratgia para implementar a capacitao dos profissionais atuantes em todos os nveis de ateno s urgncias, conforme se l abaixo: Os Ncleos de Educao em Urgncias devem se organizar como espaos de saber interinstitucional de formao, capacitao, habilitao e educao continuada de recursos humanos para as urgncias, coordenados pelo gestor pblico e tendo como integrantes as secretarias municipais e estaduais e as instituies de referncia na rea de urgncia que formam e capacitam tanto o pessoal da rea de sade como qualquer outro setor que presta socorro populao, de carter pblico ou privado e de abrangncia municipal, regional ou estadual. Orientao geral segundo os princpios de humanizao da ateno.

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SERVIO DE ATENDIMENTO MVEL DE URGNCIA SAMU - 192 I - Definio Geral O Ministrio da Sade na Portaria 2048, considera como nvel pr hospitalar mvel na rea de urgncia, o atendimento que procura chegar precocemente vtima, aps ter ocorrido um agravo sua sade (de natureza traumtica ou no-traumtica, ou ainda psiquitrica), que possa levar sofrimento, seqelas ou mesmo morte, sendo necessrio, portanto, prestar-lhe atendimento e transporte adequado a um servio de sade devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema nico de Sade. Em muitas situaes de urgncia pr hospitalar, aes de salvamento/ resgate, precisam ser realizadas antes do atendimento propriamente dito, ou seja, pode ser necessrio proteger a vtima de situaes normalmente adversas e que por elas mesmas constituem risco de vida, sendo necessrio para tanto a utilizao de equipamentos especficos e pessoal treinado e habilitado para sua utilizao. Em muitas situaes as aes de resgate e as de atendimento sade so realizadas simultaneamente. II - Organizao do Servio de Atendimento Mvel de Urgncia - SAMU A elaborao de um diagnstico loco-regional deve anteceder qualquer projeto de implantao do SAMU em um municpio ou regio. Roteiro mnimo para elaborao do diagnstico. Dados da regio/municpio Descrio de malha viria urbana (pontes, linhas de trens, rios, crregos outros obstculos ao trnsito de veculos de socorro.) Distncias e condies das estradas. Localizar em mapa rodovirio Identificar os recursos de sade por nvel de complexidade. Localizar em planta planimtrica. Fluxos e rotas de deslocamento dos veculos de socorro Dados demogrficos Populao por sexo, faixa etria urbana e/ou rural. Dados epidemiolgicos Morbidade Mortalidade Perfil scio econmico da populao Iniciar medidas de reanimao de suporte bsico da vida

III - Nveis da Ateno Pr Hospitalar Mvel SAMU A ateno pr hospitalar no SAMU se d em dois nveis de complexidade. O objetivo definir as aes assistenciais que podem ocorrer no nvel bsico e no nvel avanado do atendimento, alm dos recursos humanos e os meios necessrios para sua execuo.

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O Suporte Bsico de Vida (SBV)

Primeiro nvel de resposta a um pedido de socorro, quando for decidida a necessidade de enviar uma equipe intervencionista ao local de origem do chamado. A deciso de envio do SBV responsabilidade do mdico regulador. A equipe de suporte bsico de vida (SBV) constituda por auxiliar / tcnico de enfermagem e o condutor do veculo de socorro. O nmero de ambulncias de SBV segue parmetros estabelecidos pelo MS, entre eles o populacional como o mais importante, ou seja: uma ambulncia SBV para 100.000 /150.000 habitantes. A localizao das viaturas de SBV deve ser descentralizada no espao geogrfico de abrangncia do SAMU, de forma que o deslocamento at o local de origem do pedido de socorro urgente no ultrapasse o tempo mximo de 09 minutos, segundo parmetro internacional. As aes assistenciais que podem ser realizadas pela equipe de interveno do SBV so determinadas pela Lei do Exerccio Profissional, admitindo-se, no entanto, que sob superviso direta ou distncia do Enfermeiro e quando devidamente capacitados e habilitados atravs dos Ncleos de Educao de Urgncias, que os tcnicos e auxiliares de enfermagem sejam capazes de: Reconhecer sinais precoces de disfuno respiratria Aferir freqncia cardaca e respiratria, tenso arterial, temperatura, saturao de O2 e controle de glicemia. Manejar equipamentos de suporte ventilatrio no invasivos. Realizar prescries mdicas por telemedicina. Reconhecer sinais precoces de doenas circulatrias agudas Realizar monitorizao cardaca e eletrocardiogrfica Dominar tcnicas de aferio da glicemia e administrao de medicamentos e infuses, dentro dos limites da sua funo. Ser capaz de avaliar o traumatizado grave e de prestar o atendimento inicial nas medidas de suporte bsico a vida. Adotar medidas adequadas no manejo do Trauma Raque Medular, TCE, queimados, trauma na gestante e na criana, quase afogamento, acidentes com mltiplas vtimas e com produtos perigosos, entre outros. Estar habilitado a auxiliar a gestante em trabalho de parto normal. Conhecimento e habilidade psicomotora para realizao de aes de salvamento, aqutico, terrestre, aqutico e em altura.

A ambulncia de Suporte Bsico da Vida o veculo destinado ao transporte inter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pr-hospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, porm sem necessidade potencial de interveno mdica no local e/ou durante transporte at o servio de sade de destino. Equipamentos e materiais Sinalizador ptico e acstico; equipamento de rdio-comunicao fixa e mvel; maca articulada e com rodas; suporte para soro; instalao de rede de oxignio com cilindro, vlvula, manmetro em local de fcil visualizao e rgua com dupla sada; oxignio com rgua tripla (a-alimentao do respirador; b-fluxmetro e umidificador de oxignio e c - aspirador tipo Venturi); manmetro e fluxmetro com mscara e chicote para oxigenao; cilindro de oxignio porttil com vlvula; maleta de emergncia contendo: estetoscpio adulto e infantil; ressuscitador manual adulto/infantil, cnulas orofarngeas de tamanhos variados; luvas descartveis; tesoura reta com ponta romba; esparadrapo; esfigmomanmetro adulto/infantil; ataduras de 15 cm; compressas - 11 -

cirrgicas estreis; pacotes de gaze estril; protetores para queimados ou eviscerados; cateteres para oxigenao e aspirao de vrios tamanhos; maleta de parto contendo: luvas cirrgicas; clamps umbilicais; estilete estril para corte do cordo; saco plstico para placenta; cobertor; compressas cirrgicas e gazes estreis; braceletes de identificao. Os veculos que atuam no atendimento as urgncias traumticas devero dispor adicionalmente dos seguintes equipamentos e materiais: prancha curta e longa para imobilizao de coluna; talas para imobilizao de membros e conjunto de colares cervicais; colete imobilizador dorsal; frascos de soro fisiolgico e ringer lactato; bandagens triangulares; cobertores; coletes refletivos para a tripulao; lanterna de mo; culos, mscaras e aventais de proteo; material mnimo para salvamento terrestre, aqutico e em alturas; maleta de ferramentas e extintor de p qumico seco de 0,8 Kg; fitas e cones sinalizadores para isolamento de reas. Maletas com medicaes a serem definidas em protocolos, pelos servios.

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O Suporte Avanado de Vida SAV

As ambulncias de Suporte Avanado, com equipes intervencionistas compostas por condutor, mdicos e enfermeiros e com equipamentos para procedimentos mais complexos e invasivos de manuteno da vida, permitem que seja realizado no local do chamado, o diagnstico inicial, a reanimao e a estabilizao do paciente, permitindo que o transporte seja feito diretamente para a unidade hospitalar de tratamento definitivo. Segundo parmetro populacional do MS as ambulncias de Suporte Avanado (UTI) sero 01 para cada 400.000 hab. A este critrio devem ser agregados os resultados obtidos no diagnstico situacional, j descrito, para um melhor dimensionamento. A localizao das viaturas SAV deve ser descentralizada no territrio abrangido pelo SAMU de forma que seu deslocamento at o local do chamado, no ultrapasse o tempo mximo de 12 minutos. De acordo com experincias de outros servios de APH, no mundo, em apenas 10% dos pedidos de socorro urgentes que chegam na central de Regulao do SAMU, necessrio o envio da Viatura de Suporte Avanado. Os SAMU, de acordo com suas especificidades e necessidades, devem elaborar Protocolos de Despacho, contemplando o envio da Viatura de Suporte Avanado em situaes padro, tais como: Apoio a viatura de Suporte Bsico de Vida Acidentes envolvendo mais de duas vtimas Dor torcica Quase afogamento Desabamentos e soterramentos Ferimentos por arma branca e de fogo

As aes e os procedimentos invasivos realizados pela equipe de suporte avanado do SAMU so considerados Atos Mdicos, cabendo unicamente a esse profissional estipular os limites do atendimento. Protocolos Tcnicos de Interveno podem orientar a equipe.

