Apostila Samu - Médicos e Enfermeiros

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  • 7/13/2019 Apostila Samu - Mdicos e Enfermeiros

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    CCUURRSSOODDEEAATTEENNDDIIMMEENNTTOOEEMMEEMMEERRGGNNCCIIAA PPRR--HHOOSSPPIITTAALLAARR

    MMVVEELL

    2010

    KITT

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    NDICE

    Poltica Nacional de Ateno as Urgncias ................................................ 06Servio de Atendimento Mvel de Urgncia - SAMU ................................ 10Veculos e equipamentos usados no atendimento Pr-hospitalar ............. 19Transporte inter hospitalar .......................................................................... 29

    tica e Humanizao no Atendimento Pr-hospitalar ................................ 35Biossegurana ............................................................................................ 48Cinemtica do Trauma ............................................................................... 57Avaliao da Cena e abordagem da Vtima .............................................. 71Vias Areas e Ventilao ........................................................................... 88Ferimento Curativos e Bandagens ............................................................ 131Choque Hipovolmico e Reposio Volmica .......................................... 145Trauma Msculo Esqueltico ...................................................................... 151Tcnicas deImobilizaes .......................................................................... 161Acidentes com Mltiplas Vtimas e Catstrofes ......................................... 187Traumas Especficos : ................................................................................ 195

    Traumatismo Crnio Enceflico ....................................................... 195Trauma de Face ............................................................................... 208Traumatismo Raquimedular ............................................................. 220Traumatismo Torcico ...................................................................... 227Traumatismo Abdominal .................................................................. 241Trauma na Criana ........................................................................... 252Trauma na Gestante ......................................................................... 261Trauma no Idoso ............................................................................... 268

    Choque eltrico .......................................................................................... 274Queimaduras .............................................................................................. 280Afogamento ................................................................................................. 294Intoxicao exgena e Envenenamento ..................................................... 310

    Reanimao Crdiopulmonar Cerebral - adulto e peditrica ..................... 332Urgncias Clnicas: ..................................................................................... 383Crise Hiper tensiva ....................................................................... 383

    Diabetes Mellitus .............................................................................. 389Sndromes Coronariana Aguda ........................................................ 401Acidente Vascular Cerebral .............................................................. 411Convulso ......................................................................................... 419

    Urgncias Obsttricas ................................................................................ 432Assistncia ao Parto Normal e Cuidado com Recm-nascidoComplicaes da GravidezHemorragia e AbortamentoComplicaes P-parto

    Urgncias Psiquitricas .............................................................................. 441PsicosesTentativa de SuicdioDepresses

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    Conceituao de urgncia

    Conceito formal

    Segundo o Conselho Federal de Medicina, em sua Resoluo CFM n. 1.451, de10/3/1995 (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1995), temos:

    Urgncia: ocorrncia imprevista de agravo sade com ou sem risco potencial de vida,cujo portador necessita de assistncia mdica imediata.

    Emergncia: constatao mdica de condies de agravo sade que impliquem emrisco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento mdico imediato.

    Conceito ampliado

    Segundo Le Coutour, o conceito de urgncia difere em funo de quem apercebe ou sente:

    Para os usurios e seus familiares, pode estar associada a uma ruptura de ordem docurso da vida. do imprevisto que tende a vir a urgncia: eu no posso esperar.

    Para o mdico, a noo de urgncia repousa no sobre a ruptura, mas sobre o tempo,relacionado com o prognstico vital em certo intervalo: ele no pode esperar.

    Para as instituies, a urgncia corresponde a uma perturbao de sua orga- nizao, o que no pode ser previsto

    .

    No dicionrio da lngua portuguesa, l-se que emergncia relativo a emergir, ou seja,alguma coisa que no existia, ou que no era vista, e que passa a existir ou ser manifesta,representando, dessa forma, qualquer queixa ou novo sintoma que um paciente passe aapresentar. Assim, tanto um acidente quanto uma virose respiratria, uma dor de dente ouuma hemorragia digestiva, podem ser consideradas emergncias.

    Este entendimento da emergncia difere do conceito americano, que tem perma-nentemente influenciado nossas mentes e entende que uma situao de emergncia nopode esperar e tem de ser atendida com rapidez, como incorporado pelo prprio CFM.

    Inversamente, de acordo com a nossa lngua, urgncia significa aquilo que nopode esperar (tanto que o Aurlio apresenta a expresso jurdica urgncia urgentssima).

    Assim, devido ao grande nmero de julgamentos e dvidas que esta ambivalncia determinologia suscita no meio mdico e no sistema de sade, optamos por no mais fazer estetipo de diferenciao. Passamos a utilizar apenas o termo urgncia , para todos oscasos que necessitem de cuidados agudos, tratando de definir o grau de urgncia, a fimde classific-las em nveis, tomando como marco tico de avaliao o imperativo danecessidade humana.

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    Avaliao mult ifator ial do grau de urgncia

    O grau de urgncia diretamente proporcional gravidade, quantidade de recursosnecessrios para atender o caso e presso social presente na cena do atendimento einversamente proporcional ao tempo necessrio para iniciar o tratamento.

    U = G * A * V *T *

    Grau de urgncia Gravidade do cas o Tempo para iniciaro tratamento A ten o: recursos necess rios para o tratamento Valor soc ial que envolve o caso

    Gravidade

    perfeitamente possvel quantificar a gravidade do caso pelo telefone, por meio deperguntas objetivas dirigidas diretamente ao paciente ou pessoa que ligou solicitandoajuda, utilizando uma semiologia que ser definida e abordada nos protocolosespecficos. Mais fcil ainda quantificar as urgncias nas transferncias inter-hospitalares, quando o contato telefnico feito diretamente entre mdicos.

    Tempo

    Tratamos aqui de utilizar o conhecimento dos intervalos de tempo aceitveis entre o

    incio dos sintomas e o incio do tratamento. Quanto menor o tempo exigido, maior aurgncia. Nas transferncias inter-hospitalares, com o atendimento inicial j realizado, estaavaliao deve ser mais cuidadosa, para evitar precipitaes.

    Ateno

    Quanto maior for a necessidade de recursos envolvidos no atendimento inicial e notratamento definitivo, maior ser a urgncia. Este subfator o que mais influi na decisode transferir o paciente.

    Valor Social

    A presso social que envolve o atendimento inicial pode muitas vezes justificar oaumento do grau de urgncia de um caso simples. Este fator no pode sernegligenciado, pois muitas vezes uma comoo social no local do atendimento podedificultar a prestao de socorro. de pouca influncia, porm, nas transferncias inter-hospitalares.

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    Classificao das urgncias em nveis

    Com o objetivo de facilitar o estabelecimento de prioridades entre os diferentes casos

    de urgncia, podemos didaticamente classific-las da seguinte forma:

    Nvel 1 : Emergncia ou Urgncia de prioridade absoluta

    Casos em que haja risco imediato de vida e/ou a existncia de risco de perdafuncional grave, imediato ou secundrio.

    Nvel 2 : Urgncia de prioridade moderada

    Compreende os casos em que h necessidade de atendimento mdico, nonecessariamente de imediato, mas dentro de poucas horas.

    Nvel 3 : Urgncia de prioridade baixa

    Casos em que h necessidade de uma avaliao mdica, mas no h risco de vidaou de perda de funes, podendo aguardar vrias horas.

    Nvel 4 : Urgncia de prioridade mnima

    Compreendem as situaes em que o mdico regulador pode proceder a conselhospor telefone, orientar sobre o uso de medicamentos, cuidados gerais e outrosencaminhamentos.

    Conceito de Potencialidade : Qualquer caso inicialmente classificado em umdeterminado nvel pode mudar sua colocao inicial, em funo do tempo deevoluo, tipo de transporte e outros fatores, sendo, portanto, necessrio estimara gravidade potencial para cada caso.

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    A POLTICA NACIONAL DE ATENO S URGNCIAS

    Antecedentes hist ricos

    As urgncias vm sendo objeto de algumas iniciativas do governo federal, masque no lograram causar impacto significativo na sua ateno.

    Em junho de 1998, foi publicada a Portaria GM/MS n. 2.923, que determinouinvestimentos nas reas de Assistncia Pr-hospitalar Mvel, Assistncia Hospitalar,Centrais de Regulao de Urgncias e Capacitao de Recursos Humanos.

    Em abril de 1999, foi publicada a Portaria GM/MS n. 479, que criou uma srie de pr-requisitos para o cadastramento de hospitais que, depois de habilitados, passaram areceber uma valorizao no valor das internaes realizadas dentro de uma lista pr-determinada de procedimentos considerados de urgncia.

    Ainda neste perodo, foram destinados tambm recursos do Reforsus para equipa-mentos, reforma e modernizao gerencial de hospitais que atendessem s urgncias.

    Em abril de 2000, foi realizado o IV Congresso da Rede Brasileira de Coo-perao em Emergncias (RBCE), em Goinia (Rede Brasileira de Cooperao emEmergncias, 2000), sob a denominao: Bases para uma Poltica Nacional deAteno s Urgncias, com grande mobilizao de tcnicos da rea de urgncias eparticipao formal do Ministrio da Sade que, a partir desse evento, desencadeou aorganizao de duas vertentes de atividades relacionadas ateno s urgncias:

    a) Alguns tcnicos foram convidados a compor um grupo-tarefa para avaliao doimpacto da aplicao dos recursos acima mencionados, que produziu um relatrio quefoi remetido ao Reforsus no final de 2000;

    b) A Secretaria de Assistncia Sade (SAS) do Ministrio da Sade designou umprofissional para interlocuo especfica da rea, que at ento no contava com talrepresentao.

    A partir da definio dessa interlocuo, iniciou-se um ciclo de seminrios dediscusso e planejamento conjunto de redes regionalizadas de ateno s urgncias,envolvendo gestores estaduais e municipais, em vrios estados da federao e, aindaneste perodo, que se estendeu de junho de 2000 at meados de 2002, foi feita umareviso da Portaria GM/MS n. 824, de junho de 1999, republicada como Portaria GM/MSn. 814, em junho de 2001.

    Foram tambm elaboradas diretrizes tcnicas para as Unidades no Hospitalares

    de Atendimento s Urgncias, Transporte Inter-hospitalar, grades de capacitao paratodos os nveis de ateno s urgncias e diretrizes gerais para o desenho de uma rederegionalizada de ateno s urgncias, que acabaram por compor o texto da PortariaGM/MS n. 2.048: Regulamento Tcnico dos Sistemas Estaduais de Urgncia eEmergncia, publicado em novembro de 2002.

