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EDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIAL

SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO

Não é fácil falar de poesia nos tempos atuais. Em grande parte, isso se deve ao fato da poesia ter se tornado um tipo de literatura feita e apreciada apenas por alguns entusiastas, preocupados em preservar o legado dos grandes gênios do gênero lírico. São poucas as pessoas que produzem e, principalmente, lêem poesia. Muitos a consideram complexa, outros tantos, ultrapassada. A verdade é que a poesia não pode morrer, porque nela reside a essência da literatura.

Esse desafio, evidentemente, não é dos mais fáceis, já que a raiz do problema está na educação (veja a partir da página 16). Por isso essa revista foi criada, com o intuito de não só divulgar a poesia como também de traçar um panorama da atual forma de se tratar o gênero poético, podendo assim criar formas de valorizá-la cada dia mais. Portanto, sinta-se convidado a não apenas ler, mas também refletir sobre a poesia. Boa leitura.

ENTREVISTA LEANDRO MUNIZ, PÁG. 2 CAPA A POESIA NA ERA DA INTERNET, PÁG. 5 EDUCAÇÃO PORQUE OS ALUNOS ODEIAM TANTO POESIA?, PÁG. 12 HISTÓRIA DA POESIA O BERÇO DA POESIA, PÁG. 17 GRANDES POETAS CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, PÁG. 22

ESTANTE DESTAQUES, NOVOS TALENTOS E OBRAS-PRIMAS, PÁG. 25 CLÁSSICOS POESIAS QUE ENTRARAM PARA A HISTÓRIA, PÁG. 29 POR DENTRO DA POESIA VERSOS ÍNTIMOS, DE AUGUSTO DOS ANJOS, PÁG. 33 POETIZANDO POEMAS, POEMAS E... MAIS POEMAS, PÁG. 35 UM POUCO DE PROSA MÁQUINA DO TEMPO, PÁG. 40

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LEANDRO MUNIZ

Como você começou a escrever poesia? - Aos doze anos de idade, comecei a esboçar algumas coisas, mas não tinha sequer noção de que aquilo poderia se transformar em poesia algum dia, até porque, naquela idade, eu ainda não tinha entendido o que o termo “poesia” significava. Foi aos quatorze que compus meu primeiro poema propriamente dito; enquanto minha professora de português trabalhava o texto “Canção do

Exílio”, senti que pulsava em mim uma voz dizendo “eu sou capaz de escrever algo assim”, e à semelhança do poema de Gonçalves Dias, escrevi para a minha cidade natal. A partir daí, vieram muitos outros. Foram muitos anos até que eu encontrasse uma certa maturidade poética, mas nunca deixei de escrever. Um poeta se faz com leitura e treino constante, pois inspiração muita gente tem, mas não sabe o que fazer com ela. Além de poesia, você escreve outros gêneros? - Além dos textos em verso, também escrevo prosa e textos dramáticos. Já publiquei uma novela “SRNGR consoantes assassinas”, contos, e tenho algumas peças de teatro prontas, porém inéditas devido a dificuldade de levar ao público esse tipo de trabalho. Que tipo de poesia você escreve? - Sinceramente, não sei classificar minha poesia. Apesar de ter estudado tanto a teoria da literatura, não consigo ter olhar técnico sobre a minha poesia. Apesar de ter estudado

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minha produção. Cada poema vaza de mim de uma maneira singular, pois são momentos diferentes de minha vida. Quando os leio, o que vejo são retratos de alegrias, angústias, questionamentos, conflitos, paixões, o meu mundo interior explicitado. Há um bloqueio em mim quanto à classificação, e deixo isso com os outros. Mas uma coisa eu afirmo com segurança: na minha poesia eu desprezo completamente as regras, não faço sonetos, haikais, quadras, ou qualquer outra fórmula; já fiz no passado, mas abandonei tal prática quando percebi que isso me amarrava. O próprio ofício de escrever já é uma prisão, sujeitar-me às fórmulas seria uma tortura a mais, eu não suportaria. Recentemente você publicou o livro “Varal sem lei”. Fale um pouco sobre ele. - “Varal sem lei” é uma coletânea de poemas escritos num período de dez anos, fase na qual eu encontrei meu caminho poético. O título teve origem a partir de uma crítica que recebi quando submeti a obra a uma análise para publicação: um dos membros da banca examinadora disse que o livro não merecia ser publicado pois não se tratava de um

conjunto particular de poemas, e sim de uma coletânea esparsa, com temas e formas muito distintas. Ele tinha razão: os dez últimos anos da minha vida me transformaram como pessoa e como artista, e eu não poderia ter escrito uma obra tão uniforme num período e que tudo foi improvável e inconstante (e um período em que conquistei grande parte do meu público graças a toda essa versatilidade). Talvez agora eu consiga escrever uma obra que se enquadre nos “padrões” do tal crítico, mas não sei se vale a pena, acho que não. Como você avalia o mercado editorial nos dias de hoje? - No Brasil, falar em mercado editorial é sempre complicado. Primeiro, porque grande parte da população não é dada à leitura, não somos educados para isso. Da parcela que lê, um percentual significativo prefere o que chamamos de literatura comercial, aquela que vende mais por ser mais fácil (de se produzir e de se entender) ou por ser objeto de alguma “febre”. Não bastasse isso, as grandes editoras, estruturadas com seus sistemas de produção e distribuição, não publicam autores que já não tenham lá sua fama. Dificilmente, um autor

