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Disciplina: Noções de Igualdade Racial e gênero Professora: Karla Dias Constitucional Constituição Federal de 1988 artigos 1º,3º,4º e 5º) Constituição do Estado da Bahia: (Cap. XXIII “ Do Negro”) Humanos Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto nº 65.810/69). Convenção Sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (Decreto nº 4.377/02). Administrativo Criação da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Lei nº 10.549/06) modificada pela Lei nº 12.212/11. Criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Lei nº 10.678/03). Processual Lei de Combate ao Genocídio (Lei nº 2.889/56). Lei Caó (Lei nº 7.437/85). Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.888, de 20 de Julho de 2010). Lei Federal no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). Lei Federal no 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei Federal no 9.459 de 13 de maio de 1997 (Tipificação dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor). Penal Código Penal Brasileiro (art. 140). INTRODUÇÃO O problema do racismo é antigo. A legislação penal positiva brasileira vigora na égide do Código Penal de 1940, da era getulista. Voltando no tempo, o código penal em vigor era o da República, de 1890; antes dele o Código Criminal do Império de 1830 e antes do código do Império, vigoravam as Ordenações Filipinas, Livro V. Nas Ordenações Filipinas, não encontramos, no livro V, nenhum tipo de preconceito; pelo contrário, a escravidão humana existia (negro, índio) e o livro V tratava da matéria, mas nenhum dispositivo condenava o racismo. Tinham dispositivos que estimulavam o racismo. Por exemplo: contra os judeus, ciganos, mouros, os quais eram obrigados a usar roupas e chapéus de determinada cor, forma etc. e, se não o fizessem, estariam praticando uma infração penal. Em suma, nos primeiros tempos após o descobrimento, durante 300 anos, a nossa própria legislação penal estimulava a

apostila sobre Noções de igualdade e gênero

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Page 1: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Disciplina: Noções de Igualdade Racial e gênero

Professora: Karla Dias

Constitucional

Constituição Federal de 1988 artigos 1º,3º,4º e 5º)

Constituição do Estado da Bahia: (Cap. XXIII “ Do

Negro”)

Humanos

Convenção Internacional Sobre a Eliminação de

Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto

nº 65.810/69). 

Convenção Sobre Eliminação de Todas as Formas

de Discriminação Contra a Mulher (Decreto nº

4.377/02). 

Administrativo

Criação da Secretaria de Promoção da Igualdade

Racial (Lei nº 10.549/06) modificada pela Lei nº

12.212/11. 

Criação da Secretaria de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial da Presidência da República (Lei

nº 10.678/03). 

Processual

Lei de Combate ao Genocídio (Lei nº 2.889/56). 

Lei Caó (Lei nº 7.437/85).  

Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.888, de 20

de Julho de 2010). 

Lei Federal no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei

Maria da Penha).

Lei Federal no 7.716, de 5 de janeiro de 1989,

alterada pela Lei Federal no 9.459 de 13 de maio de

1997 (Tipificação dos crimes resultantes de

preconceito de raça ou de cor).

Penal

Código Penal Brasileiro (art. 140).

INTRODUÇÃO

 O problema do racismo é antigo. A legislação

penal positiva brasileira vigora na égide do Código Penal de

1940, da era getulista. Voltando no tempo, o código penal

em vigor era o da República, de 1890; antes dele o Código

Criminal do Império de 1830 e antes do código do Império,

vigoravam as Ordenações Filipinas, Livro V.

Nas Ordenações Filipinas, não encontramos, no

livro V, nenhum tipo de preconceito; pelo contrário, a

escravidão humana existia (negro, índio) e o livro V tratava

da matéria, mas nenhum dispositivo condenava o racismo.

Tinham dispositivos que estimulavam o racismo. Por

exemplo: contra os judeus, ciganos, mouros, os quais eram

obrigados a usar roupas e chapéus de determinada cor,

forma etc. e, se não o fizessem, estariam praticando uma

infração penal.

Em suma, nos primeiros tempos após o

descobrimento, durante 300 anos, a nossa própria legislação

penal estimulava a ação discriminatória, envolvendo certas

e determinadas pessoas.

Proclamada a independência, passamos para o

Código Criminal de 1830, no qual não figurava nenhum

dispositivo consagrando ou prestigiando esse procedimento

preconceituoso, mas também nada dizendo que racismo,

preconceito envolvendo religião, sexo etc., configuraria

infração penal.

A escravidão continuava e no Código Criminal de

1830, existia toda uma parte dedicada aos escravos, quando

eles infringiam a lei penal. Eles recebiam tratamento

diferente.

No artigo 60 do Código Criminal do Império, se o

réu fosse escravo e incorresse em penas que não fossem a

pena capital ou de galés, ele seria condenado à pena de

açoites e depois, seria entregue ao seu senhor, que colocaria

nele, escravo, um ferro pelo tempo e maneira que o juiz

designasse.

Mais ainda, o número de açoites seria fixado na

sentença e o escravo, não poderia levar mais de cinqüenta

(açoites) por dia.

O mesmo se diga do Código da República, de 1890

que não trazia nenhuma alusão ao preconceito.

Verificado aqui no Brasil o movimento de Vargas,

o Estado Novo, adotamos uma nova codificação penal que é

o Código Penal de 1940.

Ocorrendo a revolução de 1964, partimos também

para um novo código penal; foi o código de 1969, que não

entrou em vigor, por circunstâncias diversas.Continua em

vigor o código de 1940, com muitas modificações e

alterações.No código de 1940 não há nenhum dispositivo a

respeito de racismo ou de preconceito.

Page 2: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Uma lei de 1951, a lei 1390/51 - Lei Afonso

Arinos, dizia: "constitui infração penal (contravenção penal)

punida nos termos dessa lei, a recusa por estabelecimento

comercial ou de ensino, de qualquer natureza, de hospedar,

servir, atender ou receber clientes, comprador ou não, o

preconceito de raça ou de cor".

O que temos, através dessa lei e de leis posteriores,

é o combate ao preconceito, à chamada ação discriminatória,

que nem sempre envolve raça.

Quando falamos em racismo, limitamos a área de

incidência do preconceito. As manifestações

preconceituosas são muitas: podem envolver a raça, cor,

idade, sexo, grupo social etc.

Preconceito é uma infração genérica; neste gênero

chamamos de preconceito de: raça, cor, estado civil, sexo,

inclinação religiosa etc. O preconceito é considerado

contravenção penal.

O que a lei pune é o preconceito apenas de raça e

cor. Preconceito é gênero; o que se combate realmente é o

preconceito.

Em 1985, 34 anos depois da Lei Afonso Arinos, foi

promulgada a lei nº 7437/85. Essa lei continua a considerar

os comportamentos preconceituosos, meramente

contravenção penal. Pela lei, a contravenção foi estendida

para preconceito de: raça, cor, sexo, estado civil.

A ideia central continua a ser preconceito, mas a

lei evoluiu pois aumentou o número de crimes de natureza

preconceituosa. Preconceito de sexo é não permitir por

exemplo a entrada de mulheres desacompanhadas em

determinados lugares; isto acontecia em certos

estabelecimentos em São Paulo, tais como boates, bares

dançantes etc.

O legislador constituinte ofereceu proteção à

igualdade entre todos os seres humanos ao definir que “a lei

punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e

liberdades fundamentais” (art. 5º, inciso XLI, CF). Esse

trato igualitário entre todos, base das democracias modernas,

proíbe a prática de discriminações e preconceitos

decorrentes de raça, cor, origem étnica, preferência religiosa

e procedência nacional, o que constitui odiosa e histórica

afronta ao princípio isonômico.

Mais enfática é, nossa Constituição Federal, ao

estabelecer em seu artigo 5o, XLII, que: “a prática do

racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito

à pena de reclusão nos termos da Lei”.

Constata-se, contudo, que mesmo após mais de cem

anos da abolição da escravatura encontramos preconceitos

constrangedores de um indivíduo em relação a seu

semelhante, resultado de um triste legado da colonização e

do imperialismo opressor, dominador e explorador.

 2. Legislações “Anti-discriminação”

2.1. Lei nº 1.390/1951 – Lei Afonso Arinos

 Texto legal de importantíssima relevância na História

brasileira, não muito por suas penas, mas pelo simples

reconhecimento da existência do racismo no Brasil, tão

frequente na realidade e não tendo sido reconhecido

legalmente até então. Tomou, assim, rumo completamente

diferente das Leis de condutas omissas que a antecederam.

Assim, com a promulgação da referida Lei, não havia mais

como negar a existência do racismo. Todavia, tal diploma

legislativo sofreu inúmeras críticas, vez que caracterizava as

ações preconceituosas como meras contravenções penais,

puníveis com 1 ano de prisão simples e com multas entre 15

dias a 3 meses, bem como suas condutas eram pouco

abrangentes, o que gerava dificuldade na aplicação da Lei.

Outra crítica que merece ser tecida com relação à referida

Lei diz respeito à penalização apenas das condutas

preconceituosas geradas por preconceito de raça ou cor,

ignorando aqueles advindos de etnia, religião, procedência

nacional, classe social, sexo e estado civil. Estes dois

últimos foram remediados pelo legislador com a Lei nº

7.437/1985, trazendo nova redação à Lei Afonso Arinos,

aumentando a gama das possíveis vítimas ao prever também

como infração penal o preconceito por sexo ou estado civil.

O preconceito por raça surge em patamar constitucional

somente a partir da Carta da República de 1967.

A Lei Afonso Arinos foi derrogada pela Lei 7.716/1989,

podendo ainda ser aplicada apenas contra preconceitos por

sexo ou estado civil.

 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

(ARTIGOS 1º,3º,4º E 5º)

TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais

Page 3: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela

união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito

Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e

tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

"Inexistente atribuição de competência exclusiva à União,

não ofende a Constituição do Brasil norma constitucional

estadual que dispõe sobre aplicação, interpretação e

integração de textos normativos estaduais, em conformidade

com a Lei de Introdução ao Código Civil. Não há falar-se

em quebra do pacto federativo e do princípio da

interdependência e harmonia entre os poderes em razão da

aplicação de princípios jurídicos ditos 'federais' na

interpretação de textos normativos estaduais. Princípios são

normas jurídicas de um determinado direito, no caso, do

direito brasileiro. Não há princípios jurídicos aplicáveis no

território de um, mas não de outro ente federativo, sendo

descabida a classificação dos princípios em 'federais' e

'estaduais'." (ADI 246, Rel. Min. Eros Grau, DJ 29/04/05)

“Se é certo que a Nova Carta Política contempla um elenco

menos abrangente de princípios constitucionais sensíveis, a

denotar, com isso, a expansão de poderes jurídicos na esfera

das coletividades autônomas locais, o mesmo não se pode

afirmar quanto aos princípios federais extensíveis e aos

princípios constitucionais estabelecidos, os quais, embora

disseminados pelo texto constitucional, posto que não é

tópica a sua localização, configuram acervo expressivo de

limitações dessa autonomia local, cuja identificação – até

mesmo pelos efeitos restritivos que deles decorrem – impõe-

se realizar. A questão da necessária observância ou não,

pelos Estados-Membros, das normas e princípios inerentes

ao processo legislativo, provoca a discussão sobre o alcance

do poder jurídico da União Federal de impor, ou não, às

demais pessoas estatais que integram a estrutura da

federação, o respeito incondicional a padrões heterônomos

por ela própria instituídos como fatores de compulsória

aplicação. (...) Da resolução dessa questão central, emergirá

a definição do modelo de federação a ser efetivamente

observado nas práticas institucionais.” (ADI 216-MC, Rel.

Min. Celso de Mello, DJ 23/05/90) file:///K|/STF%20-

%20CF.htm (1 of 574)17/08/2005 13:02:39

I - a soberania;

“O mero procedimento citatório não produz qualquer

efeito atentatório à soberania nacional ou à ordem

pública, apenas possibilita o conhecimento da ação que

tramita perante a justiça alienígena e faculta a apresentação

de defesa”. (CR 10.849-AgR, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ

21/05/04)

II - a cidadania

"Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se

submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é

dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário,

nega-se o Estado de Direito." (HC 73.454, Rel. Min.

Maurício Corrêa, DJ

III - a dignidade da pessoa humana;

"A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão

cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da

dignidade da pessoa humana, que representa

considerada a centralidade desse princípio essencial (CF,

art. 1º, I) significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-

fonte que conforma e inspira todo o ordenamento

constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo

expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre

nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo

sistema de direito constitucional positivo." (HC 85.988-MC,

Rel. Min. Celso de Mello, DJ 10/06/05).

“A mera instauração de inquérito, quando evidente a

atipicidade da conduta, constitui meio hábil a impor

violação aos direitos fundamentais, em especial ao

princípio da dignidade humana”. (HC 82.969, Rel. Min.

Gilmar Mendes, DJ 17/10/03)

“Sendo fundamento da República Federativa do Brasil a

dignidade da pessoa humana, o exame da

constitucionalidade de ato normativo faz-se considerada a

impossibilidade de o Diploma Maior permitir a exploração

do homem pelo homem. O credenciamento de profissionais

do volante para atuar na praça implica ato do administrador

que atende às exigências próprias à permissão e que

objetiva, em verdadeiro saneamento social, o endosso de lei

viabilizadora da transformação, balizada no tempo, de

Page 4: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

taxistas auxiliares em permissionários.” (RE 359.4, Rel.

Min. Carlos Velloso, DJ 28/05/04)

“O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da

pessoa humana, princípio alçado a fundamento da República

Federativa do Brasil”. (RE 248.869, Rel. Min. Maurício

Corrêa, DJ 12/03/04)

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce

por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos

termos desta Constituição.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as

desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de

origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas

suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

 I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da

humanidade;

X - concessão de asilo político.

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

"O repúdio ao terrorismo: um compromisso ético-jurídico

assumido pelo Brasil, quer em face de sua própria

Constituição, quer perante a comunidade internacional. Os

atos delituosos de natureza terrorista, considerados os

parâmetros consagrados pela vigente Constituição da

República, não se subsumem à noção de criminalidade

política, pois a Lei Fundamental proclamou o repúdio ao

terrorismo como um dos princípios essenciais que devem

reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais

(CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo,

para efeito de repressão interna, como crime equiparável aos

delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a

tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-

o inafiançável e insuscetível da clemência soberana do

Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos

crimes meramente comuns (CF, art. 5º, XLIII). A

Constituição da República, presentes tais vetores

interpretativos (CF, art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII), não

autoriza que se outorgue, às práticas delituosas de caráter

terrorista, o mesmo tratamento benigno dispensado ao autor

de crimes políticos ou de opinião, impedindo, desse modo,

que se venha a estabelecer, em torno do terrorista, um

inadmissível círculo de proteção que o faça imune ao poder

extradicional do Estado brasileiro, notadamente se se tiver

em consideração a relevantíssima circunstância de que a

Assembleia Nacional Constituinte formulou um claro e

inequívoco juízo de desvalor em relação a quaisquer atos

delituosos revestidos de índole terrorista, a estes não

reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha

impregnada a prática da criminalidade política." (Ext 855,

Rel. Min. Celso de Mello, DJ

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a

integração econômica, política, social e cultural dos povos

da América Latina, visando à formação de uma comunidade

latino-americana de nações.

TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,

nos termos seguintes:

"(...) é consentânea com a Carta da República previsão

normativa asseguradora, ao militar e ao dependente

estudante, do acesso a instituição de ensino na localidade

para onde é removido. Todavia, a transferência do local do

serviço não pode se mostrar verdadeiro mecanismo para

lograr-se a transposição da seara particular para a pública,

sob pena de se colocar em plano secundário a isonomia —

artigo 5º, cabeça e inciso I —, a impessoalidade, a

moralidade na Administração Pública, a igualdade de

Page 5: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

condições para o acesso e permanência na escola

superior, prevista no inciso I do artigo 206, bem como a

viabilidade de chegar-se a níveis mais elevados do ensino,

no que o inciso V do artigo 208 vincula o fenômeno à

capacidade de cada qual." (ADI 3.324, voto do Min.

Marco Aurélio, DJ 05/08/05)

"A vedação constitucional de diferença de critério de

admissão por motivo de idade (CF, art. 7º, X) é corolário, na

esfera das relações de trabalho, do princípio fundamental de

igualdade, que se entende, à falta de exclusão constitucional

inequívoca (como ocorre em relação aos militares - CF, art.

42, § 1º), a todo o sistema do pessoal civil. É ponderável,

não obstante, a ressalva das hipóteses em que a limitação de

idade se possa legitimar como imposição da natureza e das

atribuições do cargo a preencher." (RMS 21.046, Rel. Min.

Sepúlveda Pertence, DJ 14/1/91). No mesmo sentido: RE

141.357, DJ 08/10/04; RE 212.066, DJ 12/03/9.

“O princípio da isonomia, que se reveste de auto-

aplicabilidade, não é - enquanto postulado fundamental de

nossa ordem político-jurídica - suscetível de regulamentação

ou de complementação normativa. Esse princípio – cuja

observância vincula, incondicionalmente, todas as

manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em

sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir

privilégios (RDA 5/114), sob duplo aspecto: (a) o da

igualdade na lei e (b) o da igualdade perante a lei. A

igualdade na lei - que opera numa fase de generalidade

puramente abstrata - constitui exigência destinada ao

legislador que, no processo de sua formação, nela não

poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela

ruptura da ordem isonômica. A igualdade perante a lei,

contudo, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição

destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da

norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que

ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual

inobservância desse postulado pelo legislador imporá ao ato

estatal por ele elaborado e produzido a eiva de

inconstitucionalidade.” (MI 58, Rel. Min. Celso de Mello,

DJ 19/04/91)

I - homens e mulheres são iguais em direitos e

obrigações, nos termos desta Constituição;

"Promoção de militares dos sexos masculino e feminino:

critérios diferenciados: carreiras regidas por legislação

específica: ausência de violação ao princípio da isonomia:

precedente (RE 225.721, Ilmar Galvão, DJ 24/04/2000)."

(AI 511.131-AgR, Rel.Min. Sepúlveda Pertence, DJ

15/04/05)

I - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento

desumano ou degradante;

“Limitações à liberdade de manifestação do pensamento,

pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar

explícita ou implicitamente prevista na própria

Constituição.” (ADI 869, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ

04/06/04) file:///K|/STF%20-%20CF.htm (12 of

574)17/08/2005 13:02:39

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,

sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e

garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto

e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de

assistência religiosa nas entidades civis e militares de

internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença

religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as

invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e

recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,

científica e de comunicação, independentemente de censura

ou licença;

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável

e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos

da lei; 

........................................... 

§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias

fundamentais têm aplicação imediata.

 § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição

não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios

por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a

República Federativa do Brasil seja parte. 

Page 6: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

A Constituição de 1988, em seu art. 5º - inc. XLII,

passou a considerar a prática do racismo como crime

inafiançável e imprescritível.

O legislador falou em racismo, mas na verdade, o

que ele queria dizer era preconceito. Preconceito é gênero,

do qual o racismo é uma espécie. Por racismo, entende-se

um preconceito que abrange a raça e no máximo, a cor das

pessoas. O racismo não envolve preconceito de sexo, de

estado civil ou de outra natureza.

O racismo então deixou de ser mera contravenção

e ganhou o "status" de crime. Mas que crime? - Um crime

particular, extraordinário, porque esse crime está sujeito

sempre à pena de reclusão e mais do que isso, é um crime

inafiançável e mais ainda, um crime imprescritível.

É claro que o racismo é um crime muito grave, mas

fazer com que seja um crime imprescritível é um absurdo. É

preciso que o direito de punir do Estado seja limitado no

tempo; não pode um crime não prescrever nunca. Nos

diplomas penais do mundo moderno, a prescrição começa a

ser introduzida, pois a prescrição atenua aquele poder do

Estado de a qualquer hora poder punir.

Para o Estado, a imprescritibilidade é uma coisa

extraordinária, mas não o é evidentemente, uma garantia

para o cidadão.

A prescrição é um instituto moderno e soberano

em todos os códigos de todos os povos modernos. O

legislador brasileiro retrocedeu séculos quando colocou

como imprescritível o crime de racismo.

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA

CAPÍTULO XXIII –

“DO NEGRO”

Art. 286 - A sociedade baiana é cultural e historicamente

marcada pela presença da comunidade afro-brasileira,

constituindo a prática do racismo crime inafiançável e

imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da

Constituição Federal.

