Upload
karla-dias
View
1.180
Download
4
Embed Size (px)
Citation preview
Disciplina: Noções de Igualdade Racial e gênero
Professora: Karla Dias
Constitucional
Constituição Federal de 1988 artigos 1º,3º,4º e 5º)
Constituição do Estado da Bahia: (Cap. XXIII “ Do
Negro”)
Humanos
Convenção Internacional Sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto
nº 65.810/69).
Convenção Sobre Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Contra a Mulher (Decreto nº
4.377/02).
Administrativo
Criação da Secretaria de Promoção da Igualdade
Racial (Lei nº 10.549/06) modificada pela Lei nº
12.212/11.
Criação da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da Presidência da República (Lei
nº 10.678/03).
Processual
Lei de Combate ao Genocídio (Lei nº 2.889/56).
Lei Caó (Lei nº 7.437/85).
Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.888, de 20
de Julho de 2010).
Lei Federal no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei
Maria da Penha).
Lei Federal no 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
alterada pela Lei Federal no 9.459 de 13 de maio de
1997 (Tipificação dos crimes resultantes de
preconceito de raça ou de cor).
Penal
Código Penal Brasileiro (art. 140).
INTRODUÇÃO
O problema do racismo é antigo. A legislação
penal positiva brasileira vigora na égide do Código Penal de
1940, da era getulista. Voltando no tempo, o código penal
em vigor era o da República, de 1890; antes dele o Código
Criminal do Império de 1830 e antes do código do Império,
vigoravam as Ordenações Filipinas, Livro V.
Nas Ordenações Filipinas, não encontramos, no
livro V, nenhum tipo de preconceito; pelo contrário, a
escravidão humana existia (negro, índio) e o livro V tratava
da matéria, mas nenhum dispositivo condenava o racismo.
Tinham dispositivos que estimulavam o racismo. Por
exemplo: contra os judeus, ciganos, mouros, os quais eram
obrigados a usar roupas e chapéus de determinada cor,
forma etc. e, se não o fizessem, estariam praticando uma
infração penal.
Em suma, nos primeiros tempos após o
descobrimento, durante 300 anos, a nossa própria legislação
penal estimulava a ação discriminatória, envolvendo certas
e determinadas pessoas.
Proclamada a independência, passamos para o
Código Criminal de 1830, no qual não figurava nenhum
dispositivo consagrando ou prestigiando esse procedimento
preconceituoso, mas também nada dizendo que racismo,
preconceito envolvendo religião, sexo etc., configuraria
infração penal.
A escravidão continuava e no Código Criminal de
1830, existia toda uma parte dedicada aos escravos, quando
eles infringiam a lei penal. Eles recebiam tratamento
diferente.
No artigo 60 do Código Criminal do Império, se o
réu fosse escravo e incorresse em penas que não fossem a
pena capital ou de galés, ele seria condenado à pena de
açoites e depois, seria entregue ao seu senhor, que colocaria
nele, escravo, um ferro pelo tempo e maneira que o juiz
designasse.
Mais ainda, o número de açoites seria fixado na
sentença e o escravo, não poderia levar mais de cinqüenta
(açoites) por dia.
O mesmo se diga do Código da República, de 1890
que não trazia nenhuma alusão ao preconceito.
Verificado aqui no Brasil o movimento de Vargas,
o Estado Novo, adotamos uma nova codificação penal que é
o Código Penal de 1940.
Ocorrendo a revolução de 1964, partimos também
para um novo código penal; foi o código de 1969, que não
entrou em vigor, por circunstâncias diversas.Continua em
vigor o código de 1940, com muitas modificações e
alterações.No código de 1940 não há nenhum dispositivo a
respeito de racismo ou de preconceito.
Uma lei de 1951, a lei 1390/51 - Lei Afonso
Arinos, dizia: "constitui infração penal (contravenção penal)
punida nos termos dessa lei, a recusa por estabelecimento
comercial ou de ensino, de qualquer natureza, de hospedar,
servir, atender ou receber clientes, comprador ou não, o
preconceito de raça ou de cor".
O que temos, através dessa lei e de leis posteriores,
é o combate ao preconceito, à chamada ação discriminatória,
que nem sempre envolve raça.
Quando falamos em racismo, limitamos a área de
incidência do preconceito. As manifestações
preconceituosas são muitas: podem envolver a raça, cor,
idade, sexo, grupo social etc.
Preconceito é uma infração genérica; neste gênero
chamamos de preconceito de: raça, cor, estado civil, sexo,
inclinação religiosa etc. O preconceito é considerado
contravenção penal.
O que a lei pune é o preconceito apenas de raça e
cor. Preconceito é gênero; o que se combate realmente é o
preconceito.
Em 1985, 34 anos depois da Lei Afonso Arinos, foi
promulgada a lei nº 7437/85. Essa lei continua a considerar
os comportamentos preconceituosos, meramente
contravenção penal. Pela lei, a contravenção foi estendida
para preconceito de: raça, cor, sexo, estado civil.
A ideia central continua a ser preconceito, mas a
lei evoluiu pois aumentou o número de crimes de natureza
preconceituosa. Preconceito de sexo é não permitir por
exemplo a entrada de mulheres desacompanhadas em
determinados lugares; isto acontecia em certos
estabelecimentos em São Paulo, tais como boates, bares
dançantes etc.
O legislador constituinte ofereceu proteção à
igualdade entre todos os seres humanos ao definir que “a lei
punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais” (art. 5º, inciso XLI, CF). Esse
trato igualitário entre todos, base das democracias modernas,
proíbe a prática de discriminações e preconceitos
decorrentes de raça, cor, origem étnica, preferência religiosa
e procedência nacional, o que constitui odiosa e histórica
afronta ao princípio isonômico.
Mais enfática é, nossa Constituição Federal, ao
estabelecer em seu artigo 5o, XLII, que: “a prática do
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito
à pena de reclusão nos termos da Lei”.
Constata-se, contudo, que mesmo após mais de cem
anos da abolição da escravatura encontramos preconceitos
constrangedores de um indivíduo em relação a seu
semelhante, resultado de um triste legado da colonização e
do imperialismo opressor, dominador e explorador.
2. Legislações “Anti-discriminação”
2.1. Lei nº 1.390/1951 – Lei Afonso Arinos
Texto legal de importantíssima relevância na História
brasileira, não muito por suas penas, mas pelo simples
reconhecimento da existência do racismo no Brasil, tão
frequente na realidade e não tendo sido reconhecido
legalmente até então. Tomou, assim, rumo completamente
diferente das Leis de condutas omissas que a antecederam.
Assim, com a promulgação da referida Lei, não havia mais
como negar a existência do racismo. Todavia, tal diploma
legislativo sofreu inúmeras críticas, vez que caracterizava as
ações preconceituosas como meras contravenções penais,
puníveis com 1 ano de prisão simples e com multas entre 15
dias a 3 meses, bem como suas condutas eram pouco
abrangentes, o que gerava dificuldade na aplicação da Lei.
Outra crítica que merece ser tecida com relação à referida
Lei diz respeito à penalização apenas das condutas
preconceituosas geradas por preconceito de raça ou cor,
ignorando aqueles advindos de etnia, religião, procedência
nacional, classe social, sexo e estado civil. Estes dois
últimos foram remediados pelo legislador com a Lei nº
7.437/1985, trazendo nova redação à Lei Afonso Arinos,
aumentando a gama das possíveis vítimas ao prever também
como infração penal o preconceito por sexo ou estado civil.
O preconceito por raça surge em patamar constitucional
somente a partir da Carta da República de 1967.
A Lei Afonso Arinos foi derrogada pela Lei 7.716/1989,
podendo ainda ser aplicada apenas contra preconceitos por
sexo ou estado civil.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
(ARTIGOS 1º,3º,4º E 5º)
TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
"Inexistente atribuição de competência exclusiva à União,
não ofende a Constituição do Brasil norma constitucional
estadual que dispõe sobre aplicação, interpretação e
integração de textos normativos estaduais, em conformidade
com a Lei de Introdução ao Código Civil. Não há falar-se
em quebra do pacto federativo e do princípio da
interdependência e harmonia entre os poderes em razão da
aplicação de princípios jurídicos ditos 'federais' na
interpretação de textos normativos estaduais. Princípios são
normas jurídicas de um determinado direito, no caso, do
direito brasileiro. Não há princípios jurídicos aplicáveis no
território de um, mas não de outro ente federativo, sendo
descabida a classificação dos princípios em 'federais' e
'estaduais'." (ADI 246, Rel. Min. Eros Grau, DJ 29/04/05)
“Se é certo que a Nova Carta Política contempla um elenco
menos abrangente de princípios constitucionais sensíveis, a
denotar, com isso, a expansão de poderes jurídicos na esfera
das coletividades autônomas locais, o mesmo não se pode
afirmar quanto aos princípios federais extensíveis e aos
princípios constitucionais estabelecidos, os quais, embora
disseminados pelo texto constitucional, posto que não é
tópica a sua localização, configuram acervo expressivo de
limitações dessa autonomia local, cuja identificação – até
mesmo pelos efeitos restritivos que deles decorrem – impõe-
se realizar. A questão da necessária observância ou não,
pelos Estados-Membros, das normas e princípios inerentes
ao processo legislativo, provoca a discussão sobre o alcance
do poder jurídico da União Federal de impor, ou não, às
demais pessoas estatais que integram a estrutura da
federação, o respeito incondicional a padrões heterônomos
por ela própria instituídos como fatores de compulsória
aplicação. (...) Da resolução dessa questão central, emergirá
a definição do modelo de federação a ser efetivamente
observado nas práticas institucionais.” (ADI 216-MC, Rel.
Min. Celso de Mello, DJ 23/05/90) file:///K|/STF%20-
%20CF.htm (1 of 574)17/08/2005 13:02:39
I - a soberania;
“O mero procedimento citatório não produz qualquer
efeito atentatório à soberania nacional ou à ordem
pública, apenas possibilita o conhecimento da ação que
tramita perante a justiça alienígena e faculta a apresentação
de defesa”. (CR 10.849-AgR, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ
21/05/04)
II - a cidadania
"Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se
submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é
dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário,
nega-se o Estado de Direito." (HC 73.454, Rel. Min.
Maurício Corrêa, DJ
III - a dignidade da pessoa humana;
"A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão
cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da
dignidade da pessoa humana, que representa
considerada a centralidade desse princípio essencial (CF,
art. 1º, I) significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-
fonte que conforma e inspira todo o ordenamento
constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo
expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre
nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo
sistema de direito constitucional positivo." (HC 85.988-MC,
Rel. Min. Celso de Mello, DJ 10/06/05).
“A mera instauração de inquérito, quando evidente a
atipicidade da conduta, constitui meio hábil a impor
violação aos direitos fundamentais, em especial ao
princípio da dignidade humana”. (HC 82.969, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJ 17/10/03)
“Sendo fundamento da República Federativa do Brasil a
dignidade da pessoa humana, o exame da
constitucionalidade de ato normativo faz-se considerada a
impossibilidade de o Diploma Maior permitir a exploração
do homem pelo homem. O credenciamento de profissionais
do volante para atuar na praça implica ato do administrador
que atende às exigências próprias à permissão e que
objetiva, em verdadeiro saneamento social, o endosso de lei
viabilizadora da transformação, balizada no tempo, de
taxistas auxiliares em permissionários.” (RE 359.4, Rel.
Min. Carlos Velloso, DJ 28/05/04)
“O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da
pessoa humana, princípio alçado a fundamento da República
Federativa do Brasil”. (RE 248.869, Rel. Min. Maurício
Corrêa, DJ 12/03/04)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas
suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade;
X - concessão de asilo político.
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
"O repúdio ao terrorismo: um compromisso ético-jurídico
assumido pelo Brasil, quer em face de sua própria
Constituição, quer perante a comunidade internacional. Os
atos delituosos de natureza terrorista, considerados os
parâmetros consagrados pela vigente Constituição da
República, não se subsumem à noção de criminalidade
política, pois a Lei Fundamental proclamou o repúdio ao
terrorismo como um dos princípios essenciais que devem
reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais
(CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo,
para efeito de repressão interna, como crime equiparável aos
delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a
tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-
o inafiançável e insuscetível da clemência soberana do
Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos
crimes meramente comuns (CF, art. 5º, XLIII). A
Constituição da República, presentes tais vetores
interpretativos (CF, art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII), não
autoriza que se outorgue, às práticas delituosas de caráter
terrorista, o mesmo tratamento benigno dispensado ao autor
de crimes políticos ou de opinião, impedindo, desse modo,
que se venha a estabelecer, em torno do terrorista, um
inadmissível círculo de proteção que o faça imune ao poder
extradicional do Estado brasileiro, notadamente se se tiver
em consideração a relevantíssima circunstância de que a
Assembleia Nacional Constituinte formulou um claro e
inequívoco juízo de desvalor em relação a quaisquer atos
delituosos revestidos de índole terrorista, a estes não
reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha
impregnada a prática da criminalidade política." (Ext 855,
Rel. Min. Celso de Mello, DJ
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos povos
da América Latina, visando à formação de uma comunidade
latino-americana de nações.
TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
"(...) é consentânea com a Carta da República previsão
normativa asseguradora, ao militar e ao dependente
estudante, do acesso a instituição de ensino na localidade
para onde é removido. Todavia, a transferência do local do
serviço não pode se mostrar verdadeiro mecanismo para
lograr-se a transposição da seara particular para a pública,
sob pena de se colocar em plano secundário a isonomia —
artigo 5º, cabeça e inciso I —, a impessoalidade, a
moralidade na Administração Pública, a igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola
superior, prevista no inciso I do artigo 206, bem como a
viabilidade de chegar-se a níveis mais elevados do ensino,
no que o inciso V do artigo 208 vincula o fenômeno à
capacidade de cada qual." (ADI 3.324, voto do Min.
Marco Aurélio, DJ 05/08/05)
"A vedação constitucional de diferença de critério de
admissão por motivo de idade (CF, art. 7º, X) é corolário, na
esfera das relações de trabalho, do princípio fundamental de
igualdade, que se entende, à falta de exclusão constitucional
inequívoca (como ocorre em relação aos militares - CF, art.
42, § 1º), a todo o sistema do pessoal civil. É ponderável,
não obstante, a ressalva das hipóteses em que a limitação de
idade se possa legitimar como imposição da natureza e das
atribuições do cargo a preencher." (RMS 21.046, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 14/1/91). No mesmo sentido: RE
141.357, DJ 08/10/04; RE 212.066, DJ 12/03/9.
“O princípio da isonomia, que se reveste de auto-
aplicabilidade, não é - enquanto postulado fundamental de
nossa ordem político-jurídica - suscetível de regulamentação
ou de complementação normativa. Esse princípio – cuja
observância vincula, incondicionalmente, todas as
manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em
sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir
privilégios (RDA 5/114), sob duplo aspecto: (a) o da
igualdade na lei e (b) o da igualdade perante a lei. A
igualdade na lei - que opera numa fase de generalidade
puramente abstrata - constitui exigência destinada ao
legislador que, no processo de sua formação, nela não
poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela
ruptura da ordem isonômica. A igualdade perante a lei,
contudo, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição
destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da
norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que
ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual
inobservância desse postulado pelo legislador imporá ao ato
estatal por ele elaborado e produzido a eiva de
inconstitucionalidade.” (MI 58, Rel. Min. Celso de Mello,
DJ 19/04/91)
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
"Promoção de militares dos sexos masculino e feminino:
critérios diferenciados: carreiras regidas por legislação
específica: ausência de violação ao princípio da isonomia:
precedente (RE 225.721, Ilmar Galvão, DJ 24/04/2000)."
(AI 511.131-AgR, Rel.Min. Sepúlveda Pertence, DJ
15/04/05)
I - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
“Limitações à liberdade de manifestação do pensamento,
pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar
explícita ou implicitamente prevista na própria
Constituição.” (ADI 869, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ
04/06/04) file:///K|/STF%20-%20CF.htm (12 of
574)17/08/2005 13:02:39
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as
invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura
ou licença;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável
e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei;
...........................................
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte.
A Constituição de 1988, em seu art. 5º - inc. XLII,
passou a considerar a prática do racismo como crime
inafiançável e imprescritível.
O legislador falou em racismo, mas na verdade, o
que ele queria dizer era preconceito. Preconceito é gênero,
do qual o racismo é uma espécie. Por racismo, entende-se
um preconceito que abrange a raça e no máximo, a cor das
pessoas. O racismo não envolve preconceito de sexo, de
estado civil ou de outra natureza.
O racismo então deixou de ser mera contravenção
e ganhou o "status" de crime. Mas que crime? - Um crime
particular, extraordinário, porque esse crime está sujeito
sempre à pena de reclusão e mais do que isso, é um crime
inafiançável e mais ainda, um crime imprescritível.
É claro que o racismo é um crime muito grave, mas
fazer com que seja um crime imprescritível é um absurdo. É
preciso que o direito de punir do Estado seja limitado no
tempo; não pode um crime não prescrever nunca. Nos
diplomas penais do mundo moderno, a prescrição começa a
ser introduzida, pois a prescrição atenua aquele poder do
Estado de a qualquer hora poder punir.
Para o Estado, a imprescritibilidade é uma coisa
extraordinária, mas não o é evidentemente, uma garantia
para o cidadão.
A prescrição é um instituto moderno e soberano
em todos os códigos de todos os povos modernos. O
legislador brasileiro retrocedeu séculos quando colocou
como imprescritível o crime de racismo.
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA
CAPÍTULO XXIII –
“DO NEGRO”
Art. 286 - A sociedade baiana é cultural e historicamente
marcada pela presença da comunidade afro-brasileira,
constituindo a prática do racismo crime inafiançável e
imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da
Constituição Federal.
Art. 287 - Com países que mantiverem política oficial de
discriminação racial, o Estado não poderá:
I - admitir participação, ainda que indireta, através de
empresas neles sediadas, em qualquer processo licitatório da
Administração Pública direta ou indireta;
II - manter intercâmbio cultural ou desportivo, através de
delegações oficiais.
Art. 288 - A rede estadual de ensino e os cursos de
formação e aperfeiçoamento do servidor público civil e
militar incluirão em seus programas disciplina que valorize a
participação do negro na formação histórica da sociedade
brasileira.
Art. 289 - Sempre que for veiculada publicidade estadual
com mais de duas pessoas, será assegurada a inclusão de
uma da raça negra.
Art. 290 - O Dia 20 de novembro será considerado, no
calendário oficial, como Dia da Consciência Negra.
LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010.
Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos
7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de
13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778,
de 24 de novembro de 2003.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial,
destinado a garantir à população negra a efetivação da
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação
e às demais formas de intolerância étnica.
