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ARQUIPÉLAGO CULTURAL BRASILEIRO: PROPOSTA METODOLÓGICA PARA SOLUCIONAR A DESIGUALDADE DE DISTRIBUIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS CULTURAIS CARIOCAS Andréa Bonifácio (UNIRIO) [email protected] Andreia Ribeiro Ayres (UNIRIO) [email protected] Manoel Silvestre Friques (UNIRIO) [email protected] O presente artigo relaciona duas áreas fundamentais à Economia Criativa contemporânea quais sejam, as artes cênicas e a engenharia com o intuito de propor soluções a problemas brasileiros de longa data. As desigualdades sociais que historicamente marcam o Brasil também se manifestam na distribuição dos equipamentos culturais brasileiros, em geral, e cariocas, em particular. Uma das formas de se solucionar este problema encontra-se nos métodos desenvolvidos no contexto da Engenharia de Produção. Dentre as diversas possibilidades de diálogo entre estes dois campos, optou-se pela investigação de métodos e ferramentas associados à Pesquisa Operacional. A questão propulsora deste estudo é a seguinte: os métodos de Pesquisa Operacional aplicados à Localização das Instalações Industriais podem contribuir para uma melhor distribuição dos equipamentos culturais brasileiros? A fim de responder esta indagação, esta pesquisa acessou os dados oficiais disponibilizados pela esfera pública aliada à uma pesquisa exploratória de base bibliográfica e documental com o objetivo de estabelecer uma familiarização com o objeto estudado. A necessidade desta exposição é uma só: mostrar que, diante das desigualdades sociais refletidas na distribuição dos equipamentos culturais, os métodos da Engenharia de Produção, em especial da Pesquisa Operacional, podem apresentar soluções factíveis e, com isso, contribuir para um desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: Equipamentos Culturais, Produção Cultural, Economia Criativa, Engenharia de Produção Cultural, Pesquisa Operacional XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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ARQUIPÉLAGO CULTURAL

BRASILEIRO: PROPOSTA

METODOLÓGICA PARA SOLUCIONAR

A DESIGUALDADE DE DISTRIBUIÇÃO

DOS EQUIPAMENTOS CULTURAIS

CARIOCAS

Andréa Bonifácio (UNIRIO)

[email protected]

Andreia Ribeiro Ayres (UNIRIO)

[email protected]

Manoel Silvestre Friques (UNIRIO)

[email protected]

O presente artigo relaciona duas áreas fundamentais à Economia

Criativa contemporânea – quais sejam, as artes cênicas e a engenharia –

com o intuito de propor soluções a problemas brasileiros de longa data.

As desigualdades sociais que historicamente marcam o Brasil também

se manifestam na distribuição dos equipamentos culturais brasileiros,

em geral, e cariocas, em particular. Uma das formas de se solucionar

este problema encontra-se nos métodos desenvolvidos no contexto da

Engenharia de Produção. Dentre as diversas possibilidades de diálogo

entre estes dois campos, optou-se pela investigação de métodos e

ferramentas associados à Pesquisa Operacional. A questão propulsora

deste estudo é a seguinte: os métodos de Pesquisa Operacional

aplicados à Localização das Instalações Industriais podem contribuir

para uma melhor distribuição dos equipamentos culturais brasileiros? A

fim de responder esta indagação, esta pesquisa acessou os dados

oficiais disponibilizados pela esfera pública aliada à uma pesquisa

exploratória de base bibliográfica e documental com o objetivo de

estabelecer uma familiarização com o objeto estudado. A necessidade

desta exposição é uma só: mostrar que, diante das desigualdades sociais

refletidas na distribuição dos equipamentos culturais, os métodos da

Engenharia de Produção, em especial da Pesquisa Operacional, podem

apresentar soluções factíveis e, com isso, contribuir para um

desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Equipamentos Culturais, Produção Cultural,

Economia Criativa, Engenharia de Produção Cultural, Pesquisa

Operacional

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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1. Introdução

Nas últimas décadas, a economia criativa tem sido tratada, em âmbito nacional e

internacional, como um setor com forte potencial para incrementar o crescimento econômico.