Art. 287 - Com países que mantiverem política oficial de

discriminação racial, o Estado não poderá:

I - admitir participação, ainda que indireta, através de

empresas neles sediadas, em qualquer processo licitatório da

Administração Pública direta ou indireta;

II - manter intercâmbio cultural ou desportivo, através de

delegações oficiais.

Art. 288 - A rede estadual de ensino e os cursos de

formação e aperfeiçoamento do servidor público civil e

militar incluirão em seus programas disciplina que valorize a

participação do negro na formação histórica da sociedade

brasileira.

Art. 289 - Sempre que for veiculada publicidade estadual

com mais de duas pessoas, será assegurada a inclusão de

uma da raça negra.

Art. 290 - O Dia 20 de novembro será considerado, no

calendário oficial, como Dia da Consciência Negra.

LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010.

Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos

7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de

13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778,

de 24 de novembro de 2003.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o

Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial,

destinado a garantir à população negra a efetivação da

igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos

individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação

e às demais formas de intolerância étnica.

Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:

I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção,

exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,

descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por

objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou

exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e

liberdades fundamentais nos campos político, econômico,

social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública

ou privada;

II - desigualdade racial: toda situação injustificada de

diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e

Page 7: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de

raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;

III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no

âmbito da sociedade que acentua a distância social entre

mulheres negras e os demais segmentos sociais;

IV - população negra: o conjunto de pessoas que se

autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou

raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;

V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas

adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições

institucionais;

VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais

adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a

correção das desigualdades raciais e para a promoção da

igualdade de oportunidades.

Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a

igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão

brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o

direito à participação na comunidade, especialmente nas

atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais,

culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus

valores religiosos e

culturais.

Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos

princípios fundamentais, aos direitos e garantias

fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais,

o Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político-

jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial,

a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento da

identidade nacional brasileira.

Art. 4o A participação da população negra, em condição de

igualdade de oportunidade, na vida econômica, social,

política e cultural do País será promovida, prioritariamente,

por meio de:

I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento

econômico e social;

II - adoção de medidas, programas e políticas de ação

afirmativa;

III - modificação das estruturas institucionais do Estado para

o adequado enfrentamento e a

superação das desigualdades étnicas decorrentes do

preconceito e da discriminação étnica;

IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o

combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas

em todas as suas manifestações individuais, institucionais e

estruturais;

V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e

institucionais que impedem a representação da diversidade

étnica nas esferas pública e privada;

VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas

da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de

oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas,

inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios

de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos

públicos;

VII - implementação de programas de ação afirmativa

destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no

tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde,

segurança, trabalho,

moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos

públicos, acesso à terra, à Justiça, e

outros.

Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa

constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as

distorções e desigualdades sociais e demais práticas

discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada,

durante o processo de formação social do País.

Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é

instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade

Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.

TÍTULO II

DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I

DO DIREITO À SAÚDE

Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido

pelo poder público mediante políticas universais, sociais e

econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de

outros agravos.

§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de

Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da

saúde da população negra será de responsabilidade dos

Page 8: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e

municipais, da administração direta e indireta.

§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população

negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado

sem discriminação.

Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população

negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da

População Negra, organizada de acordo com as diretrizes

abaixo especificadas:

I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças

dos movimentos sociais em defesa da saúde da população

negra nas instâncias de participação e controle social do

SUS;

II - produção de conhecimento científico e tecnológico em

saúde da população negra;

III - desenvolvimento de processos de informação,

comunicação e educação para contribuir com a redução das

vulnerabilidades da população negra.

Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde

Integral da População Negra:

I - a promoção da saúde integral da população negra,

priorizando a redução das desigualdades étnicas e o combate

à discriminação nas instituições e serviços do SUS;

II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do

SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos

dados desagregados por cor, etnia e gênero;

III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre

racismo e saúde da população negra;

IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra

nos processos de formação e educação permanente dos

trabalhadores da saúde;

V - a inclusão da temática saúde da população negra nos

processos de formação política das lideranças de

movimentos sociais para o exercício da participação e

controle social no SUS.

Parágrafo único. Os moradores das comunidades de

remanescentes de quilombos serão beneficiários de

incentivos específicos para a garantia do direito à saúde,

incluindo melhorias nas condições ambientais, no

saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e

na atenção integral à saúde.

CAPÍTULO II

DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO

ESPORTE E AO LAZER

Seção I

Disposições Gerais

Art. 9o A população negra tem direito a participar de

atividades educacionais, culturais,esportivas e de lazer

adequadas a seus interesses e condições, de modo a

contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e

da sociedade brasileira.

Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os

governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão

as seguintes providências:

I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da

população negra ao ensino

gratuito e às atividades esportivas e de lazer;

II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço

para promoção social e cultural da população negra;

III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive

nas escolas, para que a solidariedade aos membros da

população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;

IV - implementação de políticas públicas para o

fortalecimento da juventude negra brasileira.

Seção II

Da Educação

Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de

ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da

história geral da África e da história da população negra no

Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20 de

dezembro de 1996.

§ 1o Os conteúdos referentes à história da população negra

no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo

escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o

desenvolvimento social, econômico, político e cultural do

País.

§ 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a

formação inicial e continuada de professores e a elaboração

de material didático específico para o cumprimento do

disposto no caput deste artigo.

§ 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos

responsáveis pela educação

Page 9: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

incentivarão a participação de intelectuais e representantes

do movimento negro para debater com

os estudantes suas vivências relativas ao tema em

comemoração.

Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento

à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a

pesquisas e a programas de estudo voltados para temas

referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões

pertinentes à população negra.

Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos

competentes, incentivará as instituições de ensino superior

públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:

I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar

grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos

programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas de

interesse da população negra;

II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de

formação de professores temas que incluam valores

concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade

brasileira;

III - desenvolver programas de extensão universitária

destinados a aproximar jovens negros de tecnologias

avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de

gênero entre os beneficiários;

IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos

estabelecimentos de ensino públicos,

privados e comunitários, com as escolas de educação

infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico,

para a formação docente baseada em princípios de equidade,

de tolerância e de respeito às diferenças étnicas.

Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações

socioeducacionais realizadas por entidades do movimento

negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão

social, mediante cooperação técnica, intercâmbios,

convênios e incentivos, entre outros mecanismos.

Art. 15. O poder público adotará programas de ação

afirmativa.

Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos

responsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e de

educação, acompanhará e avaliará os programas de que trata

esta Seção.

Seção III

Da Cultura

Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das

sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação

coletiva da população negra, com trajetória histórica

comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos

termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.

Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades

dos quilombos o direito à preservação de seus usos,

costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção

do Estado.

Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios

detentores de reminiscências históricas dos antigos

quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 216 da

Constituição Federal, receberá especial atenção do poder

público.

Art. 19. O poder público incentivará a celebração das

personalidades e das datas comemorativas relacionadas à

trajetória do samba e de outras manifestações culturais de

matriz africana, bem como sua comemoração nas

instituições de ensino públicas e privadas.

Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da

capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de

natureza imaterial e de formação da identidade cultural

brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal.

Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio

dos atos normativos necessários, a preservação dos

elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas

relações

internacionais.

Seção IV

Do Esporte e Lazer

Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da

população negra às práticas desportivas, consolidando o

esporte e o lazer como direitos sociais.

Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação

nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal.

§ 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as

modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como

esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em

todo o território nacional.

Page 10: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições

públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais,

pública e formalmente reconhecidos.

CAPÍTULO III

DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE

CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS

CULTOS RELIGIOSOS

Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença,

sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e

garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a

suas liturgias.

Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e

ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana

compreende:

I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas

à religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa

privada, de lugares reservados para tais fins;

II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com

preceitos das respectivas religiões;

III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de

instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções

religiosas;

IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de

artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às

práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as

condutas vedadas por legislação específica;

V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas

ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana;

VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais

e jurídicas de natureza privada para a manutenção das

atividades religiosas e sociais das respectivas religiões;

VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para

divulgação das respectivas religiões;

VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de

ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância

religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros

locais.

Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes

de religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou

em outras instituições de internação coletiva, inclusive

àqueles submetidos a pena privativa de liberdade.

Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias

para o combate à intolerância com as religiões de matrizes

africanas e à discriminação de seus seguidores,

especialmente com o objetivo de:

I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para

a difusão de proposições, imagens ou abordagens que

exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por

motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas;

II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e

outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos,

mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às

religiões de matrizes africanas;

III - assegurar a participação proporcional de representantes

das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação

das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e

outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder

público.

CAPÍTULO IV

DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA

Seção I

Do Acesso à Terra

Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas

públicas capazes de promover o acesso da população negra à

terra e às atividades produtivas no campo.

Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades

produtivas da população negra no campo, o poder público

promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao

financiamento

agrícola.

Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência

técnica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e

o fortalecimento da infraestrutura de logística para a

comercialização da produção.

Art. 30. O poder público promoverá a educação e a

orientação profissional agrícola para os trabalhadores negros

e as comunidades negras rurais.

Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos

quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a

propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os

títulos respectivos.

Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá

políticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento

sustentável dos remanescentes das comunidades dos

Page 11: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental

das comunidades.

Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das

comunidades dos quilombos receberão dos órgãos

competentes tratamento especial diferenciado, assistência

técnica e linhas especiais de financiamento público,

destinados à realização de suas atividades produtivas e de

infraestrutura.

Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos

se beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em

outras leis para a promoção da igualdade étnica.

Seção II

Da Moradia

Art. 35. O poder público garantirá a implementação de

políticas públicas para assegurar o direito à moradia

adequada da população negra que vive em favelas, cortiços,

áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de

degradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e

promover melhorias no ambiente e na qualidade de vida.

Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os

efeitos desta Lei, inclui não apenas o provimento

habitacional, mas também a garantia da infraestrutura

urbana e dos equipamentos comunitários associados à

função habitacional, bem como a assistência técnica e

jurídica para a construção, a reforma ou a regularização

fundiária da habitação em área urbana.

Art. 36. Os programas, projetos e outras ações

governamentais realizadas no âmbito do Sistema Nacional

de Habitação de Interesse Social (SNHIS), regulado pela Lei

no 11.124, de 16 de junho de 2005, devem considerar as

peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população

negra.

Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios estimularão e facilitarão a participação de

organizações e movimentos representativos da população

negra na composição

dos conselhos constituídos para fins de aplicação do Fundo

Nacional de Habitação de Interesse

Social (FNHIS).

Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados,

promoverão ações para viabilizar o acesso da população

negra aos financiamentos habitacionais.

CAPÍTULO V

DO TRABALHO

Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a

inclusão da população negra no mercado de trabalho será de

responsabilidade do poder público, observando-se:

I - o instituído neste Estatuto;

II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a

Convenção Internacional sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de

1965;

III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a

Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional

do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego e

na profissão;

IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo

Brasil perante a comunidade internacional.

Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a

igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a

população negra, inclusive mediante a implementação de

medidas visando à promoção da igualdade nas contratações

do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares

nas empresas e organizações privadas.

§ 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a

adoção de políticas e programas de formação profissional,

de emprego e de geração de renda voltados para a população

negra.

§ 2o As ações visando a promover a igualdade de

oportunidades na esfera da administração

pública far-se-ão por meio de normas estabelecidas ou a

serem estabelecidas em legislação

específica e em seus regulamentos.

§ 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a

adoção de iguais medidas pelo setor privado.

§ 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão

o princípio da proporcionalidade de gênero entre os

beneficiários.

§ 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena

produção, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas

para mulheres negras.

§ 6o O poder público promoverá campanhas de

sensibilização contra a marginalização da mulher negra no

trabalho artístico e cultural.

Page 12: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

§ 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de

elevar a escolaridade e a qualificação profissional nos

setores da economia que contem com alto índice de

ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização.

Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao

Trabalhador (Codefat) formulará políticas, programas e

projetos voltados para a inclusão da população negra no

mercado de trabalho e orientará a destinação de recursos

para seu financiamento.

Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio

de financiamento para constituição e ampliação de pequenas

e médias empresas e de programas de geração de renda,

contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros.

Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades

voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais,

monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os

costumes da população negra.

Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar

critérios para provimento de cargos em comissão e funções

de confiança destinados a ampliar a participação de negros,

buscando reproduzir a estrutura da distribuição étnica

nacional ou, quando for o caso, estadual, observados os

dados demográficos oficiais.

CAPÍTULO VI

DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação

valorizará a herança cultural e a participação da população

negra na história do País.

Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à

veiculação pelas emissoras de televisão e em salas

cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir

oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos

negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de

natureza política, ideológica, étnica ou artística.

Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se

aplica aos filmes e programas que abordem especificidades

de grupos étnicos determinados.

Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias

destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e em

salas cinematográficas o disposto no art. 44.

Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública

federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas

públicas e as sociedades de economia mista federais deverão

incluir cláusulas de participação de artistas negros nos

contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer

outras peças de caráter publicitário.

§ 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão,

nas especificações para contratação de serviços de

consultoria, conceituação, produção e realização de filmes,

programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da

prática de iguais oportunidades de emprego para as pessoas

relacionadas com o projeto ou serviço contratado.

§ 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de

emprego o conjunto de medidas sistemáticas executadas

com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e

de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço

contratado.

§ 3o A autoridade contratante poderá, se considerar

necessário para garantir a prática de iguais oportunidades de

emprego, requerer auditoria por órgão do poder público

federal.

§ 4o A exigência disposta no caput não se aplica às

produções publicitárias quando abordarem especificidades

de grupos étnicos determinados.

TÍTULO III

DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA

IGUALDADE RACIAL

(SINAPIR)

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da

Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização e de

articulação voltadas à implementação do conjunto de

políticas e serviços destinados a superar as desigualdades

étnicas existentes no País, prestados pelo poder público

federal.

§ 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão

participar do Sinapir mediante adesão.

§ 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a

iniciativa privada a participar do Sinapir.

CAPÍTULO II

DOS OBJETIVOS

Art. 48. São objetivos do Sinapir:

Page 13: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

I - promover a igualdade étnica e o combate às

desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive

mediante adoção de ações afirmativas;

II - formular políticas destinadas a combater os fatores de

marginalização e a promover a integração social da

população negra;

III - descentralizar a implementação de ações afirmativas

pelos governos estaduais, distrital e municipais;

IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à

promoção da igualdade étnica;

V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados

para a implementação das ações afirmativas e o

cumprimento das metas a serem estabelecidas.

CAPÍTULO III

DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA

Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional

de promoção da igualdade racial contendo as metas,

princípios e diretrizes para a implementação da Política

Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR).

§ 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação

e acompanhamento da PNPIR, bem como a organização,

articulação e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo

órgão responsável pela política de promoção da igualdade

étnica em âmbito nacional.

§ 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir

fórum intergovernamental de promoção da igualdade étnica,

a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas de

promoção da igualdade étnica, com o objetivo de

implementar estratégias que visem à incorporação da

política nacional de promoção da igualdade étnica nas ações

governamentais de Estados e Municípios.

§ 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de

promoção da igualdade étnica serão elaboradas por órgão

colegiado que assegure a participação da sociedade civil.

Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e

municipais, no âmbito das respectivas esferas de

competência, poderão instituir conselhos de promoção da

igualdade étnica, de caráter permanente e consultivo,

compostos por igual número de representantes de órgãos e

entidades

públicas e de organizações da sociedade civil representativas

da população negra.

Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos

recursos referentes aos programas e atividades previstos

nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios que

tenham criado conselhos de promoção da igualdade étnica.

CAPÍTULO IV

DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À

JUSTIÇA E À SEGURANÇA

Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e

no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias

Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e

encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com

base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de

medidas para a promoção da igualdade.

Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o

acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria

Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em

todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de

seus direitos.

Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres

negras em situação de violência, garantida a assistência

física, psíquica, social e jurídica.

Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a

violência policial incidente sobre a

população negra.

Parágrafo único. O Estado implementará ações de

ressocialização e proteção da juventude

negra em conflito com a lei e exposta a experiências de

exclusão social.

Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de

discriminação e preconceito

praticados por servidores públicos em detrimento da

população negra, observado, no que couber,

o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989.

Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças

de lesão aos interesses da população negra decorrentes de

situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros

instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na Lei no

7.347, de 24 de julho de 1985.

CAPÍTULO V

DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

Art. 56. Na implementação dos programas e das ações

constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais

da União, deverão ser observadas as políticas de ação

afirmativa a que se

Page 14: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

refere o inciso VII do art. 4o desta Lei e outras políticas

públicas que tenham como objetivo promover a igualdade de

oportunidades e a inclusão social da população negra,

especialmente no que tange a:

I - promoção da igualdade de oportunidades em educação,

emprego e moradia;

II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação,

saúde e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade de

vida da população negra;

III - incentivo à criação de programas e veículos de

comunicação destinados à divulgação de matérias

relacionadas aos interesses da população negra;

IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas

administradas por pessoas autodeclaradas negras;

V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência

das pessoas negras na educação fundamental, média, técnica

e superior;

VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais,

distrital e municipais e de entidades da sociedade civil

voltados para a promoção da igualdade de oportunidades

para a população negra;

VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e

das tradições africanas e brasileiras.

§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar

medidas que garantam, em cada exercício, a transparência

na alocação e na execução dos recursos necessários ao

financiamento das ações previstas neste Estatuto,

explicitando, entre outros, a proporção dos recursos

orçamentários destinados aos programas de promoção da

igualdade, especialmente nas áreas de

educação, saúde, emprego e renda, desenvolvimento agrário,

habitação popular, desenvolvimento regional, cultura,

esporte e lazer.

§ 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do

exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os órgãos

do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas e

programas nas áreas referidas no § 1o deste artigo

discriminarão em seus orçamentos anuais a participação nos

programas de ação afirmativa referidos no inciso VII do art.

4o desta Lei.

§ 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas

necessárias para a adequada implementação do disposto

neste artigo, podendo estabelecer patamares de participação

crescente dos programas de ação afirmativa nos orçamentos

anuais a que se refere o § 2o deste artigo.

§ 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal

responsável pela promoção da igualdade racial acompanhará

e avaliará a programação das ações referidas neste artigo nas

propostas orçamentárias da União.

Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários,

poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e da

seguridade social para financiamento das ações de que trata

o art. 56:

I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios;

II - doações voluntárias de particulares;

III - doações de empresas privadas e organizações não

governamentais, nacionais ou internacionais;

IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou

internacionais;

V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios,

tratados e acordos internacionais.

TÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem

outras em prol da população negra que tenham sido ou

venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do

Distrito Federal ou dos Municípios.

Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para

aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e

efetuará seu monitoramento constante, com a emissão e a

divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede

mundial de computadores.

Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei no 7.716, de 1989, passam a

vigorar com a seguinte redação:

“Art. 3o ........................................................................

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo

de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência

nacional, obstar a promoção funcional.” (NR)

“Art. 4o ........................................................................

§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de

discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do

preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:

I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao

empregado em igualdade de condições com os demais

trabalhadores;

Page 15: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar

outra forma de benefício profissional;

III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no

ambiente de trabalho, especialmente

quanto ao salário.

§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de

serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da

igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra

forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de

aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas

atividades não justifiquem essas exigências.” (NR)

Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei no 9.029, de 13 de abril de

1995, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos

dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de

preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto

nesta Lei são passíveis das seguintes cominações:

...................................................................................” (NR)

“Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato

discriminatório, nos moldes desta Lei, além

do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao

empregado optar entre:

...................................................................................” (NR)

Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar

acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual

parágrafo único como § 1o:

“Art. 13. ........................................................................

§ 1o ...............................................................................

§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em

dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do

disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro

reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será

utilizada para ações de promoção da igualdade étnica,

conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da

Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos

Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou

locais, nas

hipóteses de danos com extensão regional ou local,

respectivamente.” (NR)

Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei no 10.778, de 24 de

novembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1o .......................................................................

§ 1o Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência

contra a mulher qualquer ação ou conduta,

baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou

desigualdade étnica, que cause

morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à

mulher, tanto no âmbito público quanto no

privado.

