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CONSTRUIR NO CONSTRUÍDO ARQUITECTURA ANÓNIMA (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches) DIANA ASTRIDE BALETTE PECEGUEIRO DE NORONHA FEIO PROJECTO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ARQUITECTURA ORIENTADOR: ANTÓNIO JOSÉ DAMAS COSTA LOBATO SANTOS JÚRI: PRESIDENTE: DOUTOR HUGO LOPES FARIAS VOGAL: DOUTOR NUNO MIGUEL GOMES ARENGA DA CRUZ REIS LISBOA, JULHO,2012 FACULDADE DE ARQUITECTURA UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

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Page 1: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

Construir no Construído

ARQUITECTURA ANÓNIMA(ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

diAnA AstridE BALEttE PECEGuEiro dE noronHA FEio

ProJECto PArA oBtEnÇÃo do GrAu dE MEstrE EM ArQuitECturA

oriEntAdor: AntÓnio JosÉ dAMAs CostA LoBAto sAntos

JÚri:PrEsidEntE: doutor HuGo LoPEs FAriAsVoGAL: doutor nuno MiGuEL GoMEs ArEnGA dA CruZ rEis

LisBoA, JuLHo,2012

FACuLdAdE dE ArQuitECturA

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOAFA UTL

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Construir no ConstruídoARQUITECTURA ANÓNIMA (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

diAnA AstridE BALEttE PECEGuEiro dE noronHA FEio

ProJECto PArA oBtEnÇÃo do GrAu dE MEstrE EM ArQuitECturA

oriEntAdor: AntÓnio JosÉ dAMAs CostA LoBAto sAntos

JÚri:PrEsidEntE: doutor HuGo LoPEs FAriAsVoGAL: doutor nuno MiGuEL GoMEs ArEnGA dA CruZ rEis

LisBoA, JuLHo,2012

FACuLdAdE dE ArQuitECturA

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

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I

Construir no Construído

Lisboa, Julho, 2012

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

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III

Construir no Construído

Dedicado a todos, os presentes e especialmente aos ausentes, que todos os dias me acompanharam neste percurso.

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IV

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

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V

Construir no Construído

DaconstruçãodonovoedifíciodoMuseuNacionaldosCochesnasceo

pretexto para a discussão do valor da imagem das construções populares de

Lisboa. Sob a denominação de Arquitectura Anónima apresenta-se um estudo que

abordaaquestãourbanaetipológicadestasconstruçõeslisboetastãomarcadas

pelasuatopografiaecaracterizadospelasuahistória.Esteestudoabordaotema

construir no construído como solução para a cidade. Soluções de transformação

e adaptação às necessidades da sociedade contemporânea, mas soluções de

continuidadetambém,dasformas,damemória,daidentidadeedetudooque

constituiapaisagemdeLisboa.

Resumo

Palavras-Chave

Arquitectura Anónima, Paisagem, Lisboa, Adaptabilidade.

Tema: Construir no Construido

Título:ArquitecturaAnónima(oupensaraenvolventedonovoMuseudoscoches)

OrientadorCientífico:ProfessorDoutorAntónioJoséDamasCostaLobatoSantos

Orientanda:DianaAstrideBalettePecegueirodeNoronhaFeio(Licenciada)

Assunto: Dissertação/ProjectoparaobtençãodoGraudeMestreemArquitectura

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

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Construir no Construído Abstract

Keywords

Anonymous Architecture, Lisbon, Townscape, Adaptability.

Tema: Build on the Built

Título:AnonymousArchitecture(orthinkthesurroundingofthenewCoachMuseum)

OrientadorCientífico:ProfessorDoutorAntónioJoséDamasCostaLobatoSantos

Orientanda:DianaAstrideBalettePecegueirodeNoronhaFeio(Licenciada)

Assunto: Dissertação/ProjectoparaobtençãodoGraudeMestreemArquitectura

FromtheconstructionoftheNationalCoachMuseum’snewbuildingcomes

thepretextforthediscussionoflisbon’spopular’sconstructionsrinit’svalueand

image. On behalf of Anonymous Architecture is presented a study that addresses

theurbanityandtypologicalconstructionremarkablebyitstopographyandchar-

acterizedbyitshistory.Theanonymousarchitecturerevealsitselfasastudyofthe

‘buildingonbuilt’thatseekssolutionstothiscity.Solutionsoftransformationand

adaptationtotheneedsofcontemporarysociety,butalsocontinuitysolutions,

continuityoftheforms,memory,identityandallthatthatprovidesthelandscape

of Lisbon.

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

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IX

Construir no Construído

pag.

01. introdução 001

02. Enquadramento 003

03. num olhar sobre a cidade 009

04. ‘Manta de retalhos’ 015

05. Arquitectura urbana 013

06. Construir no Construído 037

07. Análises da Casa urbana 043

08. Considerações sobre reabilitação das

estruturas da arquitectura anónima 061

09. A casa da arquitectura anónima 063

10. A Casa sob a casa 075

11.Anovafigura-MuseudosCoches 083

12.Ofundo-RuadaJunqueiraPoente 087

13. descrição da proposta 107

14. Conclusão 121

15.Bibliografia 123

Anexos

ArQuitECturA AnÓniMA | cidade

ArQuitECturA AnÓniMA | casa

ArQuitECturA AnÓniMA | rua da Junqueira

Indice

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

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XI

Construir no Construído

Fig. 01. “as cuecas a secar e ...”Belém,Marçode2011

Fig.02. UmimagináriodeLisboa (SerigrafiaVascoFolha)

Grup. 03. Arquitectura Anónima (DianaNoronhaFeio) 03.a)SéeAlfama(MariaMargaridaMaurício)

03.b)CasteloeMouraria 03.c)ConventodoCarmoeS.Roque 03.d)Ig.deSta.EngraciaeS.Vicente 03.e)Ig.StoEstevãoeAlfama 03.f)MosteirodeS.Vicente Grup.04.‘MantadeRetalhos’(DianaNoronhaFeio) 04.a)PátioemAlfama 04.b)Esqueletodeumedifício 04.c)Vistadeumpátio

Grup. 05. Arquitectura Urbana (DianaNoronhaFeio) 05.a)Caminhoparapeões,escadinhaparaaBica 05.b)Ruasmistas 05.c)Largo,R.doSéculo 05.d)Praceta,JardimdaAmoreiras 05.e)Entrelaçamenoeluz/sombra 05.f)PerspectivaGrandiosa,Pq.EduardoVII 05.g)Pavimento 05.h)Desníveis 05.i)IntensidadeUrbana

Fig. 06. The Eyes of The Skin: Art And The Senses; (PerformanceaovivodeMarkShepard’s;no

BurchfieldPenneyArtCenter,NI;Janeirode2011

(http://www.burchfieldpenney.org)

Grup. 07. Arquitectura Guardiã da Memória; participaçãodeManueldeOliveira; Lisbon Story;filmedeWimWenders,1994

Grup. 08. Cidades do Cinema; idem;

Grup.09.Beauty;OlafurEliasson; 09.a)2007(missdelite.blogspot.com)

09.b)1993(www.olafureliasson.net)

Indice de imagens

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Grup. 10. Ambiente e memória 10.a)Oeléctricoeoamolador 10.b)Aslavadeiras (cenas de Lisbon Story;filmedeWim

Wenders,1994)

Fig.11. Estruturaurbanaearquitecturaanónima(DianaNoronhaFeio)

Fig.12. Lisboa-Composição(TapeçariaCarlosBotelho)

Fig. 13. Figura ou Fundo? (fontedesconhecida)

Fig. 14. Casa R. do Século (DianaNoronhaFeio)

Grup.15.CasaMedieval 15.a)Plantasdecasasmedievaisparisienses 15.b)Ilustraçãodoespaçomultifuncionaldo interiordeumahabitaçãonoséc.XVI (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:

XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-

rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -

UTL,2009)

Fig. 16. Casa Burguesa - Distribuição (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:

XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-

rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -

UTL,2009)

Fig.17. EvoluçãodaCasaMedieval (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:

XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-

rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -

UTL,2009)

Grup.18.a)eb)Plantascasadoséc.XIX (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:

XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-

rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -

UTL,2009)

Grup.19.Casamoderna 19.a)Evoluçãourbana-VR 19.b)Distribuiçãooptimizada-púplico/privado 19.c)Habitarmínimo

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Construir no Construído

19.d)Estudosdeoptimizaçãodacozinha 19.e)Experiênciassoviéticas 19.f)Optimizaçãodosquartos (in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade

deArquitectura-UTL,2009)

Grup20.Tipologiasséc.XVIeXVII 20.a)tipologia1 20.b)tipologia2 (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)

Grup.21Alteraçõespombalinas (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)

Fig.22 Alteraçõestardo-pombalinas (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)

Fig.23 MalhaUrbanadoBairroAlto (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)

Fig24. Lisboa,1999;Ilfochrome (DossierDuarteAmaralNetto;JAProgramar)

Grup.28CasaCollage 28.a)CasaKhunder,AdolfLoos 28.b)‘carromatos’

Grup.29HabitaçõesFufuoka,S.Holl 29.a)Plantasdointerior 29.b)Imagemdointerior1 29.c)Imagemdointerior2 (FUTAGAWA,Yukio(ed.);GAarchitect-Chronicleofmodernarchi-

tects:StevenHoll;nº167,Tokio:1993)

Grup.30CasaContentor,A.Wexerl 30.a)Contentor 30.b)Organizaçãosegundoumnúcleocentral1 30.c)Organizaçãosegundoumnúcleocentral2 30.d)Alçadodocontentorcozinha 30.e)Alçadodocontentorsala (GUSTAU,GiliGalfetti (dir. coord.);AllanWexler; EditorialGustavo

Gili,Barcelona:1998)

Fig. 31 Re-inventar vínculos (fotografiaCharleseRayEames)

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Grup.32MuseudosCoches 32.a)Maquete(MMBB) 32.b)Fotomontagemcomenvolvente 32.c)Relaçãomacrocomasdinâmicas 32.d)Relaçãodirectacomaenvolvente