Comprova o fato o grande destaque concedido a esta nova área na formulação das políticas

públicas dos governos de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos fóruns mundiais,

o foco é voltado para abordagens vinculadas ao desenvolvimento, à valorização da

diversidade cultural e à inclusão socioeconômica. Outro tema relevante é a competição por

mercados globais, incluindo questões que envolvem patentes e a interface com as novas

tecnologias no campo da cultura.

Pode-se dizer que a economia criativa surge em decorrência de uma área correlata, a

economia da cultura. No contexto brasileiro, a economia criativa – termo derivado da

indústria criativa – ganhou maior projeção com a criação de uma secretaria específica no

Ministério da Cultura (MinC), em 2011. Os campos de atuação definidos pela Secretaria da

Economia Criativa demonstram o compromisso de abarcar o potencial cultural, criativo,

social e econômico das atividades criativas. A concepção de cultura, expressa no documento

As metas do Plano Nacional de Cultura, do MinC (2012), contempla as dimensões simbólica,

econômica e cidadã. Aborda questões relativas ao acesso aos bens e serviços culturais e ao

viés de mercado do setor cultural.

A economia criativa é vista como uma estratégia alternativa de desenvolvimento ao

modelo pautado pelo comércio de commodities e pela fabricação industrial devido ao seu

potencial de mercado e de inclusão socioeconômica, promovendo um desenvolvimento

sustentável. O diferencial em relação ao modelo tradicional de desenvolvimento é considerar

aspectos pouco comuns a este, tais como a valorização da singularidade e da diversidade

cultural fazendo uso da criatividade, da exploração da propriedade intelectual e da inovação

tecnológica.

A criação do curso de Engenharia de Produção com habilitação em Produção em Cultura

da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), em 2010, vai ao encontro

destas novas perspectivas com relação à economia da cultura e à economia criativa, buscando

oferecer ao mercado um novo tipo de engenheiro de produção capaz de aliar a tecnologia com

a criatividade para identificar, formular e resolver problemas ligados a atividades de projeto,

de operação e de gerenciamento do trabalho e da produção de bens e serviços das mais

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diversas áreas, isto é, tanto àquelas tradicionais quanto outras associadas ao setor cultural.

Este novo perfil profissional do engenheiro de produção o possibilita, portanto, a empregar

todo ferramental próprio da engenharia de produção para a área cultural, em seus diferentes

setores, e nas indústrias criativas relacionadas, tais a como produção de suportes – tablets e

celulares – e demais produtos e serviços (GORGULHO, GOLDESTEIN, ALEXANDRE et

al., 2009).

Tendo em vista este novo paradigma econômico, o presente artigo pretende relacionar

duas áreas dos setores criativos nucleares, quais sejam, as artes cênicas e a engenharia. Dentre

as diversas alternativas de diálogo entre estes dois campos, optou-se pela investigação quanto

à possibilidade de utilização de métodos e ferramentas associados à Pesquisa Operacional de

modo a resolver problemas históricos referentes à produção cultural brasileira. Neste primeiro

momento, serão focalizados os equipamentos culturais cariocas, cuja distribuição espacial

desigual no tecido urbano reflete a desigualdade social no Brasil. A questão propulsora deste

estudo é a seguinte: os métodos de Pesquisa Operacional aplicados à Localização das

Instalações Industriais podem contribuir para uma melhor distribuição dos equipamentos

culturais brasileiros? A fim de responder esta indagação, esta pesquisa acessou os dados

oficiais disponibilizados pela esfera pública aliada à uma pesquisa exploratória de base

bibliográfica e documental com o objetivo de estabelecer uma familiarização com o objeto

estudado. Em um primeiro momento, cabe perguntar: o que são os equipamentos culturais e

como eles se distribuem no território brasileiro, em geral, e no carioca, em particular?

2. Equipamentos culturais: suporte para oferta e demanda de bens e serviços culturais

No âmbito da cadeia produtiva da produção cultural brasileira, os equipamentos culturais

cumprem função da maior importância, visto que suportam a produção e a oferta de bens e

serviços culturais. Ou seja, as instituições ou equipamentos culturais “contribuem para

democratizar a cultura e para integrar populações, tanto de áreas periféricas como centrais,

pois oferecem aos cidadãos acesso a bens e serviços culturais” (MinC, 2012, p. 88).