...................................................................................” (NR)

Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei no 7.716, de 1989, passa a

vigorar acrescido do seguinte

inciso III:

“Art. 20. ......................................................................

.............................................................................................

§ 3o ...............................................................................

.............................................................................................

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de

informação na rede mundial de computadores.

...................................................................................” (NR)

Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a

data de sua publicação.

Brasília, 20 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o

da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Eloi Ferreira de Araújo

Este texto não substitui o publicado no DOU de 21.7.2010

LEI Nº 7.716/1989

 

Considerada um expressivo avanço jurídico e

político, a denominada Lei Caó (por força do parlamentar

Carlos Alberto Caó, autor do projeto de Lei na Câmara dos

Deputados), ou ainda Lei “Antidiscriminação” ou Lei “Anti-

preconceito”, veio para suprir as falhas que foram deixadas

pela Lei Afonso Arinos.

Aparece a Lei Caó no cenário jurídico por força da

Constituição de 1988, que conferiu suporte constitucional ao

legislador ordinário. Promulgada em 5 de janeiro de 1989, a

Lei Caó inovou ao caracterizar a prática de racismo como

crime, em um cenário aonde este era considerado apenas

uma contravenção penal, ensejando às pessoas que

cometessem atos discriminatórios os benefícios da

primariedade, do simples pagamento de multas etc., sem

que, de fato, fossem condenadas e cumprissem pena em

estabelecimentos carcerários. Ou seja, a prática do racismo

vinha sendo estimulada de forma crescente, sem que o

Page 16: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Estado, detentor de uma máquina policial-judiciária lenta e

ineficiente viesse a punir os culpados.

Nesta linha, a antiga Lei Afonso Arinos representou à sua

época seu papel, que guarda extrema importância na

História, porém, imperiosa era a promulgação de uma nova

Lei, que representasse fielmente a realidade.

Não obstante a frequente negação – talvez por conta de uma

vergonha moral – de que o Brasil represente um país de

discriminadores, resta claro que estes existem e agem

sorrateiramente, nos balcões de lojas, hotéis, locais públicos,

ou ainda em simples gracejos cotidianos. Por esse prisma,

salta aos olhos a importância jurídica da Lei 7.716/89.

 

 LEI 7.716 DE 05/01/1989 - DOU 06/01/1989

Define os Crimes Resultantes de Preconceitos de

Raça ou de Cor.

ART. 20 - Praticar, induzir ou incitar, pelos meios

de comunicação social ou por publicação de qualquer

natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor,

religião, etnia ou procedência nacional (grifo nosso).

Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

É apenas através da mídia, através da imprensa. A

Lei, limitou esses atos, característicos de crime, à chamada

publicação, aos anúncios em jornais e outros meios de

comunicação.

Antes da lei, haviam anúncios de empregados

procurados nos jornais, que davam preferência a candidatos

nisseis, candidatos de orígem alemã, americana e assim por

diante, criando uma barreira às pessoas de outras

nacionalidades.

2.3. Alterações legislativas da Lei 7.716/1989

 

A Lei 7.716/89, à sua promulgação, não trouxe condutas

típicas inovadoras, reproduzindo grande parte da Lei Afonso

Arinos, Lei combatente ao racismo que estava vigendo à

época.

Tal fato fez com que referida Lei fosse alvo de críticas, por

parte dos movimentos de grupos discriminados, bem como

pela doutrina especializada, isso porque a Lei 7.716/89, tão

importante por elevar a prática de racismo de contravenção

penal a crime, continuou a penalizar apenas as condutas

preconceituosas por raça ou cor (exatamente como a

legislação que a precedia), relegando ao esquecimento

àquelas resultantes de preconceito por etnia, religião,

procedência nacional, preferência sexual ou classe social.

Assim, fizeram-se necessárias alterações legislativas nesse

sentido, e isto se deu através das Leis 8.081/90, 8.882/94 e

9.459/97, sendo que esta última representou a modificação

mais importante.

Esta última Lei modificadora deu nova redação ao artigo

1o da Lei Caó, passando este a ter como conduta criminosa

não apenas os atos praticados por discriminação ou

preconceito por raça ou cor, mas também aqueles advindos

de discriminação ou preconceito por etnia, religião ou

procedência nacional.

Lamentável porém foi o legislador ordinário não ter tratado,

nesta última alteração legislativa, dos atos discriminatórios

por sexo, estado civil  ou orientação sexual. Vale lembrar

que estes dois primeiros permanecem como simples

contravenções penais por conta da Lei nº 7.437/1985. Já

com relação ao preconceito por orientação sexual, não há lei

que trate do assunto, o que gera impunidade, uma vez que os

homossexuais são frequentemente vítimas de discriminação

e preconceito.

Outra importante alteração trazida pela Lei nº 9.459/97 foi a

introdução do artigo 20 na Lei Anti-discriminação, qual

seja:

“Art. 20 - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou

preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência

nacional. Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

§ 1º - Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular

símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda

que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de

divulgação do nazismo. Pena: reclusão de 2 (dois) a 5

(cinco) anos e multa. § 2º - Se qualquer dos crimes previstos

no caput é cometido por intermédio dos meios de

comunicação social ou publicação de qualquer natureza:

Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. § 3º -

No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar,

ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes

do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - o

recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos

exemplares do material respectivo; II - a cessação das

respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas. § 4º -

Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o

Page 17: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

trânsito em julgado da decisão, a destruição do material

apreendido.”

Este artigo aumentou consideravelmente a possibilidade da

adequação típica das condutas preconceituosas, pois,

tratando-se de crime de execução livre, qualquer prática,

induzimento ou incitação à discriminação ou preconceito

por força de raça, cor, etnia, religião ou procedência

nacional tipifica o crime.

Esta última alteração ainda modificou o art. 140 do Código

Penal, acrescentando-lhe seu parágrafo 3o, prevendo a

injúria qualificada pelos elementos de raça, cor, etnia,

religião e origem, dando-lhe a mesma pena do crime do

artigo 20, caput, da lei especial.

O §3o do artigo 140 do Código Penal, recebeu nova

alteração pela Lei nº 10.741/2003, acrescentando-lhe ainda,

além da injúria qualificada dita acima, também aquela por

força de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Bem

como, a partir da Lei 12.033/09, passou a ser perseguido

mediante ação penal pública mediante representação do

ofendido (art. 145, parágrafo único, do Código Penal).

Christiano Jorge Santos comenta ainda que não obstante as

três alterações providenciadas na Lei 7.716/89, não cuidou o

legislador de alterar-lhe o texto do epígrafe, constando ainda

que os crimes são os resultantes apenas de raça e cor.

 LEI CAÓ

LEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985

Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos

resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de

estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de

julho de 1951 - Lei Afonso Arinos.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o

Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta

Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de

cor, de sexo ou de estado civil.

Art 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor,

gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na

prática referida no art. 1º desta Lei.

DAS CONTRAVENÇÕES

Art 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem

ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de

raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e

multa de 3 (três) a 10 (dez)

vezes o maior valor de referência (MVR).

Art 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de

qualquer gênero ou o atendimento

de clientes em restaurantes, bares, confeitarias ou locais

semelhantes, abertos ao

público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de

estado civil.

Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e

multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência

(MVR).

Art 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento

público, de diversões ou deesporte, por preconceito de raça,

de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e

multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência

(MVR).

Art 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de

estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por

preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e

multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência

(MVR).

Art 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de

ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça,

de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e

multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência

(MVR).

Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de

ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde

que apurada em inquérito regular.

Art 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público

civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou

de estado civil.

Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade

em inquérito regular, para o funcionário dirigente da

repartição de que dependa a inscrição no concurso de

habilitação dos candidatos.

Page 18: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Art 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia,

sociedade de economia mista, empresa concessionária de

serviço público ou empresa privada, por preconceito

de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e

multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência

(MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o

responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de

economia mista e empresa

concessionária de serviço público.

Art 10 - Nos casos de reincidência havidos em

estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a

pena adicional de suspensão do funcionamento, por prazo

não superior a 3 (três) meses.

Art 11 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art 12 - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 20 de dezembro de 1985; 164º da

Independência e 97º da República.

JOSÉ SARNEY

Fernando Lyra

LEI 10549/06 | LEI Nº 10.549 DE 28 DE DEZEMBRO

DE 2006 DA BAHIA

  

Modifica a estrutura organizacional da Administração

Pública do Poder Executivo Estadual e dá outras

providências. 

O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber

que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a

seguinte Lei:

Art. 1º - A Administração Pública Estadual fica modificada

na forma da presente Lei.

Art. 2º - Ficam alteradas as denominações das seguintes

Secretarias de Estado:

I - Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte -

SETRAS, para Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e

Esporte - SETRE;

II - Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades

Sociais - SECOMP, para Secretaria de Desenvolvimento

Social e Combate à Pobreza - SEDES;

III - Secretaria de Governo - SEGOV para Casa Civil;

IV - Secretaria de Cultura e Turismo - SCT, para Secretaria

de Cultura - SECULT;

V - Secretaria da Justiça e Direitos Humanos - SJDH, para

Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos -

SJCDH.

Art. 3º - Ficam criadas as seguintes Secretarias:

I - Secretaria de Relações Institucionais - SERIN;

II - Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI;

III - Secretaria de Desenvolvimento e Integração

Regional ?" SEDIR;

IV - Secretaria de Turismo - SETUR.

Art. 4º - Ficam transferidas as seguintes atividades, funções,

fundos, órgãos e entidades:

I - da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte -

SETRE, para a Secretaria de Desenvolvimento Social e

Combate à Pobreza - SEDES:

a) a Superintendência de Assistência Social;

b) o Fundo Estadual de Assistência Social, de que trata a

Lei 6.930/95;

c) o Fundo Estadual de Atendimento à Criança e ao

Adolescente, de que trata a Lei 6975/96;

d) a Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC;

e) o Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;

f) o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente -

CECA;

g) a Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;

h) a Coordenação de Defesa Civil - CORDEC;

II - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à

Pobreza - SEDES, para a Casa Civil, o Fundo Estadual de

Combate e Erradicação da Pobreza - FUNCEP, instituído

pelo art. 4º da Lei7.988/2001;

III - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à

Pobreza - SEDES, para a Casa Civil:

a) a Diretoria Executiva do FUNCEP criada pelo art. 2º, II,

e § 8º da Lei 7.988/2001, com as alterações introduzidas

pela Lei 9.509/2005, exceto a Coordenação de Orçamento e

Finanças;

b) o Conselho de Políticas de Inclusão Social;

c) a Câmara Técnica de Gestão de Programas;

IV - da Casa Civil:

a) para a Secretaria de Relações Institucionais " SERIN: as

funções de coordenação de assuntos legislativos;

b) para o Gabinete do Governador, órgão vinculado

diretamente ao Governador: a Ouvidoria Geral do Estado, a

Secretaria Particular do Governador, o Escritório de

Page 19: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Representação do Governo, o Cerimonial e a Assessoria

Especial do Governador;

V - da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Turismo -

SETUR:

a) a Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos;

b) a Empresa de Turismo da Bahia S/A " BAHIATURSA;

VI - da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos

- SJCDH, para a Secretaria de Promoção da Igualdade -

SEPROMI:

a) o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra;

b) o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher;

VII - da Secretaria do Planejamento - SEPLAN para a

Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional -

SEDIR:

a) os Conselhos Regionais de Desenvolvimento;

b) a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional ?"

CAR.

Art. 5º - As estruturas básicas da Secretaria de Relações

Institucionais - SERIN, da Secretaria de Promoção da

Igualdade - SEPROMI e da Secretaria de Desenvolvimento

e Integração Regional - SEDIR, não conterão a Diretoria

Geral prevista no art. 2º da Lei 7.435/98.

Parágrafo único - Fica criada a Diretoria de Administração e

Finanças em cada uma das Secretarias referidas neste artigo

e no Gabinete do Governador, tendo por finalidade o

planejamento e coordenação das atividades de programação,

orrnamentação, acompanhamento, avaliação, estudos e

análises, administração financeira e de contabilidade,

material, patrimônio, serviços, recursos humanos,

modernização administrativa e informática.

Art. 6º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN

tem por finalidade a coordenação política do Poder

Executivo e de suas relações com os demais Poderes das

diversas esferas de Governo, com a sociedade civil e suas

instituições.

§ 1º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN tem a

seguinte estrutura básica:

a) Gabinete do Secretário;

b) Diretoria de Administração e Finanças;

c) Coordenação de Assuntos Legislativos;

d) Coordenação de Assuntos Federativos;

e) Coordenação de Articulação Social.

Parágrafo único - As Coordenações têm por objetivo o

planejamento, a execução e o controle das atividades a cargo

da Secretaria de Relações Institucionais " SERIN, conforme

dispuser o Regulamento.

Art. 7º - A Secretaria de Promoção da Igualdade -

SEPROMI tem por finalidade planejar e executar políticas

de promoção da igualdade racial e proteção dos direitos de

indivíduos e grupos étnicos atingidos pela discriminação e

demais formas de intolerância, bem assim, planejar e

executar as políticas públicas de caráter transversal para as

mulheres.

§ 1º - A Secretaria de Promoção à Igualdade - SEPROMI

tem a seguinte estrutura básica:

I - Órgãos Colegiados:

a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra;

b) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher;

II - Órgãos da Administração Direta:

a) Gabinete do Secretário;

b) Diretoria de Administração e Finanças;

c) Superintendência de Políticas para as Mulheres;

d) Superintendência de Promoção da Igualdade Racial.

§ 2º - A Superintendência de Políticas para as Mulheres tem

por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,

controlar e executar programas e atividades voltadas à

implementação de políticas para as mulheres, implementar

ações afirmativas e definir ações públicas de promoção da

igualdade entre homens e mulheres e de combate à

discriminação.

§ 3º - A Superintendência de Promoção da Igualdade Racial

tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,

controlar e executar programas e atividades voltadas à

implementação de políticas e diretrizes para a promoção da

igualdade  e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos

raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais

formas de intolerância.

§ 4º - Fica acrescida à composição do Conselho de

Desenvolvimento da Comunidade Negra e do Conselho

Estadual de Defesa dos Diretos da Mulher, de que tratam as

alíneas a e b do art. 17 da Lei nº 4.697/87, a representação

da Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI.

Art. 8º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração

Regional - SEDIR tem por finalidade planejar e coordenar a

execução da política estadual de desenvolvimento regional

integrado; formular, em parceria com o Conselho Estadual

de Desenvolvimento Econômico e Social, os planos e

programas regionais de desenvolvimento; estabelecer

Page 20: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

estratégias de integração das economias regionais;

acompanhar e avaliar os programas integrados de

desenvolvimento regional.

§ 1º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração

Regional - SEDIR tem a seguinte estrutura básica:

I - Órgãos Colegiados:

a) Conselhos Regionais de Desenvolvimento.

II - Órgãos da Administração Direta:

a) Gabinete do Secretário;

b) Diretoria de Administração e Finanças;

c) Coordenação de Políticas do Desenvolvimento Regional;

d) Coordenação de Programas Regionais;

III - Entidade da Administração Indireta:

a) Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional - CAR.

§ 2º - As coordenações têm por objetivo o planejamento, a

execução e o controle das atividades a cargo da Secretaria de

Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR, conforme

dispuser o regulamento.

Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão de assistência

direta e imediata ao Governador, tem a seguinte estrutura

básica:

a) Chefia do Gabinete;

b) Ouvidoria Geral do Estado;

c) Secretaria Particular do Governador;

d) Cerimonial;

e) Assessoria Especial do Governador;

f) Assessoria Internacional;

g) Escritório de Representação do Governo;

h) Diretoria de Administração e Finanças.

Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe de Gabinete

do Governador, ao qual são asseguradas as prerrogativas, 

representação, remuneração e impedimentos de Secretário

de Estado, cabendo-lhe a supervisão e a coordenação dos

órgãos integrantes da estrutura do Gabinete do Governador,

a elaboração da agenda e o exercício de outras atribuições

designadas pelo Governador.

Art. 10 - A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e

Esporte - SETRE tem por finalidade planejar e executar as

políticas de emprego e renda e de apoio à formação do

trabalhador, de economia solidária e de fomento ao esporte.

Parágrafo único - Fica criada na Secretaria do Trabalho,

Emprego, Renda e Esporte - SETRE a Superintendência de

Economia Solidária, com a finalidade de planejar,

coordenar, executar e acompanhar as ações e programas de

fomento à economia solidária.

Art. 11   - A Secretaria de Desenvolvimento Social e

Combate à Pobreza - SEDES tem por finalidade planejar,

coordenar, executar e fiscalizar as políticas de

desenvolvimento social, segurança alimentar e nutricional e

de assistência social.

§ 1º - A Superintendência de Apoio à Inclusão Social, passa

a ser denominada Superintendência de Inclusão e

Assistência Alimentar, com a finalidade de promover as

ações de inclusão social e de assistência alimentar, conforme

dispuser o regulamento.

§ 2º - Fica extinta a Superintendência de Articulação e

Programas Especiais.

Art. 12   - A Secretaria de Desenvolvimento Social e

Combate à Pobreza - SEDES tem a seguinte estrutura

básica:

I - Órgãos Colegiados:

a) Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;

b) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do

Adolescente - CECA;

c) Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;

d) Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do

Estado da Bahia - CONSEA ?" BA;

II - Órgãos da Administração Direta:

a) Gabinete do Secretário;

b) Diretoria Geral;

c) Superintendência de Assistência Social;

d) Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar;

III - Órgãos em Regime Especial de Administração Direta:

a) Coordenação de Defesa Civil - CORDEC.

IV - Entidade da Administração Indireta:

a) Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC.

Parágrafo único - O Secretário do Desenvolvimento Social e

Combate à Pobreza - SEDES passa a integrar na condição de

presidente, o Conselho Estadual de Assistência Social -

CEAS, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do

Adolescente - CECA e a Comissão Interinstitucional de

Defesa Civil - CIDEC.

Art. 13   - A Secretaria de Turismo - SETUR tem por

finalidade planejar, coordenar e executar políticas de

promoção e fomento ao turismo.

§ 1º - A Secretaria de Turismo - SETUR tem a seguinte

estrutura básica:

Page 21: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

I - Órgãos da Administração Direta:

a) Gabinete do Secretário;

b) Diretoria Geral;

c) Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos;

d) Superintendência de Serviços Turísticos.

II - Entidade da Administração Indireta:

a) Empresa de Turismo da Bahia S/A - BAHIATURSA.

§ 2º - A Superintendência de Serviços Turísticos tem por

finalidade planejar e executar programas e projetos de

qualificação de serviços e mão-de-obra, capacitação

empresarial, certificação de qualidade, regulação e

fiscalização de atividades turísticas.

Art. 14   - Ficam criadas:

I - na Secretaria da Agricultura - SEAGRI: a

Superintendência de Agricultura Familiar, com a finalidade

de orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, controlar e

executar programas e atividades voltados ao fortalecimento

da agricultura familiar.

II - na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos -

SJCDH:

a) a Coordenação Executiva de Defesa dos Direitos da

Pessoa com Deficiência, com a finalidade de promover e

fortalecer o desenvolvimento dos programas e ações

voltados para a defesa dos direitos da pessoa portadora de

deficiência;

b) a Coordenação de Políticas para os Povos Indígenas,

vinculada à Superintendência de Apoio e Defesa aos

Direitos Humanos.

Art. 15   - Para atender à implantação dos novos órgãos

criados por esta Lei e às adequações na estrutura da

Administração Pública Estadual, ficam criados 04 (quatro)

cargos de Secretário de Estado e os cargos em comissão

constantes do Anexo Único desta Lei.

Art. 16   - Ficam extintos os cargos em comissão constantes

do Anexo Único desta Lei.

Art. 17   - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a

promover, no prazo de 120 (cento e vinte) dias: Citado por 3

I - a revisão e a elaboração dos regimentos, estatutos e

outros instrumentos regulamentadores para adequação das

alterações organizacionais decorrentes desta Lei;

II - as modificações orçamentárias necessárias ao

cumprimento desta Lei, respeitados os valores globais

constantes do orçamento do exercício de 2007.

