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ÁREA TEMÁTICA: Secção Trabalho, Organizações e Profissões [ST5]
ANALISANDO A DIVERSIDADE NO TRABALHO DOCENTE: DIMENSÕES DE
GÊNERO/CLASSE NO ENSINO SUPERIOR
SANTANA CRUZ, Maria Helena
Doutora em Educação
Universidade Federal de Sergipe
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Palavras-chave: Trabalho Docente; Ensino Superior; Gênero; Diversidade.
Keywords: Teaching; Higher Education; Gender; Diversity.
[ PAP0155]
Resumo Esta pesquisa analisa as relações de gênero, os fatores que impulsionam docentes mulheres e homens
a seguir no exercício do trabalho na Universidade Federal de Sergipe (Brasil), as experiências vividas,
as mensagens que obtêm no cotidiano, como possibilidade de se repensar a dimensão formativa, os
desafios enfrentados no contexto do ensino superior. Antecipou-se a hipótese de que as relações de
gênero no trabalho docente no contexto de uma universidade federal ensejam o tratamento das
diferenças para a construção de um mundo igual, o que implica a ética da alteridade. A opção
metodológica recaiu sobre a pesquisa qualitativa de inspiração etnográfica, para obter saberes de
professores (não limitados a conteúdos que dependeriam de um conhecimento especializado) sobre o
trabalho produtivo-reprodutivo, as assimetrias entre os gêneros com reflexos na vida familiar e profissional, entre outros domínios. Consultaram-se diferentes fontes de informação, priorizando-se a
entrevista semi-estruturada com 16 professores (10 mulheres e seis homens) de várias áreas do
conhecimento nos três campi. Os resultados informam que as trajetórias de formação e trabalho das/os
docentes mostram-se diversificadas no início de suas carreiras. As concepções mais igualitárias, no
espaço das relações de gênero no ensino superior estariam diretamente relacionadas, na ação feminina,
à ampliação do universo de escolhas e ao maior investimento na própria qualificação e na vida
profissional.
Abstract
This research examines gender relations, the factors that drive men and women teachers to follow
in carrying out the work at the Federal University of Sergipe (Brazil), the experiences, the
messages they get in everyday life, as a possibility of rethinking the formative dimension, the challenges put in the context of higher education. The hypothesis that gender relations in teaching in
the context of a federal university create the treatment of differences to build an equal world, which
implies the ethics of alterity. The methodological choice fell on a qualitative study of ethnographic
inspiration, to get knowledge of teachers (not limited to content that depend on specialized
knowledge) on the productive and reproductive work, the gap between genders with reflections on
professional and family lives, among other areas. Various sources of information were used, with
given priority to semi-structured interviews with 16 teachers (10 women and six men) from
various areas of knowledge in the three campuses. The results inform that the trajectories of formation
and work of male and female teacher are diverse early in their careers. The most equalitarian
conceptions, in the space of gender relations in higher education are directly related, in women´s
action, to the expansion of choices and to a higher dose of investment in their own qualification and
in their professional lives.
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1 INTRODUÇÃO
O estado neoliberal vem definindo políticas educativas identificadas com a base econômica de produção.
Esta pesquisa, sob a perspectiva de gênero, aborda a problemática do trabalho docente, no contexto do ensino
superior (IES), particularmente na Universidade Federal de Sergipe (UFS), devido aos inúmeros desafios que
esse profissional tem enfrentado no constante processo de busca pela qualidade da educação; objetivou
analisar os fatores que impulsionam mulheres e homens a seguir no exercício do trabalho docente, as
experiências, as mensagens que obtêm no cotidiano, os desafios e obstáculos enfrentados no contexto da
educação superior. As/os docentes de nível universitário, compõem um grupo mais elitizado, que personifica
muitos avanços recentemente alcançados nas relações de gênero mais igualitárias, mas também expressa
conflitos e contradições intrínsecas a qualquer processo de mudança social.
Nas instituições de ensino superior, o processo regulatório visa a garantir a permanência de práticas
pedagógicas consolidadas tradicionalmente, incluindo os conceitos de controle e poder. Conforme Bernstein
“o controle estabelece formas de comunicação legítimas e o poder, as relações legítimas entre categoria”
(BERNSTEIN, 1998, p.37).
A universidade com sua preocupação de universalidade, se constitui como que o bastião da uniformidade de
ordenação da transmissão e globalização dos conteúdos e processos que se revelam, algumas vezes, pouco
adequados ao quadro atual em que se inserem. (CORTESÃO, 2000). A docência engloba uma
heterogeneidade de ações desenvolvidas pelos professores (além do espaço da sala de aula) voltadas
prioritariamente à formação de futuros profissionais, sustentadas por conhecimentos e saberes próprios, e
alicerçadas em relações interpessoais e vivências de cunho afetivo, valorativo e ético, indicando que “a
atividade docente não se esgota na dimensão técnica, mas, remete ao que de mais pessoal existe em cada
professor” (ISAIA, 2003, p. 245). O trabalho docente é compreendido como “campo acadêmico” e “campo
de saber”, que, a partir da lógica bourdieusianai, constitui-se em um espaço de disputa.