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iniciante consegue ser contratado por essas empresas. Por outro lado, a internet tem sido um instrumento cada vez mais democrático no sentido de divulgação. Hoje, qualquer coisa que você produza, por pior que seja, pode chegar ao conhecimento de um grande número de pessoas graças aos recursos midiáticos oferecidos pela rede mundial. Com isso, autores iniciantes podem publicar por conta própria, de vender seus livros sem o auxílio das editoras. Há também na rede, editoras que publicam sobre demanda, ou seja, só imprimem livros por encomenda, sem a exigência de uma tiragem mínima, o que facilita (e muito) a publicação de uma obra. O único problema é o custo disso, que pode inviabilizar a comercialização. Você acha que as pessoas em geral ainda se interessam por poesia? - Eu acredito muito que as pessoas ainda apreciam poesia, e talvez nunca deixem de apreciar. A poesia faz parte da alma. Entretanto, os tempos são outros. Os saraus de poesia já não fazem mais tanto sucesso como antigamente, entretanto no contexto de um filme, por exemplo, um poema pode levar a plateia à loucura. Realizando recitais,

aprendi que, para seduzir um público para a poesia, primeiro é preciso vesti-la com um traje atraente, depois despi-la completamente. Se você combina poesia com teatro, música, recursos audiovisuais, recursos gráficos, fotografia, se você dinamiza a poesia, tenho certeza que seu público não permanecerá inerte. Atualmente, poetas precisam também ter o respaldo técnico de outras áreas. O resultado disso será mais pessoas procurando por livros. Você tem algum poeta de que seja fã ou admirador? - Paulo Leminki, pela sua genialidade, e Helena Kolody, pela sua sensibilidade ímpar. Ambos são referências e são paranaenses, morreu o assunto. Você tem algum livro de poesia a ser lançado em breve? - “Inquietude reticente”, mas nem sei quando ficará pronto. Também vou fazer uma reedição do “Varal sem lei” para tentar deixa-lo com um preço mais baixo, meus leitores merecem. Para conhecer mais sobre o trabalho de Leandro Muniz, acesse o site www.leandromuniz.weebly.com

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A LITERATURA NA ERA DA INTERNET

A REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES FEZ COM QUE MENOS PESSOAS SE INTERESSASSEM POR LEITURA, PORÉM, POSSIBILITOU QUE QUALQUER PESSOA POSSA MOSTRAR SEUS TEXTOS. AFINAL,

A INTERNET É BOA OU RUIM

Até a alguns anos atrás, a única forma de se ler um poema ou qualquer outro tipo de texto literário era praticamente uma só: por meio dos livros. Na verdade, desde que foi criado, o livro sempre foi o melhor

meio de se transmitir mensagens por meio da escrita.

Porém, de uns anos para cá, uma revolução vem mudando isso. Com a invenção do computador, era possível ler textos pelo monitor. Até ai, nada demais. Mas, daí veio uma das maiores invenções da humanidade, a internet.

Uma rede que liga pessoas do mundo todo, fazendo com que qualquer um possa expressar sua opinião ou, até mesmo, publicar seus textos, para que possam ser lidos por quaisquer pessoas.

Sites literários, que abrem espaço para novos autores, proliferaram. Uma nova era teve inicio, e nós estamos bem no meio dela. Mas, será que a literatura é a mesma depois dessas mudanças?

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A internet, queiramos ou não, é uma realidade para a literatura, sobretudo a fértil literatura que vem surgindo da pena (ou seria do teclado?), de jovens escritores, muitos dos quais talentosos e com bom domínio da escrita e que, por razões variadas, não se aventuraram pelo mercado editorial tradicional.

Resistente no começo, o establishment cultural começa a reconhecer o potencial da internet e a levar em conta os trabalhos nela publicados. Recentemente, o prestigiado suplemento literário "Prosa & Verso" do jornal O Globo, começou a dedicar espaço para resenhar livros publicados exclusivamente na Web. Um dos primeiros autores a ser agraciado com essa iniciativa foi Alex Castro, titular do popular blog Liberal – Libertário – Libertino e escritor carioca atualmente residindo nos Estados Unidos, que teve o seu livro de contos Onde perdemos tudo resenhado pelo renomado crítico e escritor Miguel Sanches Neto, na edição de 11 de novembro de 2010.

Alex Castro é, também, autor do romance Mulher de um homem só, que já foi baixado trinta mil vezes, durante os três anos em que esteve disponível gratuitamente na internet. Uma marca, aliás, que

muitos escritores com livros publicados não consegue atingir.

A Internet está, quando bem utilizada, ao serviço das ideias e das letras que as divulgam. É, ou pode ser, um maravilhoso mundo para quem escreve. Ela encurtou o espaço que separa o escritor do público. Conquistou-lhe leitores, permitiu-lhe ser uma voz ativa e interveniente, concedeu-lhe um espaço e ofereceu-lhe gratuitamente divulgação.

Peguemos no caso dos blogs. Os Blogs existem para quem gosta de escrever. Depressa ou vagarosamente… Para quem gosta de escrever, ponto final. Sempre que lhe apetece.

Muitos Blogs vem se destacando, pela facilidade com que

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as pessoas podem publicar seus textos. Em muitos casos, contribuições em Blogs acabam extrapolando a esfera digital. Já é comum vermos Blogs virando livros e meros blogueiros se destacarem como autores No entanto, se as obras finais são vitórias, também as desistências assim devem ser entendidas. Elas são os mecanismos de uma democrática censura que vai excluindo os menos capazes para a tarefa. Dão o tempo de reflexão que permite avaliar se é melhor desistir ou ser persistente. Só os mais aptos resistem. De entre eles, o tempo encarrega-se de fazer a seleção final, só deixando alguns ficarem para a história .

Isto porque o íngreme percurso da escrita é o da procura da voz interior e este é um caminho árduo, solitário, individual, cheio de percalços, fadigas, hesitações e contratempos. Só os mais capazes sobrevivem. Dos fracos não reza a história. Embora também possam fazer parte do processo acabam, inevitavelmente, por desaparecer. Facilmente comprovamos isto ao navegarmos na Web com a constatação da enorme chacina ente as iniciativas literárias (individuais ou coletivas), como vários casos de ideias que foram por

água abaixo A mesma blogosfera que

permite a livre e democrática expressão de ideias sob a forma escrita, vai fazendo vítimas e provocando abandonos à medida que vai crescendo. Umas por opção, outras por desilusão.

