Arménio Rego - Artigo

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    1/10

    1. INTRODUO

    A abordagem motivacional de McClelland(v.g., 1987) uma das mais conhecidas e com-plexas teorias da motivao humana, podendoser classificada como uma teoria de contedo.Orienta-se, por conseguinte, para o que motiva ocomportamento, isto , enfatiza a compreensodos factores internos dos indivduos que contri-

    buem para que estes se comportem de determina-da maneira. Ope-se s teorias doprocesso, quevisam responder questo de como as pessoasso motivadas, e encaram as necessidades inter-nas como sendo, apenas, um elemento do pro-cesso motivacional que induz as pessoas aadoptarem determinados comportamentos.

    O contedo do modelo de McClellandreside nos motivos, isto , nas predisposiesespecficas interiorizadas pelos sujeitos atravsdo processo de socializao, que se organizamsob forma hierrquica (perfil, diversa de indiv-duo para indivduo) e que imprimem uma deter-minada direco ao comportamento (Reto et al.,1989/90: 14). Os motivos predominantes nosinmeros trabalhos de McClelland e seus colabo-

    radores so os de sucesso, afiliao e poder (Ta-bela 1).

    O motivo de sucesso representa um interesserecorrente em fazer as coisas melhor, ultrapas-sando padres de excelncia (McClelland, 1987;McClelland & Koestner, 1992). A motivaopara a afiliao pode ser definida como um inte-resse recorrente em estabelecer, manter ou res-taurar um relacionamento afectivo positivo comoutras pessoas (Heyns et al., 1958; Koestner &McClelland, 1992). O motivo depoderrepresen-ta um interesse recorrente em ter impacto sobrepessoas. Uma elevada motivao para o poderest associada a actividades competitivas e asser-tivas, assim como ao interesse em alcanar emanter prestgio e reputao (McClelland, 1987;Winter, 1992b; Veroff, 1992b).

    Estes motivos tm sido alvo, ao longo das l-timas dcadas, de um vastssimo conjunto depesquisas. Algumas abordam as suas origens evisam saber, por exemplo, em que medida os pa-dres educacionais esto associados a determina-

    dos perfis motivacionais (McClelland & Pilon,1983; McClelland, 1987). Outras orientam-separa o entendimento dos seus efeitos, abrangen-do um largo leque de tpicos, de que se ilustram:o desempenho acadmico dos estudantes (Ray-nor, 1970; McClelland, 1972, 1987; Rego, 1993,1995, 1998a), os estilos preferenciais de gesto

    335

    Anlise Psicolgica (2000), 3 (XVIII): 335-344

    Os motivos de sucesso, afiliao e poder Desenvolvimento e validao de uminstrumento de medida

    ARMNIO REGO (*)

    (*) Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro.

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    2/10

    do conflito (v.g., Rego, 1995; Rego & Jesuno,1999, 2000), a liderana organizacional(McClelland & Burnham, 1976; Miller & Tou-louse, 1986; McClelland & Boyatzis, 1987; Re-go, 1995, 1998b, 1999; Winter, 1991; McClel-land, 1992), a liderana poltica (Hernann, 1980;Winter, 1987; Reto et al., 1989/90; House et al.1991; Schmitt & Winter, 1998), o desenvolvi-mento econmico das naes (McClelland, 1961,1976; Pereira, 1980), o empreendorismo(McClelland, 1961, 1965) e o estado de sade/

    /doena dos indivduos (McClelland, 1982,1989; McClelland et al., 1985; Jemmott, 1987;Schultheiss, 1999).

    2. A MEDIO DOS MOTIVOS

    Uma das mais exuberantes controvrsias emtorno dos motivos a atinente aos mtodos de

    medio. A preferncia de McClelland sempreincidiu sobre uma tcnica projectiva designada,por vezes, de Picture-Story Exercise (Koestner &McClelland, 1992). Trata-se de um teste deapercepo temtica (TAT) que consiste numasrie de 4 a 6 figuras (Smith, 1992; Winter,1992b), mostrando pessoas em situaes amb-

    guas, perante cada uma das quais solicitado spessoas que inventem uma histria. Presume-seque estes relatos inventivos revelam os sonhos,fantasias e aspiraes dos sujeitos, tendo sido de-senvolvidos sistemas de codificao que permi-tem analisar o contedo de cada histria e pon-tu-la nos trs motivos (McClelland et al., 1953;Heyns et al., 1958; Veroff, 1992a; Winter,1992a).