É mister salientar que a oferta de bens e serviços culturais contraria a Lei de Say – que

afirma que toda oferta cria sua própria demanda. Não basta oferecer equipamentos culturais à

população de maneira indiscriminada que a demanda por eles será invariavelmente criada; na

prática, deve-se considerar uma diversidade de públicos cuja demanda por cultura varia

conforme diversos indicadores sociodemográficos, tais como a renda, o tempo livre, a

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experiência cultural, a escolaridade, a programação cultural oferecida, a faixa etária e a

localização dos equipamentos culturais. A instalação de equipamentos culturais deve,

portanto, vir acompanhada de uma adequada política cultural. Nesta direção, uma das metas

do Plano Nacional de Cultura é a ampliação dos espaços culturais com vistas à

democratização do acesso à cultura. Este cenário coloca em evidência a oferta de

equipamentos culturais, o que envolve tanto os agentes públicos quanto os agentes privados.

A pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) aponta

[...] uma diferenciação nas regiões do País, do ponto de vista cultural. De um lado os

estados das Regiões Norte e Nordeste (exceções do Estado do Ceará, Pernambuco, e

Bahia), com um menor número médio de equipamentos em seus municípios. Do

outro lado, as Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, com diferenciações importantes

dentro dos estados, sendo encontradas as mais elevadas médias no sul e oeste de

Minas Gerais, sul de Goiás, região metropolitana e entorno da cidade de São Paulo,

leste do Paraná e sul do Rio Grande do Sul. Mato Grosso do Sul e Espírito Santo

também apresentaram médias municipais elevadas. O Distrito Federal, por ser uma

única unidade, apresenta o maior indicador mas não apresenta um espaço fixo para

atividades de circo. O Rio de Janeiro, dentre as demais Unidades da Federação, é a

que detém a maior média para os equipamentos culturais e dos meios de

comunicação (IBGE, 2015, p. 20-1).

A desigualdade referente à oferta de equipamentos culturais brasileiros, apesar de

caminhar em uma direção positiva referente a uma maior igualdade de distribuição, está

bastante longe do ideal. Nesse sentido, pode-se concordar ainda com o diagnóstico realizado

por Frederico Silva, do Ipea, que define o caso brasileiro como

um verdadeiro arquipélago formado por microilhas, uma espécie de Polinésia

cultural, onde se encontram alguns poucos casos de municípios que têm todos os

equipamentos e muitos com carências significativas. [...] Esses dados sugerem a

existência de arquipélagos culturais, constituídos pelo agrupamento de municípios

com características semelhantes, que formam clusters de alta, média e baixa

densidade de oferta. É preciso considerar também o cluster dos municípios sem

qualquer equipamento cultural. Portanto, há padrões de agrupamentos de

municípios, que fazem que entre eles não se configure uma área contínua, extensa e

homogênea de cultura, mas um conjunto de ilhas com características semelhantes

(SILVA, 2007, p. 65-74).

A meta 31 do Plano Nacional de Cultura (2012) indica os percentuais de municípios que

devem ter algum tipo de instituição ou equipamento cultural – museus, teatros, salas de

espetáculo, arquivos públicos, centros de documentação – de acordo com o número de

habitantes. Ela procura resolver o desequilíbrio na distribuição dos equipamentos culturais em

escala nacional e, para tanto, considera fundamental o engajamento dos municípios e estados

em sua realização:

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No Brasil, a distribuição desses espaços reflete as desigualdades socioeconômicas.

Essa situação pode se alterar se houver compromisso em aumentar a oferta de

equipamentos, serviços e bens culturais em todas as cidades, sejam elas pequenas ou

grandes, de todas as regiões do país (MinC, 2012).