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Ambulncia de Suporte Avanado de Vida (SAV) o veculo destinado ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco em emergncias pr-hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar que necessitem de cuidados mdicos intensivos. Deve contar com os equipamentos mdicos necessrios para esta funo. Sinalizador ptico e acstico; equipamento de rdio-comunicao fixa e mvel; maca com rodas e articulada; dois suportes de soro; cadeira de rodas dobrvel; instalao de rede porttil de oxignio como descrito no item anterior ( obrigatrio que a quantidade de oxignio permita ventilao mecnica por no mnimo duas horas); respirador mecnico de transporte; oxmetro no-invasivo porttil; monitor cardioversor com bateria e instalao eltrica disponvel (em caso de frota dever haver disponibilidade de um monitor cardioversor com marca-passo externo no-invasivo); bomba de infuso com bateria e equipo; maleta de vias areas contendo: mscaras larngeas e cnulas endotraqueais de vrios tamanhos; cateteres de aspirao; adaptadores para cnulas; cateteres nasais; seringa de 20ml; ressuscitador manual adulto/infantil com reservatrio; sondas para aspirao traqueal de vrios tamanhos; luvas de procedimentos; mscara para ressuscitador adulto/infantil; lidocana gelia e "spray"; cadaros para fixao de cnula; laringoscpio infantil/adulto com conjunto de lminas; estetoscpio; esfigmomanmetro adulto/infantil; cnulas orofarngeas adulto/infantil; fios-guia para intubao; pina de Magyll; bisturi descartvel; cnulas para traqueostomia; material para cricotiroidostomia; conjunto de drenagem torcica; maleta de acesso venoso contendo: tala para fixao de brao; luvas estreis; recipiente de algodo com anti-sptico; pacotes de gaze estril; esparadrapo; material para puno de vrios tamanhos incluindo agulhas metlicas, plsticas e agulhas especiais para puno ssea; garrote; equipo de macro e microgotas; cateteres especficos para disseco venosa tamanho adulto/infantil; tesoura, pina de Kocher; cortadores de soro; lminas de bisturi; seringas de vrios tamanhos; torneiras de 3 vias; equipo de infuso de 3 vias; frascos de soro fisiolgico, ringer lactato e soro glicosado; caixa completa de pequena cirurgia; maleta de parto como descrito nos itens anteriores; sondas vesicais; coletores de urina; protetores para eviscerados ou queimados; esptulas de madeira; sondas nasogstricas; eletrodos descartveis; equipo para drogas fotossensveis; equipo para bombas de infuso; circuito de respirador estril de reserva; equipamentos de proteo a equipe de atendimento: culos, mscaras e aventais; cobertor ou filme metlico para conservao do calor do corpo; campo cirrgico fenestrado; almotolias com anti-sptico; conjunto de colares cervicais; prancha longa para imobilizao da coluna. Nos casos de frota, em que existe demanda para transporte de paciente neonatal dever haver pelo menos uma Incubadora de transporte de recm-nascido com bateria e ligao a tomada do veculo (12 volts). A incubadora deve estar apoiada sobre carros com rodas devidamente fixadas quando dentro da ambulncia; respirador e equipamentos adequados para recm natos. Os equipamentos que as viaturas transportam, devem obedecer a alguns critrios bsicos:

Permitir Suporte Vital Devem ser leves e portteis, permitindo uso contnuo em situaes adversas. Auto-suficientes, ou seja devem ter bateria suficientes para at duas vezes o tempo estimado de transporte. De fcil montagem e manuseio Resistentes No devem interferir com instrumentos de navegao se for o caso. De fcil limpeza e manuteno. - 13 -

Retaguarda Hospitalar Todo sistema de APH dever contar com uma rede hospitalar de referncia conveniada, obedecendo a critrios de hierarquizao e regionalizao, ou seja, os hospitais sero divididos pelo grau de resolutividade em tercirios, secundrios e primrios e de acordo com sua localizao geogrfica. Dessa forma o critrio adotado o seguinte: levar o paciente certo, na hora certa para o hospital certo Treinamento e Reciclagem Treinamento especifico na rea deve preceder a qualquer atividade desenvolvida pelos profissionais, nos diferentes nveis, no APH SAMU. Considerar que por maior as experincias que o profissional tenha, as situaes vivenciadas no servio so de alto risco, estressantes e adversas, exigindo por parte de quem trabalha adaptao anterior, conseguida atravs de capacitao. Planos de reciclagem devem ser pr - estabelecidos e seguidos rigorosamente, contribuindo para o constante aperfeioamento do profissional. Superviso e Controle de Qualidade Meios adequados de superviso devem ser encontrados e adotados, de acordo com as caractersticas de cada servio. O controle de qualidade deve ser estabelecido, por exemplo, a partir da discusso e reviso dos casos, leitura das fichas de atendimento e seguimento do paciente j a nvel hospitalar.

Qualidades desejveis para os profissionais do SAMU: Amabilidade - inspirar confiana e transmitir calma e segurana para o paciente que est atendendo Cooperao - sempre buscar a melhor harmonizao com os integrantes da equipe, buscando o melhor atendimento para o paciente. Improvisao - ser capaz de improvisar utilizando meios que estejam a mo, buscando solucionar situaes inesperadas, que possam ocorrer. Iniciativa - ser capaz de iniciar o atendimento, dentro dos seus limites, sem que precise que outro o faa por ele. Liderana - ser capaz de tomar conta do caso " sempre que isto for de sua responsabilidade e isto inclui controlar a cena da ocorrncia. Discrio -respeitar as informaes de cunho pessoal ou de foro Intimo que lhe foram confiadas pelo paciente. Lembrar que fora das circunstncias que o levaram a prestar a assistncia, seria pouco provvel que ela lhe confiasse estas informaes. Controle de Hbitos Pessoais e de Vocabulrio, Boa Apresentao Pessoal.

IV - FASES DO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR MVEL - SAMU 1- O Chamado Atravs do nmero nacional para urgncias mdicas 192 , exclusivo e gratuito, o servio deve ser acionado. Neste momento considera-se que o atendimento j comeou e o tempo resposta comea a ser contado. As informaes obtidas pelo telefonista so fundamentais para a prxima etapa. O telefonista deve acalmar o solicitante e perguntar, por exemplo: O Local do acidente (bairro, rua, referncias). A Identificao do solicitante (nome, idade, telefone). A Natureza da ocorrncia (o que est acontecendo). O nmero de vtimas (nmero e condies aparentes). Se h riscos potenciais (fogo, trnsito local, cabo de energia). - 14 -

Considerar ainda: Condies climticas no momento. Rotas e fluxo para o local da ocorrncia. Hora e dia da semana. Outras informaes a critrio do servio.

Para que o SAMU possa funcionar de forma apropriada importante que voc saiba utilizar o servio. Ele deve ser acionado somente quando existe uma situao de urgncia. Evite sobrecarregar o sistema com outros problemas que no se caracterizam como tal. Oriente as pessoas, em especial as crianas, para que no faam trotes com este servio. O tempo e os recursos gastos com isto podem fazer com que atrase o atendimento a um paciente em situao de ameaa imediata vida. Se voc identifica uma situao de urgncia, disque 192. Este nmero gratuito, no exigindo o uso de cartes telefnicos.

Identifique-se e diga qual o problema que est ocorrendo com o paciente.

Responda as perguntas efetuadas pela telefonista (TARM) de forma clara e correta. Fornea endereo completo, indicando pontos de referncia de como chegar mais rapidamente. Isto reduz os riscos da ambulncia gastar tempo procurando o local. Quando estiver conversando com o mdico procure informar para o mesmo qual o problema, quem a vitima, sua idade (mesmo que aproximada) e o sexo. Faa observaes tambm sobre doenas prvias, medicaes e a evoluo das queixas. Verifique ainda se a pessoa est acordada ou desacordada, alm de transmitir outras informaes. Elas permitiro que o mdico regulador tome as melhores decises e mande o melhor recurso para cada tipo de atendimento. Em caso de trauma, identifique quantas vtimas tm no local, se existe alguma presa nas ferragens, o estado de conscincia das mesmas e como e o que de fato ocorreu. Siga os conselhos orientados pelo mdico regulador enquanto aguarda a chegada do socorro. Solicite uma outra pessoa para esperar e sinalizar para a ambulncia quando a mesma estiver chegando ao local.

Qualquer nova informao ligue novamente para 192 e relate as mudanas ocorridas.