    Existe, todavia, algumapolmica acerca dasvantagens desse mtodo face aos questionrios(v.g., Winter & Stewart, 1977; Atkinson, 1982;Fleming, 1982; Atkinson & Birch, 1986;McClelland, 1987; Weiner, 1989; McClelland etal., 1989; Weinberger & McClelland, 1990;Spangler, 1992; Smith, 1992):

    a) Os crticos do TAT alegam que ele ummtodo pouco fidedigno (seja do ponto devista do teste-reteste ou da consistncia

    interna) e detentor de reduzido poder pre-ditivo dos comportamentos humanos.Advogam que os questionrios demonstramadequada fidedignidade e maior valor pre-ditivo.

    b) Os paladinos do TAT concordam em queele um mtodo muito sensvel a influn-

    336

    TABELA 1Caracterizao sumria dos motivos de sucesso, afiliao e poder

    Motivos O indivduo:

    Poder - Procura controlar ou influenciar outras pessoas e dominar os meios que lhe permitem exercer essa influncia.- Tenta assumir posies de liderana espontaneamente.- Necessita de provocar impacto.

    - Preocupa-se com o prestgio.- Assume riscos elevados.

    Sucesso - Procura alcanar sucesso perante uma norma de excelncia pessoal.- Aspira alcanar metas elevadas mas realistas.- Responde positivamente competio.- Toma iniciativa.- Prefere tarefas de cujos resultados possa ser pessoalmente responsvel.- Assume riscos moderados.- Relaciona-se preferencialmente com peritos.

    Afiliao - Procura relaes interpessoais fortes.- Faz esforos para conquistar amizades e restaurar relaes.- Atribui mais importncia s pessoas do que s tarefas.- Procura aprovao dos outros para as suas opinies e actividades.

    Construda a partir de: McClelland (1962, 1987), Koestner & McClelland (1992), McClelland & Koestner (1992), Veroff (1992b), Winter (1992b)

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    3/10

    cias situacionais. Mas alegam ser possvelobter bons ndices de fidedignidade se oteste for administrado correctamente. Adu-zem, ainda, que a fidedignidade dos ques-tionrios tem sido exagerada. Advogam,tambm, que o poder preditivo do TAT superior no que concerne aos comporta-

    mentos de longo prazo. Finalmente, escla-recem que, sendo inconscientes, os motivosno devem ser medidos atravs de esca-las em que se convidam os indivduos a au-to-descreverem-se.

    c) Alguns autores argumentam que os doismtodos so equivalentes. A plausibilidadedesta tese , todavia, seriamente posta emcausa pelo facto de os dados disponveisapontarem para a pequena ou nula correla-o entre os motivos medidos pelas 2 vias.

    d) Uma posio distinta que advoga que a

    melhor maneira de predizer o comporta-mento combinar os dois mtodos. Alega-se que, enquanto a cotao das fantasiaspermite medir os motivos propriamenteditos (motivos implcitos), os questionriospermitem avaliar os motivos auto-atribu-dos (Mclelland, 1987; McClelland et al.,1989; Weinberger & McClelland, 1990;Koestner & McClelland, 1992; McClelland& Koestner, 1992).

    O certo que, do ponto de vista prtico, osquestionrios so de mais fcil aplicao. A suagrande vantagem reside no facto de serem ummtodo mais prtico, mais rpido e barato. Porisso, tm sido desenvolvidas algumas medidasdessa natureza (v.g., Meharabian, 1969; Steers &Braunstein, 1976; Stahl & Harrell, 1982). Umdos exemplos mais recentes protagonizadopor Rego (1993, 1995, 1998a, 1998b, 1999; Re-go & Jesuino, 1999, 2000), ao adoptar uma ver-so modificada e adaptada do questionrio demedida das necessidades manifestas de Steers eBraunstein (1976). Os resultados de diversaspesquisas empricas sugerem que o instrumento

    denota razoveis propriedades psicomtricas,em vrios planos: a) consistncia interna; b) re-lao com o TAT; c) poder preditivo dos estilosde gesto do conflito, dos impactos dos lderessobre os seus subordinados e do desempenhoacadmico dos estudantes universitrios.

    Sucede que o instrumento no tem sido sujeito

    a estudos dimensionais atravs de anlises facto-riais. Por outro lado, alguns motivos (especial-mente os de sucesso e poder) apresentam inter-correlaes cuja cifra importaria diminuir paraefeitos de obteno de ortogonalidade. Estas li-mitaes colocam problemas de validade consi-derveis, pelo que estudos de validao adicionalso necessrios. O objectivo do presente estudodecorre precisamente dessa constatao. O ins-trumento emergente poder ser sujeito a estudosde validao posteriores cujos resultados permi-tiro aferir se ele representa, ou no, um passoem frente nas estratgias de medio dos moti-vos.