Fig.33 AmarginaldaCidadedeLisboa,1960

Fig.34 Esquemamorfológicodosítio

Grup.35Análisefotograficadaenvolvente(DianaNoronhaFeio)

Grup.36Esquemasconclusivos 36.a)Estadodeconservação 36.b)Levantamentodeusos 36.c)Cérceas 36.d)Revestimentos 36.e)Pormenoresdedestaque 36.f)propostadeacção

Gp. 37 Plano urbano 37.a)lugar 37.b)objectivo 37.c)conceito 37.d)esquemadepistas 37.e)cortedeconceito 37.f)proposta 37.g)diagramadedeníveis

Gp. 38 Arquitectura Anónima - Arq. Urbana 38.a)lugar 38.b)alteraçãodoedificadopropostas 38.c)axodeconceitosdaArq.Urbana 38.d)Ilustraçãoesquemadanarrativa

Fig.39. Ciclodacasa

Fig. 40. Intervenção

Fig.41. Motor

Fig.42. Motoredefiniçãodeespaço

Fig. 43. Reinventar da estrutura medieval

Fig.44. Definiçãodoprograma

Fig.45. Intervençãotiponacasa

Page 19: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

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Construir no Construído

Quadros e Tabelas:

Quadro 01. Arquitectura Anónima - Intenções e Instrumentos

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

fig.01“ascuecasasecare...”Belém;Marçode2011

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Construir no Construído

Pertinência

Objectivos

Metodologia

Motivação

01. Introdução

Paracompreenderanaturezadopresenteprojectoeasuagénese,háqueex-

plicarasuaorigem.Oproblemaremontaa2010,aquandodoiníciodaconstruçãodo

novoMuseudosCoches,emBelém,queexpõearealidade“crua”daenvolventedonovo

museu então em construção. Da constatação da falta de qualidade dessas construções

daenvolventeedoseupapelde“fundo”/”cenário”donovoMuseudosCoches,surgeo

tema deste argumento.

Oqueéa‘arquitecturaanónima’?Qualoseuvalor?Qualasuanatureza?

Acertaalturanoiníciodesteestudo,surgeumaconsideraçãodeSizaVieiraso-

bre como a paisagem urbana de Lisboa se desenvolve em torno das ‘múltiplas constru-

ções anónimas’.Ora,naassociaçãodapertinênciadesteprojectoàimagemdapaisagem

urbanadeLisboa,apresentadaporSiza,nasceotermo‘arquitecturaanónima’etraça-se

naincertezaaindadoquerepresentaráconcretamenteestetermo,oconceitoeobjecto

arquitectónico a perseguir e desvendar ao longo do estudo.

Opresenteestudocomportaduaspartesdistintasecomplementares,aarqui-

tectura anónima na cidade e a arquitectura anónima na casa. Isto é, procura-se compro-

varaexistênciadaarquitecturaanónimaenquantoumaestruturaurbana,quefunciona

comoumtodocoerentedemúltiplasconstruções,gerandoumambienteurbanopró-

prio.Construçõesessasque,porconfrontocomosedifíciosmonumentaiseinstitucio-

nais (protagonistasda cidade), seapresentamsobretudoenquantocasas,múltiplase

variadas,talcomoquem‘nelas’habita.Quecasaéessa,éoâmbitodasegundaparte

desteestudo.Afimdevalidarprincípiosapresentadosaolongodoestudo,elabora-se

umprojectoqueconfrontaocarácterprotagonistadonovoMuseudosCochescomo

anonimato da estrutura urbana que o envolve.

Adefiniçãodestetrabalhoreflecteumaprocurapessoalsobreosmodosdeac-

tuar/intervirnacidade,maisconcretamentenasconstruçõesanónimasdaRuadaJun-

queira.

Introdução

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

QuandoépropostootemacentraldotrabalhofinaldoMIARQ2010/11,oqual

confrontaumaarquitecturaparticularedegradada,comaconstruçãodonovoMuseu

dos Coches, começo a estruturar o entendimento de um ainda desconhecido valor des-

sas construções.

Oobjectivoérequalificarmascomofazê-lo?Partodeumarecusaemdemolir

acriticamenteasconstruçõesdaRuadaJunqueiraemproldeumatotalmentenovacons-

trução,porquantoconsideroqueestaseriaumasoluçãoquefaria“tábuarasa”detudo

oqueestevesubjacenteaoconstruídonoutrostempos,poroutroshomens,equefaz

partedagénesedaprópriaRuadaJunqueira.

Nessesentido,acreditomaisnovaloracumuladoaolongodostemposdoque

apenas na aposta em novas construções, pelo que procuro um discurso que contemple

o ora postulado. A minha propos ta para o lugar procura revelar-se como uma leitura do

carácterdaestruturaondeseinsere,que,comoqualqueracção,revelaporsiaindividu-

alidade,cunhoousubjectividadedequempropõe.

Assentenacrençadequeoactode‘arquitectar’nacidadenãodeveráserum

mundoemsiisolado,masquereflecteumasociedadeeosvaloresaelaassociados.

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Construir no Construído

02.Enquadramento

Encontra-senasteoriassobreapercepçãoumaferramentaparacompreender

osmúltiplospapéisperceptivosdesempenhadosnacidade.Opresenteensaioencontra

nosfundamentosdafigura-fundodaGestaltosuporteconceptualparacompreendera

importânciadeumfundo,semoqualseriadifíciladefiniçãodequalquerfigura.Assim

sendo,foca-senacidade,essepapeldecenário,oufundo.

Aoabordaroconceitodefigura-fundodestacam-setrêsgrandesprincípios:cam-

poperceptivo,estruturaefigura.Osgestaltistasargumentamqueocampoperceptivo

– espaço que serve de suporte aos diversos fenómenos visuais – é entendido através

deumaestrutura,umconjuntodeelementosquepermitemadefiniçãodeumafigura.

Portanto e segundo esta teoria, a percepção mostra-se como um processo global de

organizaçãodasinformaçõessensoriais,sendoadistinção‘figura-fundo’aprimeiraorga-

nizaçãovisualnumconjuntodeestímulos.1

Para a compreensão do fundo como um todo per si é importante compreender

queaorganizaçãodasinformaçõessensoriaisassentanoprincípiodasimplicidadeefun-

cionadeacordocomasleisdoagrupamentoperceptivo,sendoestas:aleidaproximida-

de,dasemelhançaedaboaformaentreobjectos(Kendler,1974).

AênfasedateoriadaGestaltnapercepçãocomoumprocessoholísticoenoas-

pectodinâmicoeorganizativodapercepção,servecomoferramentaparacompreender

ostiposdecaracterísticasvisuaisquetendemaserpercepcionados,paraassimpoder

actuar sobre a cidade consolidada com mais essa informação adicional.

Oensaioqueseguecentra-senacompreensãoda‘estrutura’dacidadenumdu-

plosentido,istoé,enquantoumaestruturaperceptivaquesecaracteriza,nasuamaioria,

por uma aparente homogeneidade, passando despercebida e servindo de complemento

àfigura2eenquantoestruturaquesuportaavidaquotidianadoshabitantesdacidade

que complementa os lugares excepcionais de culto.

1 Muga, Henrique; Psicologia da Arquitectura; pp. 71-752 Conforme definição gestál-tica.

Enquadramento

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

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Construir no Construído

ArQuitECturA AnÓniMA | cidade

fig.02um imaginário de Lisboa

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

gp.03.a)SéeAlfama

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

ARQUITECTURAANÓNIMA| cidade

SobrearecuperaçãodoChiado,em1988,SizaVieirarefere:

(...) sempre me espantou, em Lisboa o contraste entre o tecido frag-mentado e quase cubista, influenciado pela cultura árabe, e as grandes construções, os grande palácios. Este duplo determina a intensidade da expressão arquitectónica. Não existe monumento importante na cidade sem a continuidade anónima de múltiplas construções: trata-se de as-pectos qualitativos complementares. E contudo, na evolução da cidade, a perda deste sentido do papel de cada construção está aos olhos de to-dos. A generalizada ambição de protagonismo torna por isso impossível qualquer forma de protagonismo. (...) 3

AconsideraçãoqueSizaapresentasobreLisboa,ondea‘continuidadeanónima

demúltiplasconstruções’surgecomoumcenárioqueofereceprotagonismoaospalá-

cios e monumentos, anuncia o tema fulcral desta dissertação – a arquitectura anónima.

AreflexãosobrearquitecturaanónimanacidadedeLisboaincidenaidentifica-

çãodeestruturasurbanascomascaracterísticasanunciadasenoseuentendimentoen-

quantoobjectosdaproblemáticaarquitectónicanoactode“construirnoconstruído”.

3 Siza; Imaginar a Evidência, 2000;p97.

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

gp.03.c)ConventodoCarmoeS.Roque

gp.03.d)IgrejadeSta.EngráciaeS.Vicente

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

03.Numolharsobreacidade

Lança-se, num primeiro instante, um olhar sobre Lisboa que corresponde a

esse tecido fragmentadoequasecubista.Entende-sequeSiza se refereàLisboaque

se encosta às colinas e se constrói em socalcos, compreendendo a cidade que desde

os primeiros tecidos espontâneos aos da revolução industrial, da segunda metade do

século XIX, cresce ao longo da margem do rio Tejo e dos seus vales e colinas. O posterior

crescimento da cidade alcança as partes altas e mais planas, tomando um díspar urban-

ismo,emregularidadeeescala.ALisboaaqueserefereSizaéentãoaLisboadascolinas,

dostecidosdaGraça,deAlfama,daMouraria,tambémaLisboadaMadragoa,S.Bento,

Lapa, Alcântara e Ajuda. Lisboadospaláciosedasmúltiplasconstruçõesanónimas.Estas

últimasconstruídasnasuaquasetotalidadeporedifíciossimplesehumildes,manifes-

tamnos laçosqueestabelecementresiasuamaior riqueza. A busca da arquitectura

anónimateminícionumitinerárioquelevaráaosmiradourosqueavistamessaLisboa

acidentadaeconstruídaaolongodahistória(vergurpo03).

gp.03.b)CasteloeMouraria

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

gp.03.e)IgrejaStoEstevãoeAlfama

gp.03.f)MosteirodeS.Vicente

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

04.‘Mantaderetalhos’

Aconstruçãodacidadeemváriasidadesetemposdistintoslevouaumvastoe

variadoconjuntourbano,constítuindoaidentidadedapaisagemdeLisboa.Noentanto,

aconstruçãonacidadenasúltimasdécadasémarcadaemcertamedidaporumaapa-

rentefaltadecritérionoconjuntourbano.Portodaacidadeverifica-seumacrescente

descaracterizaçãodotecidocomgravesincongruênciasmorfológicas4.

