Arguição Tiago

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Arguição à tese do Tiago

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Agradecimentos

Comecei a ler sua tese pelo fim dada a impossibilidade de conseguir os dois romances para ler. De um deles, j no me lembro do ttulo, consegui uma ou duas passagens com uma ex-colega do Rio Grande do Sul. Confesso o meu despreparo, ento, para qualquer questionamento sobre o contedo dos romances e/ou a escrita da autora. Vou me ater a aspectos, digamos, conjunturais da tese. Comeo pelo captulo que costumo chamar de chatices.A inusitada beleza e a sofisticao da apresentao de seu trabalho. A capa dura com o ttulo vazado por pirgrafo e o tecido a forra-la de uma elegncia e de uma oportunidade que no escapam ao olhar menos atento. Adorei!

ChaticesUso de maisculas para diferenciar Histria (cincia) de histria (relato; nomes de disciplinas, etc.; ortografia, correes relativas a pontuao, colocao de pronomes e coisas que tais, separao/juno de pargrafos, troca da ordem de termos na frase, deixei marcadas na minha cpia da tese.No resumo: africana no lugar de europeia?p. 8: Creio que numa tese, salvo exigncia de normatizao regulamentar, o plural majesttico pode ser substitudo pela primeira pessoa do singular.p. 9: como leitor ingnuo, dado que aparece logo nas primeiras pginas do texto, um glossrio explicitando as siglas seria interessante.No incio do segundo pargrafo, creio que voc pode trocar pas abordado por cuja Literatura ser objeto de investigao nessa tese. Pois isso mesmo o que voc vai fazer.p. 17: no incio do pargrafo, a afirmao que voc faz parece colocar Foucault cronologicamente antes de Nietzsche. Para desenvolver seu raciocnio, isso no um problema, mas fica esquisito.p. 26: expresso inusitada referente a Walter Benjamin: se entregado ao suicdio?p. 67: o que voc quer dizer com leitura de gnero? A expresso me parece imprpria. Voc quer dizer uma leitura do texto da escritora africana relacionada, articulada, s teorizaes acerca da ideia de gnero no isso. Penso que gnero, ento, no pode funcionar como adjetivo na expresso pois sua matria, logo, desempenha papel substantivo.p. 91: O incio do segundo perodo do primeiro pargrafo Da Stuart Hall (2000) vir a falar... d a impresso de que o pensador escreveu depois de ter lido Chiziane...p. 106 a 108: Penso que o texto da nota 99, 101, 103 e 104 pode ser incorporado ao corpo do texto, com as devidas adaptaes. O raciocnio dos respectivos pargrafos no seria interrompido para a leitura das notas.

ProvocaesComo eu comecei dizendo que li sua tese a partir do fim, comeando com a entrevista e depois lendo o texto em si, devo dizer da agradvel surpresa que a sua concluso me causou. Como voc me conhece, o tom intimista e relaxado com que voc redige a concluso corajoso e, na mesma medida, muito adequado ao eixo de orientao de sua leitura dos romances de Paula Chiziane: o testemunho. Voc d, ento, testemunho de ter lido atentamente s romances, de ter estado com a autora e de ter assimilado bem, tanto o teor da fico da escritora africana, quanto o esprito que anima sua escrita. A sua concluso fecha, com galhardia e elegncia o caminho que voc desenha e percorre, ao longo da leitura que apresenta, e que teve incio de maneira igualmente galharda e elegante com a capa e o tecido. H um jogo semitico de rara felicidade em sua realizao, enquanto projeto de tese.Confesso, pela segunda vez, minha ignorncia em relao ao texto dos romances da autora o que, de incio, poderia desautorizar qualquer coisa que eu desejasse dizer a voc e impingir como instrumento de arguio. Alm disso, confesso outra idiossincrasia: no fao perguntas a doutorandos. Procuro sempre encontrar uma maneira de construir minha arguio no intuito de provocar o estudante a falar mais de seus trabalhos, porventura esclarecendo dvidas nascidas da leitura que eu fiz. Isso possvel quando o texto da tese que bem o caso aqui oferece as condies de leitura que suscitem as dvidas e interpretaes que o arguidor pode fazer. Decidi ento, pontuar algumas passagens de sua tese nesta direo, mais preocupado em mostra que tambm li atentamente seu trabalho ainda que de maneira confessadamente manca, limitada. tambm no intuito de ver este trabalho expandido e, quem sabe, publicado que aponho as minhas observaes. Vamos l.