    3. METODOLOGIA

    A investigao decorreu ao longo de diversasfases. Em primeiro lugar, foi elaborada uma ba-teria de 58 itens. Alguns foram recolhidos noinstrumento proposto por Rego. Outros foramredigidos a partir do estudo da literatura atinentea cada motivo, tendo-se atendido s caracters-ticas habitualmente atribudas s pessoas forte-mente orientadas para cada necessidade. Numasegunda fase, estes descritores foram consigna-dos a um questionrio com escalas de frequnciade tipo Likert, com 7 pontos (1: nunca; ; 7:completamente). Aps o pr-teste, este ques-tionrio foi aplicado a uma amostra compostapor 243 indivduos, assim distribudos:

    a) 176 trabalhavam em diversas organizaesespalhadas pelo pas, quer pblicas querprivadas; 67 eram alunos de licenciatura daUniversidade de Aveiro, oriundos de 17cursos (das reas das engenharias, matem-tica, gesto, economia, turismo, fsica, qu-mica, humanidades).

    b) 64% pertenciam ao sexo feminino e 36%ao masculino.

    c) Entre os membros organizacionais, 38

    exerciam funes de gesto. Os restanteseram tcnicos superiores ou mdios, fun-cionrios administrativos, assessores.

    d) Tambm entre os no-estudantes, e no queconcerne s habilitaes, 19% possuam o9. ano de escolaridade ou menos, 26% de-tinham entre o 10. e o 12. ano, 11% esta-

    337

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    4/10

    vam habilitados com o bacharelato, e 33%detinham a licenciatura ou grau superior.

    Os estudantes foram abordados directa e pes-soalmente, tendo sido recolhida a resposta logoaps o preenchimento. Os membros organizacio-nais foram abordados atravs de correio, tendo

    sido enviadas missivas a 400 pessoas. Foi-lhesfornecido um sobrescrito de resposta sem fran-quia. Dado que foram recebidas 176 devolues,a taxa de resposta pode considerar-se bastantesatisfatria (44%).

    4. RESULTADOS

    Os dados foram submetidos a uma anlisefactorial das componentes principais (Kim &Mueller, 1978; Bobko, 1990), com rotao vari-max. A aplicao desta tcnica revelou-se per-tinente (KMO: 0.74; teste de esfericidade deBartlett: 5354.21, p=0.0000). Enveredou-se, en-to, por um processo iterativo destinado a obteruma estrutura factorial o mais clara possvel. Fo-ram adoptados os seguintes critrios:

    a) A escolha do nmero de factores foi feitade acordo com o teste grfico (Catell,1966). Embora o critrio de Kaiser (escolhados factores com valores prprios superio-res a 1) seja mais comum e frequentementeapontado como mais apropriado (Kim &

    Mueller, 1978b; Ford et al., 1986; Bobko,1990), o seu uso suscitou-nos vrios facto-res saturados por apenas 1 ou 2 descritores da advindo dificuldades relacionadascom a fidedignidades das escalas. Acresceque, segundo Bryman & Cramer (1992), ocritrio de Kaiser tem sido recomendadopara situaes em que o nmero de vari-veis menor do que 30, e a mdia das co-munalidades maior do que 0.70; ouquando o nmero de indivduos da amostra superior a 250, e a comunalidade mdia maior ou igual a 0.60. A considerao esteselementos sugeriu a inaplicabilidade dessecritrio aos dados. Finalmente, alguns in-vestigadores propem que se examinemestruturas factorais com diferentes nmerosde factores, at se encontrar a soluo maisinterpretvel (Kim & Mueller, 1978a;Hakstian et al., 1982; Ford et al., 1986).

    Ora, as vrias tentativas feitas redundaramna concluso de que tal ocorria peranteuma estrutura de trs factores. Note-se que,tal como referem Podsakoff, Ahearne eMacKenzie (1997), a deciso acerca dequais os itens a reter , assumidamente, um

    processo subjectivo (p. 265, sublinhadonosso).

    b) Foram seleccionados, para cada factor, osdescritores com saturaes superiores a0.50.

    c) Foram removidos os itens cujas saturaeseram superiores a 0.40 em mais do que umfactor (Ford et al., 1986), assim comoaqueles em que a diferena entre as duassaturaes mais elevadas era inferior a0.20.

