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APRENDER A COLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM SUPORTE COMPUTACIONAL Maria Auricélia da Silva Jaiane Ramos Barbosa José Aires de Castro Filho Introdução Na atualidade, o trabalho colaborativo pode ser consi- derado prática frequente nos diversos segmentos sociais. A escola pode promover ensino e aprendizagem nessa perspec- tiva, mediante a participação e a colaboração de educadores e educandos, visto que a instituição escolar é, por excelência, o ambiente adequado à vivência de experiências promotoras de paz, diálogo e colaboração. Numa sociedade em que valores como respeito ao ou- tro, diálogo, tolerância e solidariedade são cada vez mais dis- cutidos e buscados, faz-se necessário- vivenciar práticas co- laborativas, a fim de que professores e alunos construam o conhecimento através de interações produtivas, ajuda mútua, negociação de ideias, aspectos que favorecem as aprendiza- gens individual e coletiva. Trata-se não só de aprender a colaborar, mas também de colaborar para aprender. Nesse processo, o trabalho cola- borativo impulsiona a vivência de práticas pedagógicas capa- zes de potencializar a aprendizagem colaborativa, mediante a apreensão dos conteúdos curriculares e a internalização de valores e atitudes fundamentais à convivência social e à cons- trução de uma cultura de paz na escola. A partir dessas concepções, este trabalho discute a im- portância das interações colaborativas no processo ensino- -aprendizagem. Discorre, também, sobre o surgimento, o

APRENDER ACOLABORAR, COLABORAR PARA ......APRENDER ACOLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRATICAS PEDAGÓGICAS ~ COM SUPORTE COMPUTACIONAL"""") 431 síveissoluções que podem surgir

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  • APRENDER A COLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRÁTICASPEDAGÓGICAS COM SUPORTE COMPUTACIONAL

    Maria Auricélia da SilvaJaiane Ramos Barbosa

    José Aires de Castro Filho

    Introdução

    Na atualidade, o trabalho colaborativo pode ser consi-derado prática frequente nos diversos segmentos sociais. Aescola pode promover ensino e aprendizagem nessa perspec-tiva, mediante a participação e a colaboração de educadores eeducandos, visto que a instituição escolar é, por excelência, oambiente adequado à vivência de experiências promotoras depaz, diálogo e colaboração.

    Numa sociedade em que valores como respeito ao ou-tro, diálogo, tolerância e solidariedade são cada vez mais dis-cutidos e buscados, faz-se necessário- vivenciar práticas co-laborativas, a fim de que professores e alunos construam oconhecimento através de interações produtivas, ajuda mútua,negociação de ideias, aspectos que favorecem as aprendiza-gens individual e coletiva.

    Trata-se não só de aprender a colaborar, mas tambémde colaborar para aprender. Nesse processo, o trabalho cola-borativo impulsiona a vivência de práticas pedagógicas capa-zes de potencializar a aprendizagem colaborativa, mediantea apreensão dos conteúdos curriculares e a internalização devalores e atitudes fundamentais à convivência social e à cons-trução de uma cultura de paz na escola.

    A partir dessas concepções, este trabalho discute a im-portância das interações colaborativas no processo ensino--aprendizagem. Discorre, também, sobre o surgimento, o

  • conceito e os fundamentos da aprendizagem colaborativa ecomo essa perspectiva pode ser desenvolvida com suportecomputacional.

    O trabalho aqui apresentado foi desenvolvido numaescola cearense integrante do Projeto Um Computador porAluno (UCA),em que professores e alunos desenvolveram umprojeto colaborativo com o apoio do laptop, da Internet, doSistema Online para Criação de Projetos e Comunidades (SÓ-CRATES)e de ferramentas colaborativas do Google Driue.

    A realização dessa experiência demonstrou que é possí-vel utilizar o laptop e seus aplicativos, bem como recursos di-gitais online para promover ensino e aprendizagem de alunose professores na perspectiva colaborativa e, por conseguinte,agregar os atores do processo ensino-aprendizagem e produ-zir relações grupais, solidárias e pacíficas no ambiente escolar.