2.1 As lonas culturais e as arenas cariocas: o acesso à cultura na periferia do Rio de

Janeiro

As lonas culturais surgiram no cenário carioca com a percepção de parte da sociedade da

escassez de equipamentos culturais na periferia do Rio de Janeiro e da possibilidade de se

reaproveitar as lonas utilizadas durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92) enquanto espaços de oferta de produção cultural. Na

paisagem carioca, as lonas se transformaram rapidamente em instrumentos para promoção dos

artistas locais e para formação de plateia, além de recurso fundamental à recuperação de

espaços públicos como instrumento de transformação social e de recuperação de regiões

abandonadas e entregues à marginalidade. Posteriormente, após reivindicações de

organizações sociais, elas foram encampadas pela política municipal de cultura, integrando-se

ao projeto da Rede Municipal de Teatros, na primeira gestão de César Maia, a partir de 1996.

O objetivo principal foi o de permitir o acesso à produção cultural pela população de regiões

mais periféricas e desprovidas de equipamentos culturais.

Durante as gestões municipais posteriores de César Maia (2001 a 2008), as lonas

culturais passam a ancorar diretrizes que entendem a cultura como instrumento de

transformação e desenvolvimento da cidade por meio da inclusão sociocultural. A

importância das lonas pode ser observada pelo expressivo público que as tornou um sucesso

desde o início do projeto:

As lonas ganharam bastante notoriedade no final da década de 1990 ao serem

divulgadas pela imprensa por serem um sucesso de público e uma opção ao artista

de circular seu trabalho pela cidade. Ao analisar os números de público, seus

resultados são realmente expressivos se comparados aos da Rede de Teatros

Municipais, mas isso também pode ser explicado pela quantidade populacional

desses bairros versus a quantidade de equipamentos dos mesmos (CARVALHO, p.

19, 2013).

Na primeira gestão de Eduardo Paes (2009 a 2012), a carência de equipamentos culturais

nas áreas de planejamento (AP) das zonas Norte e Oeste do município foi identificada no

Planejamento Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro referente ao período. As lonas

continuam tendo um papel importante para a difusão da cultura, mas a novidade são as arenas

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cariocas, inauguradas em 2012, como espaços multiuso (suas configurações variam da arena

ao palco italiano) que reforçam a oferta de equipamentos culturais na periferia.

Em consonância com o Plano Nacional de Cultura, o Planejamento Estratégico da

Prefeitura do Rio de Janeiro 2013-2016 proposto pela segunda gestão de Paes define ações

para ampliar o acesso aos bens e serviços culturais por meio de, entre outras ações, uma

revisão da estrutura dos equipamentos culturais. O caráter de continuidade de ações referentes

à cultura na periferia e à centralidade dos equipamentos culturais estão presentes no

Planejamento Estratégico de 2017-2020, conforme aponta as iniciativas: Territorialização do

fomento à cultura, direcionados aos subúrbios e periferias e com perfil comunitário;

Recultura, relacionado à revitalização da rede de equipamentos culturais; e o Cultura da Paz,

voltado para promoção da frequência de jovens da rede municipal e famílias nos

equipamentos culturais e naturais.

As 10 lonas culturais espalhadas em vários pontos da cidade, listadas na Tabela 1,

seguem um padrão: são cobertas por uma lona sintética nas cores verde e branco, com uma

arena no centro e a arquibancada em formato de ferradura, conforme imagens abaixo:

Imagem 1: Lonas Culturais Cariocas – arquitetura, disposição espacial, logo e mapa de acesso

Fontes: http://www.lonagilbertogil.com.br, http://noticias.band.uol.com.br/ e

http://www.rionoteatro.com.br.

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Tabela 1. Ano de inauguração, nome das lonas e bairro e sua área de planejamento.

Ano de

inauguração Nome das Lonas Culturais Capacidade Bairro AP

2005 Lona Cultural Municipal Herbert

Vianna 320 Maré AP 3

1999 Lona Cultural Municipal João Bosco 320 Vista Alegre AP 3

1999 Lona Cultural Municipal Carlos Zéfiro 320 Anchieta AP 3

2000 Lona Cultural Municipal Terra 320 Guadalupe AP 3

2010 Lona Cultural Municipal Renato Russo Ilha do Governador AP 3

2007 Lona Cultural Municipal Jacob Do

Bandolim 490 Jacarepaguá AP 4

1998 Lona Cultural Municipal Gilberto Gil 320 Realengo AP 5

1997 Lona Cultural Municipal Hermeto

Pascoal 300 Bangu AP 5

1993 Lona Cultural Municipal Elza Osborne 320 Campo Grande AP 5

2004 Lona Cultural Municipal Sandra De Sá 320 Santa Cruz AP 5

Fonte: Relatório de Gestão 2013.