As relações de gênero no trabalho docente no contexto de uma universidade federal ensejam o tratamento
das diferenças, as relações hierárquicas, de opressão, submissão, subordinação, ou seja, as relações de poder,
construídas entre os homens e as mulheres. Retoma-se ao conceito de gênero de Joan Scott (1990) usando
quatro elementos: a) símbolos culturais; b) os conceitos normativos; c) o gênero como expressão de noções
políticas e econômicas, e d) a identidade subjetiva de gênero. Por seu turno, o conceito de gênero não só nos
permite contrariar o argumento biológico enquanto base de sustentação da segregação dos papéis sexuais,
como nos proporciona uma lente de leitura importante para a compreensão dos diferentes processos de
interação social. A identidade das/os docentes neste estudo é concebida como algo mutável, como aquilo que
faz referência a um processo social através do qual surge ‘consciência do eu em contraste com a do outro’,
dependendo da subjetividade de um sujeito que não é, senão que ‘vem sendo’. Para Giddens (2002), a
construção de identidade se dá quando o eu se converte em um projeto reflexivo e se produz em um
momento em que se coloca uma relação dialética entre as tendências globalizadoras da modernidade, o que o
autor denomina transformações da intimidade, manifestando-se na quotidianidade.
Foram pensados supostos hipotéticos que permitem entrever um conhecimento prévio – talvez empírico e
documental – sobre a construção da identidade de gênero da/o docente universitária: O primeiro suposto é de
que a ressignificação de gênero – intuitiva e/ou reflexivamente – leva a mulher a práticas inovadoras na
concepção e assunção de gestão educativa de nível superior em todas as áreas (docência, administração,
investigação e extensão). O segundo suposto é de que os homens adotam posturas educativas inovadoras
partindo da racionalização dos modelos institucionais. E o terceiro suposto nos diz que ambos os gêneros
respondem aos processos de mudanças demandados pela sociedade. A diferença radica em que a mulher vive
um processo de si mesma manifestando-o em ações entretecidas com demandas contextualizadas de
mudanças, enquanto o homem assume o dito processo de mudança segundo a ordem institucional imperante
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2 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA
Os estudos de gênero priorizam metodologias qualitativas para interpretar mecanismos de
discriminação/exclusão social, estereótipos construídos nos processos de educação/socialização que
interatuam potenciando os de gênero (idade, nível educativo, etnia, pobreza, violência, etc.). Neste sentido, a
opção metodológica recaiu sobre a pesquisa qualitativa de inspiração etnográfica, visando a obter saberes de
professores (não limitados a conteúdos que dependeriam de um conhecimento especializado) que abrangem
uma diversidade de objetos, de questões, de problemas relacionados com o seu trabalho. Adotou-se o suporte
teórico da abordagem sócio-histórica, com base em ideias de vários autores dentre outros, citem-se: Josso
(2002; 2008) e Passeggi (2008), que teorizam sob a perspectiva adotada, enfatizando-se a compreensão dos
fenômenos a partir de seu acontecer histórico, cujo particular é considerado uma instância da totalidade
social. A História Oral mostrou-se uma ferramenta importante, por meio do estudo das biografias, história de
vida (QUEIROZ, 1988), das reminiscências que colaboram para a constituição da memória histórica,
presentes na seletividade e no esquecimento para uma interpretação das representações, valores e costumes
dos próprios docentes, contando suas histórias, com suas próprias palavras, sem a medição de outros.
O trabalho de campo desenvolveu-se no contexto da Universidade Federal de Sergipe nos campi de São
Cristóvão, Itabaiana e Laranjeiras, com um número significativo de docentes (homens e mulheres) em
diversas áreas do saber. A UFS constitui, portanto, um importante espaço na construção do sentido dos
saberes, no exame do desenrolar da carreira dos indivíduos, da maneira como foram tomadas as decisões, em
cada momento importante da orientação profissional dos interessados. (COULON, 1995). Consultaram-se
diferentes fontes de informação: revisão da literatura pertinente ao tema/objeto da pesquisa; documentos do
Centro de Processamento de Dados (CPD) e do Departamento Acadêmico (DAA); estatísticas de institutos
de pesquisa (IPEA/IBGE), desagregadas por sexo, e de dados dos grupos de pesquisa cadastrados no
Diretório do CNPq e da COPES/UFS, priorizando-se a realização da entrevista semi-estruturada ou
parcialmente estruturada, com base em um roteiro básico de temas/categorias com múltiplas dimensões e/ou
componentes sobre os espaços/ação docentes. Nos depoimentos/discursos, adotou-se s a análise de conteúdo
hermenêutica–dialética da produção, um conjunto de técnicas de análise de comunicação para obter, através
de procedimentos sistemáticos, objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores
(quantitativos ou não) para a inferência de conhecimentos sobre as condições de produção/recepção das
mensagens (BARDIN, 1991). Compreendeu-se que, ao ser instigado a falar sobre suas concepções e
experiências, as/os docentes organizam o seu pensamento e utilizam a narrativa como processo reflexivoii.