    Deste processo emergiu uma estrutura facto-rial composta por 27 itens e 3 componentesprincipais (KMO: 0.76; teste de esfericidade deBartlett: 1982.96, p=0.0000), explicando 41% davarincia total (Tabela 2). Estes factores corres-pondem, respectivamente, aos motivos afiliativo,de poder e de sucesso. Para a globalidade daamostra, os coeficientes de consistncia internaultrapassam sempre o mnimo de 0.70 sugeridopor Nunnally (1978), qualquer que seja o moti-vo. No entanto, quando se atenta no motivo desucesso, alguns Alphas apresentam cifras infe-riores s desejveis em determinadas sub-amos-tras. O mesmo sucede, para o motivo de poder,

    na sub-amostra de gestores/chefias.As correlaes entre os trs motivos so bai-

    xas, variando entre 0.15 (sucesso versus afilia-o) e -0.07 (sucesso versus poder). O perfil mo-tivacional da amostra global caracteriza-se pelapredominncia do motivo afiliativo e pela baixacotao da orientao para o poder. Quando secomparam os perfis motivacionais de diferentessub-amostras, constata-se o seguinte:

    a) Entre homens e mulheres, no se descorti-nam quaisquer diferenas no que concerneaos motivos de sucesso e poder. No entan-to, os indivduos do sexo feminino denotamuma cotao no motivo afiliativo ligeira-mente superior dos seus congneres mas-culinos (6.0 contra 5.8; p

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    5/10

    339

    TABELA 2Anlise factorial das componentes principais (aps rotao varimax)

    Itens Factor 1 Factor 2 Factor 3Afiliao Poder Sucesso

    Sinto-me satisfeito quanto tenho relaes amistosas com a maior parte das outras pessoas. 0.56 0.13 0.02

    No trabalho, gosto de ter amigos com quem possa partilhar as minhas alegrias e tristezas. 0.68 0.05 -0.15

    Procuro saber se os meus pontos de vista prejudicam o bem-estar das outras pessoas. 0.53 0.10 -0.02Gosto de ser solidrio com as outras pessoas, mesmo que no sejam das minhas relaes. 0.53 -0.06 0.01

    Sinto satisfao quando vejo que uma pessoa que me pediu ajuda fica feliz com o meu apoio. 0.58 0.13 0.09

    Gosto de fazer amizades que se mantenham para alm das relaes de trabalho. 0.53 0.15 0.02

    Se tivesse que despedir uma pessoa, procuraria sobretudo compreender os seus sentimentos e apoi-la no que 0.59 -0.13 0.08

    me fosse possvel.

    No trabalho, gosto de ser uma pessoa amvel. 0.67 -0.11 0.28

    Sinto-me satisfeito por trabalhar com pessoas que gostam de mim. 0.67 0.09 -0.04

    No trabalho, presto muita ateno aos sentimentos dos outros. 0.64 -0.10 0.31

    Considero-me um bom colega de trabalho, com esprito de equipa. 0.51 0.06 0.33

    Fico preocupado quando sinto que, de alguma forma, contribui para o mal-estar das relaes no trabalho. 0.55 -0.29 -0.04

    Quando chego a algum lugar, fico satisfeito se as pessoas me prestam ateno. 0.27 0.59 -0.09

    Tenho um desejo secreto de chamar a ateno das pessoas. 0.10 0.75 -0.10

    Sinto prazer quando consigo convencer os meus adversrios a aceitarem as minhas posies. 0.13 0.57 -0.07

    Insisto numa determinada opinio apenas para no dar o brao a torcer. 0.02 0.59 -0.14

    Tenho d iscusses com os ou tros porque costumo insi st ir naqui lo que penso que deve ser f eito. -0.03 0.59 -0.02

    Procuro relacionar-me com pessoas influentes. -0.14 0.58 0.12

    Se puder chamar pessoas para o trabalho da minha equipa, procuro as que me permitam exercer mais influncia. -0.06 0.63 -0.00

    Quando participo de algum convvio, aproveito para influenciar os outros e obter o seu apoio para aquilo que -0.03 0.68 -0.02

    quero fazer.