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção,
exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por
objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública
ou privada;
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de
diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e
oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no
âmbito da sociedade que acentua a distância social entre
mulheres negras e os demais segmentos sociais;
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se
autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas
adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições
institucionais;
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais
adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a
correção das desigualdades raciais e para a promoção da
igualdade de oportunidades.
Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a
igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão
brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o
direito à participação na comunidade, especialmente nas
atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais,
culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus
valores religiosos e
culturais.
Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos
princípios fundamentais, aos direitos e garantias
fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais,
o Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político-
jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial,
a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento da
identidade nacional brasileira.
Art. 4o A participação da população negra, em condição de
igualdade de oportunidade, na vida econômica, social,
política e cultural do País será promovida, prioritariamente,
por meio de:
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento
econômico e social;
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação
afirmativa;
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para
o adequado enfrentamento e a
superação das desigualdades étnicas decorrentes do
preconceito e da discriminação étnica;
IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o
combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas
em todas as suas manifestações individuais, institucionais e
estruturais;
V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e
institucionais que impedem a representação da diversidade
étnica nas esferas pública e privada;
VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas
da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de
oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas,
inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios
de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos
públicos;
VII - implementação de programas de ação afirmativa
destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no
tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde,
segurança, trabalho,
moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos
públicos, acesso à terra, à Justiça, e
outros.
Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa
constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as
distorções e desigualdades sociais e demais práticas
discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada,
durante o processo de formação social do País.
Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é
instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.
TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
CAPÍTULO I
DO DIREITO À SAÚDE
Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido
pelo poder público mediante políticas universais, sociais e
econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de
outros agravos.
§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de
Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da
saúde da população negra será de responsabilidade dos
órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e
municipais, da administração direta e indireta.
§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população
negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado
sem discriminação.
Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população
negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra, organizada de acordo com as diretrizes
abaixo especificadas:
I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças
dos movimentos sociais em defesa da saúde da população
negra nas instâncias de participação e controle social do
SUS;
II - produção de conhecimento científico e tecnológico em
saúde da população negra;
III - desenvolvimento de processos de informação,
comunicação e educação para contribuir com a redução das
vulnerabilidades da população negra.
Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra:
I - a promoção da saúde integral da população negra,
priorizando a redução das desigualdades étnicas e o combate
à discriminação nas instituições e serviços do SUS;
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do
SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos
dados desagregados por cor, etnia e gênero;
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre
racismo e saúde da população negra;
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra
nos processos de formação e educação permanente dos
trabalhadores da saúde;
V - a inclusão da temática saúde da população negra nos
processos de formação política das lideranças de
movimentos sociais para o exercício da participação e
controle social no SUS.
Parágrafo único. Os moradores das comunidades de
remanescentes de quilombos serão beneficiários de
incentivos específicos para a garantia do direito à saúde,
incluindo melhorias nas condições ambientais, no
saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e
na atenção integral à saúde.
CAPÍTULO II
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO
ESPORTE E AO LAZER
Seção I
Disposições Gerais
Art. 9o A população negra tem direito a participar de
atividades educacionais, culturais,esportivas e de lazer
adequadas a seus interesses e condições, de modo a
contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e
da sociedade brasileira.
Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os
governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão
as seguintes providências:
I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da
população negra ao ensino
gratuito e às atividades esportivas e de lazer;
II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço
para promoção social e cultural da população negra;
III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive
nas escolas, para que a solidariedade aos membros da
população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;
IV - implementação de políticas públicas para o
fortalecimento da juventude negra brasileira.
Seção II
Da Educação
Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da
história geral da África e da história da população negra no
Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996.
§ 1o Os conteúdos referentes à história da população negra
no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o
desenvolvimento social, econômico, político e cultural do
País.
§ 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a
formação inicial e continuada de professores e a elaboração
de material didático específico para o cumprimento do
disposto no caput deste artigo.
§ 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos
responsáveis pela educação
incentivarão a participação de intelectuais e representantes
do movimento negro para debater com
os estudantes suas vivências relativas ao tema em
comemoração.
Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento
à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a
pesquisas e a programas de estudo voltados para temas
referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões
pertinentes à população negra.
Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos
competentes, incentivará as instituições de ensino superior
públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:
I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar
grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos
programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas de
interesse da população negra;
II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de
formação de professores temas que incluam valores
concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade
brasileira;
III - desenvolver programas de extensão universitária
destinados a aproximar jovens negros de tecnologias
avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de
gênero entre os beneficiários;
IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos
estabelecimentos de ensino públicos,
privados e comunitários, com as escolas de educação
infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico,
para a formação docente baseada em princípios de equidade,
de tolerância e de respeito às diferenças étnicas.
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações
socioeducacionais realizadas por entidades do movimento
negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão
social, mediante cooperação técnica, intercâmbios,
convênios e incentivos, entre outros mecanismos.
Art. 15. O poder público adotará programas de ação
afirmativa.
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos
responsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e de
educação, acompanhará e avaliará os programas de que trata
esta Seção.
Seção III
Da Cultura
Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das
sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação
coletiva da população negra, com trajetória histórica
comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos
termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.
Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades
dos quilombos o direito à preservação de seus usos,
costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção
do Estado.
Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios
detentores de reminiscências históricas dos antigos
quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 216 da
Constituição Federal, receberá especial atenção do poder
público.
Art. 19. O poder público incentivará a celebração das
personalidades e das datas comemorativas relacionadas à
trajetória do samba e de outras manifestações culturais de
matriz africana, bem como sua comemoração nas
instituições de ensino públicas e privadas.
Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da
capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de
natureza imaterial e de formação da identidade cultural
brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal.
Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio
dos atos normativos necessários, a preservação dos
elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas
relações
internacionais.
Seção IV
Do Esporte e Lazer
Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da
população negra às práticas desportivas, consolidando o
esporte e o lazer como direitos sociais.
Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação
nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal.
§ 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as
modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como
esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em
todo o território nacional.
§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições
públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais,
pública e formalmente reconhecidos.
CAPÍTULO III
DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE
CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS
CULTOS RELIGIOSOS
Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a
suas liturgias.
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e
ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana
compreende:
I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas
à religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa
privada, de lugares reservados para tais fins;
II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com
preceitos das respectivas religiões;
III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de
instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções
religiosas;
IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de
artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às
práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as
condutas vedadas por legislação específica;
V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas
ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana;
VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais
e jurídicas de natureza privada para a manutenção das
atividades religiosas e sociais das respectivas religiões;
VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para
divulgação das respectivas religiões;
VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de
ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância
religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros
locais.
Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes
de religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou
em outras instituições de internação coletiva, inclusive
àqueles submetidos a pena privativa de liberdade.
Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias
para o combate à intolerância com as religiões de matrizes
africanas e à discriminação de seus seguidores,
especialmente com o objetivo de:
I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para
a difusão de proposições, imagens ou abordagens que
exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por
motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas;
II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e
outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos,
mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às
religiões de matrizes africanas;
III - assegurar a participação proporcional de representantes
das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação
das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e
outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder
público.
CAPÍTULO IV
DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA
Seção I
Do Acesso à Terra
Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas
públicas capazes de promover o acesso da população negra à
terra e às atividades produtivas no campo.
Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades
produtivas da população negra no campo, o poder público
promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao
financiamento
agrícola.
Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência
técnica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e
o fortalecimento da infraestrutura de logística para a
comercialização da produção.
Art. 30. O poder público promoverá a educação e a
orientação profissional agrícola para os trabalhadores negros
e as comunidades negras rurais.
Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos
quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os
títulos respectivos.
Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá
políticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento
sustentável dos remanescentes das comunidades dos
quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental
das comunidades.
Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das
comunidades dos quilombos receberão dos órgãos
competentes tratamento especial diferenciado, assistência
técnica e linhas especiais de financiamento público,
destinados à realização de suas atividades produtivas e de
infraestrutura.
Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos
se beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em
outras leis para a promoção da igualdade étnica.
Seção II
Da Moradia
Art. 35. O poder público garantirá a implementação de
políticas públicas para assegurar o direito à moradia
adequada da população negra que vive em favelas, cortiços,
áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de
degradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e
promover melhorias no ambiente e na qualidade de vida.
Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os
efeitos desta Lei, inclui não apenas o provimento
habitacional, mas também a garantia da infraestrutura
urbana e dos equipamentos comunitários associados à
função habitacional, bem como a assistência técnica e
jurídica para a construção, a reforma ou a regularização
fundiária da habitação em área urbana.
Art. 36. Os programas, projetos e outras ações
governamentais realizadas no âmbito do Sistema Nacional
de Habitação de Interesse Social (SNHIS), regulado pela Lei
no 11.124, de 16 de junho de 2005, devem considerar as
peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população
negra.
Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios estimularão e facilitarão a participação de
organizações e movimentos representativos da população
negra na composição
dos conselhos constituídos para fins de aplicação do Fundo
Nacional de Habitação de Interesse
Social (FNHIS).
Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados,
promoverão ações para viabilizar o acesso da população
negra aos financiamentos habitacionais.
CAPÍTULO V
DO TRABALHO
Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a
inclusão da população negra no mercado de trabalho será de
responsabilidade do poder público, observando-se:
I - o instituído neste Estatuto;
II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a
Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de
1965;
III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a
Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego e
na profissão;
IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo
Brasil perante a comunidade internacional.
Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a
igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a
população negra, inclusive mediante a implementação de
medidas visando à promoção da igualdade nas contratações
do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares
nas empresas e organizações privadas.
§ 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a
adoção de políticas e programas de formação profissional,
de emprego e de geração de renda voltados para a população
negra.
§ 2o As ações visando a promover a igualdade de
oportunidades na esfera da administração
pública far-se-ão por meio de normas estabelecidas ou a
serem estabelecidas em legislação
específica e em seus regulamentos.
§ 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a
adoção de iguais medidas pelo setor privado.
§ 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão
o princípio da proporcionalidade de gênero entre os
beneficiários.
§ 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena
produção, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas
para mulheres negras.
§ 6o O poder público promoverá campanhas de
sensibilização contra a marginalização da mulher negra no
trabalho artístico e cultural.
§ 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de
elevar a escolaridade e a qualificação profissional nos
setores da economia que contem com alto índice de
ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização.
Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao
Trabalhador (Codefat) formulará políticas, programas e
projetos voltados para a inclusão da população negra no
mercado de trabalho e orientará a destinação de recursos
para seu financiamento.
Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio
de financiamento para constituição e ampliação de pequenas
e médias empresas e de programas de geração de renda,
contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros.
Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades
voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais,
monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os
costumes da população negra.
Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar
critérios para provimento de cargos em comissão e funções
de confiança destinados a ampliar a participação de negros,
buscando reproduzir a estrutura da distribuição étnica
nacional ou, quando for o caso, estadual, observados os
dados demográficos oficiais.
CAPÍTULO VI
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação
valorizará a herança cultural e a participação da população
negra na história do País.
Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à
veiculação pelas emissoras de televisão e em salas
cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir
oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos
negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de
natureza política, ideológica, étnica ou artística.
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se
aplica aos filmes e programas que abordem especificidades
de grupos étnicos determinados.
Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias
destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e em
salas cinematográficas o disposto no art. 44.
Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública
federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas
públicas e as sociedades de economia mista federais deverão
incluir cláusulas de participação de artistas negros nos
contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer
outras peças de caráter publicitário.
§ 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão,
nas especificações para contratação de serviços de
consultoria, conceituação, produção e realização de filmes,
programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da
prática de iguais oportunidades de emprego para as pessoas
relacionadas com o projeto ou serviço contratado.
§ 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de
emprego o conjunto de medidas sistemáticas executadas
com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e
de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço
contratado.
§ 3o A autoridade contratante poderá, se considerar
necessário para garantir a prática de iguais oportunidades de
emprego, requerer auditoria por órgão do poder público
federal.
§ 4o A exigência disposta no caput não se aplica às
produções publicitárias quando abordarem especificidades
de grupos étnicos determinados.
TÍTULO III
DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA
IGUALDADE RACIAL
(SINAPIR)
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização e de
articulação voltadas à implementação do conjunto de
políticas e serviços destinados a superar as desigualdades
étnicas existentes no País, prestados pelo poder público
federal.
§ 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
participar do Sinapir mediante adesão.
§ 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a
iniciativa privada a participar do Sinapir.
CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS
Art. 48. São objetivos do Sinapir:
I - promover a igualdade étnica e o combate às
desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive
mediante adoção de ações afirmativas;
II - formular políticas destinadas a combater os fatores de
marginalização e a promover a integração social da
população negra;
III - descentralizar a implementação de ações afirmativas
pelos governos estaduais, distrital e municipais;
IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à
promoção da igualdade étnica;
V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados
para a implementação das ações afirmativas e o
cumprimento das metas a serem estabelecidas.
CAPÍTULO III
DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA
Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional
de promoção da igualdade racial contendo as metas,
princípios e diretrizes para a implementação da Política
Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR).
§ 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação
e acompanhamento da PNPIR, bem como a organização,
articulação e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo
órgão responsável pela política de promoção da igualdade
étnica em âmbito nacional.
§ 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir
fórum intergovernamental de promoção da igualdade étnica,
a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas de
promoção da igualdade étnica, com o objetivo de
implementar estratégias que visem à incorporação da
política nacional de promoção da igualdade étnica nas ações
governamentais de Estados e Municípios.
§ 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de
promoção da igualdade étnica serão elaboradas por órgão
colegiado que assegure a participação da sociedade civil.
Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e
municipais, no âmbito das respectivas esferas de
competência, poderão instituir conselhos de promoção da
igualdade étnica, de caráter permanente e consultivo,
compostos por igual número de representantes de órgãos e
entidades
públicas e de organizações da sociedade civil representativas
da população negra.
Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos
recursos referentes aos programas e atividades previstos
nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios que
tenham criado conselhos de promoção da igualdade étnica.
CAPÍTULO IV
DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À
JUSTIÇA E À SEGURANÇA
Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e
no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias
Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e
encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com
base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de
medidas para a promoção da igualdade.
Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o
acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria
Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em
todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de
seus direitos.
Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres
negras em situação de violência, garantida a assistência
física, psíquica, social e jurídica.
Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a
violência policial incidente sobre a
população negra.
Parágrafo único. O Estado implementará ações de
ressocialização e proteção da juventude
negra em conflito com a lei e exposta a experiências de
exclusão social.
Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de
discriminação e preconceito
praticados por servidores públicos em detrimento da
população negra, observado, no que couber,
o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças
de lesão aos interesses da população negra decorrentes de
situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros
instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na Lei no
7.347, de 24 de julho de 1985.
CAPÍTULO V
DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE
PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL
Art. 56. Na implementação dos programas e das ações
constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais
da União, deverão ser observadas as políticas de ação
afirmativa a que se
refere o inciso VII do art. 4o desta Lei e outras políticas
públicas que tenham como objetivo promover a igualdade de
oportunidades e a inclusão social da população negra,
especialmente no que tange a:
I - promoção da igualdade de oportunidades em educação,
emprego e moradia;
II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação,
saúde e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade de
vida da população negra;
III - incentivo à criação de programas e veículos de
comunicação destinados à divulgação de matérias
relacionadas aos interesses da população negra;
IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas
administradas por pessoas autodeclaradas negras;
V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência
das pessoas negras na educação fundamental, média, técnica
e superior;
VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais,
distrital e municipais e de entidades da sociedade civil
voltados para a promoção da igualdade de oportunidades
para a população negra;
VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e
das tradições africanas e brasileiras.
§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar
medidas que garantam, em cada exercício, a transparência
na alocação e na execução dos recursos necessários ao
financiamento das ações previstas neste Estatuto,
explicitando, entre outros, a proporção dos recursos
orçamentários destinados aos programas de promoção da
igualdade, especialmente nas áreas de
educação, saúde, emprego e renda, desenvolvimento agrário,
habitação popular, desenvolvimento regional, cultura,
esporte e lazer.
§ 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do
exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os órgãos
do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas e
programas nas áreas referidas no § 1o deste artigo
discriminarão em seus orçamentos anuais a participação nos
programas de ação afirmativa referidos no inciso VII do art.
4o desta Lei.
§ 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas
necessárias para a adequada implementação do disposto
neste artigo, podendo estabelecer patamares de participação
crescente dos programas de ação afirmativa nos orçamentos
anuais a que se refere o § 2o deste artigo.
§ 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal
responsável pela promoção da igualdade racial acompanhará
e avaliará a programação das ações referidas neste artigo nas
propostas orçamentárias da União.
Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários,
poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e da
seguridade social para financiamento das ações de que trata
o art. 56:
I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
II - doações voluntárias de particulares;
III - doações de empresas privadas e organizações não
governamentais, nacionais ou internacionais;
IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou
internacionais;
V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios,
tratados e acordos internacionais.
TÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem
outras em prol da população negra que tenham sido ou
venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios.
Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para
aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e
efetuará seu monitoramento constante, com a emissão e a
divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede
mundial de computadores.
Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei no 7.716, de 1989, passam a
vigorar com a seguinte redação:
“Art. 3o ........................................................................
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo
de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional, obstar a promoção funcional.” (NR)
“Art. 4o ........................................................................
§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de
discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do
preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao
empregado em igualdade de condições com os demais
trabalhadores;
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar
outra forma de benefício profissional;
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no
ambiente de trabalho, especialmente
quanto ao salário.
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de
serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da
igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra
forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de
aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas
atividades não justifiquem essas exigências.” (NR)
Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei no 9.029, de 13 de abril de
1995, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos
dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de
preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto
nesta Lei são passíveis das seguintes cominações:
...................................................................................” (NR)
“Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato
discriminatório, nos moldes desta Lei, além
do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao
empregado optar entre:
...................................................................................” (NR)
Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar
acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual
parágrafo único como § 1o:
“Art. 13. ........................................................................
§ 1o ...............................................................................
§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em
dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do
disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro
reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será
utilizada para ações de promoção da igualdade étnica,
conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da
Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos
Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou
locais, nas
hipóteses de danos com extensão regional ou local,
respectivamente.” (NR)
Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei no 10.778, de 24 de
novembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1o .......................................................................
§ 1o Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência
contra a mulher qualquer ação ou conduta,
baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou
desigualdade étnica, que cause
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à
mulher, tanto no âmbito público quanto no
privado.
...................................................................................” (NR)
Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei no 7.716, de 1989, passa a
vigorar acrescido do seguinte
inciso III:
“Art. 20. ......................................................................
.............................................................................................
§ 3o ...............................................................................
.............................................................................................
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de
informação na rede mundial de computadores.
...................................................................................” (NR)
Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a
data de sua publicação.
