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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DO PONTAL APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS PARA TERRITÓRIO NOTURNO RECREATIVO EM ITUIUTABA - MG Wattson Estevão Ferreira Graduado e Mestrando em Geografia Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Programa de Pós Graduação em Geografia do Pontal E-mail: [email protected] Resumo: No presente trabalho serão discutidas acerca de dois conceitos chave da geografia, o espaço e o território. Desta forma caminharemos a reflexão para o uso destes espaços em alguns pontos da cidade de Ituiutaba MG. O objetivo do trabalho será discutir a questão da apropriação e utilização dos espaços públicos para os territórios de lazer noturno. Nesse sentido, utilizaremos o estudo de caso como percurso metodológico, que de acordo com Trivinõs (1987), este é uma categoria de pesquisa em que o objeto é analisado em sua profundidade e devido à complexidade do estudo, o investigador é beneficiado, pois serve de orientação para o seu trabalho. Sendo assim na primeira parte trataremos dos conceituais teóricos que tratam dos espaços públicos, da questão do território e territorialidade. Em seguida uma apresentação dos espaços públicos utilizados neste estudo de caso e posteriormente as considerações do trabalho e suas referências. Diante da contextualização dos espaços públicos e território, nos amparamos na visão de território relatada por Raffestin (1993), que é a mais adequada, e sintetiza o nosso estudo de caso. Percebemos a criação de alguns territórios de lazer noturno da cidade de Ituiutaba MG, utilizando dos espaços públicos, que assume um novo tipo de uso durante o período de atividade dos empreendimentos que ocupam estes espaços, estabelecendo novas relações sociais, e vinculando a estes, o conceito de territórios noturnos de lazer. Palavras chave: Território. Espaços Públicos. Estudo de caso. Introdução

APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS PARA TERRITÓRIO … · Nesse sentido, utilizaremos o estudo de caso como percurso metodológico, que de acordo com Trivinõs (1987), o estudo

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Page 1: APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS PARA TERRITÓRIO … · Nesse sentido, utilizaremos o estudo de caso como percurso metodológico, que de acordo com Trivinõs (1987), o estudo

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DO PONTAL

APROPRIAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS PARA TERRITÓRIO

NOTURNO RECREATIVO EM ITUIUTABA - MG

Wattson Estevão Ferreira Graduado e Mestrando em Geografia

Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Programa de Pós Graduação em Geografia do Pontal

E-mail: [email protected]

Resumo:

No presente trabalho serão discutidas acerca de dois conceitos chave da geografia, o espaço e o

território. Desta forma caminharemos a reflexão para o uso destes espaços em alguns pontos da

cidade de Ituiutaba – MG. O objetivo do trabalho será discutir a questão da apropriação e

utilização dos espaços públicos para os territórios de lazer noturno. Nesse sentido, utilizaremos

o estudo de caso como percurso metodológico, que de acordo com Trivinõs (1987), este é uma

categoria de pesquisa em que o objeto é analisado em sua profundidade e devido à

complexidade do estudo, o investigador é beneficiado, pois serve de orientação para o seu

trabalho. Sendo assim na primeira parte trataremos dos conceituais teóricos que tratam dos

espaços públicos, da questão do território e territorialidade. Em seguida uma apresentação dos

espaços públicos utilizados neste estudo de caso e posteriormente as considerações do trabalho e

suas referências. Diante da contextualização dos espaços públicos e território, nos amparamos

na visão de território relatada por Raffestin (1993), que é a mais adequada, e sintetiza o nosso

estudo de caso. Percebemos a criação de alguns territórios de lazer noturno da cidade de

Ituiutaba – MG, utilizando dos espaços públicos, que assume um novo tipo de uso durante o

período de atividade dos empreendimentos que ocupam estes espaços, estabelecendo novas

relações sociais, e vinculando a estes, o conceito de territórios noturnos de lazer.

Palavras chave: Território. Espaços Públicos. Estudo de caso.

Introdução

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No presente trabalho serão discutidas acerca de dois conceitos chave da

geografia, o espaço e o território. Sendo o primeiro um ponto que não podemos fugir ao

abordar os espaços públicos e a construção deste, já no segundo a criação dos territórios

do lazer noturno e a territorialidade.

O interesse para essa discussão, surgiu por conta de questionamentos durante

algumas observações da localização do lazer noturno da cidade de Ituiutaba-MG. É

cada vez mais comum observarmos a apropriação de espaços públicos para diversas

finalidades, feiras, comércio itinerante, promoção de eventos, palestras e entre outras.

Diante deste contexto, nos apropriaremos da questão do lazer noturno, discutindo a

apropriação desses espaços e transformando-os em territórios noturnos recreativos.