3 BREVE HISTÓRICO DAS IES NO BRASILE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SERGIPE
Como colônia portuguesa, o Brasil enfrentou várias dificuldades para a criação de instituições de ensino
superior, não desfrutando, assim, de alguns incentivos que os outros países da América Latina recebiam por
serem colônias espanholas. No Brasil, inicialmente, surgiram as escolas superiores isoladas, principalmente
por iniciativas do Poder Central. Foram realizadas várias tentativas de criação de IES no Brasil,
principalmente no período de 1847 a 1870. Em 1881, começa uma nova ordem constitucional, permitindo
aos Estados a criação de IES, e passaram a existir as primeiras universidades no país.
Durante a vigência da Constituição de 1937, a União reconheceu as duas primeiras universidades (livres)
católicas do país: a Universidade Católica do Rio de Janeiro e a Universidade Católica de São Paulo. Pouco
depois, com a promulgação da Constituição de 1946, iniciou-se um processo de federalização de IES
existentes, o que daria origem às universidades federais. Após a Lei da Reforma Universitária de 1968,
registrou-se uma acentuada expansão do ensino superior no Brasil, viabilizada através de estabelecimentos
isolados. Na segunda metade da década de 60, do século XX, o governo militar se via numa situação difícil:
expandir o sistema educacional superior em virtude do grande número de excedentes após o vestibular.
Como solução para tal problema, o governo autorizou a criação de universidades por intermédio de
fundações, que se constituíam em entidades autossustentáveis, autônomas financeiramente, porém dirigidas e
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controladas administrativamente e ideologicamente pelo governo. Durante o período de 1968 a 1982, o
Brasil viveu dois momentos do desenvolvimento de IES no país: de 1968 a 1974 o país teve um exuberante
crescimento de IES, já no período de 1975 a 1982, o país teve uma desaceleração, surgindo bem menos IES
que no período anterior.
O Ensino Superior no Estado de Sergipe foi iniciado em 1920, vindo a funcionar em 1950 com a criação das
Escolas de Ciências Econômicas e de Química, a Faculdade de Direito e a Faculdade Católica de Filosofia,
em 1951. Em 1954 criava-se a Escola de Serviço Social e em 1961 a Faculdade de Ciências Médicas. Com
esse número de escolas superiores foi possível pleitear a criação de uma universidade em Sergipe. Através da
Lei n. 1.194 de 11 de julho de 1963, o Governo do Estado de Sergipe autorizou a transferência dos
estabelecimentos de ensino superior existentes no Estado para a Fundação Universidade Federal de Sergipe,
ora em organização pelo Governo Federal. Quatro anos depois, em 28 de fevereiro de 1967, foi instituída a
Fundação Universidade Federal de Sergipe, através do Decreto-Lei n. 269 e instalada em 15 de maio de
1968, com a incorporação de seis escolas superiores ou faculdades que ministravam dez cursos
administrados por cinco faculdades e cinco institutos. Em decorrência da Reforma Universitária Brasileira
foram criados quatro centros acadêmicos que coordenam atualmente 26 departamentos e 103 cursos. Seu
corpo discente evoluiu de 638, no ano da sua criação, para 10.375 até a presente data. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE, 2010).
A UFS é a principal instituição de ensino superior de Sergipe, chega a 2011 com 43 anos, idade que a torna
importante para a população local, não apenas por seu período de existência, mas também porque ao longo
dessas quatro décadas de sua trajetória de vida esteve diretamente vinculada ao desenvolvimento do Estado.
Ela [a UFS], instituída em 15 de maio de 1968, reunia as seis faculdades já existentes, visando a interpretar
as aspirações locais, articular-se em âmbito regional e nacional, traçar uma história de dedicação e
compromisso com a sociedade, trazendo para Sergipe a autoridade intelectual da razão, ciência, progresso,
da competência e da meritocracia.
À medida que o trabalho do docente no ensino superior se constitui por sua refletividade, ele pode assumir,
com autonomia, a responsabilidade pelo próprio desenvolvimento profissional, participar, com empenho e
competência, da implementação de políticas e propostas educativas crítico-reflexivas. Particularmente,
compreendeu-se que o silêncio das mulheres tem a característica de não ser indiferente à diferença. Ou seja,
o silêncio, junto com a diferença, “é a expressão de uma sociologia das ausências, uma construção que se
afirma como sintoma de um bloqueio, de uma potencialidade que não pode ser desenvolvida” (SANTOS,
2000, p.30).
Com o início de um movimento social que se tornou marco histórico da atuação da mulher na História, por
meio do movimento feminista que ganhou projeção mundial nos anos de 1960, mudanças efetivas se
materializaram no mercado de trabalho. Desde a Revolução Industrial e a estruturação do capitalismo, no
século XIX, as mulheres representavam uma mão de obra atrativa devido ao baixo custo do seu trabalho.
Com o desenvolvimento do maquinismo, as profissões qualificadas, que necessitam trabalhadores com maior
preparo, delimitaram ainda mais a atuação feminina. A fundamentação naturalista do século XIX – que
organizou as esferas públicas e privadas identificadas com os sexos – foi, segundo Perrot (2005), a base da
organização racional da sociedade capitalista.