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2 - Regulao Mdica: O que faz? - Atende aos chamados telefnicos 24 horas sem interrupo, feitos atravs do nmero 192; - Tem presente sempre um mdico regulador; - Ouve a solicitao, analisa e d a melhor resposta possvel; - Garante o acesso do paciente a unidade de sade (Pronto Atendimento, Pronto Socorro, Hospital Geral ou Especializado) conforme for sua necessidade; - Garante suporte bsico de vida (SBV), acompanhado de auxiliar de enfermagem, ou suporte avanado de vida (SAV) com mdico e enfermeiro, de acordo com o quadro clnico do paciente; - Acompanha e monitoriza o atendimento at a recepo no servio de sade para o qual foi encaminhado; - Acompanha a situao das unidades de urgncia, se esto com muitos casos para atender, se as equipes mdicas esto completas, se existe leitos vagos, a situao das UTI, dos equipamentos para dia diagnostico entre outras necessidades. As funes: Tranqilizar quem solicitar ajuda de socorro. Escolher para cada caso a melhor soluo. Evitar: aes desnecessrias. Hospitalizao inteis. Trotes. Melhorar as condies dos pacientes que correm riscos. Orientar cuidados at que chegue a ambulncia. Informar a equipe que vai fazer o atendimento tudo que conhecer da situao. Entrar em contato com o servio que vai receber o paciente. Informar ao medico do servio sobre as condies do paciente e o que foi feito no atendimento pr-hospitalar. Mdico Regulador Dialoga, conversa, obtm as melhores informaes possveis de quem fez a ligao pedindo ajuda. Decide qual a melhor providncia a ser tomada. Coordena todo o atendimento. Solicita apoio do corpo de bombeiros para os casos que necessitem de resgate. Solicitar apoio/auxilio da Policia Militar/ Policia Civil em intercorrncias em que necessrio isolar a rea de ocorrncia para evitar nova vitimas e proteger, a equipe e/ou paciente.

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3 - O envio do recurso A partir das informaes dadas pelo solicitante ocorre o despacho do recurso mais adequado para o atendimento. Protocolos previamente estabelecidos podem ajudar na deciso do Mdico Regulador. Enviar sempre o recurso mais prximo do local do chamado para diminuir o tempo resposta. Durante o trajeto, para o qual se deve estabelecer a melhor e a mais conhecida rota, dar ateno as informaes que chegam via rdio. Elas com certeza ajudaro na avaliao prvia da gravidade do chamado. 4 - A avaliao da cena Na chegada ao local do acidente considerar que o atendimento as vtimas envolve uma srie de aes complexas onde esto envolvidos diversos fatores agravantes tais como: tipo de acidente, local e o nmero de vtimas. Cada acidente diferente um do outro, no entanto alguns princpios devem ser estabelecidos e seguidos em todos os casos, visando principalmente garantir a segurana da equipe e da vtima. Existem 3 perguntas (passos) que devem ser respondidas por quem chega primeiro no local e que ajudam na avaliao da cena e dos riscos potenciais. *Qual a situao? *At onde posso ir? (riscos potenciais) * O que farei e como farei para controlar a situao? (aes e recursos) Outros Passos - O Atendimento (reanimao e estabilizao do paciente). - O transporte adequado ao servio de sade mais indicado a resoluo do problema do paciente. - O trmino do caso e preparao para novo chamado. Alm do atendimento emergencial em casos de incidentes com vtimas, o SAMU atua de diversas formas para melhorar a qualidade do atendimento de urgncia a populao. Conhea abaixo o procedimento de atendimento a uma chamada.

Atendente recebe a ligao e pega informaes bsicas como nome de quem ligou e sua relao com a vtima, nome da vtima, endereo da ocorrncia, bairro, ponto de referncia e telefone. de grande importncia a correta transmisso dessas informaes iniciais

Mdico regulador solicita informaes sobre o paciente. J nesse momento podem ser sugeridos procedimentos emergenciais. De acordo com os resultados, unidades mveis sero acionadas.

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Atendimento telemdico: no havendo necessidade do envio de uma unidade, o chamado registrado na base de dados do SAMU (ao 5).

Atendimento mvel: sendo necessrio, uma unidade mvel imediatamente enviada para o local. Pode ser enviado um veculo simples, para remoo ou tratamento de casos simples, ou uma unidade SAMU completa com toda a aparelhagem para atendimento a emergncias no local. Ambos so deslocados com uma equipe de mdico, enfermeiro e motorista.

No local: em alguns casos o atendimento realizado no local e, de acordo com o diagnstico do mdico, o paciente imediatamente liberado.

No hospital: no sendo possvel o atendimento no local, o paciente levado para o pronto-socorro mais prximo, onde todas as informaes da ocorrncia so passadas para a equipe responsvel.

Concludo o atendimento, todas as informaes da ocorrncia so registradas. Elas sero utilizadas para posteriores anlises estatsticas de atendimento.

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VECULOS E EQUIPAMENTOS USADOS NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAREQUIPAMENTOS UTILIZADOS NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR

Introduo No atendimento a uma situao de emergncia essencial que a viatura destinada a atender estes tipos de ocorrncia, esteja equipada com todo o equipamento e material indispensvel a oferecer assistncia pr-hospitalar a vtima traumatizada. Alm disso, a guarnio escalada na viatura deve estar perfeitamente treinada, com conhecimento profundo quanto a identificao rpida dos equipamentos e materiais, bem como, das tcnicas de utilizao dos mesmos, tornando assim o atendimento gil e eficiente.

1. Unidades MveisO SAMU trabalha na lgica de um sistema organizado regionalmente e dentro do Estado, onde dispe de unidades prprias e atua em conjunto com outras instituies para o atendimento s urgncias. Assim sendo descreve-se abaixo a definio das vrias ambulncias e outras unidades mveis componentes deste sistema conforme Portaria Ministerial 2048. Define-se ambulncia como um veculo (terrestre, areo ou aquavirio) que se destine exclusivamente ao transporte de enfermos. As dimenses e outras especificaes do veculo terrestre devero obedecer s normas da ABNT NBR 14561/2000, de julho de 2000. As Ambulncias so classificadas em: TIPO A Ambulncia de Transporte: veculo destinado ao transporte em decbito horizontal de pacientes que no apresentam risco de vida, para remoes simples e de carter eletivo. TIPO B Ambulncia de Suporte Bsico: veculo destinado ao transporte interhospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento prhospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, no classificado com potencial de necessitar de interveno mdica no local e/ou durante transporte at o servio de destino. TIPO C - Ambulncia de Resgate: veculo de atendimento de urgncias prhospitalares de pacientes vtimas de acidentes ou pacientes em locais de difcil acesso, com equipamentos de salvamento (terrestre, aqutico e em alturas). TIPO D Ambulncia de Suporte Avanado: veculo destinado ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco em emergncias pr-hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar que necessitam de cuidados mdicos intensivos. Deve contar com os equipamentos mdicos necessrios para esta funo. TIPO E Aeronave de Transporte Mdico: aeronave de asa fixa ou rotativa utilizada para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa rotativa para aes de resgate, dota- da de equipamentos mdicos homologados pelo Departamento de Aviao Civil - DAC. - 19 -

TIPO F Embarcao de Transporte Mdico: veculo motorizado aquavirio, destinado ao transporte por via martima ou fluvial. Deve possuir os equipamentos mdicos necessrios ao atendimento de pacientes conforme sua gravidade. VECULOS DE INTERVENO RPIDA Este veculos, tambm chamados de veculos leves, veculos rpidos ou veculos de ligao mdica so utilizados para transporte de mdicos com equipamentos que possibilitam oferecer suporte avanado de vida nas ambulncias do Tipo A, B, C e F. OUTROS VECULOS: Veculos habituais adaptados para transporte de pacientes de baixo risco, sentados (ex. pacientes crnicos) que no se caracterizem como veculos tipo lotao (nibus, peruas, etc.). Este transporte s pode ser realizado com anuncia mdica.

2. Classificao dos Equipamentos e MateriaisPara fins didticos, estaremos classificando os equipamentos e materiais da seguinte forma: Equipamentos de comunicao mvel e porttil; Equipamentos para segurana no local o acidente; Equipamentos de reanimao e administrao de oxignio; Equipamentos de imobilizao e fixao de curativos; Materiais utilizados em curativos; Materiais de uso obsttrico; Equipamentos para verificao de sinais vitais; Macas e acessrios; Equipamentos de uso exclusivo do mdico.

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3. Definio dos Equipamentos e Materiais 3.1. Equipamentos de Comunicao Mvel e Porttil: Equipamentos de comunicao mvel, rdios VHF/FM: so os mais utilizados no Corpo de Bombeiros, so capazes de identificar chamadas possuindo no mnimo 16 canais a 64 canais. Possuem scan com prioridade dupla e grande visor alfanumrico de 14 caracteres.

Equipamentos de comunicao porttil - rdios VHF/FM: O rdio Porttil possui vrias opes e caractersticas que destacam seu desempenho sendo utilizados no Corpo de Bombeiros modelos que possuem desde 16 canais a 64 canais, sem visor ou com visor alfanumrico de 8 caracteres, vrias faixas de freqncia PL/DPL, VOX integrada e mltiplas opes de baterias.