Brasília, 20 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o
da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Eloi Ferreira de Araújo
Este texto não substitui o publicado no DOU de 21.7.2010
LEI Nº 7.716/1989
Considerada um expressivo avanço jurídico e
político, a denominada Lei Caó (por força do parlamentar
Carlos Alberto Caó, autor do projeto de Lei na Câmara dos
Deputados), ou ainda Lei “Antidiscriminação” ou Lei “Anti-
preconceito”, veio para suprir as falhas que foram deixadas
pela Lei Afonso Arinos.
Aparece a Lei Caó no cenário jurídico por força da
Constituição de 1988, que conferiu suporte constitucional ao
legislador ordinário. Promulgada em 5 de janeiro de 1989, a
Lei Caó inovou ao caracterizar a prática de racismo como
crime, em um cenário aonde este era considerado apenas
uma contravenção penal, ensejando às pessoas que
cometessem atos discriminatórios os benefícios da
primariedade, do simples pagamento de multas etc., sem
que, de fato, fossem condenadas e cumprissem pena em
estabelecimentos carcerários. Ou seja, a prática do racismo
vinha sendo estimulada de forma crescente, sem que o
Estado, detentor de uma máquina policial-judiciária lenta e
ineficiente viesse a punir os culpados.
Nesta linha, a antiga Lei Afonso Arinos representou à sua
época seu papel, que guarda extrema importância na
História, porém, imperiosa era a promulgação de uma nova
Lei, que representasse fielmente a realidade.
Não obstante a frequente negação – talvez por conta de uma
vergonha moral – de que o Brasil represente um país de
discriminadores, resta claro que estes existem e agem
sorrateiramente, nos balcões de lojas, hotéis, locais públicos,
ou ainda em simples gracejos cotidianos. Por esse prisma,
salta aos olhos a importância jurídica da Lei 7.716/89.
LEI 7.716 DE 05/01/1989 - DOU 06/01/1989
Define os Crimes Resultantes de Preconceitos de
Raça ou de Cor.
ART. 20 - Praticar, induzir ou incitar, pelos meios
de comunicação social ou por publicação de qualquer
natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor,
religião, etnia ou procedência nacional (grifo nosso).
Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
É apenas através da mídia, através da imprensa. A
Lei, limitou esses atos, característicos de crime, à chamada
publicação, aos anúncios em jornais e outros meios de
comunicação.
Antes da lei, haviam anúncios de empregados
procurados nos jornais, que davam preferência a candidatos
nisseis, candidatos de orígem alemã, americana e assim por
diante, criando uma barreira às pessoas de outras
nacionalidades.
2.3. Alterações legislativas da Lei 7.716/1989
A Lei 7.716/89, à sua promulgação, não trouxe condutas
típicas inovadoras, reproduzindo grande parte da Lei Afonso
Arinos, Lei combatente ao racismo que estava vigendo à
época.
Tal fato fez com que referida Lei fosse alvo de críticas, por
parte dos movimentos de grupos discriminados, bem como
pela doutrina especializada, isso porque a Lei 7.716/89, tão
importante por elevar a prática de racismo de contravenção
penal a crime, continuou a penalizar apenas as condutas
preconceituosas por raça ou cor (exatamente como a
legislação que a precedia), relegando ao esquecimento
àquelas resultantes de preconceito por etnia, religião,
procedência nacional, preferência sexual ou classe social.
Assim, fizeram-se necessárias alterações legislativas nesse
sentido, e isto se deu através das Leis 8.081/90, 8.882/94 e
9.459/97, sendo que esta última representou a modificação
mais importante.
Esta última Lei modificadora deu nova redação ao artigo
1o da Lei Caó, passando este a ter como conduta criminosa
não apenas os atos praticados por discriminação ou
preconceito por raça ou cor, mas também aqueles advindos
de discriminação ou preconceito por etnia, religião ou
procedência nacional.
Lamentável porém foi o legislador ordinário não ter tratado,
nesta última alteração legislativa, dos atos discriminatórios
por sexo, estado civil ou orientação sexual. Vale lembrar
que estes dois primeiros permanecem como simples
contravenções penais por conta da Lei nº 7.437/1985. Já
com relação ao preconceito por orientação sexual, não há lei
que trate do assunto, o que gera impunidade, uma vez que os
homossexuais são frequentemente vítimas de discriminação
e preconceito.
Outra importante alteração trazida pela Lei nº 9.459/97 foi a
introdução do artigo 20 na Lei Anti-discriminação, qual
seja:
“Art. 20 - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional. Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
§ 1º - Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda
que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo. Pena: reclusão de 2 (dois) a 5
(cinco) anos e multa. § 2º - Se qualquer dos crimes previstos
no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. § 3º -
No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar,
ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes
do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - o
recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos
exemplares do material respectivo; II - a cessação das
respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas. § 4º -
Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o
trânsito em julgado da decisão, a destruição do material
apreendido.”
Este artigo aumentou consideravelmente a possibilidade da
adequação típica das condutas preconceituosas, pois,
tratando-se de crime de execução livre, qualquer prática,
induzimento ou incitação à discriminação ou preconceito
por força de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional tipifica o crime.
Esta última alteração ainda modificou o art. 140 do Código
Penal, acrescentando-lhe seu parágrafo 3o, prevendo a
injúria qualificada pelos elementos de raça, cor, etnia,
religião e origem, dando-lhe a mesma pena do crime do
artigo 20, caput, da lei especial.
O §3o do artigo 140 do Código Penal, recebeu nova
alteração pela Lei nº 10.741/2003, acrescentando-lhe ainda,
além da injúria qualificada dita acima, também aquela por
força de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Bem
como, a partir da Lei 12.033/09, passou a ser perseguido
mediante ação penal pública mediante representação do
ofendido (art. 145, parágrafo único, do Código Penal).
Christiano Jorge Santos comenta ainda que não obstante as
três alterações providenciadas na Lei 7.716/89, não cuidou o
legislador de alterar-lhe o texto do epígrafe, constando ainda
que os crimes são os resultantes apenas de raça e cor.
LEI CAÓ
LEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985
Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos
resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de
estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de
julho de 1951 - Lei Afonso Arinos.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta
Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de
cor, de sexo ou de estado civil.
Art 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor,
gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na
prática referida no art. 1º desta Lei.
DAS CONTRAVENÇÕES
Art 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem
ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de
raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa de 3 (três) a 10 (dez)
vezes o maior valor de referência (MVR).
Art 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de
qualquer gênero ou o atendimento
de clientes em restaurantes, bares, confeitarias ou locais
semelhantes, abertos ao
público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de
estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
(MVR).
Art 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento
público, de diversões ou deesporte, por preconceito de raça,
de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
(MVR).
Art 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de
estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
(MVR).
Art 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de
ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça,
de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
(MVR).
Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de
ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde
que apurada em inquérito regular.
Art 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público
civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou
de estado civil.
Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade
em inquérito regular, para o funcionário dirigente da
repartição de que dependa a inscrição no concurso de
habilitação dos candidatos.
Art 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia,
sociedade de economia mista, empresa concessionária de
serviço público ou empresa privada, por preconceito
de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
(MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o
responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de
economia mista e empresa
concessionária de serviço público.
Art 10 - Nos casos de reincidência havidos em
estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a
pena adicional de suspensão do funcionamento, por prazo
não superior a 3 (três) meses.
Art 11 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art 12 - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, em 20 de dezembro de 1985; 164º da
Independência e 97º da República.
JOSÉ SARNEY
Fernando Lyra
LEI 10549/06 | LEI Nº 10.549 DE 28 DE DEZEMBRO
DE 2006 DA BAHIA
Modifica a estrutura organizacional da Administração
Pública do Poder Executivo Estadual e dá outras
providências.
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber
que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a
seguinte Lei:
Art. 1º - A Administração Pública Estadual fica modificada
na forma da presente Lei.
Art. 2º - Ficam alteradas as denominações das seguintes
Secretarias de Estado:
I - Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte -
SETRAS, para Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e
Esporte - SETRE;
II - Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades
Sociais - SECOMP, para Secretaria de Desenvolvimento
Social e Combate à Pobreza - SEDES;
III - Secretaria de Governo - SEGOV para Casa Civil;
IV - Secretaria de Cultura e Turismo - SCT, para Secretaria
de Cultura - SECULT;
V - Secretaria da Justiça e Direitos Humanos - SJDH, para
Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos -
SJCDH.
Art. 3º - Ficam criadas as seguintes Secretarias:
I - Secretaria de Relações Institucionais - SERIN;
II - Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI;
III - Secretaria de Desenvolvimento e Integração
Regional ?" SEDIR;
IV - Secretaria de Turismo - SETUR.
Art. 4º - Ficam transferidas as seguintes atividades, funções,
fundos, órgãos e entidades:
I - da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte -
SETRE, para a Secretaria de Desenvolvimento Social e
Combate à Pobreza - SEDES:
a) a Superintendência de Assistência Social;
b) o Fundo Estadual de Assistência Social, de que trata a
Lei 6.930/95;
c) o Fundo Estadual de Atendimento à Criança e ao
Adolescente, de que trata a Lei 6975/96;
d) a Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC;
e) o Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
f) o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente -
CECA;
g) a Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
h) a Coordenação de Defesa Civil - CORDEC;
II - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
Pobreza - SEDES, para a Casa Civil, o Fundo Estadual de
Combate e Erradicação da Pobreza - FUNCEP, instituído
pelo art. 4º da Lei7.988/2001;
III - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
Pobreza - SEDES, para a Casa Civil:
a) a Diretoria Executiva do FUNCEP criada pelo art. 2º, II,
e § 8º da Lei 7.988/2001, com as alterações introduzidas
pela Lei 9.509/2005, exceto a Coordenação de Orçamento e
Finanças;
b) o Conselho de Políticas de Inclusão Social;
c) a Câmara Técnica de Gestão de Programas;
IV - da Casa Civil:
a) para a Secretaria de Relações Institucionais " SERIN: as
funções de coordenação de assuntos legislativos;
b) para o Gabinete do Governador, órgão vinculado
diretamente ao Governador: a Ouvidoria Geral do Estado, a
Secretaria Particular do Governador, o Escritório de
Representação do Governo, o Cerimonial e a Assessoria
Especial do Governador;
V - da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Turismo -
SETUR:
a) a Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos;
b) a Empresa de Turismo da Bahia S/A " BAHIATURSA;
VI - da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
- SJCDH, para a Secretaria de Promoção da Igualdade -
SEPROMI:
a) o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra;
b) o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher;
VII - da Secretaria do Planejamento - SEPLAN para a
Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional -
SEDIR:
a) os Conselhos Regionais de Desenvolvimento;
b) a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional ?"
CAR.
Art. 5º - As estruturas básicas da Secretaria de Relações
Institucionais - SERIN, da Secretaria de Promoção da
Igualdade - SEPROMI e da Secretaria de Desenvolvimento
e Integração Regional - SEDIR, não conterão a Diretoria
Geral prevista no art. 2º da Lei 7.435/98.
Parágrafo único - Fica criada a Diretoria de Administração e
Finanças em cada uma das Secretarias referidas neste artigo
e no Gabinete do Governador, tendo por finalidade o
planejamento e coordenação das atividades de programação,
orrnamentação, acompanhamento, avaliação, estudos e
análises, administração financeira e de contabilidade,
material, patrimônio, serviços, recursos humanos,
modernização administrativa e informática.
Art. 6º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN
tem por finalidade a coordenação política do Poder
Executivo e de suas relações com os demais Poderes das
diversas esferas de Governo, com a sociedade civil e suas
instituições.
§ 1º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN tem a
seguinte estrutura básica:
a) Gabinete do Secretário;
b) Diretoria de Administração e Finanças;
c) Coordenação de Assuntos Legislativos;
d) Coordenação de Assuntos Federativos;
e) Coordenação de Articulação Social.
Parágrafo único - As Coordenações têm por objetivo o
planejamento, a execução e o controle das atividades a cargo
da Secretaria de Relações Institucionais " SERIN, conforme
dispuser o Regulamento.
Art. 7º - A Secretaria de Promoção da Igualdade -
SEPROMI tem por finalidade planejar e executar políticas
de promoção da igualdade racial e proteção dos direitos de
indivíduos e grupos étnicos atingidos pela discriminação e
demais formas de intolerância, bem assim, planejar e
executar as políticas públicas de caráter transversal para as
mulheres.
§ 1º - A Secretaria de Promoção à Igualdade - SEPROMI
tem a seguinte estrutura básica:
I - Órgãos Colegiados:
a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra;
b) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher;
II - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário;
b) Diretoria de Administração e Finanças;
c) Superintendência de Políticas para as Mulheres;
d) Superintendência de Promoção da Igualdade Racial.
§ 2º - A Superintendência de Políticas para as Mulheres tem
por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,
controlar e executar programas e atividades voltadas à
implementação de políticas para as mulheres, implementar
ações afirmativas e definir ações públicas de promoção da
igualdade entre homens e mulheres e de combate à
discriminação.
§ 3º - A Superintendência de Promoção da Igualdade Racial
tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,
controlar e executar programas e atividades voltadas à
implementação de políticas e diretrizes para a promoção da
igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos
raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais
formas de intolerância.
§ 4º - Fica acrescida à composição do Conselho de
Desenvolvimento da Comunidade Negra e do Conselho
Estadual de Defesa dos Diretos da Mulher, de que tratam as
alíneas a e b do art. 17 da Lei nº 4.697/87, a representação
da Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI.
Art. 8º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração
Regional - SEDIR tem por finalidade planejar e coordenar a
execução da política estadual de desenvolvimento regional
integrado; formular, em parceria com o Conselho Estadual
de Desenvolvimento Econômico e Social, os planos e
programas regionais de desenvolvimento; estabelecer
estratégias de integração das economias regionais;
acompanhar e avaliar os programas integrados de
desenvolvimento regional.
§ 1º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração
Regional - SEDIR tem a seguinte estrutura básica:
I - Órgãos Colegiados:
a) Conselhos Regionais de Desenvolvimento.
II - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário;
b) Diretoria de Administração e Finanças;
c) Coordenação de Políticas do Desenvolvimento Regional;
d) Coordenação de Programas Regionais;
III - Entidade da Administração Indireta:
a) Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional - CAR.
§ 2º - As coordenações têm por objetivo o planejamento, a
execução e o controle das atividades a cargo da Secretaria de
Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR, conforme
dispuser o regulamento.
Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão de assistência
direta e imediata ao Governador, tem a seguinte estrutura
básica:
a) Chefia do Gabinete;
b) Ouvidoria Geral do Estado;
c) Secretaria Particular do Governador;
d) Cerimonial;
e) Assessoria Especial do Governador;
f) Assessoria Internacional;
g) Escritório de Representação do Governo;
h) Diretoria de Administração e Finanças.
Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe de Gabinete
do Governador, ao qual são asseguradas as prerrogativas,
representação, remuneração e impedimentos de Secretário
de Estado, cabendo-lhe a supervisão e a coordenação dos
órgãos integrantes da estrutura do Gabinete do Governador,
a elaboração da agenda e o exercício de outras atribuições
designadas pelo Governador.
Art. 10 - A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e
Esporte - SETRE tem por finalidade planejar e executar as
políticas de emprego e renda e de apoio à formação do
trabalhador, de economia solidária e de fomento ao esporte.
Parágrafo único - Fica criada na Secretaria do Trabalho,
Emprego, Renda e Esporte - SETRE a Superintendência de
Economia Solidária, com a finalidade de planejar,
coordenar, executar e acompanhar as ações e programas de
fomento à economia solidária.
Art. 11 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
Combate à Pobreza - SEDES tem por finalidade planejar,
coordenar, executar e fiscalizar as políticas de
desenvolvimento social, segurança alimentar e nutricional e
de assistência social.
§ 1º - A Superintendência de Apoio à Inclusão Social, passa
a ser denominada Superintendência de Inclusão e
Assistência Alimentar, com a finalidade de promover as
ações de inclusão social e de assistência alimentar, conforme
dispuser o regulamento.
§ 2º - Fica extinta a Superintendência de Articulação e
Programas Especiais.
Art. 12 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
Combate à Pobreza - SEDES tem a seguinte estrutura
básica:
I - Órgãos Colegiados:
a) Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
b) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente - CECA;
c) Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
d) Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do
Estado da Bahia - CONSEA ?" BA;
II - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário;
b) Diretoria Geral;
c) Superintendência de Assistência Social;
d) Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar;
III - Órgãos em Regime Especial de Administração Direta:
a) Coordenação de Defesa Civil - CORDEC.
IV - Entidade da Administração Indireta:
a) Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC.
Parágrafo único - O Secretário do Desenvolvimento Social e
Combate à Pobreza - SEDES passa a integrar na condição de
presidente, o Conselho Estadual de Assistência Social -
CEAS, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente - CECA e a Comissão Interinstitucional de
Defesa Civil - CIDEC.
Art. 13 - A Secretaria de Turismo - SETUR tem por
finalidade planejar, coordenar e executar políticas de
promoção e fomento ao turismo.
§ 1º - A Secretaria de Turismo - SETUR tem a seguinte
estrutura básica:
I - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário;
b) Diretoria Geral;
c) Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos;
d) Superintendência de Serviços Turísticos.
II - Entidade da Administração Indireta:
a) Empresa de Turismo da Bahia S/A - BAHIATURSA.
§ 2º - A Superintendência de Serviços Turísticos tem por
finalidade planejar e executar programas e projetos de
qualificação de serviços e mão-de-obra, capacitação
empresarial, certificação de qualidade, regulação e
fiscalização de atividades turísticas.
Art. 14 - Ficam criadas:
I - na Secretaria da Agricultura - SEAGRI: a
Superintendência de Agricultura Familiar, com a finalidade
de orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, controlar e
executar programas e atividades voltados ao fortalecimento
da agricultura familiar.
II - na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos -
SJCDH:
a) a Coordenação Executiva de Defesa dos Direitos da
Pessoa com Deficiência, com a finalidade de promover e
fortalecer o desenvolvimento dos programas e ações
voltados para a defesa dos direitos da pessoa portadora de
deficiência;
b) a Coordenação de Políticas para os Povos Indígenas,
vinculada à Superintendência de Apoio e Defesa aos
Direitos Humanos.
Art. 15 - Para atender à implantação dos novos órgãos
criados por esta Lei e às adequações na estrutura da
Administração Pública Estadual, ficam criados 04 (quatro)
cargos de Secretário de Estado e os cargos em comissão
constantes do Anexo Único desta Lei.
Art. 16 - Ficam extintos os cargos em comissão constantes
do Anexo Único desta Lei.
Art. 17 - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a
promover, no prazo de 120 (cento e vinte) dias: Citado por 3
I - a revisão e a elaboração dos regimentos, estatutos e
outros instrumentos regulamentadores para adequação das
alterações organizacionais decorrentes desta Lei;
II - as modificações orçamentárias necessárias ao
cumprimento desta Lei, respeitados os valores globais
constantes do orçamento do exercício de 2007.