1. H um trecho da resposta de Paula Chiziane pergunta que voc faz e que est na pgina 127, que me chamou a ateno por, quer me parecer, dar o norte da interpretao que seu trabalho pretende a partir da leitura dos romances que voc apresenta, utilizando os instrumentos que selecionou e de que se serve. A resposta da escritora, a meu ver, encontra eco no que voc desenvolve na pgina 16 da tese a partir do segundo pargrafo: O peso do passado... at (...) a beleza de sua existncia. A ideia que me ocorre parte do pressuposto de que possvel pensar que Paula Chiziane uma cnica, no sentido filosfico do termo. Em primeiro lugar, por conta das estratgias de Nietzsche de onde voc deriva sua articulao do conceito de cinismo para desenvolver a crtica ao que se conheceu como vontade de verdade. Penso, nesse sentido que o cinismo da autora se revela na busca testemunhal que, segundo voc, desenvolve em seus romances, relativamente situao de Moambique. Em segundo lugar, para relacionar a ideia de cinismo ao pensamento de Foucault, quando este, na fase final de seu trabalho, desenvolve argumentao relacionada economia do cuidado de si, na produo da vida como esttica da existncia. A estaria certa coragem de verdade. Por consequncia aprofunda-se o carter cnico da escrita de Chiziane, dada sua natureza testemunhal. Paula Chiziane, como todo escritor de fico que namora a Histria, seduz e se deixa seduzir nesse discurso, seria cnica ao se retroalimentar da prpria existncia que, ficcionalizada, pe o dedo na ferida de sujeitos outros que tendo ouvido experincia similar sua no escaparam dos traumas, como desejado pelo escritor. A escrita ficcional, ento, seria uma espcie de gozo e de sublimao, simultaneamente. Ambos experimentados cinicamente de novo, no diapaso filosfico do termo nas entrelinhas da ficco. Esse movimento seria o mesmo que Foucault chama de um modo de vida como escndalo de verdade. O que voc pensa disso?

2. Na pgina 24, a partir da citao de Freud, voc desenvolve argumentao que leva seu leitor a entender que voc afirma que Freud escreveu o que escreveu acerca do tpico em questo, a partir apenas de sua prpria experincia. isso mesmo? E as histricas? E Anna O?3. Por vrias vezes, voc afirma que vai se servir de ideias acerca da questo de gnero para desenvolver sua argumentao. Senti falta, nesse sentido, de referncias a Judith Butler. E no apenas a referncias. Ela no aparece na bibliografia e acredito que seja muito interessante para voc. Penso assim, sobretudo a partir da leitura do trecho que vai do final da pgina 35 at a citao da pgina seguinte e, da mesma forma, no segundo pargrafo das pginas 36 e 89. Nesta pgina, outra referncia me fez pensar por sua ausncia: Pierre Bordieu, sobretudo o que ele desenvolve em A dominao feminina. No sei se voc concorda ou no, mas gostaria de ouvir voc a respeito.

4. Na pgina 100, uma vez mais, seu texto me levou a pensar em Le Goff (Histria e memria) e Ricoeur (A memria, a Histria, o esquecimento). Sobretudo estes dois volumes. Ainda me lembro de um seminrio na UFOP, Literatura e Histria, em que voc foi um dos dois ou trs que leram todos os romances a serem analisados e toda a bibliografia, da qual constavam os trs volumes de Tempo e narrativa, do Paul Ricoeur, a que voc recorre uma vez mais aqui. Pois bem, eles dois quero crer, fazem falta aqui tambm!

ConclusoMais uma vez, obrigado pelo convite, pela honra, pela confiana e pela alegria de poder ter estado aqui.Seu trabalho, apesar de minha leitura lacunar muito bom e foi um prazer l-lo.Parabns a voc e sua orientadora pelo percurso feito at aqui.