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APRENDIZADO BASEADO EM PROBLEMAS: PERCEPÇÕES DE DOCENTES E DISCENTES ENVOLVIDOS EM DISCIPLINAS/PROJETO Thalita Rodrigues Rossi 1 , Silvane Guimarães Silva Gomes 2 , Tereza Angélica Bartolomeu 3 , Érica Aparecida Coelho 4 , Wellington Adilson Domingos Júnior 5 1 Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected] 2 Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected] 3 Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected] 4 Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected] 5 Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected] Resumo – Objetivou-se com o presente artigo apresentar a percepção de professores e estudantes envolvidos em disciplinas projeto, que adotam a Aprendizagem Baseada em Problemas/Projeto (ABP) como metodologia inovadora à educação do futuro, na qual os estudantes desenvolvem um projeto a partir de uma situação problema, investigam, analisam, debatem e propõem soluções. Desde 2016 já foram ministradas quatorze disciplinas neste formato, oferecidas por uma Instituição de Ensino Superior situada no Estado de Minas Gerais. A criação das disciplinas neste formato se deu pela preocupação de expandir e transformar os modelos de ensino com a inserção de novos métodos mediados por tecnologias digitais. Logo, foi desenvolvida esta pesquisa de metodologia mista, derivada da análise quantitativa e qualitativa, de um questionário online e um banco de dados aberto da Instituição. Com este estudo verificou- se o quão positivo é a implementação de metodologias inovadoras como estratégias de ensino. Nas disciplinas projeto evidenciou-se a interdisciplinaridade dos indivíduos envolvidos, fator que propicia socialização do conhecimento, desenvolvimento de competências, habilidades significativas e melhoria no processo de aprendizagem, por meio de conexões reais e digitais no ambiente educacional, da mesma maneira que fazem os estudantes em suas vidas pessoais. Palavras-chave: Aprendizagem Baseada em Problemas; metodologia inovadora; tecnologias digitais. Abstract – The objective of this article is to present the perception of teachers and students involved in project disciplines, who adopt Problem Based Learning / Project (ABP) as an innovative methodology for future education, in which students develop a project based on a problem situation, investigate, analyze, debate and propose solutions. Since 2016, fourteen disciplines have been taught in this format, offered by a Higher Education Institution located in the State of Minas Gerais. The creation of the disciplines in this format was due to the concern to expand and transform teaching models with the insertion of new methods mediated by digital technologies. Therefore, this research of mixed methodology, derived from the quantitative and qualitative analysis, of an online questionnaire and an open database of the Institution was developed. With this study it was verified how positive is the implementation of innovative methodologies as teaching strategies. In the project disciplines, the interdisciplinarity of the individuals involved was evidenced, a factor that provides socialization of knowledge, development of competences, significant skills and improvement in the learning process, through real and digital connections in the educational environment, in the same way that students do in their personal lives. Keywords: Problem-Based Learning; innovative methodology; technologies.

APRENDIZADO BASEADO EM PROBLEMAS: PERCEPÇÕES DE … · aprendizagem por meio de métodos como a ABP (BARRETT; MOORE, 2011). A ABP exigi, por consequência, o desenvolvimento de

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APRENDIZADO BASEADO EM PROBLEMAS: PERCEPÇÕES DE

DOCENTES E DISCENTES ENVOLVIDOS EM DISCIPLINAS/PROJETO

Thalita Rodrigues Rossi1, Silvane Guimarães Silva Gomes2, Tereza Angélica Bartolomeu3, Érica Aparecida Coelho4, Wellington Adilson Domingos Júnior5

1Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected]

2Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, si [email protected]

3Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected]

4Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected]

5Universidade Federal de Viçosa/Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância, [email protected]

Resumo – Objetivou-se com o presente artigo apresentar a percepção de professores e estudantes envolvidos em disciplinas projeto, que adotam a Aprendizagem Baseada em Problemas/Projeto (ABP) como metodologia inovadora à educação do futuro, na qual os estudantes desenvolvem um projeto a partir de uma situação problema, investigam, analisam, debatem e propõem soluções. Desde 2016 já foram ministradas quatorze disciplinas neste formato, oferecidas por uma Instituição de Ensino Superior situada no Estado de Minas Gerais. A criação das disciplinas neste formato se deu pela preocupação de expandir e transformar os modelos de ensino com a inserção de novos métodos mediados por tecnologias digitais. Logo, foi desenvolvida esta pesquisa de metodologia mista, derivada da análise quantitativa e qualitativa, de um questionário online e um banco de dados aberto da Instituição. Com este estudo verificou-se o quão positivo é a implementação de metodologias inovadoras como estratégias de ensino. Nas disciplinas projeto evidenciou-se a interdisciplinaridade dos indivíduos envolvidos, fator que propicia socialização do conhecimento, desenvolvimento de competências, habilidades significativas e melhoria no processo de aprendizagem, por meio de conexões reais e digitais no ambiente educacional, da mesma maneira que fazem os estudantes em suas vidas pessoais.