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    A Portaria GM/MS n. 2.048, de 5 de novembro de 2002

    A Portaria GM/MS n. 2.048/02 (BRASIL, 2002a) estabelece os princpios ediretrizes dos sistemas estaduais de urgncia e emergncia, define normas, critrios de

    funcionamento, classificao e cadastramento dos hospitais de urgncia, determina acriao das Coordenaes do Sistema Estadual de Urgncias e composta de setecaptulos em que esto contemplados os seguintes tpicos:

    Captulo I: Estruturao dos sistemas locorregionais de ateno s urgncias, dentrodos preceitos da Noas-SUS;

    Captulo II: Diretrizes da Regulao Mdica das Urgncias;

    Captulo III: Diretrizes e responsabilidades das vrias unidades componentes doatendimento pr-hospitalar fixo;

    Captulo IV:Diretrizes do Atendimento Pr-hospitalar Mvel;

    Captulo V: Diretrizes do componente hospitalar de atendimento s urgncias;

    Captulo VI:Transferncias e transporte inter-hospitalar;

    Captulo VII: Diretrizes dos Ncleos de Educao em Urgncias com respectivasgrades de temas, contedos, habilidades e cargas horrias.

    A Portaria GM/MS n. 1.863, de 29 de setembro de 2003

    No novo ciclo de governo inaugurado em 2003, a rea das urgncias considerada prioritria e publicada na forma da Portaria GM/MS n. 1.863 (BRASIL,2003a) a Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, ocorrendo a incorporao denovos elementos conceituais, alm da reviso e retomada de outros j bastantedifundidos, que vinham sendo debatidos e formulados com a participao de tcnicos detodo o Pas, a saber:

    garantir a universalidade, eqidade e a integralidade no atendimento s urgnciasclnicas, cirrgicas, gineco-obsttricas, psiquitricas, peditricas e as relacionadass causas externas (traumatismos no-intencionais, violncias e suicdios);

    consubstanciar as diretrizes de regionalizao da ateno s urgncias,mediante a adequao criteriosa da distribuio dos recursos assistenciais,conferindo concretude ao dimensionamento e implantao de sistemas estaduais,

    regionais e municipais e suas respectivas redes de ateno;

    desenvolver estratgias promocionais da qualidade de vida e sade capazes deprevenir agravos, proteger a vida, educar para a defesa da sade e recuperar asade, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a eqidade de indivduos ecoletividades;

    fomentar, coordenar e executar projetos estratgicos de atendimento s necessidadescoletivas em sade, de carter urgente e transitrio, decorrente de situaes deperigo iminente, de calamidades pblicas e de acidentes com mltiplas vtimas, apartir da construo de mapas de risco regionais e locais e da adoo de protocolosde preveno, ateno e mitigao dos eventos;

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    contribuir para o desenvolvimento de processos e mtodos de coleta, anlise eorganizao dos resultados das aes e servios de urgncia, permitindo que apartir de seu desempenho seja possvel uma viso dinmica do estado de sadeda populao e do desempenho do Sistema nico de Sade em seus trs nveisde gesto;

    integrar o complexo regulador do Sistema nico de Sade, promover intercmbiocom outros subsistemas de informaes setoriais, implementando eaperfeioando permanentemente a produo de dados e democratizao dasinformaes com a perspectiva de us-las para alimentar estratgiaspromocionais;

    qualificar a assistncia e promover a capacitao continuada das equipes desade do Sistema nico de Sade na Ateno s Urgncias, em acordo com osprincpios da integralidade e humanizao.

    Define ainda que a Poltica Nacional de Ateno s Urgncias, deve serimplementada a partir dos seguintes componentes fundamentais:

    adoo de estratgias promocionais de qualidade de vida, buscando identificar osdeterminantes e condicionantes das urgncias por meio de aes transetoriais deresponsabilidade pblica, sem excluir as responsabilidades de toda a sociedade;

    organizao de redes locorregionais de ateno integral s urgncias, enquantoelos da cadeia de manuteno da vida, tecendo-as em seus diversoscomponentes:

    Componente Pr-Hospitalar Fixo: unidades bsicas de sade e unidades de sade dafamlia, equipes de agentes comunitrios de sade, ambulatrios especializados,servios de diagnstico e terapias, e unidades no-hospitalares de atendimento surgncias, conforme Portaria GM/ MS n. 2.048, de 5 de novembro de 2002 (BRASIL, 2002a).

    Componente Pr-Hospitalar Mvel: Servio de Atendimento Mvel de Urgncias(SAMU) e os servios associados de salvamento e resgate, sob regulao mdica deurgncias e com nmero nico nacional para urgncias mdicas 192;

    Componente Hospitalar: portas hospitalares de ateno s urgncias das unidadeshospitalares gerais de tipo I e II e das unidades h o s p i t a l a r e s de referncia tipo I, II eIII, bem como toda a gama de leitos de internao, passando pelos leitos gerais eespecializados de retaguarda, de longa permanncia e os de terapia semi-intensiva e

    intensiva, mesmo que esses leitos estejam situados em unidades hospitalares que atuemsem porta aberta s urgncias;

    Componente Ps-Hospitalar:

    Modalidades de Ateno Domiciliar, Hospitais Dia e Projetos de ReabilitaoIntegral com componente de reabilitao de base comunitria;

    instalao e operao das Centrais de Regulao Mdica das Urgncias,integradas ao Complexo Regulador da Ateno no SUS;

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    Capacitao e educao continuada das equipes de sade de todos os mbitos daateno, a partir de um enfoque estratgico promocional, abarcando toda agesto e ateno pr-hospitalar fixa e mvel, hospitalar e ps-hospitalar,envolvendo os profissionais de nvel superior e os de nvel tcnico, em acordo

    com as diretrizes do SUS e alicerada nos plos de educao permanente em

    sade, onde devem estar estruturados os Ncleos de Educao em Urgncias,normatizados pela Portaria GM/MS n. 2.048/02 (BRASIL, 2002a), que sopropostos aos gestores como estratgia para implementar a capacitao dosprofissionais atuantes em todos os nveis de ateno s urgncias, conforme sel abaixo:

    Os Ncleos de Educao em Urgncias devem se organizar como espaos desaber interinstitucional de formao, capacitao, habilitao e educaocontinuada de recursos humanos para as urgncias, coordenados pelo gestorpblico e tendo como integrantes as secretarias municipais e estaduais e asinstituies de referncia na rea de urgncia que formam e capacitam tanto opessoal da rea de sade como qualquer outro setor que presta socorro

    populao, de carter pblico ou privado e de abrangncia municipal, regional ouestadual.

    Orientao geral segundo os princpios de humanizao da ateno.

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    SERVIO DE ATENDIMENTO MVEL DE URGNCIA

    SAMU - 192

    I - Definio Geral

    O Ministrio da Sade na Portaria 2048, considera como nvel pr hospitalarmvel na rea de urgncia, o atendimento que procura chegar precocemente vtima,aps ter ocorrido um agravo sua sade (de natureza traumtica ou no-traumtica, ouainda psiquitrica), que possa levar sofrimento, seqelas ou mesmo morte, sendonecessrio, portanto, prestar-lhe atendimento e transporte adequado a um servio desade devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema nico de Sade.

    Em muitas situaes de urgncia pr hospitalar, aes de salvamento/ resgate,precisam ser realizadas antes do atendimento propriamente dito, ou seja, pode sernecessrio proteger a vtima de situaes normalmente adversas e que por elas mesmasconstituem risco de vida, sendo necessrio para tanto a utilizao de equipamentosespecficos e pessoal treinado e habilitado para sua utilizao. Em muitas situaes asaes de resgate e as de atendimento sade so realizadas simultaneamente.

    II - Organizao do Servio de Atendimento Mvel de Urgncia - SAMU

    A elaborao de um diagnstico loco-regional deve anteceder qualquerprojeto de implantao do SAMU em um municpio ou regio.

    Roteiro mnimo para elaborao do diagnstico. Dados da regio/municpio Descrio de malha viria urbana (pontes, linhas de trens, rios, crregos

    outros obstculos ao trnsito de veculos de socorro.) Distncias e condies das estradas. Localizar em mapa rodovirio

    Identificar os recursos de sade por nvel de complexidade. Localizar emplanta planimtrica. Fluxos e rotas de deslocamento dos veculos de socorro Dados demogrficos Populao por sexo, faixa etria urbana e/ou rural. Dados epidemiolgicos Morbidade Mortalidade Perfil scio econmico da populao Iniciar medidas de reanimao de suporte bsico da vida

    III - Nveis da Ateno Pr Hospi talar Mvel SAMUA ateno pr hospitalar no SAMU se d em dois nveis de complexidade. O

    objetivo definir as aes assistenciais que podem ocorrer no nvel bsico e no nvelavanado do atendimento, alm dos recursos humanos e os meios necessrios para suaexecuo.

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    1- O Suporte Bsico de Vida (SBV)

    Primeiro nvel de resposta a um pedido de socorro, quando for decidida anecessidade de enviar uma equipe intervencionista ao local de origem do chamado. Adeciso de envio do SBV responsabilidade do mdico regulador.

    A equipe de suporte bsico de vida (SBV) constituda por auxiliar / tcnico deenfermagem e o condutor do veculo de socorro.

    O nmero de ambulncias de SBV segue parmetros estabelecidos pelo MS,entre eles o populacional como o mais importante, ou seja: uma ambulncia SBV para100.000 /150.000 habitantes.

    A localizao das viaturas de SBV deve ser descentralizada noespao geogrfico de abrangncia do SAMU, de forma que o deslocamento at o local deorigem do pedido de socorro urgente no ultrapasse o tempo mximo de 09 minutos,segundo parmetro internacional.

    As aes assistenciais que podem ser realizadas pela equipe de interveno doSBV so determinadas pela Lei do Exerccio Profissional, admitindo-se, no entanto, quesob superviso direta ou distncia do Enfermeiro e quando devidamente capacitados ehabilitados atravs dos Ncleos de Educao de Urgncias, que os tcnicos e auxiliaresde enfermagem sejam capazes de:

    Reconhecer sinais precoces de disfuno respiratria Aferir freqncia cardaca e respiratria, tenso arterial, temperatura,

    saturao de O2 e controle de glicemia. Manejar equipamentos de suporte ventilatrio no invasivos. Realizar

    prescries mdicas por telemedicina. Reconhecer sinais precoces de doenas circulatrias agudas Realizar monitorizao cardaca e eletrocardiogrfica Dominar tcnicas de aferio da glicemia e administrao de medicamentos e

    infuses, dentro dos limites da sua funo. Ser capaz de avaliar o traumatizado grave e de prestar o atendimento inicial

    nas medidas de suporte bsico a vida.

    Adotar medidas adequadas no manejo do Trauma Raque Medular, TCE,queimados, trauma na gestante e na criana, quase afogamento, acidentescom mltiplas vtimas e com produtos perigosos, entre outros.