Parágrafo único - As modificações de que trata o inciso II

deste artigo incluem a abertura de créditos especiais

destinados, exclusivamente, à criação de categorias de

programação indispensáveis ao funcionamento de órgãos

criados ou decorrentes desta Lei, respeitado o Art. 7º da Lei

Orçamentária de 2007. Citado por 1

Art. 18   - Fica o Poder Executivo autorizado a praticar os

atos necessários à continuidade dos serviços, até a definitiva

estruturação dos órgãos criados ou reorganizados por esta

Lei.

Art. 19   - Esta Lei entrará em vigor em 1º de janeiro de

2007.

Art. 20   - Revogam-se as disposições em contrário.

PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em

28 de dezembro de 2006.

PAULO SOUTO

Governador Ruy Tourinho Secretário de Governo

Armando Avena Filho

Secretário do Planejamento Ana Lúcia Barbosa Castelo

Branco Secretária da Administração

Walter Cairo de Oliveira Filho

Secretário da Fazenda

Pedro Barbosa de Deus

Secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária

Anaci Bispo Paim Secretária da Educação

Cláudio Melo

Secretário de Infra-Estrutura

Sérgio Ferreira

Secretário da Justiça e Direitos Humanos

José Antônio Rodrigues Alves

Secretário da Saúde

José Luiz Pérez Garrido

Secretário da Indústria, Comércio e Mineração

Eduardo Oliveira Santos

Secretário do Trabalho, Assistência Social e Esporte

Edemilson Nunes de Almeida Secretário da Segurança

Pública

Paulo Renato Dantas Gaudenzi

Secretário da Cultura e Turismo Clodoveo Piazza Secretário

de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais

Rafael Lucchesi

Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação

Roberto Moussallem de Andrade

Secretário de Desenvolvimento Urbano

Page 22: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Vladimir Abdala Nunes

Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

LEI Nº 12.212 DE 04 DE MAIO DE 2011

Modifica a estrutura organizacional e de cargos em

comissão da Administração Pública do

Poder Executivo Estadual, e dá outras providências.

O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber

que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a

seguinte Lei:

Art. 1º - A estrutura da Administração Pública do Poder

Executivo Estadual fica modificada, na forma da presente

Lei.

Art. 2º - Fica criada a Secretaria de Políticas para as

Mulheres - SPM, com a finalidade de planejar, coordenar e

articular a execução de políticas públicas para as mulheres,

tendo a seguinte estrutura organizacional básica:

I - Órgão Colegiado:

a) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher -

CDDM;

II - Órgãos da Administração Direta:

a) Gabinete da Secretária;

b) Diretoria de Administração e Finanças;

c) Coordenação de Articulação Institucional e Ações

Temáticas;

d) Coordenação de Planejamento e Gestão de Políticas para

as Mulheres.

Art. 3º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da

Mulher - CDDM,órgão consultivo, tem por finalidade

estabelecer diretrizes e normas relativas às políticas e

medidas que visem eliminar a discriminação e garantir

condições de liberdade e equidade de direitos para a mulher,

assegurando sua plena participação nas atividades políticas,

sociais, econômicas e culturais do Estado.

Parágrafo único - As normas de funcionamento do CDDM

serão estabelecidas em Regimento próprio.

Art. 4º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da

Mulher - CDDM tem a seguinte composição:

I - a Secretária de Políticas para as Mulheres, que o

presidirá;

II - 06 (seis) servidoras estaduais, representantes das

Secretarias de Promoção da Igualdade Racial, da Educação,

da Saúde, da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, do

Trabalho, Emprego, Renda e Esporte e da Segurança

Pública;

III - 12 (doze) representantes da sociedade civil, sendo:

a) 05 (cinco) membros de organizações de mulheres,

legalmente constituídas;

b) 02 (duas) de notória atuação na luta pela defesa dos

direitos da mulher;

c) 01 (uma) da comunidade acadêmica vinculada ao estudo

da condição feminina;

d) 01 (uma) das trabalhadoras rurais;

e) 01 (uma) das trabalhadoras urbanas;

f) 01 (uma) das mulheres negras;

g) 01 (uma) indígena.

§ 1º - As titulares do Conselho e suas suplentes serão

nomeadas pelo Governador do Estado, sendo que as

referidas nos incisos II e III, deste artigo, serão indicadas

pelos respectivos órgãos e entidades.

§ 2º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da

Mulher manterá a atual composição até a definitiva

indicação e nomeação dos representantes dos órgãos e

entidades que o compõem, conforme estabelecido nos

incisos II e III deste artigo.

Art. 5º - O Gabinete da Secretária tem por finalidade prestar

assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas técnicas e

administrativas.

Art. 6º - A Diretoria de Administração e Finanças tem por

finalidade o planejamento e coordenação das atividades de

programação, ornamentação, acompanhamento, avaliação,

estudos e análises, administração financeira e de

contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos

humanos, modernização administrativa e informática.

Art. 7º - A Coordenação de Articulação Institucional e

Ações Temáticas tempor finalidade integrar as políticas para

as mulheres nas áreas de educação, saúde, trabalho e

participação política, visando o combate à violência contra a

mulher e a redução das desigualdades de gênero e a

eliminação de todas as formas de discriminação

identificadas.

Art. 8º - A Coordenação de Planejamento e Gestão de

Políticas para as Mulheres tem por finalidade apoiar a

formulação e a implementação de políticas públicas de

gênero, de forma transversal.

Page 23: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Art. 9º - Fica alterada a denominação da Secretaria de

Promoção da Igualdade - SEPROMI para Secretaria de

Promoção da Igualdade Racial - SEPROMI, que passa a ter

por finalidade planejar e executar políticas de promoção da

igualdade racial e de proteção dos direitos de indivíduos e

grupos étnicos atingidos pela discriminação e demais formas

de intolerância.

Art. 10 - Ficam excluídas da finalidade e competências da

SEPROMI as atividades pertinentes ao planejamento e

execução das políticas públicas de caráter transversal para as

mulheres.

Parágrafo único - Fica transferido da SEPROMI para a

Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM o Conselho

Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher - CDDM.

Art. 11 - A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial

passa a ter a seguinte estrutura organizacional básica:

I - Órgão Colegiado:

a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra -

CDCN;

II - Órgãos da Administração Direta:

a) Gabinete do Secretário;

b) Diretoria de Administração e Finanças;

c) Coordenação de Promoção da Igualdade Racial;

d) Coordenação de Políticas para as Comunidades

Tradicionais.

Art. 12 - O Conselho de Desenvolvimento da Comunidade

Negra - CDCN, órgão colegiado, tem por finalidade estudar,

propor e acompanhar medidas de relacionamento dos órgãos

governamentais com a comunidade negra, visando resgatar o

direito à sua plena cidadania e participação na sociedade.

Art. 13 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade

prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas

técnicas e administrativas.

Art. 14 - A Diretoria de Administração e Finanças tem por

finalidade o planejamento e coordenação das atividades de

programação, orçamentação, acompanhamento, avaliação,

estudos e análises, administração financeira e de

contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos

humanos, modernização administrativa e informática.

Art. 15 - A Coordenação de Promoção da Igualdade Racial

tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,

controlar e executar programas e atividades voltadas à

implementação de políticas e diretrizes para a promoção da

igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos

raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais

formas de intolerância.

Art. 16 - A Coordenação de Políticas para as Comunidades

Tradicionais tem por finalidade formular políticas de

promoção da defesa dos direitos e interesses das

comunidades tradicionais, inclusive quilombolas, no Estado

da Bahia, reduzindo as desigualdades e eliminando todas as

formas de discriminação identificadas.

Art. 17 - A estrutura de cargos em comissão da SEPROMI

fica alterada, na forma a seguir indicada:

I - ficam extintos 02 (dois) cargos de Superintendente,

símbolo DAS-2A;

II - ficam criados 02 (dois) cargos de Coordenador

Executivo, símbolo DAS-2B;

III - ficam remanejados, da extinta Superintendência de

Políticas para as Mulheres para a Coordenação de Políticas

para as Comunidades Tradicionais, ora criada, 01 (um)

cargo de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de

Coordenador II, símbolo DAS-3, 01 (um) cargo de

Coordenador III, símbolo DAI-4 e 01 (um) cargo de

Secretário Administrativo I, símbolo DAI-5.

Art. 18 - Fica criado, na estrutura de cargos em comissão da

SEPROMI, alocado na Diretoria de Administração e

Finanças, 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo

DAS-3.

Art. 19 - Fica criada a Secretaria de Administração

Penitenciária e Ressocialização - SEAP, com a finalidade de

formular políticas de ações penais e de ressocialização de

sentenciados, bem como de planejar, coordenar e executar,

em harmonia com o Poder Judiciário, os serviços penais do

Estado, tendo a seguinte estrutura organizacional básica:

I - Órgãos Colegiados:

a) Conselho Penitenciário - CP;

b) Conselho de Operações do Sistema Prisional;

II - Órgãos da Administração Direta:

a) Gabinete do Secretário;

b) Ouvidoria;

c) Corregedoria do Sistema Penitenciário;

d) Coordenação de Monitoramento e Avaliação do Sistema

Prisional;

e) Diretoria Geral;

f) Superintendência de Ressocialização Sustentável;

g) Superintendência de Gestão Prisional:

1. Sistema Prisional;

Page 24: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

h) Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas

Alternativas da Bahia - CEAPA:

1. Núcleos de Apoio e Acompanhamento às Penas e

Medidas Alternativas.

Art. 20 - O Conselho Penitenciário - CP, órgão consultivo e

fiscalizador da execução penal, tem por finalidade

estabelecer diretrizes e normas relativas à política criminal e

penitenciária no Estado.

Parágrafo único - As normas de funcionamento do CP

serão estabelecidas em Regimento próprio.

Lei nº 10.678-03 - Cria a Secretaria Especial de Políticas

de Promoção da Igualdade Racial

Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial, da Presidência da República, e dá outras

providências.

        Faço saber que o Presidente da República adotou a

Medida Provisória nº 111, de 2003, que o Congresso

Nacional aprovou, e eu, Eduardo Siqueira Campos, Segundo

Vice-Presidente, no exercício da Presidência da Mesa do

Congresso Nacional, para os efeitos do disposto no art. 62

da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda

constitucional nº 32, combinado com o art. 12 da Resolução

nº 1, de 2002-CN, promulgo a seguinte Lei:

   Art. 1 o   Fica criada, como órgão de assessoramento

imediato ao Presidente da República, a Secretaria Especial

de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

        Art. 2 o   À Secretaria Especial de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial compete assessorar direta e

imediatamente o Presidente da República na formulação,

coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a

promoção da igualdade racial, na formulação, coordenação e

avaliação das políticas públicas afirmativas de promoção da

igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos

raciais e étnicos, com ênfase na população negra, afetados

por discriminação racial e demais formas de intolerância, na

articulação, promoção e acompanhamento da execução dos

programas de cooperação com organismos nacionais e

internacionais, públicos e privados, voltados à

implementação da promoção da igualdade racial, na

formulação, coordenação e acompanhamento das políticas

transversais de governo para a promoção da igualdade

racial, no planejamento, coordenação da execução e

avaliação do Programa Nacional de Ações Afirmativas e na

promoção do acompanhamento da implementação de

legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas

que visem o cumprimento dos acordos, convenções e outros

instrumentos congêneres assinados pelo Brasil, nos aspectos

relativos à promoção da igualdade e de combate à

discriminação racial ou étnica, tendo como estrutura básica

o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade

Racial - CNPIR, o Gabinete e até três Subsecretarias.

        Art. 3 o   O CNPIR será presidido pelo titular da

Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade

Racial, da Presidência da República, e terá a sua

composição, competências e funcionamento estabelecidos

em ato do Poder Executivo, a ser editado até 31 de agosto de

2003.

        Parágrafo único.  A Secretaria Especial de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República,

constituirá, no prazo de noventa dias, contado da publicação

desta Lei, grupo de trabalho integrado por representantes da

Secretaria Especial e da sociedade civil, para elaborar

proposta de regulamentação do CNPIR, a ser submetida ao

Presidente da República.

        Art. 4 o   Ficam criados, na Secretaria Especial de

Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência

da República, um cargo de natureza especial de Secretário

Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e um

cargo de Secretário-Adjunto, código DAS 101.6.

        Parágrafo único.  O cargo de natureza especial referido

no caput terá prerrogativas, garantias, vantagens e direitos

equivalentes ao de Ministro de Estado e a remuneração de

R$ 8.280,00 (oito mil, duzentos e oitenta reais).

        Art. 5 o  Esta Lei entra em vigor na data de sua

publicação.

        Congresso Nacional, em 23 de maio de 2003; 182 º da

Independência e 115 º da República.

Senador EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS 

Segundo Vice-Presidente da Mesa do Congresso 

Nacional , no exercício da Presidência

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 26.5.2003

DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969.

Page 25: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

    Promulga a Convenção Internacional sobre a

Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.

    O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, HAVENDO o

Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo nº

23, de 21 de junho de 1967, a Convenção Internacional

sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação

Racial, que foi aberta à assinatura em Nova York e assinada

pelo Brasil a 07 de março de 1966;

    E HAVENDO sido depositado o Instrumento brasileiro de

Ratificação, junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, a

27 de março de 1968;

    E TENDO a referida Convenção entrada em vigor, de

conformidade com o disposto em seu artigo 19, parágrafo 1º,

a 04 de janeiro de 1969;

    DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente

Decreto, seja executada e cumprida tão inteiramente como

ela nele contém.

    Brasília, 08 de dezembro de 1969; 148º da Independência

e 81º da República.

    Emílio G. Médici

    Mário Gibson Barbosa

    A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A

ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE

DISCRIMINAÇÃO RACIAL.

    Os Estados Partes na presente Convenção,

    Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se

em princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos os

seres humanos, e que todos os Estados Membros

comprometeram-se a tomar medidas separadas e conjuntas,

em cooperação com a Organização, para a consecução de

um dos propósitos das Nações Unidas que é promover e

encorajar o respeito universal e observancia dos direitos

humanos e liberdades fundamentais para todos, sem

discriminação de raça, sexo, idioma ou religião.

    Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do

Homem proclama que todos os homens nascem livres e

iguais em dignidade e direitos e que todo homem tem todos

os direitos estabelecidos na mesma, sem distinção de

qualquer espécie e principalmente de raça, cor ou origem

nacional,

    Considerando todos os homens são iguais perante a lei e

têm o direito à igual proteção contra qualquer discriminação

e contra qualquer incitamento à discriminação,

    Considerando que as Nações Unidas têm condenado o

colonialismo e todas as práticas de segregação e

discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde

quer que existam, e que a Declaração sobre a Conceção de

Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de

dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da Assembléia

Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de

levá-las a um fim rapido e incondicional,

    Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre

eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, de

20 de novembro de 1963, (Resolução 1.904 ( XVIII) da

Assembléia-Geral), afirma solemente a necessidade de

eliminar rapidamente a discriminação racial através do

mundo em todas as suas formas e manifestações e de

assegurar a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa

humana,

    Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade

baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa,

moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em

que, não existe justificação para a discriminação racial, em

teoria ou na prática, em lugar algum,

    Reafirmando que a discriminação entre os homens por

motivos de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo a

relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de

disturbar a paz e a segurança entre povos e a harmonia de

pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo

Estado,

    Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna

os ideais de qualquer sociedade humana,

     Alarmados por manifestações de discriminação racial

ainda em evidência em algumas áreas do mundo e por

políticas governamentais baseadas em superioridade racial

ou ódio, como as políticas de apartheid, segregação ou

separação.

    Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para

eliminar rapidamente a discriminação racial em, todas as

suas formas e manifestações, e a prevenir e combater

doutrinas e práticas raciais com o objetivo de promover o

entendimento entre as raças e construir uma comunidade

internacional livre de todas as formas de separação racial e

discriminação racial,

    Levando em conta a Convenção sobre Discriminação nos

Emprego e Ocupação adotada pela Organização

internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção contra

Page 26: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

discriminação no Ensino adotada pela Organização das

Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960,

    Desejosos de completar os princípios estabelecidos na

Declaração das Nações unidas sobre a Eliminação de todas

as formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo

possível a adoção de medidas práticas para esse fim,

    Acordaram no seguinte:

    PARTE I

    Artigo I

    1. Nesta Convenção, a expressão "discriminação racial"

significará qualquer distinção, exclusão restrição ou

preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem

nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou

restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo

plano,( em igualdade de condição), de direitos humanos e

liberdades fundamentais no domínio político econômico,

social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida

pública.

    2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções,

exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado

Parte nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos.

    3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como

afetando as disposições legais dos Estados Partes, relativas a

nacionalidade, cidadania e naturalização, desde que tais

disposições não discriminem contra qualquer nacionalidade

particular.

    4. Não serão consideradas discriminação racial as

medidas especiais tomadas com o único objetivo de

assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou

étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que

possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou

indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e

liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não

conduzam, em conseqüência, à manutenção de direitos

separados para diferentes grupos raciais e não prossigam

após terem sidos alcançados os seus objetivos.

    Artigo II

    1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial e

comprometem-se a adotar, por todos os meios apropriados e

sem tardar uma política de eliminação da discriminação

racial em todas as suas formas e de promoção de

entendimento entre todas as raças e para esse fim:

    a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum ato

ou prática de discriminação racial contra pessoas, grupos de

pessoas ou instituições e fazer com que todas as autoridades

públicas nacionais ou locais, se conformem com esta

obrigação;

    b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar,

defender ou apoiar a discriminação racial praticada por uma

pessoa ou uma organização qualquer;

    c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas eficazes, a

fim de rever as politicas governamentais nacionais e locais e

para modificar, ab-rogar ou anular qualquer disposição

regulamentar que tenha como objetivo criar a discriminação

ou perpetrá-la onde já existir;

    d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios

apropriados, inclusive se as circunstâncias o exigiria, as

medidas legislativas, proibir e por fim, a discriminação

racial praticadas por pessoa, por grupo ou das organizações;

    e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, quando

for o caso as organizações e movimentos multirraciais e

outros meios próprios a eliminar as barreiras entre as raças e

a desencorajar o que tende a fortalecer a divisão racial.

    2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o

exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,

as medidas especiais e concretas para assegurar como

convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos

raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com o

objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o

pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades

fundamentais.

    Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a

finalidade de manter direitos grupos raciais, depois de

alcançados os objetivos em razão dos quais foram tomadas.

    Artigo III

    Os Estados Partes especialmente condenam a segregação

racial e o apartheid e comprometem-se a proibir e a eliminar

nos territórios sob sua jurisdição todas as práticas dessa

natureza.

    Artigo IV

    Os Estados partes condenam toda propaganda e todas as

organizações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas

na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de

uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que

pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e

de discriminação raciais e comprometem-se a adotar

imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar

qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer

Page 27: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

atos de discriminação com este objetivo tendo em vista os

princípios formulados na Declaração universal dos direitos

do homem e os direitos expressamente enunciados no artigo

5 da presente convenção, eles se comprometem

principalmente:

    a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de

ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer

incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer

atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra

qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou

de outra origem técnica, como também qualquer assistência

prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento;

    b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim

como as atividades de propaganda organizada e qualquer

outro tipo de atividade de propaganda que incitar a

discriminação racial e que a encorajar e a declara delito

punível por lei a participação nestas organizações ou nestas

atividades.

    c) a não permitir as autoridades públicas nem ás

instituições públicas nacionais ou locais, o incitamento ou

encorajamento à discriminação racial.

    Artigo V

    De conformidade com as obrigações fundamentais

enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes comprometem-se

a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas

formas e a garantir o direito de cada uma à igualdade

perante a lei sem distinção de raça , de cor ou de origem

nacional ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes

direitos:

    a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou

qualquer outro orgão que administre justiça;

    b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Estado

contra violência ou ou lesão corporal cometida que por

funcionários de Governo, quer por qualquer individuo,

grupo ou instituição.

    c) direitos políticos principalmente direito de participar às

eleições - de votar e ser votado - conforme o sistema de

sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Governo,

assim como na direção dos assuntos públicos, em qualquer

grau e o direito de acesso em igualdade de condições, às

funções públicas.

    d) Outros direitos civis, principalmente,

    i) direito de circular livremente e de escolher residência

dentro das fronteiras do Estado;

    ii) direito de deixar qualquer pais, inclusive o seu, e de

voltar a seu país;

    iii) direito de uma nacionalidade;

    iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge;

    v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente como

em conjunto, à propriedade;

    vi) direito de herda;

    vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência e de

religião;

    viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;

    ix) direito à liberdade de reunião e de associação pacífica;

    e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmente:

    i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a

condições equitativas e satisfatórias de trabalho à proteção

contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho

igual, a uma remuneração equitativa e satisfatória;

    ii) direito de fundar sindicatos e a eles se filiar;

    iii) direito à habitação;

    iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à

previdência social e aos serviços sociais;

    v) direito a educação e à formação profissional;

    vi) direito a igual participação das atividades culturais;

    f) direito de acesso a todos os lugares e serviços

destinados ao uso do publico, tais como, meios de transporte

hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.