Fig 5.2 Rdio porttil

3.2. Equipamentos para Segurana no Local do Acidente Equipamento de proteo individual este conjunto de equipamentos destinam- se a proteo do socorrista e da vtima, objetivando evitar a transmisso de doenas, seja pelo contato com a pele ou atravs da contaminao das mucosas; materiais de uso obrigatrio no atendimento no interior das viaturas do Corpo de Bombeiros: luvas descartveis, mscara de proteo facial, culos de proteo, aventais e capacetes (em locais de risco iminente de acidentes)

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Equipamento de segurana no local este conjunto de equipamentos destinam-se a garantir a segurana das guarnies no local do acidente, bem como, das vtimas envolvidas e da populao em geral; destacam-se entre esses materiais os cones de sinalizao, lanternas, fitas para isolamento e extintores de incndios.

Fig 5.4 Equip. Segurana

3.3. Equipamentos de Reanimao e Administrao de Oxignio Cnula orofarngea ou Cnula de Guedel equipamento destinado a garantir a permeabilidade das vias reas em vtimas inconscientes devido a queda da lngua contra as estruturas do palato, promovendo a passagem de ar atravs da orofaringe. Possui vrios tamanhos

Reanimador ventilatrio manual ou Ambu equipamento destinado a estabelecer ventilao artificial manual. Composto de bolsa, valva ou vlvula e mscara, garantindo assim eficiente insuflao de ar e maior concentrao de oxignio para a vtima. Equipamento disponvel nos tamanhos adulto e infantil.

Fig 5.6 Ambu

Fig 5.7 Oxignio porttil

Equipamento de administrao de oxignio porttil unidade porttil destinada a dar suporte de oxignio a vtima acidentada no local da ocorrncia inicial, com capacidade de 300 litros e fluxmetro a fim de dosar a administrao de pelo menos 12 litros de oxignio por minuto. Toda a ambulncia possui uma segunda unidade fixa com capacidade de armazenamento maior, possibilitando a continuao da administrao de oxignio durante o deslocamento at o pronto socorro. - 22 -

Equipamento para aspirao destinado a aspirao de secrees da cavidade oral, as quais obstruem a passagem de oxignio sendo indispensvel uma unidade pottil e uma unidade fixa na ambulncia.

Fig 5.8 Aspirador

3.4. Equipamentos de Imobilizao e Fixao de Curativos Tala articulada de madeira e tala de papelo so equipamentos indispensveis na imobilizao de fraturas e luxaes. Bandagens triangulares e ataduras de crepom destinam-se a fixao de talas e curativos. Cintos de fixao cintos flexveis e resistentes que destinam-se a prender a vtima junto a tbua de imobilizao.

Fig 5.9 Talas e bandagens e cintos de fixao

Trao de fmur equipamento destinado a imobilizao de membros inferiores, com fraturas fechadas. Confeccionado em alumnio ou ao inox, possuindo regulagem de comprimento com fixao atravs de tirantes e sistema de catraca.

Fig 5.10 Trao de fmur

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Colete de imobilizao dorsal (ked)- equipamento destinado a retirada de vtimas do interior de veculos que estiverem sentadas, objetivando a imobilizao da coluna cervical, torcica e lombar superior. Sua fixao d-se atravs de tirantes flexveis fixos e mveis.

Fig 5.11 Colete de imobilizao dorsal (ked)

Colar cervical equipamento destinado a imobilizao da coluna cervical quanto a movimentos axiais, confeccionado em polietileno, dobrvel e de vrios tamanhos e modelos.

Fig 5.12 Colar cervical

Tabua de imobilizao equipamento destinado a imobilizao da vtima deitada, de vrios modelos e tamanhos, possuindo aberturas para fixao de cintos e imobilizadores de cabea. Imobilizadores de cabea equipamento destinado a imobilizao total da cabea da vtima acidentada. Confeccionado em espuma revestida de um material impermevel e lavvel.

Fig 5.13 Tabua de imobilizao com cintos e imobilizador lateral de cabea

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3.5. Materiais Utilizados em Curativos Gaze, ataduras de crepom, bandagem, fita adesiva material indispensvel na limpeza superficial de ferimentos e conteno de hemorragias em vtimas. 3.6. Materiais de Uso Obsttrico Material de assistncia ao parto material esterilizado, normalmente colocado em pacotes hermeticamente fechados, contendo campos duplos e simples, clamps para laqueadura umbilical, lenis e tesoura. 3.7. Equipamentos para Verificao de Sinais Vitais Esfigmomanmetro equipamento destinado a aferio da presso arterial. Estetoscpio - aparelho destinado a ausculta cardaca e pulmonar. Oxmetro de pulso porttil - aparelho eletrnico destinado a medio da saturao perifrica de oxignio.

Fig 5.17 Oxmetro de pulso

Desfibriladores automticos externos (DEA) equipamento destinado a verificao de arritmias ventriculares (taquicardia e fibrilao), que se confirmadas atravs da obedincia aos comandos emana- dos, resultar na aplicao de choques buscando a reverso do quadro apresentado. OBS: a Classificao do DEA, neste grupo deve-se ao mesmo atuar tambm como monitor cardaco, identificando o padro de atividade eltrica do corao, um material de uso de pessoal treinado, mas no necessariamente de profissional de sade, o que o diferencia do cardioversor.

Fig 5.18 DEA

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3.8. Macas e Acessrios Maca equipamento destinado ao transporte de vtima, sendo confeccionado em alumnio, com mecanismo de travamento, possibilitando que a maca aumente ou diminua a altura.

Fig 5.19 Maca retrtil

Cobertor e manta aluminizada material destinado ao conforto trmico da vtima.

Fig 5.20 Cobertor e manta trmica

3.9. Equipamentos de Uso Exclusivo do Mdico Pode estar disponvel no prprio veculo de emergncia ou em uma maleta mdica que transportado pelo mdico quando se dirige a cena. Inclui: Laringoscpio - material de uso exclusivo do mdico, destinado a visualizao da laringe a fim de realizar o procedimento de colocao de cnulas de entubao endotraqueal.

Fig 5.21 Laringoscpio

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Cnulas de entubao endotraqueal equipamento que garante a ventilao manual ou mecnica, garantindo a permeabilidade das vias areas devido ao um balonete que sela a traquia.

Fig 5.22 Cnulas de entubao

Monitor cardaco equipamento destinado ao monitoramento das atividades cardacas da vtima, objetivando o acompanhamento da melhora ou no do quadro clnico do paciente.

Fig 5.23 Monitor cardaco

Medicamentos so drogas utilizadas no atendimento que aplicadas pelo mdico buscam estabilizar o quadro geral do paciente at a chegada ao pronto socorro

Fig 5.23 Medicamentos

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Cardioversor equipamento destinado ao monitoramento das atividades cardacas, conjugado com a verificao de arritmias ventriculares (taquicardia e fibrilao), que se confirmadas resultaro na aplicao de choque, a fim de restabelecer os batimentos cardacos do paciente. Este equipamento s operado pelo mdico de servio.

Fig 5.24 Cardio

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TRANSPORTE INTER HOSPITALARI - AS TRANSFERNCIAS INTER-HOSPITALARES 1. MISSO Existem Centrais Reguladoras de urgncia, que ocupam-se especificamente da regulao das transferncias de pacientes entre servios de sade de diferentes complexidades. Geralmente estes pacientes recebem um primeiro atendimento em um servio de sade onde no existe retaguarda diagnstica e/ou teraputica para dar continuidade ao caso, geralmente em municpios menores, necessitando serem transferidos para hospitais de maior complexidade. 2. PRINCPIOS OPERATIVOS Uma central reguladora de Urgncia, que atua na regulao das transferncias inter- hospitalares, recebe um variado leque de solicitaes que nem sempre sero casos de urgncia passveis de regulao. Logo, precisamos diferenciar inicialmente um chamado ou solicitao endereada a central de um atendimento (caso efetivamente regulado pelo mdico). 2.1.Contatos sempre de mdico para mdico Nas solicitaes de transferncias inter-hospitalares, a comunicao deve ser feita de mdico para mdico. O mdico solicitante deve informar o seu nome, servio e nmero do CRM. O mdico regulador, com base nos dados acima obtidos, ir estimar a gravidade e se h mesmo necessidade e condies para efetuao da transferncia, antes do contato com o servio receptor. O mdico regulador deve avaliar o motivo da solicitao e a sua pertinncia, ou seja: se existe caracterizada uma necessidade de cuidado teraputico ou diagnstico de urgncia ou emergncia sem o qual o paciente corre risco de vida ou de danos orgnicos ou funcionais imediatos e irreparveis, levando em considerao a necessidade e as condies do paciente e a infra-estrutura do servio de origem. Sendo a solicitao considerada pertinente, ele deve procurar o recurso mais adequado para o caso e o mais prximo possvel do solicitante. Caso no haja pertinncia, o mdico regulador orienta o solicitante a como conduzir tecnicamente o caso ou como utilizar os recursos locais. Quando existirem dvidas, podemos consultar profissionais especializados nos servios. 2.2. Solicitaes sempre documentadas por fax e Registro contnuo das gravaes telefnicas Alm da ficha de regulao preenchida pelo mdico regulador, deve ser anexado fax do servio solicitante de forma a ter comprovado o que foi passado.