Desta forma caminharemos a reflexão para o uso destes espaços em alguns

pontos da cidade de Ituiutaba – MG, neste que durante o dia tem uso diferente do

período da noite, ou simplesmente só são utilizados durante as atividades de lazer

noturno.

O objetivo do trabalho será discutir a questão da apropriação e utilização dos

espaços públicos para os territórios de lazer noturno, e por meio deste estudo realizamos

algumas observações nesses espaços durante a noite, registraremos algumas fotografia

para ilustrar estas observações e caminharemos para posterior análise.

Nesse sentido, utilizaremos o estudo de caso como percurso metodológico, que

de acordo com Trivinõs (1987), o estudo de caso é uma categoria de pesquisa em que o

objeto é analisado em sua profundidade e devido à complexidade do estudo, o

investigador é beneficiado, pois serve de orientação para o seu trabalho.

Desta forma partiremos de um levantamento dos espaços públicos que ocorrem à

apropriação noturna para o lazer, realizamos algumas observações da ocupação nos

espaços utilizados como objeto de análise. Sendo assim na primeira parte trataremos dos

conceituais teóricos que tratam dos espaços públicos, da questão do território e

territorialidade. Em seguida uma apresentação dos espaços públicos utilizados neste

estudo de caso e posteriormente as considerações do trabalho e suas referências.

I

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Espaços públicos território e territorialidade

Almejando contextualizar o uso dos espaços públicos, faz-se necessário

conceituar estes, em específico as praças, e o que é realmente considerado como

público, Robba e Macedo (2002) caracterizam como ‘espaços livres públicos urbanos

destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de

veículos’.

De acordo com Carneiro e Mesquista (2000):

Praças são espaços livres públicos, com função de convívio social, inseridos

na malha urbana como elemento organizador da circulação e de amenização

pública, com área equivalente à da quadra, geralmente contendo expressiva

cobertura vegetal, mobiliário lúdico, canteiros e bancos ( p.29).

Nas praças é comum observar atividades recreativas envolvendo, sobretudo o

comércio gastronômico noturno que utilizam dos espaços desta para desenvolver suas

atividades, podendo considerar que este seja um território, que de acordo com Santos e

Becker (2007)

[...] Território é o espaço das experiências vividas, onde as

relações entre atores (...), são relações permeadas pelos

sentimentos e pelos simbolismos atribuídos aos lugares. São

espaços apropriados por meios de práticas que lhes garantem

uma certa identidade social/cultural (p. 109).

Sendo assim, forma-se o conceito de território é composto por meio do

sentimento de posse que grupos ou indivíduos assumem em relação ao espaço de

vivência, constituindo uma noção de territorialidade, conceito que não trataremos em

sua essência, pois Segundo Raffestin (1993) “a análise da territorialidade só é possível pela

apreensão das relações reais recolocadas em seu contexto sócio-histórico e espaço-temporal”.

Neste sentido a territorialidade baseia-se na construção de laços de amizade e

afeto entre os frequentadores dos espaços públicos, construindo uma relação de

identidade com o lugar, sendo assim as novas relações sociais estabelecem a elaboração

da territorialidade aplicada a estes territórios.

Na tentativa de buscar um entendimento do conceito de território precisamos

analisar diversas concepções diferentes das abordagens deste ao longo do tempo. São

vários os autores e intelectuais das correntes do pensamento que interpretam o discurso

conceitual para contribuir na sua compreensão.

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Haesbaet (2006) contribui ressaltando que o território é um dos principais

conceitos quanto buscamos responder problemáticas na relação sociedade e espaço.

Ainda de acordo com o autor ele relata que:

Apesar de ser um conceito central para a geografia, território e

territorialidade, por dizerem respeito à espacialidade humana, têm certa

tradição também em outras áreas, cada uma com um enfoque centrado em

uma determinada perspectiva. Enquanto o geógrafo tende a enfatizar a

materialidade do território, em suas múltiplas dimensões (que deveria incluir

a interação sociedade-natureza), a ciência política enfatiza sua construção a

partir de relações de poder (na maioria das vezes, ligada à concepção de

Estado); a economia, que prefere a noção de espaço à de território, percebe-o

muitas vezes como um fator locacional ou como uma das bases da produção

(enquanto força produtiva); a antropologia destaca sua dimensão simbólica,

principalmente no estudo das sociedades ditas tradicionais; a sociologia o

enfoca a partir de sua intervenção nas relações sociais, em sentido amplo; e a

psicologia, finalmente, incorpora-o no debate sobre a construção da

subjetividade ou da identidade pessoal, ampliando-o até a escala do indivíduo

(Haesbaert, 2006, p. 37).

II

Espaços públicos durante o dia e Território de lazer noturno em Ituiutaba – MG

Diante da contextualização dos espaços públicos e território, nos amparamos na

visão de território relatada por Raffestin (1993), que é a mais adequada, e sintetiza o

nosso estudo de caso, que diz:

O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida

por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível,

ao se apropriar de um espaço concreto ou abstratamente (por exemplo, pela

representação) o ator ”territorializa” o espaço.