Atendendo a uma demanda do mercado de trabalho, a universidade desempenha uma função que Foucault
(1988) compreende por seletiva, não apenas de sujeitos, mas de saberes também. É uma atribuição que
caracteriza e normaliza o processo educacional brasileiro, por exemplo, conduzindo na direção da formação
profissional tecnológica – direcionada ao mercado – em detrimento da formação mais humanística
(características de cursos de ciências humanas e sociais). A formação humanística e técnica – proporcionada
por cursos superiores de bacharelados e tecnológicos – favorece as mulheres o ingresso em diversos espaços
do mercado de trabalho. Desde a teoria sociológicaiii
, se observa a subsistência de mecanismos que seguem
reproduzindo a tradicional construção das identidades femininas e masculinas, alguns dos quais atuam
vulnerando a autoconfiança de meninas e mulheres jovens para desempenhar-se academicamente.
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Ao romper os paradigmas da identidade única – social ou sexual –, as mulheres podem transpor os limites
dos discursos disciplinadores que antes balizavam as formações profissionais, questionando as estruturas
hierárquicas que sustentam as disparidades entre os gêneros no mercado de trabalho, onde elas integram
tradicionalmente a segregação hierárquica e a ocupação de posições secundárias. (CRUZ, 2005). O acesso da
mulher à elevada escolaridade formal condiciona sua participação na esfera pública, a modificação nas
relações de poder, o questionamento das relações patriarcais, discutindo fortemente a transformação do
tradicional projeto de vida dedicado ao trabalho reprodutivo e não remunerado e as relações de gênero
(ROSEMBERG ET AL., 1990). Conforme o Pnad/IBGE, o perfil da escolarização por gênero indica que em
todas as faixas de idade, as mulheres puxam para cima as taxas de escolarização. (PNAD/IBGE, 2008). A
percentagem de mulheres matriculadas em ensino superior subiu de 53,3%, em 2001, para 56,5%, em 2002.
A quantidade de alunas subiu de 833.949 para 1.964.649; no mesmo período, o total de alunos cresceu de
1.565.056 para 3.476.194. (INEP, 2006). As mulheres escolhem as áreas humanas, e predominantemente
chegam ao mercado, convenientemente normalizado, sem frequentemente questionar verdades postas que as
relegam ao segundo escalão.
Concebendo a sociedade de forma espacial, e não somente como uma estrutura de classe, a partir de uma
perspectiva relacional de posições que se constituem desde um processo de diferenciação progressiva,
Bourdieu (1998) entende que o espaço social é aquele onde os agentes, na forma individual ou em grupos,
são distribuídos em função da posição que ocupam. A distribuição se dá iniciando-se por princípios de
diferenciação que têm como base o capital econômico; o capital cultural, que classifica bens culturais em
sentido estrito, tais como música, arte, literatura, além de preferências relativas às praticas esportivas, hábitos
culinários, vestuário, mobília, etc., formado pelos padrões dominantes; e o capital social que é o conjunto de
relações sociais a exemplo dos laços de parentesco, de amizade, contatos profissionais, etc., sendo essas
espécies de capital, sempre distribuídas desigualmente - em razão do capital global -, entre diversos grupos,
assim como, dentro desses mesmos grupos de agentes.
O capital cultural e social a que se refere Bourdieu (2008) é simbólico, não tem natureza financeira, mas, sim
a função especifica de diferenciar os agentes no campo, compreendido como recorte ou parcela flexível
produzida no espaço social, decorrente da divisão social do trabalho e que aparece de formas diversas
(partilhados, sobrepostos, etc.). O capital simbólico é um tipo particular de capital que tem a finalidade, não
só de distinguir os agentes, mas, de funcionar como moeda de conhecimento e reconhecimento partilhada
dentro do mesmo espaço social e de diversos campos. As marcas da posição social do sujeito seriam
construídas por intermédio do gosto que, segundo o autor, é uma espécie de marcador de classe o qual tem
como finalidade precípua a distinção, permitindo separar e unir pessoas e, consequentemente, tecer
solidariedades ou construir divisões grupais de forma universal, interligando, por intermédio de um fio
invisível, os interesses de classe no todo ou em parte ou, ainda, posições relativas em cada campo.
4 PERFIL DAS/OS DOCENTES DA UFS EM 2010
Os docentes da UFS em 2010/2 integram 1.273 professores efetivos, sendo 723 homens e 550 mulheres,
informando que o número de homens ainda é superior ao de mulheres neste contexto estudado. O Campus de
São Cristóvão detém a maior percentagem de docentes efetivos, contabilizados em 1.116, sendo 628 homens
e 488 mulheres, enquanto o Campus de Itabaiana integra 106 docentes efetivos (68 homens e 38 mulheres),
comparativamente ao Campus de Laranjeiras com 51 docentes (27 homens 24 mulheres). No processo da
pesquisa foi construída uma amostra de respondentes dos três campi com a seguinte composição: São
Cristovão com 16 professores (10 mulheres e seis homens) de várias áreas do conhecimento: matemática,
física, administração, geografia, sociologia e educação; em Itabaiana foi composta uma amostra com 12
professores (oito mulheres e quatro homens) de diversas áreas: letras, biologia, ciências contábeis, geografia,
educação; em Laranjeiras a amostra integra oito docentes (três homens e cinco mulheres) dos cursos de
arqueologia, museologia, arquitetura e urbanismos, dança e teatro. Quanto à idade, homens e mulheres
inserem-se na faixa etária entre 30- 40 anos, e investem nos projetos de carreira e profissão. Quanto ao
estado civil, os docentes casados, em sua maioria, são homens. Apesar do número de docentes solteiras ser
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maior que o número de casadas, estas apresentam número consideravelmente alto, indicando que também
optaram por projetos familiares.