Estatisticamente, o tempo médio de vida de um blog reduz-se a um punhado de meses e o tempo em que as atualizações são constantes a outros tantos. O tempo faz grassar a mortandade na blogosfera à medida que a novidade o deixa de ser.

Facilmente se conquistam os quinze minutos de fama a que, segundo Andy Warhol, todos temos direito, o mais difícil será não só prolongá-los como transformá-los num modo de vida: ser escritor e viver da escrita. Ironicamente, para o público só o fim da jornada conta, quando para o escritor é o que está antes dela que lhe dói.

A Internet dá-nos a possibilidade de assistir à evolução e por vezes à ascensão e queda de novos talentos e consolidação de antigos. É uma global mostra de talentos embora, também possa ser o seu cemitério.

A influência da internet na literatura, em seus diversos aspectos, é tão intensa que já é possível

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encontrar, por exemplo, e-books, que são livros em formato digital que pode ser lido em computadores, PDAs e até celulares que oferecem suporte a esse recurso.

Praticamente não há custos para se ter um e-book, como também o mesmo pode ser de fácil acesso devido à internet. Várias escolas fazem proveitos desses livros, já que muitos são disponibilizados para donwload (baixar) em web-sites gratuitos. Por isso, entre outros fatores, a importância da inclusão digital. Mas, não para por aí. Há alguns anos tem surgido uma grande quantidade de novos escritores brasileiros e tendo como característica a internet. Muitos desses autores contemporâneos são velhos conhecidos da rede mundial de computadores.

Web-sites de relacionamentos como Orkut, Twitter, MySpace e blogs estão sendo alvos desses escritores atuais, os quais costumam lançar os seus escritos, para depois publicarem os seus livros. Contudo, o inverso também está ocorrendo, já que muitos publicam os seus livros e só depois resolvem escrever as suas histórias ou divulgar as suas obras na internet.

A internet se tornou um dos meios mais eficazes para divulgações de obras de muitos autores modernos, como também uma forma de diminuir fronteiras entre o leitor e o escritor, um canal de comunicação entre ambos.

Nessa “nova geração de escritores” também se destaca uma preocupação intensa para com os leitores de Blogs, já que muitos não lêem literatura. A grande maioria oferece atenção imediata aos seus leitores, seja comentando sobre os personagens ou batendo um papo. Além disso, muitos cativaram seus primeiros leitores através da Internet.

O que diferencia os dias de hoje dos dias remotos, na esfera literária, é a facilidade de

O que diferencia os dias de hoje dos dias remotos, na esfera interação e conhecimento de novos autores que surgiu através da internet. Porém, devemos saber

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separar o joio do trigo. Pois, não há só trabalhos literários interessantes na rede mundial de computadores, já que esta é uma enorme fonte de informações e por isso tem de tudo, podendo ser um banco de dados das coisas mais inúteis e malfeitas.

Mesmo no meio de tanto “lixo literário virtual”, quem tiver habilidade vai se destacar de uma forma ou de outra. Na verdade, que tem potencial pode ter destaque independente da Internet. Então, o autor que não dispõe desse recurso, não pode deixar de batalhar para publicar o seu livro. No entanto a internet facilitará as descobertas de novos talentos, mesmo que as editoras continuem, e vão continuar, com seu método tradicional de seleção, que é o recebimento de obras pelos correios. Hoje já é possível testemunhar editoras que também recebem obras, para avaliação, por e-mails, como é o caso da Editora Globo, Parentese, Multifoco e etc. Entretanto é importante salientar que a internet não terá só o papel de descobrir novos autores, mas, como já mencionamos, de divulgar, interagir e experiênciar os mesmos com o público.

O que não mudou muito foi a dificuldade de um escritor iniciante

publicar o seu livro, porém com o advento da internet, essa dificuldade está perdendo um pouco mais as suas forças. De certa forma, o mundo virtual é uma ferramenta indispensável para os escritores e os leitores contemporâneos. NOVOS GÊNEROS

Tem surgido, recentemente, uma série de novos gêneros literários, que se adéquam perfeitamente à era digital, e como destaques da poesia, temos o haikai e o poetrix.

O haikai, de origem japonesa, é uma poesia pequena em tamanho, sem título, e que tem como temática principal a natureza.

Já o poetrix é de origem brasileira, e se parece muito com o haikai, mas tem título e não se apega a temas.

A grande vantagem desses poemas é o tamanho, pois podem ser publicados em sites com muita facilidade. Confira na próxima página alguns exemplos.

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HAIKAI

vivo me fingindo de um tímido cogumelo em um jardim florido

POETRIX

Protactínio

metal pesado desconhecido

como um show silencioso

Alguns sites de divulgação literária

RECANTO DAS LETRAS

recantodasletras.uol.com.br

Site dedicado a novos autores, o Recanto das Letras dá

oportunidade escritores em inicio de carreira. A assinatura é

gratuita, mas, se quiser pagar, você recebe um site feito

especialmente para escritores

CLUBE DE AUTORES

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venda, recebendo direitos autorais por cada obra vendida

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EDUCAÇÃOEDUCAÇÃOEDUCAÇÃOEDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA POESIA NA EDUCAÇÃO

PERGUNTE PARA UM GRUPO DE ESTUDANTES QUANTOS GOSTAM DE POESIA, E VOCÊ VERÁ O RETRATO DE UM GRAVE PROBLEMA

EDUCACIONAL

Matemática, química, geografia... essas são algumas das matérias mais odiadas por estudantes. Mas, existem um outro assunto que também encabeça a lista de mais odiados nas salas de

aulas. Ensinada somente como um

gênero da literatura, a poesia nunca foi destaque na escola. Na verdade, somente no 2º grau é que os estudantes vão ter um maior contato com os poemas.

Isso faz com que muitos não saibam sequer interpretar uma poesia. E mais. Muitos a consideram obsoleta e sem razão de existir.

Mas, de quem é a culpa? Dos professores? Do currículo escolar? Na verdade, só apontar culpados não adianta. O que deve ser feito é mostrar o que é a poesia e qual sua importância para o mundo.