Verifica-se,também,adesertificaçãodasestruturasdevocaçãomaishabitacio-

nal, como é o caso das estruturas urbanas da arquitectura anónima, a população migra

paranovasemaisbemequipadashabitaçõesforadoslimitesdacidade(vergrup.04).

Ocrescenteabandonoedestruiçãodosnúcleosdaarquitecturaanónimalevaaocorte

fataldaidentificaçãodacidadecomapopulação,destruindoovínculomaisimportanteà

vida‘eterna’dacidade.Urgeentãodisciplinar,dotardenovaconsciênciaasintervenções

oranecessárias,sobpenadatotaldescaracterizaçãodotecidourbanodeLisboa5.

NaLisboaqueseapresenta,aLisboadosnúcleosmaisantigos,mastambémda

generalidadedacidade,realça-seasuapersonalidadeúnicaassentenasuatopografiae

noquedelaadvém,asingularidadedasváriasarquitecturasnasescalaserelaçõesque

entre si estabelecem. Realça-se a arquitectura anónima como uma estrutura urbana e

específica,dedistintostemposemodosdeconstruirnasuatopografia.

Nestesentido,oestudoquesegueprocuramecanismosdeactuaçãonacida-

de,procurandocritériosquesefundamentamemvaloresurbanos,decontinuidadedas

estruturas próprias, dos ambientes e de memória, que assim vinculem os habitantes à

cidade.

4 Guia Urbanístico e arquit-etónico de Lisboa;1987;p.465 Idem; p. 47

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

gp.04.a)PátioemAlfama

gp.04.b)“Esqueleto”deumedifício

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

gp.04.c)VistadeumpátioemAlfama

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Page 35: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

05. Arquitectura urbana

Desenvolver-se-áaquioconceitode“arquitecturaurbana”enquantoumaescala

de projecto intermédia 6 (que se encontra entre o planeamento urbano e o projecto de

arquitectura)queassentaemprincípiosdecontinuidadeecoerênciamorfológica.Esta

escala de intervenção serve como uma ferramenta fundamental ao serviço da arquitec-

turaanónima,podendoatravés‘dela’devolverumsentidourbanodotecidoretalhado

da cidade.

Através de exemplos em Lisboa e com base em autores teóricos reconhecidos

procura-se sintetizar ferramentas úteis à “arquitecturaurbana”. Emparalelo, quer no

âmbito da arquitectura urbana, quer no desenho da casa, procura-se compreender as

característicasinternasdohomem(fisiológicasepsicológicas)queinfluenciamomodo

comoesteserelacionaepercepcionaoespaçoequejustificam(nasuamedida)aneces-

sidadedeumaarquitecturaquecontemplaarealdimensãofísicadohomem.

A arquitectura urbana considera uma dimensão urbana, ampla, como um pro-

jectodearquitectura.Abarcadesdeoedifício,àrua,aobairroeàcidade.Destemodo

egenericamente,umconjuntodeedifíciosencostadosunsaooutrosmarcamoritmo

de uma rua, um bairro entende-se por um conjunto de ruas e praças e a cidade inteira é

entendida como um conjunto de bairros. Sobre o modo de pensar e construir a cidade,

Ressano Garcia Lamas7 refereaexistênciadeummomentoperdidonoprojecto/desenho

da cidade. Originado pela separação das disciplinas de Arquitectura e Planeamento, per-

deu-se a escala de projecto que correlacionava o todo, a unidade arquitectónica de um

lugar.Aopassoqueactualmenteoprojectoarquitectónicotemumaintençãoconstrutiva

eimediata(deobra),oplaneamentourbanoimplicaaconduçãodeumplanonotem-

poeoconfrontocomdiferentesagentespolíticos,económicosesociais.Aarquitectura

urbana,pretendepropiciaraunidadearquitectónica,ondeoplanoeoprojectofazem

partedomesmosistema,estaéassimumapráticaentreoplaneamentoeprojectode

arquitectura.

A arquitectura urbana compreende-se enquanto uma disciplina do desenho – da

ruaedolargo–quecolocaohomemcomoprincipalsujeitoactivoeaherançacadastral/

parcelar de cada estrutura urbana como base de trabalho. Colocar o homem como refe-

6 Lamas, R. G.; Morfologia Ur-

bana e Desenho da Cidade; pp

73 - 757 idem, pp125-127

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16

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

rênciaprincipaltornanecessáriaacompreensãogenéricadosmodosdepercepção.Por

conseguinte, o estudo que se segue apresenta dois princípios condutores do desenho e

do pensamento – o homem e a forma – que culminam no modo como a arquitectura é

‘percebida’–numambienteouatmosfera.

A percepção de um ambiente é criada pela interacção entre as formas que com-

põem a cidade e o modo como o homem recepciona e compreende essas formas 8. Uma

abordagem deste género implica que o acto de projectar a qualidade do espaço urbano/

públiconãoselimitearazõesfuncionais(oudo‘bomfuncionamento’dacidade),mas

encareaqualidadedoespaçopúblicocomoumaexperiênciaperceptivaesensorial.Esta

experiênciaéabordadadediferentesmodosporautorescomoZumthoreasatmosferas

sentidas,CullenempaisagensurbanasvivasouLynchnaqualidadesensíveldoespaço.

5.1 Forma

Paramelhor compreender a estrutura (urbana) da arquitectura anónima, de

modo a actuar criteriosamente sobre a mesma, inventariou-se um conjunto de temas e

instrumentos da arquitectura urbana.

Consideram-se fundamentais, para esta síntese sobre a forma, as obras de

autores como Cullen em Paisagem Urbana9,ondeofereceumavisãosistemática

doselementosmorfológicosedascaracterísticasdestaescala(darua);Zumthor,

em Atmosferas10, que aborda a relação das pessoas com as coisas, construíndo um

quadrodesensaçõeseasuainfluêncianaconstruçãodeambientessignificantes;

avisãopráticaeobjectivadeKevinLynch,emSite Planning 11; e Pallasmaa, em

The Eyes of The Skin: Architecture and the Senses, quando realça a importância de

todosossentidosnapercepção12.

Naanálisedas“formasurbanas”,considere-seoseguinteencadeamento

de questões:

- Qual é a intenção da forma urbana a criar?

- Que instrumentos servem a intenção (tanto de apoio ao acto de

desenharcomoinstrumentosqueintensificamaarquitectura)?

-Qualéoseuconteúdo,amatériacomqueseconstitui?

8 Lynch; Site Planing; p 1579Cullen, Gordon; Paisagem Urbana10 Zumthor,Peter;Atmosferas11 Lynch; Site Planing12Pallasmaa,Juhani;The Eyes of The Skin: Architecture and the Senses

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

5.1.1 Intenções

Deummodogenérico,admitiu-sequeaformaurbanaéconstituídapor

doistiposdeintenções,caminhos(oupercursos,queincitamàprogressão)queli-

gam recintos (lugaresdeconvívio,queconvidamàpermanênciaouqueabrandam

aprogressão)hierarquizadoseracionalmenteencadeados.

Os conceitos que se seguem foram reformulados com base em Cullen e

regrageral,asdescriçõesapresentadaspriorizamarelaçãodo indivíduocomo

espaço.

A. Caminhos:

A.1. Ruas | Caminhos para peões:

Arededecaminhosparapeõestransformaacidadenumaestruturatransitá-

vel, ligando os lugares por meio de degraus, pontes, pavimentos, por quaisquer

elementosdeconexãoquepermitammanteraacessibilidadeecontinuidade.

Estescaminhostemcaracterísticassinuosaseágeis,conferindoumadimensão

humanaàcidade.(fig.05.a))

A.2 Ruascomtrânsito:

Ao incorporar a circulação automóvel, começa a alterar-se a escala urbana. As

ruas com trânsito são uma opção, de dimensões intermédias entre o caminho

eaavenidaeque,muitoemboratornemacirculaçãomaisdifícilparaopeão,

representam uma solução de acessibilidade e deslocação de mercadorias, bens

epessoas,necessárioaofuncionamentodacidade.(fig.05.b))

A.3 Avenidas:

Sãograndeseixosessencialmenteviários,fluídaseessênciaisparaa conexão

das diferentes partes da cidade. Estas são intencionalmentemonumentais e

tendencialmente mais impessoais e austeras para os peões, por comparação à

escala e proporção rua/homem aos caminhos acima referidos

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18

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B. Recintos:

B.1 Pátios|clusters | logradouros:

Comconfiguraçõesdistintasentreeles, todos representam lugaresondepre-

dominaaescalahumana.Comumcarácterdepermanênciamaisíntimaepes-

soalmostram-sedeterminantesparaasboas relaçõesdevizinhança.Demon-

stram-se seguros ao peão devido ao afastamento da circulação automóvel.

B.2 Largos|pracetas:

Os largos e pracetas encerram dimensões maiores do que os recintos anterior-

mente referidos, consubstanciando momentos de abrandamento da progressão

econvidandootranseunteaficar.(verfig,05.c)ed))

B.3 Praças:

Por definição, apresentam um carácter de sentido representativo ou monu-

mental,deconfiguraçãoquadrangular,apraçadeveseramplaosuficientepara

conterosmaisdiversificadosacontecimentosemultidões.Deveter-seespecial

cuidado com a circulação pedestre e automóvel.

B.4 Miradouros:

Maisevidentesemcidadescomtopografiasmaisacidentadas,representamim-

portantesespaçosparafinsdeconvíviooucontemplaçãodapaisagem.