    Estar habilitado a auxiliar a gestante em trabalho de parto normal. Conhecimento e habilidade psicomotora para realizao de aes de

    salvamento, aqutico, terrestre, aqutico e em altura.

    A ambulncia de Suporte Bsico da Vida o veculo destinado ao transporteinter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pr-hospitalarde pacientes com risco de vida desconhecido, porm sem necessidade potencial deinterveno mdica no local e/ou durante transporte at o servio de sade de destino.

    Equipamentos e materiais

    Sinalizador ptico e acstico; equipamento de rdio-comunicao fixa e mvel;maca articulada e com rodas; suporte para soro; instalao de rede de oxignio comcilindro, vlvula, manmetro em local de fcil visualizao e rgua com dupla sada;oxignio com rgua tripla (a-alimentao do respirador; b-fluxmetro e umidificador deoxignio e c - aspirador tipo Venturi); manmetro e fluxmetro com mscara e chicotepara oxigenao; cilindro de oxignio porttil com vlvula; maleta de emergnciacontendo: estetoscpio adulto e infantil; ressuscitador manual adulto/infantil, cnulasorofarngeas de tamanhos variados; luvas descartveis; tesoura reta com ponta romba;esparadrapo; esfigmomanmetro adulto/infantil; ataduras de 15 cm; compressas

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    cirrgicas estreis; pacotes de gaze estril; protetores para queimados ou eviscerados;cateteres para oxigenao e aspirao de vrios tamanhos; maleta de parto contendo:luvas cirrgicas; clamps umbilicais; estilete estril para corte do cordo; saco plsticopara placenta; cobertor; compressas cirrgicas e gazes estreis; braceletes deidentificao.

    Os veculos que atuam no atendimento as urgncias traumticas devero disporadicionalmente dos seguintes equipamentos e materiais: prancha curta e longa para

    imobilizao de coluna; talas para imobilizao de membros e conjunto de colarescervicais; colete imobilizador dorsal; frascos de soro fisiolgico e ringer lactato;bandagens triangulares; cobertores; coletes refletivos para a tripulao; lanterna de mo;culos, mscaras e aventais de proteo; material mnimo para salvamento terrestre,aqutico e em alturas; maleta de ferramentas e extintor de p qumico seco de 0,8 Kg;fitas e cones sinalizadores para isolamento de reas. Maletas com medicaes a seremdefinidas em protocolos, pelos servios.

    2- O Suporte Avanado de Vida SAV

    As ambulncias de Suporte Avanado, com equipes intervencionistas compostaspor condutor, mdicos e enfermeiros e com equipamentos para procedimentos maiscomplexos e invasivos de manuteno da vida, permitem que seja realizado no local dochamado, o diagnstico inicial, a reanimao e a estabilizao do paciente, permitindoque o transporte seja feito diretamente para a unidade hospitalar de tratamento definitivo.

    Segundo parmetro populacional do MS as ambulncias de Suporte Avanado(UTI) sero 01 para cada 400.000 hab. A este critrio devem ser agregados os resultadosobtidos no diagnstico situacional, j descrito, para um melhor dimensionamento.

    A localizao das viaturas SAV deve ser descentralizada no territrio abrangidopelo SAMU de forma que seu deslocamento at o local do chamado, no ultrapasse otempo mximo de 12 minutos.

    De acordo com experincias de outros servios de APH, no mundo, em apenas

    10% dos pedidos de socorro urgentes que chegam na central de Regulao do SAMU, necessrio o envio da Viatura de Suporte Avanado.

    Os SAMU, de acordo com suas especificidades e necessidades, devem elaborarProtocolos de Despacho, contemplando o envio da Viatura de Suporte Avanado emsituaes padro, tais como:

    - Apoio a viatura de Suporte Bsico de Vida- Acidentes envolvendo mais de duas vtimas- Dor torcica- Quase afogamento- Desabamentos e soterramentos- Ferimentos por arma branca e de fogo

    As aes e os procedimentos invasivos realizados pela equipe de suporteavanado do SAMU so considerados Atos Mdicos, cabendo unicamente a esseprofissional estipular os limites do atendimento.

    Protocolos Tcnicos de Interveno podem orientar a equipe.

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    Ambulncia de Suporte Avanado de Vida (SAV)

    o veculo destinado ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco ememergncias pr-hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar que necessitem decuidados mdicos intensivos. Deve contar com os equipamentos mdicos necessriospara esta funo.

    Sinalizador ptico e acstico; equipamento de rdio-comunicao fixa e mvel;maca com rodas e articulada; dois suportes de soro; cadeira de rodas dobrvel;instalao de rede porttil de oxignio como descrito no item anterior ( obrigatrio que aquantidade de oxignio permita ventilao mecnica por no mnimo duas horas);respirador mecnico de transporte; oxmetro no-invasivo porttil; monitor cardioversorcom bateria e instalao eltrica disponvel (em caso de frota dever haverdisponibilidade de um monitor cardioversor com marca-passo externo no-invasivo);bomba de infuso com bateria e equipo; maleta de vias areas contendo: mscaraslarngeas e cnulas endotraqueais de vrios tamanhos; cateteres de aspirao;adaptadores para cnulas; cateteres nasais; seringa de 20ml; ressuscitador manualadulto/infantil com reservatrio; sondas para aspirao traqueal de vrios tamanhos;luvas de procedimentos; mscara para ressuscitador adulto/infantil; lidocana gelia e

    "spray"; cadaros para fixao de cnula; laringoscpio infantil/adulto com conjunto delminas; estetoscpio; esfigmomanmetro adulto/infantil; cnulas orofarngeasadulto/infantil; fios-guia para intubao; pina de Magyll; bisturi descartvel; cnulas paratraqueostomia; material para cricotiroidostomia; conjunto de drenagem torcica; maletade acesso venoso contendo: tala para fixao de brao; luvas estreis; recipiente dealgodo com anti-sptico; pacotes de gaze estril; esparadrapo; material para puno devrios tamanhos incluindo agulhas metlicas, plsticas e agulhas especiais para punossea; garrote; equipo de macro e microgotas; cateteres especficos para dissecovenosa tamanho adulto/infantil; tesoura, pina de Kocher; cortadores de soro; lminas debisturi; seringas de vrios tamanhos; torneiras de 3 vias; equipo de infuso de 3 vias;frascos de soro fisiolgico, ringer lactato e soro glicosado; caixa completa de pequenacirurgia; maleta de parto como descrito nos itens anteriores; sondas vesicais; coletores deurina; protetores para eviscerados ou queimados; esptulas de madeira; sondasnasogstricas; eletrodos descartveis; equipo para drogas fotossensveis; equipo parabombas de infuso; circuito de respirador estril de reserva; equipamentos de proteo aequipe de atendimento: culos, mscaras e aventais; cobertor ou filme metlico paraconservao do calor do corpo; campo cirrgico fenestrado; almotolias com anti-sptico;conjunto de colares cervicais; prancha longa para imobilizao da coluna. Nos casos defrota, em que existe demanda para transporte de paciente neonatal dever haver pelomenos uma Incubadora de transporte de recm-nascido com bateria e ligao a tomadado veculo (12 volts). A incubadora deve estar apoiada sobre carros com rodasdevidamente fixadas quando dentro da ambulncia; respirador e equipamentosadequados para recm natos.

    Os equipamentos que as viaturas transportam, devem obedecer a algunscritrios bsicos:

    Permitir Suporte Vital Devem ser leves e portteis, permitindo uso contnuo em situaes adversas. Auto-suficientes, ou seja devem ter bateria suficientes para at duas vezes o tempo

    estimado de transporte. De fcil montagem e manuseio Resistentes No devem interferir com instrumentos de navegao se for o caso. De fcil limpeza e manuteno.

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    Retaguarda Hospitalar

    Todo sistema de APH dever contar com uma rede hospitalar de referncia conveniada,obedecendo a critrios de hierarquizao e regionalizao, ou seja, os hospitais sero

    divididos pelo grau de resolutividade em tercirios, secundrios e primrios e de acordocom sua localizao geogrfica.

    Dessa forma o critrio adotado o seguinte:

    levar o paciente certo, na hora certa para o hospital certo

    Treinamento e Reciclagem Treinamento especifico na rea deve preceder a qualquer atividade desenvolvidapelos profissionais, nos diferentes nveis, no APH SAMU. Considerar que por maior as experincias que o profissional tenha, as situaesvivenciadas no servio so de alto risco, estressantes e adversas, exigindo por parte dequem trabalha adaptao anterior, conseguida atravs de capacitao. Planos de reciclagem devem ser pr - estabelecidos e seguidos rigorosamente,contribuindo para o constante aperfeioamento do profissional. Superviso e Controle de Qualidade Meios adequados de superviso devem ser encontrados e adotados, de acordo comas caractersticas de cada servio. O controle de qualidade deve ser estabelecido, porexemplo, a partir da discusso e reviso dos casos, leitura das fichas de atendimento eseguimento do paciente j a nvel hospitalar.

    Qualidades desejveis para os profissionais do SAMU:

    Amabilidade - inspirar confiana e transmitir calma e segurana para o paciente queest atendendo Cooperao - sempre buscar a melhor harmonizao com os integrantes daequipe, buscando o melhor atendimento para o paciente. Improvisao - ser capaz de improvisar utilizando meios que estejam a mo,buscando solucionar situaes inesperadas, que possam ocorrer. Iniciativa - ser capaz de iniciar o atendimento, dentro dos seus limites, sem queprecise que outro o faa por ele. Liderana - ser capaz de tomar conta do caso " sempre que isto for de suaresponsabilidade e isto inclui controlar a cena da ocorrncia. Discrio -respeitar as informaes de cunho pessoal ou de foro Intimo que lheforam confiadas pelo paciente. Lembrar que fora das circunstncias que o levaram aprestar a assistncia, seria pouco provvel que ela lhe confiasse estas informaes. Controle de Hbitos Pessoais e de Vocabulrio, Boa Apresentao Pessoal.

    IV - FASES DO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR MVEL - SAMU

    1- O Chamado

    Atravs do nmero nacional para urgncias mdicas 192 , exclusivo e gratuito,o servio deve ser acionado. Neste momento considera-se que o atendimento jcomeou e o tempo resposta comea a ser contado. As informaes obtidas pelotelefonista so fundamentais para a prxima etapa.

    O telefonista deve acalmar o solicitante e perguntar, por exemplo: O Local do acidente (bairro, rua, referncias). A Identificao do solicitante (nome, idade, telefone). A Natureza da ocorrncia (o que est acontecendo). O nmero de vtimas (nmero e condies aparentes). Se h riscos potenciais (fogo, trnsito local, cabo de energia).