Vejamos nas próximas páginas algumas reflexões acerca dessa questão.

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Poesia virou mito em nossas salas de aula. De modo geral, observamos resistências na escola em ler, interpretar, criar e recriar poemas. Poesia nos remete ao passado, coisa de nossos avós que declamavam para as visitas ou recitavam versos nas aulas de língua portuguesa.

A poesia reclama seu espaço e sua vez nesse planeta conturbado. Várias são as iniciativas de professores que recuperaram o prazer da leitura poética, a degustação de palavras combinadas, a viagem na fantasia das imagens, o fôlego da mesmice. Relatos publicados em sites e revistas de educação e os programas de cursos para professores provam que é possível romper o preconceito de que é difícil trabalhar com poesia.

“Poiesis”, palavra grega, significa “produzir, fazer,” criar uma realidade diferente da histórica e factual. A poesia na antigüidade era ritual, entretenimento, enigma, profecia, filosofia, competição. O poeta era concebido como um sábio e a função do poema era social, educar e guiar uma prática. Na Índia e Grécia antigas e no Império Romano, vários documentos, hinos, contratos e provérbios eram escritos em versos,

em parte pela facilidade de memorização.

Há basicamente três tipos de poemas: Lírico - ritmo, musicalidade, brevidade e intensidade. “Eu lírico” é voz central. Ligado à música em sua raiz. Drama - baseado em diálogos, monólogos e conflitos interiores e sociais. Ligado ao teatro. Épico – o narrador apresenta personagens envolvidos em situações de uma história, uma batalha, um evento.

A experiência lingüística começa com o nascimento, quando os primeiros sons e acordes são ouvidos. O som, primariamente, extrapola o significado nas parlendas, canções de ninar, poemas. Em seu cotidiano, a criança vive a poesia através das brincadeiras, da invenção de rimas, dos trava-línguas, músicas, etc. É na atividade criativa com a língua que a criança constrói formas originais de ver o mundo.

As palavras na poesia têm muitos sentidos que variam de época, lugar, posição dela no poema, etc (ex: para Camões a palavra “gentil” é nobre e altiva, hoje ela tem outro significado).

Poesia tem alto poder de síntese, fala nas entrelinhas.

A poesia em Língua Portuguesa começa no fim do século

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XII, de cunho confessional, lírica chamada cantiga de amigo, de amor e de escárnio (as poesias eram cantadas). Os poetas usavam muito o recurso do exagero, da fatalidade (hipérbole) para responder a questão existencial: “Quem sou eu?”.

Até o fim do século XVIII (Classicismo) a poesia continua sendo expressa “segundo a crença corrente de que o homem, em geral, é um ser superior, senhor absoluto da natureza, da ciência e da arte....São justamente essas as características básicas do Classicismo, que prega o controle das emoções pela razão” (Carlos Felipe Moisés in “Poesia não é difícil” Editora Artes e Ofícios, 1996).

Depois vem a revolução Romântica, século XIX, quando as emoções podem ser extravasadas de todas as formas: “o desespero, a aflição, a instabilidade, a sensação se desamparo absoluto, que leva a maioria dos seus poetas a afirmar que preferem a morte”. (idem). O autoconhecimento é emocional, pessoal.

Na poesia Moderna, não se tem certeza de nada. O autoconhecimento é uma espécie de aventura, um mergulho no desconhecido. O homem moderno de

todas as coisas. tem consciência aguda do relativismo de todas as coisas.

Os traços de vida cotidiana que caracterizam a escola modernista têm origem em poucos poetas nas cantigas medievais de escárnio ou maldizer (Gregório de Matos-1633-1696 e Bocage-1765 -1805) ao lado de cantigas de amor e de amigo. Nos séculos XVII e XVIII, o sensualismo e erotismo só aparecem nos gêneros considerados “menores” (sátira, burlesco) e o bom gosto do salão exigia poesia lírica com pudor e idealização. “No Romantismo tem início a liberação... atenuam o rigor das restrições morais e literárias dando vazão ao sensualismo...” (Idem).

No século XX que assiste ao desenvolvimento urbano e industrial, a poesia moderna fixa atenção “na paisagem formada pelos objetos familiares e pela vida cotidiana” (idem).

A “arte pela arte” predomina no Romantismo, arte como um fim em si. (parnasianos e simbolistas). No início do século XX ressurge a “arte útil” graças a J.Paul Sartre (1905-1980), arte engajada. Troca-se o ingênuo romântico pela inocência vista como uma volta à pureza da

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infância (Charles Baudelaire- 1821-1867). Para esse escritor “a poesia é a infância reencontrada”.

Poesia entra no mundo infantil como jogo. É jogo verbal em uma construção sutil de frases que permite a exploração de múltiplos significados, de recriação sonora e semântica, de adivinhações, de deslocamentos de pensamento e ação, etc. Esses jogos tornam-se mais complexos e as regras sendo introduzidas para garantir resultados mais elaborados. O aluno entra em contato com os recursos estilísticos da poesia para reconhecer, interpretar e criar.

Como diz José Paulo Paes em “Poesia para crianças - Um depoimento” Editora Giordano,1996 ”... a poesia tende a chamar a atenção da criança para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ela fala todos os dias sem se dar conta delas”. Ou então, Jerome Rothemberg: “a poesia imita o pensamento ou ação. Ela propõe seu próprio deslocamento. Permite a vulnerabilidade e o conflito....aberta à mudança, a uma troca de idéias. O que é linguagem. O que é realidade. O que é experiência...”

Na prática, porém, ouvimos com freqüência as seguintes

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questões: como despertar o prazer pela leitura de poesia? Como ensinar poesia? Como fazer os alunos lerem e escreverem poesia?