    Artigo VI

    Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que

estiver sob sua jurisdição, proteção e recursos efetivos

perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado

competentes, contra quaisquer atos de discriminação racial

que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus

direitos individuais e suas liberdades fundamentais, assim

como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfação ou

repartição justa e adequada por qualquer dano de que foi

vitima em decorrência de tal discriminação.

    Artigo VII

    Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medidas

imediatas e eficazes, principalmente no campo de ensino,

educação, da cultura e da informação, para lutar contra os

preconceitos que levem à discriminação racial e para

promover o entendimento, a tolerância e a amizade entre

nações e grupos raciais e éticos assim como para propagar

ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas da

Declaração Universal dos Direitos do Homem, da

Page 28: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Declaração das Nações Unidas sobre a eliminação de todas

as formas de discriminação racial e da presente Convenção.

    PARTE II

    Artigo VIII

    1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da

discriminação racial (doravante denominado "o Comitê)

composto de 18 peritos conhecidos para sua alta moralidade

e conhecida imparcialidade, que serão eleitos pelos Estados

Membros dentre seus nacionais e que atuarão a título

individual, levando-se em conta uma repartição geográfica

equitativa e a representação das formas diversas de

civilização assim como dos principais sistemas jurídicos.

    2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutínio

secreto de uma lista de candidatos designados pelos Estados

Partes, Cada Estado Parte poderá designar um candidato

escolhido dentre seus nacionais.

    3. A primeira eleição será realizada seis meses após a data

da entrada em vigor da presente Convenção. Três meses

pelo menos antes de cada eleição, o Secretário Geral das

Nações Unidas enviará uma Carta aos Estados Partes para

convidá-los a apresentar suas candidaturas no prazo de dois

meses. O Secretário Geral elaborará uma lista por ordem

alfabética, de todos os candidatos assim nomeados com

indicação dos Estados partes que os nomearam, e a

comunicará aos Estados Partes.

    4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma

reunião dos Estados Partes convocada pelo Secretário Geral

das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quorum

será alcançado com dois terços dos Estados Partes, serão

elitos membros do Comitê, os candidatos que obtiverem o

maior número de votos e a maioria absoluta de votos dos

representantes dos Estados Partes presentes e votantes.

    5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um período

de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos membros

eleitos na primeira eleição, expirará ao fim de dois anos;

logo após a primeira eleição os nomes desses nove membros

serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê.

    b) Para preencher as vagas fortuítas, o Estado Parte, cujo

perito deixou de exercer suas funções de membro do

Comitê, nomeará outro períto dentre seus nacionais, sob

reserva da aprovação do Comitê.

    6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas

dos membros do Comitê para o período em que estes

desempenharem funções no Comitê.

    Artigo IX

    1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao

Secretário Geral para exame do Comitê, um relatório sobre

as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras

que tomarem para tornarem efetivas as disposições da

presente Convenção:

    a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em vigor

da Convenção, para cada Estado interessado no que lhe diz

respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda vez que o

Comitê o solicitar. O Comitê poderá solicitar informações

complementares aos Estados Partes.

    2. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia Geral,

um relatório sobre suas atividades e poderá fazer sugestões e

recomendações de ordem geral baseadas no exame dos

relatórios e das informações recebidas dos Estados Partes.

Levará estas sugestões e recomendações de ordem geral ao

conhecimento da Assembleia Geral, e se as houver

juntamente com as observações dos Estados Partes.

    Artigo X

    1. O Comitê adotará seu regulamento interno.

    2. O Comitê alegará sua mesa por um período de dois

anos.

    3. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas

foi necessários serviços de Secretaria ao Comitê.

    4. O Comitê reunir-se-à normalmente na Sede das Nações

Unidas.

    Artigo XI

    1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igualmente

Parte não aplica as disposições da presente Convenção

poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão. O

Comitê transmitirá, então, a comunicação ao Estado Parte

interessado. Num prazo de três meses, o Estado destinatário

submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por

escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as medidas

corretivas que por acaso tenham sido tomadas pelo referido

Estado.

    2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da data do

recebimento da comunicação original pelo Estado

destinatário a questão não foi resolvida a contento dos dois

Estados, por meio de negociações bilaterais ou por qualquer

outro processo que estiver a sua disposição, tanto um como

o outro terão o direito de submetê-la novamente ao Comitê,

endereçando uma notificação ao Comitê assim como ao

outro Estado interessado.

Page 29: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

    3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma

questão, de acordo com o parágrafo 2 do presente artigo,

após ter constatado que todos os recursos internos

disponíveis foram interpostos ou esgotados, de

conformidade com os princípios do direito internacional

geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará se os

procedimentos de recurso excederem prazos razoáveis.

    4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê

poderá solicitar aos Estados-Partes presentes que lhe

forneçam quaisquer informações complementares

pertinentes.

    5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme o

presente Artigo os Estados Partes interessados terão o direito

de nomear um representante que participará sem direito de

voto dos trabalhos no Comitê durante todos os debates.

    Artigo XII

    1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as

informações que julgar necessárias, o Presidente nomeará

uma Comissão de Conciliação ad hoc (doravante

denominada " A Comissão", composta de 5 pessoas que

poderão ser ou não membros do Comitê. Os membros serão

nomeados com o consentimento pleno e unânime das partes

na controvérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a

disposição dos Estados presentes, com o objetivo de chegar

a uma solução amigável da questão, baseada no respeito à

presente Convenção.

    b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem a

um entendimento em relação a toda ou parte da composição

da Comissão num prazo de três meses os membros da

Comissão que não tiverem o assentimento do Estados

Partes, na controvérsia serão eleitos por escrutínio secreto

entre os membros de dois terços dos membros do Comitê.

    2. Os membros da Comissão atuarão a título individual.

Não deverão ser nacionais de um dos Estados Partes na

controvérsia nem de um Estado que não seja parte da

presente Convenção.

    3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu

regimento interno.

    4. A Comissão reunir-se-a normalmente na sede nas

Nações Unidas em qualquer outro lugar apropriado que a

Comissão determinar.

    5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10

prestará igualmente seus serviços à Comissão cada ver que

uma controvérsia entre os Estados Partes provocar sua

formação.

    6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão

divididos igualmente entre os Estados Partes na controvérsia

baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral.

    7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for

necessário, as despesas dos membros da Comissão, antes

que o reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na

controvérsia, de conformidade com o parágrafo 6 do

presente artigo.

    8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê

serão postas à disposição da Comissão, e a Comissão poderá

solicitar aos Estados interessados se lhe fornecer qualquer

informação complementar pertinente.

    Artigo XIII

    1. Após haver estudado a questão sob todos os seus

aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao Presidente

do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas as

questões de fato relativas à controvérsia entre as partes e as

recomendações que julgar oportunas a fim de chegar a uma

solução amistosa da controvérsia.

    2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da

Comissão a cada um dos Estados Partes na controvérsia. Os

referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê

num prazo de três meses se aceitam ou não, as

recomendações contidas no relatório da Comissão.

    3. Expirado o prazo previsto no parágrafo 2º do presente

artigo, o Presidente do Comitê comunicará o Relatório da

Comissão e as declarações dos Estados Partes interessadas

aos outros Estados Parte na Comissão.

    Artigo XIV

    1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer

momento que reconhece a competência do Comitê para

receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua

jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo

referido Estado Parte de qualquer um dos direitos

enunciados na presente Convenção. O Comitê não receberá

qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver

feito tal declaração.

    2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de

conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá

criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica

nacional, que terá competência para receber e examinar as

petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdição

Page 30: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

que alegarem ser vitimas de uma violação de qualquer um

dos direitos enunciados na presente Convenção e que

esgotaram os outros recursos locais disponíveis.

    3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo 1

do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado ou

designado pelo Estado Parte interessado consoante o

parágrafo 2 do presente artigo será depositado pelo Estado

Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações

Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A

declaração poderá ser retirada a qualquer momento mediante

notificação ao Secretário Geral mas esta retirada não

prejudicará as comunicações que já estiverem sendo

estudadas pelo Comitê.

    4. O órgão criado ou designado de conformidade com o

parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um registro de

petições e cópias autenticada do registro serão depositadas

anualmente por canais apropriados junto ao Secretário Geral

das Nações Unidas, no entendimento que o conteúdo dessas

cópias não será divulgado ao público.

    5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão criado

ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do

presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a

questão ao Comitê dentro de seis meses.

    6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer

comunicação que lhe tenha sido endereçada, ao

conhecimento do Estado Parte que, pretensamente houver

violado qualquer das disposições desta Convenção, mas a

identidade da pessoa ou dos grupos de pessoas não poderá

ser revelada sem o consentimento expresso da referida

pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê não receberá

comunicações anônimas.

    b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá,

por escrito ao Comitê, as explicações ou recomendações que

esclarecem a questão e indicará as medidas corretivas que

por acaso houver adotado.

    7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de todas

as informações que forem submetidas pelo Estado parte

interessado e pelo peticionário. O Comitê só examinará uma

comunicação de peticionário após ter-se assegurado que este

esgotou todos os recursos internos disponíveis. Entretanto,

esta regra não se aplicará se os processos de recurso

excederem prazos razoáveis.

    b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações

eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário.

    8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo

destas comunicações, se for necessário, um resumo das

explicações e declarações dos Estados Partes interessados

assim como suas próprias sugestões e recomendações.

    9. O Comitê somente terá competência para exercer as

funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados

Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declarações

feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo.

    Artigo XV

    1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da

resolução 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de

dezembro de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão

da independência dos países e povos coloniais, as

disposições da presente convenção não restringirão de

maneira alguma o direito de petição concedida aos povos

por outros instrumentos internacionais ou pela Organização

das Nações Unidas e suas agências especializadas.

    2. a) O Comitê constituído de conformidade com o

parágrafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia das

petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas que se

encarregarem de questões diretamente relacionadas com os

princípios e objetivos da presente Convenção e expressará

sua opinião e formulará recomendações sobre petições

recebidas quando examinar as petições recebidas dos

habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo ou de

qualquer outro território a que se aplicar a resolução 1514

(XV) da Assembleia Geral, relacionadas a questões tratadas

pela presente Convenção e que forem submetidas a esses

órgãos.

    b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da

Organização das Nações Unidas cópia dos relatórios sobre

medidas de ordem legislativa judiciária, administrativa ou

outra diretamente relacionada com os princípios e objetivos

da presente Convenção que as Potências Administradoras

tiverem aplicado nos territórios mencionados na alínea "a"

do presente parágrafo e expressará sua opinião e fará

recomendações a esses órgãos.

    3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembleia um

resumo das petições e relatórios que houver recebido de

órgãos das Nações Unidas e as opiniões e recomendações

que houver proferido sobre tais petições e relatórios.

    4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações

Unidas qualquer informação relacionada com os objetivos

Page 31: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

da presente Convenção que este dispuser sobre os territórios

mencionados no parágrafo 2 (a) do presente artigo.

    Artigo XVI

    As disposições desta Convenção relativas a solução das

controvérsias ou queixas serão aplicadas sem prejuízo de

outros processos para solução de controvérsias e queixas no

campo da discriminação previstos nos instrumentos

constitutivos das Nações Unidas e suas agências

especializadas, e não excluirá a possibilidade dos Estados

partes recomendarem aos outros, processos para a solução

de uma controvérsia de conformidade com os acordos

internacionais ou especiais que os ligarem.

    Terceira Parte

    Artigo XVII

    1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de

todo Estado Membro da Organização das Nações Unidas ou

membro de qualquer uma de suas agências especializadas,

de qualquer Estado parte no Estatuto da Corte Internacional

de Justiça, assim como de qualquer outro Estado convidado

pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas a

torna-se parte na presente Convenção.

    2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e os

instrumentos de ratificação serão depositados junto ao

Secretário Geral das Nações Unidas.

    Artigo XVIII

    1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de

qualquer Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo 17.

    2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumento de

adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas.

    Artigo XIX

    1. Esta convenção entrará em vigor no trigésimo dia após

a data do deposito junto ao Secretário Geral das Nações

Unidas do vigésimo sétimo instrumento de ratificação ou

adesão.

    2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou

a ele aderir após o depósito do vigésimo sétimo instrumento

de ratificação ou adesão esta Convenção entrará em vigor no

trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de

ratificação ou adesão.

    Artigo XX

    1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e

enviará, a todos os Estados que forem ou vierem a torna-se

partes desta Convenção, as reservas feitas pelos Estados no

momento da ratificação ou adesão. Qualquer Estado que

objetar a essas reservas, deverá notificar ao Secretário Geral

dentro de noventa dias da data da referida comunicação, que

não aceita.

    2. Não será permitida uma reserva incompatível com o

objeto e o escopo desta Convenção nem uma reserva cujo

efeito seria a de impedir o funcionamento de qualquer dos

órgãos previstos nesta Convenção. Uma reserva será

considerada incompatível ou impeditiva se a ela objetarem

ao menos dois terços dos Estados partes nesta Convenção.

    3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento

por uma notificação endereçada com esse objetivo ao

Secretário Geral. Tal notificação surgirá efeito na data de

seu recebimento.

    Artigo XXI

    Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Convenção

mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral

da Organização das Nações Unidas. A denúncia surtirá

efeito um ano após data do recebimento da notificação pelo

Secretário Geral.

    Artigo XXI

    Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Parte

relativa a interpretação ou aplicação desta Convenção que

não for resolvida por negociações ou pelos processos

previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de

qualquer das Partes na controvérsia. Submetida à decisão da

Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes

concordem em outro meio de solução.

    Artigo XXII

    Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Partes

relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção, que

não for resolvida por negociações ou pelos processos

previstos expressamente nesta Convenção será, pedido de

qualquer das Partes na controvérsia, submetida à decisão da

Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes

concordem em outro meio de solução.

    Artigo XXIII

    1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer

momento um pedido de revisão da presente Convenção,

mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral

das Nações Unidas.

    2. A Assembleia-Geral decidirá a respeito das medidas a

serem tomadas, caso for necessário, sobre o pedido.

    Artigo XXIV

Page 32: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

    O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas

comunicará a todos os Estados mencionados no parágrafo 1º

do artigo 17 desta Convenção.

    a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de

ratificação e de adesão de conformidade com os artigos 17 e

18;

    b) a data em que a presente Convenção entrar em vigor,

de conformidade com o artigo 19;

    c) as comunicações e declarações recebidas de

conformidade com os artigos 14, 20 e 23.

    d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo 21.

    Artigo XXV

    1. Esta Convenção, cujos textos em chinês, espanhol,

inglês e russo são igualmente autênticos será depositada nos

arquivos das Nações Unidas.

    2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias

autenticadas desta Convenção a todos os Estados

pertencentes a qualquer uma das categorias mencionadas no

parágrafo 1º do artigo 17.

    Em fé do que os abaixo assinados devidamente

autorizados por seus Governos assinaram a presente

Convenção que foi aberta a assinatura em Nova York a 7 de

março de 1966.

    Retificação

    Na página 10.537, 1ª coluna, na Convenção Internacional

anexa ao Decreto, na alínea "a" do artigo IV, onde se lê:

    ...outra origem técnica,...

    Leia-se:

    ...outra origem ética,...

    Na 3ª coluna, no item 1 do artigo IX, onde se lê:

    ...o Comitê silicitar,...

    Leia-se:

    ...o Comitê o solicitar,...

    Na página 10.538, 4ª coluna, suprima-se:

    "Artigo XXI

    Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados partes

relativa à interpretação ou aplicação desta convenção, que

não for resolvida por negociações ou pelos processos

previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de

qualquer das partes da controvérsia, submetida à decisão da

Corte Internacional de Justiça a não ser que os ligantes

concordem em outro meio solução."

CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou

o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou

diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra

injúria.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que,

por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem

aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da

pena correspondente à violência.

§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos

referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição

de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada

pela Lei nº 10.741 , de 2003)

Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei

nº 9.459 , de 1997)

Disposições comuns

COMENTÁRIO

Na medida em que ocorre uma progressiva positivação

interna dos direitos humanos, principalmente como normas

constitucionais, aumenta-se o quadro valorativo em que o

legislador encontrará validade para a criação da lei penal.

Isto porque, como acima mencionado, o Direito Penal possui

como sua primordial função a proteção dos bens jurídicos

mais relevantes para a sociedade.

Desse modo, os bens jurídicos a serem protegidos na esfera

penal, se identificados como direitos fundamentais ou

reconhecidos como direitos humanos, se verão integrados,

expressa ou implicitamente, no quadro valorativo da

Constituição e de vários tratados de direitos humanos, de

sorte que a Constituição e os tratados passam a desempenhar

uma forte função de limite e fundamento para o Direito

Penal.

Por sua vez, sem adentrar na discussão doutrinária acerca de

qual seja o statusnormativo dos tratados internacionais de

direitos humanos

(status supranacional,status constitucional, status supralegal

ou status de lei ordinária), a nossa Constituição, no art.5º,

§3º, com a redação dada pela EC nº 45.2004, passou a dispor

que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos

Page 33: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso

Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos

respectivos membros, serão equivalentes às emendas

constitucionais”.

Mesmo os tratados de direitos humanos que não se

sujeitaram ao processo de aprovação referido no art. 5º, §3º,

da CF, possuem lugar de destaque em nosso ordenamento

jurídico, conforme se deflui do próprio §3º do art.5º e de seu

§2º.

Como bem destacou o Ministro Gilmar Mendes em seu voto

proferido no julgamento do Recurso Extraordinário

466.343-1/SP:

Se tivermos em mente que o Estado constitucional

contemporâneo é também um estado cooperativo –

identificado pelo Professor Peter Häberle como aquele que

não mais se apresenta como um Estado Constitucional

voltado para si mesmo, mas que se disponibiliza como

referência para outros Estados Constitucionais membros de

uma comunidade, e no qual ganha relevo o papel dos

direitos humanos e fundamentais -, se levarmos isso em

consideração, podemos concluir que acabamos de dar um

importante passo na proteção dos direitos humanos em

nosso país e em nossa comunidade latino-america.

Nesse quadro de relevo dos tratados internacionais de

direitos humanos, estes devem funcionar como limite e

fundamento para o legislador no processo de criminalização.

Quando se diz que os tratados passam a atuar como limites,

significa sua função de garantia do indivíduo contra o poder

estatal, uma vez que o Direito Penal não possui atuação

livre, devendo observar os direitos fundamentais e os

humanos. Ademais, não se deve esquecer que o criminoso

merece o devido tratamento de acordo com sua condição de

ser humano.

Por outro lado, os tratados internacionais sobre direitos

humanos passam a serfundamento de validade para que os

direitos humanos sejam reconhecidos como bens jurídicos

sujeitos a proteção e promoção pela via penal.

Nessa perspectiva, verifica-se que o Brasil em vários

tratados se comprometeu a criar crimes para promover a

proteção dos direitos humanos.

Na Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional

de Menores, assinada na Cidade do México em 18 de março

de 1994 (Promulgada pelo Decreto nº 2.740, de 20 de agosto

de 1998), o Brasil se comprometeu a “adotar, em

conformidade com seu direito interno, medidas eficazes

para prevenir e sancionar severamente a ocorrência de

tráfico internacional de menores definido nesta Convenção”

(art.7º).

Na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e

Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de

Belém Do Pará), os “Estados Partes condenam todas as

formas de violência contra a mulher e convêm em adotar,

por todos os meios apropriados e sem demora, políticas

destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a

empenhar-se em: (…) b) agir com o devido zelo para

prevenir, investigar e punir a violência contra a mulher; c)

incorporar na sua legislação interna normas penais, civis,

administrativas e de outra natureza, que sejam necessárias

para prevenir, punir e erradicar a violência contra a

mulher, bem como adotar as medidas administrativas

adequadas que forem aplicáveis” (art. 7º).

