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Apropriação da terra e cidades na Amazônia Land appropriation and cities in Amazonia Coordenador: Henrique Barandier, IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal, Arquiteto e Urbanista / Pesquisador, [email protected]. Debatebor: João Langüéns, IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal, Geógrafo / Pesquisador, joã[email protected]

Apropriação da terra e cidades na Amazônia - anpur.org.branpur.org.br/xviienanpur/principal/publicacoes/XVII.ENANPUR_Anais... · Após mais de três anos de atividades, o PQGA

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ApropriaçãodaterraecidadesnaAmazônia

LandappropriationandcitiesinAmazonia

Coordenador:HenriqueBarandier,IBAM–InstitutoBrasileirodeAdministraçãoMunicipal,ArquitetoeUrbanista/Pesquisador,[email protected].

Debatebor:JoãoLangüéns,IBAM–InstitutoBrasileirodeAdministraçãoMunicipal,Geógrafo/Pesquisador,joã[email protected]

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ASessãoLivre“ApropriaçãodaTerraeCidadesnaAmazõnia”aquiapresentadafoiconcebidacomo objetivo de contribuir para o debate sobre questões próprias do Bioma Amazônia nesteENANPURquesepropõeadiscutircaminhosdoplanejamentourbanoeregional.

Desde2013,oInsttitutoBrasileirodeAdministraçãoMunicipal(IBAM)coordenaaimplementaçãodo Programa de Qualificação da Gestão Ambiental (PQGA) dirigido aos Municípios do BiomaAmazônia1,tendoporobjetivocontribuirparaodesenvolvimentosustentáveldaregiãocombasena qualificação de gestores públicos, servidores municipais e atores da sociedade civil. Apercepção inicial quemotivoua formulaçãodoprograma,dequeo fortalecimento institucionaldosÓrgãosMunicipaisdeMeioAmbienteerafundamentalparaocontroledodesmatamento,semostrou verdadeira e o trabalho com os municípios revelou a complexidade do problema demanteraflorestaempé.

Apósmaisde três anosde atividades, oPQGAproduziu importante acúmulode conhecimentossobreaAmazôniaBrasileira,osdesafiosparaocontroledodesmantamento,parapreservaçãodafloresta e da biodiversidade do bioma e sobre o próprio papel dos Municípios na gestãoterritorial/ambiental na região. Tal acúmulo de conhecimentos resulta tanto da ação direta doInstitutonosMunicípiosqueintegramoBiomaAmazôniaeinterlocuçãocomgestoresetécnicosmunicipais, comoda interação comum semnúmerode instituições quedesenvolvemações dediversasnaturezaseescalasdeintervençãobuscandoigualmenteaconstruçãodealternativasdesustentabilidadeparaaregião.ApropostadestaSessãoLivreresultajustamentedessaarticulaçãodeatoresqueatuamnaAmazônia.Poressarazão,écompostaporquatroapresentaçõessendo:umadopróprioIBAM;outradeumaimportanteONGdaregião–adaFundaçãoVitóriaAmazônica(FVA);aterceiradeumcentrodepesquisadoestadodoPará–oLaboratórioCidadesAmazônicas(LABCAM);eaúltimadeumgestormunicipal.Dessa forma,buscou-se reunirdiferentesolharessobreosdesafiosdaAmazônia.

Oproblemadodesmatamentotemcausasegeografiasdistintas,quesãoresultadodeprocessosedinâmicassociaisigualmentedistintas.Assim,sãoessesprocessosedinâmicassociaisquedevemser analisadas e enfrentadas para buscar soluções para o desmatamento e manutenção doecossistema amazônico. Nesta sessão, entretanto, o foco recai sobre as cidades, sobre osignificadodourbanonaAmazôniaenasinteraçõesdascidadescomafloresta,comosrecursosnaturais demodo geral e, em última instância, com o bioma. Dada a extensão da região e asdimensões dos municípios ali situados, pode se dizer que a ocupação urbana na região seconcentra em alguns pontos de um vasto território. Embora verdadeira, tal constatação éinsuficienteparaentenderofenômenourbanonaAmazôniae,sobretudo,parasecompreenderosignificadodosimpactosdaurbanizaçãonobiomaenamanutençãodafloresta.