Palavras-chave: Aprendizagem Baseada em Problemas; metodologia inovadora; tecnologias digitais.

Abstract – The objective of this article is to present the perception of teachers and students involved in project disciplines, who adopt Problem Based Learning / Project (ABP) as an innovative methodology for future education, in which students develop a project based on a problem situation, investigate, analyze, debate and propose solutions. Since 2016, fourteen disciplines have been taught in this format, offered by a Higher Education Institution located in the State of Minas Gerais. The creation of the disciplines in this format was due to the concern to expand and transform teaching models with the insertion of new methods mediated by digita l technologies. Therefore, this research of mixed methodology, derived from the quantitative and qualitative analysis, of an online questionnaire and an open database of the Institution was developed. With this study it was verified how positive is the implementation of innovative methodologies as teaching strategies. In the project disciplines, the interdisciplinarity of the individuals involved was evidenced, a factor that provides socialization of knowledge, development of competences, significant skills and improvement in the learning process, through real and digital connections in the educational environment, in the same way that students do in their personal lives.

Keywords: Problem-Based Learning; innovative methodology; technologies.

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Introdução

Diante do aumento das exigências de transformação e expansão dos modelos de ensino, opostos à pedagogia centrada no professor, a metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning (PBL), vem sendo aplicada em algumas universidades do Brasil e no mundo, possibilitando inovação no processo ensino-aprendizagem. Nessa metodologia é apresentada uma situação-problema e os estudantes a investigam, analisam, debatem e propõem soluções.

Na Universidade Federal de Viçosa (UFV) a modalidade de disciplinas “Projeto” foi instituída em 2015, mediante sua inclusão no Regimento Didático, permitindo à Pró-Reitoria de Ensino, à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, os Centros de Ciências e as Diretorias de Ensino, se responsabilizar pelo seu oferecimento.

As disciplinas projeto foram criadas para cumprir um papel estratégico nesta instituição, ao proporcionar aos seus discentes um espaço para atuação em grupo utilizando recursos de tecnologias digitais para interação e construção do conhecimento. Desde então os temas trabalhados nessas disciplinas são abrangentes, e envolvem discentes de três ou mais cursos de graduação, sendo as atividades acompanhadas por professores das diferentes áreas que representam o projeto. No período de dois anos (2016 a 2017) foram criadas quatorze disciplinas, todas vinculadas à Pró-Reitoria de Ensino da instituição recebendo, por isso, o código PRE. Estas disciplinas são optativas ou facultativas para os alunos de diversos cursos de graduação de acordo com a sua matriz curricular.

O formato proposto para a disciplina foi de que tivesse 4 horas semanais de

atividades, com a seguinte distribuição: uma hora por semana para reunião com o(s) professor(es) e 3 horas de trabalho dos estudantes no projeto, ou, duas horas por semana

para reunião com o(s) professor(es) e 2 horas de trabalho dos estudantes no projeto.

As atividades são realizadas em grupos, de 4 a 8 estudantes, a depender do tema e do

projeto a ser desenvolvido. O tempo com o professor não é de aulas expositivas convencionais. A ideia central é estimular os discentes com questionamentos para a busca

por novos conhecimentos e desenvolvimento de pensamento crítico. Os discentes se encarregam de identificar uma situação problema a ser trabalhada, bem como, quais

recursos usarão para alcançar o objetivo do seu projeto, evocando conhecimentos já adquiridos. Este tempo também é para que os grupos apresentem o que fizeram na semana

anterior e o que pretendem realizar na semana seguinte.

As disciplinas/projetos justificam-se pela necessidade de incorporação de metodologias inovadoras na relação ensino aprendizagem, e como premissa garantir uma maior participação e motivação por parte dos estudantes do ponto de vista do aprendizado,

por meio de conexões reais e digitais no ambiente educacional.