Segundo Ligia M. Averbuck in “Leitura em crise na escola” org. Regina Zilberman Editora Mercado Aberto, 1984 ”mais do que “ensinar poesia”, caberia antes, discutir o termo “ensinar”. O caminho seria o de criar uma “impregnação” ou de uma “sensibilização”, “aproximação”, ou “leitura”, do que propriamente de “ensino” “. “Na criança, tanto o desenvolvimento da personalidade e da sensibilidade quanto a expansão do real pela poesia, e pela arte em geral, se dão por meio do fluxo da fantasia, por sua percepção particular do mundo.”

Enquanto no adulto o que supre a suplência da percepção é o conhecimento prévio, na criança o que substitui a imperfeição do conhecimento é a imaginação.

Abrir um livro de poemas e começar a ler com freqüência para o colega na sala dos professores, para o(a) filho(a), sobrinho(a), namorado(a), marido, mãe, etc, pode ser uma forma prazerosa de preparar o trabalho com a poesia em sala de aula.

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HISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIA

O BERÇO DA POESIA

VAMOS VIAJAR AO PASSADO, EM BUSCA DA ORIGEM DO MAIS SUBLIME GÊNERO LITERÁRIO

A poesia como uma forma de arte pode ser anterior à escrita. Muitas obras antigas, desde os vedas indianos (1700-1200 a.C.) e os Gathas de Zoroastro (1200-900 aC),

aC), até a Odisseia (800-675 a.C.), parecem ter sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas. A poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monolitos, pedras rúnicas e estelas.

O poema épico mais antigo sobrevivente é a Epopeia de Gilgamesh, originado no terceiro milênio a.C. na Suméria (na Mesopotâmia, atual Iraque), que foi escrito em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, papiro. Outras antigas poesias épicas incluem os épicos gregos Ilíada. e Odisseia, os livros iranianos antigos Gathas Avesta e Yasna, o épico nacional romano Eneida, de Virgílio, e os épicos indianos Ramayana e Mahabharata.

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HISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIA

Os esforços dos pensadores antigos em determinar o que faz a poesia uma forma distinta, e o que distingue a poesia boa da má, resultou na "poética", o estudo da estética da poesia. Algumas sociedades antigas, como a chinesa através do Shi Jing , um dos Cinco Clássicos do confucionismo, desenvolveu cânones de obras poéticas que tinham ritual bem como importância estética. Mais recentemente, estudiosos têm se esforçado para encontrar uma definição que possa abranger diferenças formais tão grandes como aquelas entre The Canterbury Tales de Geoffrey Chaucer e Oku no Hosomichi de Matsuo Basho, bem como as diferenças no contexto que abrangem a poesia religiosa Tanakh, poesia romântica e rap.

O contexto pode ser essencial para a poética e para o desenvolvimento do gênero e da forma poética. Poesias que registram os eventos históricos em termos épicos, como Gilgamesh ou o Shahnameh, de Ferdusi, serão necessariamente longas e narrativas, enquanto a poesia usada para propósitos litúrgicos (hinos, salmos, suras e hadiths) é suscetível de ter um tom de inspiração, enquanto que elegia e tragédia são destinadas a

suscetível de ter um tom de inspiração, enquanto que elegia e tragédia são destinadas a evocar respostas emocionais profundas. Outros contextos incluem cantos gregorianos, o discurso formal ou diplomático, retórica e invectiva políticas, cantigas de roda alegres e versos fantásticos, e até mesmo textos médicos.

O historiador polonês de estética Władysław Tatarkiewicz, em um trabalho acadêmico sobre "O Conceito de Poesia", traça a evolução do que são na verdade dois conceitos de poesia. Tatarkiewicz assinala que o termo é aplicado a duas coisas distintas que, como o poeta Paul Valéry observou, "em um certo ponto encontram união. [...] A poesia é uma arte baseada na linguagem. Mas a poesia também tem um significado mais geral [...] que é difícil de definir, porque é menos determinado: a poesia expressa um certo estado da mente.

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HISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIAHISTÓRIA DA POESIA

A POESIA E A MITOLOGIA A narração mítica

desempenhou um papel importante em quase todos os gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da Grécia Antiga foi a famosa Biblioteca Mitológica, do escritor denominado Pseudo-Apolodoro, que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um resumo da mitologia grega e suas lendas históricas. O verdadeiro Apolodoro viveu entre c. 180-120 a.C., escreveu sobre muitos destes temas e seus escritos podem ter formado a base para a coleção dessa obra, porém a Biblioteca aborda eventos que ocorreram muito tempo após sua morte, daí o nome Pseudo-Apolodoro.

Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois poemas épicos de Homero–Ilíada e Odisséia. Completando esse ciclo épico, temos escritas de poetas cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua denominação tradicional, os Hinos homéricos, hinos em coral da primeira fase da então-denominada poesia lírica, não possuem relação alguma com Homero.

Hesíodo, possível contemporâneo de Homero, produziu Teogonia, o documento mais recente sobre mitos gregos, que elabora uma genealogia dos deuses e explica a origem dos Titãs e dos Gigantes. Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo, é um poema didático sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de Pandora e da Era dos Homens. O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso tornado ainda mais arriscado por esses deuses. Os Trabalhos e os Dias também apresenta o mito de Prometeu, que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de tragédias, possivelmente

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apresenta o mito de Prometeu, que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de tragédias, possivelmente iniciada por Ésquilo, que são: Prometeu Acorrentado, Prometeu Desacorrentado e Prometeu, o Condutor do Fogo.

Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse tratamento ficou cada vez menor, enquanto que sua alusões à narrativa cresceu. Os poetas líricos gregos, como Píndaro e Simónides de Ceos, e os poetas bucólicos, incluindo Teócrito, forneceram incidentes mitológicos individuais. Além disso, o mito foi tema central no drama Ateniense: os dramaturgos trágicos Eurípides, Sófocles e Ésquilo produziram seus enredos envolvendo a Era dos Heróis e a Guerra de Tróia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamemnon e seus filhos, Édipo, Jasão e Medéia, etc.) trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas.

A poesia das eras Helenística e Romana, que embora tenha sido composta mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes importantes que de outra forma seriam perdidos.