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3.TCNICAS DE REGULAO DAS TRANSFERNCIAS INTER-HOSPITALARES Primeira etapa: Recepo do chamado Identificao e localizao do chamado: O auxiliar de regulao faz a recepo inicial, realizando a identificao da chamada,que consiste em registrar: - A Unidade Solicitante - Nome e CRM do mdico solicitante - Nome, idade e origem do paciente Deve ainda diferenciar uma solicitao de informao. A seguir, o auxiliar de regulao deve passar o telefone para o mdico regulador. Segunda etapa: Abordagem Do Caso A abordagem dos casos endereados as centrais de regulao das transferncias inter-hospitalares consiste em reunir a maior quantidade de dados possveis sobre o caso, que podemos relacionar da seguinte forma. Dados clnicos do paciente: - QP (Queixa principal) - Sinais e Sintomas Associados - Sinais de Gravidade - Antecedentes e fatores de risco - Exame fsico e sinais vitais Conduta inicial: medicamentos e procedimentos Exames realizados Evoluo: alteraes verificadas aps a conduta inicial Recurso solicitado para o caso Justificativa para a solicitao E de posse destas informaes pode ser definida a pertinncia do caso, ou seja, se necessria a transferncia ou no. Alm de todos estes dados, temos de ter em mente quem so nossos clientes e porque nos procuram, ou seja, quais os principais motivos das solicitaes de transferncia de um paciente: a) Gravidade do quadro clnico e disponibilidade de apoio diagnstico e teraputico no hospital Existem casos clssicos, onde invariavelmente existe consenso quanto a gravidade do caso e portanto quanto a necessidade de remoo para um hospital de maior Complexidade. Em situaes de doenas menos graves, a gravidade pode ser influenciada por uma srie de fatores alm da doena em si e das condies do paciente, como: os recursos de apoio existentes no local, o nmero de profissionais e a capacitao tcnica do mdico assistente. Alguns casos podem ser considerados de extrema gravidade num hospital e constituir-se num episdio corriqueiro em outro. Este tipo de entendimento e o conhecimento da realidade dos hospitais da mesma regio geogrfica deve ser do domnio dos mdicos, especialmente daqueles plantonistas que recebem pacientes dos hospitais menores, como forma de reduzir conflitos. b) Incapacidade tcnica do mdico e/ ou Desejo do mdico: Existem situaes nas quais o hospital oferece os meios essenciais para diagnstico e para tratamento, mas o mdico plantonista incapaz de adotar os procedimentos recomendados ou no sabe como proceder e, por isso, trata de providenciar, o quanto antes, a transferncia do paciente. - 30 -

Entretanto existem situaes onde o hospital e os mdicos possuem condies materiais e tcnicas para prestar um adequado atendimento, mas que se trata de um quadro clnico ou cirrgico que exigir muita observao e acompanhamento ou novas condutas por parte do mdico assistente, e principalmente, so pacientes do SUS. Nestes casos, para no ter pacientes complicados ou que possam vir a agravar o quadro clnico, bem como para no ter atividades extras desnecessrias, possvel que o mdico o encaminhe a outro hospital, geralmente de maior complexidade, embora o caso clnico no requeira a transferncia. a tpica situao do "mandar para a frente para no me incomodar" e que certamente tende a apresentar considervel aumento dos finais de semana e feriados prolongados. c) Solicitao dos prprios pacientes e/ou familiares: Em muitas situaes de urgncia/emergncia, em que pese existir recursos materiais suficientes no hospital e um atendimento mdico adequado, os pacientes desejam ser transferidos pelas mais variadas razes. Atribuies dos solicitantes: So atribuies do Mdico Assistente: a) fazer a indicao da necessidade de transferncia; b) avaliar qual a composio da equipe mdica necessria para efetuar a remoo, de conformidade com o estado de sade do paciente; c) acompanhar o paciente nos casos em que a presena do mdico obrigatria ou designar mdico substituto, de acordo com as normas da instituio, utilizando o apoio da Direo Tcnica/Clnica, se necessrio; d) elaborar relatrio de transferncia registrando "a hiptese diagnstica", os procedimentos efetuados, exames e medicaes realizadas e os motivos da transferncia; (no deve ser esquecido de assinar e de colocar o carimbo de identificao pessoal. Terceira etapa: Orientao Tcnica Conselho Mdico ou orientao tcnica a um colega mdico sobre a conduta a ser tomada para melhor estabilizao do paciente antes da transferncia ou mesmo para evitar a transferncia. Quarta Etapa: Deciso Tcnica O mdico regulador deve avaliar a necessidade de interveno, decidir sobre o recurso disponvel mais adequado a cada caso, levando em considerao: gravidade, necessidade de tratamento cirrgico, os meios disponveis, relao custo benefcio, avaliao tempo-distncia. Em resumo, ele decide qual o recurso e o nvel de complexidade que o caso exige. Quinta Etapa: Avaliao dos Recursos e Deciso Gestora: Aspectos tcnicos ticos e regulamentares Uma vez constatada a necessidade de transferncia, o prximo passo a procura e/ou escolha do hospital referenciado para o qual o paciente ser encaminhado, o que nem sempre se constitui em tarefa simples e rpida quando no existem muitas opes, como no caso de necessidade de UTI tanto adulto quanto neonatal. Diante do estabelecimento da necessidade de transferncia, a Central procura o recurso necessrio dentro de sua grade. Em caso de dificuldade de recurso disponvel, esgotadas as possibilidades de sua rea, ir procurando recursos sucessivamente nas demais centrais. - 31 -

Aspectos ticos: Cdigo de tica Mdica (CEM)o:

Art. 2 O alvo de toda ateno do mdico a sade do ser humano, em benefcio da qual dever agir com o mximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional" Art. 57 :que veda ao mdico: "Deixar de utilizar todos os meios disponveis de diagnstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente." Art. 47 : Discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto." CEM Art. 48 sobre solicitao de transferncias por familiares veda ao mdico: "Exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a sua pessoa ou seu bem-estar". Art. 56: veda ao mdico: "Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execuo de prticas diagnsticas ou teraputicas, salvo em caso de iminente perigo de vida." Manual de Orientao tica e Disciplinar refere, a pgina 58 que: "Se um paciente necessita, deve ou quer ser transferido para outra cidade em situao de urgncia/emergncia o mdico dever faz-lo no "bom momento" clnico, ou seja, quando o paciente no est em risco iminente de morte e apresenta estveis seus sinais vitais, mesmo em nveis no ideais." Em concluso, o ideal que o mdico atenda ao desejo do paciente ou de seu representante legal e adote os procedimentos tcnicos e a conduta tica compatveis ao caso em questo, nas condies acima referenciadas. Procedimentos necessrios: Definir de acordo com a necessidade de cada caso, complexidade e disponibilidade do servio de destino, considerando a grade de regionalizao e hierarquizao do Sistema; Comunicar a equipe no local da ocorrncia o destino do paciente Acionar servio receptor Comunicar o envio do paciente, providenciando seu acesso no servio de destino; Acionamento de mltiplos recursos ou combinao para otimizar recursos dispersos Adaptao dos meios Comunicar ao solicitante Confirmar o recebimento com o solicitante e/ou com a equipe de transporte para que possa ser providenciada a melhor recepo possvel para o paciente Pactuar com o hospital os casos de recebimento nica e exclusivamente para realizao de exames com segundo transporte posterior;

Dificuldades enfrentadas: . Mdico do servio referenciado alega Inexistncia de leito vago (enfermaria ou UTI) . O que o que fazer? encaminhar o paciente mesmo sem garantia de vaga ou at mesmo com negativa de vaga, ou mant-lo no hospital de origem com risco de vida para o paciente e, talvez, servir de fonte de denncia contra o prprio mdico?