5.1.2Instrumentos:

Umavezestabelecidasasintenções,devemesquematizar-seumasériedeins-

trumentosúteisparaodesenhodaurbanidade.

C. Conceitos base:

C.1 Escalaeproporção:

Escalaéarelaçãodetamanhosedimensõesentreosobjectos.Naarquitectura

urbana,umadimensãoparececonfortávelpelaproporçãorelativaentreasfor-

mas urbanas e a dimensão do corpo humano.

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

fig.05.a)Caminhoparapeões,escadinhaparaaBica

fig.05.c)Largo,R.doSéculo

fig.05.b)Ruasmistas

fig.05.d)Praceta,JardimdaAmoreiras

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D. Perspectiva:

Perspectivaéumaferramentaqueexploracomosentidodavisãoedetermina

o modo de ver um espaço.

D.1 Perspectivagrandiosa:

Sugere uma sensação de além, dirige o olhar para um imenso espaço longínquo.

(verfig.05.f))

D.2 Perspectivavelada:

Aconstruçãodestaperspectivaintensificaoprimeiroplanoedramatizaomo-

mentodechegada,atravésdousodebarreirastransponíveisque“velam”oque

estápordetrás.Umexemplorecorrenteéousodeárvores.

D.3 Perspectivadelimitada:

A visão é delimitada por planos. Coloca um objecto perto do ponto de fuga.

D.4 Deflexão:

Variantedaperspectivadelimitada,consisteemdeslocaroobjectoligeiramente

em relação ao eixo de visão.

D.5 Truncagem:

Oprimeiro plano corta a perspectiva. Suprimeos planos intermédios, sobre-

pondooprimeiroplanocomoúltimo,porexemplo,océu.

D.6 Contrastes:

Nasrelaçõesentreasformas/elementos,oscontrastescriamrelaçõesdetensão

emtodaaestruturaespacial,permitindointensificarasvivênciasdoespaço.

D.7 Entrelaçamento:

Oprimeiroplanodaperspectiva,enquadraplanosmaisdistantes.(verfig.05.e)

E. Configuraroespaço:

E.1 Delimitaçãodoespaço:

Éumaacçãoprimeiradodesenhofundamentalparaaorganizaçãoepercepção

humana.Estecampoédiversificável,atravésdevárioselementos,taiscomoos

que seguem:

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

fig.05.e)Entrelaçamenoeluz/sombra

fig.05.f)PerspectivaGrandiosa,Pq.EduardoVII

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E.1.1 Desníveis:

Podem ser utilizados para unir ou separar actividades num mesmo espaço.

Deummodogeral,numnível inferior,temosumasensaçãodeintimidadeou

encerramento,enquantoqueaumacotaelevadasentimosodomíniodoespaço

(estandoexposto).Usualmente,oactodedescersignificabaixaraoencontro

de algo que se conhece, enquanto que subir implica ascender ao desconhecido.

(verfig.05.h))

E.1.2 Barreiras:

Tiposdeobstáculosquepermitemumaligaçãovisualcomoespaçoequead-

vêmdeoutrasdecisõessobreotipodeocupaçãopretendidodedeterminados

lugares.

E.2 Estreitamentoseaberturas:

Aaproximaçãodoslimites(gruposcompactosdeedifícios)daruaresultanuma

pressão(poucohabitual)quecontrastacomascaracterísticasdepraçaoulargo

que lhes podem anteceder. Os estreitamentos permitem tanto manter uma at-

mosferadeumlugar,semcomprometeracirculaçãoearticulaçãocomoresto

da cidade, como aumentar a pressão no peão para os ultrapassar.

E.3 Pontuação:

Pontuar uma rua ou largo, é como acrescentar ritmos de apropriação e passa-

gemnoslugares.Exemplos:acidentes,saliênciasereentrânciasentreoutros.

E.4 Imediaticidade:

Confronto repentino de naturezas distintas, comopor exemplo com água ou

com um abismo. Aumenta a tensão nos espaços.

E.5 Pavimento:

Um dos principais elementos conectores da cidade, o que permite a

continuidadeentretodososelementosconstituintes.(verfig.05.g))

E.6 Pormenores:

Animamedãoidentidadeprópriaaoslugares.

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

gp.05.g)Continuidade-Pavimento

gp.05.h)DesníveisdelimitamopátiodaBica

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5.1.3Matéria

Amatériadizrespeitoàconstituiçãofísicadosobjectos,deummodogeral,éo

quedácorpoàforma.Abordam-segenericamenteascomponentesmatéricasdosob-

jectos e a sua consonância, isto é, a relação harmoniosa que os materiais estabelecem

entresi,criandodestemodoum“lugar”urbano/arquitectónico.Aconsonânciaentreos

materiais resultadaexperimentaçãodasdiversas combinaçõespossíveis.Oconteúdo

destepontorecorreàsobrasdeStevenHoll13eZumthor14.

F. Atextura,acor,obrilhosãoqualidadesquedeterminamomodocomoaluz

iráactuaroucomoosomseráreflectido.

F.1 Temperatura:

Cadamaterial temumatemperaturaprópria,queretiramaisoumenoscalor

corporal.Comoas formassãoconstituídaspormatéria,acadaforma“apren-

demos”aatribuir-lheumatemperatura.Atemperaturadascoisassurgecomo

algofísico,mastambémpsíquico(édefinidonainfância).

F.2 Som:

Cada espaço funciona como um instrumento grande, colecciona, amplia e trans-

mitesons.Temavercomaforma,mastambémcomassuperfíciesdosmateriais

utilizadoseomodocomoestãofixos.

F.3 Luz/Sombra:

Genericamenteprocura-seomodocomoosmateriaisreagemàluz,comoa

absorvemoureflectem.

F.3.1 Luznanoite:

A luz tambémconformaapercepçãodoespaço, comoporexemplo, a ilumi-

naçãodacidadeànoiteproporcionaumanovapercepçãodaconfiguraçãodo

espaço urbano.

F.4 Água:

Funcionandocomo”umlentefenoménica”quepotencianovosreflexosdeluze

cor, com poderes de inversão espacial, refracção, animando o espaço urbano.13 Holl, S.; Cuestionesdeper-cepción Fenomenologia de la Arquitectura14 Zumthor,Peter;Atmosferas

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

Deummodosintéticoapresentaram-seelementos,instrumentosecomponen-

tesda“formaurbana”.Oobjectivodestasistematizaçãonãofoiinventar,nemcriarnovos

modosdetransformaracidade,foipelocontrárioeatravésdeestudosjárealizadospor

váriosautores,encontrarumsistemadeaplicaçãopráticanoactodereabilitaracidade,

com base na morfologia presente nos locais.

Ao recentrar a atenção na importância do papel de cada construção, sendo que

uns são ‘palácios’eoutros são ‘anónimos’, realça-sequeessa“estruturaanónima”,o

suportedasrelaçõesdiáriasentreacidadeeoshabitantes,podeserintensamentevari-

adaeexpressiva.(verfig.05.i))

gp.05.i)IntensidadeUrbana

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5.2Homem

3.2.1ExperiênciasSensoriais

Paraqueseestabeleçaumconjuntode instrumentosaplicáveisnapráticada

arquitectura,há,antesdemaisquedefinirnoçõesaprior(isticas)dacondiçãohumanano

espaço.Omodocomoestevêoespaçoeomodocomosecolocanomesmoespaço.

Cullen 15explicao fenómenodeverdeummodorelativamentesimples: ‘Ver’

nãosócomoumprocessoestanque–comoumaimagemobtidaatrvésdeumafotogra-

fia–mastambémcomoumprocessodeassimilaçãodotododeumobjectoatravésdo

movimentosobreascoisas(ousobreoespaço).Umindivíduonãovê(percebe-percep-

ciona)acidadesimplesmentecomoumaimagemestanque–comoumpostal.Aimagem

dacidadesurge,pelocontrário,comoumamultiplicaçãocontinuadadeframes,aolongo

deumcaminho–a‘visãoserial’.

Aimagemurbanasurgecomoumasucessãodesurpresaserevelaçõessúbitas

queseconstituemcomoestímulosemitidosaosseushabitantes.Assume-seaquiquea

visãocontemplatantoaimagemestanque(oupictórica)dacidadecomoaimagememer-

gente,sendoqueestapermitefazerdaunidadeumtodocoerente,demododinâmico.

A segunda condição importante a reter é a relação que o homem estabelece com

oespaço.Ohomemrelaciona-se intrinsecamenteecontinuamentecomoespaço,no

sentidodeestabelecerasuaposiçãorelativaaomesmo–estaraquienãoali.Océrebro

funciona contrapondo as sensações de dentro e fora, ou seja, estar num lugar exacto e

delimitado reconhece-se por contraponto a uma fronteira que delimita um outro lugar.

O olho julga as distâncias de diferentes maneiras, podendo estas ser manipuladas. A

experiênciadoobservador,istoé,oseuconhecimentosobreascoisas,éumfactorde-

terminante para o modo como as vai percepcionar.

Asduasnoçõesapresentadasrepresentamumaperspectivadesíntese,canaliza-

daparaapráticadaarquitectura.Ambasserevelamcomorelaçõessinestéticasdaacção

humananoespaço.Istoporque,apercepçãoenquantoumaproduçãosinestéticaque

umindivíduofazdoespaço,dependedainteracçãodetodosossentidos.Conduzindo,

como defende Pallasmaa16,aumaexperiênciamultissensorialdoespaçoondeasquali-

dades da sua forma e da sua matéria se medem igualmente pela visão, tacto, olfacto,

pelosom,pelapele,pelosmúsculos,emsuma,por todoocorpo.Pallasmaadefende

uma arquitectura

Promenade arquitectural

Origem do conceito de le cor-busier: ”L’architecture arabe nousdonne un enseignement précieux. Elles’apprécieàlamarche,aveclepied; c’est enmarchant, en sedé-plaçantquel’onvoitsedévelopperles ordonnances de l’architecture.C’est un principe contraire àl’architecture baroque qui estconçue sur le papier, autour d’unpoint fixe théorique. Je préfèrel’enseignement de l’architecturearabe”.