    Aprendizagem Colaborativa com Suporte Computacional (CSCL)

    Desde o século XVIII, a aprendizagem colaborativa temsido estudada por teóricos, pesquisadores e educadores de di-versas áreas, a fim de preparar seus alunos para os desafiossociais, que se apresentam fora da escola, em empresas e re-partições. Torres, Alcântara e Irala (2004) informam que osdiversos segmentos sociais adotam o trabalho em grupo como intuito de desenvolver habilidades e produzir coletivamen-te, em colaboração com outros.

    Stahl, Koschman e Suthers (2006) informam que o estu-do da aprendizagem em grupos teve início antes dos anos 1960.

    O movimento da Escola Nova, no começo do séculoXX, embasado por teorias de educadores como JohnDewey, Maria Montessori e Jean Piaget, foi uma grandeinfluência para a Aprendizagem Colaborativa (TORRES;ALCÂNTARA; IRALA, 2004, p.8).

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  • As teorias propostas por Piaget e Vygotsky suscitaramnovas reflexões sobre a importância da interação nos proces-sos de aprendizagem, na década de 1950. A despeito da rea-lização de estudos e pesquisas nas décadas de 1960 e 1970, aaprendizagem colaborativa só ganhou popularidade na déca-da de 1990 (TORRES; ALCÂNTARA; IRALA, 2004).

    A definição mais ampla de aprendizagem colaborativaé uma situação em que duas ou mais pessoas aprendem outentam aprender alguma coisa juntas. Contudo, esse conceitoainda se torna vago, em razão das seguintes considerações:duas ou mais pessoas pode ser interpretado como uma dupla,um trio, um pequeno grupo, uma comunidade; aprender algopode significar várias maneiras de estudar, isto é, através deum curso, pelo uso de determinado material de estudo, a par-tir da resolução de problemas, com as práticas cotidianas; aaprendizagem pode ocorrer face a face ou mediada pelo com-putador, síncrona ou assincronamente, de acordo com a fre-quência de tempo utilizada e com a distribuição dos esforçosna realização do trabalho (DILLENBOURG, 1999).

    Na verdade, o termo aprendizagem colaborativa encer-ra a ideia de que a construção do conhecimento requer ne-gociação entre os integrantes de uma comunidade, que bus-ca aprender com o diálogo, o trabalho coletivo e o consenso(TORRES; ALCÂNTARA; IRALA, 2004). É, portanto, umamaneira de ensinar e aprender que concorre para que a apren-dizagem seja um processo ativo, dinâmico e interessante.

    Na realização de um trabalho colaborativo, cada inte-grante do grupo é responsável por sua aprendizagem e pelados colegas, mediante a formação de uma rede de interaçõesem torno de um objetivo comum. Panitz (2006) lembra que aaprendizagem colaborativa sugere um modo singular de lidarcom as habilidades e contribuições dos membros de um gru-

    APRENDER A COLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ~COM SUPORTE COMPUTACIONAL =:J 429

  • po, em que há compartilhamento da autoridade, aceitação deresponsabilidades, desenvolvimento de papéis e construçãode consenso. Situações de aprendizagem colaborativa geramexpectativas de que diversas formas de interação aconteçam edesencadeiem diversas possibilidades de aprendizagem.

    O fato de todos os integrantes de determinado grupoterem a possibilidade de propor ideias e soluções para de-terminada situação, compartilhar informações e serem coau-tores em todo o processo de criação faz com que alunos eprofessores tornem-se corresponsáveis pela aprendizagemum do outro e aumente a responsabilidade com o ensino--aprendizagem.

    Quando esses processos de conhecimento e aprendi-zagem são oportunizados pelo uso do computador, usa-se anomenclatura Aprendizagem Colaborativa com Suporte Com-putacional (CSCL). Stahl, Koschman e Suthers (2006, p.i) as-severam que "a CSCL é um ramo emergente das ciências daaprendizagem que estuda como as pessoas podem aprenderem grupo com o auxílio do computador".

    A CSCLé considerada uma área de estudo relativamen-te nova, que evoluiu rapidamente em razão da sua interligaçãocom outras ciências da aprendizagem. Em 1983, ocorreu umworkshop em San Diego, que abordou o tema AprendizagemColaborativa com Suporte Computacional, mas somente em1989 a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)organizou um evento na Itália. Esse evento seria a primeirapassagem pública e internacional no qual o termo "aprendi-zagem colaborativa com suporte computacional" seria utiliza-do. Contudo, a primeira conferência propriamente dita sobreCSCLocorreu somente em 1995. Desde então, eventos na áreacomeçaram a ser realizados pelo menos a cada dois anos, emâmbito nacional e internacional.