Em relação à tortura, na Convenção Contra a Tortura e

Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou

Degradantes (promulgada pelo Decreto nº 40, de

15.12.1991), “cada Estado Membro assegurará que todos

os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua

legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de

tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua

cumplicidade ou participação na tortura” (art.4º).

Ainda sobre a tortura, a Convenção Interamericana para

Prevenir e Punir a Tortura (ratificada pelo Brasil em 20 de

julho de 1989) prevê em seu art. 6º que“os Estados

Membros tomarão medidas efetivas a fim de prevenir e

punir a tortura no âmbito de sua jurisdição. Os Estados

Membros assegurar-se-ão de que todos os atos de tortura e

as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam

considerados delitos em seu Direito Penal, estabelecendo

penas severas para sua punição, que levem em conta sua

gravidade. Os Estados Membros obrigam-se também a

tomar medidas efetivas para prevenir e punir outros

tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, no

âmbito de sua jurisdição”.

Na Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as

Formas de Discriminação Racial (Promulgada pelo Decreto

nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969), o Brasil se

comprometeu: a declarar como delitos puníveis por lei

qualquer difusão de idéias que estejam fundamentadas na

superioridade ou ódio raciais, quaisquer incitamentos à

Page 34: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

discriminação racial, bem como atos de violência ou

provocação destes atos, dirigidos contra qualquer raça ou

grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica,

como também a assistência prestada a atividades racistas,

incluindo seu financiamento (art. 4º, “a”).

Nesse cenário, observa-se que os direitos humanos figuram

com destaque em nosso Estado Constitucional, de sorte que

se mostram merecedores de proteção pelo Direito Penal.

Mais do que o reconhecimento dos direitos humanos e dos

direitos fundamentais, a preocupação é a sua efetividade,

que nas palavras de Barroso significa:

A realização do Direito, o desempenho concreto de sua

função social. Ela representa a materialização, no mundo

dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação,

tão íntima quanto possível, entre o dever-sernormativo e

o ser da realidade social (BARROSO, Luís Roberto. O

Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas. Rio

de janeiro: Renovar, 2003, p. 85).

Entretanto, se por um lado é assente a necessidade de

efetivação de direitos humanos e dos fundamentais, por

outro, parte da doutrina penal se opõe à utilização do Direito

Penal como instrumento de proteção dos direitos humanos

relacionados a bens jurídicos supraindividuais, relacionados

aos direitos humanos de segunda e terceira “gerações”, uma

vez que o Direito Penal estaria sendo utilizado prima ratio,

como função promocional de políticas públicas e sociais, em

detrimento dos princípios penais da subsidiariedade e

fragmentariedade.

Nesse ponto, sustenta-se que na verdade não mais se protege

bem jurídico, mas funções, consistentes em objetivos

perseguidos pelo Estado, ou, ainda, condições prévias para a

fruição de bens jurídicos individuais.

Como se não bastasse, argumenta-se que muitos dos bens

jurídicos supraindividuais (direito à ordem socieconômica,

direto ao meio ambiente equilibrado etc) são formulados de

modo vago e impreciso, ensejando a denominada

desmaterialização (espiritualização ou liquefação) do bem

jurídico, em virtude de estarem sendo criados sem qualquer

substrato material, distanciando-se da lesão perceptível dos

interesses dos indivíduos.

Assim, ao contrário do Direito Penal de tradição liberal (que

se refere primordialmente com os direitos humanos de

primeira geração), no qual o bem jurídico teria cumprido um

papel limitador, o Direito Penal atual vem utilizando o

conceito de bem jurídico para legitimar a criação de novos

tipos, caracterizando, assim, uma função com sentido

criminalizador.

Entretanto, essa blindagem amparada por interpretação

isolada de princípios do Direito Penal liberal dos séculos

XVIII e XIX não mais se justifica. A nova ordem

constitucional constituidora, dirigente e programática exige

uma intervenção estatal no sentido de concretizar os direitos

fundamentais e humanos de segunda e terceira gerações,

mesmo que para isso seja necessária a utilização do Direito

Penal.

No Brasil, temos o exemplo do meio ambiente, previsto em

capítulo específico da Constituição, inclusive com a

determinação da atuação do legislador ordinário para a

criação de lei penal para efetivar a sua proteção (mandado

constitucional de criminalização). Ademais, o Brasil faz

parte de inúmeros tratados sobre a proteção ao meio

ambiente. A título de exemplo, podem ser citados os

seguintes compromissos:

- Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do

Clima (promulgada pelo Decreto nº 2.652, de 01 de julho de

1998);

- Convenção de Viena para a Proteção da Camada de

Ozônio

e do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem

a Camada de Ozônio (promulgada pelo Decreto nº 99.280,

de 6 de junho de 1990);

- Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e

Cooperação em Caso de Poluição por Óleo (promulgada

pelo Decreto nº 2.870, de 10 de dezembro de 1998);

- Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgada pelo

Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998);

- Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos

Países afetados por Seca Grave e/ou Desertificação,

Particularmente na África (promulgada pelo Decreto nº

2.741, de 20 de agosto de 1998);

- Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da

Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgado pelo

Decreto nº 5.705, de 16 de Fevereiro de 2006);

- Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul

(promulgado pelo Decreto nº 5.208 de 17 de setembro de

2004);

- Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos

Persistentes.

Page 35: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Assim, diante desse quadro, resta difícil argumentar que o

Direito Penal não deva ser utilizado na proteção do meio

ambiente, interesse de patamar constitucional e de relevo

entre os direitos humanos, bem como de outros direitos

humanos de segunda e terceira geração.

Registre-se, aqui, o seguinte trecho da decisão do STF (AP

439, Relator: Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado

em 12/06/2008):

A finalidade do Direito Penal é justamente conferir uma

proteção reforçada aos valores fundamentais compartilhados

culturalmente pela sociedade. Além dos valores clássicos,

como a vida, liberdade, integridade física, a honra e

imagem, o patrimônio etc., o Direito Penal, a partir de

meados do século XX, passou a cuidar também do meio

ambiente, que ascendeu paulatinamente ao posto de valor

supremo das sociedades contemporâneas, passando a

compor o rol de direitos fundamentais ditos de 3ª geração

incorporados nos textos constitucionais dos Estados

Democráticos de Direito.

Parece certo, por outro lado, que essa proteção pela via

do Direito Penal justifica-se apenas em face de danos

efetivos ou potenciais ao valor fundamental do meio

ambiente; ou seja, a conduta somente pode ser tida como

criminosa quando degrade ou no mínimo traga algum risco

de degradação do equilíbrio ecológico das espécies e dos

ecossistemas. (grifei)

Ou seja, independentemente da escolha dos bens jurídicos

considerados relevantes para a sociedade (dignidade penal

do bem), ainda é imprescindível para a legitimidade da tutela

penal a observância dos princípios da subsidiariedade e

ofensividade, de sorte que não justifica o afastamento do

Direito Penal da esfera de proteção dos direitos humanos de

segunda e terceira geração.

DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002

Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as

Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e

revoga o Decreto nº 89.460, de 20 de março de 1984.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição

que lhe confere o Art.84, inciso VIII, da Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo

Decreto Legislativo nº 93, de 14 de novembro de 1983, a

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra a Mulher, assinada pela República

Federativa do Brasil, em Nova York, no dia 31 de março de

1981, com reservas aos seus artigos 15, parágrafo 4, e 16,

parágrafo 1, alíneas (a), (c), (g) e (h);

Considerando que, pelo Decreto Legislativo nº 26, de 22 de

junho de 1994, o Congresso Nacional revogou o citado

Decreto Legislativo nº 93, aprovando a Convenção sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a

Mulher, inclusive os citados artigos 15, parágrafo 4º, e 16,

parágrafo 1º, alíneas (a), (c), (g) e (h);

Considerando que o Brasil retirou as mencionadas reservas

em 20 de dezembro de 1994;

Considerando que a Convenção entrou em vigor, para o

Brasil, em 2 de março de 1984, com a reserva facultada em

seu art.29, parágrafo 2;

D E C R E T A:

Art. 1º A Convenção sobre a Eliminação de Todas as

Formas de Discriminação contra a Mulher, de 18 de

dezembro de 1979, apensa por cópia ao presente Decreto,

com reserva facultada em seu art.29, parágrafo 2, será

executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional

quaisquer atos que possam resultar em revisão da referida

Convenção, assim como quaisquer ajustes complementares

que, nos termos do Art.49, inciso I, da Constituição,

acarretem encargos ou compromissos gravosos ao

patrimônio nacional.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua

publicação.

Art. 4º Fica revogado o Decreto nº 89.460, de 20 de março

de 1984.

Brasília, 13 de setembro de 2002; 181º da Independência e

114º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Osmar Chohfi

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra a Mulher

Os Estados Partes na presente convenção,

CONSIDERANDO que a Carta das Nações Unidas reafirma

a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no

valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do

homem e da mulher,

Page 36: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

CONSIDERANDO que a Declaração Universal dos Direitos

Humanos reafirma o princípio da não-discriminação e

proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais

em dignidade e direitos e que toda pessoa pode invocar

todos os direitos e liberdades proclamadas nessa Declaração,

sem distinção alguma, inclusive de sexo,

CONSIDERANDO que os Estados Partes nas Convenções

Internacionais sobre Direitos Humanos tem a obrigação de

garantir ao homem e à mulher a igualdade de gozo de todos

os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos,

OBSEVANDO as convenções internacionais concluídas sob

os auspícios das Nações Unidas e dos organismos

especializados em favor da igualdade de direitos entre o

homem e a mulher,

OBSERVANDO, ainda, as resoluções, declarações e

recomendações aprovadas pelas Nações Unidas e pelas

Agências Especializadas para favorecer a igualdade de

direitos entre o homem e a mulher,

PREOCUPADOS, contudo, com o fato de que, apesar destes

diversos instrumentos, a mulher continue sendo objeto de

grandes discriminações,

RELEMBRANDO que a discriminação contra a mulher

viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito da

dignidade humana, dificulta a participação da mulher, nas

mesmas condições que o homem, na vida política, social,

econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao

aumento do bem-estar da sociedade e da família e dificulta o

pleno desenvolvimento das potencialidades da mulher para

prestar serviço a seu país e à humanidade,

PREOCUPADOS com o fato de que, em situações de

pobreza, a mulher tem um acesso mínimo à alimentação, à

saúde, à educação, à capacitação e às oportunidades de

emprego, assim como à satisfação de outras necessidades,

CONVENCIDOS de que o estabelecimento da Nova Ordem

Econômica Internacional baseada na eqüidade e na justiça

contribuirá significativamente para a promoção da igualdade

entre o homem e a mulher,

SALIENTANDO que a eliminação do apartheid, de todas as

formas de racismo, discriminação racial, colonialismo,

neocolonialismo, agressão, ocupação estrangeira e

dominação e interferência nos assuntos internos dos Estados

é essencial para o pleno exercício dos direitos do homem e

da mulher,

AFIRMANDO que o fortalecimento da paz e da segurança

internacionais, o alívio da tensão internacional, a cooperação

mútua entre todos os Estados, independentemente de seus

sistemas econômicos e sociais, o desarmamento geral e

completo, e em particular o desarmamento nuclear sob um

estrito e efetivo controle internacional, a afirmação dos

princípios de justiça, igualdade e proveito mútuo nas

relações entre países e a realização do direito dos povos

submetidos a dominação colonial e estrangeira e a ocupação

estrangeira, à autodeterminação e independência, bem como

o respeito da soberania nacional e da integridade territorial,

promoverão o progresso e o desenvolvimento sociais, e, em

conseqüência, contribuirão para a realização da plena

igualdade entre o homem e a mulher,

CONVENCIDOS de que a participação máxima da mulher,

em igualdade de condições com o homem, em todos os

campos, é indispensável para o desenvolvimento pleno e

completo de um país, o bem-estar do mundo e a causa da

paz,

TENDO presente a grande contribuição da mulher ao bem-

estar da família e ao desenvolvimento da sociedade, até

agora não plenamente reconhecida, a importância social da

maternidade e a função dos pais na família e na educação

dos filhos, e conscientes de que o papel da mulher na

procriação não deve ser causa de discriminação, mas sim

que a educação dos filhos exige a responsabilidade

compartilhada entre homens e mulheres e a sociedade como

um conjunto,

RECONHECENDO que para alcançar a plena igualdade

entre o homem e a mulher é necessário modificar o papel

tradicional tanto do homem como da mulher na sociedade e

na família,

RESOLVIDOS a aplicar os princípios enunciados na

Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a

Mulher e, para isto, a adotar as medidas necessárias a fim de

suprimir essa discriminação em todas as suas formas e

manifestações,

CONCORDARAM no seguinte:

PARTE I

Artigo 1º

Para os fins da presente Convenção, a expressão

"discriminação contra a mulher" significará toda a distinção,

exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto

ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou

Page 37: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

exercício pela mulher, independentemente de seu estado

civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos

direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos

político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer

outro campo.

Artigo 2º

Os Estados Partes condenam a discriminação contra a

mulher em todas as suas formas, concordam em seguir, por

todos os meios apropriados e sem dilações, uma política

destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com

tal objetivo se comprometem a:

a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas

constituições nacionais ou em outra legislação apropriada o

princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar

por lei outros meios apropriados a realização prática desse

princípio;

b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter,

com as sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação

contra a mulher;

c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher

numa base de igualdade com os do homem e garantir, por

meio dos tribunais nacionais competentes e de outras

instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra

todo ato de discriminação;

d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de

discriminação contra a mulher e zelar para que as

autoridades e instituições públicas atuem em conformidade

com esta obrigação;

e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a

discriminação contra a mulher praticada por qualquer

pessoa, organização ou empresa;

f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter

legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos,

usos e práticas que constituam discriminação contra a

mulher;

g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que

constituam discriminação contra a mulher.

Artigo 3º

Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em

particular, nas esferas política, social, econômica e cultural,

todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter

legislativo, para assegurar o pleno desenvolvimento e

progresso da mulher, com o objetivo de garantir-lhe o

exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades

fundamentais em igualdade de condições com o homem.

Artigo 4º

1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de

caráter temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato

entre o homem e a mulher não se considerará discriminação

na forma definida nesta Convenção, mas de nenhuma

maneira implicará, como conseqüência, a manutenção de

normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão

quando os objetivos de igualdade de oportunidade e

tratamento houverem sido alcançados.

2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais,

inclusive as contidas na presente

Convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se

considerará discriminatória.

Artigo 5º

Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas

para:

a) Modificar os padrões sócio-culturais de conduta de

homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos

preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra

índole que estejam baseados na idéia da inferioridade ou

superioridade de qualquer dos sexos ou em funções

estereotipadas de homens e mulheres.

b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão

adequada da maternidade como função social e o

reconhecimento da responsabilidade comum de homens e

mulheres no que diz respeito à educação e ao

desenvolvimento de seus filhos, entendendo-se que o

interesse dos filhos constituirá a consideração primordial em

todos os casos.

Artigo 6º

Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas,

inclusive de caráter legislativo, para suprimir todas as

formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição

da mulher.

PARTE II

Artigo 7º

Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas

para eliminar a discriminação contra a mulher na vida

política e pública do país e, em particular, garantirão, em

igualdade de condições com os homens, o direito a:

Page 38: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser

elegível para todos os órgãos cujos membros sejam objeto

de eleições públicas;

b) Participar na formulação de políticas governamentais e na

execução destas, e ocupar cargos

públicos e exercer todas as funções públicas em todos os

planos governamentais;

c) Participar em organizações e associações não-

governamentais que se ocupem da vida pública e política do

país.

Artigo 8º

Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas

para garantir, à mulher, em igualdade de condições com o

homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de

representar seu governo no plano internacional e de

participar no trabalho das organizações internacionais.

Artigo 9º

1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos iguais

aos dos homens para adquirir, mudar ou conservar sua

nacionalidade.Garantirão, em particular, que nem o

casamento com um estrangeiro, nem a mudança de

nacionalidade do marido durante o casamento, modifiquem

automaticamente a nacionalidade da esposa, convertam-na

em apátrida ou a obriguem a adotar a nacionalidade do

cônjuge.

2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos

direitos que ao homem no que diz respeito à nacionalidade

dos filhos.

PARTE III

Artigo 10

Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas

para eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de

assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na

esfera da educação e em particular para assegurarem

condições de igualdade entre homens e mulheres:

a) As mesmas condições de orientação em matéria de

carreiras e capacitação profissional, acesso aos estudos e

obtenção de diplomas nas instituições de ensino de todas as

categorias, tanto em zonas rurais como urbanas; essa

igualdade deverá ser assegurada na educação préescolar,

geral, técnica e profissional, incluída a educação técnica

superior, assim como todos os

tipos de capacitação profissional;

b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames, pessoal

docente do mesmo nível

profissional, instalações e material escolar da mesma

qualidade;

c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis

masculino e feminino em todos os níveis e em todas as

formas de ensino mediante o estímulo à educação mista e a

outros tipos de educação que contribuam para alcançar este

objetivo e, em particular, mediante a modificação

dos livros e programas escolares e adaptação dos métodos

de ensino;

d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-de-

estudo e outras subvenções para estudos;

e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas de

educação supletiva, incluídos os programas de alfabetização

funcional e de adultos, com vistas a reduzir, com a maior

brevidade possível, a diferença de conhecimentos existentes

entre o homem e a mulher;

f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos e a

organização de programas para aquelas jovens e mulheres

que tenham deixado os estudos prematuramente;

g) As mesmas oportunidades para participar ativamente nos

esportes e na educação física;

h) Acesso a material informativo específico que contribua

para assegurar a saúde e o bemestar da família, incluída a

informação e o assessoramento sobre planejamento da

família.

Artigo 11

1.Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas

para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera do

emprego a fim de assegurar, em condições de igualdade

entre homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular:

a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser

humano;

b) O direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive

a aplicação dos mesmos critérios de seleção em questões de

emprego;

c) O direito de escolher livremente profissão e emprego, o

direito à promoção e à estabilidade no emprego e a todos os

benefícios e outras condições de serviço, e o direito ao

acesso à formação e à atualização profissionais, incluindo

aprendizagem, formação profissional superior e treinamento

periódico;

Page 39: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e

igualdade de tratamento relativa a um trabalho de igual

valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à

avaliação da qualidade do trabalho;

e) O direito à seguridade social, em particular em casos de

aposentadoria, desemprego,

doença, invalidez, velhice ou outra incapacidade para

trabalhar, bem como o direito de férias

pagas;

f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições

de trabalho, inclusive a

salvaguarda da função de reprodução.

2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por

razões de casamento ou maternidade e

assegurar a efetividade de seu direito a trabalhar, os Estados-

Partes tomarão as medidas

adequadas para:

a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gravidez

ou licença de maternidade e a discriminação nas demissões

motivadas pelo estado civil;

b) Implantar a licença de maternidade, com salário pago ou

benefícios sociais comparáveis, sem perda do emprego

anterior, Antigüidade ou benefícios sociais;

c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de apoio

necessários para permitir que os pais combinem as

obrigações para com a família com as responsabilidades do

trabalho e aparticipação na vida pública, especialmente

mediante fomento da criação e desenvolvimento deuma rede

de serviços destinados ao cuidado das crianças;

d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravidez nos

tipos de trabalho comprovadamente prejudiciais para elas.

3. A legislação protetora relacionada com as questões

compreendidas neste artigo será examinada periodicamente

à luz dos conhecimentos científicos e tecnológicos e será

revista, derrogada ou ampliada conforme as necessidades.

Artigo 12

1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas

para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera dos

cuidados médicos a fim de assegurar, em condições de

igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços

médicos, inclusive os referentes ao planejamento familiar.

2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1, os Estados-

Partes garantirão à mulher assistência apropriadas em

relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto,

proporcionandoassistência gratuita quando assim for

necessário, e lhe assegurarão uma nutrição adequada

durante a gravidez e a lactância.

Artigo 13

Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas

para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em outras

esferas da vida econômica e social a fim de assegurar, em

condições de igualdade entre homens e mulheres, os

mesmos direitos, em particular:

a) O direito a benefícios familiares;

b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas e

outras formas de crédito financeiro;

c) O direito a participar em atividades de recreação, esportes

e em todos os aspectos da vida cultural.