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    Considerar ainda:

    Condies climticas no momento. Rotas e fluxo para o local da ocorrncia. Hora e dia da semana. Outras informaes a critrio do servio.

    Para que o SAMU possa funcionar de forma apropriada importante que vocsaiba utilizar o servio. Ele deve ser acionado somente quando existe uma situao deurgncia. Evite sobrecarregar o sistema com outros problemas que no secaracterizam como tal. Oriente as pessoas, em especial as crianas, para que nofaam trotes com este servio. O tempo e os recursos gastos com isto podem fazer comque atrase o atendimento a um paciente em situao de ameaa imediata vida.

    Se voc identifica uma situao de urgncia, disque 192. Este nmero gratuito, no exigindo o uso de cartes telefnicos.

    Identifique-se e diga qual o problema que est ocorrendo com o paciente.

    Responda as perguntas efetuadas pela telefonista (TARM) de forma clara ecorreta. Fornea endereo completo, indicando pontos de referncia decomo chegar mais rapidamente. Isto reduz os riscos da ambulncia gastartempo procurando o local.

    Quando estiver conversando com o mdico procure informar para o mesmoqual o problema, quem a vitima, sua idade (mesmo que aproximada) e osexo. Faa observaes tambm sobre doenas prvias, medicaes e a

    evoluo das queixas. Verifique ainda se a pessoa est acordada oudesacordada, alm de transmitir outras informaes. Elas permitiro que omdico regulador tome as melhores decises e mande o melhor recursopara cada tipo de atendimento.

    Em caso de trauma, identifique quantas vtimas tm no local, se existealguma presa nas ferragens, o estado de conscincia das mesmas e como eo que de fato ocorreu. Siga os conselhos orientados pelo mdico reguladorenquanto aguarda a chegada do socorro.

    Solicite uma outra pessoa para esperar e sinalizar para a ambulnciaquando a mesma estiver chegando ao local.

    Qualquer nova informao ligue novamente para 192 e relate as mudanasocorridas.

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    2 - Regulao Mdica: O que faz?

    - Atende aos chamados telefnicos 24 horas sem interrupo, feitos atravs donmero 192;

    - Tem presente sempre um mdico regulador;

    - Ouve a solicitao, analisa e d a melhor resposta possvel;

    - Garante o acesso do paciente a unidade de sade (Pronto Atendimento,Pronto Socorro, Hospital Geral ou Especializado) conforme for suanecessidade;

    - Garante suporte bsico de vida (SBV), acompanhado de auxiliar deenfermagem, ou suporte avanado de vida (SAV) com mdico e enfermeiro,de acordo com o quadro clnico do paciente;

    - Acompanha e monitoriza o atendimento at a recepo no servio de sadepara o qual foi encaminhado;

    - Acompanha a situao das unidades de urgncia, se esto com muitos casospara atender, se as equipes mdicas esto completas, se existe leitos vagos,a situao das UTI, dos equipamentos para dia diagnostico entre outras

    necessidades.As funes:

    Tranqilizar quem solicitar ajuda de socorro.

    Escolher para cada caso a melhor soluo.

    Evitar: aes desnecessrias.Hospitalizao inteis. Trotes.Melhorar as condies dos pacientes que correm riscos.Orientar cuidados at que chegue a ambulncia.Informar a equipe que vai fazer o atendimento tudo que conhecer dasituao. Entrar em contato com o servio que vai receber o paciente.Informar ao medico do servio sobre as condies do paciente e o que foifeito no atendimento pr-hospitalar.

    Mdico Regulador

    Dialoga, conversa, obtm as melhores informaes possveis de quem fez aligao pedindo ajuda.Decide qual a melhor providncia a sertomada. Coordena todo o atendimento.

    Solicita apoio do corpo de bombeiros para os casos que necessitem deresgate. Solicitar apoio/auxilio da Policia Militar/ Policia Civil emintercorrncias em que necessrio isolar a rea de ocorrncia para evitar nova vitimas e proteger, a equipee/ou paciente.

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    3 - O envio do recurso

    A partir das informaes dadas pelo solicitante ocorre o despacho dorecurso mais adequado para o atendimento. Protocolos previamente estabelecidospodem ajudar na deciso do Mdico Regulador.

    Enviar sempre o recurso mais prximo do local do chamado para

    diminuir o tempo resposta. Durante o trajeto, para o qual se deve estabelecer amelhor e a mais conhecida rota, dar ateno as informaes que chegam via rdio.Elas com certeza ajudaro na avaliao prvia da gravidade do chamado.

    4 - A avaliao da cena

    Na chegada ao local do acidente considerar que o atendimento asvtimas envolve uma srie de aes complexas onde esto envolvidos diversosfatores agravantes tais como: tipo de acidente, local e o nmero de vtimas. Cadaacidente diferente um do outro, no entanto alguns princpios devem serestabelecidos e seguidos em todos os casos, visando principalmente garantir asegurana da equipe e da vtima. Existem 3 perguntas (passos) que devem ser

    respondidas por quem chega primeiro no local e que ajudam na avaliao da cena edos riscos potenciais.

    *Qual a situao?*At onde posso ir? (riscos potenciais)

    * O que farei e como farei para controlar a situao? (aes e recursos)

    Outros Passos

    - O Atendimento (reanimao e estabilizao do paciente). - O transporte adequado ao servio de sade mais indicado a resoluo do

    problema do paciente.- O trmino do caso e preparao para novo chamado.

    Alm do atendimento emergencial em casos de incidentes com vtimas, o SAMUatua de diversas formas para melhorar a qualidade do atendimento de urgncia apopulao. Conhea abaixo o procedimento de atendimento a uma chamada.

    Atendente recebe a ligao e pega informaes bsicas comonome de quem ligou e sua relao com a vtima, nome davtima, endereo da ocorrncia, bairro, ponto de referncia etelefone. de grande importncia a correta transmissodessas informaes iniciais

    Mdico regulador solicita informaes sobre o paciente. J nesse momento podem ser sugeridos procedimentosemergenciais. De acordo com os resultados, unidades mveissero acionadas.

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    Atendimento telemdico: no havendo necessidade do enviode uma unidade, o chamado registrado na base de dados doSAMU (ao 5).

    Atendimento mvel: sendo necessrio, uma unidade mvel imediatamente enviada para o local. Pode ser enviado umveculo simples, para remoo ou tratamento de casos simples,ou uma unidade SAMU completa com toda a aparelhagem paraatendimento a emergncias no local. Ambos so deslocadoscom uma equipe de mdico, enfermeiro e motorista.

    No local: em alguns casos o atendimento realizado no local e,de acordo com o diagnstico do mdico, o paciente

    imediatamente liberado.

    No hospital: no sendo possvel o atendimento no local, opaciente levado para o pronto-socorro mais prximo, ondetodas as informaes da ocorrncia so passadas para aequipe responsvel.

    Concludo o atendimento, todas as informaes da

    ocorrncia so registradas. Elas sero utilizadas para posterioresanlises estatsticas de atendimento.

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    VECULOS E EQUIPAMENTOSUSADOS NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR

    EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR

    Introduo

    No atendimento a uma situao de emergncia essencial que a viatura destinadaa atender estes tipos de ocorrncia, esteja equipada com todo o equipamento ematerial indispensvel a oferecer assistncia pr-hospitalar a vtimatraumatizada. Alm disso, a guarnio escalada na viatura deve estarperfeitamente treinada, com conhecimento profundo quanto a identificao rpidados equipamentos e materiais, bem como, das tcnicas de utilizao dos mesmos,tornando assim o atendimento gil e eficiente.

    1. Unidades Mveis

    O SAMU trabalha na lgica de um sistema organizado regionalmente e dentrodo Estado, onde dispe de unidades prprias e atua em conjunto com outrasinstituies para o atendimento s urgncias. Assim sendo descreve-se abaixo adefinio das vrias ambulncias e outras unidades mveis componentes destesistema conforme Portaria Ministerial 2048.Define-se ambulncia como um veculo (terrestre, areo ou aquavirio) que sedestine exclusivamente ao transporte de enfermos.As dimenses e outras especificaes do veculo terrestre devero obedecer s

    normas da ABNT NBR 14561/2000, de julho de 2000. As Ambulncias soclassificadas em:

    TIPO A Ambulncia de Transpo rte: veculo destinado ao transporte emdecbito horizontal de pacientes que no apresentam risco de vida, para remoessimples e de carter eletivo.

    TIPO B Ambu lncia de Supo rte Bsico:veculo destinado ao transporte inter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pr-hospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, no classificado compotencial de necessitar de interveno mdica no local e/ou durante transporte ato servio de destino.

    TIPO C - Ambulncia de Resgate: veculo de atendimento de urgncias pr-

    hospitalares de pacientes vtimas de acidentes ou pacientes em locais de difcilacesso, com equipamentos de salvamento (terrestre, aqutico e em alturas).

    TIPO D Ambulnc ia de Suporte Avanado: veculo destinado ao atendimentoe transporte de pacientes de alto risco em emergncias pr-hospitalares e/ou detransporte inter-hospitalar que necessitam de cuidados mdicos intensivos. Devecontar com os equipamentos mdicos necessrios para esta funo.

    TIPO E Aero nave de Transporte Mdico: aeronave de asa fixa ou rotativautilizada para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa rotativapara aes de resgate, dota- da de equipamentos mdicos homologados peloDepartamento de Aviao Civil - DAC.

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    TIPO F Embarcao de Transporte Mdico: veculo motorizado aquavirio,destinado ao transporte por via martima ou fluvial. Deve possuir os equipamentosmdicos necessrios ao atendimento de pacientes conforme sua gravidade.

    VECULOS DE INTERVENO RPIDAEste veculos, tambm chamados de veculos leves, veculos rpidos ou veculos

    de ligao mdica so utilizados para transporte de mdicos com equipamentosque possibilitam oferecer suporte avanado de vida nas ambulncias do Tipo A, B,C e F.

    OUTROS VECULOS:Veculos habituais adaptados para transporte de pacientes de baixo risco,sentados (ex. pacientes crnicos) que no se caracterizem como veculos tipolotao (nibus, peruas, etc.). Este transporte s pode ser realizado com anunciamdica.

    2. Classificao dos Equipamentos e Materiais

    Para fins didticos, estaremos classificando os equipamentos e materiais daseguinte forma:

    Equipamentos de comunicao mvel e porttil;

    Equipamentos para segurana no local o acidente; Equipamentos de reanimao e administrao de oxignio; Equipamentos de imobilizao e fixao de curativos; Materiais utilizados em curativos; Materiais de uso obsttrico; Equipamentos para verificao de sinais vitais; Macas e acessrios; Equipamentos de uso exclusivo do mdico.