Hoje, a Rede Municipal de Teatros é composta por 12 teatros, 10 lonas e 4 arenas (tabela

3) distribuídos de modo extremamente desigual pelas Áreas de Planejamento (APs) da cidade.

Vemos na Tabela 2, uma concentração dos teatros na AP 2 (área que engloba os bairros da

zona sul da cidade) e das lonas e arenas nas APs 3 e 5.

Tabela 2. Número de teatros, lonas e arenas por APs

AP TEATROS LONAS ARENAS

AP1 2 - -

AP2 9 - -

AP3 1 5 3

AP4 - 1 -

AP5 - 4 1

Fonte: Relatório de Gestão 2013.

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Tabela 3. Nome das arenas, capacidade, bairro e sua área de planejamento.

ARENA CARIOCA CAPACIDADE BAIRRO AP

Jovelina Pérola Negra 330 Pavuna AP 3

Dicró – Carlos Roberto de Oliveira 338 Penha AP 3

Fernando Torres 330 Madureira AP 3

Abelardo Barbosa 330 Pedra de Guaratiba AP 5

Fonte: Relatório de Gestão 2013.

Uma análise simples da distribuição dos equipamentos culturais da cidade do Rio de

Janeiro administrados pela Prefeitura revela o mesmo desequilíbrio apontado em escala

nacional quando se compara com o contingente populacional de cada Área de Planejamento

(AP) definida pela Prefeitura (tabelas 4 e 5). Há uma quantidade expressiva de lonas culturais

e arenas cariocas em áreas com menor presença de equipamentos culturais “clássicos” – como

teatro, museu, biblioteca, cinema e centro cultural –, mas que, curiosamente, abrigam a 1º e 2º

maior parcela da população carioca, respectivamente. Observa-se este fenômeno na AP3 e na

AP5, sendo a AP4 uma exceção.

As lonas culturais e arenas cariocas foram uma saída rápida, criativa e, sobretudo, barata

(tendo em vista que o custo de operacionalização e construção desses equipamentos são bem

menores do que o dos equipamentos culturais clássicos) para ofertar cultura à população

distante dos grandes centros culturais cariocas.

Tabela 4: Distribuição de Equipamentos Culturais Municipais por Área de Planejamento em 2013

Bibliotecas Teatros Museus

Lonas

Culturais

Arenas

Cariocas

Centro

Cultural Total

AP1 3 2 2 - - 5 12

AP2 2 9 2 - - 3 16

AP3 4 1 - 5 3 1 14

AP4 1 - - 1 - 1 3

AP5 2 - 1 4 1 - 8

Total 12 12 5 10 4 10 53

Fontes: Instituto Pereira Passos

Sem as lonas e arenas nas áreas de planejamento AP3 e AP5 – que reúnem os bairros da

periferia do Rio de Janeiro –, os dados sobre a distribuição dos equipamentos culturais no

município mostrariam uma distribuição ainda mais desigual dos equipamentos.

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Tabela 5: Áreas de planejamento e bairros da cidade do Rio de Janeiro

APs Bairros População

AP1

Saúde; Gamboa; Santo Cristo; Caju; Centro; Lapa; Catumbi; Rio

Comprido; Cidade Nova; Estácio; Imperial de São Cristóvão; Mangueira;

Benfica; Vasco da Gama; Paquetá; Santa Teresa.

297.976

AP2

Flamengo; Glória; Laranjeiras; Catete; Cosme Velho; Botafogo; Humaitá;

Urca; Leme; Copacabana; Ipanema; Leblon; Lagoa; Jardim Botânico;

Gávea; Vidigal; São Conrado; Rocinha; Praça da Bandeira; Tijuca; Alto da

Boa Vista; Maracanã; Vila Isabel; Andaraí; Grajaú.