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Nestes momentos, o bom senso e a prudncia devem prevalecer. Cada caso um caso e cada momento diferente do outro. Talvez por isso, pela complexidade da questo, nenhuma norma responde claramente e com segurana esta questo. Alguma regulamentao a ser considerada:o o

A Resoluo CFM N 1.529/98 e a Portaria MS N 824/99 abordam, de maneira detalhada, os vrios aspectos envolvidos no Transporte Inter-Hospitalar, que vo desde os contatos prvios at a obrigatoriedade de atendimento pelo hospital de destino, passando pelo esclarecimento das responsabilidades mdicas e pelo adequado monitoramento do paciente a ser removido e a necessidade de acompanhamento pelo mdico assistente. Mdico que atendeu o paciente indica transferncia mediante transporte interhospitalar. De quem a responsabilidade em acompanhar o paciente durante sua remoo?o o

a Resoluo CREMESC N 027/97: Art. 3 - "Na remoo de pacientes com risco de vida iminente, avaliado pelo seu mdico assistente, este dever acompanhar o mesmo na ambulncia ou designar outro mdico para tal, at o atendimento por outro mdico no local de destino." Fica claro, portanto, que nas condies acima, o mdico dever estar sempre presente na ambulncia e que a avaliao do risco de vida do paciente ser do prprio mdico assistente. Se houver possibilidade, poder ser designado outro mdico para tal, sempre de comum acordo entre ambos. Mas e se o Mdico est sozinho no Hospital? A grande maioria dos mdicos tm o entendimento de que no poderiam abandonar seu planto e, portanto, no deveriam acompanhar o paciente. No entanto, este no o procedimento correto, tendo em vista o Parecer aprovado pelo Plenrio do CREMESCo

sobre a Consulta N 407/97 j anteriormente mencionada e cujo consulente, em seu encaminhamento, entendia que as remoes so freqentes e que no seria possvel acompanhar os pacientes porque deixaria "a descoberto" o hospital. O Parecer aprovado pelo Corpo de Conselheiros taxativo e afirma o seguinte: "... no podemos concordar com as alegaes apresentadas. Os colegas reunidos consideram o assunto polmico; quanto a isso at podemos concordar, mas no resta qualquer dvida de que a responsabilidade sobre as eventuais ocorrncias que surjam com o paciente, aps ser prestado um primeiro atendimento, enquanto no chegar a seu destino e at ser recebido por outro mdico, ser sempre daquele que o encaminhou. Quanto a possibilidade de chegada de outro paciente, deve ser lembrado que j existe um paciente enquanto a chegada de outro uma possibilidade. Para tal possibilidade bvio que poder e dever estar a disposio outro mdico substituto." Em caso de bito de pacientes durante o transporte entre hospitais sem o devido acompanhamento mdico, quem responde perante o CRM, o mdico, responsvel tcnico pela empresa transportadora de pacientes com risco de vida indeterminado, ou o mdico assistente e/ou substituto?"

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O mdico assistente responsvel por: a) indicao da transferncia; b) avaliao do risco de vida durante o transporte e da necessidade de mdico acompanhante; c) acompanhamento do paciente ou providncia de seu substituto; d) elaborao do relatrio de transferncia. Portanto, o mdico assistente quem responde perante o CRM em caso de morte de paciente, decorrente de sua prpria patologia, transportado sob sua orientao, sem acompanhamento de equipe mdica, em ambulncia devidamente regularizada." Em ltima anlise, sempre que houver risco iminente de vida para o paciente, este dever sempre ser acompanhado, durante a remoo, por um mdico, seja seu mdico assistente ou outro disponvel. Nos casos em que no exista um segundo mdico no hospital ou mesmo na cidade, o plantonista dever sempre ir junto na ambulncia, recomendando-se que seja informado o hospital mais prximo para alertar o seu Diretor Tcnico/Clnico sobre a situao e para eventual cobertura, se for o caso.o

Deve ser lembrado, porm, que nos termos da Resoluo N 027/97, cabe ao mdico assistente a avaliao sobre a existncia ou no de risco de vida iminente. Neste sentido, o Parecer a consulta N 407/97 completa: Da mesma forma, totalmente do mdico que presta o atendimento e est encaminhando o paciente, a deciso de no acompanhar os casos que ele considerar desnecessrio, j que a responsabilidade dele. A grande dificuldade , uma vez decidida a transferncia em tempo hbil e estabilizadas as condies clnicas do paciente, est no transporte dos pacientes graves de uma cidade para outra. a quase totalidade dos hospitais em particular aqueles de pequeno e mdio porte, no possuem ambulncia prpria para realizar de forma adequada o transporte de paciente na situao referenciada. Se considerarmos que muitas vezes alguns poucos minutos sem uma assistncia adequada so a tnue linha divisria entre a vida e a morte, fcil imaginar, embora difcil de quantificar, que muitos pacientes ficam expostos indevidamente a grandes riscos, talvez at mesmo com evoluo para o xito letal. Nesta encruzilhada encontra-se o mdico dos hospitais sem os recursos adequados para transferir pacientes, principalmente nas cidades de pequeno porte e com toda a presso do paciente e/ou da famlia para que se agilize o transporte e sem que este procedimento possa ser realizado pela simples razo de que inexiste ambulncia disponvel.

Sexta Etapa:Transporte e finalizao Consiste em orientar quanto ao transporte mais adequado e checar se as condies do paciente correspondem ao que foi passado.

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TICA E HUMANIZAO NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR DA OUSADIA DE MUDAR LUTA DO FAZERAteno as Urgncias no marco lgico da integralidade.O sonho ver as formas invisveis Da distncia imprecisa, e, com sensveis Movimentos da esperana e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A rvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -Os beijos merecidos da Verdade. (Fernando Pessoa Horizonte)

Sade promoo de qualidade de vida. H 15 anos dizemos que construmos a sade do povo brasileiro promovendo eqidade, universalidade e integralidade, fortalecendo o controle social sobre o maior plano de sade deste continente, patrimnio do povo brasileiro, que o Sistema nico de Sade. Sade, como vemos, s possvel ser produzida na inter - setorialidade dos saberes, estejam eles na cincia acadmica, estejam eles protegidos na histria oral dos grupos populacionais, habitantes das cidades e do campo. Uma Poltica Nacional de Ateno as Urgncias deve considerar necessariamente a integralidade da ateno, que se traduza, por exemplo, na concluso inequvoca de que caladas precisam ser tratadas, para serem evitadas quedas de idosos e crianas; que nossas ruas, praas e esquinas recebam iluminao adequada, para que se evitem violncias e atropelamentos; que pessoas portadoras de hipertenso arterial, de diabetes sejam identificadas precocemente e acompanhadas rotineiramente, para serem evitados infartos, acidentes vasculares cerebrais e perda da acuidade visual. A ateno as urgncias deve desse modo fluir em todos os nveis do Sistema nico de Sade, organizando-se desde as equipes de sade da famlia at os cuidados pshospitalares na convalescena e recuperao. A integralidade da ateno o fundamento de nossa Poltica Nacional de Ateno Integral as Urgncias, que em seu primeiro momento se inicia com a implantao ou implementao dos Servios de Atendimento Mvel de Urgncia, os SAMUs e suas Centrais de Regulao-192, nas capitais brasileiras e cidades com mais de cem mil habitantes, em todo o territrio nacional.

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Mas, necessrio destacar que estes servios de sade do atendimento pr-hospitalar devero desempenhar papel mais amplo, por apresentarem caractersticas de funcionamento que possibilitam contribuir ativamente para com os Conselhos Tutelares da Infncia e da Adolescncia, para com os rgos responsveis pela poltica da Sade do Trabalhador, das Mulheres, dos Negros, dos Idosos, para com o Sistema Nacional de Transplantes ... Se os servios de urgncia devem por atributo histrico acolher todas as dores decorrentes de contratos sociais no cumpridos, ocultas na sombra e no silncio da sociedade - no trnsito, no trabalho, no lazer, na famlia e nos (des) caminhos da cidade ela se constitui em espao privilegiado para observao do desempenho do SUS, possuindo potencial concreto para ordenar a dinmica nos diferentes nveis de atendimento, e animada sob o imperativo das necessidades humanas. Quando em 1949, Albert Camus, prmio Nobel de Literatura, visitou o Brasil, ele expressou seu horror as atitudes de indiferena ao sofrimento humano, ao testemunhar a condio de abandono de uma vtima de atropelamento ... Diz-nos o notvel romancista francs ... De novo, uma mulher estendida, sangrando, diante de um nibus. E uma multido olha, em silncio, sem prestar-lhe socorro. (...) Durante todo esse tempo, deixaram esta infeliz em meio aos gemidos 1. Mais de cinqenta anos depois, este fato infelizmente ainda realidade em muitos lugares do Brasil. Hoje consenso no mundo todo que muito se pode fazer no atendimento as urgncias antes da porta dos hospitais para diminuir o sofrimento, aumentar as possibilidades de sobrevivncia, e reduzir seqelas fsicas e emocionais. Existem condies de oferecer solidariedade no momento de crise, que como toda urgncia sentida pelo cidado, seus familiares e amigos. Oferecer cuidados os mais apropriados e necessrios em todas e quaisquer circunstncias. Estes cuidados, esta assistncia tero como princpio a equidade, garantida atravs dos protocolos de regulao mdica das urgncias, construindo-se uma assistncia sem preconceitos ou privilgios. Ou seja, no sero ambulncias regidas pelo clientelismo poltico, e o atendimento varivel com a natureza do pedido de socorro poder se manifestar como um conselho ao demandante, assim como poder se manifestar no envio de uma ambulncia, tripulada por mdico ou por equipe de enfermagem, a terem seus atos teraputicos monitorados on line pelo mdico regulador, desde o local do evento at a porta hospitalar de referncia. O atendimento as urgncias, no deve ser visto como espetculo cinematogrfico, mas como um momento de cuidados, ateno, competncia tcnica, de respeito e preservao dos direitos da pessoa. Por essa razo os profissionais de sade atuantes nos SAMUs tero suas responsabilidades claramente determinadas em lei e recebero atravs dos Ncleos de Educao em Urgncia a formao e qualificao necessrias a prestao de um servio de qualidade ao cidado. - 36 -