Sendo assim, esse trabalho objetivou apresentar a percepção de professores e estudantes envolvidos em disciplinas projeto, que adotam a metodologia da Aprendizagem

Baseada em Problemas/Projetos (ABP) na UFV. Ele está organizado nos seguintes tópicos, primeiramente, encontra-se a discussão teórica sobre a temática em que é exposto o

método da ABP e seus fundamentos, destacando principalmente a aprendizagem

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colaborativa em grupo mediados pelas tecnologias digitais. Em seguida, são abordados os procedimentos metodológicos deste estudo derivado da análise de dados obtidos em um

banco de dados aberto da instituição e de um formulário online. Por fim, são apresentados a discussão dos resultados, seguida das considerações finais.

Referencial teórico

Muitos estudos e relatórios sugerem que há uma clara necessidade de melhorar a ciência da educação, não apenas em conteúdo, mas também no modo como é ensinado e aprendido

(WUBBELS; GIRGUS, 1997; GREENFIELD, 1996; ALLEN et al., 1996; GALLAGHER et al., 1995; OTTO, 1990; RUTHERFORD; AHLGREN, 1990; citados por DUFFRIN, 2003). As estratégias e os

recursos didáticos atualmente disponíveis vêm sendo pouco aproveitadas pelos educadores que, apesar de incluírem discussões como tática de ensino, ainda recebe críticas quanto aos

meios utilizados para facilitarem a aprendizagem (GIL, 2009).

Diante destas questões, Joyce e Weil, (1996), citados por Duffrin, (2003), consideram a Aprendizagem Baseada em Problemas/Projeto – ABP ou Problem-Based Learning – PBL, como “uma estratégia instrucional que abrange inúmeros modelos de ensino e desafia estudantes e professores a encontrar outras formas para a prática da educação”.

Duas características da ABP são essenciais para o sucesso da metodologia. A primeira é que a ABP está centrada em problemas do mundo real, isso aumenta a motivação dos

alunos a participarem ativamente dos projetos. A segunda característica em favor da ABP é que a maioria das tarefas é realizada coletivamente, assim, exigindo um amplo trabalho

cooperativo nas ações dos estudantes na resolução dos problemas, na formulação da solução e na maneira que essa solução é apresentada (BENDER, 2015).

Assim o processo da ABP começa com a apresentação de um problema aos estudantes, sem qualquer instrução prévia acerca de informações relacionadas a sua solução.

O objetivo da apresentação do problema é fazer com que eles pesquisem determinados conteúdos. Uma das características da metodologia é o trabalho em pequenos grupos para

analisar o problema e determinar quais questões se apresentam e quais informações são necessárias para solucioná-lo. Quando as questões de aprendizagem são identificadas, os estudantes realizam um estudo autônomo antes de retornar ao grupo para compartilhar suas descobertas e aplicá-las na resolução do problema. A fase final envolve a atividade reflexiva

no sentido dos discentes avaliarem a si próprios, como também seus pares, no que se refere à construção de conhecimentos e aquisição de habilidades (BATISTA et al., 2010; RIBEIRO, 2008; TIBÉRIO et al., 2003).

O trabalho em grupo promove a aprendizagem colaborativa, que é uma oportunidade de formação pessoal e social (MORIN, 2007). A colaboração oferece o espaço para a reconstrução do conhecimento, que se configura como um conhecimento da situação problemática; a análise e interpretação de dados; a comparação de pontos de vista

divergentes; e a explicação de conceitos e ideias. Assim, a criação de um clima colaborativo é também uma fonte de valores entre os discentes que formam o grupo: a capacidade de

escutar e observar o que o outro diz; a solidariedade que surge de maneira espontânea e a

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solidariedade que é construída entre todos; a busca da verdade nas relações e na maneira de atuar de todos e de cada um dos membros; o potencial de corrigir-se mutuamente e à espera do ritmo de aprendizagem comum, considerando o tempo de cada um. Assim experimentar estas aprendizagens é uma oportunidade de crescimento enriquecedora que somente o trabalho colaborativo facilita. Nesse sentido, a aprendizagem colaborativa em grupo, na educação superior, é um processo de mudança cultural; o professor tutor é o agente dessa mudança quando, no espaço acadêmico, facilita a aprendizagem por meio de métodos como a ABP (BARRETT; MOORE, 2011).

A ABP exigi, por consequência, o desenvolvimento de novas habilidades por parte dos professores e dos discentes, cujos papéis se modificam. Bender (2015), por exemplo, associa a ABP ao uso de tecnologias na educação para o futuro.