Parágrafo único - As modificações de que trata o inciso II
deste artigo incluem a abertura de créditos especiais
destinados, exclusivamente, à criação de categorias de
programação indispensáveis ao funcionamento de órgãos
criados ou decorrentes desta Lei, respeitado o Art. 7º da Lei
Orçamentária de 2007. Citado por 1
Art. 18 - Fica o Poder Executivo autorizado a praticar os
atos necessários à continuidade dos serviços, até a definitiva
estruturação dos órgãos criados ou reorganizados por esta
Lei.
Art. 19 - Esta Lei entrará em vigor em 1º de janeiro de
2007.
Art. 20 - Revogam-se as disposições em contrário.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em
28 de dezembro de 2006.
PAULO SOUTO
Governador Ruy Tourinho Secretário de Governo
Armando Avena Filho
Secretário do Planejamento Ana Lúcia Barbosa Castelo
Branco Secretária da Administração
Walter Cairo de Oliveira Filho
Secretário da Fazenda
Pedro Barbosa de Deus
Secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária
Anaci Bispo Paim Secretária da Educação
Cláudio Melo
Secretário de Infra-Estrutura
Sérgio Ferreira
Secretário da Justiça e Direitos Humanos
José Antônio Rodrigues Alves
Secretário da Saúde
José Luiz Pérez Garrido
Secretário da Indústria, Comércio e Mineração
Eduardo Oliveira Santos
Secretário do Trabalho, Assistência Social e Esporte
Edemilson Nunes de Almeida Secretário da Segurança
Pública
Paulo Renato Dantas Gaudenzi
Secretário da Cultura e Turismo Clodoveo Piazza Secretário
de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais
Rafael Lucchesi
Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação
Roberto Moussallem de Andrade
Secretário de Desenvolvimento Urbano
Vladimir Abdala Nunes
Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
LEI Nº 12.212 DE 04 DE MAIO DE 2011
Modifica a estrutura organizacional e de cargos em
comissão da Administração Pública do
Poder Executivo Estadual, e dá outras providências.
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber
que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a
seguinte Lei:
Art. 1º - A estrutura da Administração Pública do Poder
Executivo Estadual fica modificada, na forma da presente
Lei.
Art. 2º - Fica criada a Secretaria de Políticas para as
Mulheres - SPM, com a finalidade de planejar, coordenar e
articular a execução de políticas públicas para as mulheres,
tendo a seguinte estrutura organizacional básica:
I - Órgão Colegiado:
a) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher -
CDDM;
II - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete da Secretária;
b) Diretoria de Administração e Finanças;
c) Coordenação de Articulação Institucional e Ações
Temáticas;
d) Coordenação de Planejamento e Gestão de Políticas para
as Mulheres.
Art. 3º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
Mulher - CDDM,órgão consultivo, tem por finalidade
estabelecer diretrizes e normas relativas às políticas e
medidas que visem eliminar a discriminação e garantir
condições de liberdade e equidade de direitos para a mulher,
assegurando sua plena participação nas atividades políticas,
sociais, econômicas e culturais do Estado.
Parágrafo único - As normas de funcionamento do CDDM
serão estabelecidas em Regimento próprio.
Art. 4º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
Mulher - CDDM tem a seguinte composição:
I - a Secretária de Políticas para as Mulheres, que o
presidirá;
II - 06 (seis) servidoras estaduais, representantes das
Secretarias de Promoção da Igualdade Racial, da Educação,
da Saúde, da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, do
Trabalho, Emprego, Renda e Esporte e da Segurança
Pública;
III - 12 (doze) representantes da sociedade civil, sendo:
a) 05 (cinco) membros de organizações de mulheres,
legalmente constituídas;
b) 02 (duas) de notória atuação na luta pela defesa dos
direitos da mulher;
c) 01 (uma) da comunidade acadêmica vinculada ao estudo
da condição feminina;
d) 01 (uma) das trabalhadoras rurais;
e) 01 (uma) das trabalhadoras urbanas;
f) 01 (uma) das mulheres negras;
g) 01 (uma) indígena.
§ 1º - As titulares do Conselho e suas suplentes serão
nomeadas pelo Governador do Estado, sendo que as
referidas nos incisos II e III, deste artigo, serão indicadas
pelos respectivos órgãos e entidades.
§ 2º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
Mulher manterá a atual composição até a definitiva
indicação e nomeação dos representantes dos órgãos e
entidades que o compõem, conforme estabelecido nos
incisos II e III deste artigo.
Art. 5º - O Gabinete da Secretária tem por finalidade prestar
assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas técnicas e
administrativas.
Art. 6º - A Diretoria de Administração e Finanças tem por
finalidade o planejamento e coordenação das atividades de
programação, ornamentação, acompanhamento, avaliação,
estudos e análises, administração financeira e de
contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos
humanos, modernização administrativa e informática.
Art. 7º - A Coordenação de Articulação Institucional e
Ações Temáticas tempor finalidade integrar as políticas para
as mulheres nas áreas de educação, saúde, trabalho e
participação política, visando o combate à violência contra a
mulher e a redução das desigualdades de gênero e a
eliminação de todas as formas de discriminação
identificadas.
Art. 8º - A Coordenação de Planejamento e Gestão de
Políticas para as Mulheres tem por finalidade apoiar a
formulação e a implementação de políticas públicas de
gênero, de forma transversal.
Art. 9º - Fica alterada a denominação da Secretaria de
Promoção da Igualdade - SEPROMI para Secretaria de
Promoção da Igualdade Racial - SEPROMI, que passa a ter
por finalidade planejar e executar políticas de promoção da
igualdade racial e de proteção dos direitos de indivíduos e
grupos étnicos atingidos pela discriminação e demais formas
de intolerância.
Art. 10 - Ficam excluídas da finalidade e competências da
SEPROMI as atividades pertinentes ao planejamento e
execução das políticas públicas de caráter transversal para as
mulheres.
Parágrafo único - Fica transferido da SEPROMI para a
Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM o Conselho
Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher - CDDM.
Art. 11 - A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial
passa a ter a seguinte estrutura organizacional básica:
I - Órgão Colegiado:
a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra -
CDCN;
II - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário;
b) Diretoria de Administração e Finanças;
c) Coordenação de Promoção da Igualdade Racial;
d) Coordenação de Políticas para as Comunidades
Tradicionais.
Art. 12 - O Conselho de Desenvolvimento da Comunidade
Negra - CDCN, órgão colegiado, tem por finalidade estudar,
propor e acompanhar medidas de relacionamento dos órgãos
governamentais com a comunidade negra, visando resgatar o
direito à sua plena cidadania e participação na sociedade.
Art. 13 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade
prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas
técnicas e administrativas.
Art. 14 - A Diretoria de Administração e Finanças tem por
finalidade o planejamento e coordenação das atividades de
programação, orçamentação, acompanhamento, avaliação,
estudos e análises, administração financeira e de
contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos
humanos, modernização administrativa e informática.
Art. 15 - A Coordenação de Promoção da Igualdade Racial
tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,
controlar e executar programas e atividades voltadas à
implementação de políticas e diretrizes para a promoção da
igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos
raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais
formas de intolerância.
Art. 16 - A Coordenação de Políticas para as Comunidades
Tradicionais tem por finalidade formular políticas de
promoção da defesa dos direitos e interesses das
comunidades tradicionais, inclusive quilombolas, no Estado
da Bahia, reduzindo as desigualdades e eliminando todas as
formas de discriminação identificadas.
Art. 17 - A estrutura de cargos em comissão da SEPROMI
fica alterada, na forma a seguir indicada:
I - ficam extintos 02 (dois) cargos de Superintendente,
símbolo DAS-2A;
II - ficam criados 02 (dois) cargos de Coordenador
Executivo, símbolo DAS-2B;
III - ficam remanejados, da extinta Superintendência de
Políticas para as Mulheres para a Coordenação de Políticas
para as Comunidades Tradicionais, ora criada, 01 (um)
cargo de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de
Coordenador II, símbolo DAS-3, 01 (um) cargo de
Coordenador III, símbolo DAI-4 e 01 (um) cargo de
Secretário Administrativo I, símbolo DAI-5.
Art. 18 - Fica criado, na estrutura de cargos em comissão da
SEPROMI, alocado na Diretoria de Administração e
Finanças, 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo
DAS-3.
Art. 19 - Fica criada a Secretaria de Administração
Penitenciária e Ressocialização - SEAP, com a finalidade de
formular políticas de ações penais e de ressocialização de
sentenciados, bem como de planejar, coordenar e executar,
em harmonia com o Poder Judiciário, os serviços penais do
Estado, tendo a seguinte estrutura organizacional básica:
I - Órgãos Colegiados:
a) Conselho Penitenciário - CP;
b) Conselho de Operações do Sistema Prisional;
II - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário;
b) Ouvidoria;
c) Corregedoria do Sistema Penitenciário;
d) Coordenação de Monitoramento e Avaliação do Sistema
Prisional;
e) Diretoria Geral;
f) Superintendência de Ressocialização Sustentável;
g) Superintendência de Gestão Prisional:
1. Sistema Prisional;
h) Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas
Alternativas da Bahia - CEAPA:
1. Núcleos de Apoio e Acompanhamento às Penas e
Medidas Alternativas.
Art. 20 - O Conselho Penitenciário - CP, órgão consultivo e
fiscalizador da execução penal, tem por finalidade
estabelecer diretrizes e normas relativas à política criminal e
penitenciária no Estado.
Parágrafo único - As normas de funcionamento do CP
serão estabelecidas em Regimento próprio.
Lei nº 10.678-03 - Cria a Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial
Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, da Presidência da República, e dá outras
providências.
Faço saber que o Presidente da República adotou a
Medida Provisória nº 111, de 2003, que o Congresso
Nacional aprovou, e eu, Eduardo Siqueira Campos, Segundo
Vice-Presidente, no exercício da Presidência da Mesa do
Congresso Nacional, para os efeitos do disposto no art. 62
da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda
constitucional nº 32, combinado com o art. 12 da Resolução
nº 1, de 2002-CN, promulgo a seguinte Lei:
Art. 1 o Fica criada, como órgão de assessoramento
imediato ao Presidente da República, a Secretaria Especial
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Art. 2 o À Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial compete assessorar direta e
imediatamente o Presidente da República na formulação,
coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a
promoção da igualdade racial, na formulação, coordenação e
avaliação das políticas públicas afirmativas de promoção da
igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos
raciais e étnicos, com ênfase na população negra, afetados
por discriminação racial e demais formas de intolerância, na
articulação, promoção e acompanhamento da execução dos
programas de cooperação com organismos nacionais e
internacionais, públicos e privados, voltados à
implementação da promoção da igualdade racial, na
formulação, coordenação e acompanhamento das políticas
transversais de governo para a promoção da igualdade
racial, no planejamento, coordenação da execução e
avaliação do Programa Nacional de Ações Afirmativas e na
promoção do acompanhamento da implementação de
legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas
que visem o cumprimento dos acordos, convenções e outros
instrumentos congêneres assinados pelo Brasil, nos aspectos
relativos à promoção da igualdade e de combate à
discriminação racial ou étnica, tendo como estrutura básica
o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade
Racial - CNPIR, o Gabinete e até três Subsecretarias.
Art. 3 o O CNPIR será presidido pelo titular da
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, da Presidência da República, e terá a sua
composição, competências e funcionamento estabelecidos
em ato do Poder Executivo, a ser editado até 31 de agosto de
2003.
Parágrafo único. A Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República,
constituirá, no prazo de noventa dias, contado da publicação
desta Lei, grupo de trabalho integrado por representantes da
Secretaria Especial e da sociedade civil, para elaborar
proposta de regulamentação do CNPIR, a ser submetida ao
Presidente da República.
Art. 4 o Ficam criados, na Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência
da República, um cargo de natureza especial de Secretário
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e um
cargo de Secretário-Adjunto, código DAS 101.6.
Parágrafo único. O cargo de natureza especial referido
no caput terá prerrogativas, garantias, vantagens e direitos
equivalentes ao de Ministro de Estado e a remuneração de
R$ 8.280,00 (oito mil, duzentos e oitenta reais).
Art. 5 o Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação.
Congresso Nacional, em 23 de maio de 2003; 182 º da
Independência e 115 º da República.
Senador EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS
Segundo Vice-Presidente da Mesa do Congresso
Nacional , no exercício da Presidência
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 26.5.2003
DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969.
Promulga a Convenção Internacional sobre a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, HAVENDO o
Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo nº
23, de 21 de junho de 1967, a Convenção Internacional
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação
Racial, que foi aberta à assinatura em Nova York e assinada
pelo Brasil a 07 de março de 1966;
E HAVENDO sido depositado o Instrumento brasileiro de
Ratificação, junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, a
27 de março de 1968;
E TENDO a referida Convenção entrada em vigor, de
conformidade com o disposto em seu artigo 19, parágrafo 1º,
a 04 de janeiro de 1969;
DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente
Decreto, seja executada e cumprida tão inteiramente como
ela nele contém.
Brasília, 08 de dezembro de 1969; 148º da Independência
e 81º da República.
Emílio G. Médici
Mário Gibson Barbosa
A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A
ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE
DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
Os Estados Partes na presente Convenção,
Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se
em princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos os
seres humanos, e que todos os Estados Membros
comprometeram-se a tomar medidas separadas e conjuntas,
em cooperação com a Organização, para a consecução de
um dos propósitos das Nações Unidas que é promover e
encorajar o respeito universal e observancia dos direitos
humanos e liberdades fundamentais para todos, sem
discriminação de raça, sexo, idioma ou religião.
Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do
Homem proclama que todos os homens nascem livres e
iguais em dignidade e direitos e que todo homem tem todos
os direitos estabelecidos na mesma, sem distinção de
qualquer espécie e principalmente de raça, cor ou origem
nacional,
Considerando todos os homens são iguais perante a lei e
têm o direito à igual proteção contra qualquer discriminação
e contra qualquer incitamento à discriminação,
Considerando que as Nações Unidas têm condenado o
colonialismo e todas as práticas de segregação e
discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde
quer que existam, e que a Declaração sobre a Conceção de
Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de
dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da Assembléia
Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de
levá-las a um fim rapido e incondicional,
Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre
eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, de
20 de novembro de 1963, (Resolução 1.904 ( XVIII) da
Assembléia-Geral), afirma solemente a necessidade de
eliminar rapidamente a discriminação racial através do
mundo em todas as suas formas e manifestações e de
assegurar a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa
humana,
Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade
baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa,
moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em
que, não existe justificação para a discriminação racial, em
teoria ou na prática, em lugar algum,
Reafirmando que a discriminação entre os homens por
motivos de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo a
relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de
disturbar a paz e a segurança entre povos e a harmonia de
pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo
Estado,
Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna
os ideais de qualquer sociedade humana,
Alarmados por manifestações de discriminação racial
ainda em evidência em algumas áreas do mundo e por
políticas governamentais baseadas em superioridade racial
ou ódio, como as políticas de apartheid, segregação ou
separação.
Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para
eliminar rapidamente a discriminação racial em, todas as
suas formas e manifestações, e a prevenir e combater
doutrinas e práticas raciais com o objetivo de promover o
entendimento entre as raças e construir uma comunidade
internacional livre de todas as formas de separação racial e
discriminação racial,
Levando em conta a Convenção sobre Discriminação nos
Emprego e Ocupação adotada pela Organização
internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção contra
discriminação no Ensino adotada pela Organização das
Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960,
Desejosos de completar os princípios estabelecidos na
Declaração das Nações unidas sobre a Eliminação de todas
as formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo
possível a adoção de medidas práticas para esse fim,
Acordaram no seguinte:
PARTE I
Artigo I
1. Nesta Convenção, a expressão "discriminação racial"
significará qualquer distinção, exclusão restrição ou
preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem
nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo
plano,( em igualdade de condição), de direitos humanos e
liberdades fundamentais no domínio político econômico,
social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida
pública.
2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções,
exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado
Parte nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos.
3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como
afetando as disposições legais dos Estados Partes, relativas a
nacionalidade, cidadania e naturalização, desde que tais
disposições não discriminem contra qualquer nacionalidade
particular.
4. Não serão consideradas discriminação racial as
medidas especiais tomadas com o único objetivo de
assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou
étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que
possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou
indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e
liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não
conduzam, em conseqüência, à manutenção de direitos
separados para diferentes grupos raciais e não prossigam
após terem sidos alcançados os seus objetivos.
Artigo II
1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial e
comprometem-se a adotar, por todos os meios apropriados e
sem tardar uma política de eliminação da discriminação
racial em todas as suas formas e de promoção de
entendimento entre todas as raças e para esse fim:
a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum ato
ou prática de discriminação racial contra pessoas, grupos de
pessoas ou instituições e fazer com que todas as autoridades
públicas nacionais ou locais, se conformem com esta
obrigação;
b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar,
defender ou apoiar a discriminação racial praticada por uma
pessoa ou uma organização qualquer;
c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas eficazes, a
fim de rever as politicas governamentais nacionais e locais e
para modificar, ab-rogar ou anular qualquer disposição
regulamentar que tenha como objetivo criar a discriminação
ou perpetrá-la onde já existir;
d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios
apropriados, inclusive se as circunstâncias o exigiria, as
medidas legislativas, proibir e por fim, a discriminação
racial praticadas por pessoa, por grupo ou das organizações;
e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, quando
for o caso as organizações e movimentos multirraciais e
outros meios próprios a eliminar as barreiras entre as raças e
a desencorajar o que tende a fortalecer a divisão racial.
2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o
exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,
as medidas especiais e concretas para assegurar como
convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos
raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com o
objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
fundamentais.
Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a
finalidade de manter direitos grupos raciais, depois de
alcançados os objetivos em razão dos quais foram tomadas.
Artigo III
Os Estados Partes especialmente condenam a segregação
racial e o apartheid e comprometem-se a proibir e a eliminar
nos territórios sob sua jurisdição todas as práticas dessa
natureza.
Artigo IV
Os Estados partes condenam toda propaganda e todas as
organizações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas
na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de
uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que
pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e
de discriminação raciais e comprometem-se a adotar
imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar
qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer
atos de discriminação com este objetivo tendo em vista os
princípios formulados na Declaração universal dos direitos
do homem e os direitos expressamente enunciados no artigo
5 da presente convenção, eles se comprometem
principalmente:
a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de
ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer
incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer
atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra
qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou
de outra origem técnica, como também qualquer assistência
prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento;
b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim
como as atividades de propaganda organizada e qualquer
outro tipo de atividade de propaganda que incitar a
discriminação racial e que a encorajar e a declara delito
punível por lei a participação nestas organizações ou nestas
atividades.
c) a não permitir as autoridades públicas nem ás
instituições públicas nacionais ou locais, o incitamento ou
encorajamento à discriminação racial.