As estatísticas fornecidas pelo Departamento Pessoal (UFS,2009), sugerem barreiras para as mulheres
ascenderem a cargos mais importantes no âmbito universitário. Elas se destacam como presidente de
Colegiados, Chefes de departamento, e algumas pró-reitorias. O cargo de Reitor na UFS, até o presente, foi
ocupado apenas por homens. Neste sentido, a noção do teto de vidro explicaria a existência de uma suposta
barreira invisível, a qual impede as mulheres de atingirem o topo das organizações: nesse caso, das
universidades públicas. É o que Foucault (1998, 1990) entende pela capilaridade do poder, não apenas de
cima para baixo (mercado), mas, principalmente de baixo para cima (sujeitos).
A diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargoiv é um fato desconhecido, porém,
esse é um problema ainda enfrentado por muitas mulheres no mercado de trabalho alheio à universidade.
Com relação à titulação, os homens destacam-se nos títulos de mestre, doutor e especialista. Conforme
Censo/CNPq sobre os grupos de pesquisa no Brasil (2008), dados publicados em 2009, entre os
pesquisadores cadastrados, 49% são mulheres e 51% homens. Na UFS, em 2009, dos doutores existentes,
44% são mulheres e 56% homens, observando-se uma maior concentração de mulheres na área de humanas e
sociais, enquanto os cursos das áreas de exatas são maioritariamente masculinos. Contudo, a presença de
mulheres nestas áreas vem aumentando: no curso de engenharia civil e engenharia química, o número de
mulheres pesquisadoras é maior do que o número de homens, em mais de 60%. No que tange aos docentes
envolvidos nos projetos de iniciação científica, 57% são homens e 43% são mulheres.
5 MOTIVOS DA ESCOLHA DA PROFISSÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A comunicação expressa nas falas dos respondentes revela suas experiências e imagens construídas a
respeito dos diferentes temas no contexto específico do seu cotidiano. Os depoimentos revelam as
experiências e representações das/os docentes. A análise do trabalho docente possibilita a tecitura dos fios da
trajetória institucional e da “vivência da docência em que a dimensão pessoal é entretecida pelos
sentimentos” (ISAIA, 2003, p.248). Tal intuição é aprofundada por A. Heller: A vida cotidiana é
compreendida como o conjunto de atividades que caracterizam a reprodução dos homens singulares, que
criam por sua vez a possibilidade da reprodução social. As atividades cotidianas têm uma história própria
que não se contrapõem à história, mas que, antes, é o seu fermento (HELLER, 1985, p. 66). Para as/os
docentes o trabalho acadêmico no ensino superior em uma universidade pública oferece certa autonomia,
estabilidade e criatividade pela pesquisa. Ademais, na condição de professor efetivo, é muito remota a
possibilidade de demissão, ou medo da demissãov.
As trajetórias de formação e trabalho dos docentes mostram-se diversificadas. As/os docentes mulheres e
homens enfrentaram dificuldades no início de suas carreiras, trabalharam em atividades ligadas aos diversos
níveis do ensino e de atividades temporárias: empresas privadas, consultoria, agência de turismo e em
organizações públicas. Existe um acréscimo de dificuldades para as mulheres. Conforme o último relatório
apresentado pela AFPvi no ano de 2007, verifica-se que a mulher latino-americana tem em geral salários
inferiores entre 20% e 30% aos dos homens. O desenvolvimento profissional da/o docente é compreendido
como um processo interativo, acumulativo, combinando uma variedade de formatos de aprendizagem,
interesses pessoais, permanentemente revisados pelas ênfases pertinentes aos contextos de interação pessoal
e profissional com as necessidades de formação da IESvii
. O sujeito é um conjunto de diversas identidades, e
as profissões são elementos de formação dessas identidades, também, alimentadoras de paradigmas. O lugar
onde se deposita nossa identidade é no conhecimento sobre a especialidade (o que nos identifica com os
outros colegas da especialidade, sejam ou não sejam professores) e não no conhecimento sobre a docência (o
que nos identificaria com os outros colegas da universidade, sejam ou não sejam de nossa especialidade).
(ZABALZA, 2004, p.107).