LECORBUSIER.JEANNERET.OeuvreComplète1929-1934,p.24

15 Cullen, Gordon; Paisagem Urbana16 Pallasmaa, Juhani; Architec-ture and the Senses; p.4117 idem; idem;p.49

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

de experiênciasmultissensoriais, por oposição ao entendimento simplesmente visual

dos edifícios, característica eminentena arquitectura contemporânea.Assim, o autor

compara a visão com audição: se por um lado a visão isola, o som incorpora; a visão é

direccional,osoméomnidireccional;osentidodavisãoimplicaexterioridade,osomcria

umaexperiênciadeinterioridade;osolhosalcançam,osouvidosrecebem;osedifícios

não reagem ao nosso olhar, eles devolvem os nossos sons de volta aos ouvidos17. Deste

modo, reconhecem-se as duasnoções inicialmente apresentadas –VisãoePosição–

comoreflexodainteracçãodetodosassentidos.(fig06.)

Fig. 06. The Eyes of The Skin: Art And The Senses

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Gp. 07. Arquitectura Guardiã Da Memória; participaçãodeManueldeOliveira; Lisbon Story;filmedeWimWenders,1994

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

5.2.2Memória

NoiníciodoséculoXX,ofilósofoHenriBergson,em Matéria e Memória, apon-

tou para a estreita relação entre percepção e memória. Conforme referido pelo autor,

amemóriaéumacondiçãonecessáriaparaa formulaçãodapercepção.Dizerque“a

memóriaéuma invenção”,comoodizManueldeOliveira,éadmitirqueestaéa in-

vençãodeumcertoolharsobreascoisas,nomesmosentidoqueBergsonaprofundao

estudoeapontaamemóriacomoagentepossívelnacriaçãodasubjectividade.18

Interessa-nos vincular a esta noção dememória (também ao cinema) a per-

manênciadaarquitecturaoudeactosarquitectónicos.Desdeoprimeiroactodemarcar

um lugar, ate à criação de cidades como as de hoje, a arquitectura é uma testemunha

‘viva’dosmomentosqueocinematentacapturar.Momentosessesquesãoasacções

doshomens.Bergsondizqueosobjectosquerodeiamocorporeflectemaacçãohu-

mana sobre eles19.Aconsequênciadaacçãodeumindividuosobreoobjectoouespaço

define-seporexperiência.

Aarquitecturasuportaasmemóriasdasexperiênciasapartirdassuasdimen-

sõesconstrutivas,decorativaseestéticasquelocalizamnoespaçoetempoasdiferentes

culturas arquitectónicas, “(...) a rua ela própria tenta sobreviver através de todas as mar-

cas da sua antiga existência que ainda lá permanecem, resistindo a qualquer mudança.

Essas marcas, todavia, estão lá agarradas aos edifícios, às pedras dos passeios, e a toda

a espécie de objectos que povoam o espaço (...)” 20Numtodo,oambienteurbanocon-

struídocristalizaemsiasmarcasdosprocessossocio-culturaisdascomunidadesqueo

habitam,dascidades.Todaaideiadearquitecturaé,emsi,permanência21.

Pallasmaa - “Our domicile is the refuge of our body, memory and indentity”(...)

GabrielMarceldefendenestesentido,“I am my body” e “I am the space, where I am”

acrescentaopoetaNoelArnaud22-Aidentidade,aquiloquesomos,éonossocorpoe

onde estamos. Compreender a escala arquitectónica implica uma comparação incon-

scientedadimensãoobjectocomadimensãodocorpo.Nestamedida,ainteracçãoen-

treoobjectoeocorpodoobservadorreflecteumaexperiênciaqueespelhaasreacções

dossentidosdopróprioarquitecto.Consequentemente,aarquitecturarepresentaum

diálogodirectoentreoarquitecto(eoseucorpo)eapessoaqueencontraoseutra-

balho23.

Amanutençãodacidadecontemplatransformar,reconstruir,modificar,adaptar

etodasasferramentasdadisciplinadaarquitecturaaptasamanterocenáriodavida

quotidiana,comprovadacomoumanecessidadepsicológicadohomem24.

18 Bergson, Henri; Matéria e Memória.19idem; idem; p.15 a 1620 Gorjão Jorge, Lugares em Teoria

21Brand; How Buildings Learn; p222 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.6423 idem; p.6724 Gorjão Jorge, Lugares em Teoria

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“The cities of the filmmakers, built up of momentary frag-ments, envelop us with the full vigour of the real cities”

Pallasmaa

Gp. 08. Cidades do Cinema; Lisbon Story;filmedeWimWenders,1994

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

5.2.3Percepção,umprocessocriativoedinâmico

Identificou-sequeainteracçãoentreasformaseohomemgeramumdetermi-

nadoambiente,estepercepcionadopelohomem.Oqueéessapercepção?Merleau-

Ponty (Fenomenologia da Percepção) afirma que a percepção não é uma ciência do

mundo, mas o fundo pressuposto por todos os actos. Trata-se de um raciocínio para a

compreensãodeumaexperiênciavivida.

Compreendeu-seanteriormentequeexistemreacçõessensoriaisoumultissen-

soriais enquanto respostas intrínsecas do homem quando se confronta com um espa-

çoequeapercepçãoécondicionadapela capacidadehumanade racionalizareusar

aexperiênciaanteriormenteadquirida–a‘cultura’.Apercepçãoéassimaexperiência

sensorialdomundomaisa influência ‘sofrida’porconvençõesevisõesculturalmente

pré-moldadas, de tal modo a que subconscientemente sejam aceites valores comuns

(‘universais’)domundoexterno25 .

Apercepçãodoespaçourbanoestásubjacenteàsintençõesdefinidasprimor-

dialmenteparaumespaço.Quantomelhorforentendidapeloindivíduo,maiorseráa

trocademensagensentreoindivíduoeoespaçoemaisintensaseráaexperiênciaar-

quitectónica26. Com base nos conhecimentos adquiridos sobre os espaços e a percepção

humana, o arquitecto manipula a forma, para que esta possa interagir com o indivíduo,

criandoumambienteurbanocoerenteesignificativo27.

Em tomdeexemplo, sobreomanipular e construir deumambienteurbano,

Lynch28demonstraque,domesmomodoquea‘intimidade’épercebidaporumpeque-

noespaço‘fechado’eaalegria/satisfaçãodeumagrandeaberturasãosensaçõesuniver-

sais, o recurso ao contraste gerado pela justaposição dos dois elementos formais torna

asensaçãode‘contractionandrelease’aindamaisforte.Oscontrastesdedoisoumais

elementospodemcoexistirgerandosituaçõesurbanasmarcanteseexpressivas,criando

escalas de tensão ao nível de toda a estrutura espacial percepcionada, oferecendo mais

intensidadeeforçaàexperiênciaurbana.AesterespeitoCullendizque“o cérebro huma-

no reage ao contraste, isto é, às diferenças entre as coisas, e ao ser estimulado simulta-

neamente por duas imagens – rua e o pátio – apercebe-se da existência de um contraste

bem marcado. Neste caso a cidade torna-se visível um sentido mais profundo; anima-se

de vida pelo vigor e dramatismo dos seus contrastes.” 29.

Já Pallasmaadefendequeassensaçõesdeconforto,protecçãoede‘casa’foram

primordialmenteenraizadasnasexperiênciasvivenciadasporinúmerasgeraçõesanteri-

O estudo da percepção aplica-se a todos os campos da arquitectura, sendoquenestecasoespecificoin-teressa para o estudo da arquitec-turaurbana.Maisafrente,volta-sea referir a percepção como exper-incia humana no espaço, no âm-bito da arquitectura doméstica, aqual tem subjacente e semelhantes princípios de percepção.

25 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.5926Holl,Steven;Cuestiones de Percepción. Fenomenología de la Arquitectura; p.1127Lynch, Site Planing; p15728idem; idem: p.15729 Cullen, Gordon; Paisagem Urbana; p.1130 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.62

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

ores. Para o efeito, Pallasmaa recorre à denominação de Bacherlard: ‘images that bring

out the primitiveness in us’ ou ‘primal images’30.

Areacçãocorporaléinseparáveldaexperiênciaarquitectónica.Noactodepro-

jectar o arquitecto é detentor de todas as ferramentas que construirão uma nova reali-

dadefísica,queporsuavezcondicionaráreacçõestantofísicascomopsicológicasdosin-

divíduos,comoinfluenciarádeterminantementeasrelaçõesentreohomemeomundo.

Quantomaisricaeintensaforaexperiênciaespacialmaisseestimulameseaproximam

oshomemdomundoqueosrodeia.Pontydefendeocorpoeo ‘mundo’comoúnica

substancia,intimamenteligados,ondeocorpoadquireumaconsciênciaconstante.

Com Beauty,apresentadopelaprimeiravezem1993,OlafurEliassonreplicaum

arco-írisusandoosmeiostécnicosmaiseconómicosexistentes-umamangueira,água

eluz.Sóatravésdasleisdarefracçãoeaposiçãocorrectadoobservadoréquesetorna

possívelavisibilidadetotaldaobraedasuanatureza.Eliassonreconhecequeestefoio

momentodasuacarreiraondetomouconsciênciadopapelfundamentalqueoobserva-

dordesempenhaparaqueoseutrabalhosejacompleto:“if the light doesn’t go into our

eys, there’s no rainbow”31 dizoartista.(vergurp.09)

Paranãofugiraoescopodapresentetese,nãoseiráaprofundarmaisatemática

das teoriasdapercepção, sabendo-sedeantemãoqueexistemváriasopiniõesdiver-

gentes.Noentanto,considerou-seabsolutamentenecessárioregistaraimportânciados

sentidoseda culturana leitura (a fazer)da cidade.Assim sendo,estas componentes

apresentadas sobre comportamento humano oferecem ferramentas importantes para o

desenhodoespaço.Aocompreenderestascondiçõesbásicas,procura-seacapacidade

deinfluenciarodesenhodoespaçopúblicoecriarumconjuntodemomentosestimulan-

teseaprazíveisparaaosseushabitantes,caminhantes,vizinhos,turistasetodososque

nela percepcionem.