Artigo 14

1. Os Estados-Partes levarão em consideração os problemas

específicos enfrentados pelamulher rural e o importante

papel que desempenha na subsistência econômica de sua

família, incluído seu trabalho em setores não-monetários da

economia, e tomarão todas as medidasapropriadas para

assegurar a aplicação dos dispositivos desta Convenção à

mulher das zonas rurais.

2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apropriadas

para eliminar a discriminação contra a mulher nas zonas

rurais a fim de assegurar, em condições de igualdade entre

homens e mulheres, que elas participem no desenvolvimento

rural e dele se beneficiem, e em particular as segurar-lhes-ão

o direito a:

a) Participar da elaboração e execução dos planos de

desenvolvimento em todos os níveis;

b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive

informação, aconselhamento e serviçosem matéria de

planejamento familiar;

c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguridade

social;

d) Obter todos os tipos de educação e de formação,

acadêmica e não-acadêmica, inclusive os relacionados à

alfabetização funcional, bem como, entre outros, os

benefícios de todos os serviços comunitários e de extensão a

fim de aumentar sua capacidade técnica;

e) Organizar grupos de auto-ajuda e cooperativas a fim de

obter igualdade de acesso às oportunidades econômicas

mediante emprego ou trabalho por conta própria;

f) Participar de todas as atividades comunitárias;

Page 40: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos

serviços de comercialização e às tecnologias apropriadas, e

receber um tratamento igual nos projetos de reforma agrária

e de restabelecimentos;

h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente

nas esferas da habitação, dos

serviços sanitários, da eletricidade e do abastecimento de

água, do transporte e das

comunicações.

PARTE IV

Artigo 15

1.Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualdade com

o homem perante a lei.

2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em matérias

civis, uma capacidade jurídica

idêntica do homem e as mesmas oportunidades para o

exercício dessa capacidade.Em particular,

reconhecerão à mulher iguais direitos para firmar contratos e

administrar bens e dispensar-lhe-ão

um tratamento igual em todas as etapas do processo nas

cortes de justiça e nos tribunais.

3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou outro

instrumento privado de efeitojurídico que tenda a restringir a

capacidade jurídica da mulher será considerado nulo.

4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os

mesmos direitos no que respeita àlegislação relativa ao

direito das pessoas à liberdade de movimento e à liberdade

de escolha deresidência e domicílio.

Artigo 16

1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas adequadas

para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em todos os

assuntos relativos ao casamento e às ralações familiares e,

emparticular, com base na igualdade entre homens e

mulheres, assegurarão:

a) O mesmo direito de contrair matrimônio;

b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de

contrair matrimônio somente com

livre e pleno consentimento;

c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o

casamento e por ocasião de sua dissolução;

d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais,

qualquer que seja seu estado civil, em matérias pertinentes

aos filhos.Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a

consideração primordial;

e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente

sobre o número de seus filhos e

sobre o intervalo entre os nascimentos e a ter acesso à

informação, à educação e aos meios que

lhes permitam exercer esses direitos;

f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à

tutela, curatela, guarda e adoção dos

filhos, ou institutos análogos, quando esses conceitos

existirem na legislação nacional.Em todos

os casos os interesses dos filhos serão a consideração

primordial;

g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mulher,

inclusive o direito de escolher

sobrenome, profissão e ocupação;

h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de

propriedade, aquisição, gestão,administração, gozo e

disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à título

oneroso.

2.Os esponsais e o casamento de uma criança não terão

efeito legal e todas as medidas necessárias, inclusive as de

caráter legislativo, serão adotadas para estabelecer uma

idade mínima para o casamento e para tornar obrigatória a

inscrição de casamentos em registro oficial.

PARTE V

Artigo 17

1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na

aplicação desta Convenção, será estabelecido um Comitê

sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher

(doravante denominado o Comitê) composto, no momento

da entrada em vigor da Convenção, de dezoito e, após sua

ratificação ou adesão pelo trigésimo-quinto Estado-Parte, de

vinte e três peritos de grande prestígio moral e competência

na área abarcada pela Convenção.Os peritos serão eleitos

pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exercerão suas

funções a título pessoal; será levada em conta uma

repartição geográfica eqüitativa e a representação das

formas diversas de civilização assim como dos principais

sistemas jurídicos;

2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio

secreto de uma lista de pessoasindicadas pelos Estados-

Partes.Cada um dos Estados-Partes poderá indicar uma

pessoa entre seus próprios nacionais;

Page 41: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data de

entrada em vigor desta Convenção.Pelo menos três meses

antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações

Unidas dirigirá uma carta aos Estados-Partes convidando-os

a apresentar suas candidaturas, no prazo de dois meses.O

Secretário-Geral preparará uma lista, por ordem alfabética

de todos os candidatos assim apresentados, com indicação

dos Estados-Partes que os tenham apresentado e comunica-

la-á aos Estados Partes;

4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião

dos Estados-Partes convocado pelo Secretário-Geral na sede

das Nações Unidas.Nessa reunião, em que o quorum será

alcançado com dois terços dos Estados-Partes, serão eleitos

membros do Comitê os candidatos que obtiverem o maior

número de votos e a maioria absoluta de votos dos

representantes dos Estados-Partes presentes e votantes;

5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de

quatro anos.Entretanto, o

mandato de nove dos membros eleitos na primeira eleição

expirará ao fim de dois anos; imediatamente após a primeira

eleição os nomes desses nove membros serão escolhidos,

por sorteio, pelo Presidente do Comitê;

6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê

realizar-se-á em conformidade com o disposto nos

parágrafos 2, 3 e 4 deste Artigo, após o depósito do

trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou adesão.O

mandato de dois dos membros adicionais eleitos nessa

ocasião, cujos nomes serão escolhidos, por sorteio, pelo

Presidente do Comitê, expirará ao fim de dois anos;

7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Parte cujo

perito tenha deixado de exercer suas funções de membro do

Comitê nomeará outro perito entre seus nacionais, sob

reserva da aprovação do Comitê;

8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da

Assembléia Geral, receberão remuneração dos recursos das

Nações Unidas, na forma e condições que a Assembléia

Geral decidir, tendo em vista a importância das funções do

Comitê;

9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará o

pessoal e os serviços necessários para o desempenho eficaz

das funções do Comitê em conformidade com esta

Convenção.

Artigo 18

1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao

Secretário-Geral das Nações Unidas,para exame do Comitê,

um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias,

administrativas ou outras que adotarem para tornarem

efetivas as disposições desta Convenção e sobre os

progressos alcançados a esse respeito:

a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da

Convenção para o Estado interessado;

e

b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e toda vez

que o Comitê a solicitar.

2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que

influam no grau de cumprimento das

obrigações estabelecidos por esta Convenção.

Artigo 19

1. O Comitê adotará seu próprio regulamento.

2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois anos.

Artigo 20

1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por um

período não superior a duas semanas para examinar os

relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade com o

Artigo 18

desta Convenção.

2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente na

sede das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar que o

Comitê determine.

Artigo 21

1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das

Nações Unidas, informará anualmente a Assembléia Geral

das Nações Unidas de suas atividades e poderá apresentar

sugestões e recomendações de caráter geral baseada no

exame dos relatórios e em informações recebidas dos

Estados-Partes.Essas sugestões e recomendações de caráter

geral serão incluídas no relatório do Comitê juntamente com

as observações que os Estados-Partes tenham porventura

formulado.

2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os

relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da

Mulher.

As Agências Especializadas terão direito a estar

representadas no exame da aplicação das disposições desta

Convenção que correspondam à esfera de suas atividades.O

Comitê poderá convidar as Agências Especializadas a

apresentar relatórios sobre a aplicação da Convenção nas

Page 42: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

áreas que correspondam à esfera de suas atividades.

PARTE VI

Artigo 23

Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qualquer

disposição que seja mais propícia à obtenção da igualdade

entre homens e mulheres e que seja contida:

a) Na legislação de um Estado-Parte ou

b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo

internacional vigente nesse Estado.

Artigo 24

Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as

medidas necessárias em âmbito nacional para alcançar a

plena realização dos direitos reconhecidos nesta Convenção.

Artigo 25

1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos os

Estados.

2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designado

depositário desta Convenção.

3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos

de ratificação serão depositados

junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

4. Esta Convenção estará aberta à adesão de todos os

Estados.A adesão efetuar-se-á através

do depósito de um instrumento de adesão junto ao

Secretário-Geral das Nações Unidas.

Artigo 26

1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer momento,

formular pedido de revisão desta revisão desta Convenção,

mediante notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das

Nações Unidas.

2. A Assembléia Geral das Nações Unidas decidirá sobre as

medidas a serem tomadas, se for o caso, com respeito a esse

pedido.

Artigo 27

1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir

da data do depósito do vigésimo instrumento de ratificação

ou adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a

ela aderir após o depósito do vigésimo instrumento de

ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no

trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de

ratificação ou adesão.

Artigo 28

1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e enviará

a todos os Estados o texto das reservas feitas pelos Estados

no momento da ratificação ou adesão.

2. Não será permitida uma reserva incompatível com o

objeto e o propósito desta Convenção.

3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por

uma notificação endereçada com esse objetivo ao

Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a todos

os Estados a respeito.A notificação surtirá efeito na data de

seu recebimento.

Artigo 29

1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados-Partes

relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção e que

não for resolvida por negociações será, a pedido de qualquer

das Partes na controvérsia, submetida à arbitragem.Se no

prazo de seis meses a partir da data do pedido de arbitragem

as Partes não acordarem sobre a forma da arbitragem,

qualquer das Partes poderá submeter à controvérsia à Corte

Internacional de Justiça mediante pedido em conformidade

com o Estatuto da Corte.

2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura ou

ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, poderá

declarar que não se considera obrigado pelo parágrafo

anterior.Os demais Estados-Partes não estarão obrigados

pelo parágrafo anterior perante nenhum Estado-Parte que

tenha formulado essa reserva.

3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reserva

prevista no parágrafo anterior poderá retirá-la em qualquer

momento por meio de notificação ao Secretário-Geral das

Nações Unidas.

Artigo 30

Esta convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol,

francês, inglês e russo são igualmente autênticos será

depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

Em testemunho do que, os abaixo-assinados devidamente

autorizados, assinaram esta Convenção.

LEI Nº 2.889, DE 1 DE OUTUBRO DE 1956 .

Define e pune o crime de

genocídio.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei:

Page 43: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou

em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como

tal:

a) matar membros do grupo;

b) causar lesão grave à integridade física ou mental de

membros do grupo;

c) submeter intencionalmente o grupo a condições de

existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total

ou parcial;

d) adotar medidas destinadas a impedir os

nascimentos no seio do grupo;

e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo

para outro grupo;

Será punido:

Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no

caso da letra a;

Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;

Com as penas do art. 270, no caso da letra c;

Com as penas do art. 125, no caso da letra d;

Com as penas do art. 148, no caso da letra e;

Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para

prática dos crimes mencionados no artigo anterior:

Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.

Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a

cometer qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:

Pena: Metade das penas ali cominadas.

§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de

crime incitado, se este se consumar.

§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando

a incitação for cometida pela imprensa.

Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no

caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido o crime por

governante ou funcionário público.

Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das

respectivas penas a tentativa dos crimes definidos nesta lei.

Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão

considerados crimes políticos para efeitos de extradição.

Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da

Independência e 68º da República.

JUSCELINO KUBITSCHEK 

Nereu Ramos

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 2.10.1956

LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.

 

Cria mecanismos para coibir a violência doméstica

e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do

art. 226 da Constituição Federal, da Convenção

sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra as Mulheres e da Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a

Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação

dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar

contra a Mulher; altera o Código de Processo

Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal;

e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que

o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos para coibir e

prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,

nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana

para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher

e de outros tratados internacionais ratificados pela República

Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de

Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e

estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em

situação de violência doméstica e familiar.

Art. 2o  Toda mulher, independentemente de classe,

raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível

educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais

inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as

oportunidades e facilidades para viver sem violência,

preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento

moral, intelectual e social.

Art. 3o  Serão asseguradas às mulheres as condições

para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à

saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao

acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à

cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à

convivência familiar e comunitária.

§ 1o  O poder público desenvolverá políticas que visem

garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das

relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las

Page 44: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

de toda forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão.

§ 2o  Cabe à família, à sociedade e ao poder público

criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos

direitos enunciados no caput.

Art. 4o  Na interpretação desta Lei, serão considerados

os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as

condições peculiares das mulheres em situação de violência

doméstica e familiar.

TÍTULO II

DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência

doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou

omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,

sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou

patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida

como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou

sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente

agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a

comunidade formada por indivíduos que são ou se

consideram aparentados, unidos por laços naturais, por

afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o

agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,

independentemente de coabitação.

Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas

neste artigo independem de orientação sexual.

Art. 6o  A violência doméstica e familiar contra a

mulher constitui uma das formas de violação dos direitos

humanos.

CAPÍTULO II

DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E

FAMILIAR

CONTRA A MULHER

Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar

contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta

que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer

conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-

estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno

desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante

ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,

isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,

insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação

do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause

prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer

conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a

participar de relação sexual não desejada, mediante

intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a

comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua

sexualidade, que a impeça de usar qualquer método

contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao

aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,

suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício

de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer

conduta que configure retenção, subtração, destruição

parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,

documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos

econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer

conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

TÍTULO III

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 

CAPÍTULO I

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

Art. 8o  A política pública que visa coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de

um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-

governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integração operacional do Poder Judiciário, do

Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de

segurança pública, assistência social, saúde, educação,

trabalho e habitação;

II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e

outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero

Page 45: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências

e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a

mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados

nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das

medidas adotadas;

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos

valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a

coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem

a violência doméstica e familiar, de acordo com o

estabelecido no inciso III do art. 1 o , no inciso IV do art. 3 o  e

no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

IV - a implementação de atendimento policial

especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias

de Atendimento à Mulher;

V - a promoção e a realização de campanhas

educativas de prevenção da violência doméstica e familiar

contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade

em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de

proteção aos direitos humanos das mulheres;

VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes,

termos ou outros instrumentos de promoção de parceria

entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-

governamentais, tendo por objetivo a implementação de

programas de erradicação da violência doméstica e familiar

contra a mulher;

VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e

Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos

profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados

no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;

VIII - a promoção de programas educacionais que

disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade

da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou

etnia;

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os

níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos

humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao

problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

CAPÍTULO II

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

Art. 9o  A assistência à mulher em situação de

violência doméstica e familiar será prestada de forma

articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos

na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de

Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras

normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente

quando for o caso.

§ 1o  O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da

mulher em situação de violência doméstica e familiar no

cadastro de programas assistenciais do governo federal,

estadual e municipal.

§ 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de

violência doméstica e familiar, para preservar sua

integridade física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora

pública, integrante da administração direta ou indireta;

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando

necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis

meses.

§ 3o  A assistência à mulher em situação de violência

doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios

decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico,

incluindo os serviços de contracepção de emergência, a

profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e

da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e

outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos

casos de violência sexual.

CAPÍTULO III

DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 10.  Na hipótese da iminência ou da prática de

violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade

policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de

imediato, as providências legais cabíveis.

Parágrafo único.  Aplica-se o disposto no caput deste

artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência

deferida.

Art. 11.  No atendimento à mulher em situação de

violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá,

entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário,

comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder

Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de

saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus

dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver

risco de vida;

Page 46: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para

assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência

ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos

nesta Lei e os serviços disponíveis.

Art. 12.  Em todos os casos de violência doméstica e

familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência,

deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes

procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código

de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e

tomar a representação a termo, se apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o

esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,

expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para

a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de

delito da ofendida e requisitar outros exames periciais

necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar

aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a

existência de mandado de prisão ou registro de outras

ocorrências policiais contra ele;

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito

policial ao juiz e ao Ministério Público.

§ 1o  O pedido da ofendida será tomado a termo pela

autoridade policial e deverá conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas

solicitadas pela ofendida.

§ 2o  A autoridade policial deverá anexar ao

documento referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia

de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3o  Serão admitidos como meios de prova os laudos

ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de

saúde.

TÍTULO IV

DOS PROCEDIMENTOS

 CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 13.  Ao processo, ao julgamento e à execução das

causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência

doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas

dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da

legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao

idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.

Art. 14.  Os Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com

competência cível e criminal, poderão ser criados pela

União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados,

para o processo, o julgamento e a execução das causas

decorrentes da prática de violência doméstica e familiar

contra a mulher.

Parágrafo único.  Os atos processuais poderão realizar-

se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de

organização judiciária.

Art. 15.  É competente, por opção da ofendida, para os

processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:

I - do seu domicílio ou de sua residência;

II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;

III - do domicílio do agressor.

Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à

representação da ofendida de que trata esta Lei, só será

admitida a renúncia à representação perante o juiz, em

audiência especialmente designada com tal finalidade, antes

do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência

doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta

básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a

substituição de pena que implique o pagamento isolado de

multa.

CAPÍTULO II

DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

 Seção I

Disposições Gerais

Art. 18.  Recebido o expediente com o pedido da

ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito)

horas:

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre

as medidas protetivas de urgência;

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao

órgão de assistência judiciária, quando for o caso;

III - comunicar ao Ministério Público para que adote as

providências cabíveis.

Page 47: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Art. 19.  As medidas protetivas de urgência poderão

ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério

Público ou a pedido da ofendida.

§ 1o  As medidas protetivas de urgência poderão ser

concedidas de imediato, independentemente de audiência

das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo

este ser prontamente comunicado.

§ 2o  As medidas protetivas de urgência serão

aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser

substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia,

sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaçados ou violados.

§ 3o  Poderá o juiz, a requerimento do Ministério

Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas

protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se

entender necessário à proteção da ofendida, de seus

familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

Art. 20.  Em qualquer fase do inquérito policial ou da

instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor,

decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério

Público ou mediante representação da autoridade policial.

Parágrafo único.  O juiz poderá revogar a prisão

preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de

motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se

sobrevierem razões que a justifiquem.

Art. 21.  A ofendida deverá ser notificada dos atos

processuais relativos ao agressor, especialmente dos

pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da

intimação do advogado constituído ou do defensor público.

Parágrafo único.  A ofendida não poderá entregar

intimação ou notificação ao agressor.

Seção II

Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o

Agressor

Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e

familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá

aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou

separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência,

entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas,

com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei

n o   10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de

convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as

quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das

testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre

estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e

testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de

preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes

menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar

ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

§ 1o  As medidas referidas neste artigo não impedem a

aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre

que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem,

devendo a providência ser comunicada ao Ministério

Público.

§ 2o  Na hipótese de aplicação do inciso I,

encontrando-se o agressor nas condições mencionadas

no caput e incisos do art. 6 o   da Lei n o   10.826, de 22 de

dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão,

corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência

concedidas e determinará a restrição do porte de armas,

ficando o superior imediato do agressor responsável pelo

cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer

nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o

caso.

§ 3o  Para garantir a efetividade das medidas protetivas

de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,

auxílio da força policial.

§ 4o  Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no

que couber, o disposto no caput e nos §§ 5 o   e 6º do art. 461

da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de

Processo Civil).

Seção III

Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

Art. 23.  Poderá o juiz, quando necessário, sem

prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a

programa oficial ou comunitário de proteção ou de

atendimento;

Page 48: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus

dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do

agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem

prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e

alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Art. 24.  Para a proteção patrimonial dos bens da

sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da

mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes

medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo

agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e

contratos de compra, venda e locação de propriedade em

comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela

ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito

judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática

de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Parágrafo único.  Deverá o juiz oficiar ao cartório

competente para os fins previstos nos incisos II e III deste

artigo.

CAPÍTULO III

DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Art. 25.  O Ministério Público intervirá, quando não

for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da

violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 26.  Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo

de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e

familiar contra a mulher, quando necessário:

I - requisitar força policial e serviços públicos de

saúde, de educação, de assistência social e de segurança,

entre outros;

II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e

particulares de atendimento à mulher em situação de

violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as

medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a

quaisquer irregularidades constatadas;

III - cadastrar os casos de violência doméstica e

familiar contra a mulher.