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  • A ascensão da CSCL revela a rejeição a softwares queestimulavam a aprendizagem individualista por volta dosanos 1990. Antes disso, contudo, alguns eventos já levanta-vam questionamentos sobre a CSCL.

    A partir do interesse pelo estudo dessa área, desenvol-veu-se uma comunidade de pesquisa voltada para o estudodessa temática, denominada CSCL. Stahl, Koschman e Su-thers (2006) esclarecem que as pesquisas sobre CSCL pas-saram a investigar como os computadores poderiam reunirpessoas para aprender de forma colaborativa em grupos e co-munidades de aprendizagem. Esse esforço coletivo constituiformas de aprender colaborativamente, compartilhando o co-nhecimento, com o suporte do computador.

    Nessa perspectiva, foi desenvolvido o projeto que seráabordado a seguir, utilizando o laptop na situação um-para--um para a produção coletiva do conhecimento. Serão descri-tos os procedimentos metodológicos, o projeto realizado e osresultados alcançados, com ênfase no olhar dos professores edos alunos sobre a experiência vivenciada.

    Procedimentos Metodológicos

    Neste trabalho, foi utilizada a pesquisa participante,já que os pesquisadores são integrantes da equipe de forma-ção do Projeto Um Computador por Aluno (UCA) e poderiammesclar a formação dos professores com o acompanhamen-to das atividades na escola. Desse modo, o trabalho realizadoalinha-se com o pensamento de Demo (2008, p.111),quandoafirma que a pesquisa participante "pode ser vista como parti-cipação baseada na pesquisa".

    Auxiliar determinado grupo a refletir, identificar seucontexto, analisar criticamente a realidade e buscar as pos-

    APRENDER A COLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRATICAS PEDAGÓGICAS ~COM SUPORTE COMPUTACIONAL"""") 431

  • síveis soluções que podem surgir do apoio prestado por espe-cialistas para apoiar o grupo no encaminhamento das açõessão funções da pesquisa participante. Desse modo, não existeum modelo único de pesquisa participante, mas a adaptaçãodo processo às condições efetivas do grupo em questão (BO-TERF, 1984).

    Em razão de tais prerrogativas, essa modalidade depesquisa adequou-se ao trabalho realizado pelo grupo de pro-fessores e alunos do 8° ano de uma escola contemplada como Projeto UCA no estado do Ceará. O grupo de professoresdesejava experimentar novas formas de utilizar o laptop edu-cacional para subsidiar o trabalho pedagógico e, face à par-ceria realizada com as pesquisadoras formadoras (Pi e P2), oprocesso foi construí do e vivenciado ao longo de quatro meses(setembro a dezembro de 2012).

    Ao longo desse período, foram desenvolvidas ativida-des de análise dos planos de curso, planejamento coletivo dosprofessores acompanhados pelas pesquisadoras, realizaçãode entrevistas e observação de professores e alunos em ati-vidade. Todo esse processo foi registrado em áudio, vídeo efotografias.

    Os recursos utilizados para a realização do trabalho fo-ram: o livro e o filme Viagem ao Centro da Terra, o editor detexto Writer, o ambiente virtual colaborativo Sócrates (Sis-tema Online para Criação de Projetos e Comunidades) e fer-ramentas colaborativas do Google Drive (texto, formulário,slides). O laptop educacional conectado à internet ofereceu osuporte, e as ferramentas citadas promoveram a comunicaçãoe a interação síncronas e assíncronas entre professores, entrealunos e entre professores e alunos por meio de emails, fó-runs, diário de bordo e mensagens no Sócrates, além da pro-dução de atividades usando recursos do Google Drive.

    432 ~ MARIA AURIC~lIA DA SILVA· JAIANE RAMOS BARBOSA • JOS~ AIRES DE CASTRO FILHO

  • Esse processo, vivenciado em forma de projeto colabo-rativo, será descrito a seguir.