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    3. Definio dos Equipamentos e Materiais

    3.1. Equipamentos de Comunicao Mvel e Porttil:

    Equipamentos de comunicao mvel, rdios VHF/FM: so os mais utilizados noCorpo de Bombeiros, so capazes de identificar chamadas possuindo no mnimo 16canais a 64 canais. Possuem scan com prioridade dupla e grande visor alfanumricode 14 caracteres.

    Equipamentos de comunicao porttil - rdios VHF/FM: O rdio Porttilpossui vrias opes e caractersticas que destacam seu desempenho sendo utiliza-dos no Corpo de Bombeiros modelos que possuem desde 16 canais a 64 canais,sem visor ou com visor alfanumrico de 8 caracteres, vrias faixas de freqnciaPL/DPL, VOX integrada e mltiplas opes de baterias.

    Fig 5.2 Rdio porttil

    3.2. Equipamentos para Segurana no Local do Acidente

    Equipamento de proteo individual este conjunto de equipamentos destinam- sea proteo do socorrista e da vtima, objetivando evitar a transmisso dedoenas, seja pelo contato com a pele ou atravs da contaminao das mucosas;materiais de uso obrigatrio no atendimento no interior das viaturas do Corpo deBombeiros: luvas descartveis, mscara de proteo facial, culos de proteo,aventais e capacetes (em locais de risco iminente de acidentes)

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    Equipamento de segurana no local este conjunto de equipamentos destinam-se agarantir a segurana das guarnies no local do acidente, bem como, das vtimasenvolvidas e da populao em geral; destacam-se entre esses materiais os cones desinalizao, lanternas, fitas para isolamento e extintores de incndios.

    Fig 5.4 Equip. Segurana

    3.3. Equipamentos de Reanimao e Administrao de Oxignio

    Cnula orofarngea ou Cnula de Guedel equipamento destinado a garantir apermeabilidade das vias reas em vtimas inconscientes devido a queda da lngua

    contra as estruturas do palato, promovendo a passagem de ar atravs da orofaringe.Possui vrios tamanhos

    Reanimador ventilatrio manual ou Ambu equipamento destinado a estabelecerventilao artificial manual. Composto de bolsa, valva ou vlvula e mscara,

    garantindo assim eficiente insuflao de ar e maior concentrao de oxignio para avtima. Equipamento disponvel nos tamanhos adulto e infantil.

    Fig 5.6 Ambu Fig 5.7 Oxignio porttil

    Equipamento de administrao de oxignio porttil unidade porttil destinada adar suporte de oxignio a vtima acidentada no local da ocorrncia inicial, comcapacidade de 300 litros e fluxmetro a fim de dosar a administrao de pelo menos12 litros de oxignio por minuto. Toda a ambulncia possui uma segunda unidadefixa com capacidade de armazenamento maior, possibilitando a continuao daadministrao de oxignio durante o deslocamento at o pronto socorro.

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    Equipamento para aspirao destinado a aspirao de secrees da cavidadeoral, as quais obstruem a passagem de oxignio sendo indispensvel uma unidadepottil e uma unidade fixa na ambulncia.

    Fig 5.8 Aspirador

    3.4. Equipamentos de Imobilizao e Fixao de Curativos

    Tala articulada de madeira e tala de papelo so equipamentos indispensveisna imobilizao de fraturas e luxaes.

    Bandagens triangulares e ataduras de crepom destinam-se a fixao de talas ecurativos.

    Cintos de fixao cintos flexveis e resistentes que destinam-se a prender a vtimajunto a tbua de imobilizao.

    Fig 5.9 Talas e bandagens e cintos de fixao

    Trao de fmur equipamento destinado a imobilizao de membros inferiores,com fraturas fechadas. Confeccionado em alumnio ou ao inox, possuindoregulagem de comprimento com fixao atravs de tirantes e sistema de catraca.

    Fig 5.10 Trao de fmur

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    Colete de imobilizao dorsal (ked)- equipamento destinado a retirada de vtimas dointerior de veculos que estiverem sentadas, objetivando a imobilizao da coluna cervical,torcica e lombar superior. Sua fixao d-se atravs de tirantes flexveis fixos e mveis.

    Fig 5.11 Colete de imobilizao dorsal (ked)

    Colar cervical equipamento destinado a imobilizao da coluna cervical quanto amovimentos axiais, confeccionado em polietileno, dobrvel e de vrios tamanhos emodelos.

    Fig 5.12 Colar cervical

    Tabua de imobilizao equipamento destinado a imobilizao da vtima deitada, devrios modelos e tamanhos, possuindo aberturas para fixao de cintos e imobilizadoresde cabea.

    Imobilizadores de cabea equipamento destinado a imobilizao total da cabea davtima acidentada. Confeccionado em espuma revestida de um material impermevel elavvel.

    Fig 5.13 Tabua de imobilizao com cintos eimobilizador lateral de cabea

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    3.5. Materiais Utilizados em Curativos

    Gaze, ataduras de crepom, bandagem, fita adesiva material indispensvel na limpezasuperficial de ferimentos e conteno de hemorragias em vtimas.

    3.6. Materiais de Uso Obsttrico

    Material de assistncia ao parto material esterilizado, normalmente colocado empacotes hermeticamente fechados, contendo campos duplos e simples, clamps paralaqueadura umbilical, lenis e tesoura.

    3.7. Equipamentos para Verificao de Sinais Vitais

    Esfigmomanmetro equipamento destinado a aferio da presso arterial.

    Estetoscpio - aparelho destinado a ausculta cardaca e pulmonar.

    Oxmetro de pulso porttil - aparelho eletrnico destinado a medio da saturaoperifrica de oxignio.

    Desfibriladores automticos externos (DEA) equipamento destinado a verificao dearritmias ventriculares (taquicardia e fibrilao), que se confirmadas atravs da obedincia aoscomandos emana- dos, resultar na aplicao de choques buscando a reverso do quadroapresentado.

    OBS: a Classificao do DEA, neste grupo deve-se ao mesmo atuar tambm comomonitor cardaco, identificando o padro de atividade eltrica do corao, um material deuso de pessoal treinado, mas no necessariamente de profissional de sade, o que odiferencia do cardioversor.

    Fig 5.18 DEA

    Fig 5.17 Oxmetro de pulso

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    Fig 5.19 Maca retrtil

    3.8. Macas e Acessrios

    Maca equipamento destinado ao transporte de vtima, sendo confeccionado em alumnio,com mecanismo de travamento, possibilitando que a maca aumente ou diminua a altura.

    Cobertor e manta aluminizada material destinado ao conforto trmico da vtima.

    Fig 5.20 Cobertor e manta trmica

    3.9. Equipamentos de Uso Exclusivo do Mdico

    Pode estar disponvel no prprio veculo de emergncia ou em uma maleta mdica que transportado pelo mdico quando se dirige a cena. Inclui:

    Laringoscpio - material de uso exclusivo do mdico, destinado a visualizao da laringe afim de realizar o procedimento de colocao de cnulas de entubao endotraqueal.

    Fig 5.21 Laringoscpio

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    Cnulas de entubao endotraqueal equipamento que garante a ventilao manual oumecnica, garantindo a permeabilidade das vias areas devido ao um balonete que sela atraquia.

    Fig 5.22 Cnulas de entubao

    Monitor cardaco equipamento destinado ao monitoramento das atividades cardacas davtima, objetivando o acompanhamento da melhora ou no do quadro clnico do paciente.

    Fig 5.23 Monitor cardaco

    Medicamentos so drogas utilizadas no atendimento que aplicadas pelo mdico buscamestabilizar o quadro geral do paciente at a chegada ao pronto socorro

    Fig 5.23 Medicamentos

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    Cardioversor equipamento destinado ao monitoramento das atividades cardacas,conjugado com a verificao de arritmias ventriculares (taquicardia e fibrilao), que seconfirmadas resultaro na aplicao de choque, a fim de restabelecer os batimentoscardacos do paciente. Este equipamento s operado pelo mdico de servio.

    Fig 5.24 Cardio

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    TRANSPORTE INTER HOSPITALAR

    I - AS TRANSFERNCIAS INTER-HOSPITALARES

    1. MISSO

    Existem Centrais Reguladoras de urgncia, que ocupam-se especificamente daregulao das transferncias de pacientes entre servios de sade de diferentescomplexidades. Geralmente estes pacientes recebem um primeiro atendimento em umservio de sade onde no existe retaguarda diagnstica e/ou teraputica para darcontinuidade ao caso, geralmente em municpios menores, necessitando seremtransferidos para hospitais de maior complexidade.

    2. PRINCPIOS OPERATIVOS

    Uma central reguladora de Urgncia, que atua na regulao das transfernciasinter- hospitalares, recebe um variado leque de solicitaes que nem sempre sero

    casos de urgncia passveis de regulao. Logo, precisamos diferenciar inicialmente umchamado ou solicitao endereada a central de um atendimento (caso efetivamenteregulado pelo mdico).

    2.1.Contatos sempre de mdico para mdico

    Nas solicitaes de transferncias inter-hospitalares, a comunicao deve ser feitade mdico para mdico. O mdico solicitante deve informar o seu nome, servio enmero do CRM. O mdico regulador, com base nos dados acima obtidos, ir estimar agravidade e se h mesmo necessidade e condies para efetuao da transferncia,antes do contato com o servio receptor.

    O mdico regulador deve avaliar o motivo da solicitao e a sua pertinncia, ou

    seja: se existe caracterizada uma necessidade de cuidado teraputico ou diagnstico deurgncia ou emergncia sem o qual o paciente corre risco de vida ou de danos orgnicosou funcionais imediatos e irreparveis, levando em considerao a necessidade e ascondies do paciente e a infra-estrutura do servio de origem.

    Sendo a solicitao considerada pertinente, ele deve procurar o recurso maisadequado para o caso e o mais prximo possvel do solicitante. Caso no hajapertinncia, o mdico regulador orienta o solicitante a como conduzir tecnicamente o casoou como utilizar os recursos locais. Quando existirem dvidas, podemos consultarprofissionais especializados nos servios.

    2.2. Solicitaes sempre documentadas por fax e Registro contnuo das gravaestelefnicas

    Alm da ficha de regulao preenchida pelo mdico regulador, deve ser anexadofax do servio solicitante de forma a ter comprovado o que foi passado.

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    3.TCNICAS DE REGULAO DAS TRANSFERNCIAS INTER-HOSPITALARES

    Primeira etapa: Recepo do chamado Identificao e localizao do chamado:O auxiliar de regulao faz a recepo inicial, realizando a identificao da chamada,queconsiste em registrar:

    - A Unidade Solicitante

    - Nome e CRM do mdico solicitante- Nome, idade e origem do pacienteDeve ainda diferenciar uma solicitao de informao. A seguir, o auxiliar de regulaodeve passar o telefone para o mdico regulador.

