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Trabalho 1 - História das Religiões . Professor: Leandro Karnal Rodrigo Kenji Ciampi - 141577 Comparando o sermão da montanha e Bhagavad-gita: Estabelecer comparações entre duas crenças de diferentes matrizes é um trabalho ardiloso e a que exige muito cuidado na tentativa de superar a ideia de fenomenologia apresentada pelo intelectual romeno Elidae de um suposto “homus religiosus” na qual existe uma verdade final comum para que haja comparações entre as religiões. É necessário que admitamos certas barreiras de análise e comparação entre as crenças e que existem divergências que não cumprem seus pares opostos. Além disso, é necessário pontuar as diferenças entre versões e traduções do poema épico de Bhagavad-Gita ”: Pela enorme pluralidade de cultos à Krishna e a acentuada diferença estrutural entre o português e o sânscrito, as imprecisões e as diversidades nas escolhas de termos e vocábulos incorrem da fenomenologia de Elidae no sentido de sustentar algumas estruturas e temos “a-históricos, de linguagens simbólico-religiosas, em existências humanas perenes” para aproximação da compreensão. Simplificações de termos como “carma”, “alma” ou mesmo “Deus” podem ser problematizados em cada uma das diferentes traduções e suas entropias que ocorrem menor em incidência nas

Aproximando: Sermão Das Montanha e Bhagavad Gita

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Page 1: Aproximando: Sermão Das Montanha e Bhagavad Gita

Trabalho 1 - História das Religiões .

Professor: Leandro Karnal

Rodrigo Kenji Ciampi - 141577

Comparando o sermão da montanha e Bhagavad-gita:

Estabelecer comparações entre duas crenças de diferentes matrizes é um

trabalho ardiloso e a que exige muito cuidado na tentativa de superar a ideia de

fenomenologia apresentada pelo intelectual romeno Elidae de um suposto “homus

religiosus” na qual existe uma verdade final comum para que haja comparações entre

as religiões. É necessário que admitamos certas barreiras de análise e comparação

entre as crenças e que existem divergências que não cumprem seus pares opostos.

Além disso, é necessário pontuar as diferenças entre versões e traduções do

poema épico de Bhagavad-Gita ”: Pela enorme pluralidade de cultos à Krishna e a

acentuada diferença estrutural entre o português e o sânscrito, as imprecisões e as

diversidades nas escolhas de termos e vocábulos incorrem da fenomenologia de Elidae

no sentido de sustentar algumas estruturas e temos “a-históricos, de linguagens

simbólico-religiosas, em existências humanas perenes” para aproximação da

compreensão. Simplificações de termos como “carma”, “alma” ou mesmo “Deus”

podem ser problematizados em cada uma das diferentes traduções e suas entropias que

ocorrem menor em incidência nas traduções bíblicas, que mantém menores

divergências entre as traduções disponíveis. Para citações, são utilizados apenas

referências de “Bhagavad-gītā Como Ele É”, tradução disponibilizada pelo

Bhaktivedanta VedaBas.1

A renúncia completa -

A perseguição pela renúncia completa de si através da proposição de inversão

da mecânica das instituições para um olhar direto do indivíduo com um dado mundo

de forças superiores parece ser o fio condutor comum que se busca fundamentar em

ambos os textos - Quando Jesus evoca desafiar aquilo que foi dito sobre o amor aos

1 http://www.vedabase.com/pt-br/bg/3

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inimigos em “amém seus inimigos e rezem por aqueles que perseguem vocês” (Mt,

5:44) há um afastamento dos pensamentos comuns de ódio e o sentimento do amor

ganha força perante qualquer vontade do sujeito - o mesmo movimento parece estar

presente na da renúncia proposta por Krishna a Arjuna em renunciar do “trabalho de

suas obras” e lutar sem ter em mente orgulhos terrenos para manter a ação que lhe é

advinda em missão. (Canto II 18, 19, 20) - os ensinamentos do Bhagavad-gita nos

levam a mensagem de que o a ira e o ódio são os responsáveis pela criação da ilusão

mental que os indivíduos estão presos - e portanto, é apenas no abandono destes

valores de ódio, que florescerá a consciência “suprema” de Krishna em cada indivíduo

bem como na ideia contida com as maravilhas” do Reino dos céus que Deus condede

aos bens aventurados - é um exercício de recompensa pela renúncia aos valores

terrenos.