Essa categoria inclui: 1. Os poetas romanos Ovídio, Sêneca e Virgílio. 2. Os poetas gregos da Antiguidade tardia: Antonino Liberal e Quinto de Esmirna. 3. Os poetas gregos do Período Helenístico: Apolónio de Rodes, Calímaco, Eratóstenes e Partênio. 4. Antigos romances de gregos e romanos, como Apuleio, Petrônio e Heliodoro.

ILIADA (TRECHO)

Homero

De pó suja a cabeça e o rosto afeia,

Denigre em cinza a túnica olorosa;

Carpindo e lacerando as gentis faces,

Por grande espaço o grande corpo estira.

As que ele cativara e o seu Patroclo,

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GRANDES POETASGRANDES POETASGRANDES POETASGRANDES POETAS

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de

Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se

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GRANDES POETASGRANDES POETASGRANDES POETASGRANDES POETAS

aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.

O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945),

Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco,

ESTÁTUA EM HOMENAAGEM A DRUMMOND

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tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

Você sabia?

Em 1967, o tradutor de Drummond para o sueco pediu

todas as suas traduções disponíveis. Ele não quis colaborar. O pedido havia partido do comitê do Nobel de Literatura, mas não agradou ao mineiro. Ele dizia, em suas crônicas no Jornal do Brasil, que o merecedor era o amigo Jorge Amado.

NO MEIO DO CAMINHO

Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma

pedra tinha uma pedra no meio do

caminho tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse

acontecimento na vida de minhas retinas tão

fatigadas. Nunca me esquecerei que no

meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra

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DESTAQUES POESIA TRÁGICA, DE ELIEZER SOARES DE SOUZA PALAVRAS VAZIAS, DE EDER FERREIRA

ESTANTESTANTESTANTESTANTEEEE

Trata-se de um livro arrebatador e filosófico. O poeta e pensador Eliezer Soares de Souza, nascido na cidade de Ibitinga-SP no ano de 1959, escreve poesia desde muito criança, no entanto, seus versos são conhecidos por uma rara seletiva de admiradores, visto ser o autor avesso aos encantos do mundo literário. Eliezer é um desses autores preocupados com o bem-estar humano e com a cultura em todos os seus segmentos. Sua poesia fala da vida, do espírito e da alma, são poemas carregados de ensinamentos filosóficos. Imperdível esta obra poética de Eliezer, que é toda trágica, mas nem por isso monótona...

Primeiro livro de poesias do escritor e poeta Eder Ferreira (que também é o editor da Revista Drummond), Palavras Vazias é uma coletânea de poemas escritos ao longo de 3 anos. Com temáticas fortes e metafísicas, o livro é um verdadeiro passeio pelas várias formas que a poesia pode ter. Inicialmente, o livro é formado por poesias de estilos variados, alguns rimados, outros não. Seguem-se alguns haikais, algumas prosas poéticas e uma sequencia de 15 sonetos. Para terminar, um anexo sobre o nano-soneto, uma criação estilística do autor. Vale a pena conferir essa obra ousada e cheia de lirismo.

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NOVOS TALENTOS VARAL SEM LEI, DE LEANDRO MUNIZ AO PRIMEIRO INSTANTE DE BELEZA, DE ROGÉRIO GERMANI

ESTANTEESTANTEESTANTEESTANTE

Natural da cidade de Tomazina, Paraná (terra do renomado escritor Newton Sampaio, que empresta seu nome para um dos melhores concursos de contos de Brasil), o autor nos brinda com esse livro inovador, que nos apresenta uma poesia dinâmica, que acompanha as atuais mudanças do mundo globalizado. Seus poemas não se limitam apenas às palavras, mas também exploram imagens e formas. Muniz, que já publicou um romance policial, chamado SRNGR – Consoantes Assassinas, mergulha fundo na poesia contemporânea, nos fazendo sentir e ver a poesia em toda sua essência.

Livro aprovado e publicado pelo Conselho de Editoração da Secretaria de Estado da Cultura Curitiba-Paraná em 2005, a obra recupera a metáfora como guia mestra da poesia. Suas figuras de linguagem tornam a leitura espontânea. Esta é a impressão que os poemas de Germani passam: um instante, primeiro e único, de beleza poética. A riqueza de imagens embeleza os poemas do livro, nos estimulando a leitura, desde o poema Praxe, que abre o livro, até 7° Selo. Uma obra imperdível, de um jovem talento paranaense, que vem se destacando não só em seus livros como também pelas redes sociais.

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MAIS VENDIDOS FEL, DE CARLA CINTIA CONTEIRO EXPLOSÃO POÉTICA, DE MARIA ELENA DE SOUSA LEITÃO

ESTANTEESTANTEESTANTEESTANTE

Livro mais vendido do site Clube de Autores, Fel, da autora carioca Carla Cintia Conteiro, nos traz poesias cheias de lirismo e reflexões sobre os sentimentos que nos cercam e nos fazem sermos humanos. Nas palavras da própria autora, “O fel do espírito precisa ser destilado. Transformar a amargura atocaiada a cada esquina da vida em letra. Escrever sobre as vicissitudes traz compreensão ou, ao menos, alívio. Rabiscar sobre as alegrias, registrar os aprendizados torna tudo ainda mais real. Inventar uma realidade paralela. Se é para amargar, que seja apenas sofrer as consequências da felicidade.”

As poesias contidas neste livro foram criadas atendendo solicitações de interessados que, de forma graciosa, prestaram homenagens a amigos e parentes, demonstraram agradecimentos e ilustraram trabalhos monográficos. Numa Explosão Poética a autora criou e destacou, também, alguns poemas que refletem momentos marcantes de sua vida pessoal e profissional. Que o conteúdo desta obra possa ser utilizado em saraus e atividades escolares, em eventos culturais e artísticos e em benefício da coletividade é um dos objetivos da Professora, Mestra em Educação e Escritora, Maria Elena de Sousa Leitão.