    Segunda etapa: Abordagem Do Caso A abordagem dos casos endereados as centrais de regulao das transferncias

    inter-hospitalares consiste em reunir a maior quantidade de dados possveis sobre ocaso, que podemos relacionar da seguinte forma.

    Dados clnicos do paciente:- QP (Queixa principal)- Sinais e Sintomas Associados

    - Sinais de Gravidade- Antecedentes e fatores de risco- Exame fsico e sinais vitais

    Conduta inicial: medicamentos e procedimentos Exames realizados Evoluo: alteraes verificadas aps a conduta inicial Recurso solicitado para o caso Justificativa para a solicitao

    E de posse destas informaes pode ser definida a pertinncia do caso, ou seja, se necessria a transferncia ou no. Alm de todos estes dados, temos de ter em mentequem so nossos clientes e porque nos procuram, ou seja, quais os principais motivosdas solicitaes de transferncia de um paciente:

    a) Gravidade do quadro clnico e disponibilidade de apoio d iagnstico e teraputicono hospital

    Existem casos clssicos, onde invariavelmente existe consenso quanto agravidade do caso e portanto quanto a necessidade de remoo para um hospital demaior Complexidade. Em situaes de doenas menos graves, a gravidade pode serinfluenciada por uma srie de fatores alm da doena em si e das condies do paciente,como: os recursos de apoio existentes no local, o nmero de profissionais e acapacitao tcnica do mdico assistente. Alguns casos podem ser considerados deextrema gravidade num hospital e constituir-se num episdio corriqueiro em outro. Este

    tipo de entendimento e o conhecimento da realidade dos hospitais da mesma regiogeogrfica deve ser do domnio dos mdicos, especialmente daqueles plantonistas querecebem pacientes dos hospitais menores, como forma de reduzir conflitos.

    b) Incapacidade tcnica do mdico e/ ou Desejo do mdico:

    Existem situaes nas quais o hospital oferece os meios essenciais paradiagnstico e para tratamento, mas o mdico plantonista incapaz de adotar osprocedimentos recomendados ou no sabe como proceder e, por isso, trata deprovidenciar, o quanto antes, a transferncia do paciente.

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    Entretanto existem situaes onde o hospital e os mdicos possuem condies materiaise tcnicas para prestar um adequado atendimento, mas que se trata de um quadro clnicoou cirrgico que exigir muita observao e acompanhamento ou novas condutas porparte do mdico assistente, e principalmente, so pacientes do SUS. Nestes casos, parano ter pacientes complicados ou que possam vir a agravar o quadro clnico, bem comopara no ter atividades extras desnecessrias, possvel que o mdico o encaminhe aoutro hospital, geralmente de maior complexidade, embora o caso clnico no requeira a

    transferncia. a tpica situao do "mandar para a frente para no me incomodar" e quecertamente tende a apresentar considervel aumento dos finais de semana e feriadosprolongados.

    c) Solicitao dos prprios pacientes e/ou familiares:

    Em muitas situaes de urgncia/emergncia, em que pese existir recursosmateriais suficientes no hospital e um atendimento mdico adequado, os pacientesdesejam ser transferidos pelas mais variadas razes.

    Atribuies dos solicitantes:

    So atribuies do Mdico Assistente:

    a) fazer a indicao da necessidade de transferncia;b) avaliar qual a composio da equipe mdica necessria para efetuar a remoo, deconformidade com o estado de sade do paciente;c) acompanhar o paciente nos casos em que a presena do mdico obrigatria oudesignar mdico substituto, de acordo com as normas da instituio, utilizando o apoio daDireo Tcnica/Clnica, se necessrio;d) elaborar relatrio de transferncia registrando "a hiptese diagnstica", osprocedimentos efetuados, exames e medicaes realizadas e os motivos datransferncia; (no deve ser esquecido de assinar e de colocar o carimbo de identificaopessoal.

    Terceira etapa: Orientao Tcnica

    Conselho Mdico ou orientao tcnica a um colega mdico sobre a conduta a sertomada para melhor estabilizao do paciente antes da transferncia ou mesmo paraevitar a transferncia.

    Quarta Etapa: Deciso Tcnica

    O mdico regulador deve avaliar a necessidade de interveno, decidir sobre o recursodisponvel mais adequado a cada caso, levando em considerao: gravidade,necessidade de tratamento cirrgico, os meios disponveis, relao custo benefcio,avaliao tempo-distncia. Em resumo, ele decide qual o recurso e o nvel decomplexidade que o caso exige.

    Quinta Etapa: Avaliao dos Recursos e Deciso Gestora: Aspectos tcnicosticos e regulamentares

    Uma vez constatada a necessidade de transferncia, o prximo passo a procura e/ouescolha do hospital referenciado para o qual o paciente ser encaminhado, o que nemsempre se constitui em tarefa simples e rpida quando no existem muitas opes, comono caso de necessidade de UTI tanto adulto quanto neonatal. Diante do estabelecimentoda necessidade de transferncia, a Central procura o recurso necessrio dentro de suagrade. Em caso de dificuldade de recurso disponvel, esgotadas as possibilidades de suarea, ir procurando recursos sucessivamente nas demais centrais.

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    Aspectos ticos: Cdigo de tica Mdica (CEM)o :

    Art. 2 O alvo de toda ateno do mdico a sade do ser humano, em benefcio da qualdever agir com o mximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional" Art. 57 :que veda ao mdico: "Deixar de utilizar todos os meios disponveis de diagnsticoe tratamento a seu alcance em favor do paciente."

    Art. 47 : Discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto."

    CEM Art. 48 sobre solicitao de transferncias por familiaresveda ao mdico: "Exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente dedecidir livremente sobre a sua pessoa ou seu bem-estar".

    Art. 56: veda ao mdico: "Desrespeitar o direito do paciente de decid ir livrementesobre a execuo de prticas diagnst icas ou teraputicas, salvo em caso de

    iminente perigo de vida." Manual de Orientao tica e Disciplinar refere, a pgina 58 que: "Se um pacientenecessita, deve ou quer ser transferido para outra cidade em situao deurgncia/emergncia o mdico dever faz-lo no "bom momento" clnico, ou seja, quandoo paciente no est em risco iminente de morte e apresenta estveis seus sinais vitais,mesmo em nveis no ideais." Em concluso, o ideal que o mdico atenda ao desejo dopaciente ou de seu representante legal e adote os procedimentos tcnicos e a condutatica compatveis ao caso em questo, nas condies acima referenciadas.

    Procedimentos necessrios:

    Definir de acordo com a necessidade de cada caso, complexidade edisponibilidade do servio de destino, considerando a grade de regionalizao ehierarquizao do Sistema;

    Comunicar a equipe no local da ocorrncia o destino do paciente Acionar servio receptor

    Comunicar o envio do paciente, providenciando seu acesso no servio de destino; Acionamento de mltiplos recursos ou combinao para otimizar recursosdispersos

    Adaptao dos meios Comunicar ao solicitante Confirmar o recebimento com o solicitante e/ou com a equipe de transporte para

    que possa ser providenciada a melhor recepo possvel para o paciente Pactuar com o hospital os casos de recebimento nica e exclusivamente para

    realizao de exames com segundo transporte posterior;

    Dificuldades enfrentadas:

    . Mdico do servio referenciado alega Inexistncia de leito vago (enfermaria ouUTI) . O que o que fazer? encaminhar o paciente mesmo sem garantia de vaga ouat mesmo com negativa de vaga, ou mant-lo no hospital de origem com risco devida para o paciente e, talvez, servir de fonte de denncia contra o prprio mdico?

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    Nestes momentos, o bom senso e a prudncia devem prevalecer. Cada caso um caso ecada momento diferente do outro. Talvez por isso, pela complexidade da questo,nenhuma norma responde claramente e com segurana esta questo.

    Alguma regulamentao a ser considerada:o

    A Resoluo CFM No

    1.529/98 e a Portaria MS N 824/99 abordam, de maneiradetalhada, os vrios aspectos envolvidos no Transporte Inter-Hospitalar, que vo desde

    os contatos prvios at a obrigatoriedade de atendimento pelo hospital de destino,passando pelo esclarecimento das responsabilidades mdicas e pelo adequadomonitoramento do paciente a ser removido e a necessidade de acompanhamento pelomdico assistente.

    Mdico que atendeu o paciente indica transferncia mediante transporte inter-hospitalar. De quem a responsabilidade em acompanhar o paciente durantesua remoo?

    o

    a Resoluo CREMESC No

    027/97: Art. 3 - "Na remoo de pacientes com risco de vidaiminente, avaliado pelo seu mdico assistente, este dever acompanhar o mesmo na

    ambulncia ou designar outro mdico para tal, at o atendimento por outro mdico nolocal de destino."Fica claro, portanto, que nas condies acima, o mdico dever estar sempre presentena ambulncia e que a avaliao do risco de vida do paciente ser do prprio mdicoassistente. Se houver possibilidade, poder ser designado outro mdico para tal, semprede comum acordo entre ambos.

    Mas e se o Mdico est sozinho no Hospital?

    A grande maioria dos mdicos tm o entendimento de que no poderiam abandonar seuplanto e, portanto, no deveriam acompanhar o paciente. No entanto, este no oprocedimento correto, tendo em vista o Parecer aprovado pelo Plenrio do CREMESC

    osobre a Consulta N 407/97 j anteriormente mencionada e cujo consulente, em seuencaminhamento, entendia que as remoes so freqentes e que no seria possvelacompanhar os pacientes porque deixaria "a descoberto" o hospital. O Parecer aprovadopelo Corpo de Conselheiros taxativo e afirma o seguinte:"... no podemos concordar com as alegaes apresentadas. Os colegas reunidosconsideram o assunto polmico; quanto a isso at podemos concordar, mas no restaqualquer dvida de que a responsabilidade sobre as eventuais ocorrncias que surjamcom o paciente, aps ser prestado um primeiro atendimento, enquanto no chegar a seudestino e at ser recebido por outro mdico, ser sempre daquele que o encaminhou.Quanto a possibilidade de chegada de outro paciente, deve ser lembrado que j existeum paciente enquanto a chegada de outro uma possibilidade. Para tal possibilidade

    bvio que poder e dever estar a disposio outro mdico substituto."

    Em caso de bito de pacientes durante o transporte entre hospitais sem odevido acompanhamento mdico, quem responde perante o CRM, o mdico,responsvel tcnico pela empresa transportadora de pacientes com risco devida indeterminado, ou o mdico assis tente e/ou substi tuto?"