Em uma era em que as mídias digitais permitem a comunicação instantânea e há disponibilidade de informações quase ilimitada na internet, os defensores da ABP sugerem que produzir sentido a partir da grande quantidade virtual de informações caóticas é exatamente o tipo de construção do conhecimento que todo aluno no mundo de hoje precisa dominar (BARELL, 2010 apud BENDER, 2015).

Procedimentos metodológicos

Trata-se de um estudo de caso de metodologia mista derivada da análise qualitativa e quantitativa dos dados obtidos das disciplinas projeto envolvendo equipes multidisciplinares de professores e estudantes da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Utilizou-se de dois métodos para coleta de dados: aplicação de questionário online e pesquisa documental no banco de dados abertos da Instituição. A amostra total da pesquisa se constituiu de 305 discentes que cursaram as disciplinas projeto e 65 docentes que atuaram no seu oferecimento, no período entre 2016 e 2017.

O questionário foi formulado no Google Docs com um total de treze questões, sendo dez questões fechadas e três abertas, filtradas de acordo com a atuação do participante. Foi enviado um e-mail a todos os 65 professores e 305 estudantes que participaram das disciplinas projeto no referido período, contendo um link de acesso ao questionário. Obteve-se respostas de 103 participantes, sendo 75 discentes e 28 docentes.

A pesquisa documental foi realizada nos bancos de dados da instituição o qual contém informações referentes às atividades de ensino, pesquisa, extensão e administração registradas ao longo dos anos e disponibilizadas na forma de relatório: Relatório Anual de Atividades. Estes dados estão disponíveis para consulta pública, em: http://www.dti.ufv.br/relatorioufv/.

Apresentação e discussão dos resultados

A partir da criação da modalidade de disciplinas do tipo projeto na UFV, ocorrida em 2015, vários professores de diferentes departamentos e Centros de Ensino se mobilizaram para

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experimentar esta metodologia ativa de ensino: Aprendizagem Baseada em Problemas/Projeto.

No intervalo de dois anos foram criadas e ministradas 14 disciplinas, por grupos de professores compostos de 2 a 8 membros (Tabela 1). 86% das disciplinas tinham três ou mais professores.

Código/nome da disciplina Professores

(nº)

Discentes

(nº)

Oferecimento

(nº)

PRE 401 - Sustentabilidade Hídrica na UFV 4 37 3

PRE 402 - Mobi lidade e Acessibilidade Sustentável no Campus da UFV

5 13 1

PRE 403 - Ambiente Inteligente: Aspectos Construtivos e Desafios de Automação

7 18 1

PRE 404 - Educação Ambiental em Áreas Protegidas 5 34 1

PRE 405 - Mobi lidade Urbana Sustentável para Campi Universitários 2 6 1

PRE 406 - Memória & Vida-pesquisa/Ensino de Valorização do

Patrimônio Histórico e Ambiental da UFV 2 7 1

PRE 408 - TICs na Prática Docente 3 18 2

PRE 409 - Produção Audiovisual para Educação à Distância 4 9 1

PRE 410 - Projeto Troca de Saberes 6 33 1

PRE 411 - Base Neural e Cultural da Aprendizagem 7 18 1

PRE 413 - Projeto SAE Aerodesign 4 30 1

PRE 414 - Projeto Empreendedorismo e Criação de Novos Negócios 4 20 1

PRE 415 - Projeto SAE Aerodesign 2017 - Construção de Aeronave Radiocontrolada

4 22 1

PRE 416 - Terreiros Culturais: Modernidade, Territórios e Paisagens Culturais

8 40 1

Tota l : 65 305 17

Tabela 1 – Relação das disciplinas projeto ofertadas na UFV, de 2016/1 a 2017/2

A formação e área de atuação dos professores de cada uma das disciplinas eram bem

diversas. As disciplinas que apresentaram um número maior de professores e maior variedade na formação foram: “PRE 410 - Projeto Troca de Saberes” (6 professores); “PRE 411

- Base Neural e Cultural da Aprendizagem” (7 professores) e “PRE 416 - Terreiros Culturais:Modernidade, Territórios e Paisagens Culturais” (8 professores).

A formação e área de atuação dos professores das referidas disciplinas pode ser observada na Tabela 2 a seguir.