No entanto, é possível encontrar divergências nesta própria passagem e dizem

respeito aos valores estruturais para construção destes pensamentos:

as noções de impermanência ou inexistência dadas por um corpo material que é

impermante contidas nos escritos do Bhagavad-gita se distanciam da ideia de uma

conversão terrena “por que o reino do céu está próximo” (Mt, 4: 17). Não há no

hinduísmo possibilidade de conversão - mesmo por que, a conversão é uma ideia das

religiões monoteístas ocidentais - pois as missões já estão dadas: esta dimensão da

divina ação é essencial para compreender as noções de Amor e Justiça do Bhagavad-

gītā quando postas em comparação com as noções cristãs trazidas do sermão da

montanha

No monoteísmo cristão bíblica, Deus é único, onipotente, onisciente2 -

imaterial eterno e impessoal - e não é possível, portanto aproximar Krishna desta

concepção cristã de Deus - Krishna, se apresenta como a “verdade absoluta de todas

as coisas” ou propriamente “todas as coisas”. A tradição Hindu entende que somos

todos originalmente entidades conscientes de Krishna, portanto Krishna é tudo aquilo

que existe e não existe e ao contrário da passagem do sermão da montanha que traz

um Deus que clama pela pefeição e do amor pelo pai3, Krishna é em si só, tudo -

2 “Reze ao seu pai ocultamente; e o seu pai, que o vê escondido, recompensará você (Mt 6:6)3 “Sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu” (Mt, 5:46)

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portanto, regozijar-se ao eu, nesse sentido, é a unica possibilidade de abandono e

renúncia de tudo aquilo que é externo e tem origem na ilusão do fruto do apego.4

A ideia não é no todavia fazer crer do Bhagavad-gītā uma espécie de

“Evangelho dos Hindus” tampouco a sua mensagem poderia ser resumida em algo

como: “Só Krishna salva; Krishna é o caminho a verdade e a vida” (João 14:6) – mas

o inverso: trazer para o indivíduo a consciência e a virtude de possuir Krishna dentro

de si e ter de manter as práticas em regozijo a mim, ao Eu (que é Krishna em

potencial) para sua equanimidade de existência - no Sermão da Montanha, a devoção é

externa: a tentativa de ser “perfeito como é o pai (...) que está no céu” (Mt 5:48)

A prática constante a Justiça das ações:

A parte principal do sermão dos montes sobre a natureza da Justiça traz Jesus

enquanto a figura que vem exigir o cumprimento da lei e não sua destruição - e o tom

incisivo que conclama o esforço para manutenção da “regra de ouro” e da fuga dos

hipocritas - “Tudo o que desejam o que os outros façam a vocês, façam vocês também

a eles” - ou seja, não é parecer bom, ou mostrar-se piedoso, mas ser e viver focado na

recompensa final: o reino dos céus.

A justiça cristã parece estar calcada numa vontade “pacifista” e na crença pela

verdade daqueles que tem fé - A busca pela prática correta tem peso semelhante em

Bhagavad-gītā: há certa aproximação entre o canto do “Pai Nosso” que é o

instrumento da prática da fé na relação com Deus (Mt 6:7, Mt 6 21) e a prática yoga -

“O homem prudente não é aquele que ouviu e compreendeu, mas aquele que pratica. ”

Assim a prática da yoga é trazida como a via prática da busca pelo equilíbrio das boas

ações.

Mas para compreender essas boas ações e compreender uma certa noção de

Justiça do Bhagavad Gita é preciso distinguir o que é colocado como ação da ação

proibida e da inação para os ensinamentos de Krishna. “Todos são irremediavelmente

forçados a agir segundo as qualidades que adquirem dos modos da natureza material;

portanto, ninguém pode deixar de fazer algo, nem mesmo por um momento.” (Canto

4 Bhagavad-gītā (Canto II - 52)

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III : 5). O homem ideal do Hindu, é aquele que se liberta do fluxo dos desejos e é

impassível às emoções que lhe inflam: não há alegria nem depressão perante seu

trabalho – apenas a força de realiza-lo de maneira devocional, para a iluminação da

consciência do Eu.

Assim, finalmente Krishna demonstra para Arjuna que o destino do justo era

lutar e fazer a guerra acontecer para cumprir a missão real de seu povo, livre do apego

terreno e focado com a mente em yoga (consciência de Krishna) - lógica

completamente inversa ao oferece sua face ao ser golpeado (Mt 5: 38-39) e busca

completa inanição diante de ações proibidas.

Bibliografia:

Mendonça, Maria Luiza Vianna Pessoa de

A concepção eliadiana da fenomenologia da religião sob a

perspectiva do método / Maria Luiza Vianna Pessoa de Mendonça.

Belo Horizonte, 2012.

SILVA, Eliane Moura - A fenomenologia de Mircea Eliade, a escola romana de história das religiões e

a história cultural in RELIGIOES E IDENTIDADES JÉRRI ROBERTO MARI(og.) Dourados : Ed.

UFGD, 2012

(acessado em: 28/08/2015:

http://www.clacso.org.ar/libreria_cm/archivos/pdf_104.pdf)

Versões de Bhagad Gita:

http://www.vedabase.com/pt-br/bg/3

http://www.culturabrasil.org/zip/bhagavadgita.pdf

Versões da Bíblia:

Bíblia de Jerusalém:

www.bibliaonline.net