    Se me derem a escolher, gosto de optar por tarefas de cujos resul tados eu possa ser responsabil izado. -0.05 -0.00 0.63

    Sinto-me atrado por tarefas novas. 0.04 0.10 0.50

    Se sin to di fi culdades numa ta refa que me foi at ribuda, procuro a ajuda dos especial is tas no assunto. 0.33 -0 .01 0.51

    Gosto de aperfeioar constantemente as minhas competncias pessoais. 0.12 -0.07 0.73

    Esforo-me por melhorar os meus resultados anteriores. 0.18 -0.04 0.68

    Procuro evitar que me atribuam maiores responsabilidades. (i) 0.10 0.25 -0.68

    Quando as dificuldades so grandes, tenho tendncia para desistir de procurar o que pretendia. (i) 0.04 0.08 -0.52

    Valores prprios 4.8 3.7 2.4Percentagem de varincia explicada 17.7 13.7 9.2

    Alphas de Cronbach

    Amostra global 0.83 0.78 0.73

    Sexo masculino 0.83 0.71 0.69Sexo feminino 0.80 0.83 0.71

    9. ano de escolaridade ou menos 0.83 0.82 0.55Entre 10. e 12. ano 0.85 0.79 0.68

    Bacharelato ou superior 0.81 0.75 0.77

    Gestores 0.77 0.58 0.75No gestores 0.84 0.80 0.67

    Alunos 0.77 0.75 0.61No-alunos 0.85 0.78 0.69

    (i) As pontuaes nestes itens foram invertidas.

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    6/10

    motivo superior aos restantes (6.1 contra5.7; p

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    7/10

    apercepo temtica e/ou em material semnticode outra natureza ou provenincia.

    O segundo elemento adicional meritrio res-peita ao menor vigor do motivo afiliativo emaior presena da necessidade de poder no seioda amostra de gestores. No nosso entender, esta

    evidncia passvel de ser explicada do seguintemodo:

    a) As pessoas tendem a procurar actividadescondizentes com as suas necessidades. Oexerccio de funes de gesto implica a to-mada de posies firmes e imparciais, a ca-pacidade para entrar em conflito quandonecessrio, a disponibilidade para tomarmedidas necessrias mesmo que noconcitem aprovao social. duvidoso queos mais afiliativos denotem essas propen-

    ses, pelo que tendero a no direccionaras suas escolhas profissionais para o exer-ccio de actividades gestionrias.

    b) O motivo tende a estar negativamente cor-relacionado com a eficcia dos gestores. ,pois, provvel que os (pelo menos alguns)gestores menos eficazes abandonem a sua

    actividade de chefia e transitem para fun-es tcnicas.

    c) Algo simtrico pode ser enunciado a pro-psito do motivo de poder. Na verdade, presumvel que as pessoas fortemente moti-vadas para a satisfao dessa necessidade

    busquem actividades susceptveis de lhespermitirem exercer influncia, liderana,impacto como tende a ocorrer com mui-tos cargos de gesto.

    importante notar que a dimenso da sub--amostra de gestores reduzida. Estudos poste-riores devero acautelar os riscos de validadeinerentes a esse facto. Por outro lado, necess-rio testar em estudos vindouros se o presente ins-trumento capaz de detectar diferenas de perfismotivacionais entre os gestores de diferentesreas funcionais. Com efeito, h razes para

    presumir que os gestores integradores podemser eficazes se forem bem pontuados no motivoafiliativo (McClelland, 1987), j que a funoinerente a esses cargos induzir os colaborado-res a trabalharem conjuntamente, tentar resolveras suas diferenas e conflitos.

    O particular aspecto inerente maior propen-

    341

    FIGURA 1Perfis motivacionais

    Nota: para os estudos anteriores, as cotaes foram divididas por 7, de modo a torn-las comparveis com as do actual estudo.

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    8/10

    so afiliativa dos indivduos do sexo femininomerece a terceira meno. Com efeito, ele con-gruente com a evidncia obtida por Rego (1995),e pode revelar padres educacionais diferenciais,sendo as mulheres mais socializadas em papisafiliativos isto , de ajuda aos outros, manu-teno de harmonia social, pusilanimidade, be-nevolncia e esprito coperativo.

    O quarto elemento relevante o referente aofacto de os menos academicamente habilitadosserem mais afiliativos. Este dado oferece-se a di-versas interpretaes plausveis. Por exemplo, verosmil que a ausncia de assertividade e es-prito competitivo dos mais afiliativos os tornemenos competitivos e ambiciosos. igualmenteplausvel que, devido sua maior propenso paraa criao e manuteno de redes de relaes in-terpessoais, dispendam menos horas no estudo obtendo mais fraco desempenho acadmico