1.009.170

AP3

Manguinhos; Bonsucesso; Ramos; Olaria; Maré; Jacaré; São Francisco

Xavier; Rocha; Riachuelo; Sampaio; Engenho Novo; Lins de Vasconcelos;

Méier; Todos os Santos; Cachambi; Engenho de Dentro; Água Santa;

Encantado; Piedade; Abolição; Pilares; Jacarezinho; Vila Cosmos; Vicente

de Carvalho; Vila da Penha; Vista Alegre; Irajá; Colégio; Campinho;

Quintino Bocaiúva; Cavalcanti; Engenheiro Leal; Cascadura; Madureira;

Vaz Lobo; Turiaçu; Rocha Miranda; Honório Gurgel; Oswaldo Cruz;

Bento Ribeiro; Marechal Hermes; Higienópolis; Maria da Graça; Del

Castilho; Inhaúma; Engenho da Rainha; Tomás Coelho; Complexo do

Alemão; Penha; Penha Circular; Brás de Pina; Cordovil; Parada de Lucas;

Vigário Geral; Jardim América; Guadalupe; Anchieta; Parque Anchieta;

Ricardo de Albuquerque; Coelho Neto; Acari; Barros Filho; Costa Barros;

Pavuna; Parque Colúmbia; Ribeira; Zumbi; Cacuia; Pitangueiras; Praia da

Bandeira; Cocotá; Bancários; Freguesia; Jardim Guanabara; Jardim

Carioca; Tauá; Moneró; Portuguesa; Galeão; Cidade Universitária.

2.398.572

AP4

Jacarepaguá; Anil; Gardênia Azul; Curicica; Freguesia; Pechincha;

Taquara; Tanque; Praça Seca; Vila Valqueire; Cidade de Deus;

Joá.Itanhangá; Barra da Tijuca; Camorim; Vargem Pequena; Vargem

Grande; Recreio dos Bandeirantes; Grumari.

909.955

AP5

Padre Miguel; Bangu; Senador Camará; Gericinó; Deodoro; Vila Militar;

Campo dos Afonsos; Jardim Sulacap; Magalhães Bastos; Realengo;

Santíssimo; Campo Grande; Senador Vasconcelos; Inhoaíba; Cosmos;

Paciência; Santa Cruz; Sepetiba; Guaratiba; Barra de Guaratiba; Pedra de

Guaratiba.

1.704.773

Fontes: Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos e Censo 2010

Além de considerar a localização dos equipamentos, conforme a Tabela 4, foram

levantados dados referentes às APs quanto ao índice de desenvolvimento social (IDS) e

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rendimentos por domicílio, com o intuito de melhor fundamentar a análise da distribuição das

lonas e arenas pela cidade.

O índice de desenvolvimento social (IDS) é utilizado para estudar o desenvolvimento

social em áreas urbanas e inclui as seguintes dimensões de análise: acesso ao saneamento

básico, qualidade habitacional, grau de escolaridade e disponibilidade de renda média. Ao se

observar a distribuição dos equipamentos culturais no município e o índice de

desenvolvimento social (IDS) por APs (Tabela 3), verifica-se que a AP5 e a AP3 têm os

menores IDS – respectivamente, 0,56 e 0,59 –, ficando abaixo da média de 0,61 das APs.

Fazendo o paralelo entre a distribuição dos equipamentos culturais no município e o

rendimento médio dos responsáveis, que têm rendimento, pelos domicílios em salários

mínimos por APs (tabela 3), com base nos dados do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira

Passos (IPP), observa-se que as AP5 e AP3 também têm os menores rendimentos –

respectivamente, 2,51 e 3,14 –, ficando abaixo da média de 4,78 das APs.

Tabela 3: Rendimento médio dos responsáveis, que têm rendimento, pelos domicílios em

salários mínimos.

Áreas de Planejamento, Regiões de

Planejamento, Regiões Administrativas

e Bairros

Índice de

Desenvolvimento

Social

Rendimento médio dos

responsáveis, que têm

rendimento, pelos domicílios em

salários mínimos.