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    O mdico assistente responsvel por: a) indicao da transferncia; b) avaliao dorisco de vida durante o transporte e da necessidade de mdico acompanhante; c)acompanhamento do paciente ou providncia de seu substituto; d) elaborao dorelatrio de transferncia. Portanto, o mdico assistente quem responde perante oCRM em caso de morte de paciente, decorrente de sua prpria patologia, transportadosob sua orientao, sem acompanhamento de equipe mdica, em ambulnciadevidamente regularizada."Em ltima anlise, sempre que houver risco iminente de vida para o paciente, este deversempre ser acompanhado, durante a remoo, por um mdico, seja seu mdicoassistente ou outro disponvel.Nos casos em que no exista um segundo mdico no hospital ou mesmo na cidade, oplantonista dever sempre ir junto na ambulncia, recomendando-se que seja informadoo hospital mais prximo para alertar o seu Diretor Tcnico/Clnico sobre a situao e paraeventual cobertura, se for o caso.

    oDeve ser lembrado, porm, que nos termos da Resoluo N 027/97, cabe ao mdicoassistente a avaliao sobre a existncia ou no de risco de vida iminente. Neste sentido,o Parecer a consulta N 407/97 completa: Da mesma forma, totalmente do mdico quepresta o atendimento e est encaminhando o paciente, a deciso de no acompanhar oscasos que ele considerar desnecessrio, j que a responsabilidade dele.

    A grande dificuldade , uma vez decidida a transferncia em tempo hbil e estabilizadas ascondies clnicas do paciente, est no transporte dos pacientes graves de uma cidadepara outra. a quase totalidade dos hospitais em particular aqueles de pequeno e mdioporte, no possuem ambulncia prpria para realizar de forma adequada o transporte depaciente na situao referenciada.Se considerarmos que muitas vezes alguns poucos minutos sem uma assistnciaadequada so a tnue linha divisria entre a vida e a morte, fcil imaginar, emboradifcil de quantificar, que muitos pacientes ficam expostos indevidamente a grandesriscos, talvez at mesmo com evoluo para o xito letal. Nesta encruzilhada encontra-seo mdico dos hospitais sem os recursos adequados para transferir pacientes,principalmente nas cidades de pequeno porte e com toda a presso do paciente e/ou dafamlia para que se agilize o transporte e sem que este procedimento possa ser realizado

    pela simples razo de que inexiste ambulncia disponvel.

    Sexta Etapa:Transporte e finalizao

    Consiste em orientar quanto ao transporte mais adequado e checar se as condies dopaciente correspondem ao que foi passado.

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    TICA E HUMANIZAO NO ATENDIMENTOPR-HOSPITALAR

    DA OUSADIA DE MUDAR LUTA DO FAZER

    Ateno as Urgncias no marco lgico da integralidade.

    O sonho ver as formas invis veis

    Da distncia imprecisa, e, com sensveis

    Movimentos da esperana e da vontade,

    Buscar na linha fria do horizonte

    A rvore, a praia, a f lor, a ave, a fonte --

    Os beijos merecidos da Verdade.

    (Fernando Pessoa Horizonte)

    Sade promoo de qualidade de vida. H 15 anos dizemos que construmos a sadedo povo brasileiro promovendo eqidade, universalidade e integralidade, fortalecendo ocontrole social sobre o maior plano de sade deste continente, patrimnio do povobrasileiro, que o Sistema nico de Sade. Sade, como vemos, s possvel serproduzida na inter - setorialidade dos saberes, estejam eles na cincia acadmica,estejam eles protegidos na histria oral dos grupos populacionais, habitantes das cidadese do campo.

    Uma Poltica Nacional de Ateno as Urgncias deve considerar necessariamente a

    integralidade da ateno, que se traduza, por exemplo, na concluso inequvoca de quecaladas precisam ser tratadas, para serem evitadas quedas de idosos e crianas; quenossas ruas, praas e esquinas recebam iluminao adequada, para que se evitemviolncias e atropelamentos; que pessoas portadoras de hipertenso arterial, de diabetessejam identificadas precocemente e acompanhadas rotineiramente, para serem evitadosinfartos, acidentes vasculares cerebrais e perda da acuidade visual.

    A ateno as urgncias deve desse modo fluir em todos os nveis do Sistema nico deSade, organizando-se desde as equipes de sade da famlia at os cuidados ps-hospitalares na convalescena e recuperao. A integralidade da ateno ofundamento de nossa Poltica Nacional de Ateno Integral as Urgncias, que em seuprimeiro momento se inicia com a implantao ou implementao dos Servios deAtendimento Mvel de Urgncia, os SAMUs e suas Centrais de Regulao-192, nascapitais brasileiras e cidades com mais de cem mil habitantes, em todo o territrionacional.

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    Mas, necessrio destacar que estes servios de sade do atendimento pr-hospitalardevero desempenhar papel mais amplo, por apresentarem caractersticas defuncionamento que possibilitam contribuir ativamente para com os Conselhos Tutelaresda Infncia e da Adolescncia, para com os rgos responsveis pela poltica da Sadedo Trabalhador, das Mulheres, dos Negros, dos Idosos, para com o Sistema Nacional deTransplantes ...

    Se os servios de urgncia devem por atributo histrico acolher todas as doresdecorrentes de contratos sociais no cumpridos, ocultas na sombra e no silncio dasociedade - no trnsito, no trabalho, no lazer, na famlia e nos (des) caminhos da cidade -ela se constitui em espao privilegiado para observao do desempenho do SUS,possuindo potencial concreto para ordenar a dinmica nos diferentes nveis deatendimento, e animada sob o imperativo das necessidades humanas.

    Quando em 1949, Albert Camus, prmio Nobel de Literatura, visitou o Brasil, ele

    expressou seu horror as atitudes de indiferena ao sofrimento humano, ao testemunhar acondio de abandono de uma vtima de atropelamento ... Diz-nos o notvel romancistafrancs ... De novo, uma mulher estendida, sangrando, diante de um nibus. E umamultido olha, em silncio, sem prestar-lhe socorro. (...) Durante todo esse tempo,deixaram esta infeliz em meio aos gemidos 1. Mais de cinqenta anos depois, este fatoinfelizmente ainda realidade em muitos lugares do Brasil.

    Hoje consenso no mundo todo que muito se pode fazer no atendimento as urgnciasantes da porta dos hospitais para diminuir o sofrimento, aumentar as possibilidades desobrevivncia, e reduzir seqelas fsicas e emocionais. Existem condies de oferecer

    solidariedade no momento de crise, que como toda urgncia sentida pelo cidado,seus familiares e amigos. Oferecer cuidados os mais apropriados e necessrios em todase quaisquer circunstncias. Estes cuidados, esta assistncia tero como princpio aequidade, garantida atravs dos protocolos de regulao mdica das urgncias,construindo-se uma assistncia sem preconceitos ou privilgios. Ou seja, no seroambulncias regidas pelo clientelismo poltico, e o atendimento varivel com a naturezado pedido de socorro poder se manifestar como um conselho ao demandante, assimcomo poder se manifestar no envio de uma ambulncia, tripulada por mdico ou porequipe de enfermagem, a terem seus atos teraputicos monitorados on line pelo mdicoregulador, desde o local do evento at a porta hospitalar de referncia.

    O atendimento as urgncias, no deve ser visto como espetculo cinematogrfico, mascomo um momento de cuidados, ateno, competncia tcnica, de respeito epreservao dos direitos da pessoa.

    Por essa razo os profissionais de sade atuantes nos SAMUs tero suasresponsabilidades claramente determinadas em lei e recebero atravs dos Ncleos deEducao em Urgncia a formao e qualificao necessrias a prestao de um serviode qualidade ao cidado.

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    Precisamos que nossas equipes advoguem o direito a sade da populao, precisamosque nossas equipes e ambulncias sejam respeitadas e contem com a solidariedade notrnsito de motoristas e pedestres, para que o acionar das luzes seja reconhecido comoalerta, pedido de passagem, usando o menos possvel sirenes, que aumentam a angstiado paciente transportado; angstia extensiva a todos que acompanham em suas casas,

    em seus locais de trabalho a trajetria muitas vezes difcil e ao mesmo tempo gritante de

    um pedido de passagem.

    Milton Santos, gegrafo da cidadania, do territrio do cidado, afirmava que a grandecidade um fixo enorme, cruzado por fluxos enormes (homens, produtos, mercadorias,ordens, idias...), diversos em volume, intensidade, ritmo, durao e sentido. Para MiltonSantos dentro deste conceito os fixos pblicos se instalam segundo princpios sociais, efuncionam independentemente das exigncias do lucro... As distncias porventuraexistentes so minimizadas por transporte escolares ou hospitalares gratuitos. No setrata de salrio indireto, pois tudo isso devido a todos os cidados, com ou sem

    emprego. Trata-se da busca de uma equidade social e territorial. 2

    O alerta de Milton Santos adverte-nos que no podemos transformar doentes em fluxos,mas levar at a periferia os fixos pblicos onde esto as populaes mais pobres papeldos governos federal, estadual e municipal... Na grande cidade, a forma como o territriometropolitano utilizado, pode ajudar a suprir uma grande parcela das angustias docotidiano e as razes da violncia e do medo.

    Que a instituio da Poltica Nacional de Ateno Integral as Urgncias responda asnecessidades sociais de nossa populao, que a implantao dos SAMU permita

    oferecer a melhor resposta aos pedidos de auxlio, chegados as centrais de regulaomdica; que os SAMU, inspirados nos princpios de humanizao do atendimento, sigamassim salvando vidas, reduzindo o nmero e a gravidade das seqelas fsicas eemocionais das pessoas doentes e de suas famlias.

    1 Dirio de Viagem a Amrica do Sul Albert Camus

    2 Do livro O Pas Distorcido, o Brasil, a globalizao e a cidadania Artigo: Fixos e Fluxos Cenrio para a Cidade sem Medo pginas 129 a 131- Ed. Publifolha - 2002.

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    BASES TICAS

    A abordagem da tica neste Curso foi entendida como uma necessidade deimprimir uma mudana paradigmtica nos processos ditos de educao, mas que selimitam a assumir uma postura repetitivamente repassadora de contedos que podemproduzir apenas profissionais bem treinados e tecnicamente hbeis para o exerccioda regulao mdica.

    Pretendemos que este processo de capacitao seja voltado para aproduzir uma sensibilizao nestas pessoas envolvidas como processo de cuidar emsade, para que elas tenham o entendimento do paciente como ser humano, complexo eno redutvel a dimenso biolgica e da sade como um direito e um bem pblico a sermantido ou conquistado atravs de seus esforos, considerado no apenas como umexerccio profissional, mas um exerccio de tica e de Cidadania.

    A estrutura do curso previu ento um conjunto de conhecimentos, gerais,especficos, de habilidades prticas e tericas e neste mdulo sero valorizados oshbitos, as atitudes e os valores ticos que possibilitem ao profissional uma atuaoeficiente, consciente e ativa no mbito do seu trabalho, que possa refletir na sociedade eem sua auto-realizao enquanto sujeito.