    (Stahl & Harrell, 1982; Rego, 1998a).Em suma: os dados sugerem que, do ponto de

    vista psicomtrico, o instrumento aqui propostotem pernas para andar. No entanto, estudosposteriores devero aprimorar algumas caracte-rsticas, especialmente as atinentes ao motivo desucesso. tambm pertinente efectuar anlisesfactoriais confirmatrias tendo em vista aferir daadequabilidade da estrutura tri-dimensional. Fi-nalmente, importa obter elementos adicionais devalidao que passem pelo estudo do poder ex-plicativo dos motivos assim medidos para, de-

    signadamente, o sucesso no exerccio de funesde gesto, a inclinao por diferentes nveis derisco, as opes profissionais, o desempenhoacadmico, a progresso na carreira profissional.Esperemos que outros investigadores dem se-quncia ao processo aqui iniciado fornecendoelementos toricos e empricos que permitamlegitimar ou suscitem a reprovao do ins-trumento aqui exposto.

    REFERNCIAS

    Atkinson, J. W. & Birch, D. (1986). Fundamentals ofthe dynamics of action. In Julius Kull & John W.Atkinson (Eds.), Motivation, thought, and action(pp.16-48). New York: Praeger Publishers.

    Atkinson, J. W. (1982). Motivation determinants of the-matic apperception. In A. Stewart (Ed.),Motivationand society (pp. 3-40). San Francisco: Jossey-BassInc., Publishers.

    Bobko, P. (1990). Multivariate correlational analysis. InM. V. Dunnette & L. M. Hough (Eds.), Handbookof industrial and organizational psychology (pp.637-686). Palo Alto, California: Consulting Psy-chologists Press.

    Bryman, A. & Cramer, D. (1992).Anlise de dados emcincias sociais. Oeiras: Celta Editora.

    Fleming, J. (1982). Projective nd psychometric approa-ches to measurement the case of fear of sucess. InAbigail J. Stewart (Ed.),Motivation and society A volume in honor of David McClelland(pp. 63--96). S. Francisco: Jossey-Bass Publishers.

    Ford, J. K., MacCallum, R. C., & Tait, M. (1986). Theapplication of exploratory factor analysis in appliedpsychology: a critical review and analysis. Person-nel Psychology, 39, 292-314.

    Hakstian, A. R., Rogers, W. T., & Cattell, R. B. (1982).The behavior of number-of-factors rules with simu-lated data.Journal of Marketing, 62, 30-45.

    Hernann, M. G. (1980). Assessing the personalities ofsoviet politburo members. Personality and Social

    Psychology Bulletin, 6(3), 332-352.Heyns, R. W., Veroff, J., & Atkinson, J. W. (1958). Ascoring manual for the affiliation motive. In JohnW. Atkinson (Ed.),Motives in fantasy, action andsociety (pp. 205-218). Princeton, NJ: Van Nos-trand.

    House, R., Spangler, W. D., & Woycke, J. (1991). Per-sonality and charisma in the US presidency: A psy-chological theory of leader effectiveness.Adminis-trative Science Quarterly, 36, 364-396.

    Jemmott, J. B. (1987). Social motives and susceptibilityto disease: Stalking individual differences in healthrisks.Journal of Personality, 55, 267-298.

    Kim, J. & Mueller, C. W. (1978a). Factor analysis: sta-

    tistical methods and practical issues. Beverly Hills,CA: SAGE.Kim, J. & Mueller, C. W. (1978b). Introduction to

    factor analysis what it is and how to do it. Bever-ly Hills, CA: SAGE.

    Koestner, R. & McClelland, D. C. (1992). The affilia-tion motive. In Charles P. Smith (Ed.),Motivationand personality: Handbook of thematic contentanalysis (pp. 205-210). Cambridge: CambridgeUniversity Press.

    McClelland, D. C. & Boyatzis, R. E. (1982). Theleadership motive pattern and long term success inmanagement. Journal of Applied Psychology, 67(6), 737-743.

    McClelland, D. C. & Burnham, D. H. (1976). Power isthe great motivator. Harvard Business Review,March-April, 100-110.

    McClelland, D. C. & Koestner, R. (1992). The achieve-ment motive. In Charles P. Smith (Ed.),Motivationand personality: Handbook of thematic contentanalysis (pp. 143-152). Cambridge: CambridgeUniversity Press.

    342

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    9/10

    McClelland, D. C. & Pilon, D. A. (1983). Sources ofadult motives in patterns of parent behavior in ear-ly childhood. Journal of Personality and SocialPsychology, 44 (3), 564-574.

    McClelland, D. C. (1961/1976). The achieving society.Pricenton, NJ: Van Nostrand.

    McClelland, D. C. (1962). Business drives and nationalachievement. Harvard Business Review, July-Au-gust, 103-105.