30 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.6231May,Susan;Olafur Eliasson: the weather project;p.21

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

gp.09.a)Beauty;OlafurEliasson;2007

gp.09.b)Beauty;OlafurEliasson;1993

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gp.10.a)Oeléctricoeoamolador

gp.10.b)Aslavadeiras(cenasdeLisbon Story;1994)

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37

Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

5.3 Ambiente Urbano

Atéaquitentou-sedesconstruiroqueéaambiênciaurbanaatravésdetemas

da percepção e da construtividade das formas urbanas.Ora, falar de atmosferas (ou

ambientesurbanosconstruídos)mostra-seumtemasensível,poisasubjectividadeeo

carácterpoucocientificodestassãocomoarmadilhasquefacilmentedistraemdomotivo

peloqualseprincípiouareflexão.

Noentanto,pareceimportanterealçaraprespectivadeZumthor.Paraoautorde

Atmosfera(s),estasurgecomoumacategoriadaestética,enquantoumdiálogocontínuo

comabeleza32.Considera-seaestética,aintençãoestética,comoalgoinerenteàhu-

manidade, que se encontra em todos os aspectos do dia a dia nas diferentes escolhas,

tais como, que roupa usar, que carros comprar, como decorar a casa, demonstrando que

aemoçãoeoprazerestéticosãoinerentesaoquotidiano.Sendoestaumanecessidade

que se educa e desenvolve 33. Uma atmosfera é conseguida no momento em que o es-

paçoenvolventenoscomove/afecta–a‘beleza’–sendoesteomomentodequalidade

arquitectónicamáxima.

Estasqualidadescapazesdeafectaraspessoaspossuememsivaloresabsolu-

tos da arquitectura que não dependem de qualquer teoria ou moda, são intemporais.

“(...) Qualquer pessoa que visite o panteão de Roma, a Villa Rotonda em Vicenza ou a

Capela de Ronchamp, certamente não precisará de nenhum guia turístico que lhe expli-

que porque deve ficar maravilhado porque, provavelmente, já estará, de facto maravil-

hado”34.

Os valores absolutos são as coisas concretas, os objectos e a forma como se

relacionamentre si,mas tambémaexperiênciahumanaque representam (conforme

abordadonospontosanteriores).Asatmosferasdependemigualmentedevida,deuma

magiaquehabitaoespaço,permitindo-lhesimplesmenteser.Nestarelaçãointrínseca

doespaçocomavida,podeencontrar-seumaespéciedebeleza invisível,muitomais

subjectiva, de índole psicológica emuito ancorada nas vivências individuais de cada

um35.Apercepçãodeumaatmosferaécondicionadaporfactoresdificilmentemanipu-

láveis,masquepertencemàvidaprópriadascidades,dasquaisascomunidadesguar-

dammemóriascolectivas.WimWendersconcretizaestanoçãodaatmosferadacidade

deLisboadeumaformaextraordináriamenterealnofilme“TheLisbonStory”.Salienta-

-seomodocomoorealizadorcaptaasatmosferaseomodocomomostraaoespectador

aimportânciadosomdacidadenaconstruçãodessaambiência.36

32Zumthor,Peter;Atmosferas33 Lamas, R.G.; Morfologia Urbana e Desenho da Cidade; p5634 Miguel,Marcelino; A Beleza Invisivel das Coisas; p.1535 Idem;36 Lisbon Story; filme deWimWenders,1994

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Estasqualidadesexistenteseintemporaisformamumaatmosfera,palcodein-

contáveisexperiênciashumanasque,porsuavez,serepercutemnaidentidadedosseus

habitanteseestabelecemocarácterdolugar.Re-habitarosnúcleostradicionaisdasci-

dadessignificareinventarovínculodacidadecomosseushabitantes,incorporandotodo

oconhecimentoacumuladoaolongodegeraçõesdeuso,carregadosdesignificadosede

formas(coisas)cujaimagemsetornareconhecívelequeporissoseachambelas.

Fig.11. Estruturaurbanaearquitecturaanónima

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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído

06. Construir no Construído

Noâmbitodaabordademao conceitoda “arquitecturaanónima”,o conceito

deconstruirnoconstruídosurgecomoumactocríticodourbanismoedaarquitectura.

Construirnoconstruídosurgeentãocomoumactoqueoferececontinuidadeàsestru-

turas da cidade, capacitando-as como lugares para viver. Construir no contruído implica

umolharcrítico,quereinventeaarquitecturaanónimadosbairrosedasconstruções

populareslisboetasequepassaporcompreenderasualinguagemprópriaeretirardesse

conhecimentoomáximopartidoarquitectónico.

Definindoovocabulárioeagramáticaprópriadaarquitecturaanónimanaci-

dade,passaaserpossívelumaacçãosobreela.Umaacçãoqueutilizaamesmalingua-

gemfavoreceumcontínuodiálogoentreostempos,vinculandoamemóriaeidentidade

do lugaredosseushabitantes.Sendoque“construirnoconstruídoequivaleadefinir

umaformanumlugarquejátemforma”37, então se se escreve com palavras da mesma

língua, fala-se na mesma linguagem e assim é possível construir sobre a cidade man-

tendoumaunidadeecontinuidadeurbana.Ciente,porémque,juntocomopassardo

tempo, a língua evolui e também os modos como se fala. Portanto, esta acção sobre

as estruturas anónimas, palco outrora das intensas vivências diárias dos cidadãos da

cidade,reflectesobreaevoluçãodosmodosdevivercontemporâneosecomoasintaxe

que evolui juntamente com os meios tecnológicos de expressão.

“Através das diversidades das épocas e das civilizações é pois possível

verificar uma constância de motivos que assegura uma relativa unidade

na expressão urbana” MarcelPoete38

Acidadecomoumlugarparaviver,deveráapoiar-senadisciplinadaarquitec-

tura urbana e reinventar as estruturas urbanas da arquitectura anónima, reabilitando-as

nasuafunçãomaisprimitivadelugaresdehabitar.37 Garcia, F.; Consturir en lo Con-struido38 Rossi, Aldo; Arquitectura da Cidade; pp. 54 e 55

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Construir no Construído

ArQuitECturA AnÓniMA | casa

Fig.12. Lisboa-Composição

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Viu-seocálice,eagoraconcen-tremo-nos nas faces.

Fig. 13. Figura e Fundo

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

A arquitectura anónima das múltiplas construções compreende em si a noção

benjaminiana39de“percepçãodistraída”e“distracçãoatenta”.Estanoçãoremetepara

opapelanónimodecadaconstruçãoeparaariquezaqueadvémdasrelaçõesestabele-

cidasentreasváriasconstruçõesqueseencontranaleituradotodoconstruído.Destes

ambientesconstruídosehabitadospelosmaisdistintosindivíduosfazparteumprocesso

efémerodeconsumoefruição‘distraído’.Anoçãodepercepçãodistraídasurgirácomo

umapistadoconstruirnoconstruído,queprevêasingularidadeprópriadecadacon-

struçãonacontinuidadelógicadasuacompreensãocomoumtodo.

Para re-habitar as estruturas urbanas dos bairros populares de Lisboa interessa

compreender os modos de habitar, tanto do passado como do futuro e perceber onde se

instalaofossoqueossegrega.Emsíntese,estessãobairrosdecaráctereminentemente

habitacional que acompanharam o crescimento da cidade até ao princípio da industrial-

ização,momentoemquedeixaramderesponderàsnecessidadesexigidaspelacidade

epelamaioriadosseushabitantes.Noâmbitodaarquitecturaanónimasurgeagorao

pretextoparaadiscussãodeumacasadacontemporaneidade-a‘casaaconstruir’sobre

a‘casaconstruída’.

Nabasedaestruturaurbanada ‘arquitecturaanónima’encontra-seacasa.A

‘casa’doconstruirsobreoconstruidoéaquientendidacomooconfrontoentreassuas

duasdimensões.Nadimensãodeíndolesubjectivadelugardohabitar/ser,daprocura

dafelicidade,doninhoprotectorenadimensãoobjectivadasfunçõesquedevedesem-

penhar.Ésobreestaúltimadimensãoquesedebruçaopresentecapítulo.

ARQUITECTURAANÓNIMA| casa

39 Walter Benjamin, Atenção distraída e (ou) distracção atenta.

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Fig. 14. Casa na Rua do Século, Lisboa.

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

07.AnálisesdaCasaurbana

“the heart of vernacular design is about form, not style. Style is

time’s fool. Form is times sudent” Brand 40

A compreensão da evolução espacial da casa urbana é também a compreensão

dosmodosdeviverehábitossociaisdecadaépoca.Nessesentido,apresenta-seuma

breveevoluçãodacasaurbanaatravésdaanálisedasváriasformaseespacialidadesque

a casa tomou enquanto expressão dos valores culturais e sociais ao longo do tempo.41

Apresenta-seassimumaanálisegenéricadaevoluçãodacasaurbana(A),com-

preendendooperíodoquevaidesdeaIdadeMédiaatéaosdiasdehoje,tendoporbase

umestudoapresentadopeloprofessorNunoArenga42.Paraumaanálisedaevoluçãoda

casadentrodoslimitesdaarquitecturaanónima(B),toma-seoexemplodoBairroAlto,

eanalisa-seaevoluçãodacasa,combasenoestudoapresentadoporHélderCarita43,

compreendendo-onosmesmostemposqueaanáliseanterior.

Emtomdeconclusãodasanálisesrealizadas,confrontam-seasrealidadesactuais

da‘casateorizada’earepresentaçãodessamesmacasanaestruturadacasapopular,

compreendendoofossoqueassepara.Omodocomoasexigênciasqueforamgradual-

mente adicionadas ao espaço da casa foi conformado, encontrou uma grande limitação

na estrutura da casa popular.