Media 0,61 4,78

AP1 0,60 3,27

AP2 0,70 9,57

AP3 0,59 3,14

AP4 0,62 6,67

AP5 0,56 2,51

Fonte: Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos

As análises dos dados do IDS, do rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios

em salários mínimos e da distribuição por tipos de equipamentos culturais por APs

corroboram a orientação da política cultural municipal no sentido de ampliar o acesso de bens

e valores culturais para as regiões mais periféricas e com indicadores sociais mais baixos em

relação às outras APs. O coeficiente de correlação entre rendimento médio por AP e o número

de lonas e arenas como também o coeficiente de correlação entre o IDS por AP e o número de

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lonas e arenas são ambos iguais a aproximadamente -0,61, mostrando uma correlação

negativa entre essas variáveis, o que reafirma a política cultural do Rio de Janeiro.

Na ausência de equipamentos tradicionais, as lonas e arenas cariocas se destacam como

suporte para difusão dos bens culturais no âmbito da política cultural do município. Focalize-

se a presente análise nas APs 3 e 5: devido ao fato de 65% da população da cidade viver

nestas regiões, as atividades culturais realizadas aqui expressam a importância destes

equipamentos para difusão da cultura. Conforme o Relatório de Gestão de 2013 da Secretaria

Municipal de Cultura, quase 74% do total das atividades culturais realizadas na AP3

ocorreram nas lonas e arenas (Gráfico 1), enquanto que, na AP5, essa taxa chega a 93%

(Gráfico 2).

Gráfico 1: Percentual de atividades realizadas por equipamento na AP3

Fonte: Relatório de Gestão 2013

Observe-se que o percentual das atividades realizadas no único teatro localizado na

AP3 não aparecem no Gráfico 1 pois foram realizadas apenas 4 atividades ao longo do ano

2013, um percentual igual a 0,0006%.

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Gráfico 2: Percentual de atividades realizadas por equipamento na AP5

Fonte: Relatório de Gestão 2013

Quanto à demanda, as atividades desenvolvidas nas lonas e arenas cariocas também se

destacam pelo total de público, como se verifica nos Gráficos 3 e 4. A exceção é o Centro

Cultural Imperator, localizado na AP3, que teve um público muito acima dos demais

equipamentos.

Gráfico 3: Público das atividades realizadas por equipamento na AP3

Fonte: Relatório de Gestão 2013

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Gráfico 4: Público das atividades realizadas por equipamento na AP5

Fonte: Relatório de Gestão 2013

3. Contribuições do ferramental da pesquisa operacional na gestão de equipamentos

culturais

Nessa seção, propõe-se um levantamento de algumas técnicas de pesquisa operacional

que serão, em momentos posteriores desta pesquisa, aplicados ao problema da distribuição

desigual de equipamentos culturais no território carioca, à análise de eficiência desses espaços

e à compreensão das relações entre os diversos agentes para o funcionamento das atividades

nesses espaços. A necessidade desta exposição é uma só: mostrar que, diante das

desigualdades sociais refletidas na distribuição dos equipamentos culturais, os métodos da

Engenharia de Produção, em especial da Pesquisa Operacional, podem representar uma

solução.

O problema da localização de facilidades (escolas, hospitais, serviços, fábricas etc.) é

uma importante linha de investigação da pesquisa operacional. Em geral, o objetivo destes

problemas é determinar a quantidade e a localização ideal das facilidades de forma a atender

da melhor maneira possível um conjunto de usuários cuja localização é conhecida. Diversas

variantes do problema da localização de facilidades são encontradas na literatura (Arenales et

al. [2007] e Ballou [2004]). Dentre essas variantes destacam-se abaixo três modalidades de

problemas:

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No Problema das p-medianas, tem-se que a localização ideal das facilidades

corresponde a centros de gravidade que minimizem a distância usuário–

facilidade;

No Problema de Localização de Máxima Cobertura, tem-se a finalidade de

encontrar a melhor localização de facilidades de modo a cobrir uma região de

maneira eficiente;

No Problema dos p-centros, busca-se localizar as facilidades e clientes, de

modo a minimizar a distância máxima entre os clientes e a facilidade.

A pergunta que se pode fazer é a seguinte: de acordo com um determinado método de

localização de facilidade, as localizações das lonas culturais e arenas cariocas são adequadas

para atender à população da periferia do Rio de Janeiro?