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Código/nome da Áreas do conhecimento

disciplina dos professores envolvidos

PRE 410 - Projeto Troca de Saberes

Pedagogia

Educação do Campo

Engenharia Agrônoma

Dança

Fi losofia

Engenharia Ambienta l

PRE 411 - Base Neural e Cultural da Apre ndizagem

Medicina

Química

Letras

Ciências Biológicas

Ps icologia

Pedagogia

PRE 416 - Terreiros Culturais: Modernidade, Territórios e

Pa isagens Culturais

Engenharia Agrônoma

Ciências dos Solos

Pedagogia

Engenharia Mecânica

Dança

Geografia

Medicina Veterinária

Tabela 2 – Formação/área de atuação dos professores das disciplinas com 6 ou mais membros

Dessa maneira, infere-se que, a caracterização das turmas das disciplinas projeto, as quais utilizaram a metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas/Projeto tem, vários

professores que não estão no centro da atenção, mas, são os responsáveis pela criação de um espaço transdisciplinar de reflexão entre os alunos. Além disso, a integração de variadas

áreas do conhecimento com diversas habilidades de pensamento na ABP ajuda os professores a trabalharem por meio de padrões de conteúdos vastos, ensinando os alunos a

enxergarem a conectividade das grandes ideias dentro das várias áreas do currículo (RULE; BARREIRA, 2008 apud BENDER, 2015).

Não por coincidência, essas turmas heterogêneas, são compostas por estudantes de cursos de graduação variados. Essa diversidade de áreas aproximou estudantes que geralmente não se encontram nas disciplinas regulares de seus cursos, mas foram atraídas

pela temática da disciplina. O modo da interdisciplinaridade agrega um desenvolvimento do raciocínio do discente e impõe ao discente a importância da aquisição do conhecimento de

várias disciplinas. Este tipo de ensino traz ao discente o desenvolvimento de habilidades novas e o ganho de maior capacidade de interpretação dos problemas, em que é proposto ao

indivíduo (SANTIAGO; RAMOS; MAY; DIETRICH, 2014).

Na Tabela 3, a seguir, é apresentado o número de discentes que estiveram matriculados

em cada período em que as disciplinas foram oferecidas. Na mesma tabela também pode ser

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observado o número de cursos de origem que os referidos discentes cursavam.

Disciplina Período de Oferta Total de

discentes

(nº)

Cursos de origem

(nº) Ano Semestre

PRE 401 2016 1 26 9

PRE 401 2016 2 5 4

PRE 401 2017 1 6 3

PRE 402 2016 1 13 4

PRE 403 2016 1 18 5

PRE 404 2016 1 34 7

PRE 406 2016 2 7 2

PRE 408 2017 1 10 7

PRE 408 2017 2 8 6

PRE 409 2017 1 9 7

PRE 410 2017 1 33 14

PRE 411 2017 1 18 11

PRE 413 2017 1 30 3

PRE 414 2017 2 20 9 PRE 415 2017 2 22 4

PRE 416 2017 2 40 15

Tabela 3 – Número de discentes e cursos por disciplina ofertada

As disciplinas que apresentaram uma maior variedade de áreas de conhecimento dos

discentes foram também as disciplinas “PRE 410 - Projeto Troca de Saberes” (14 cursos); “PRE 411 - Base Neural e Cultural da Aprendizagem” (11 cursos) e “PRE 416 - Terreiros

Culturais: Modernidade, Territórios e Paisagens Culturais” (15 cursos). Ribeiro (2005)

descreve isso como fator que favorece a integração de diferentes áreas em que os alunos adquirem conhecimentos que realmente têm sentido na formação deles.

Em pesquisa realizada com os discentes e professores que participaram das disciplinas projeto, ofertadas no período de 2016 a 2017, foi investigado se eles consideraram que a

metodologia utilizada na disciplina promoveu maior envolvimento dos participantes. Dos respondentes 73% disseram que sim, 4,8% disseram que não e 22,2% disseram que em

partes.

Gráfico 1 – A metodologia utilizada na disciplina promoveu envolvimento dos participantes

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Portanto, a metodologia utilizada propõe um processo de aprendizagem embasado na interação entre os envolvidos, construindo assim, uma rede colaborativa de informação e

troca, promovendo proatividade e envolvimento dos participantes. Segundo Vianna (2016), Metodologias Ativas de Aprendizagem pressupõem um movimento intenso que envolve os

estudantes de maneira dinâmica, reflexiva, curiosa, criativa e motivadora e que colabora com a construção do conhecimento. Além do mais, conforme Souza e Dourado (2015) chega-se ao consenso, que o método de ABP impõe a aquisição de novas habilidades, conhecimento, além de estimular a curiosidade do discente e promover uma maior integração social.