Precisamos que nossas equipes advoguem o direito a sade da populao, precisamos que nossas equipes e ambulncias sejam respeitadas e contem com a solidariedade no trnsito de motoristas e pedestres, para que o acionar das luzes seja reconhecido como alerta, pedido de passagem, usando o menos possvel sirenes, que aumentam a angstia do paciente transportado; angstia extensiva a todos que acompanham em suas casas, em seus locais de trabalho a trajetria muitas vezes difcil e ao mesmo tempo gritante de um pedido de passagem. Milton Santos, gegrafo da cidadania, do territrio do cidado, afirmava que a grande cidade um fixo enorme, cruzado por fluxos enormes (homens, produtos, mercadorias, ordens, idias...), diversos em volume, intensidade, ritmo, durao e sentido. Para Milton Santos dentro deste conceito os fixos pblicos se instalam segundo princpios sociais, e funcionam independentemente das exigncias do lucro... As distncias porventura existentes so minimizadas por transporte escolares ou hospitalares gratuitos. No se trata de salrio indireto, pois tudo isso devido a todos os cidados, com ou sem emprego. Trata-se da busca de uma equidade social e territorial. 2 O alerta de Milton Santos adverte-nos que no podemos transformar doentes em fluxos, mas levar at a periferia os fixos pblicos onde esto as populaes mais pobres papel dos governos federal, estadual e municipal... Na grande cidade, a forma como o territrio metropolitano utilizado, pode ajudar a suprir uma grande parcela das angustias do cotidiano e as razes da violncia e do medo. Que a instituio da Poltica Nacional de Ateno Integral as Urgncias responda as necessidades sociais de nossa populao, que a implantao dos SAMU permita oferecer a melhor resposta aos pedidos de auxlio, chegados as centrais de regulao mdica; que os SAMU, inspirados nos princpios de humanizao do atendimento, sigam assim salvando vidas, reduzindo o nmero e a gravidade das seqelas fsicas e emocionais das pessoas doentes e de suas famlias.1

Dirio de Viagem a Amrica do Sul Albert Camus

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Do livro O Pas Distorcido, o Brasil, a globalizao e a cidadania Artigo: Fixos e Fluxos Cenrio para a Cidade sem Medo pginas 129 a 131- Ed. Publifolha - 2002.

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BASES TICAS A abordagem da tica neste Curso foi entendida como uma necessidade de imprimir uma mudana paradigmtica nos processos ditos de educao, mas que se limitam a assumir uma postura repetitivamente repassadora de contedos que podem produzir apenas profissionais bem treinados e tecnicamente hbeis para o exerccio da regulao mdica. Pretendemos que este processo de capacitao seja voltado para a produzir uma sensibilizao nestas pessoas envolvidas como processo de cuidar em sade, para que elas tenham o entendimento do paciente como ser humano, complexo e no redutvel a dimenso biolgica e da sade como um direito e um bem pblico a ser mantido ou conquistado atravs de seus esforos, considerado no apenas como um exerccio profissional, mas um exerccio de tica e de Cidadania. A estrutura do curso previu ento um conjunto de conhecimentos, gerais, especficos, de habilidades prticas e tericas e neste mdulo sero valorizados os hbitos, as atitudes e os valores ticos que possibilitem ao profissional uma atuao eficiente, consciente e ativa no mbito do seu trabalho, que possa refletir na sociedade e em sua auto-realizao enquanto sujeito. 1. CONCEITOS GERAIS DE TICA E MORAL Falar em tica, inicialmente nos remete a uma idia de comportamentos dos homens, que historicamente foram criando formas de se viver que se diferenciam no tempo e no espao, construindo respostas diversificadas as suas necessidades, reformulando as respostas e inventando novas necessidades. Os costumes das pessoas, e os valores que atribuem as coisas a aos outros homens, podem ser entendidos enquanto atribuies de significados na maneira como o homem se relaciona com a natureza e com os outros homens, que variam de acordo com a necessidade, desejos, condies e circunstncias em que se vive. a cultura de cada grupo social que imprime como deve ser e o que se deve fazer se traduz numa srie de prescries, valores, estabelecimento de regras, relaes hierrquicas que possibilitam uma vida em sociedade que a s sociedades criam para orientar a conduta dos indivduos. Este seria o campo de atuao da moral e da tica. Ele diz respeito a uma realidade humana que construda histrica e socialmente a partir das relaes coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem. Quando existem conflitos na sociedade, as respostas a esses conflitos do passam pela deciso pessoal, influenciadas pelas representaes sociais, pela insero cultural e poltica dos indivduos e so ditadas pela moral, palavra originada do latim Mos, moris, que significa maneira de se comportar regulada pelo uso, que pode ser conceituada ento como o conjunto de normas, princpios, preceitos, costumes, valores, regras de conduta admitidas por um grupo de homens em determinada poca e que norteiam o comportamento dos indivduos. A moral portanto normativa. O seu campo a prtica, o modo de agir de um comportamento do homem, que age bem ou mal, certo ou errado, na medida em que acata ou transgride as regras do grupo, sendo que a sua conscincia que dirige suas atitudes. Esses comportamentos so ditados por conhecimentos morais que so adquiridos com a vivncia dos indivduos. O ser humano desde o nascimento moldado pelo meio que o cerca, atravs da fala, dos gestos e demais interaes. Inicialmente a partir da me, a seguir pela famlia, depois a escola, outras instituies, alm da Religio, da ideologia poltica e da prpria sociedade como um todo. - 38 -

Na interao constante com todas estas instncias importante lembrar que o homem dotado do livre arbtrio de optar pelo certo ou errado segundo seu julgamento, a partir de valores prprios inerentes a cada indivduo. A necessidade de problematizar estas respostas aos conflitos do cotidiano, Campo especfico da tica, definida por ARANHA (1993) como parte da filosofia que se ocupa com a reflexo a respeito das noes e princpios que fundamentam a vida moral e esta reflexo pode seguir as mais diversas direes, dependendo da concepo do homem que se toma como ponto de partida. Podemos ento entender a tica como uma espcie de cincia, teoria ou reflexo terica, que analisa, investiga e critica os fundamentos e princpios que regem a conduta humana a luz de princpios morais. Ela est relacionada a opo, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros, relaes justas e aceitveis. Via de regra est fundamentada nas idias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existncia plena e feliz. Segundo Aurlio Buarque de Holanda, tica definida como: Estudo dos juzos de apreciao referentes a conduta humana suscetvel de qualificao do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. A Filosofia, segundo Abagnano, trata a tica em geral como a cincia da conduta e VASQUEZ (1995) amplia a definio afirmando que "a tica a teoria ou cincia do comportamento moral dos homens em sociedade. Habitualmente, no cotidiano, as pessoas no fazem distino entre tica e moral, usam equivocadamente como sinnimos duas palavras distintas embora a etimologia dos termos seja semelhante. Segundo GODIM, tica uma palavra de origem grega, com dois significados possveis. O primeiro a palavra grega thos, com e curto, que pode ser traduzida por costume. Serviu de base para a traduo latina MORAL. O segundo, tambm se escreve thos, porm com e longo, que significa propriedade do carter, modo de ser. a que, de alguma forma, orienta a utilizao atual que damos a palavra tica. A tica, ento como vimos, definida como a teoria, o conhecimento ou a cincia do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A tica filosfica e cientfica. As reflexes desta cincia podem seguir as mais diversas direes, dependendo da concepo do homem que se toma como ponto de partida, existindo duas concepes fundamentais. Uma primeira, como cincia do Fim a que a conduta dos homens se deve dirigir, e dos Meios para atingir tal fim e deduzem tanto o fim quanto os meios da natureza do homem. Fala a linguagem do ideal a que o homem est dirigido pela sua natureza, e, por conseguinte da natureza ou essncia ou substncia do homem. peculiar a esta concepo a noo do bem como realidade perfeita ou perfeio real. Uma segunda, que considera como cincia do mvel da conduta humana e procura determinar tal mvel com vistas a dirigir ou disciplinar a mesma conduta. Fala sobre motivos ou das causas da conduta humana ou das foras que determinam e pretendem ater-se ao conhecimento dos fatos). A confuso entre ambos os pontos de vista heterogneos foi possibilitada pelo fato de ambas se apresentarem habitualmente na forma aparentemente idntica de uma definio do bem. Mas, a anlise da noo de bem mostra logo a ambigidade que ela oculta; j que bem pode significar ou o que ou o que objeto de desejo, de aspirao e estes dois significados correspondem exatamente as duas concepes de tica acima distintas.