    1. CONCEITOS GERAIS DE TICA E MORAL

    Falar em tica, inicialmente nos remete a uma idia de comportamentosdos homens, que historicamente foram criando formas de se viver que sediferenciam no tempo e no espao, construindo respostas diversificadas as suasnecessidades, reformulando as respostas e inventando novas necessidades.

    Os costumes das pessoas, e os valores que atribuem as coisas a aosoutros homens, podem ser entendidos enquanto atribuies de significados namaneira como o homem se relaciona com a natureza e com os outros homens, quevariam de acordo com a necessidade, desejos, condies e circunstncias em quese vive. a cultura de cada grupo social que imprime como deve ser e o que se deve

    fazer se traduz numa srie de prescries, valores, estabelecimento de regras, relaeshierrquicas que possibilitam uma vida em sociedade que a s sociedades criam paraorientar a conduta dos indivduos. Este seria o campo de atuao da moral e da tica.Ele diz respeito a uma realidade humana que construda histrica esocialmente a partir das relaes coletivas dos seres humanos nas sociedades ondenascem e vivem.

    Quando existem conflitos na sociedade, as respostas a esses conflitos dopassam pela deciso pessoal, influenciadas pelas representaes sociais, pela inserocultural e poltica dos indivduos e so ditadas pela moral, palavra originada dolatim Mos, moris, que significa maneira de se comportar regulada pelo uso, quepode ser conceituada ento como o conjunto de normas, princpios, preceitos,costumes, valores, regras de conduta admitidas por um grupo de homens emdeterminada poca e que norteiam o comportamento dos indivduos. A moralportanto normativa. O seu campo a prtica, o modo de agir de um comportamentodo homem, que age bem ou mal, certo ou errado, na medida em que acata ou transgrideas regras do grupo, sendo que a sua conscincia que dirige suas atitudes.

    Esses comportamentos so ditados por conhecimentos morais que soadquiridos com a vivncia dos indivduos. O ser humano desde o nascimento moldadopelo meio que o cerca, atravs da fala, dos gestos e demais interaes. Inicialmente apartir da me, a seguir pela famlia, depois a escola, outras instituies, alm daReligio, da ideologia poltica e da prpria sociedade como um todo.

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    Na interao constante com todas estas instncias importante lembrar queo homem dotado do livre arbtrio de optar pelo certo ou errado segundo seujulgamento, a partir de valores prprios inerentes a cada indivduo. A necessidade deproblematizar estas respostas aos conflitos do cotidiano, Campo especfico da tica,definida por ARANHA (1993) como parte da filosofia que se ocupa com a reflexo arespeito das noes e princpios que fundamentam a vida moral e esta reflexo pode

    seguir as mais diversas direes, dependendo da concepo do homem que setoma como ponto de partida. Podemos ento entender a tica como uma espcie decincia, teoria ou reflexo terica, que analisa, investiga e critica os fundamentos eprincpios que regem a conduta humana a luz de princpios morais. Ela est relacionada aopo, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros, relaes justas eaceitveis. Via de regra est fundamentada nas idias de bem e virtude, enquantovalores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numaexistncia plena e feliz.

    Segundo Aurlio Buarque de Holanda, tica definida como: Estudo dos juzosde apreciao referentes a conduta humana suscetvel de qualificao doponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, sejade modo absoluto.

    A Filosofia, segundo Abagnano, trata a tica em geral como a cincia daconduta e VASQUEZ (1995) amplia a definio afirmando que "a tica a teoria oucincia do comportamento moral dos homens em sociedade.

    Habitualmente, no cotidiano, as pessoas no fazem distino entre tica e moral,usam equivocadamente como sinnimos duas palavras distintas embora a etimologia dostermos seja semelhante. Segundo GODIM, tica uma palavra de origem grega, comdois significados possveis. O primeiro a palavra grega thos, com e curto, que pode sertraduzida por costume. Serviu de base para a traduo latina MORAL. O segundo,

    tambm se escreve thos, porm com e longo, que significa propriedade docarter, modo de ser. a que, de alguma forma, orienta a utilizao atual que damos apalavra tica.

    A tica, ento como vimos, definida como a teoria, o conhecimento ou acincia do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar ecriticar a moral ou as morais de uma sociedade. A tica filosfica e cientfica.

    As reflexes desta cincia podem seguir as mais diversas direes,dependendo da concepo do homem que se toma como ponto de partida,existindo duas concepes fundamentais.

    Uma primeira, como cincia do Fim a que a conduta dos homens se deve dirigir,e dos Meios para atingir tal fim e deduzem tanto o fim quanto os meios da natureza dohomem. Fala a linguagem do ideal a que o homem est dirigido pela sua natureza, e, porconseguinte da natureza ou essncia ou substncia do homem. peculiar a estaconcepo a noo do bem como realidade perfeita ou perfeio real.

    Uma segunda, que considera como cincia do mvel da conduta humana eprocura determinar tal mvel com vistas a dirigir ou disciplinar a mesma conduta. Falasobre motivos ou das causas da conduta humana ou das foras que determiname pretendem ater-se ao conhecimento dos fatos).

    A confuso entre ambos os pontos de vista heterogneos foi possibilitada pelofato de ambas se apresentarem habitualmente na forma aparentemente idntica deuma definio do bem. Mas, a anlise da noo de bem mostra logo a ambigidade queela oculta; j que bem pode significar ou o que ou o que objeto de desejo, deaspirao e estes dois significados correspondem exatamente as duas concepesde tica acima distintas.

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    De modo que quando se afirma O bem a felicidade, a palavra bem, tem umsignificado completamente diferente daquele que se encontra na afirmao o bem oprazer. A primeira assero (no sentido em que feita, por exemplo, por Aristteles epor So Toms), significa: A felicidade o fim da conduta humana, dedutvel danatureza racional do homem; ao passo que a segunda seo significa: O prazer o mvel habitual e constante da conduta humana.Como o significado e o alcance das duas asseres so,portanto,completamente

    diferentes, a distino entre ticas do fim e ticas do mvel deve ser mantidacontinuamente presente nas discusses sobre a tica. Tal distino, corta em duas ahistria da tica, e consente reconhecer como irrelevantes muitas das discusses de queela tecida e que no tem outra base seno a confuso entre os dois significadospropostos.

    Por diferentes que sejam as doutrinas nas suas articulaes internas, asua impostao formal idntica. Elas procedem determinando a natureza necessria dohomem e deduzindo de tal natureza o fim a que deve ser dirigida a conduta.

    2. EXISTNCIA TICA, SENSO MORAL E CONSCINCIA MORAL

    Nenhum homem uma ilha. Esta famosa frase do filsofo ingls ThomasMorus ajuda-nos a compreender que a vida humana convvio. Para o serhumano viver conviver. justamente na convivncia, na vida social ecomunitria, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e tico.

    na relao com o outro que surgem os problemas e as indagaes moraissobre o que devemos ou no fazer, sobre como agir ou no agir em determinadasituao, como comportar-me perante o outro, qual a maneira mais correta de resolverdeterminadas situaes, o que fazer diante da corrupo, das injustias sociais, demilhares de famintos, o que temos ou no temos o direito de fazer por exemplo, diantede entes queridos com doenas terminais que permanecem vivos apenas atravs demquinas.

    Constantemente no nosso cotidiano encontramos situaes que nos colocamproblemas morais. So problemas prticos e concretos da nossa vida emsociedade, ou seja, problemas que dizem respeito as nossas decises, escolhas, aes ecomportamentos - os quais exigem uma avaliao, um julgamento, um juzo de valorentre o que socialmente considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ouerrado, pela moral vigente. O problema que no costumamos refletir e buscar osporqus de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por forado hbito, dos costumes e da tradio, tendendo a naturalizar a realidade social,poltica, econmica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade critica diante darealidade. Em outras palavras, no costumamos fazer tica, pois no fazemos acrtica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.

    As situaes e conflitos vivenciados no cotidiano mobilizam nossos sentimen-tos de admirao, vergonha, culpa, remorso, contentamento, clera, amor, dvida,medo, etc. que so provocados por valores como justia, honradez, esprito desacrifcio, integridade, generosidade, solidariedade, etc. Nossas dvidas quanto adeciso a tomar e nossas aes cotidianas exprimem nosso senso moral, e tambmpem a prova nossa conscincia moral, uma conscincia crtica, formada peloconjunto de exigncias e prescries que reconhecemos como vlidas paraorientar nossas escolhas e discerne o valor moral de nossos atos. O senso morale a conscincia moral exigem que decidamos o que fazer, quejustifiquemos para ns mesmos e para os outros as razes de nossas decises e que

  • 7/13/2019 Apostila Samu - Mdicos e Enfermeiros

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    assumamos todas as conseqncias delas, porque somos responsveis por nossasopes e a decises que conduzem a aes com conseqncias para ns e para osoutros.

    Se o que caracteriza fundamentalmente o agir humano a capacidade deantecipao ideal do resultado a ser alcanado, conclumos que isso que torna o atomoral voluntrio, ou seja, um ato de vontade que decide pela busca do fim proposto.

    A complexidade do ato moral etano fato que ele provoca efeitos no s

    na pessoa que age, mas naqueles que a cercam e na prpria sociedade como um todo.Portanto para que um ato seja considerado moral ele deve ser livre, consciente,intencional. Pressupe ainda a solidariedade e reciprocidade com aqueles com osquais nos comprometemos. E o compromisso no deve ser entendido como algosuperficial e exterior, mas como ato que deriva do ser total do homem. Destascaractersticas decorre a responsabilidade, responsvel aquele que responde porseus atos, isto , o homem, consciente e livre assume a autoria de seu ato reconhe-cendo-o como seu e respondendo pelas conseqncias dele.

    3. ATRIBUIO DE JUZOS

    Como vimos, a tica, entendida como disciplina filosfica, relaciona-se

    diretamente com o estabelecimento de juzos de valor, e com o estudo dasjustificativas das aes humanas, procurando determinar, a respeito da conduta humana,no "o que ", mas "o que deve ser". portanto, de natureza normativa, tendo por objetoum sistema de conceitos que constituem uma teoria do ideal a partir da qual emitimosjuzos acerca da positividade ou negatividade dos valores transmitidos. Estes juzos sobre osvalores so elementos importantes na tomada de decises. No podemos tom-las baseando-seapenas em fatos.

    Se dissermos por exemplo, Est chovendo, estaremos enunciando umacontecimento constatado por ns e o juzo proferido um juzo de fato. Se,porm falarmos, A chuva boa para as plantas, ou a chuva bela, estaremosinterpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juzo de valor.