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6 SIGNIFICADO DO TRABALHO, POSIVIVIDADES/NEGATIVIDES
Os saberes profissionais são entendidos como plurais, compostos e heterogêneos, bastante diversificados,
provenientes de fontes variadas, de natureza diferente. (TARDIF, 2002). Conforme Pereira e Fidalgo (2008),
os docentes do nível superior, assim como os nos demais níveis de ensino, não são imunes à precarização do
trabalho, seja por meio do salário aquém do merecido, seja pela falta da estrutura institucional, pela
exigência do domínio de um conjunto de saberes ou pela desvalorização da profissão docente. Entre os
aspectos positivos do trabalho as docentes identificam com clareza:
A experiência de ensino é enriquecedora. Temos autonomia universitária, podemos fazer
coisas interessantes, essa é a grande vantagem da universidade que está cada dia mais
apaixonante e melhor do que antes. Existem muitos projetos para tocar, muita coisa para
fazer. Temos aqui na física um número muito grande de pesquisadores. Desde que eu entrei
na universidade até agora eu fiquei com o tempo reduzido para outras coisas
(ENTREVISTADA)
Com relação aos aspectos negativos emergem sentimento de inequidade quando se comparam os seus
investimentos, cobranças, desgaste, stress, relações de poder, desvalorização da profissão, baixos salários no
trabalho e retornos salariais não condizentes aos investimentos. A pressão por produtividade, a competição
por status acadêmico, titulação, são constantes no cotidiano das universidades. Existem doentes que
adoecem, fazem terapia, outros solicitam desligamento da pós-graduação, alegando não aceitar pressões por
produção geradas por parâmetros de avaliação dos programas. A elevada carga de trabalho impacta também
na vida familiar:
Há uma elevada carga de trabalho, a gente está sempre fazendo mil coisas ao mesmo tempo,
ocorrem cobranças de trabalhos que acaba deixando o professor muito estressado, tirando o
foco do trabalho. Tem muita burocracia, reuniões, coisas para realizar na parte
administrativa, uma série de funções que deixam o trabalho docente muito pesado.
(ENTREVISTADO).
A tentativa de constituir uma família atrapalhou a minha vida acadêmica. Perdi muita coisa
antes! Eu posso dizer que a minha separação foi a minha libertação. A estrutura
educacional está mudando na questão do respeito. Os alunos chegam atrasados, sem
interesse na formação/aprendizagem, eles ainda acham que sabem tudo e não dão o devido
valor às aulas. (ENTREVISTADA)
A mercantilização do ensino, regida pelo neoliberalismo, prioriza o sistema econômico de produção
(PLACCO, 2008). Os alunos absorvem uma grande quantidade de informações através de novas tecnologias
e da mídia, contribuindo para modificar os conteúdos e as relações sociais em todos os contextos de trabalho.
A figura do professor, como concentrador da informação, perde o foco, e entra em cena o facilitador com sua
experiência. Conforme lembra Gauthier, com propriedade, cada dispositivo do olhar e da observação
modifica o objeto de estudo; por isso, nunca estudamos um objeto neutro, mas sempre um objeto implicado,
caracterizado pela teoria e pelo dispositivo que permitem vê-lo, observá-lo e conhecê-lo (GAUTHIER,
1999).
Em Foucault (1990), é possível compreender que a “naturalização” das normas e regras acontece pela
institucionalização do enunciado do discurso dominante, estabelecendo comportamentos, após ações e
relações, pressupostos desejáveis. Ele considera a primeira constituição do discurso como prática social, que
se forma a partir das palavras, dos atos e dos objetos, produzindo então saber e poder. O trabalho docente na
academia é um lócus onde ocorrem disputas de posições entre os agentes, objetivando ao aumento de
determinado capital simbólico, resultado de adoção, pelos agentes, de diversas estratégias. Conforme
Foucault(1988), a articulação das estratégias de poder reflete-se nos discursos de maneira objetiva e
subjetiva no cotidiano de trabalho docente:
As relações de poder são muito fortes, do homem perante a mulher e vez por outra, as
mulheres deixam escapar isso em seus discursos, quando se sentem coagidas. Existe também
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rivalidade nas relações de poder entre mulheres. Por ex: doutoras no meu departamento, às
vezes põem o titulo na frente, até porque as políticas na universidade são para os doutores,
o mestre não existe. Então percebo isso como uma relação de poder. (ENTREVISTADA)
Explorar a movimentação do poder naturalizado e institucionalizado pelo discurso envolve compreender suas
capilaridades no trabalho docente na universidade, lugar especial, em que as mulheres também têm sua
formação, um dispositivo que possibilita a reflexão, fixa as subjetividades atribuídas ao gênero feminino no
decorrer da história, multiplicando o exercício do poder masculino hegemônico sobre as mulheres.
7 DIFERENÇAS/DIFICULDADES - ATRIBUTOS DE GÊNERO, ACESSO A CARGOS DE
COMANDO E A QUALIFICAÇÃO
As/os docentes afirmam que os atributos de gênero (idade, sexo, estado civil, número e idade dos filhos)
interferem diretamente no desenvolvimento acadêmico das mulheres e em alguns momentos podem estagnar
a sua carreira. Nossa cultura cria um contexto mais favorável para o processo de qualificação dos homens,
enquanto as mulheres, principalmente as casadas, encontram maiores dificuldade na concretização de seus
projetos de carreira:
No ambiente universitário, a mulher está conquistando determinados cargos, apesar de
terem inúmeras atribuições, mães e chefes de família, algumas são solteiras, isso não tem
impedido sua qualificação. Ela investe na formação, faz cursos de mestrado, doutorado. É
muito mais fácil para um professor casado/solteiro se deslocar para um processo de
qualificação do que para as docentes universitárias casadas e mães de família. Tenho
amigas que dizem que o período do doutorado é um período perigoso para o casamento.
(ENTREVISTADO).