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De modo que quando se afirma O bem a felicidade, a palavra bem, tem um significado completamente diferente daquele que se encontra na afirmao o bem o prazer. A primeira assero (no sentido em que feita, por exemplo, por Aristteles e por So Toms), significa: A felicidade o fim da conduta humana, dedutvel da natureza racional do homem; ao passo que a segunda seo significa: O prazer o mvel habitual e constante da conduta humana. Como o significado e o alcance das duas asseres so,portanto,completamente diferentes, a distino entre ticas do fim e ticas do mvel deve ser mantida continuamente presente nas discusses sobre a tica. Tal distino, corta em duas a histria da tica, e consente reconhecer como irrelevantes muitas das discusses de que ela tecida e que no tem outra base seno a confuso entre os dois significados propostos. Por diferentes que sejam as doutrinas nas suas articulaes internas, a sua impostao formal idntica. Elas procedem determinando a natureza necessria do homem e deduzindo de tal natureza o fim a que deve ser dirigida a conduta. 2. EXISTNCIA TICA, SENSO MORAL E CONSCINCIA MORAL Nenhum homem uma ilha. Esta famosa frase do filsofo ingls Thomas Morus ajuda-nos a compreender que a vida humana convvio. Para o ser humano viver conviver. justamente na convivncia, na vida social e comunitria, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e tico. na relao com o outro que surgem os problemas e as indagaes morais sobre o que devemos ou no fazer, sobre como agir ou no agir em determinada situao, como comportar-me perante o outro, qual a maneira mais correta de resolver determinadas situaes, o que fazer diante da corrupo, das injustias sociais, de milhares de famintos, o que temos ou no temos o direito de fazer por exemplo, diante de entes queridos com doenas terminais que permanecem vivos apenas atravs de mquinas. Constantemente no nosso cotidiano encontramos situaes que nos colocam problemas morais. So problemas prticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito as nossas decises, escolhas, aes e comportamentos - os quais exigem uma avaliao, um julgamento, um juzo de valor entre o que socialmente considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente. O problema que no costumamos refletir e buscar os porqus de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por fora do hbito, dos costumes e da tradio, tendendo a naturalizar a realidade social, poltica, econmica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade critica diante da realidade. Em outras palavras, no costumamos fazer tica, pois no fazemos a crtica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral. As situaes e conflitos vivenciados no cotidiano mobilizam nossos sentimentos de admirao, vergonha, culpa, remorso, contentamento, clera, amor, dvida, medo, etc. que so provocados por valores como justia, honradez, esprito de sacrifcio, integridade, generosidade, solidariedade, etc. Nossas dvidas quanto a deciso a tomar e nossas aes cotidianas exprimem nosso senso moral, e tambm pem a prova nossa conscincia moral, uma conscincia crtica, formada pelo conjunto de exigncias e prescries que reconhecemos como vlidas para orientar nossas escolhas e discerne o valor moral de nossos atos. O senso moral e a conscincia moral exigem que decidamos o que fazer, que justifiquemos para ns mesmos e para os outros as razes de nossas decises e que - 40 -

assumamos todas as conseqncias delas, porque somos responsveis por nossas opes e a decises que conduzem a aes com conseqncias para ns e para os outros. Se o que caracteriza fundamentalmente o agir humano a capacidade de antecipao ideal do resultado a ser alcanado, conclumos que isso que torna o ato moral voluntrio, ou seja, um ato de vontade que decide pela busca do fim proposto. A complexidade do ato moral etano fato que ele provoca efeitos no s na pessoa que age, mas naqueles que a cercam e na prpria sociedade como um todo. Portanto para que um ato seja considerado moral ele deve ser livre, consciente, intencional. Pressupe ainda a solidariedade e reciprocidade com aqueles com os quais nos comprometemos. E o compromisso no deve ser entendido como algo superficial e exterior, mas como ato que deriva do ser total do homem. Destas caractersticas decorre a responsabilidade, responsvel aquele que responde por seus atos, isto , o homem, consciente e livre assume a autoria de seu ato reconhecendo-o como seu e respondendo pelas conseqncias dele. 3. ATRIBUIO DE JUZOS Como vimos, a tica, entendida como disciplina filosfica, relaciona-se diretamente com o estabelecimento de juzos de valor, e com o estudo das justificativas das aes humanas, procurando determinar, a respeito da conduta humana, no "o que ", mas "o que deve ser". portanto, de natureza normativa, tendo por objeto um sistema de conceitos que constituem uma teoria do ideal a partir da qual emitimos juzos acerca da positividade ou negatividade dos valores transmitidos. Estes juzos sobre os valores so elementos importantes na tomada de decises. No podemos tom-las baseando-se apenas em fatos. Se dissermos por exemplo, Est chovendo, estaremos enunciando um acontecimento constatado por ns e o juzo proferido um juzo de fato. Se, porm falarmos, A chuva boa para as plantas, ou a chuva bela, estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juzo de valor. Juzos de fato so aqueles que dizem o que as coisas so, como so e por que so. Em nossa vida cotidiana, mas tambm na metafsica e nas cincias, os juzos de fato esto presentes. Juzos de valor so avaliaes sobre coisas, pessoas, situaes, so proferidos na moral, nas artes, na poltica, na religio. Juzos de valor avaliam coisas, pessoas, aes, experincias, acontecimentos, sentimentos, estados de esprito, intenes e decises como bons ou maus, desejveis ou indesejveis. Os juzos ticos de valor so tambm normativos, isto , enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. So juzos que enunciam obrigaes e avaliam intenes e aes segundo o critrio do correto e do incorreto. Nos dizem o que so o bem, o mal, a felicidade. Nos dizem tambm que sentimentos, intenes, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para alcanarmos o bem e a felicidade, alm de enunciarem ainda que atos, sentimentos, intenes e comportamentos so condenveis ou incorretos do ponto de vista moral. A diferena entre estes tipos de juzo, nos remetem a origem da diferena entre Natureza e Cultura. A primeira, como j vimos, constituda por estruturas e processos necessrios, que existem em si e por si mesmos, independentemente de ns; a chuva um fenmeno cujas causas e efeitos necessrios podemos constatar e explicar. Por sua vez, a Cultura nasce de maneira como os seres humanos interpretam-se a si mesmos e as suas relaes com a Natureza, acrescentandolhes sentidos novos, intervindo nela, alterando-a atravs do trabalho e da tcnica, - 41 -

dando-lhe valores. Dizer que a chuva boa para as plantaes pressupe a relao cultural dos humanos com a Natureza, atravs da agricultura. Considerar a chuva bela pressupe uma relao valorativa dos humanos com a Natureza, percebida como objeto de contemplao. Freqentemente, no notamos a origem cultural nos valores ticos, do senso moral e da conscincia moral, porque somos educados (cultivados) para eles e neles, como se fossem naturais, existentes em si e por si mesmos. Para garantir a manuteno dos padres morais atravs dos tempos e sua continuidade de gerao a gerao, as sociedades tendem a naturaliz-los. A naturalizao da existncia moral esconde, portanto, o mais importante da tica; o fato de ela ser uma criao histrico-cultural. 4. O AGIR TICO Para que haja conduta tica preciso que exista o agente consciente, isto , aquele que conhece a diferena entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vcio. A conscincia moral, no s conhece tais diferenas, mas tambm se reconhece como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsvel por suas aes e seus sentimentos, e pelas conseqncias do que faz e sente. Conscincia e responsabilidade so portanto condies indispensveis da vida tica. A conscincia moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de alternativas possveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de alarse na ao. Tem a capacidade para avaliar e pesar as motivaes pessoais, as exigncias feitas pela situao, as conseqncias para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais para alcanar fins morais impossvel), a obrigao de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo (se o estabelecido for imoral ou injusto). A vontade este poder deliberativo e decisrio do agente moral. Para que exera tal poder sobre o agente moral a vontade deve ser livre, isto , no pode estar submetida a vontade de um outro nem pode estar submetida aos instintos e as paixes, mas ao contrrio, deve ter poder sobre eles e elas. O campo tico, assim, constitudo pelos valores e pelas obrigaes que formam o contedo das condutas morais, isto , as virtudes,. Estas so realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da existncia tica que deve apresentar como caractersticas: Ser consciente de si e dos outros, isto , ser capaz de reflexo e de reconhecer a existncia dos outros como sujeitos ticos iguais a ele; Ser dotado de vontade, isto , de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendncias, sentimentos (para que estejam em conformidade com a conscincia) e de capacidade para deliberar e decidir entre vrias alternativas possveis; Ser responsvel, isto , reconhecer-se como autor da ao, avaliar os efeitos e conseqncias dela sobre si e sobre nos outros, assumi-la bem como as suas conseqnc