40 Brand; How Buildings Learn;41 idem; idem;42Arenga,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: o interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; capítulo 4 pp. 77 a 114.43 Cratita,H.; Bairro Alto, tipo-logias e modos arquitectónicos

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A-Análisegenéricadaevoluçãodacasaurbana

A.1 - Casa medieval

AcasamedievalbalizadaentreosperiodosdaIdadeMédiaeosecXVII.Nesta

época as casas são habitadas por mais do que um grupo de pessoas, entre a família

doproprietáriodacasa,empregadoseouquaisquerlocatários,todosco-habitavamno

mesmoespaço.Asnoçõesdeprivacidade,intimidadeepudornãosefizeramsentirna

expressãoespacialdacasaedestemodoavidaquotidianadentrodahabitaçãodesenro-

la-se sob o olhar de todos.

Nesteperíodo,acasaurbanaécaracterizadaporcompartimentospolivalentes,

semafectaçãofuncionalespecífica,sendoousoinstituídopelomobiliáriomovéldiari-

amente.Numúnicoespaçodedimensõesgenerosas,acasaécapazdealbergarasactivi-

dadesfundamentaisdomésticaseporvezesservetambémdeoficinaoulojacomercial.

Nummesmoespaço,comaalteraçãodadisposiçãodomobiliáriopode-secozinhar,tra-

balhar,dormirourecebervisitas(comoilustradonaafig.15b)).

Aindanacasamedieval,masnumatipologiamaiscomplexa,verifica-sequeos

compartimentossemantêmindividualmentepolivalentesmasquesedesenvolveuma

estratificaçãodeusos,organizadosverticalmente.Nopisotérreo,quandoaresidência

édeumartesãooucomerciante,encontra-seaoficinaouloja;numespaçocontíguoa

salacomlareira,queserviaparacozinhar.Nosrestantespisossuperioressegue-seuma

sucessãodequartosesalasdeusosmúltiplos.Aestratificaçãodasdiferentesactividades

domésticasemdiferentespisosobrigaaoatravessamentodacasaportodososseusco-

habitantes,numacontinuidadedecompartimentoscomunicantes,nãosendonotadaa

existênciadeespaçosespecializadosnacirculaçãodacasa(figura15.a)).

Estaformadeorganizaroespaçodomésticotemumaevoluçãolentaepouco

significativasendopraticadaatéaoséculoXIXnacasaurbanapopular.

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

15.a)Plantasdecasasmedievaisparisienses

15.b)Ilustraçãodoespaçomultifuncionaldointeriordeumahabitaçãonoséc.XVI

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Fig.17. EvoluçãodaCasaMedieval

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

A.2-Casaburguesa

Contrariamente à arquitectura popular das classes mais desfavorecidas, a ar-

quitectura doméstica das elites sociais (aristocracia e burguesia) foi sendo cada vez

mais teorizadae sistematizadaemtornodenovosvaloresdeumanovadisciplinado

pensamentoarquitectónico–daDistribuição–que surgenofinal do séculoXVII44. A

‘distribuição’enquantodisciplinaconvocaosarquitectosàinvestigaçãoeteorizaçãoda

arquitectura da vida privada, como um novo e importante tema de projecto. O pen-

samentodiversificadodediversosautores,médicosearquitectos,constróiumquadro

teóricodaarquitecturadomésticaeuropeia,doséculoXIX(fundadonaescoladepen-

samentoFrancesa).

Osvaloresdestaclasseemcrescimentotêmpormodeloosvaloresaristocráti-

cos.Gradualmente,emambasasclasses,osmodosdeestarsãocodificadoseritualiza-

dos(NorbertElias),sendoacasaumaexpressãodessastransformações.Surgeoprincí-

piodequecadacompartimentodacasatemagoraumusoespecífico,comprometido

sobretudocomaspectosdeconvivênciasocial.(verfig.16.)

Nas primeiras transformações espaciais em relação às tipologias mediavais

surge o corredor, duplicando a circulação no interior da casa, dando origem à progres-

sivaespecializaçãodoscompartimentos.Aevoluçãodosvaloressociaisdaépocalevam

àseparaçãoeisolamentodoscompartimentosemproldaposiçãodoshabitantes,famí-

lia,visitasouempregados.Osistemadeespaçoscomunicantescontinuaaserutilizado,

em paralelo com os corredores, usando-se como acesso mais cerimonial. Surge também

aquioagrupamentodaáreashúmidasdacasa,comoresultadodeumconstrangimento

material,técnicoeeconómicodestaépoca.(verfig17.)

44 Arenga,N.;p81.

Fig. 16. Casa Burguesa - Distribuição

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A.3 - Transformações do século XIX:

DuranteoséculoXIX,asprincipaisalteraçõesfazem-sesentirnacasapopular,

aindapróximadaorganizaçãomedieval.Aarquitecturadacasaurbanapopularquepou-

co evoluiu desde a sua génese medieval vai neste período sofrer grandes transforma-

çõescomodesenvolvimentodacidadeindustrial.Astransformaçõesintroduzidaspela

crescenteindustrializaçãotrouxeramumadegradaçãoextremaàscondiçõesdevidadas

classesoperárias,suscitandoinvestigaçõesepropostasnocampodaHigiene(edamoral

cristã)edaSalubridade.Consolida-setambémnesteséculoaconcepçãodafamílianu-

clear,baseadanoamorerepresentadanosfilhos,assumindoestagrandeexpressãona

configuraçãoespacialdacasaurbanaburguesae,consequentemente,nacasaoperária.

MoniqueEleb-Vidalapontaparaosprincípiosdequeasorganizaçõesespaciais

especificas, correspondendoa conceitospolíticos, sociais eespecíficos, têma capaci-

dadedecondicionaraspráticasdosindivíduos,educando-osecontrolando-os.Acrença

nestesprincípiostornar-se-ádeterminantenaconcepçãodaArquitecturamoderna.

Amesmaautoradefendeumaperdadesentidodaorganizaçãoespacialdacasa

popular. Ou seja, a autora reconhece que se a casa burguesa se constrói sobre os mode-

losdacasaaristocrática–o‘hôtelaristocrático’,ondesereconheceumacomunhãode

valoressociais,jánacasaoperáriaverifica-seapenasumaimpressãodacasaburguesa,

comreduçõesesimplificaçõesdossignificados.Dandoassimorigemàimposiçãodeum

modelo que é adaptado e desvirtuado.

Nouniversodacasaurbana,a‘higiene’equipaacasaoperáriacomnovosdis-

positivosespaciais,dotando-adestesequipamentosdehigiene,queprogressivamente

sãotransformadosemespaçosprivados.A‘salubridade’procuraumaadequadailumina-

çãoeventilaçãonaturaldacasaedoscompartimentos,assimcomoaadequadalotação

de habitantes.

Dasdiversasteoriaseutopiasformalizadasnesteperíododefinem-seduastipo-

logiasprincipaisparaacasaoperáriaurbana:habitaçõescolectivasevivendasunifamil-

iares.Genericamente,aorganizaçãoespacialdacasaoperáriasurgecomoasimplifica-

çãodacasaburguesaesignificativamentemaispequena.

A evolução da concepção da família nuclear promove, na casa burguesa, espaços

deintimidadefamiliaremdetrimentodosderepresentaçãosocial,ondeaoptimização

doespaçoestádeacordocomumaabordagemcientíficadosespaçosdomésticos,ex-

pressando-senumasalagenerosaondesereúnemosmembrosdafamíliaduranteodia

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

e a noite são distribuidos por quartos separados.

Gp.18. a)eb)Plantasdaevoluçãodacasaurbanadoséc.XIX

Casaoperária Casaderaizburguesa

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A.4 - A casa moderna

NasprimeirasdécadasdoséculoXX,aarquitecturaeruditaassumedefinitiva-

mentearesponsabilidadedetodaaarquitecturadoméstica,sejaqualforoestratosocial

aquesedestina.Oseuprogramapretenderesolveraevoluçãodacidadedofuturoe

conceptualizaranovacasamoderna.

A arquitectura moderna rompe com os fundamentos arquitectónicos do século

anterior, no entanto, e de um modo abrangente, o pensamento moderno tem os seus

fundamentosancoradosnoprogressocientíficoenosproblemasfundamentaisdoséculo

XIX.Aevoluçãocientíficainspiraraumaabordagemcientíficaetecnocrata(deorientação

positiva)àgeneralidadedosproblemasquesecolocavam.Estemodelodepensamento

serádominantena1ªmetadedoséculoXXedeterminaráprofundamenteomodode

pensaracasamoderna.Acasamodernaéobjectoderacionalidade,deoptimizaçãodo

seu funcionamento, da sua construção, do custo e da salubridade.

Osvaloresdacasamodernapretendem-seuniversaisenãovêemestratosso-

ciais,nemdiferençasculturais.Destemodo,estaabordagemcientíficapositivadefine

umquadrodereferênciasmínimas,máximasedeideiasfechadas,nosentidodeexcluir

outraspossibilidadesdesolução.Estenovoparadigmacomprometeu-sedeterminant-

ementecomaabordagemcientificadaprodutividadeedaeficáciadosprocessosprodu-

tivos,queteveasuamaiorexpressãonoqueveioaserdesignadoporTaylorismo.Aapli-

cação dos princípios de Taylor na arquitectura corresponde sobretudo aos estudos para a

melhoriadotrabalhodomésticoeconsequentelibertaçãodamulherpararealizaçãode

outrastarefasepara,emúltimaanalise,aemancipaçãodoestatutodomésticoesocial

damulher.(fig.19.d))

A casa moderna, é conceptualizada, em primeiro lugar, enquanto habitação

colectivaemmassa.Ahabitaçãocolectivaoperáriadoséculopassadoéagoratranspor-

tada para a classe média.