    Planejamento, Execução e Resultados

    Inicialmente, ocorreram conversas com os professoresacerca dos conteúdos que estavam sendo trabalhados comos alunos e sobre a perspectiva de realizar um trabalho cola-borativo, que envolvesse docentes e alunos e contasse com osuporte dos recursos digitais para favorecer a interação entreos alunos das duas turmas de 8° ano, que funcionavam emturnos diferentes.

    Ficou combinado que o contato entre os alunos das duasturmas com vistas à produção das atividades seria tão somentevirtual, já que eles residiam em diferentes pontos da comunida-de e a grande maioria depende do transporte escolar disponi-bilizado pela prefeitura municipal para se deslocar até a escola.

    Os encontros com os professores aconteciam no dia doplanejamento semanal de cada um, sendo que eles planeja-vam em dias diferentes: DI às quintas, D2 às terças e D3 àsquartas-feiras. Para que os três professores tomassem conhe-cimento das atividades planejadas pelos colegas juntamentecom uma das pesquisadoras, foi criado e compartilhado umtexto no Google Does, a fim de que todos pudessem sugerir,discordar ou modificar o planejamento. Além disso, os horá-rios de intervalo eram utilizados para conversas rápidas queenvolviam os três professores e a pesquisadora PI.

    Assim, o trabalho foi sendo construído coletiva e cola-borativamente. A ideia de partir do gênero ficção científicasurgiu do conteúdo que o DI estava começando a trabalharcom os alunos, constante no plano de curso. Os outros doisprofessores concordaram com a ideia e, como o livro a ser tra-

    APRENDER A COLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRATICAS PEDAGÓGICAS ~COM SUPORTECOMPUTAClONAL =:::J 433

  • balhado foi Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne, ficoucombinado que a pesquisadora PI também leria o livro e veriaos conteúdos presentes no texto, que poderiam ser trabalha-dos nas diversas disciplinas. Sobre esse modo de planejar asatividades, o professor DI afirmou:

    Quando a gente elabora um projeto antes de iniciar, agente sabe que todo planejamento é flexível, no decorrerdo trabalho você vai ver que algumas partes precisamser modificadas, você tira, acrescenta. Desta forma, comcerteza, é bem mais produtivo.

    o rol de conteúdos por disciplina foi compartilhado emum documento no Google Does, e os professores seleciona-ram aqueles que tinham relação com sua disciplina e com osconteúdos que estavam sendo estudados naquela etapa. As-sim, foram definidas as atividades que os professores desen-volveriam com seus alunos.

    Ao DI coube a elaboração de uma esquete teatral de umepisódio do livro por grupo de alunos para encenação ao fi-nal do projeto, além da produção de contos de ficção científicapara a montagem de um livro digital. O D2 se encarregou dotratamento estatístico dos dados de duas enquetes realizadasno Google Forms com os alunos, uma para a escolha do nomedo projeto e outra sobre as preferências de leitura dos alunosdo 8° ano, durante as aulas de Matemática; em Ciências, o D2explorou com os alunos conteúdos como formação de vulcões,regiões do oceano, minerais encontrados na Terra, camadasda crosta terrestre, tipos de vegetação e rochas da Terra; o D3optou por trabalhar com autores de ficção científica america-nos e ingleses e suas principais obras, para aproveitar os con-teúdos da disciplina Inglês. Sobre o desenvolvimento dessasatividades, o D2 afirmou: "É uma novidade, eu tô achandointeressante, quero até aprender mais pra usar isso aí. Até

    434 -""")MARIA AURIC~LlA DASILVA· JAIANE RAMOS BARBOSA· JOS~ AIRES DE CASTRO FILHO

  • os alunos, pelo primeiro momento que nós tivemos com eles,vi que eles gostaram muito".

    Osprofessores foram desenvolvendo, ao longo da etapa,as atividades com alunos, levando as propostas e sugerindoideias sobre diversas maneiras de realizá-Ias. Os alunos dasduas turmas foram distribuídos em cinco grupos, por coresdiferentes. Para que a colaboração online fosse favorecida, osdois grupos de mesma cor em ambas as turmas desenvolviama mesma atividade, que era compartilhada e realizada atravésdo Sócrates e das ferramentas do Google Driue.