Antes de assumir a chefia eu até perguntei a um professor se ele não tinha interesse de
assumir, ele estava fazendo o doutorado, é um cargo que todo mundo quer e como eu já
tinha muito tempo na instituição, vi que já era tempo de contribuir. (ENTREVISTADA)
Particularmente as mulheres mostraram-se mais suscetíveis a abrir mão de sua formação em prol da família
principalmente para execução do papel maternal: “O Pós-doutorado é predominantemente realizado fora. A
questão da família contribuiu para que até hoje eu não tenha realizado. Só poderei sair na condição de
levar todo mundo, marido, filho”. (ENTREVISTADA). Concebe-se que: “a educação é, em primeiro lugar,
algo que se passa no interior da pessoa. É uma experiência que nasce, se efetua e termina, na pessoa que se
educa” (BERTRAND, 2001, p. 57).
Do professor universitário é exigido competências/habilidades, desde o início do processo
de seleção. O processo de capacitação é prolongado, o profissional tem que se reciclar para
ser capaz de atender as novas demandas do trabalho na instituição. Ele deve desenvolver
habilidades intelectuais, fortalecer sua formação acadêmica com titulação, ter produção
cientifica elevada, desenvolver projetos, captar recursos, participar de programa de pós-
graduação, orientar alunos de mestrado e doutorado, além de outras atividades na
graduação. Toda nossa vida é regida por avaliações, a avaliação institucional, a avaliação
do aluno, avaliação do departamento, então necessariamente temos que buscar
qualificação. (ENTREVISTADA)
Os desafios atuais da docência universitária parecem estar requerendo saberes que até então representam
baixo prestígio acadêmico no cenário das políticas globalizadas, porque extrapolam a possibilidade de
quantificar produtos. Para além dos conhecimentos técnicos, a competência refere-se ao conjunto de saberes
que é portado por um trabalhador, mesmo que não técnicos, mas, principalmente, refere-se à capacidade e
disponibilidade que tem esse trabalhador, de ser flexível, de mobilizar os diferentes saberes para enfrentar e
resolver os problemas e imprevistos com que se depara no trabalho. (CASTRO, 1992). A exigência de
flexibilidade comportamental nos novos conceitos de produção está frequentemente relacionada com a maior
flexibilidade de mulheres nos processos interativos. O acesso à informação e ao conhecimento contribui para
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a autonomia e o empoderamento de mulheres, medido com referência aos recursos (educação e trabalho
remunerado) e poder (medido pela presença em postos de comando); estes são indicadores de um conceito
que é mais complexo, mas, por exemplo, junto com a proporção por sexo das matrículas na educação de
terceiro grau, dão uma ideia do declínio nas diferenças de gênero (FRIDEMANN, 1996).
8 VIDA PESSOAL/PROFISSIONAL/DIVISÃO SEXUAL
As docentes destacam que os avanços no âmbito profissional não significam necessariamente
avanços/democratização nas relações sociais na família, isso porque, enfrentam sacrifícios/dificuldades com
a dupla/tripla jornada de trabalho:
A vida familiar, às vezes, atrapalha, depois que eu tive meu filho eu praticamente não atuei
aqui, tinha que dar minhas aulas, mas eu não podia desenvolver minhas pesquisas, foi, e ainda
é, muito difícil. Eu tenho que trabalhar o máximo possível em casa para estar perto dele.
(ENTREVISTADA)
As coisas rendem mais para outras mulheres que não têm filhos, eu tenho meu filho pequeno e
quero estar presente ao máximo, por isso, nunca aceitei cargo administrativo, pois toma muito
tempo. Eu vejo pelos meus colegas aqui, além de você ser professor, educador, não sobra muito
tempo para a vida particular. As/os docentes com cargos de comissão, trancam-se para
trabalhar em vez de estar com a família. (ENTREVISTADA)
Minha esposa renunciou a muitos cargos aqui da universidade. No início eu a criticava muito,
por ela abrir mão das oportunidades para educar os filhos, mas ela não quis, voltando-se para
o papel de mãe (1995-2000) que eu valorizo muito. Hoje, comparando a nossa situação com a
de outras professoras, que assumiram cargos e deixaram os filhos com empregadas/babás,
nossos filhos são encaminhados comparativamente a outras que tem filhos com problemas.
(ENTREVISTADO).