    McClelland, D. C. (1965). Achievement and entrepre-neurship: A longitudinal study.Journal of Perso-nality and Social Psychology, 1, 389-392.

    McClelland, D. C. (1972). What is the effect of achieve-ment motivation training in the schools? TeachersCollege Record, 74, 129-145.

    McClelland, D. C. (1982). The need for power, sympa-thetic activation and ilness.Motivation and Emo-tion, 6(1), 31-41.

    McClelland, D. C. (1987). Human motivation. Cam-bridge: Cambridge University Press.

    McClelland, D. C. (1989). Motivational factors in

    health and disease. American Psychologist, 44,675-683.McClelland, D. C., Atkinson, J. W., Clark, R. A., &

    Lowell, E. L. (1953). The achievement motive(pp. 107-138). New York: Appleton-Century-Crofts. (published with minor modifications inCharles P. Smith (Ed.), Motivation and persona-lity: Handbook of thematic content analysis (pp.153-178). Cambridge: Cambridge University Press.

    McClelland, D. C., Davidson, R. J., & Saron, C. (1985).Stressed power motivation, sympathetic activation,immune function and illness.Advances, 2, 42-52.

    McClelland, D. C., Koestner, R., & Weinberger, J.(1989). How do self-attributed and implicit motives

    differ? Psychological Review, 96, 690-702.McClelland, D. C. (1975). Power: The Inner Experien-ce. New York: Irvington Publishers.

    Mehrabian, A. (1969). Measures of achieving tendency.Educational and Psychological Measurement, 29,445-451.

    Miller, D. & Toulouse, J. (1986). Chief executive perso-nality abd corporate strategy and structure in smallfirms.Management Science, 32 (11), 1389-1409.

    Nunnally, J. C. (1978). Psychometric theory (2nd ed.).New York: McGraw-Hill.

    Pereira, O. G. (1980). Psicologia econmica: disciplinado futuro. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa,Faculdade de Economia.

    Podsakoff, P. M., Ahearne, M., & MacKenzie, S. B.(1997). Organizational citizenship behaviors andthe quantity and quality of work group performan-ce.Journal of Applied Psychology, 82, 262-270.

    Raynor, J. O. (1970). Relationships between achieve-ment related motives, future orientation, and aca-demic performance.Journal of Personality and So-cial Psychology, 15 (1), 28-33.

    Rego, A. & Jesuino, J. C. (1999).Motives and conflictmanagement styles. Paper presented at the 9th Eu-ropean Congress on Work and Organizational Psy-chology, 12-15 May, Espoo-Helsinki, Finland.

    Rego, A. & Jesuino, J. C. (2000). Estilos de gesto doconflito e padres motivacionais. Aceite para pu-blicao na revista Comportamento Organizacio-nal e Gesto.

    Rego, A. (1993). Nveis de motivao e graus de de-sempenho. Revista Portuguesa de Gesto, 2, 69--82.

    Rego, A. (1995). O Modelo Motivacional de McClel-land uma aplicao. Lisboa: ISCTE (dissertaode Mestrado, no publicada).

    Rego, A. (1998a). Motivaes e desempenho de estu-dantes universitrios.Anlise Psicolgica, 16(4),635-646.

    Rego, A. (1998b). Configuraes motivacionais dosgestores e respectivos impactes nos subordinados.Revista Portuguesa de Gesto, 1, 53-65.

    Rego, A. (1999).Motivational configurations of mana-gers and their impact on subordinates. Paper pre-

    sented at the Annual Convention of the Internatio-nal Council of Psychologists, Salem. Massachu-setts, USA, August 15-18.

    Reto, L., Lopes, A., & Cruz, A. (1989/90). Lideranapoltica personalidades, conjuntura e representa-es.Revista de Gesto, 8, 13-17.

    Schmitt, D. P. & Winter, D. G. (1998). Measuring themotives of soviet leadership and soviet society:congruence reflected or congruence created?Lea-dership Quarterly, 9 (3), 293-307.

    Schultheiss, O. C. (1999). Psychological and healthcorrelates of implicit motives. Paper presented atthe 107th Annual Convention of the AmericanPsychological Association, Boston, Massachusetts,

    August 20-24.Smith, C. P. (1992). Reliability issues. In Charles P.

    Smith (Ed.), Motivation and personality: Hand-book of thematic content analysis (pp. 126-139).Cambridge: Cambridge University Press.

    Spangler, W. D. (1992). Validity of questionnaire andTAT measures of need for achievement: two meta-analyses. Psychological Bulletin, 112 (1), 140--154.