Artigo V
De conformidade com as obrigações fundamentais
enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes comprometem-se
a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas
formas e a garantir o direito de cada uma à igualdade
perante a lei sem distinção de raça , de cor ou de origem
nacional ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes
direitos:
a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou
qualquer outro orgão que administre justiça;
b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Estado
contra violência ou ou lesão corporal cometida que por
funcionários de Governo, quer por qualquer individuo,
grupo ou instituição.
c) direitos políticos principalmente direito de participar às
eleições - de votar e ser votado - conforme o sistema de
sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Governo,
assim como na direção dos assuntos públicos, em qualquer
grau e o direito de acesso em igualdade de condições, às
funções públicas.
d) Outros direitos civis, principalmente,
i) direito de circular livremente e de escolher residência
dentro das fronteiras do Estado;
ii) direito de deixar qualquer pais, inclusive o seu, e de
voltar a seu país;
iii) direito de uma nacionalidade;
iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge;
v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente como
em conjunto, à propriedade;
vi) direito de herda;
vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
religião;
viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;
ix) direito à liberdade de reunião e de associação pacífica;
e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmente:
i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a
condições equitativas e satisfatórias de trabalho à proteção
contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho
igual, a uma remuneração equitativa e satisfatória;
ii) direito de fundar sindicatos e a eles se filiar;
iii) direito à habitação;
iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à
previdência social e aos serviços sociais;
v) direito a educação e à formação profissional;
vi) direito a igual participação das atividades culturais;
f) direito de acesso a todos os lugares e serviços
destinados ao uso do publico, tais como, meios de transporte
hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.
Artigo VI
Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que
estiver sob sua jurisdição, proteção e recursos efetivos
perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado
competentes, contra quaisquer atos de discriminação racial
que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus
direitos individuais e suas liberdades fundamentais, assim
como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfação ou
repartição justa e adequada por qualquer dano de que foi
vitima em decorrência de tal discriminação.
Artigo VII
Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medidas
imediatas e eficazes, principalmente no campo de ensino,
educação, da cultura e da informação, para lutar contra os
preconceitos que levem à discriminação racial e para
promover o entendimento, a tolerância e a amizade entre
nações e grupos raciais e éticos assim como para propagar
ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, da
Declaração das Nações Unidas sobre a eliminação de todas
as formas de discriminação racial e da presente Convenção.
PARTE II
Artigo VIII
1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da
discriminação racial (doravante denominado "o Comitê)
composto de 18 peritos conhecidos para sua alta moralidade
e conhecida imparcialidade, que serão eleitos pelos Estados
Membros dentre seus nacionais e que atuarão a título
individual, levando-se em conta uma repartição geográfica
equitativa e a representação das formas diversas de
civilização assim como dos principais sistemas jurídicos.
2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutínio
secreto de uma lista de candidatos designados pelos Estados
Partes, Cada Estado Parte poderá designar um candidato
escolhido dentre seus nacionais.
3. A primeira eleição será realizada seis meses após a data
da entrada em vigor da presente Convenção. Três meses
pelo menos antes de cada eleição, o Secretário Geral das
Nações Unidas enviará uma Carta aos Estados Partes para
convidá-los a apresentar suas candidaturas no prazo de dois
meses. O Secretário Geral elaborará uma lista por ordem
alfabética, de todos os candidatos assim nomeados com
indicação dos Estados partes que os nomearam, e a
comunicará aos Estados Partes.
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma
reunião dos Estados Partes convocada pelo Secretário Geral
das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quorum
será alcançado com dois terços dos Estados Partes, serão
elitos membros do Comitê, os candidatos que obtiverem o
maior número de votos e a maioria absoluta de votos dos
representantes dos Estados Partes presentes e votantes.
5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um período
de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos membros
eleitos na primeira eleição, expirará ao fim de dois anos;
logo após a primeira eleição os nomes desses nove membros
serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê.
b) Para preencher as vagas fortuítas, o Estado Parte, cujo
perito deixou de exercer suas funções de membro do
Comitê, nomeará outro períto dentre seus nacionais, sob
reserva da aprovação do Comitê.
6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas
dos membros do Comitê para o período em que estes
desempenharem funções no Comitê.
Artigo IX
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao
Secretário Geral para exame do Comitê, um relatório sobre
as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras
que tomarem para tornarem efetivas as disposições da
presente Convenção:
a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em vigor
da Convenção, para cada Estado interessado no que lhe diz
respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda vez que o
Comitê o solicitar. O Comitê poderá solicitar informações
complementares aos Estados Partes.
2. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia Geral,
um relatório sobre suas atividades e poderá fazer sugestões e
recomendações de ordem geral baseadas no exame dos
relatórios e das informações recebidas dos Estados Partes.
Levará estas sugestões e recomendações de ordem geral ao
conhecimento da Assembleia Geral, e se as houver
juntamente com as observações dos Estados Partes.
Artigo X
1. O Comitê adotará seu regulamento interno.
2. O Comitê alegará sua mesa por um período de dois
anos.
3. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
foi necessários serviços de Secretaria ao Comitê.
4. O Comitê reunir-se-à normalmente na Sede das Nações
Unidas.
Artigo XI
1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igualmente
Parte não aplica as disposições da presente Convenção
poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão. O
Comitê transmitirá, então, a comunicação ao Estado Parte
interessado. Num prazo de três meses, o Estado destinatário
submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por
escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as medidas
corretivas que por acaso tenham sido tomadas pelo referido
Estado.
2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da data do
recebimento da comunicação original pelo Estado
destinatário a questão não foi resolvida a contento dos dois
Estados, por meio de negociações bilaterais ou por qualquer
outro processo que estiver a sua disposição, tanto um como
o outro terão o direito de submetê-la novamente ao Comitê,
endereçando uma notificação ao Comitê assim como ao
outro Estado interessado.
3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma
questão, de acordo com o parágrafo 2 do presente artigo,
após ter constatado que todos os recursos internos
disponíveis foram interpostos ou esgotados, de
conformidade com os princípios do direito internacional
geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará se os
procedimentos de recurso excederem prazos razoáveis.
4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê
poderá solicitar aos Estados-Partes presentes que lhe
forneçam quaisquer informações complementares
pertinentes.
5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme o
presente Artigo os Estados Partes interessados terão o direito
de nomear um representante que participará sem direito de
voto dos trabalhos no Comitê durante todos os debates.
Artigo XII
1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as
informações que julgar necessárias, o Presidente nomeará
uma Comissão de Conciliação ad hoc (doravante
denominada " A Comissão", composta de 5 pessoas que
poderão ser ou não membros do Comitê. Os membros serão
nomeados com o consentimento pleno e unânime das partes
na controvérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a
disposição dos Estados presentes, com o objetivo de chegar
a uma solução amigável da questão, baseada no respeito à
presente Convenção.
b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem a
um entendimento em relação a toda ou parte da composição
da Comissão num prazo de três meses os membros da
Comissão que não tiverem o assentimento do Estados
Partes, na controvérsia serão eleitos por escrutínio secreto
entre os membros de dois terços dos membros do Comitê.
2. Os membros da Comissão atuarão a título individual.
Não deverão ser nacionais de um dos Estados Partes na
controvérsia nem de um Estado que não seja parte da
presente Convenção.
3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu
regimento interno.
4. A Comissão reunir-se-a normalmente na sede nas
Nações Unidas em qualquer outro lugar apropriado que a
Comissão determinar.
5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10
prestará igualmente seus serviços à Comissão cada ver que
uma controvérsia entre os Estados Partes provocar sua
formação.
6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão
divididos igualmente entre os Estados Partes na controvérsia
baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral.
7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for
necessário, as despesas dos membros da Comissão, antes
que o reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na
controvérsia, de conformidade com o parágrafo 6 do
presente artigo.
8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê
serão postas à disposição da Comissão, e a Comissão poderá
solicitar aos Estados interessados se lhe fornecer qualquer
informação complementar pertinente.
Artigo XIII
1. Após haver estudado a questão sob todos os seus
aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao Presidente
do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas as
questões de fato relativas à controvérsia entre as partes e as
recomendações que julgar oportunas a fim de chegar a uma
solução amistosa da controvérsia.
2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da
Comissão a cada um dos Estados Partes na controvérsia. Os
referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê
num prazo de três meses se aceitam ou não, as
recomendações contidas no relatório da Comissão.
3. Expirado o prazo previsto no parágrafo 2º do presente
artigo, o Presidente do Comitê comunicará o Relatório da
Comissão e as declarações dos Estados Partes interessadas
aos outros Estados Parte na Comissão.
Artigo XIV
1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer
momento que reconhece a competência do Comitê para
receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua
jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo
referido Estado Parte de qualquer um dos direitos
enunciados na presente Convenção. O Comitê não receberá
qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver
feito tal declaração.
2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de
conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá
criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica
nacional, que terá competência para receber e examinar as
petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdição
que alegarem ser vitimas de uma violação de qualquer um
dos direitos enunciados na presente Convenção e que
esgotaram os outros recursos locais disponíveis.
3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo 1
do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado ou
designado pelo Estado Parte interessado consoante o
parágrafo 2 do presente artigo será depositado pelo Estado
Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações
Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A
declaração poderá ser retirada a qualquer momento mediante
notificação ao Secretário Geral mas esta retirada não
prejudicará as comunicações que já estiverem sendo
estudadas pelo Comitê.
4. O órgão criado ou designado de conformidade com o
parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um registro de
petições e cópias autenticada do registro serão depositadas
anualmente por canais apropriados junto ao Secretário Geral
das Nações Unidas, no entendimento que o conteúdo dessas
cópias não será divulgado ao público.
5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão criado
ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do
presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a
questão ao Comitê dentro de seis meses.
6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer
comunicação que lhe tenha sido endereçada, ao
conhecimento do Estado Parte que, pretensamente houver
violado qualquer das disposições desta Convenção, mas a
identidade da pessoa ou dos grupos de pessoas não poderá
ser revelada sem o consentimento expresso da referida
pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê não receberá
comunicações anônimas.
b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá,
por escrito ao Comitê, as explicações ou recomendações que
esclarecem a questão e indicará as medidas corretivas que
por acaso houver adotado.
7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de todas
as informações que forem submetidas pelo Estado parte
interessado e pelo peticionário. O Comitê só examinará uma
comunicação de peticionário após ter-se assegurado que este
esgotou todos os recursos internos disponíveis. Entretanto,
esta regra não se aplicará se os processos de recurso
excederem prazos razoáveis.
b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações
eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário.
8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo
destas comunicações, se for necessário, um resumo das
explicações e declarações dos Estados Partes interessados
assim como suas próprias sugestões e recomendações.
9. O Comitê somente terá competência para exercer as
funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados
Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declarações
feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo.
Artigo XV
1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da
resolução 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de
dezembro de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão
da independência dos países e povos coloniais, as
disposições da presente convenção não restringirão de
maneira alguma o direito de petição concedida aos povos
por outros instrumentos internacionais ou pela Organização
das Nações Unidas e suas agências especializadas.
2. a) O Comitê constituído de conformidade com o
parágrafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia das
petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas que se
encarregarem de questões diretamente relacionadas com os
princípios e objetivos da presente Convenção e expressará
sua opinião e formulará recomendações sobre petições
recebidas quando examinar as petições recebidas dos
habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo ou de
qualquer outro território a que se aplicar a resolução 1514
(XV) da Assembleia Geral, relacionadas a questões tratadas
pela presente Convenção e que forem submetidas a esses
órgãos.
b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da
Organização das Nações Unidas cópia dos relatórios sobre
medidas de ordem legislativa judiciária, administrativa ou
outra diretamente relacionada com os princípios e objetivos
da presente Convenção que as Potências Administradoras
tiverem aplicado nos territórios mencionados na alínea "a"
do presente parágrafo e expressará sua opinião e fará
recomendações a esses órgãos.
3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembleia um
resumo das petições e relatórios que houver recebido de
órgãos das Nações Unidas e as opiniões e recomendações
que houver proferido sobre tais petições e relatórios.
4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações
Unidas qualquer informação relacionada com os objetivos
da presente Convenção que este dispuser sobre os territórios
mencionados no parágrafo 2 (a) do presente artigo.
Artigo XVI
As disposições desta Convenção relativas a solução das
controvérsias ou queixas serão aplicadas sem prejuízo de
outros processos para solução de controvérsias e queixas no
campo da discriminação previstos nos instrumentos
constitutivos das Nações Unidas e suas agências
especializadas, e não excluirá a possibilidade dos Estados
partes recomendarem aos outros, processos para a solução
de uma controvérsia de conformidade com os acordos
internacionais ou especiais que os ligarem.
Terceira Parte
Artigo XVII
1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de
todo Estado Membro da Organização das Nações Unidas ou
membro de qualquer uma de suas agências especializadas,
de qualquer Estado parte no Estatuto da Corte Internacional
de Justiça, assim como de qualquer outro Estado convidado
pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas a
torna-se parte na presente Convenção.
2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e os
instrumentos de ratificação serão depositados junto ao
Secretário Geral das Nações Unidas.
Artigo XVIII
1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de
qualquer Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo 17.
2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumento de
adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas.
Artigo XIX
1. Esta convenção entrará em vigor no trigésimo dia após
a data do deposito junto ao Secretário Geral das Nações
Unidas do vigésimo sétimo instrumento de ratificação ou
adesão.
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou
a ele aderir após o depósito do vigésimo sétimo instrumento
de ratificação ou adesão esta Convenção entrará em vigor no
trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de
ratificação ou adesão.
Artigo XX
1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e
enviará, a todos os Estados que forem ou vierem a torna-se
partes desta Convenção, as reservas feitas pelos Estados no
momento da ratificação ou adesão. Qualquer Estado que
objetar a essas reservas, deverá notificar ao Secretário Geral
dentro de noventa dias da data da referida comunicação, que
não aceita.
2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
objeto e o escopo desta Convenção nem uma reserva cujo
efeito seria a de impedir o funcionamento de qualquer dos
órgãos previstos nesta Convenção. Uma reserva será
considerada incompatível ou impeditiva se a ela objetarem
ao menos dois terços dos Estados partes nesta Convenção.
3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento
por uma notificação endereçada com esse objetivo ao
Secretário Geral. Tal notificação surgirá efeito na data de
seu recebimento.
Artigo XXI
Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Convenção
mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral
da Organização das Nações Unidas. A denúncia surtirá
efeito um ano após data do recebimento da notificação pelo
Secretário Geral.
Artigo XXI
Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Parte
relativa a interpretação ou aplicação desta Convenção que
não for resolvida por negociações ou pelos processos
previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de
qualquer das Partes na controvérsia. Submetida à decisão da
Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
concordem em outro meio de solução.
Artigo XXII
Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Partes
relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção, que
não for resolvida por negociações ou pelos processos
previstos expressamente nesta Convenção será, pedido de
qualquer das Partes na controvérsia, submetida à decisão da
Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
concordem em outro meio de solução.
Artigo XXIII
1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer
momento um pedido de revisão da presente Convenção,
mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral
das Nações Unidas.
2. A Assembleia-Geral decidirá a respeito das medidas a
serem tomadas, caso for necessário, sobre o pedido.
Artigo XXIV
O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
comunicará a todos os Estados mencionados no parágrafo 1º
do artigo 17 desta Convenção.
a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de
ratificação e de adesão de conformidade com os artigos 17 e
18;
b) a data em que a presente Convenção entrar em vigor,
de conformidade com o artigo 19;
c) as comunicações e declarações recebidas de
conformidade com os artigos 14, 20 e 23.
d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo 21.
Artigo XXV
1. Esta Convenção, cujos textos em chinês, espanhol,
inglês e russo são igualmente autênticos será depositada nos
arquivos das Nações Unidas.
2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias
autenticadas desta Convenção a todos os Estados
pertencentes a qualquer uma das categorias mencionadas no
parágrafo 1º do artigo 17.
Em fé do que os abaixo assinados devidamente
autorizados por seus Governos assinaram a presente
Convenção que foi aberta a assinatura em Nova York a 7 de
março de 1966.
Retificação
Na página 10.537, 1ª coluna, na Convenção Internacional
anexa ao Decreto, na alínea "a" do artigo IV, onde se lê:
...outra origem técnica,...
Leia-se:
...outra origem ética,...
Na 3ª coluna, no item 1 do artigo IX, onde se lê:
...o Comitê silicitar,...
Leia-se:
...o Comitê o solicitar,...
Na página 10.538, 4ª coluna, suprima-se:
"Artigo XXI
Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados partes
relativa à interpretação ou aplicação desta convenção, que
não for resolvida por negociações ou pelos processos
previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de
qualquer das partes da controvérsia, submetida à decisão da
Corte Internacional de Justiça a não ser que os ligantes
concordem em outro meio solução."
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou
o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra
injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que,
por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem
aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da
pena correspondente à violência.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada
pela Lei nº 10.741 , de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei
nº 9.459 , de 1997)
Disposições comuns
COMENTÁRIO
Na medida em que ocorre uma progressiva positivação
interna dos direitos humanos, principalmente como normas
constitucionais, aumenta-se o quadro valorativo em que o
legislador encontrará validade para a criação da lei penal.
Isto porque, como acima mencionado, o Direito Penal possui
como sua primordial função a proteção dos bens jurídicos
mais relevantes para a sociedade.
Desse modo, os bens jurídicos a serem protegidos na esfera
penal, se identificados como direitos fundamentais ou
reconhecidos como direitos humanos, se verão integrados,
expressa ou implicitamente, no quadro valorativo da
Constituição e de vários tratados de direitos humanos, de
sorte que a Constituição e os tratados passam a desempenhar
uma forte função de limite e fundamento para o Direito
Penal.
Por sua vez, sem adentrar na discussão doutrinária acerca de
qual seja o statusnormativo dos tratados internacionais de
direitos humanos
(status supranacional,status constitucional, status supralegal
ou status de lei ordinária), a nossa Constituição, no art.5º,
§3º, com a redação dada pela EC nº 45.2004, passou a dispor
que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais”.
Mesmo os tratados de direitos humanos que não se
sujeitaram ao processo de aprovação referido no art. 5º, §3º,
da CF, possuem lugar de destaque em nosso ordenamento
jurídico, conforme se deflui do próprio §3º do art.5º e de seu
§2º.
Como bem destacou o Ministro Gilmar Mendes em seu voto
proferido no julgamento do Recurso Extraordinário
466.343-1/SP:
Se tivermos em mente que o Estado constitucional
contemporâneo é também um estado cooperativo –
identificado pelo Professor Peter Häberle como aquele que
não mais se apresenta como um Estado Constitucional
voltado para si mesmo, mas que se disponibiliza como
referência para outros Estados Constitucionais membros de
uma comunidade, e no qual ganha relevo o papel dos
direitos humanos e fundamentais -, se levarmos isso em
consideração, podemos concluir que acabamos de dar um
importante passo na proteção dos direitos humanos em
nosso país e em nossa comunidade latino-america.