Os processos de especulação fundiária na Amazônia se inscrevem numa cadeia que envolvedesmatamento, grilagem de terras, introdução da pecuária, expansão da fronteira agrícola,consolidaçãodemonoculturase transformaçãodosolo ruralemurbano.Frequentementeestãoassociadosagrandesprojetoseconômicosparaexploraçãoderecursosnaturaisquetambémsãoindutoresdaurbanizaçãoemdiferentesescalas.Assim,porumlado,aurbanizaçãonaAmazôniadeve serentendidaemassociaçãoaoutrosprocessosdeapropriaçãodo território.Poroutro,éimportante observar que as cidades na Amazônia, elas mesmas, no seu conjunto, exercempressõessobreomeioambientequenãosãoapenaslocalizadas,masimpactamobiomacomoumtodo.

1OProgramadeQualificaçãodaGestãoAmbiental–MunicípiosBiomaAmazõniaédesenvolvidocomrecursosdoFundoAmazônia/BNDES.

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Dentreosimpactosdaurbanização,sepodedestacaracontaminaçãoderioselençolfreáticoporefluentes não tratados de atividades urbanas e/ou pela inadequação da disposição final deresíduos sólidos; efeitos sobre fauna e flora da intensificação da circulação transportes depassageiros e cargas, tanto pelas vias rodoviárias como fluviais; aumento da pressão sobre aflorestapelaexpansãodispersadeáreasurbanizadas;descaracterizaçãodemodostradicionaisdemoradiadaregião,entreoutrosaspectos.

Ao considera-los, se observa também que a Região Norte do Brasil, integralmente inserida nobiomaAmazônia,foiaqueregistrouamaiortaxadecrescimentodapopulaçãourbana(29,89%)no último período intercensitário. Ou seja, a tendência é de que os elementos de pressãoidentificadosacimaseintensifiquemnocurtoprazo.Tantopeloaumentodataxadeurbanizaçãonaregiãocomopelosfluxosmigratóriosnadireçãocentro-oeste/nortequeseconfirmamcomoprincipaltendênciadosdeslocamentospopulacionaisnopaís,aindaqueadécadade2000tenharegistrado diminuição das taxas de crescimento populacional em todas as regiões, inclusive anorte.

Apesar da urbanização da Amazônia ter hoje uma expressão relevante e as condições deinterligação (epotencialmentede integração) como restantedopaís serembemmelhoresquedécadas atrás, a consolidação das cidades na região nunca esteve atrelada a um modelo dedesenvolvimentoregionalquepromovesseavançossociaisetivessecomopremissaapreservaçãodo bioma. Becker (2013) destaca que, historicamente, a região “ficou à margem do Estadobrasileiro, na dependência das demandas das metrópoles e países estrangeiros, passando porcurtosperíodosdecrescimentoseguidosdelongosintervalosdeestagnação”.

AocupaçãourbananaAmazôniatemnadécadade60ummarcotemporalimportante,poisessasecaracterizacomomomentodeinflexão.Éapartirdeentãoque,comaspolíticasdeintegraçãonacionaledecolonizaçãodaAmazônia,se introduznovas lógicasdeocupaçãodoterritório.Ou,melhor dizendo, as condições para exploração da região numa escalamais ampliada, que vêmalterandosignificativamenteosmodosdeseconstruircidadesedesemorarnaAmazônia.Atéosanos60,podesedizerqueeramosriosquedeterminavamalocalizaçãodecidadesnaAmazôniaealgumasdelasexerciammaiorcentralidadeporseconstituíremcomoentrepostoscomerciaisnacirculaçãofluvial.Apartirdosanos60,comaaberturaderodovias,implantaçãodeassentamentosrurais, criação de núcleos urbanos, fomento à exploração mineral e, mais recentemente, dosrecursos hídricos para geração de energia, novas formas de urbanização foram introduzidas naregião, ligadas às rodovias e nãomais necessariamente aos rios, emultiplicaram-se os centrosurbanos.

AprimeiraapresentaçãodestaSessãoLivre,deHélioBeirozdoIBAM,abordaaquestãodaterranaAmazônia de uma forma ampla, com análise dos principais processos fundiários na região.Constitui, dessa forma, umplano de fundo para compreensão das questões socioambientais daAmazôniaedasinteraçãosentreosmeiosurbanoenãourbanonaregião.

Emseguida,RobertaMarquesRodrigueseJulianoPamplonaXimenesPontesdoLABCAM,tratamdas formas tradicionais de construção de cidades na Amazônia, nas várzeas de rios, comocontraposição e, ao mesmo alternativa possível, ao padrão contemporâneo de construção decidadecapitalistaqueseinstalaesereproduztambémnessaregião.