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OBRA-PRIMA PARAÍSO PERDIDO, DE JOHN MILTON

ESTANTEESTANTEESTANTEESTANTE

Paraíso Perdido é uma obra poética do século XVII, de John Milton, publicada em 1667, em dez cantos. Uma segunda edição foi publicada em 1674 em doze cantos, em memória à Eneida de Virgílio com revisões menores ao longo do texto e notas sobre os versos. O poema descreve a história cristã da "queda do homem", através da tentação de Adão e Eva por Satanás e a sua expulsão do Jardim do Éden. Esta epopéia inspira-se no Gênesis, demonstrando preocupação de ordem puritana. Satanás, sabendo que uma nova raça irá ocupar o lugar dos anjos rebelados, resolve agir. Deus prevê a perdição do homem e sua possível redenção, caso alguém se sacrifique por ele. O Filho oferece-se em holocausto, e o homem, mesmo antes da queda, já se acha redimido. Deus ordena ao arcanjo Rafael que previna os pais da humanidade sobre os projetos diabólicos. O arcanjo relata-lhes a rebelião dos anjos e a sua conseqüente precipitação no inferno. Mas Eva deixa-se seduzir, e induz também Adão ao pecado. Adão sofre as consequências da falta irremediável e tem uma visão na qual contempla tudo que acontecerá em tempos futuros até o nascimento de Cristo. Com a morte física Deste, o homem salvar-se-á. Em seu poema, Milton estilizou o verso branco com admirável perícia e amplo domínio de técnica.

Canto I (trecho)

Do homem primeiro canta, empírea Musa,

A rebeldia — e o fruto, que, vedado,

Com seu mortal sabor nos trouxe ao Mundo

A morte e todo o mal na perda do Éden,

Até que Homem maior pôde remir-nos

E a dita celestial dar-nos de novo.

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AS POMBAS

Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas

De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais...

VIA LÁTEA XIII

Olavo Bilac

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto,

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Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas".

ISMÁLIA

Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,

Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu,

Queria descer ao mar...

E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu, Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu

As asas para voar... Queria a lua do céu,

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Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par...

Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...

AO LEITOR

Charles Baudelaire

(tradução de Ivan Junqueira)

A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez, Habitam nosso espírito e o corpo viciam, E adoráveis remorsos sempre nos saciam Como o mendigo exibe a sua sordidez.

Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça; Impomos alto preço à infâmia confessada,

E alegres retornamos à lodosa estrada, Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.

Na almofada do mal é Satã Trismegisto

Quem docemente o nosso espírito consola, E o metal puro da vontade então se evola

Por obra deste sábio que age sem ser visto.

É o Diabo que nos move e até nos manuseia! Em tudo o que repugna uma jóia encontramos,

Dia após dia, para o Inferno caminhamos, Sem medo algum dentro da treva que nauseia.

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Assim como um voraz devasso beija e suga O seio murcho que lhe oferta uma vadia,

Furtamos ao acaso uma carícia esguia Para expremê-la qual laranja que se enruga.

Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,

Em nosso crânio um povo de demônios cresce, E ao respirarmos aos pulmões a morte desce,

Rio invisível, com lamentos indistintos.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada Não bordaram ainda com desenhos finos A trama vã de nossos míseros destinos,

É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.

Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais, Aos símios, escorpiões, abutres e panteras, Aos monstros ululantes e às viscosas feras,

No lodaçal de nossos vícios imortais

Um há mais feio, mais iníquo, mais imundo Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,

Da Terra por prazer faria um só detrito E num bocejo imenso engoliria o mundo;

É o Tédio! – O olhar esquivo à mínima emoção Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.

Tu conheces leitor, o monstro delicado, — Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!”

CLÁSSICOSCLÁSSICOSCLÁSSICOSCLÁSSICOS

A sessão Clássicos está aberta para sugestões. Se tem algum poema que você gosta muito ou algum poeta

que você admira, compartilhe com a gente. Mande sua sugestão para [email protected].

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POR DENTRO DA POESIAPOR DENTRO DA POESIAPOR DENTRO DA POESIAPOR DENTRO DA POESIA

VERSOS ÍNTIMOS AUGUSTO DOS ANJOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

Ignorado pelos poetas da época, em especial os parnasianos, Augusto dos Anjos (1884-1914) é o único poeta a fazer parte do período conhecido como pré-modernismo. Uma das principais características de seus poemas era o uso de termos pouco usados pelos poetas, como as

descobertas cientificas e temas como vermes, podridão e dilemas metafísicos. Não é a toa que ele foi chamado de “poeta do necrotério”. Na próxima página, você conhecerá um pouco sobre o poema “Versos íntimos”, um dos mais famosos do autor.

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POR DENTRO DA POESIAPOR DENTRO DA POESIAPOR DENTRO DA POESIAPOR DENTRO DA POESIA

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

Versos íntimos segue a forma adotada pelos parnasianos e

simbolistas. Trata-se de um

soneto decassílabo em ABBA/ABBA

/CCD/CCD. As metáforas quimera,

pantera, fera e lama, estão

ligadas a um ambiente

naturalista, dada a opção de

vocabulário do autor

Há, no poema, uma clara referência à teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin

O poeta faz uso de uma linguagem que escapa do ambiente formal e invade um campo de exceções ao ambiente lírico.

Os versos finais, em tom

mais agressivo que

o normal, antecipam o

que se lerá no modernismo

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POETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDO

TEMPO ESGOTADO

Eder Ferreira

O tempo não para, só passa devagar Arrastando-se perene, pela eternidade

Ocultando a mentira, enganando a verdade Na montaria temporal, sempre a galopar

Tão solene, só, em recato, desolado

Um relógio quebrado, tênue, perpétuo Desfragmentado no silêncio, quieto

Seu advento já foi cronometrado

Os ponteiros, inertes, logo paralisam Segundos, minutos, horas, enfim

As cicatrizes óbvias não cauterizam

Ser atemporal, desses tempos devassos Já sinto pulsar aqui dentro de mim

Como o relógio, meu coração em pedaços

ARQUIVO MORTO

Eder Ferreira

Olhei para meus escritos, já empoeirados, e vi rastros de inquietude e impaciência.