Nesse quadro de relevo dos tratados internacionais de
direitos humanos, estes devem funcionar como limite e
fundamento para o legislador no processo de criminalização.
Quando se diz que os tratados passam a atuar como limites,
significa sua função de garantia do indivíduo contra o poder
estatal, uma vez que o Direito Penal não possui atuação
livre, devendo observar os direitos fundamentais e os
humanos. Ademais, não se deve esquecer que o criminoso
merece o devido tratamento de acordo com sua condição de
ser humano.
Por outro lado, os tratados internacionais sobre direitos
humanos passam a serfundamento de validade para que os
direitos humanos sejam reconhecidos como bens jurídicos
sujeitos a proteção e promoção pela via penal.
Nessa perspectiva, verifica-se que o Brasil em vários
tratados se comprometeu a criar crimes para promover a
proteção dos direitos humanos.
Na Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional
de Menores, assinada na Cidade do México em 18 de março
de 1994 (Promulgada pelo Decreto nº 2.740, de 20 de agosto
de 1998), o Brasil se comprometeu a “adotar, em
conformidade com seu direito interno, medidas eficazes
para prevenir e sancionar severamente a ocorrência de
tráfico internacional de menores definido nesta Convenção”
(art.7º).
Na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de
Belém Do Pará), os “Estados Partes condenam todas as
formas de violência contra a mulher e convêm em adotar,
por todos os meios apropriados e sem demora, políticas
destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a
empenhar-se em: (…) b) agir com o devido zelo para
prevenir, investigar e punir a violência contra a mulher; c)
incorporar na sua legislação interna normas penais, civis,
administrativas e de outra natureza, que sejam necessárias
para prevenir, punir e erradicar a violência contra a
mulher, bem como adotar as medidas administrativas
adequadas que forem aplicáveis” (art. 7º).
Em relação à tortura, na Convenção Contra a Tortura e
Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (promulgada pelo Decreto nº 40, de
15.12.1991), “cada Estado Membro assegurará que todos
os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua
legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de
tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua
cumplicidade ou participação na tortura” (art.4º).
Ainda sobre a tortura, a Convenção Interamericana para
Prevenir e Punir a Tortura (ratificada pelo Brasil em 20 de
julho de 1989) prevê em seu art. 6º que“os Estados
Membros tomarão medidas efetivas a fim de prevenir e
punir a tortura no âmbito de sua jurisdição. Os Estados
Membros assegurar-se-ão de que todos os atos de tortura e
as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam
considerados delitos em seu Direito Penal, estabelecendo
penas severas para sua punição, que levem em conta sua
gravidade. Os Estados Membros obrigam-se também a
tomar medidas efetivas para prevenir e punir outros
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, no
âmbito de sua jurisdição”.
Na Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação Racial (Promulgada pelo Decreto
nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969), o Brasil se
comprometeu: a declarar como delitos puníveis por lei
qualquer difusão de idéias que estejam fundamentadas na
superioridade ou ódio raciais, quaisquer incitamentos à
discriminação racial, bem como atos de violência ou
provocação destes atos, dirigidos contra qualquer raça ou
grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica,
como também a assistência prestada a atividades racistas,
incluindo seu financiamento (art. 4º, “a”).
Nesse cenário, observa-se que os direitos humanos figuram
com destaque em nosso Estado Constitucional, de sorte que
se mostram merecedores de proteção pelo Direito Penal.
Mais do que o reconhecimento dos direitos humanos e dos
direitos fundamentais, a preocupação é a sua efetividade,
que nas palavras de Barroso significa:
A realização do Direito, o desempenho concreto de sua
função social. Ela representa a materialização, no mundo
dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação,
tão íntima quanto possível, entre o dever-sernormativo e
o ser da realidade social (BARROSO, Luís Roberto. O
Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas. Rio
de janeiro: Renovar, 2003, p. 85).
Entretanto, se por um lado é assente a necessidade de
efetivação de direitos humanos e dos fundamentais, por
outro, parte da doutrina penal se opõe à utilização do Direito
Penal como instrumento de proteção dos direitos humanos
relacionados a bens jurídicos supraindividuais, relacionados
aos direitos humanos de segunda e terceira “gerações”, uma
vez que o Direito Penal estaria sendo utilizado prima ratio,
como função promocional de políticas públicas e sociais, em
detrimento dos princípios penais da subsidiariedade e
fragmentariedade.
Nesse ponto, sustenta-se que na verdade não mais se protege
bem jurídico, mas funções, consistentes em objetivos
perseguidos pelo Estado, ou, ainda, condições prévias para a
fruição de bens jurídicos individuais.
Como se não bastasse, argumenta-se que muitos dos bens
jurídicos supraindividuais (direito à ordem socieconômica,
direto ao meio ambiente equilibrado etc) são formulados de
modo vago e impreciso, ensejando a denominada
desmaterialização (espiritualização ou liquefação) do bem
jurídico, em virtude de estarem sendo criados sem qualquer
substrato material, distanciando-se da lesão perceptível dos
interesses dos indivíduos.
Assim, ao contrário do Direito Penal de tradição liberal (que
se refere primordialmente com os direitos humanos de
primeira geração), no qual o bem jurídico teria cumprido um
papel limitador, o Direito Penal atual vem utilizando o
conceito de bem jurídico para legitimar a criação de novos
tipos, caracterizando, assim, uma função com sentido
criminalizador.
Entretanto, essa blindagem amparada por interpretação
isolada de princípios do Direito Penal liberal dos séculos
XVIII e XIX não mais se justifica. A nova ordem
constitucional constituidora, dirigente e programática exige
uma intervenção estatal no sentido de concretizar os direitos
fundamentais e humanos de segunda e terceira gerações,
mesmo que para isso seja necessária a utilização do Direito
Penal.
No Brasil, temos o exemplo do meio ambiente, previsto em
capítulo específico da Constituição, inclusive com a
determinação da atuação do legislador ordinário para a
criação de lei penal para efetivar a sua proteção (mandado
constitucional de criminalização). Ademais, o Brasil faz
parte de inúmeros tratados sobre a proteção ao meio
ambiente. A título de exemplo, podem ser citados os
seguintes compromissos:
- Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima (promulgada pelo Decreto nº 2.652, de 01 de julho de
1998);
- Convenção de Viena para a Proteção da Camada de
Ozônio
e do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem
a Camada de Ozônio (promulgada pelo Decreto nº 99.280,
de 6 de junho de 1990);
- Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e
Cooperação em Caso de Poluição por Óleo (promulgada
pelo Decreto nº 2.870, de 10 de dezembro de 1998);
- Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgada pelo
Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998);
- Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos
Países afetados por Seca Grave e/ou Desertificação,
Particularmente na África (promulgada pelo Decreto nº
2.741, de 20 de agosto de 1998);
- Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da
Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgado pelo
Decreto nº 5.705, de 16 de Fevereiro de 2006);
- Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul
(promulgado pelo Decreto nº 5.208 de 17 de setembro de
2004);
- Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos
Persistentes.
Assim, diante desse quadro, resta difícil argumentar que o
Direito Penal não deva ser utilizado na proteção do meio
ambiente, interesse de patamar constitucional e de relevo
entre os direitos humanos, bem como de outros direitos
humanos de segunda e terceira geração.
Registre-se, aqui, o seguinte trecho da decisão do STF (AP
439, Relator: Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado
em 12/06/2008):
A finalidade do Direito Penal é justamente conferir uma
proteção reforçada aos valores fundamentais compartilhados
culturalmente pela sociedade. Além dos valores clássicos,
como a vida, liberdade, integridade física, a honra e
imagem, o patrimônio etc., o Direito Penal, a partir de
meados do século XX, passou a cuidar também do meio
ambiente, que ascendeu paulatinamente ao posto de valor
supremo das sociedades contemporâneas, passando a
compor o rol de direitos fundamentais ditos de 3ª geração
incorporados nos textos constitucionais dos Estados
Democráticos de Direito.
Parece certo, por outro lado, que essa proteção pela via
do Direito Penal justifica-se apenas em face de danos
efetivos ou potenciais ao valor fundamental do meio
ambiente; ou seja, a conduta somente pode ser tida como
criminosa quando degrade ou no mínimo traga algum risco
de degradação do equilíbrio ecológico das espécies e dos
ecossistemas. (grifei)
Ou seja, independentemente da escolha dos bens jurídicos
considerados relevantes para a sociedade (dignidade penal
do bem), ainda é imprescindível para a legitimidade da tutela
penal a observância dos princípios da subsidiariedade e
ofensividade, de sorte que não justifica o afastamento do
Direito Penal da esfera de proteção dos direitos humanos de
segunda e terceira geração.
DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002
Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e
revoga o Decreto nº 89.460, de 20 de março de 1984.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
que lhe confere o Art.84, inciso VIII, da Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo
Decreto Legislativo nº 93, de 14 de novembro de 1983, a
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher, assinada pela República
Federativa do Brasil, em Nova York, no dia 31 de março de
1981, com reservas aos seus artigos 15, parágrafo 4, e 16,
parágrafo 1, alíneas (a), (c), (g) e (h);
Considerando que, pelo Decreto Legislativo nº 26, de 22 de
junho de 1994, o Congresso Nacional revogou o citado
Decreto Legislativo nº 93, aprovando a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher, inclusive os citados artigos 15, parágrafo 4º, e 16,
parágrafo 1º, alíneas (a), (c), (g) e (h);
Considerando que o Brasil retirou as mencionadas reservas
em 20 de dezembro de 1994;
Considerando que a Convenção entrou em vigor, para o
Brasil, em 2 de março de 1984, com a reserva facultada em
seu art.29, parágrafo 2;
D E C R E T A:
Art. 1º A Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher, de 18 de
dezembro de 1979, apensa por cópia ao presente Decreto,
com reserva facultada em seu art.29, parágrafo 2, será
executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.
Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional
quaisquer atos que possam resultar em revisão da referida
Convenção, assim como quaisquer ajustes complementares
que, nos termos do Art.49, inciso I, da Constituição,
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional.
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua
publicação.
Art. 4º Fica revogado o Decreto nº 89.460, de 20 de março
de 1984.
Brasília, 13 de setembro de 2002; 181º da Independência e
114º da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Osmar Chohfi
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher
Os Estados Partes na presente convenção,
CONSIDERANDO que a Carta das Nações Unidas reafirma
a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no
valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do
homem e da mulher,
CONSIDERANDO que a Declaração Universal dos Direitos
Humanos reafirma o princípio da não-discriminação e
proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e direitos e que toda pessoa pode invocar
todos os direitos e liberdades proclamadas nessa Declaração,
sem distinção alguma, inclusive de sexo,
CONSIDERANDO que os Estados Partes nas Convenções
Internacionais sobre Direitos Humanos tem a obrigação de
garantir ao homem e à mulher a igualdade de gozo de todos
os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos,
OBSEVANDO as convenções internacionais concluídas sob
os auspícios das Nações Unidas e dos organismos
especializados em favor da igualdade de direitos entre o
homem e a mulher,
OBSERVANDO, ainda, as resoluções, declarações e
recomendações aprovadas pelas Nações Unidas e pelas
Agências Especializadas para favorecer a igualdade de
direitos entre o homem e a mulher,
PREOCUPADOS, contudo, com o fato de que, apesar destes
diversos instrumentos, a mulher continue sendo objeto de
grandes discriminações,
RELEMBRANDO que a discriminação contra a mulher
viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito da
dignidade humana, dificulta a participação da mulher, nas
mesmas condições que o homem, na vida política, social,
econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao
aumento do bem-estar da sociedade e da família e dificulta o
pleno desenvolvimento das potencialidades da mulher para
prestar serviço a seu país e à humanidade,
PREOCUPADOS com o fato de que, em situações de
pobreza, a mulher tem um acesso mínimo à alimentação, à
saúde, à educação, à capacitação e às oportunidades de
emprego, assim como à satisfação de outras necessidades,
CONVENCIDOS de que o estabelecimento da Nova Ordem
Econômica Internacional baseada na eqüidade e na justiça
contribuirá significativamente para a promoção da igualdade
entre o homem e a mulher,
SALIENTANDO que a eliminação do apartheid, de todas as
formas de racismo, discriminação racial, colonialismo,
neocolonialismo, agressão, ocupação estrangeira e
dominação e interferência nos assuntos internos dos Estados
é essencial para o pleno exercício dos direitos do homem e
da mulher,
AFIRMANDO que o fortalecimento da paz e da segurança
internacionais, o alívio da tensão internacional, a cooperação
mútua entre todos os Estados, independentemente de seus
sistemas econômicos e sociais, o desarmamento geral e
completo, e em particular o desarmamento nuclear sob um
estrito e efetivo controle internacional, a afirmação dos
princípios de justiça, igualdade e proveito mútuo nas
relações entre países e a realização do direito dos povos
submetidos a dominação colonial e estrangeira e a ocupação
estrangeira, à autodeterminação e independência, bem como
o respeito da soberania nacional e da integridade territorial,
promoverão o progresso e o desenvolvimento sociais, e, em
conseqüência, contribuirão para a realização da plena
igualdade entre o homem e a mulher,
CONVENCIDOS de que a participação máxima da mulher,
em igualdade de condições com o homem, em todos os
campos, é indispensável para o desenvolvimento pleno e
completo de um país, o bem-estar do mundo e a causa da
paz,
TENDO presente a grande contribuição da mulher ao bem-
estar da família e ao desenvolvimento da sociedade, até
agora não plenamente reconhecida, a importância social da
maternidade e a função dos pais na família e na educação
dos filhos, e conscientes de que o papel da mulher na
procriação não deve ser causa de discriminação, mas sim
que a educação dos filhos exige a responsabilidade
compartilhada entre homens e mulheres e a sociedade como
um conjunto,
RECONHECENDO que para alcançar a plena igualdade
entre o homem e a mulher é necessário modificar o papel
tradicional tanto do homem como da mulher na sociedade e
na família,
RESOLVIDOS a aplicar os princípios enunciados na
Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a
Mulher e, para isto, a adotar as medidas necessárias a fim de
suprimir essa discriminação em todas as suas formas e
manifestações,
CONCORDARAM no seguinte:
PARTE I
Artigo 1º
Para os fins da presente Convenção, a expressão
"discriminação contra a mulher" significará toda a distinção,
exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto
ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou
exercício pela mulher, independentemente de seu estado
civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos
direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos
político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer
outro campo.
Artigo 2º
Os Estados Partes condenam a discriminação contra a
mulher em todas as suas formas, concordam em seguir, por
todos os meios apropriados e sem dilações, uma política
destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com
tal objetivo se comprometem a:
a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas
constituições nacionais ou em outra legislação apropriada o
princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar
por lei outros meios apropriados a realização prática desse
princípio;
b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter,
com as sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação
contra a mulher;
c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher
numa base de igualdade com os do homem e garantir, por
meio dos tribunais nacionais competentes e de outras
instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra
todo ato de discriminação;
d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de
discriminação contra a mulher e zelar para que as
autoridades e instituições públicas atuem em conformidade
com esta obrigação;
e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a
discriminação contra a mulher praticada por qualquer
pessoa, organização ou empresa;
f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter
legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos,
usos e práticas que constituam discriminação contra a
mulher;
g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que
constituam discriminação contra a mulher.
Artigo 3º
Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em
particular, nas esferas política, social, econômica e cultural,
todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter
legislativo, para assegurar o pleno desenvolvimento e
progresso da mulher, com o objetivo de garantir-lhe o
exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades
fundamentais em igualdade de condições com o homem.
Artigo 4º
1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de
caráter temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato
entre o homem e a mulher não se considerará discriminação
na forma definida nesta Convenção, mas de nenhuma
maneira implicará, como conseqüência, a manutenção de
normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão
quando os objetivos de igualdade de oportunidade e
tratamento houverem sido alcançados.
2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais,
inclusive as contidas na presente
Convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se
considerará discriminatória.
Artigo 5º
Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas
para:
a) Modificar os padrões sócio-culturais de conduta de
homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos
preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra
índole que estejam baseados na idéia da inferioridade ou
superioridade de qualquer dos sexos ou em funções
estereotipadas de homens e mulheres.
b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão
adequada da maternidade como função social e o
reconhecimento da responsabilidade comum de homens e
mulheres no que diz respeito à educação e ao
desenvolvimento de seus filhos, entendendo-se que o
interesse dos filhos constituirá a consideração primordial em
todos os casos.
Artigo 6º
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas,
inclusive de caráter legislativo, para suprimir todas as
formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição
da mulher.
PARTE II
Artigo 7º
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas
para eliminar a discriminação contra a mulher na vida
política e pública do país e, em particular, garantirão, em
igualdade de condições com os homens, o direito a:
a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser
elegível para todos os órgãos cujos membros sejam objeto
de eleições públicas;
b) Participar na formulação de políticas governamentais e na
execução destas, e ocupar cargos
públicos e exercer todas as funções públicas em todos os
planos governamentais;
c) Participar em organizações e associações não-
governamentais que se ocupem da vida pública e política do
país.
Artigo 8º
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas
para garantir, à mulher, em igualdade de condições com o
homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de
representar seu governo no plano internacional e de
participar no trabalho das organizações internacionais.
Artigo 9º
1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos iguais
aos dos homens para adquirir, mudar ou conservar sua
nacionalidade.Garantirão, em particular, que nem o
casamento com um estrangeiro, nem a mudança de
nacionalidade do marido durante o casamento, modifiquem
automaticamente a nacionalidade da esposa, convertam-na
em apátrida ou a obriguem a adotar a nacionalidade do
cônjuge.
2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos
direitos que ao homem no que diz respeito à nacionalidade
dos filhos.
PARTE III
Artigo 10
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
para eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de
assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na
esfera da educação e em particular para assegurarem
condições de igualdade entre homens e mulheres:
a) As mesmas condições de orientação em matéria de
carreiras e capacitação profissional, acesso aos estudos e
obtenção de diplomas nas instituições de ensino de todas as
categorias, tanto em zonas rurais como urbanas; essa
igualdade deverá ser assegurada na educação préescolar,
geral, técnica e profissional, incluída a educação técnica
superior, assim como todos os
tipos de capacitação profissional;
b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames, pessoal
docente do mesmo nível
profissional, instalações e material escolar da mesma
qualidade;
c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis
masculino e feminino em todos os níveis e em todas as
formas de ensino mediante o estímulo à educação mista e a
outros tipos de educação que contribuam para alcançar este
objetivo e, em particular, mediante a modificação
dos livros e programas escolares e adaptação dos métodos
de ensino;
d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-de-
estudo e outras subvenções para estudos;
e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas de
educação supletiva, incluídos os programas de alfabetização
funcional e de adultos, com vistas a reduzir, com a maior
brevidade possível, a diferença de conhecimentos existentes
entre o homem e a mulher;
f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos e a
organização de programas para aquelas jovens e mulheres
que tenham deixado os estudos prematuramente;
g) As mesmas oportunidades para participar ativamente nos
esportes e na educação física;
h) Acesso a material informativo específico que contribua
para assegurar a saúde e o bemestar da família, incluída a
informação e o assessoramento sobre planejamento da
família.