    A Participação dos Alunos

    Em todos os encontros do projeto, os alunos foramestimulados a trabalhar de forma colaborativa em prol daconstrução de algum material ou da discussão de temas pre-viamente pensados durante os encontros de planejamento re-alizados pelos professores participantes do projeto. Os alunosusavam alguma ferramenta do laptop como intermediador doprocesso desenvolvido, mas em alguns casos ocorreram ativi-dades colaborativas sem o uso da tecnologia.

    O primeiro contato com os alunos se deu na aula daprofessora de Português. Durante esse encontro, fez-se a ex-plicação sobre como seria desenvolvido o projeto, bem comoseus objetivos e metas. Logo no primeiro momento, foi feitauma sondagem dos alunos que possuíam conta de email noGoogle e explicado que essa conta seria necessária para parti-cipar das atividades online do projeto.

    Nesse primeiro momento, percebeu-se que a maioriados alunos fazia uso do computador somente na escola e al-guns utilizavam apenas de forma superficial, como foi o casoda utilidade e usabilidade de uma conta de email. Sobre essa

    APRENDER A COLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRATICAS PEDAGÓGICAS ~COM SUPORTE COMPUTACIONAL ~ 435

  • informação, a aluna A1, quando questionada pela pesquisa-dora P2, sobre a frequência com que utilizava o computador,informou que só usava na escola, pois não dispunha desse re-curso em casa e não frequentava lan house.

    Durante o primeiro encontro, foram criados os emailsdos alunos e explicada sua funcionalidade. Enquanto isso, osdemais alunos iam sendo cadastrados no Sócrates, ambientevirtual de aprendizagem que também foi usado como uma dasferramentas para promover interação entre os participantes.

    A proposta do projeto foi apresentada aos alunos noprimeiro encontro e, a partir de então, professores e alunospassaram a construir o formato que esse projeto teria. Du-rante os encontros seguintes, todas as atividades e escolhasrealizadas foram feitas de forma colaborativa, valorizando aopinião do outro.

    A escolha do nome do projeto foi uma das atividadesdesenvolvidas. Os alunos sugeriram nomes para o projeto,durante o segundo encontro. Já no terceiro encontro, elesparticiparam de uma enquete online, criada no Google For-ms, objetivando promover a escolha do nome do projeto, alémde continuar o processo de cadastro no ambiente Sócrates, apartir da inserção de dados e fotos. Nesse mesmo dia, os alu-nos tiveram que fazer uma produção textual, em dupla, sobreo filme Viagem ao Centro da Terra. Utilizaram o editor detexto para digitação e um laptop por dupla. Em seguida, osalunos socializaram suas produções com os colegas através daleitura e pastagem nos seus portfólios do ambiente Sócrates.

    Ao final da primeira semana e início da segunda sema-na do projeto, com o quarto encontro, uma nova fase de ações,produções e construção do roteiro da peça teve início. Nes-se encontro, os alunos foram divididos por equipes e algunsanunciados como líderes desses grupos. A escolha dos líderes

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  • foi, anteriormente, discutida entre os professores. Alguns cri-térios para essa escolha estavam relacionados ao desempenhodo aluno e à participação nas atividades. Os demais alunosforam divididos a partir de uma técnica de uso das cores naqual cada aluno deveria escolher um marcado r de texto nasseguintes cores (amarelo, verde, vermelho, laranja, azul), an-teriormente confeccionado pela pesquisadora PI.

    Dessa forma, durante o referido encontro, o Di fezquestão de explicar o papel dos líderes e acrescentar que ofato de ser líder da equipe não significava que ele deveria fa-zer sozinho todas as atividades do grupo. Em seguida, citou onome dos cinco alunos, pediu para que eles se retirassem dasala e esperassem no corredor. Durante o tempo de espera doscinco líderes no corredor, eles também tiveram que escolherseus marcadores de cores diferentes. Assim, ao entrar na sala,deveriam se juntar aos alunos que haviam escolhido marca-dores de mesma cor.

    Depois de formados os grupos de trabalho, os alunospassaram a realizar as atividades do projeto com os respecti-vos membros de suas equipes, mâs essa divisão não impediuque ocorressem interação e situações de ajuda mútua entre osintegrantes dos grupos distintos.