Aterceiraapresentação,deMarcelo AugustodosSantosJunioreFabianoLopezSilvadaFVA,édedicada à construção de um Índice Global de Risco Socioambiental (IGRSA) que os autores

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propõem para analisar padrões de urbanização e qualidade nos municípios da RegiãoMetropolitanadeManaus,demodoasubsidiaroprocessodeplanejamentourbanoeterritorial.

Por fim, Luís Eustórgio, Secretário Municipal de Meio Ambiente de Bragança (PA) e primeiropresidente do Fórum de SecretáriosMunicipais deMeio Ambiente do Estado do Pará, explanasobreavançosedesafiosdoprocessodedescentralizaçãodolicenciamentoambiental,destacandoopapeldomunicípioparagestãoambientalapartirdaLC140de2011edonovoCódigoFlorestalde2012.

AQuestãodaTerraeoCenárioSocioambientalAtualnaAmazônia

HélioBeiroz,IBAM(InstitutoBrasileirodeAdministraçãoMunicipal),[email protected]

Aquestãoda terrae suaapropriação,naAmazônia, está cercadade características eprocessosquecausamimpactosnegativossobreocenáriosocioambientaldaregião.Háumarelaçãodiretaentreaproduçãodoespaçoagropastorileodesmatamento,aperdadesociobiodiversidadeeasmudanças climáticas adversas.O avanço da fronteira agropecuária tem comoplano de fundo aespeculação imobiliária executada, em parte muito significativa, através de práticas ilegais eirregulares,ondesedestacaagrilagemdeterras.Osdesafiosdeplanejamento,monitoramentoegestão fundiárianaAmazôniaestáassociadadiretamenteao rompimentodociclo caracterizadopela: i) exploração demadeira através de corte seletivo; ii) grilagem e apropriação ilegítima deterras; iii) exploração de madeira por corte raso; iv) implantação de pecuária extensiva; v)implantaçãodemonoculturas–principalmentesoja.Ao longodasetapasdesseprocessoàterravaiseagregandovalor,postoquea“florestaempé”émenosvalorizadaquea terra“limpa”.Apossibilidade de regularização das terras que foram sujeitas a práticas irregulares/ilegais deapropriação, acaba tendo como resultado um incremento na valorização dos lotes oriundos depráticas ilegais, posto que viabilizam a sua entrada no mercado formal de terras, para sercomercializado regularmente. Apesar de a regularização fundiária ser imprescindível para seenfrentardiversosproblemasdeordemsocioambientalesocioeconômica,casonãosejarealizadadeformamuitocriteriosa,acabacolaborandoparaaespeculaçãoimobiliáriaeagravaaspressõessobreomeioambienteerecursosnaturaisdaAmazônia.

UrbanizaçãoemáreasdevárzeanaAmazônia

RobertaMenezesRodrigues,UniversidadeFederaldoPará–UFPA,[email protected]

JulianoPamplonaXimenesPonte,PPGAU,UniversidadeFederaldoPará–UFPA,[email protected]

Todas as cidades seculares mais antigas da Amazônia brasileira são ribeirinhas, lacustres,estuarinas ou litorâneas. Todas essas cidades, núcleos urbanos mais antigos da região,frequentemente assentadas sobre antigos aldeamentos indígenas, eventualmente comportandomilhares de pessoas como população. O acesso à água é um requisito histórico da ocupaçãoterritorialhumananaregião.Ascidadesqueseestruturaramapartirdestacondiçãofisiográfica,

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frequentemente associando portos, feiras e mercados públicos, garantiam seu papel deentrepostocomercialarticuladoaumaredeurbanademercadorias,bens,serviçosepessoas.Ospadrõestecnológicos,morfológicosesocioeconômicosdaurbanizaçãocontemporânea,contudo,apresentam graves contradições diante da lógica compreensiva, tradicional e cabocla, deassentamento nas áreas ribeirinhas e assemelhadas da região. As formas tradicionais deassentamento, menos sujeitas a impactos negativos das variações de níveis das águas, dasazonalidade e das chuvas, são progressivamente abandonadas em direção a padrõeshegemônicos,baseadosempavimentoscomooconcretociclópicoeosdiversostiposdeasfalto.Tais tecnologias, viáveis comercialmente e tornadas de grande escala na produção industrial,impermeabilizamosolo,reduzemaindamaisasjábaixasdeclividadesmédiasdesítiodaregiãoe,portanto, implicamem supressão vegetal.OpadrãoespeculativodaexpansãourbananoBrasil,criandomanchas urbanas espraiadas com hiato de infraestrutura e áreas de moradia precária,tendeaagravaresteproblema.Destemodo,discute-seapossibilidadedeassociararevisitaçãodetécnicastradicionais,reabilitadascomocompreensivasounão-estruturais,atécnicastradicionaiscaboclas,regionais,demodoafazerumacríticaàsformasetécnicasdaurbanizaçãonaAmazôniae, ao mesmo tempo, propor diretrizes urbanísticas de intervenção, relativas a seu aspectosocioambiental.