    Stahl, M. J. & Harrell, A. M. (1982). Evolution and va-lidation of a behavioral decision theory measure-ment approach to achievement, power, and affilia-tion. Journal of Applied Psychology, 67(6), 744--751.

    Steers, R. M. & Braunstein, D. N. (1976). A behavio-rally-based measure of manifest needs in workingsettings. Journal of Vocational Behavior, 9, 251--266.

    Veroff, J. (1992a). A scoring manual for the power mo-tive. In John W. Atkinson (Ed.),Motives in fantasy,action and society (pp. 219-233). Princeton, NJ:Van Nostrand.

    343

  • 8/4/2019 Armnio Rego - Artigo

    10/10

    Veroff, J. (1992b). Power motivation. In Charles P.Smith (Ed.), Motivation and personality: Hand-book of thematic content analysis (pp. 278-285).Cambridge: Cambridge University Press.

    Weinberger, J. & McClelland, D. C. (1990). Cognitiveversus traditional motivational models irreconci-lable or complementary?. In E. Tory Higgins &Richard M. Torrentino (Eds.),Handbook of moti-vation and cognition Fondations of social beha-vior (vol. 2, pp. 562-597). New York: The Guil-ford Press.

    Weiner, B. (1989).Human motivation. Hillsdale, NewJersey: Lawrence Erlbaum Associates, Publishers.

    Winter, D. G. (1987). Leader appeal, leader performan-ce, and the motive profiles of leaders and beha-viors: A study of american presidents and electi-ons.Journal of Personality and Social Psychology,52 (1), 196-202.

    Winter, D. G. (1991). A motivational model of leader-ship: Predicting long-term management successfrom TAT measures of power motivation and res-ponsibility.Leadership Quarterly, 2, 67-80.

    Winter, D. G. (1992a). A revised scoring system for thepower motive. In Charles P. Smith (Ed.), Motiva-tion and personality: Handbook of thematic con-tent analysis (pp. 311-324). Cambridge: CambridgeUniversity Press.

    Winter, D. G. (1992b). Power motivation revisited. InCharles P. Smith (Ed.), Motivation and persona-lity: Handbook of thematic content analysis (pp.301-310). Cambridge: Cambridge University Press.

    Winter, D. G., & Stewart, A. (1977). Content analysisas a technique for assessing political leaders. In M.G. Hernann (Ed.),A psychological examination of political leaders (pp. 27-61). New York: FreePress.

    RESUMO

    Este artigo expe o modo como foi desenvolvido evalidado um instrumento de medida dos trs motivosmais profusamente estudados por McClelland e seus

    colaboradores: sucesso, afiliao e poder. O estudo en-volveu vrias fases: a) foram recolhidos itens na litera-tura; b) elaborou-se um questionrio contendo 58 esca-las tipo Likert, de 7 pontos; c) este questionrio foiaplicado a uma amostra composta por 243 indivduos;d) por intermdio da anlise factorial das componentesprincipais, procedeu-se a uma depurao, donde re-sultou um questionrio composto por 27 itens. Obteve-se uma estrutura factorial de trs dimenses corres-pondentes aos trs motivos mencionados. Os coefici-entes Alfa de Cronbach cifram-se em valores superio-res ao mnimo sugerido por Nunnally (1978). O instru-mento emergente denota boas propriedades psicom-tricas, embora sejam necessrios estudos adicionais devalidao, designadamente recorrendo a anlises facto-riais confirmatrias, comparando perfis motivacionaisde pessoas com diferentes opes profissionais, e estu-dando o poder explicativo dos motivos para o desem-penho acadmico dos estudantes em diferentes nveisde dificuldade/desafio.

    Palavras-chave: Motivo de sucesso, motivo de afi-liao, motivo de poder, perfis motivacionais.

    ABSTRACT

    This paper aims at showing how an instrument formeasuring achievement, affiliation and power motiveswas built and validated. After collection of items in theliterature, fifty-eight 7-point Likert scales were put ina questionnaire. The sample comprises 243 individuals(176 professionals and 67 university students). Prin-cipal component analysis suggested three factors, cor-responding to the three motives mentioned above. Ingeneral, the instrument shows good psychometric pro-perties, although further studies are necessary, namely

    carrying out confirmatory factor analyses, comparingmotivational profiles of different occupations, andstudying how the motives explain academic perfor-mance in different conditions of difficulty and compe-tition.

    Key words: Achievement motive, power motive,affiliation motive, motivational profiles.

    344