As desigualdades no trabalho produtivo e reprodutivo emergem com desvantagens para as mulheres. Para os
homens, a família nunca atrapalhou. Enquanto a docente/esposa por vezes sacrifica-se em prol da família e
da carreira do marido. A divisão sexual do trabalho na família expressa-se por meio da organização do
orçamento familiar, da administração doméstica e da educação dos filhos. Entrevistados, mulheres e homens
dividem o orçamento familiar: “Quem contribui mais nas despesas de casa, é meu esposo. Eu até brinco com
ele. O meu salário é fixo e o dele não; ele é médico, pode dar um plantão extra, algum dia e entra mais
dinheiro na renda familiar” (ENTREVISTADA). Contudo, as atividades domésticas e a educação dos filhos
ainda recaem predominantemente sobre as mulheres:
Sempre fica uma parte maior para a mulher Tem uma pessoa que me ajuda em casa, mas eu
saio para pagar as contas, fazer compras no supermercado. É cansativo, saio daqui e em
casa tenho que ser professora, ver as tarefas dos filhos na escola, explicar tudo, ser mãe,
esposa, dona de casa, e tudo isso, traz uma carga bem maior. (ENTREVISTADA)
Entre as docentes existe a tendência à naturalização dos estereótipos sem questionamento: “Meu esposo
ajuda nos casos que dá para os homens ajudar, às vezes ajuda com os filhos, às vezes tem tarefas que são
melhores desempenhadas pela mãe do que pelo pai, mas os dois ajudam sim”. Assim, recriam-se novas
formas de divisão sexual do trabalho na família com base na ideologia/estereótipos de masculinidade e
feminilidade que fortalecem as assimetrias de poder: “Com relação aos trabalhos da casa, do dia-a-dia, a
gente meio que divide, tipo quando vamos ao supermercado, a minha função é a bruta né(sic), a de carregar
as sacolas e ela a de fazer as comprar”. (ENTREVISTADO). Sobre a participação em grupos sociais, as/os
docentes afirmaram não fazer parte de qualquer grupo exige uma participação regular. Com relação aos
projetos pessoais e profissionais, emerge o interesse em obter elevada titulação, fazer pesquisa, ocupar
cargos de chefia. No campo pessoal, enquanto as casadas desejam ampliar a estrutura familiar, as solteiras
expressam o desejo de casar e ter filhos. Comparativamente às docente mulheres, os projetos dos homens são
voltados predominantemente para o campo profissional: “Meus planos para o futuro, são concluir o pós-
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doutorado, dar continuidade no meu grupo de pesquisa com o objetivo de fortalecer o meu programa de
pós-graduação (ENTREVISTADO).
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do movimento individual de docentes em direção ao mercado de trabalho permite identificar como
é percebida a construção das diferenças, as relações de poder, pressão por produtividade valores, anseios,
percepções, envolvimentos diante das mudanças produzidas no sistema educacional superior. Com base nos
dados consultados, observa-se que trabalho docente efetivo, no nível superior, não está à desvalorização que
ocorre nos vários níveis de ensino. Porém, a docência universitária principalmente nas universidades
públicas – onde o mérito condiciona, é o indicador do acesso ao posto de trabalho –, e ainda se apresenta
com status para esse profissional.
A continuidade da formação profissional apresenta-se como fator prioritário, haja vista que é a partir da
qualificação que as/os docentes podem usufruir dos incentivos institucionais e do reconhecimento
profissional. Contudo, os planos de carreira/profissão deparam-se frequentemente com obstáculos pessoais
(decorrentes de seus papéis familiares) e institucionais, os quais, por vezes, causam adiamento e
desmotivação à/ao professora/or. Este processo, apresenta-se de forma mais enfática para a mulheres que
assumem diversas tarefas no cotidiano (mãe, esposa, trabalhadora) que complexificam a sua luta pela
qualificação adequada.
Apesar dos avanços na democratização das relações sociais entre homens e mulheres ao longo do tempo,
ainda persistem assimetrias nas relações de poder. Os estereótipos de gênero facilitam a persistência e
transmissão de ideias e atitudes rígidas sobre os sexos, também é certo que outros fatores explicam, nas
sociedades ocidentais de hoje, a ampliação de modelos de gênero mais flexíveis do que no passado e mais
acordes com as mudanças nos últimos decênios. Estas mudanças são o que suscitam hoje o maior interesse
nos estudos da construção dos gêneros.
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i Neste contexto, a formação cultural e intelectual, segundo Bourdieu (2008), ocorre por meio de incorporação de habitus compreendido como um sistema socialmente constituído de disposições – tendências, aptidões, inclinações, talentos – que orientam pensamentos, percepções, expressões, e ações, como resultado de um longo processo de incorporação coletiva das condições
materiais de sua produção. iiConforme Zabalza (2004, p.106), as categorias qualitativas não têm dimensões excludentes e caracterizam o papel docente a ser desempenhado, no contexto atual: – dimensão profissional: componentes essenciais que definem a profissão de professora(or) (exigências e/ou expectativas quanto à atuação; parâmetros de construção identitária como professora(or); dilemas inerentes, necessidades formativas, entre outras); – dimensão pessoal: aspectos importantes no mundo da docência (envolvimento e compromisso pessoal; constituição dos ciclos de vida docente; situações de mal-estar, paralelas e consequentes ao exercício profissional); dimensão administrativa: questões relacionadas às condições contratuais e operacionalização de estratégias de permanência, qualitativa, do vínculo institucional. iii Estudos empíricos de Beck, Bourdieu, Lipovetsky e estudos empíricos de Subirats, Morgade, Mosconi. iv Informação da coordenação do DP/Departamento Pessoal da Universidade Federal de Sergipe v Segui a vida acadêmica por influencia de pessoas da família inseridas no ensino. Sempre fui uma boa aluna, explicava a minhas colegas o que elas não entendiam, elas até falavam ‘ah... você tem jeito pra professora’, com o tempo as coisas foram se delineando.Fiz mestrado, doutorado e normalmente quando se faz mestrado ou doutorado as coisas vão se encaminhando para a vida acadêmica.[...] gosto da área, gosto da profissão, gosto de ser professora (ENTREVISTADA). vi Agence France-Presse, agência global, multimídia e de informação geral. viiPreconiza-se uma perspectiva de formação que prioriza o caráter contextual e organizacional, direcionado para a mudança,
superando a visão individualista das ações de aperfeiçoamento docente. (GARCÍA, 1999).