Pude observar meus sentimentos obsoletos e minhas manias exacerbadas.

Olhei bem fundo, dentro de minhas idéias, e não hesitei em fitar as lamúrias

.

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POETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDO

que regurgitei a cada letra desenhada Não consegui fechar os olhos

para as inverdades mal arranjadas sobre a mesa apodrecida. Tapei sim meus ouvidos,

para não ouvir os gritos e berros dos loucos que faziam de tudo

para atrapalhar minha concentração. Me coloquei como o mais fiel dos leitores, a frente de minhas palavras reorganizadas,

afim de sentir a podridão exalada por minhas desmedidas sinopses

e ideologias bem calcadas. Olhei para mim mesmo,

e vi minha literatura se desmanchando em formas avulsas e ignotas.

Vi meu passado, presente e futuro. Me vi descrito em letras sobrepostas.

Me vi sozinho, escrevendo bobagens poéticas

e ensaios sobre a ignorância humana. Só não vi minh'alma. Essa está guardada

em alguma pasta amarelada, dentro de um velho arquivo enferrujado,

no escuro porão de minhas lembranças perdidas.

POEIRA UNIVERSAL

Eder Ferreira

rodei pelo mundo

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POETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDO

imundo sujeira em prosa

e verso

só uma letra no universo

rodei a roda

do destino não selado

só acatado pela fé humana

rodei a baiana

para, no fundo, só ver que o mundo

não é sujo

é cheio

SUICÍDIO

Maneco Terra

O corpo cai suave como uma pluma, ao fundo, ecoa só a doce canção dos ventos.

Cai gélido, mas o desgosto é quente, quente como brasa,

mas não abrasa o desgosto. A viagem é curta,

lembranças de um passado já quase esquecido.

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POETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDO

E, por fim, só um barulho, e tudo se acaba.

Agora, só a paz do esquecimento.

VARAL SEM LEI

Leandro Muniz

meu manuscrito é sem lei um varal onde

mandamentos e palavrões compartilham a mesma

verdade dos borrões porque errar é inteligente porque o erro é ingrediente da perfeição

meu manuscrito é

sem lei um varal onde realidade e fantasia

compartilham a mesma mentira da poesia

porque mentir é necessário

porque a mentira é o salário

de quem persegue a verdade

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POETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDOPOETIZANDO

SUPER SUPERSTIÇÕES

Leandro Muniz

a Barbie é bonita manga com leite faz mal

nós é plural de eu a Globo é o melhor canal existem apenas dois sexos o amor nasce no coração Papai Noel ama os pobres

o homem ainda chega à perfeição Brasil se escreve com ‘s’

no final dá tudo certo bicha não joga bola

é bom ter polícia por perto espelho atrai raio

beleza não põe mesa fama requer talento

etiqueta combina com franqueza New York é a capital dos Estados Unidos

político cumpre promessa a guerra é inevitável

o tempo passa depressa Cabral descobriu o Brasil

fita vermelha afasta mal-olhado felicidade não é utopia

Deus pode ser manipulado

A Sessão Poetizando é um espaço aberto para que qualquer pessoa publique suas poesias. Se você

escreve, e deseja divulgar seu trabalho, mande suas poesias para o e-mail [email protected].

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UM POUCO DE PROSAUM POUCO DE PROSAUM POUCO DE PROSAUM POUCO DE PROSA

MÁQUINA DO TEMPO Eder Ferreira

Não faz muito tempo, li em uma estimada revista de divulgação científica, do qual sou fã, um artigo que ativou minha memória e me fez viajar por alguns instantes pelas vias quase esquecidas de minhas lembranças, num momento que mais pareceu uma paródia pseudo-científica da famosa cena da Madeleine mergulhada no chá, de Proust. O tal artigo dizia que alguns cientistas realizariam um experimento no maior acelerador de partículas já construído, a fim de se estudar os efeitos da violenta trombada entre dois átomos. Mas, dentro desse tal acelerador, diziam os doutores da ciência, poderia ocorrer algo fantástico. Uma nano-micro-minúscula brecha no espaço-tempo. Qual a importância disso? Nenhuma. Pelo menos por enquanto. No futuro, porém, poderiam desenvolver um método para realizarmos as tão sonhadas viagens no tempo. Depois dessa aula de física quântica e subatômica, vamos voltar para meus devaneios mnemônicos. Lembrei-me, ao ler a notícia, dos tempos em que meus hormônios borbulhavam, minha cara corava de vergonha quando uma moça me fitava e minha cabeça estava cheia de caraminholas científicas. Dentre as varias certezas que eu tinha na época, muitas se perderam. Eu acreditava, por exemplo, que paranormalidade existia. Só hoje consigo enxergar a verdade: meros atores gritando “Rá!”, além de outras interjeições inúteis. Já as viagens no tempo, isso sim, não saiam e,de certa forma, ainda não saem da minha cabeça. Me recordo de um filme, em que um jovem e um cientista malucão viajavam entre o passado e o futuro. O interessante, é que eu não me imaginava o jovem bonito e simpático, com uma bela namorada a tiracolo, mas sim o cientista, de olhos esbugalhados e cabelo “a lá Einstein”. Bons tempos aqueles. Hoje, raramente penso em deslocamentos temporais e filmes de ficção científica. Apenas quando leio algo relativo ao assunto, volto a puxar pela memória e reorganizar meu passado em imagens e flashes. Minha cabeça é um turbilhão, assim como o tal acelerador de partículas. Violentas trombadas ocorrem o tempo todo. Porém, não são átomos a colidirem, mas sim pensamentos e emoções. Cada vez que minha razão choca-se com minha sensibilidade, surgem verdadeiros Big Bangs. E, assim como o universo um dia convergira em um evento chamado Big Crunch, esporádica e casualmente, resumo essas explosões em simples aglomerados de palavras e idéias.

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