Artigo 11
1.Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera do
emprego a fim de assegurar, em condições de igualdade
entre homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular:
a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser
humano;
b) O direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive
a aplicação dos mesmos critérios de seleção em questões de
emprego;
c) O direito de escolher livremente profissão e emprego, o
direito à promoção e à estabilidade no emprego e a todos os
benefícios e outras condições de serviço, e o direito ao
acesso à formação e à atualização profissionais, incluindo
aprendizagem, formação profissional superior e treinamento
periódico;
d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e
igualdade de tratamento relativa a um trabalho de igual
valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à
avaliação da qualidade do trabalho;
e) O direito à seguridade social, em particular em casos de
aposentadoria, desemprego,
doença, invalidez, velhice ou outra incapacidade para
trabalhar, bem como o direito de férias
pagas;
f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições
de trabalho, inclusive a
salvaguarda da função de reprodução.
2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por
razões de casamento ou maternidade e
assegurar a efetividade de seu direito a trabalhar, os Estados-
Partes tomarão as medidas
adequadas para:
a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gravidez
ou licença de maternidade e a discriminação nas demissões
motivadas pelo estado civil;
b) Implantar a licença de maternidade, com salário pago ou
benefícios sociais comparáveis, sem perda do emprego
anterior, Antigüidade ou benefícios sociais;
c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de apoio
necessários para permitir que os pais combinem as
obrigações para com a família com as responsabilidades do
trabalho e aparticipação na vida pública, especialmente
mediante fomento da criação e desenvolvimento deuma rede
de serviços destinados ao cuidado das crianças;
d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravidez nos
tipos de trabalho comprovadamente prejudiciais para elas.
3. A legislação protetora relacionada com as questões
compreendidas neste artigo será examinada periodicamente
à luz dos conhecimentos científicos e tecnológicos e será
revista, derrogada ou ampliada conforme as necessidades.
Artigo 12
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera dos
cuidados médicos a fim de assegurar, em condições de
igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços
médicos, inclusive os referentes ao planejamento familiar.
2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1, os Estados-
Partes garantirão à mulher assistência apropriadas em
relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto,
proporcionandoassistência gratuita quando assim for
necessário, e lhe assegurarão uma nutrição adequada
durante a gravidez e a lactância.
Artigo 13
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em outras
esferas da vida econômica e social a fim de assegurar, em
condições de igualdade entre homens e mulheres, os
mesmos direitos, em particular:
a) O direito a benefícios familiares;
b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas e
outras formas de crédito financeiro;
c) O direito a participar em atividades de recreação, esportes
e em todos os aspectos da vida cultural.
Artigo 14
1. Os Estados-Partes levarão em consideração os problemas
específicos enfrentados pelamulher rural e o importante
papel que desempenha na subsistência econômica de sua
família, incluído seu trabalho em setores não-monetários da
economia, e tomarão todas as medidasapropriadas para
assegurar a aplicação dos dispositivos desta Convenção à
mulher das zonas rurais.
2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apropriadas
para eliminar a discriminação contra a mulher nas zonas
rurais a fim de assegurar, em condições de igualdade entre
homens e mulheres, que elas participem no desenvolvimento
rural e dele se beneficiem, e em particular as segurar-lhes-ão
o direito a:
a) Participar da elaboração e execução dos planos de
desenvolvimento em todos os níveis;
b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive
informação, aconselhamento e serviçosem matéria de
planejamento familiar;
c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguridade
social;
d) Obter todos os tipos de educação e de formação,
acadêmica e não-acadêmica, inclusive os relacionados à
alfabetização funcional, bem como, entre outros, os
benefícios de todos os serviços comunitários e de extensão a
fim de aumentar sua capacidade técnica;
e) Organizar grupos de auto-ajuda e cooperativas a fim de
obter igualdade de acesso às oportunidades econômicas
mediante emprego ou trabalho por conta própria;
f) Participar de todas as atividades comunitárias;
g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos
serviços de comercialização e às tecnologias apropriadas, e
receber um tratamento igual nos projetos de reforma agrária
e de restabelecimentos;
h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente
nas esferas da habitação, dos
serviços sanitários, da eletricidade e do abastecimento de
água, do transporte e das
comunicações.
PARTE IV
Artigo 15
1.Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualdade com
o homem perante a lei.
2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em matérias
civis, uma capacidade jurídica
idêntica do homem e as mesmas oportunidades para o
exercício dessa capacidade.Em particular,
reconhecerão à mulher iguais direitos para firmar contratos e
administrar bens e dispensar-lhe-ão
um tratamento igual em todas as etapas do processo nas
cortes de justiça e nos tribunais.
3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou outro
instrumento privado de efeitojurídico que tenda a restringir a
capacidade jurídica da mulher será considerado nulo.
4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os
mesmos direitos no que respeita àlegislação relativa ao
direito das pessoas à liberdade de movimento e à liberdade
de escolha deresidência e domicílio.
Artigo 16
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas adequadas
para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em todos os
assuntos relativos ao casamento e às ralações familiares e,
emparticular, com base na igualdade entre homens e
mulheres, assegurarão:
a) O mesmo direito de contrair matrimônio;
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de
contrair matrimônio somente com
livre e pleno consentimento;
c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o
casamento e por ocasião de sua dissolução;
d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais,
qualquer que seja seu estado civil, em matérias pertinentes
aos filhos.Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a
consideração primordial;
e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente
sobre o número de seus filhos e
sobre o intervalo entre os nascimentos e a ter acesso à
informação, à educação e aos meios que
lhes permitam exercer esses direitos;
f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à
tutela, curatela, guarda e adoção dos
filhos, ou institutos análogos, quando esses conceitos
existirem na legislação nacional.Em todos
os casos os interesses dos filhos serão a consideração
primordial;
g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mulher,
inclusive o direito de escolher
sobrenome, profissão e ocupação;
h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de
propriedade, aquisição, gestão,administração, gozo e
disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à título
oneroso.
2.Os esponsais e o casamento de uma criança não terão
efeito legal e todas as medidas necessárias, inclusive as de
caráter legislativo, serão adotadas para estabelecer uma
idade mínima para o casamento e para tornar obrigatória a
inscrição de casamentos em registro oficial.
PARTE V
Artigo 17
1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na
aplicação desta Convenção, será estabelecido um Comitê
sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher
(doravante denominado o Comitê) composto, no momento
da entrada em vigor da Convenção, de dezoito e, após sua
ratificação ou adesão pelo trigésimo-quinto Estado-Parte, de
vinte e três peritos de grande prestígio moral e competência
na área abarcada pela Convenção.Os peritos serão eleitos
pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exercerão suas
funções a título pessoal; será levada em conta uma
repartição geográfica eqüitativa e a representação das
formas diversas de civilização assim como dos principais
sistemas jurídicos;
2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio
secreto de uma lista de pessoasindicadas pelos Estados-
Partes.Cada um dos Estados-Partes poderá indicar uma
pessoa entre seus próprios nacionais;
3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data de
entrada em vigor desta Convenção.Pelo menos três meses
antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações
Unidas dirigirá uma carta aos Estados-Partes convidando-os
a apresentar suas candidaturas, no prazo de dois meses.O
Secretário-Geral preparará uma lista, por ordem alfabética
de todos os candidatos assim apresentados, com indicação
dos Estados-Partes que os tenham apresentado e comunica-
la-á aos Estados Partes;
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião
dos Estados-Partes convocado pelo Secretário-Geral na sede
das Nações Unidas.Nessa reunião, em que o quorum será
alcançado com dois terços dos Estados-Partes, serão eleitos
membros do Comitê os candidatos que obtiverem o maior
número de votos e a maioria absoluta de votos dos
representantes dos Estados-Partes presentes e votantes;
5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de
quatro anos.Entretanto, o
mandato de nove dos membros eleitos na primeira eleição
expirará ao fim de dois anos; imediatamente após a primeira
eleição os nomes desses nove membros serão escolhidos,
por sorteio, pelo Presidente do Comitê;
6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê
realizar-se-á em conformidade com o disposto nos
parágrafos 2, 3 e 4 deste Artigo, após o depósito do
trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou adesão.O
mandato de dois dos membros adicionais eleitos nessa
ocasião, cujos nomes serão escolhidos, por sorteio, pelo
Presidente do Comitê, expirará ao fim de dois anos;
7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Parte cujo
perito tenha deixado de exercer suas funções de membro do
Comitê nomeará outro perito entre seus nacionais, sob
reserva da aprovação do Comitê;
8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da
Assembléia Geral, receberão remuneração dos recursos das
Nações Unidas, na forma e condições que a Assembléia
Geral decidir, tendo em vista a importância das funções do
Comitê;
9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará o
pessoal e os serviços necessários para o desempenho eficaz
das funções do Comitê em conformidade com esta
Convenção.
Artigo 18
1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao
Secretário-Geral das Nações Unidas,para exame do Comitê,
um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias,
administrativas ou outras que adotarem para tornarem
efetivas as disposições desta Convenção e sobre os
progressos alcançados a esse respeito:
a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da
Convenção para o Estado interessado;
e
b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e toda vez
que o Comitê a solicitar.
2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que
influam no grau de cumprimento das
obrigações estabelecidos por esta Convenção.
Artigo 19
1. O Comitê adotará seu próprio regulamento.
2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois anos.
Artigo 20
1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por um
período não superior a duas semanas para examinar os
relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade com o
Artigo 18
desta Convenção.
2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente na
sede das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar que o
Comitê determine.
Artigo 21
1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das
Nações Unidas, informará anualmente a Assembléia Geral
das Nações Unidas de suas atividades e poderá apresentar
sugestões e recomendações de caráter geral baseada no
exame dos relatórios e em informações recebidas dos
Estados-Partes.Essas sugestões e recomendações de caráter
geral serão incluídas no relatório do Comitê juntamente com
as observações que os Estados-Partes tenham porventura
formulado.
2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os
relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da
Mulher.
As Agências Especializadas terão direito a estar
representadas no exame da aplicação das disposições desta
Convenção que correspondam à esfera de suas atividades.O
Comitê poderá convidar as Agências Especializadas a
apresentar relatórios sobre a aplicação da Convenção nas
áreas que correspondam à esfera de suas atividades.
PARTE VI
Artigo 23
Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qualquer
disposição que seja mais propícia à obtenção da igualdade
entre homens e mulheres e que seja contida:
a) Na legislação de um Estado-Parte ou
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo
internacional vigente nesse Estado.
Artigo 24
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as
medidas necessárias em âmbito nacional para alcançar a
plena realização dos direitos reconhecidos nesta Convenção.
Artigo 25
1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos os
Estados.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designado
depositário desta Convenção.
3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos
de ratificação serão depositados
junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
4. Esta Convenção estará aberta à adesão de todos os
Estados.A adesão efetuar-se-á através
do depósito de um instrumento de adesão junto ao
Secretário-Geral das Nações Unidas.
Artigo 26
1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer momento,
formular pedido de revisão desta revisão desta Convenção,
mediante notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das
Nações Unidas.
2. A Assembléia Geral das Nações Unidas decidirá sobre as
medidas a serem tomadas, se for o caso, com respeito a esse
pedido.
Artigo 27
1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir
da data do depósito do vigésimo instrumento de ratificação
ou adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a
ela aderir após o depósito do vigésimo instrumento de
ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no
trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de
ratificação ou adesão.
Artigo 28
1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e enviará
a todos os Estados o texto das reservas feitas pelos Estados
no momento da ratificação ou adesão.
2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
objeto e o propósito desta Convenção.
3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por
uma notificação endereçada com esse objetivo ao
Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a todos
os Estados a respeito.A notificação surtirá efeito na data de
seu recebimento.
Artigo 29
1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados-Partes
relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção e que
não for resolvida por negociações será, a pedido de qualquer
das Partes na controvérsia, submetida à arbitragem.Se no
prazo de seis meses a partir da data do pedido de arbitragem
as Partes não acordarem sobre a forma da arbitragem,
qualquer das Partes poderá submeter à controvérsia à Corte
Internacional de Justiça mediante pedido em conformidade
com o Estatuto da Corte.
2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura ou
ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, poderá
declarar que não se considera obrigado pelo parágrafo
anterior.Os demais Estados-Partes não estarão obrigados
pelo parágrafo anterior perante nenhum Estado-Parte que
tenha formulado essa reserva.
3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reserva
prevista no parágrafo anterior poderá retirá-la em qualquer
momento por meio de notificação ao Secretário-Geral das
Nações Unidas.
Artigo 30
Esta convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol,
francês, inglês e russo são igualmente autênticos será
depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
Em testemunho do que, os abaixo-assinados devidamente
autorizados, assinaram esta Convenção.
LEI Nº 2.889, DE 1 DE OUTUBRO DE 1956 .
Define e pune o crime de
genocídio.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou
em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como
tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de
membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de
existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total
ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os
nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo
para outro grupo;
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no
caso da letra a;
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para
prática dos crimes mencionados no artigo anterior:
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a
cometer qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:
Pena: Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de
crime incitado, se este se consumar.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando
a incitação for cometida pela imprensa.
Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no
caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido o crime por
governante ou funcionário público.
Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das
respectivas penas a tentativa dos crimes definidos nesta lei.
Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão
considerados crimes políticos para efeitos de extradição.
Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da
Independência e 68º da República.
JUSCELINO KUBITSCHEK
Nereu Ramos
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 2.10.1956
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do
art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal;
e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que
o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e
prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
e de outros tratados internacionais ratificados pela República
Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e
estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em
situação de violência doméstica e familiar.
Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe,
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência,
preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual e social.
Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições
para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao
acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à
cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária.
§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem
garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das
relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las
de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público
criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos
direitos enunciados no caput.
Art. 4o Na interpretação desta Lei, serão considerados
os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as
condições peculiares das mulheres em situação de violência
doméstica e familiar.
TÍTULO II
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida
como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou
sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a
comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas
neste artigo independem de orientação sexual.
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a
mulher constitui uma das formas de violação dos direitos
humanos.
CAPÍTULO II
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR
CONTRA A MULHER
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar
contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta
que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-
estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício
de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer
conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer
conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
TÍTULO III
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CAPÍTULO I
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
Art. 8o A política pública que visa coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de
segurança pública, assistência social, saúde, educação,
trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero
e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências
e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a
mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados
nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das
medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos
valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a
coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem
a violência doméstica e familiar, de acordo com o
estabelecido no inciso III do art. 1 o , no inciso IV do art. 3 o e
no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
IV - a implementação de atendimento policial
especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias
de Atendimento à Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas
educativas de prevenção da violência doméstica e familiar
contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade
em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de
proteção aos direitos humanos das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes,
termos ou outros instrumentos de promoção de parceria
entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-
governamentais, tendo por objetivo a implementação de
programas de erradicação da violência doméstica e familiar
contra a mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos
profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados
no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que
disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade
da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou
etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os
níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos
humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao
problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.
CAPÍTULO II
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
Art. 9o A assistência à mulher em situação de
violência doméstica e familiar será prestada de forma
articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos
na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras
normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente
quando for o caso.
§ 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da
mulher em situação de violência doméstica e familiar no
cadastro de programas assistenciais do governo federal,
estadual e municipal.
§ 2o O juiz assegurará à mulher em situação de
violência doméstica e familiar, para preservar sua
integridade física e psicológica:
I - acesso prioritário à remoção quando servidora
pública, integrante da administração direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando
necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis
meses.
§ 3o A assistência à mulher em situação de violência
doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios
decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico,
incluindo os serviços de contracepção de emergência, a
profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e
da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e
outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos
casos de violência sexual.
CAPÍTULO III
DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
imediato, as providências legais cabíveis.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste
artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência
deferida.
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de
violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá,
entre outras providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário,
comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de
saúde e ao Instituto Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus
dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver
risco de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para
assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência
ou do domicílio familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos
nesta Lei e os serviços disponíveis.
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência,
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código
de Processo Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e
tomar a representação a termo, se apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o
esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para
a concessão de medidas protetivas de urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de
delito da ofendida e requisitar outros exames periciais
necessários;
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar
aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a
existência de mandado de prisão ou registro de outras
ocorrências policiais contra ele;
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito
policial ao juiz e ao Ministério Público.
§ 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela
autoridade policial e deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas
solicitadas pela ofendida.
§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao
documento referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia
de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.
§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos
ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de
saúde.
TÍTULO IV
DOS PROCEDIMENTOS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das
causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas
dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da
legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao
idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
competência cível e criminal, poderão ser criados pela
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados,
para o processo, o julgamento e a execução das causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher.
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-
se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de
organização judiciária.
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os
processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência;
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
III - do domicílio do agressor.
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à
representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência
doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de
multa.
CAPÍTULO II
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
Seção I
Disposições Gerais
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da
ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre
as medidas protetivas de urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao
órgão de assistência judiciária, quando for o caso;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as
providências cabíveis.
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão
ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida.
§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser
concedidas de imediato, independentemente de audiência
das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo
este ser prontamente comunicado.
§ 2o As medidas protetivas de urgência serão
aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser
substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia,
sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados.
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se
entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor,
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou mediante representação da autoridade policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão
preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de
motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.
Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos
processuais relativos ao agressor, especialmente dos
pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da
intimação do advogado constituído ou do defensor público.
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar
intimação ou notificação ao agressor.
Seção II
Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o
Agressor
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá
aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência,
entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei
n o 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as
quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e
testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de
preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a
aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre
que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem,
devendo a providência ser comunicada ao Ministério
Público.
§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I,
encontrando-se o agressor nas condições mencionadas
no caput e incisos do art. 6 o da Lei n o 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão,
corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência
concedidas e determinará a restrição do porte de armas,
ficando o superior imediato do agressor responsável pelo
cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer
nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o
caso.
§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas
de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
auxílio da força policial.
§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
que couber, o disposto no caput e nos §§ 5 o e 6º do art. 461
da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
Processo Civil).
Seção III
Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem
prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a
programa oficial ou comunitário de proteção ou de
atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do
agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e
alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da
sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da
mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes
medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo
agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e
contratos de compra, venda e locação de propriedade em
comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela
ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito
judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática
de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório
competente para os fins previstos nos incisos II e III deste
artigo.
CAPÍTULO III
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não
for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da
violência doméstica e familiar contra a mulher.