    Além das interações presenciais e no ambiente colabo-rativo Sócrates, muitas foram as atividades realizadas pelosalunos utilizando o laptop e as ferramentas do Google Drioe.Entre elas, as atividades de Ciências, desenvolvida pelo D2,em que as equipes deveriam pesquisar, com a ajuda da inter-net, temas como vegetação, solo, vulcões e camadas do ocea-no e, em seguida, criar uma apresentação de slides, usando aferramenta de apresentação do Google, com imagens e texto.

    Na disciplina de Inglês, as equipes deveriam escolherum autor, na lista de nomes anteriormente criada, pesquisar

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  • sua biografia e obras mais importantes, produzir slides naferramenta de apresentação do Google e, em seguida, postarno portfólio do Sócrates o material produzido para que todostomassem conhecimento. Durante essa atividade, o aluno A2,componente da equipe azul, assim que viu a lista, sugeriu in-cluir a autora J. K. Rowling. Segundo ele, a autora de HarryPotter não poderia faltar. Então, a autora foi inserida, e eleconvenceu sua equipe a pesquisá-la. Essa ação do aluno A2demonstrou que, além de uma decisão tomada colaborativa-mente, a decisão da equipe não estava centrada na figura doaluno líder, fatores que caracterizam o trabalho colaborativo.

    Os encontros seguintes foram realizados com foco naconstrução da culminância do projeto: divisão dos persona-gens para a peça teatral, ensaios, construção de painéis sobreJúlio Verne e sua obra, biografia, resenha das obras princi-pais, dentre outros. No último encontro do projeto, durantea culminância, os alunos apresentaram cartazes confecciona-dos nas aulas de Português, apresentaram slides criados nasaulas de Ciências.

    Além disso, ocorreu a premiação de uma aluna que ga-nhou o concurso para a escolha da capa do livro de ficção cien-tífica, impresso e digital. Todos os alunos receberam a versãoimpressa do livro de conto de ficção científica produzido pelosalunos e, disponibilizada a versão online'. Também foi home-nageado o aluno cuja sugestão de nome para o projeto foi omais votado pelas duas turmas. Foram homenageados alunos,professores, gestores, entregues certificados de participaçãoaos alunos, realizado sorteio de livros entre os alunos e doa-das obras e de Júlio Verne à biblioteca da Escola.

    1Disponível em http://www.calameo.com/read/oo152285454d3ee44ofa9

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  • Considerações Finais

    A colaboração e o uso de recursos tecnológicos comosuporte à aprendizagem em rede foram evidenciados duran-te a realização deste trabalho. Todas as atividades, do inícioà culminância do projeto, foram planejadas e executadas deforma colaborativa, de modo que as duas turmas de alunosparticiparam das decisões e trabalharam para que tais deci-sões fossem cumpridas pelos grupos de trabalho.

    A participação docente foi fundamental. Os professo-res empenharam-se no planejamento e no acompanhamentodas atividades, mantiveram contato e diálogos constantes, demodo a priorizar o trabalho colaborativo.

    A realização das atividades demonstrou o envolvimentodos grupos de uma forma que permitiu aos alunos mostrarseus interesses, habilidades, níveis diferenciados de produti-vidade e alguns conflitos, naturais da vivência grupal.

    O uso do laptop e da Internet favoreceu, sobremaneira,o trabalho em rede, sem os quais não teria sido possível queas duas turmas envolvidas no projeto, que frequentem a esco-la em turnos diferentes, sem encontros presenciais previstosem razão da dificuldade de deslocamento devido à distânciadas residências dos alunos até a unidade escolar, realizassemum trabalho colaborativo. O ambiente colaborativo Sócrates eas ferramentas do Google ofereceram o suporte necessário àprodução e divulgação do material produzido por professorese alunos.

    Assim, percebe-se que a realização de projetos colabo-rativos não é apenas possível, como desejável, uma vez que fa-vorece a interdisciplinaridade, a produção coletiva, o ensino,a aprendizagem e a formação de uma cultura de paz na escola.

    APRENDER A COLABORAR, COLABORAR PARA APRENDER: PRATICAS PEDAGÓGICAS _COM SUPORTE COMPUTACIONAL -"=) 439

  • Referências Bibliográficas

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