Um estudo de localização como esse exigirá um conhecimento da distribuição

geográfica da população da região, o que pode ser realizado por meio da divisão em setores

censitários divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Então, na

modelagem, usa-se um grafo ponderado, onde os vértices são os centroides de cada setor

censitário e os pesos nas arestas são as distâncias euclideanas entre os centroides. O uso de

softwares SIGs (Sistemas de Informação Geográficos) será fundamental para representar os

espaços e fazer análises.

Nas tabelas apresentadas ao longo do texto, observa-se uma diferença no número de

público alcançado pelos equipamentos. Uma análise da eficiência desses espaços poderá ser

obtida por meio da ferramenta Análise por Envoltória de Dados (DEA), uma técnica de

pesquisa operacional utilizada para medir a eficiência de unidades produtoras de bens e

serviços chamadas DMUs (abreviação do inglês Decision Making Units).

Para produzir os bens e serviços (outputs), as DMUs utilizam insumos (inputs), como

por exemplo, matéria-prima, mão-de-obra, capital. Considerando-se DMUs que desenvolvam

atividades semelhantes, suas produtividades podem ser comparadas e, com isso, é possível

determinar a DMU mais produtiva. Esta, em geral, é aquela que utiliza mais tecnologia, mão-

de-obra mais qualificada, melhores matérias-primas e melhor gerenciamento dos recursos. O

DEA calcula a eficiência de uma DMU em relação à DMU que apresentar melhor

desempenho, dentre as componentes da amostra analisada.

Para usar a análise por envoltória de dados para medir a eficiência dos equipamentos

culturais da cidade do Rio de Janeiro, será necessário estabelecer os inputs e outputs para esse

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estudo. Esses dados podem ser coletados por meio dos relatórios de gestão fornecidos pela

SMC do Rio de Janeiro. Os dados condensados neste estudo já caminham nesta direção.

Uma outra vertente de atuação proposta aqui se refere ao estudo de redes, que, por sua

vez, tem despertado muito interesse da comunidade científica devido às diversas aplicações ao

mundo real. Uma rede pode ser representada por um grafo. Numa rede social, os vértices

podem representar pessoas ou organizações e as arestas expressam as relações entre eles

(como, poder, amizade ou conhecimento).

Na análise de redes, destaca-se o estudo da centralidade de um vértice, onde busca-se

determinar qual é a importância do vértice na rede ou qual é o vértice mais central. A noção

de centralidade em redes sociais foi introduzida por Bavelas em 1948, de modo que um

vértice numa rede social era considerado mais central se estivesse localizado num caminho

mais curto de comunicação entre os pares. Porém, existe na literatura uma boa variedade de

medidas de centralidade, que tentam ressaltar diferentes aspectos da posição de um vértice na

rede. Dessa forma, a escolha da medida de centralidade a ser adotada dependerá do problema

analisado.

No caso dos equipamentos culturais lonas e arenas, muitos são os elos de conexão com

os diversos agentes: usuários, empresas privadas, governo, artistas, comunidade, atividades

culturais, organizações não governamentais. É mister saber em que medida ocorrem essas

interações com esses agentes de modo a favorecer uma maior colaboração com agentes com

pouco aproximação e aprimorar a gestão desses espaços. Diversos modelos de redes podem

ser formulados com essa temática, atribuindo-se vértices respectivos aos equipamentos,

usuários, empresas, artistas, governo, ONGs, tipos de atividades culturais etc. Para obter a

rede, é necessário realizar uma pesquisa empírica com a aplicação de questionários aos

gestores desses equipamentos.

4. Considerações finais

As desigualdades sociais que historicamente marcam o Brasil também se manifestam na

distribuição dos equipamentos culturais. Diante desta questão histórica e social, uma das

formas de se buscar uma solução encontra-se nos métodos desenvolvidos no contexto da

Engenharia de Produção. O estudo das localizações das instalações culturais baseado em

métodos disponibilizados pela Pesquisa Operacional insere-se neste esforço, sendo o presente

artigo apenas o primeiro passo nesta direção.

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REFERÊNCIAS

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