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo
de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher, quando necessário:
I - requisitar força policial e serviços públicos de
saúde, de educação, de assistência social e de segurança,
entre outros;
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e
particulares de atendimento à mulher em situação de
violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as
medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a
quaisquer irregularidades constatadas;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher.
CAPÍTULO IV
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e
criminais, a mulher em situação de violência doméstica e
familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado
o previsto no art. 19 desta Lei.
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de
violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de
Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita,
nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante
atendimento específico e humanizado.
TÍTULO V
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão
contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a
ser integrada por profissionais especializados nas áreas
psicossocial, jurídica e de saúde.
Art. 30. Compete à equipe de atendimento
multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem
reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por
escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública,
mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento,
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o
agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e
aos adolescentes.
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir
avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a
manifestação de profissional especializado, mediante a
indicação da equipe de atendimento multidisciplinar.
Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua
proposta orçamentária, poderá prever recursos para a criação
e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar,
nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
TÍTULO VI
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas
as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de
preferência, nas varas criminais, para o processo e o
julgamento das causas referidas no caput.
TÍTULO VII
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser
acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e
do serviço de assistência judiciária.
Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os
Municípios poderão criar e promover, no limite das
respectivas competências:
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar
para mulheres e respectivos dependentes em situação de
violência doméstica e familiar;
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos
dependentes menores em situação de violência doméstica e
familiar;
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços
de saúde e centros de perícia médico-legal especializados no
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e
familiar;
IV - programas e campanhas de enfrentamento da
violência doméstica e familiar;
V - centros de educação e de reabilitação para os
agressores.
Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de
seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei.
Art. 37. A defesa dos interesses e direitos
transindividuais previstos nesta Lei poderá ser exercida,
concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação
de atuação na área, regularmente constituída há pelo menos
um ano, nos termos da legislação civil.
Parágrafo único. O requisito da pré-constituição
poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há
outra entidade com representatividade adequada para o
ajuizamento da demanda coletiva.
Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações
relativo às mulheres.
Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública
dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas
informações criminais para a base de dados do Ministério da
Justiça.
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, no limite de suas competências e nos termos das
respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão
estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada
exercício financeiro, para a implementação das medidas
estabelecidas nesta Lei.
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não
excluem outras decorrentes dos princípios por ela adotados.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência
doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei n o 9.099, de 26 de
setembro de 1995.
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei n o 3.689, de 3 de
outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar
acrescido do seguinte inciso IV:
“Art. 313. .................................................
................................................................
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a
execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-
Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 61. ..................................................
.................................................................
II - ............................................................
.................................................................
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com
violência contra a mulher na forma da lei específica;
........................................................... ” (NR)
Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
seguintes alterações:
“Art. 129. ..................................................
..................................................................
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou
tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
..................................................................
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
aumentada de um terço se o crime for cometido contra
pessoa portadora de deficiência.” (NR)
Art. 45. O art. 152 da Lei n o 7.210, de 11 de julho de
1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 152. ...................................................
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento
obrigatório do agressor a programas de recuperação e
reeducação.” (NR)
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco)
dias após sua publicação.
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185o da
Independência e 118o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Dilma Rousseff
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006
A LEI MARIA DA PENHA
I – INTRODUÇÃO
A desigualdade formal, conquistada com a Revolução
Francesa de 1789, foi o paradigma da legislação do mundo
civilizado no curso do século XIX e por quase todo o século
XX.
Ao final da Segunda Guerra, o Mundo Ocidental despertou
para uma nova realidade: de nada valia a outorga de direitos
pelo Estado, se não tinham os titulares formais desses
direitos condições de acesso a eles. Para a real aquisição dos
direitos outorgados pelo Estado era preciso criar condições
de acesso, tarefa que não poderia ser deixada para solução
ao Estado do laissez-faire, laissez-passer. Era preciso criar
mecanismos que levassem à igualdade substancial de
direitos.
Assim, despertou-se ao final do século XX para a
identificação de grupos fragilizados em razão de fatos
adversos por questão de gênero, raça, nacionalidade, credo,
etc., ao tempo em que se deu início às políticas públicas
identificadas como ações afirmativas, que são, em verdade,
a discriminação protetiva de grupos sociais com dificuldade
de acesso aos direitos constitucionalmente estabelecidos.
Dentre os grupos minoritários de maior expressão social está
o discriminado por gênero, não se ignorando que a história
da mulher é marcada por uma condição de inferioridade em
todos os povos e civilizações, minorada após a Revolução
Francesa, mas ainda gritante no século XX.
A desigualdade feminina fez nascer na
sociedade brasileira, o que não se apresenta como
peculiaridade única, sendo uma constante em diversos
países, com maior ou menor intensidade, uma cultura de
violência oriunda da própria posição de superioridade social
do homem, incentivada por razões de poder na divisão do
mercado de trabalho e de predominância política e, por fim,
pelo silencioso consentimento social, seja das vítimas, seja
de terceiros pela cultura de inferioridade da mulher.
A violência contra a mulher tornou-se,
então, invisível aos olhos da sociedade, tolerante e, por isso
mesmo, no exercício de um surdo pacto de silêncio,
traduzido em ditados populares que bem expressam o
comportamento social: “Em briga de marido e mulher
ninguém mete a colher”; “roupa suja se lava em casa”; “a
mulher casada está em seu posto de honra e da rua para fora
nada lhe diz respeito”.
Graças aos movimentos feministas, a partir de 1910,
tornaram-se públicas as discussões sobre a independência da
mulher, para superação da sua pseudo-inferioridade,
anotando-se, a partir dos diversos embates, a gravidade da
violência doméstica.
A discussão pública sobre o tema ficou mais evidente na
década de 70 e, nos anos 90, com mais veemência, veio à
baila o tema, quando os movimentos feministas incipientes
mais atuantes fizeram nascer as ONG e as associações, com
militância constante e competente, direcionando-se para um
objetivo comum: envolver o Estado por via de políticas
públicas e sociais no sentido de acabar com a violência
contra a mulher.
Ao final do século XX podemos dizer que houve uma
quebra de paradigma, refletida nas chamadas ações
afirmativas em favor da mulher, a partir do objetivo de
eliminar a violência doméstica ou social contra a mulher.
No decorrer dos estudos em direção ao objetivo da
igualdade, chegou-se à conclusão que o ponto de partida
para a construção de uma política eficiente seria a coleta de
dados estatísticos, possibilitando tais números ao traçado de
um diagnóstico e, depois, à implantação de um sistema de
prevenção eficiente, afastando-se as verdades e mentiras que
sempre povoaram o imaginário social.
Quando o Brasil foi convidado para participar do Congresso
Internacional de Mulheres, realizado em Beijing em 1995,
despertou para a dificuldade em traçar as metas a serem
discutidas pela ausência de dados estatísticos sobre a
atuação da mulher brasileira. Ainda hoje ressente-se a Nação
de precisão numérica de dados. Dispomos apenas dos dados
obtidos do IBGE, dos recenseamentos de 1988 e 2001, de
pesquisas isoladas procedidas pelas Secretarias de
Segurança Pública dos Estados e de uma única pesquisa
direcionada, realizada pela Fundação Perseu Abramo em
2001.
A partir daí, passou a ser a meta prioritária dos movimentos
feministas a produção de dados e indicadores atualizados.
Graças a esta consciência, veio a lume a Lei 10.778/03,
diploma que torna obrigatório aos hospitais e clínicas
médicas preencher questionário específico de informação
sobre atendimento médico à mulher que chega aos hospitais
e clínicas com sinais de agressão física ou psíquica.
Lamentavelmente, passados quatro anos a lei mencionada
ainda não foi regulamentada, nem sequer implantada.
II – A LEGISLAÇÃO
A Constituição Federal de 1988 instituiu como um dos
princípios fundamentais do Estado a “dignidade da pessoa
humana”, dentro da garantia de que todos são iguais, sem
distinção alguma, proibindo, inclusive, diferença salarial,
diferença de critérios de admissão por motivo de sexo,
dispositivos que deixam clara a posição de combate à
discriminação.
A conquista maior veio com a Lei 9.099/95, diploma que
instituiu os Juizados Especiais, possibilitando maior
celeridade e eficácia às punições de delitos de baixo
potencial ofensivo, classificando-se como tais os casos mais
comuns de violência doméstica contra a mulher.
Lamentavelmente, a realidade mostrou-se inteiramente
diferente da idéia conceitual dos que lutaram pela aprovação
da Lei dos Juizados. Em pouco tempo, chegou-se à
conclusão que o diploma legal serviu para a legalização da
“surra doméstica”. Sem flagrante, sem fiança e com a
possibilidade de acordo, ainda na fase policial, impunha
como condenação o pagamento de uma multa, a entrega de
cestas básicas ou a prestação de serviço à comunidade,
apagando por completo a acessão perpetrada.
A suavidade da pena e o desaparecimento da culpa do
agressor pelas tratativas procedimentais levavam à
reincidência, ou seja, outra surra, outra agressão,
acompanhada de coação, para que a vítima não usasse o
suporte legal nos próximos embates.
III – PECULIARIDADES
A Lei 11.340/06, chamada de Lei Maria da Penha,
inaugurou uma nova fase na história das ações afirmativas
em favor da mulher brasileira.
Não se pode deixar de registrar o motivo que levou o
legislador a nominar o novo instituto. Sim, porque a Lei
Maria da Penha é mais do que um diploma legislativo.
Trata-se de uma lei que congrega um conjunto de regras
penais e extrapenais, contendo princípios, objetivos,
diretrizes, programa, etc., com o propósito precípuo de
reduzir a morosidade judicial, introduzir medidas
despenalizadoras, diminuir a impunidade e, na ponta, como
desiderato maior, proteger a mulher e a entidade familiar.
Maria da Penha é uma professora universitária de classe
média, casada com um também professor universitário, que
protagonizou um simbólico caso de violência doméstica
contra a mulher. Em 1983, foi vítima, por duas vezes, do seu
marido, que tentou assassiná-la. A primeira vez com um tiro,
que a deixou paraplégica, e, a segunda, por eletrocussão e
afogamento. A punição pela Justiça só veio vinte anos
depois, por interferência de organismos internacionais.
Maria da Penha transformou dor em luta, tragédia em
solidariedade, merecendo a homenagem de todos dando
nome à lei que é, sem dúvida, um microssistema de proteção
à família e à mulher.
Como principais inovações temos a admissibilidade das
prisões em flagrante e preventiva, obrigatoriedade do
inquérito policial e a só possibilidade de desistência, por
parte da vítima, em juízo, acompanhada de advogada e
ouvido o Ministério Público. Pelos tópicos, verifica-se a
absoluta alteração da sistemática procedimental, impondo-se
dificuldades para arquivamento de uma denúncia de
agressão, a fim de evitar a coação. Daí a necessidade de
participação de todos os atores processuais: juiz, advogado e
Ministério Público.
A autoridade policial também fica mais fortalecida na fase
repressiva, podendo efetuar a prisão em flagrante ou
representar pela prisão preventiva.
Têm os doutrinadores questionado o seguinte: aplicava-se ao
crime de violência doméstica, com ou sem lesões corporais,
a Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais –, diploma que
exigia a representação para o procedimento do crime de
lesões corporais dolosa de natureza leve. Revogada a
aplicação da Lei 9.099/95 pela Lei Maria da Penha, fica a
indagação: continua-se a exigir a representação, ou passa-se
à categoria dos crimes de ação pública? Sem referência
jurisprudencial, ainda, tem-se a voz autorizada do Professor
Damásio de Jesus, entendendo que continua a se exigir, para
a espécie, a representação.
É interessante anotar que a lei em comento se refere à
violência contra a mulher, perpetrada no âmbito da unidade
doméstica, entendendo-se como tal o espaço de convivência
permanente de pessoas com ou sem vínculo familiar ,
abrangendo, inclusive, os esporadicamente agregados.
Uma grande inovação do diploma aqui analisado é a
explicitação das formas de violência, discriminadas no art.
7º (violência física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral), sendo definidas cada uma delas.
Mantidas as penas constantes do Código Penal, e que vão de
um a três anos de detenção, afastaram-se a pena pecuniária,
a transação penal e a competência dos juizados especiais.
Há na lei um ponto que está a causar perplexidade por
destoar inteiramente do foco de maior repressão: o parágrafo
9º do art. 121, depois de ter o acréscimo da qualificação,
pela Lei 11.340/06, sofreu diminuição da pena máxima
cominada, passando de seis para três meses de detenção.
Para uns, houve equívoco do legislador, para outros,
diferentemente, a intenção foi sistematizar a pena para as
hipóteses de lesões leves.
Muito mais do que um diploma repressivo, a Lei Maria da
Penha é um conjunto sistêmico de medidas protetivas, daí a
prescrição de medidas acautelatórias, tais como: suspensão
do porte de arma, afastamento do lar, proibição de contato
do agressor com a vítima, alimentos provisionais, etc.
A Lei 11.340/06, para funcionar e produzir os efeitos
desejados, está a exigir do aparelho estatal, especialmente do
Poder Judiciário, um esforço concentrado, a partir da
implantação imediata dos Juizados de Violência Doméstica,
os quais deverão ter funcionamento diferenciado. A previsão
de uma equipe multidisciplinar de atendimento de nada
servirá se aos processos judiciais não se der diferenciado
tratamento no sentido de dinamizar, descomplicar e,
sobretudo, entender-se o drama familiar que se esconde atrás
de cada um dos processos. O desafio maior, portanto, é o de
treinamento adequado.
IV – QUESTIONAMENTOS
Como não poderia deixar de ser, doutrinariamente, não são
poucos os questionamentos em torno do novo diploma.
Primeiro, pela novidade, segundo, pela ousadia legislativa,
e, terceiro, pela falta de hábito, ainda, no trato com as ações
afirmativas. Daí a adjetivação à lei, tida por alguns como
preconceituosa por partir da idéia de desigualdade, o que é
de absoluta intolerância para as feministas.
A lei, efetivamente, reconhece a desigualdade de gênero e
vem, por isso mesmo, com o intuito de proteger não apenas
a mulher, mas também à família. Trata-se de um
instrumento identificado como de ação afirmativa.
Para outros, a lei em análise deforma o sistema prisional e
traz, em conseqüência, um grave problema social, na medida
em que, sem a possibilidade de livrar-se solto do processo,
como ocorria antecedentemente, colocar-se-á na prisão,
durante o curso do processo, um pai de família, um homem
com baixa agressividade, no meio de marginais perigosos e
praticantes de delitos de alto potencial ofensivo.
Entendo que o sistema prisional brasileiro já está
inteiramente deformado e não será a Lei Maria da Penha
mais um instrumento de aprofundamento do caos reinante.
A avaliação não é por esse prisma, e sim pela constatação de
que talvez tenhamos uma lei avançada demais para um país
que iguala os segregados pelo Estado, colocando todos no
mesmo patamar, sem estabelecer gradações, ou
discriminação, pelo tipo do crime perpetrado. Não temos
sistema prisional, e sim depósito de presos, o que precisa de
correção urgente, urgentíssima.
Alega-se também que a Lei Maria da Penha está na
contramão da história, porque defasada da nova orientação
do Direito Penal, de caráter eminentemente preventivo,
enquanto o grau de repressão da Lei 11.340/06 é a tônica. A
alegação é inteiramente leviana, na medida em que o
conteúdo penal do diploma analisado é mínimo. Como já
afirmado, trata-se de instrumento legislativo que alberga um
microssistema de proteção à família e, por via de
conseqüência, à mulher, com alguns dispositivos de forte
repressão.
A mais radical crítica à lei é no sentido de
taxá-la de inconstitucional, pela quebra do princípio da
igualdade. Ora, se levarmos em conta, em termos absolutos,
o princípio da igualdade formal, todas as ações afirmativas
padeceriam de inconstitucionalidade.
Afinal, ninguém ignora o grave quadro de
inferioridade do gênero, conforme demonstram os poucos
dados estatísticos existentes. A título exemplificativo, com
números de maio de 2006, temos que a cada quinze
segundos uma mulher é espancada ou violentada; a cada
vinte e quatro horas nove ocorrências policiais são
registradas; uma em cada cinco mulheres já foi agredida;
mais de cinqüenta por cento das agredidas não procuram
ajuda; trinta e três por cento das mulheres já sofreram algum
tipo de agressão física; setenta por cento dos incidentes
acontecem dentro da unidade familiar e o agressor é o
próprio marido; mais de quarenta por cento das agressões
resultam em lesões corporais graves; o Brasil perde dez por
cento do seu PIB em decorrência da violência contra a
mulher, considerando-se os gastos da rede de saúde, a
interrupção do mercado de trabalho pela paralisação da
atividade da mulher agredida e o gasto com a mobilização
do aparelho estatal repressivo, polícia e Justiça
V – CONCLUSÕES
Independentemente da valorização da
mulher, em política que tenha por escopo a igualdade do
gênero, não se pode deixar de reconhecer que no Brasil,
como em quase todos os países do mundo ocidental, a
mulher continua sendo alvo de uma sociedade machista e
desigual, em preconceito muitas vezes silencioso, velado e,
lamentavelmente, socialmente consentido. O silêncio da
vítima e a indiferença da sociedade são, sem dúvida, o
combustível mais poderoso para a continuidade da violência.
Não se pretende aqui fazer uma apologia à
mulher, mas é preciso, ao falar de uma específica forma de
violência, a doméstica, lembrar do que ocorre fora do
âmbito familiar, nos empregos, e que hoje merece a
reprimenda penal com o tipo do artigo 216-A do Código
Penal; do que faz a sociedade de consumo com as mulheres,
que hoje vivem submetidas aos ditames da ditadura da
beleza, que exige juventude, corpo esquálido e hábitos que
sustentem a rica indústria de cosméticos, de cirurgias
plásticas e da moda prêt-à-porter, sem preocupação alguma
com o destino existencial da mulher.
Ao falar-se da Lei Maria da Penha estar-se-á
restringindo a análise a uma espécie, a mais drástica e grave
sob o ângulo pessoal da vítima e da sociedade: a violência
doméstica.
A Lei 11.340/06 só pode ser interpretada
como diploma que pretende resgatar de forma
principiológica a política pública de proteção à família e de
combate à desigualdade, sem espaço para alegação de
inconstitucionalidade.
Constituindo-se a Lei Maria da Penha em
uma quebra de paradigma, só funcionará, efetivamente, se
pelo Estado houver a implementação dos serviços
multidisciplinares previstos no microssistema criado. Por
parte dos atores do processo, dentre os quais juízes e
membros do Ministério Público, espera-se que vençam a
tradicional morosidade do Judiciário, mediante a aplicação
da norma de maneira inteiramente nova, sem burocracias e
sem formalismo.
Enfim, no combate à desigualdade é preciso
que cada um cumpra o seu papel.