Neste sentido, aplicamos o conhecimento teórico, com a realidade observada na

cidade de Ituiutaba – MG.

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Figura 01: Restaurante utilizando o canteiro central

Fonte: autoria própria.

Localizado na Rua 18 com a 33, o restaurante Momentu’s expande seu espaço

utilizando do canteiro central por meio da ocupação das mesas para receber a população

local e regional durante a noite para que os mesmos possam se divertir e se alimentar

conforme nos mostra a figura 1, construindo no espaço as relações sociais,

territorializando, conforme mencionado anteriormente na visão de Raffestin, 1993.

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Figura 02: Utilização da praça

Fonte: autoria própria.

Na praça da avenida 17 está instalada um pequeno empreendimento que

comercializa refeições noturnas: jantinhas, sucos e refrigerantes, é um ótimo lugar para

as famílias do bairro e dos arredores, que intensifica o tempo de permanência na praça.

Seguindo desta forma na mesma tendência de construção de território.

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Figura 03: Utilização da calçada no entorno da praça

Fonte: autoria própria.

Na Praça 13 de maio, encontramos um lanchinho denominado Cebolinha

Lanches,instalada em sua calçada. Durante a maioria das noites várias pessoas se

deslocam até a praça para fazerem um lanche, conversarem, brincarem, se divertirem.

Um aspecto importante observado é a presença de crianças que estão acompanhadas de

seus pais e realizando a alimentação neste espaço principalmente nos dias de missa na

igreja.

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Figura 04: Utilização da praça

Fonte: autoria própria.

O bar do Carlão se localiza em frente à praça 13 de maio, nos finais de tarde e

noite são espalhadas cadeiras e mesas no entorno da praça que são ocupadas na maioria

das vezes em sua totalidade , por jovens, casais, adultos, que se divertem e se

alimentam. Possui grande relevância para o público universitário.

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Figura 05: Utilização da praça central para atividade comercial noturna

Fonte: autoria própria.

O local é um ponto de centralidade o que facilita o acesso das pessoas de outros

bairros da cidade por cota da localização no centro e próxima ao ponto de ônibus. Todas

as noites várias lanchinhos se instalam na praça para a comercialização de cachorro

quente, sucos e refrigerantes, o que atrai grande quantidade de pessoas, sendo umas das

formas de utilização e ocupação do espaço público, que vem a ser considerado como um

território de lazer noturno na área central da cidade.

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Figura 06: Utilização do Canteiro central da Avenida Marginal

Fonte: autoria própria.

Avenida Marginal é caracterizada como um espaço público de grande

importância no contexto da cidade de Ituiutaba possui uma extensa pista de caminhada e

alguns equipamentos utilizados para prática de atividade física. Durante a sua extensão

observamos algumas lanchonetes, pizzaria, boate, dentre outros. De acordo com a

figura 06 que nos permite observar o Fominha Lanches que no período da noite distribui

algumas mesas no canteiro central para que as pessoas possam lanchar, conversar, ouvir

música, dentre outras atividades, o que aumenta a ocupação desse espaço público e o

torna mais atraente ao público.

Conclusão

Abordar sobre os conceitos da geografia, aplicando a teoria com a realidade

torna-se um trabalho bastante complexo por conta das diversas teorias utilizadas pelos

grandes pensadores das escolas geográficas, no entanto, aproximar as informações da

teoria auxilia bastante na compreensão destes conceitos.

Percebemos, durante as observações, a criação de alguns territórios de lazer

noturno da cidade de Ituiutaba – MG, utilizando dos espaços públicos, que assume um

novo tipo de uso durante o período de atividade dos empreendimentos que ocupam estes

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espaços, estabelecendo novas relações sociais, e vinculando a estes, o conceito de

territórios noturnos de lazer, no entanto estes territórios estabelecem uma nova forma de

uso durante a noite, não sendo público, no ponto de vista que não é público o consumo

ligado às atividades de lazer aplicadas nestes espaços.

Referências

CARNEIRO, A. R. S.; MESQUITA, L. B. Espaços livres do Recife. Recife: Prefeitura

da Cidade do Recife/ Universidade Federal de Pernambuco, 2000.

HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização:do 'fim dos territórios' à

multiterritorialidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

LAVILLE, C., DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da

pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. 269 p.

ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras. São Paulo: Editora da Universidade

de São Paulo - Imprensa Oficial do Estado, 2002.

SANTOS, M e BECKER, B (org.). Território, territórios: ensaios sobre o

ordenamento territorial. Lamparina, 2007. 3ª Ed

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa

em educação. São Paulo, Atlas, 1987.