CAPÍTULO IV

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Art. 27.  Em todos os atos processuais, cíveis e

criminais, a mulher em situação de violência doméstica e

familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado

o previsto no art. 19 desta Lei.

Art. 28.  É garantido a toda mulher em situação de

violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de

Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita,

nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante

atendimento específico e humanizado.

TÍTULO V

DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

Art. 29.  Os Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão

contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a

ser integrada por profissionais especializados nas áreas

psicossocial, jurídica e de saúde.

Art. 30.  Compete à equipe de atendimento

multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem

reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por

escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública,

mediante laudos ou verbalmente em audiência, e

desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento,

prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o

agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e

aos adolescentes.

Art. 31.  Quando a complexidade do caso exigir

avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a

manifestação de profissional especializado, mediante a

indicação da equipe de atendimento multidisciplinar.

Art. 32.  O Poder Judiciário, na elaboração de sua

proposta orçamentária, poderá prever recursos para a criação

e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar,

nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.

TÍTULO VI

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 33.  Enquanto não estruturados os Juizados de

Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas

criminais acumularão as competências cível e criminal para

conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de

violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas

as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela

legislação processual pertinente.

Page 49: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Parágrafo único.  Será garantido o direito de

preferência, nas varas criminais, para o processo e o

julgamento das causas referidas no caput.

TÍTULO VII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 34.  A instituição dos Juizados de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser

acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e

do serviço de assistência judiciária.

Art. 35.  A União, o Distrito Federal, os Estados e os

Municípios poderão criar e promover, no limite das

respectivas competências:

I - centros de atendimento integral e multidisciplinar

para mulheres e respectivos dependentes em situação de

violência doméstica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos

dependentes menores em situação de violência doméstica e

familiar;

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços

de saúde e centros de perícia médico-legal especializados no

atendimento à mulher em situação de violência doméstica e

familiar;

IV - programas e campanhas de enfrentamento da

violência doméstica e familiar;

V - centros de educação e de reabilitação para os

agressores.

Art. 36.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de

seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei.

Art. 37.  A defesa dos interesses e direitos

transindividuais previstos nesta Lei poderá ser exercida,

concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação

de atuação na área, regularmente constituída há pelo menos

um ano, nos termos da legislação civil.

Parágrafo único.  O requisito da pré-constituição

poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há

outra entidade com representatividade adequada para o

ajuizamento da demanda coletiva.

Art. 38.  As estatísticas sobre a violência doméstica e

familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados

dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim

de subsidiar o sistema nacional de dados e informações

relativo às mulheres.

Parágrafo único.  As Secretarias de Segurança Pública

dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas

informações criminais para a base de dados do Ministério da

Justiça.

Art. 39.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios, no limite de suas competências e nos termos das

respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão

estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada

exercício financeiro, para a implementação das medidas

estabelecidas nesta Lei.

Art. 40.  As obrigações previstas nesta Lei não

excluem outras decorrentes dos princípios por ela adotados.

Art. 41.  Aos crimes praticados com violência

doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da

pena prevista, não se aplica a Lei n o   9.099, de 26 de

setembro de 1995.

Art. 42.  O art. 313 do Decreto-Lei n o   3.689, de 3 de

outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar

acrescido do seguinte inciso IV:

“Art. 313.  .................................................

................................................................

IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar

contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a

execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)

Art. 43.  A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-

Lei n o   2.848, de 7 de dezembro de 1940  (Código Penal),

passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 61.  ..................................................

.................................................................

II - ............................................................

.................................................................

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações

domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com

violência contra a mulher na forma da lei específica;

........................................................... ” (NR)

Art. 44.  O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de

dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as

seguintes alterações:

“Art. 129.  ..................................................

..................................................................

§ 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,

irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou

tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das

relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Page 50: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

..................................................................

§ 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será

aumentada de um terço se o crime for cometido contra

pessoa portadora de deficiência.” (NR)

Art. 45.  O art. 152 da Lei n o   7.210, de 11 de julho de

1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a

seguinte redação:

“Art. 152.  ...................................................

Parágrafo único.  Nos casos de violência doméstica contra a

mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento

obrigatório do agressor a programas de recuperação e

reeducação.” (NR)

Art. 46.  Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco)

dias após sua publicação.

Brasília,  7  de  agosto  de 2006; 185o da

Independência e 118o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA 

Dilma Rousseff

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006

A LEI MARIA DA PENHA

I – INTRODUÇÃO

A desigualdade formal, conquistada com a Revolução

Francesa de 1789, foi o paradigma da legislação do mundo

civilizado no curso do século XIX e por quase todo o século

XX.

Ao final da Segunda Guerra, o Mundo Ocidental despertou

para uma nova realidade: de nada valia a outorga de direitos

pelo Estado, se não tinham os titulares formais desses

direitos condições de acesso a eles. Para a real aquisição dos

direitos outorgados pelo Estado era preciso criar condições

de acesso, tarefa que não poderia ser deixada para solução

ao Estado do laissez-faire, laissez-passer. Era preciso criar

mecanismos que levassem à igualdade substancial de

direitos.

Assim, despertou-se ao final do século XX para a

identificação de grupos fragilizados em razão de fatos

adversos por questão de gênero, raça, nacionalidade, credo,

etc., ao tempo em que se deu início às políticas públicas

identificadas como ações afirmativas, que são, em verdade,

a discriminação protetiva de grupos sociais com dificuldade

de acesso aos direitos constitucionalmente estabelecidos.

Dentre os grupos minoritários de maior expressão social está

o discriminado por gênero, não se ignorando que a história

da mulher é marcada por uma condição de inferioridade em

todos os povos e civilizações, minorada após a Revolução

Francesa, mas ainda gritante no século XX.

A desigualdade feminina fez nascer na

sociedade brasileira, o que não se apresenta como

peculiaridade única, sendo uma constante em diversos

países, com maior ou menor intensidade, uma cultura de

violência oriunda da própria posição de superioridade social

do homem, incentivada por razões de poder na divisão do

mercado de trabalho e de predominância política e, por fim,

pelo silencioso consentimento social, seja das vítimas, seja

de terceiros pela cultura de inferioridade da mulher.

A violência contra a mulher tornou-se,

então, invisível aos olhos da sociedade, tolerante e, por isso

mesmo, no exercício de um surdo pacto de silêncio,

traduzido em ditados populares que bem expressam o

comportamento social: “Em briga de marido e mulher

ninguém mete a colher”; “roupa suja se lava em casa”; “a

mulher casada está em seu posto de honra e da rua para fora

nada lhe diz respeito”.

Graças aos movimentos feministas, a partir de 1910,

tornaram-se públicas as discussões sobre a independência da

mulher, para superação da sua pseudo-inferioridade,

anotando-se, a partir dos diversos embates, a gravidade da

violência doméstica.

A discussão pública sobre o tema ficou mais evidente na

década de 70 e, nos anos 90, com mais veemência, veio à

baila o tema, quando os movimentos feministas incipientes

mais atuantes fizeram nascer as ONG e as associações, com

militância constante e competente, direcionando-se para um

objetivo comum: envolver o Estado por via de políticas

públicas e sociais no sentido de acabar com a violência

contra a mulher.

Ao final do século XX podemos dizer que houve uma

quebra de paradigma, refletida nas chamadas ações

afirmativas em favor da mulher, a partir do objetivo de

eliminar a violência doméstica ou social contra a mulher.

No decorrer dos estudos em direção ao objetivo da

igualdade, chegou-se à conclusão que o ponto de partida

para a construção de uma política eficiente seria a coleta de

Page 51: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

dados estatísticos, possibilitando tais números ao traçado de

um diagnóstico e, depois, à implantação de um sistema de

prevenção eficiente, afastando-se as verdades e mentiras que

sempre povoaram o imaginário social.

Quando o Brasil foi convidado para participar do Congresso

Internacional de Mulheres, realizado em Beijing em 1995,

despertou para a dificuldade em traçar as metas a serem

discutidas pela ausência de dados estatísticos sobre a

atuação da mulher brasileira. Ainda hoje ressente-se a Nação

de precisão numérica de dados. Dispomos apenas dos dados

obtidos do IBGE, dos recenseamentos de 1988 e 2001, de

pesquisas isoladas procedidas pelas Secretarias de

Segurança Pública dos Estados e de uma única pesquisa

direcionada, realizada pela Fundação Perseu Abramo em

2001.

A partir daí, passou a ser a meta prioritária dos movimentos

feministas a produção de dados e indicadores atualizados.

Graças a esta consciência, veio a lume a Lei 10.778/03,

diploma que torna obrigatório aos hospitais e clínicas

médicas preencher questionário específico de informação

sobre atendimento médico à mulher que chega aos hospitais

e clínicas com sinais de agressão física ou psíquica.

Lamentavelmente, passados quatro anos a lei mencionada

ainda não foi regulamentada, nem sequer implantada.

II – A LEGISLAÇÃO

A Constituição Federal de 1988 instituiu como um dos

princípios fundamentais do Estado a “dignidade da pessoa

humana”, dentro da garantia de que todos são iguais, sem

distinção alguma, proibindo, inclusive, diferença salarial,

diferença de critérios de admissão por motivo de sexo,

dispositivos que deixam clara a posição de combate à

discriminação.

A conquista maior veio com a Lei 9.099/95, diploma que

instituiu os Juizados Especiais, possibilitando maior

celeridade e eficácia às punições de delitos de baixo

potencial ofensivo, classificando-se como tais os casos mais

comuns de violência doméstica contra a mulher.

Lamentavelmente, a realidade mostrou-se inteiramente

diferente da idéia conceitual dos que lutaram pela aprovação

da Lei dos Juizados. Em pouco tempo, chegou-se à

conclusão que o diploma legal serviu para a legalização da

“surra doméstica”. Sem flagrante, sem fiança e com a

possibilidade de acordo, ainda na fase policial, impunha

como condenação o pagamento de uma multa, a entrega de

cestas básicas ou a prestação de serviço à comunidade,

apagando por completo a acessão perpetrada.

A suavidade da pena e o desaparecimento da culpa do

agressor pelas tratativas procedimentais levavam à

reincidência, ou seja, outra surra, outra agressão,

acompanhada de coação, para que a vítima não usasse o

suporte legal nos próximos embates.

III – PECULIARIDADES

A Lei 11.340/06, chamada de Lei Maria da Penha,

inaugurou uma nova fase na história das ações afirmativas

em favor da mulher brasileira.

Não se pode deixar de registrar o motivo que levou o

legislador a nominar o novo instituto. Sim, porque a Lei

Maria da Penha é mais do que um diploma legislativo.

Trata-se de uma lei que congrega um conjunto de regras

penais e extrapenais, contendo princípios, objetivos,

diretrizes, programa, etc., com o propósito precípuo de

reduzir a morosidade judicial, introduzir medidas

despenalizadoras, diminuir a impunidade e, na ponta, como

desiderato maior, proteger a mulher e a entidade familiar.

Maria da Penha é uma professora universitária de classe

média, casada com um também professor universitário, que

protagonizou um simbólico caso de violência doméstica

contra a mulher. Em 1983, foi vítima, por duas vezes, do seu

marido, que tentou assassiná-la. A primeira vez com um tiro,

que a deixou paraplégica, e, a segunda, por eletrocussão e

afogamento. A punição pela Justiça só veio vinte anos

depois, por interferência de organismos internacionais.

Maria da Penha transformou dor em luta, tragédia em

solidariedade, merecendo a homenagem de todos dando

nome à lei que é, sem dúvida, um microssistema de proteção

à família e à mulher.

Como principais inovações temos a admissibilidade das

prisões em flagrante e preventiva, obrigatoriedade do

inquérito policial e a só possibilidade de desistência, por

parte da vítima, em juízo, acompanhada de advogada e

ouvido o Ministério Público. Pelos tópicos, verifica-se a

absoluta alteração da sistemática procedimental, impondo-se

dificuldades para arquivamento de uma denúncia de

agressão, a fim de evitar a coação. Daí a necessidade de

Page 52: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

participação de todos os atores processuais: juiz, advogado e

Ministério Público.

A autoridade policial também fica mais fortalecida na fase

repressiva, podendo efetuar a prisão em flagrante ou

representar pela prisão preventiva.

Têm os doutrinadores questionado o seguinte: aplicava-se ao

crime de violência doméstica, com ou sem lesões corporais,

a Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais –, diploma que

exigia a representação para o procedimento do crime de

lesões corporais dolosa de natureza leve. Revogada a

aplicação da Lei 9.099/95 pela Lei Maria da Penha, fica a

indagação: continua-se a exigir a representação, ou passa-se

à categoria dos crimes de ação pública? Sem referência

jurisprudencial, ainda, tem-se a voz autorizada do Professor

Damásio de Jesus, entendendo que continua a se exigir, para

a espécie, a representação.

É interessante anotar que a lei em comento se refere à

violência contra a mulher, perpetrada no âmbito da unidade

doméstica, entendendo-se como tal o espaço de convivência

permanente de pessoas com ou sem vínculo familiar ,

abrangendo, inclusive, os esporadicamente agregados.

Uma grande inovação do diploma aqui analisado é a

explicitação das formas de violência, discriminadas no art.

7º (violência física, psicológica, sexual, patrimonial e

moral), sendo definidas cada uma delas.

Mantidas as penas constantes do Código Penal, e que vão de

um a três anos de detenção, afastaram-se a pena pecuniária,

a transação penal e a competência dos juizados especiais.

Há na lei um ponto que está a causar perplexidade por

destoar inteiramente do foco de maior repressão: o parágrafo

9º do art. 121, depois de ter o acréscimo da qualificação,

pela Lei 11.340/06, sofreu diminuição da pena máxima

cominada, passando de seis para três meses de detenção.

Para uns, houve equívoco do legislador, para outros,

diferentemente, a intenção foi sistematizar a pena para as

hipóteses de lesões leves.

Muito mais do que um diploma repressivo, a Lei Maria da

Penha é um conjunto sistêmico de medidas protetivas, daí a

prescrição de medidas acautelatórias, tais como: suspensão

do porte de arma, afastamento do lar, proibição de contato

do agressor com a vítima, alimentos provisionais, etc.

A Lei 11.340/06, para funcionar e produzir os efeitos

desejados, está a exigir do aparelho estatal, especialmente do

Poder Judiciário, um esforço concentrado, a partir da

implantação imediata dos Juizados de Violência Doméstica,

os quais deverão ter funcionamento diferenciado. A previsão

de uma equipe multidisciplinar de atendimento de nada

servirá se aos processos judiciais não se der diferenciado

tratamento no sentido de dinamizar, descomplicar e,

sobretudo, entender-se o drama familiar que se esconde atrás

de cada um dos processos. O desafio maior, portanto, é o de

treinamento adequado.

IV – QUESTIONAMENTOS

Como não poderia deixar de ser, doutrinariamente, não são

poucos os questionamentos em torno do novo diploma.

Primeiro, pela novidade, segundo, pela ousadia legislativa,

e, terceiro, pela falta de hábito, ainda, no trato com as ações

afirmativas. Daí a adjetivação à lei, tida por alguns como

preconceituosa por partir da idéia de desigualdade, o que é

de absoluta intolerância para as feministas.

A lei, efetivamente, reconhece a desigualdade de gênero e

vem, por isso mesmo, com o intuito de proteger não apenas

a mulher, mas também à família. Trata-se de um

instrumento identificado como de ação afirmativa.

Para outros, a lei em análise deforma o sistema prisional e

traz, em conseqüência, um grave problema social, na medida

em que, sem a possibilidade de livrar-se solto do processo,

como ocorria antecedentemente, colocar-se-á na prisão,

durante o curso do processo, um pai de família, um homem

com baixa agressividade, no meio de marginais perigosos e

praticantes de delitos de alto potencial ofensivo.

Entendo que o sistema prisional brasileiro já está

inteiramente deformado e não será a Lei Maria da Penha

mais um instrumento de aprofundamento do caos reinante.

A avaliação não é por esse prisma, e sim pela constatação de

que talvez tenhamos uma lei avançada demais para um país

que iguala os segregados pelo Estado, colocando todos no

mesmo patamar, sem estabelecer gradações, ou

discriminação, pelo tipo do crime perpetrado. Não temos

sistema prisional, e sim depósito de presos, o que precisa de

correção urgente, urgentíssima.

Alega-se também que a Lei Maria da Penha está na

contramão da história, porque defasada da nova orientação

do Direito Penal, de caráter eminentemente preventivo,

enquanto o grau de repressão da Lei 11.340/06 é a tônica. A

Page 53: apostila sobre Noções de igualdade e gênero

alegação é inteiramente leviana, na medida em que o

conteúdo penal do diploma analisado é mínimo. Como já

afirmado, trata-se de instrumento legislativo que alberga um

microssistema de proteção à família e, por via de

conseqüência, à mulher, com alguns dispositivos de forte

repressão.

A mais radical crítica à lei é no sentido de

taxá-la de inconstitucional, pela quebra do princípio da

igualdade. Ora, se levarmos em conta, em termos absolutos,

o princípio da igualdade formal, todas as ações afirmativas

padeceriam de inconstitucionalidade.

Afinal, ninguém ignora o grave quadro de

inferioridade do gênero, conforme demonstram os poucos

dados estatísticos existentes. A título exemplificativo, com

números de maio de 2006, temos que a cada quinze

segundos uma mulher é espancada ou violentada; a cada

vinte e quatro horas nove ocorrências policiais são

registradas; uma em cada cinco mulheres já foi agredida;

mais de cinqüenta por cento das agredidas não procuram

ajuda; trinta e três por cento das mulheres já sofreram algum

tipo de agressão física; setenta por cento dos incidentes

acontecem dentro da unidade familiar e o agressor é o

próprio marido; mais de quarenta por cento das agressões

resultam em lesões corporais graves; o Brasil perde dez por

cento do seu PIB em decorrência da violência contra a

mulher, considerando-se os gastos da rede de saúde, a

interrupção do mercado de trabalho pela paralisação da

atividade da mulher agredida e o gasto com a mobilização

do aparelho estatal repressivo, polícia e Justiça

V – CONCLUSÕES

Independentemente da valorização da

mulher, em política que tenha por escopo a igualdade do

gênero, não se pode deixar de reconhecer que no Brasil,

como em quase todos os países do mundo ocidental, a

mulher continua sendo alvo de uma sociedade machista e

desigual, em preconceito muitas vezes silencioso, velado e,

lamentavelmente, socialmente consentido. O silêncio da

vítima e a indiferença da sociedade são, sem dúvida, o

combustível mais poderoso para a continuidade da violência.

Não se pretende aqui fazer uma apologia à

mulher, mas é preciso, ao falar de uma específica forma de

violência, a doméstica, lembrar do que ocorre fora do

âmbito familiar, nos empregos, e que hoje merece a

reprimenda penal com o tipo do artigo 216-A do Código

Penal; do que faz a sociedade de consumo com as mulheres,

que hoje vivem submetidas aos ditames da ditadura da

beleza, que exige juventude, corpo esquálido e hábitos que

sustentem a rica indústria de cosméticos, de cirurgias

plásticas e da moda prêt-à-porter, sem preocupação alguma

com o destino existencial da mulher.

Ao falar-se da Lei Maria da Penha estar-se-á

restringindo a análise a uma espécie, a mais drástica e grave

sob o ângulo pessoal da vítima e da sociedade: a violência

doméstica.

A Lei 11.340/06 só pode ser interpretada

como diploma que pretende resgatar de forma

principiológica a política pública de proteção à família e de

combate à desigualdade, sem espaço para alegação de

inconstitucionalidade.

Constituindo-se a Lei Maria da Penha em

uma quebra de paradigma, só funcionará, efetivamente, se

pelo Estado houver a implementação dos serviços

multidisciplinares previstos no microssistema criado. Por

parte dos atores do processo, dentre os quais juízes e

membros do Ministério Público, espera-se que vençam a

tradicional morosidade do Judiciário, mediante a aplicação

da norma de maneira inteiramente nova, sem burocracias e

sem formalismo.

Enfim, no combate à desigualdade é preciso

que cada um cumpra o seu papel.