Mapeamento para omonitoramento de Riscos Socioambientais naRegiãoMetropolitanadeManaus(RMM)

MarceloAugustodosSantosJunior,FVA(FundaçãoVitóriaAmazônica),[email protected]

FabianoLopezSilva,FVA(FundaçãoVitóriaAmazônica),[email protected]

ARegiãoMetropolitanadeManaus (RMM)éamaiormetrópoledaregiãoNortecom2.568.817habitantes destacada como a 11a maior aglomeração urbana brasileira. É composta pelosmunicípiosdeAutazes,Careiro,CareirodaVárzea,Iranduba,Itacoatiara,Itapiranga,Manacapuru,Manaquiri,Manaus,NovoAirão,PresidenteFigueiredo,RioPretodaEvaeSilves,edevidoasuavasta extensão territorial, processo histórico de ocupação e localização em meio a florestaamazônica,possuibaixadensidadedemográficaeacentuadasegregaçãosócioeconomica.Visandoo monitoramento de riscos socioambientais associados a processos de desenvolvimentoeconômico, crescimento urbano e padrões de uso e ocupação do solo, utilizamos análises deSistemadeInformaçõesGeográficaseSensoriamentoRemoto.Geramosíndicesaglomeradosemtrêseixoscentrais:ÍndicedeExposição(Índices:CoberturaVegetal,DesastresNaturais,FragilidadeAmbiental); Índice de Sensibilidade (Índices: Epidemiológico, Pobreza, SensibilidadeSóciodemográfica); e Índice de Capacidade Adaptativa (Índices: Estruturas Socioenômicas,Instituições,ServiçoseInfraestruturasparaadaptação,OrganizaçãoSociopolítica),ederivamosumÍndice Global de Risco Socioambiental (IGRSA) a partir destes três eixos. Concluimos que osmunicípiosdamargemdireitadosriosSolimõeseAmazonaspossuemmaiorriscosocioambiental,principalmente, por possuírem as maiores áreas relativas (km2) à: fitofisionomias de florestasalagáveis(várzeas),solosaluviais,edesmatamentoacumulado;asmaioresdensidadesdefocosdequeimadas e estradas, e as maiores proporções de casos, taxas de incidência e tendênciascrescentesdasepidemiologias.Comestes resultadose futuraspesquisas,esperamossubsidiaroplanejamento territorial, a gestão ambiental e a promoção, adequação emelhoria das politicaspúblicasrelativasàRegiãoMetropolitanadeManaus.

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Processo de Descentralização da Gestão Ambiental: desafios docontrole ambiental e gestão do território para as secretariasmunicipaisdemeioambiente

LuísEustórgio,SecretárioMunicipaldeMeioAmbientedeBragança–PAe1ºpresidentedoFórumdeSecretáriosMunicipaisdeMeioAmbientedoEstadodoPará,[email protected]

Nos anos recentes vem se delineando um significativo processo de descentralização da gestãoambiental, especialmente a partir da regulamentação das competências de controle ambientalmunicipal (LC 140/2011) e do novo Código Florestal (e implementação do Cadastro AmbientalRural, a partir de 2012). Para as secretarias municipais de meio ambiente esse processorepresentou um significativo ganho de responsabilidades e capacidade de intervenção, mastambémumgrande desafio. A proposta desta apresentação é refletir o significado e potenciaisconsequênciasdoprocessodedescentralizaçãodagestãoambiental,levandoemconsideraçãoascondiçõesinstitucionaisepossibilidadesdeatuaçãopolíticadossecretáriosdemunicipaisdemeioambiente do Estado do Pará. O enfreamento das questões ambientais e da apropriação doterritório a partir de outra escala implica numa profunda mudança dos leques de relações edispositivos de poder acionados por órgãos estatais e atores envolvidos nas disputassocioambientais.