Quando questionados se o resultado final da disciplina projeto atingiu o resultado

esperado, 78,1% disseram que sim e 21,9% disseram que não.

Gráfico 2 – O resultado final da disciplina projeto atingiu o resultado esperado

Um dos professores participantes da pesquisa justificou da seguinte forma:

A resposta correta seria 'em partes’. Os discentes possuem dificuldade de conduzir a sua autonomia. É importante construir um ambiente onde essa questão seja debatida. A disciplina promoveu a reflexão e a construção de projetos interessantes. Mas senti que os discentes ainda estão muito acostumados com modelos tradicionais.

Já na visão de um dos discentes,

Foi uma experiência muito boa de uma disciplina com aprendizado muito mais ativo. O formato gerou mais disposição dos discentes, autonomia, facilidade para planejar e executar todos os passos com as potencialidades da internet e da tecnologia, o compartilhamento de experiências enriqueceu muito os encontros em sala de aula. Além disso, a disciplina teve um caráter fortemente transdisciplinar, unificando e aplicando conhecimentos de diversas áreas, da biologia à arte gráfica.

A fala do discente ilustra, como a aprendizagem baseada em problemas/projeto desenvolve entre os alunos, um aprendizado altamente diferenciado baseado no uso das

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tecnologias modernas. São inúmeras ferramentas e recursos tecnológicos que estão sendo desenvolvidos num crescente, a cada dia. As tecnologias da informação e comunicação (TICs)

facilitam muito o contato e a interação de um grupo na realização de projetos colaborativos, possibilitando aprendizagens mais potencializadas e abrindo caminhos para a convivência em

que todos os envolvidos são favorecidos. Logo, percebe-se que é apenas por meio do ensino dessas habilidades que os professores podem preparar verdadeiramente seus alunos para o século XXI, e a ABP fornece uma excelente abordagem de ensino para essa meta (BENDER, 2015).

Em última análise, verificamos os indicadores da replicação da experiência, ou seja, a

comprovação de que ela possa ser repetida em outras circunstâncias e que atingiu o objetivo a que se propôs. 87,3% dos respondentes responderam que sim, a estas questões.

Gráfico 3 – Possibilidade de replicação do projeto desenvolvido em outras circunstâncias

Para possibilitar a replicação, a universidade em parceria com a Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD), disponibilizou um acervo online de livre acesso, para ampliar o alcance dos projetos desenvolvidos nas disciplinas, com intenção de divulgar essa experiência para outras instituições de ensino, considerando a importância do compartilhamento do saber. O endereço de acesso ao acervo é: https://acervo.cead.ufv.br/.

Considerações finais

Entendemos que a metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas/Projetos aponta para uma nova postura no papel do professor e do discente, quebrando barreiras do ensino tradicional. Até então, o professor era considerado detentor do conhecimento e deveria passá-lo para o discente. Com essa metodologia o discente se torna agente ativo de sua aprendizagem e constrói o conhecimento juntamente com o professor, de forma que há um aproveitamento dessas conexões com as tecnologias digitais a fim de levar toda essa riqueza para a sala de aula e fora dela.

Percebeu-se algumas implicações negativas com a metodologia relacionadas talvez à falta de experiência dos professores com metodologias inovadoras e da parte dos discentes referente a inabilidade de trabalhar com autonomia. No entanto, com este estudo verificou-se o quão positivo é a implementação de métodos inovadores e tecnologias como estratégias de ensino. Nas disciplinas projeto evidenciou-se a interdisciplinaridade dos indivíduos

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envolvidos, fator que propicia socialização do conhecimento, desenvolvimento de competências, habilidades significativas e melhoria no processo de aprendizagem. Além da

integração de variadas tecnologias digitais disponíveis nas salas de aulas atuais, dominadas pelos alunos, e que podem ser usadas para apoiar a ABP.

Por fim, o uso da metodologia ABP, além de garantir uma maior participação e motivação dos discentes no aprendizado, os estimulam a desenvolver habilidades

intelectuais e cognitivas, e, no geral, a mostrarem mais interesse em aprender quando estão diretamente envolvidos no processo, com conexões reais e digitais em ambiente educacional, da mesma maneira que o fazem em suas vidas pessoais.

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