Retidoseaprofundadoscientificamenteosprincípioshigienistasdaarquitectura

domésticadoséculoXIX,surgemnoséculoXXnovoscritériosnoâmbitodofunciona-

mentoeorganizaçãodacasa.Adistribuiçãoeasexpressõesdeantiquadosvaloresso-

ciaissãosubstituídosporestudosderacionalizaçãoeoptimizaçãodastarefasdomésti-

cas,dassuperfíciesmínimasnecessáriasparacadatarefadoméstica,nosequipamentos

necessários,dasuaergonomia,daszonasfuncionaiscorrespondentesedospercursos

necessáriosparaarespectivacirculação(fig.19b)ec)).Asexperiênciassoviéticasdeop-

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

timizaçãodofuncionamentoedomovimentodascozinhassãoumexemplodoespírito

daépoca.(fig.19e))

Cita-seaquiArenga(2009),apropósitodotextoentusiastadeLeCorbusi-

erem“VersuneArchitecture”:

“se por um lado os progressos da ciência determinam princípios de apli-

cação universal, ao nível da higiene, da optimização funcional, da eficiência

organizativa e produtiva, as circunstâncias sociais e produtivas parecem

reclamar a concepção de casas em série, a construção de casas em série e

a vida doméstica em casas produzidas em série. Este é o ‘Esprit Noveau’,

proclamado por Le Corbusier e seguramente subescrito peles seus pares

nos primeiros CIAM.” 45

45 Arenga,Nuno;2009

gp.19.a)Evoluçãourbana-umdos20paineisteóricosdaVilleRadieuse, Le corbusier

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19.b)Distribuiçãooptimizada-púplico/privado

19.c)Habitarmínimo

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

19.d)Estudosdeoptimizaçãodacozinha

19.e)Experiênciassoviéticas 19.f)Optimizaçãodosquartos

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B.Análisedaevoluçãodacasada“arquitecturaanónima”

“uma das maiores qualidades do bairro alto resulta duma

complexa sobreposição de intervenções arquitectónicas que se pro-

cessam durante quatro séculos sem estabelecerem rupturas nem

desarticulando a unidade da estrutura urbana primitiva.” 46

Apartirdeuma leitura feitaàs tranformaçõesdaVilaNovadeAndradedepoisdeD.

Manuel(quederamorigemaoactualBairroAlto)procurar-se-ácompreenderqualacor-

relaçãoentreaevoluçãodosparametrosda “casagenérica”eaevoluçãoda casada

“arquitecturaanónima”.

46 Cratita,H.; p 57

Fig.23 MalhaUrbanadoBairroAlto

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

B.1 - Casa medieval

Usualmente,asparcelasdacidademedievaltêmporbaseaunidade‘chão’,uma

medidaagráriadaidademédia,designandoumrectângulocom60palmosdecompri-

mentopor30delargura(aproximadamente13,50mx6,75m)quedeterminouaproxi-

madamenteasdimensõesdacasa.Apresençadaidademédiafaz-sesentir,ainda,no

parcelamentodobairro,comorigemnosec.XVI.

Osprimeirosexemplosdeconstruçãomedieval jánãosãovisiveismascarac-

terizavam-sepor construçõesdeduplaestrutura.Nonível térreo,encontrava-seuma

estrutura de paredes portantes em alvenaria mista, enquanto que no piso superior a

construção se baseavanuma estrutura de madeira (nasce aqui a base da concepção da

estruturadegaiolapombalina).Acaracterísticamaisevidenteanivelformalseráafor-

maçãodafachadadecachorradas(travamentodaestrutura)eosavançossobrearua

dos pisos superiores.

Estestiposconstrutivosdesapareramcomasreformulaçõesdelimpezaesegu-

rança do bairro, encontrando-se o unico representante em Alfama, na R. dos Cegos.

Aorganizaçãointeriortípicadacasamedievalécompostaporcompartimentos

polivalentes.

B.2-SéculosXVIeXVII

EnquantoobraaprovadapeloReiD.Manuel,aVilaNovadeAndradeencerraem

siummarcodofinaldospadrõesconstrutivosmedievaiseapassagemparaoedifíciode

alvernariacomfachadaplana.Apresentam-seoraasduastipologiasmaisimportantes

quetestemunhamastransformaçõesdoshábitosvivênciaisdapopulaçãolisboetas.

Aprimeiratipologiaasurgirseráacasacomumandarsobrado,deplantaten-

dencialmentequadrada(exemplosdispersosaindaseencontramvisiveisnobairro)(fig.

20 a)). Esta tipologia evolui para a segunda, numprogressivo aumento de andares e

extensão sobreoquintal (fig. 20b)). Caracterizando-seentãoporumplantadebase

rectangularquedáorigemaumloteestreitoecomprido,próximodomedieval.Estas

construçõesdeestruturasimpleschegamaatingiros3e4andares,amparando-semu-

tuamente,peloqueédifícilaintervençãoestruturalnumsóedifício,poispodeprovocar

odesabamentodosseusadjacentes.Emqualquerumadastipologias,ofenestramento

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20.b)alçadoseplantasdatipologia2

20.a)alçadoeplantadatipologia1

dafachadadecorredaestruturainterna,repercutindo-senumafachadadedesenhoas-

simétrico.Estaestruturaurbanaperduraaolongosdosseguintesséculosatéaoséculo

XXI.

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

B.3 - Transformações pombalinas

Operíodopombalinomarcapelaprimeiravezoaparecimentodeummodelode

referênciaeruditoparaoedifíciourbanoderendimento.Amétricapombalinadefinida

porEugéniodosSantoseCardosMardeleraincompatívelcomamalhaurbanadobairro,

oqueobrigouaqueodesenhodesteperíodoseacomodasseàáreadolotedisponível,

adoptando a tipologia existente, e trabalhando principalmente na sistematização das

fachadas(casoacaso). Introduz-seafachadasimétrica(acentuandooprimeiroandar

comjanelasdesacada)eaestruturadegaiola,acaixadeescadaseaclarabóia(permit-

indoailuminaçãodointerior),aumentandoassimosedifíciosatécincopisos.Emalguns

casosrealiza-seaexpropriaçãodeterrenosparaarealizaçãodegrandesconstruções,

comoporexemploR.doLoreto,R.daMisericórdiaeR.doSéculo.

21.a)regularizaçãododesenhodefachada

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B.4 - Séc. XIX - Tardo-pombalino

Compreende-seesteperíodoentreotardo-pombalinoeromântico,comoum

períododegravesdificuldadespolítico-económicasesociais.Assistiu-seemPortugala

um atraso tecnológico, por contraponto ao desenvolvimento industrial europeu. Realça-

se a protelação dos modelos pombalinos e da estrutura de gaiola, os quais passam a ser

oshábitosconstrutivospopulares.

Oedifíciopombalinosofreligeirasalteraçõesintroduzidaspelasnovasestéticas

dosec.XIX.Destacando-seodesenhodosgradeamentos(D.Maria);aperdadosentido

estéticoemétricadosmodelospombalinos; a diminuiçãoda alturade cada andar e

diminuiçãodaespessuradaparedeeassiste-seaoaumentoprogressivodascomparti-

mentações do interior da casa.

ÉaindaemmeadosdoséculoXIXquesedivulgaohábitodoazulejamentode

fachadas.Estefenómenointroduziráumnovoritmocromáticoaosconjuntosurbanos,

sinaldeumaevoluçãomaisdecorativadoqueestrutural.

fig.22.interioresmaiscomplexos

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

Emmododeconclusãodasanálisesapresentadas,inicia-seumadiscussãoque

confronta a evolução dos modos de habitar com a arquitectura anónima:

Dacasaurbanamedievaldestaca-seobaixoníveldeespecialização funcional

doscompartimentos,ondeésobretudoomobiliárioquetransmiteedefineosusosea

relaçãodirectaentreessesmesmoscompartimentoscontíguos.Ouseja,aausênciade

distinçãodeespaçosdecirculaçãoeoutrosdepermanência,expressa-senumamaior

apropriaçãodoespaçofísicodacasa,porsilimitado.

Da casa burguesa compreende-se o olhar da arquitectura erudita que é teori-

zadaepromovidapelaDistribuição,sendoestaumanovadisciplinadopensamentoar-

quitectónicoeaprincipalresponsávelpelastransformaçõesapresentadasnoséculoXIX.

Adistribuiçãoporusosefunçõesoriginaumacasatri-partida(social,privado,serviços)

e uma crescente imposição na organização espacial das áreas de público/privado e

serviços.

Doparadigmadacasamodernaconstrói-seaorganizaçãodascasasqueainda

habitamoshoje,baseadasnaracionalizaçãosectorizadadofuncionamentodacasa,na

optimizaçãodos seus equipamentos edas suasdimensões combaseemcritérios de

eficiênciafuncional,optimizaçãoprodutivaeeconomiaconstrutiva.

Conclui-seque,genericamente,paracadaépocada ‘casaurbana’seencontra

umaestruturaurbanaprópriaaquepertence, assistindo-seassimao crescimentoda

cidadeatétransbordardosseuslimites.Encontram-seasraízesdacasamedievaledos

paláciosburguesesnasestruturasdosbairrospopulareslisboetas,domesmomodoque

as transformações provenientes do séc. XIX se manifestam essencialmente na cidade das

AvenidasNovasounaarquitecturadacasamodernaqueconstituiobairrodosOlivais.

Nestesentido,arealidadedacasadaarquitecturaanónimaincidenarealidade

dosbairropopulares,comooexemploapresentadodoBairroAlto,estequeespecifi-

camente se desenvolve em torno de uma estrutura urbana de quarteirão mas de es-

cala medieval. A sobreposição de tempos e valores de diferentes épocas na arquitectura

populardáorigemaopalimpsestodaespacialidadedacasaquechegaaodiasdehoje.

Estascasas,quenasuamaioria,mantêmaindaaunidadedeparcelamentome-

dieval, uma métrica de fachada herdada das renovações pombalinas, imposição que

as transformações do séc. XIX trouxeram, dotando as casas com novas condições de

higieneesalubridadeemparalelocomascrescentescompartimentaçõesesectorização

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

forçadaemespaçoútilmínimo.Oprocessodecrescimentodeu-seemaltura,atéondea

estruturadeparedesportantesegaiolapermitísse.(3a4pisos,emalgumcasos5).

A casa da arquitectura anónima que se procura manifesta-se como uma acção

sobreestacasadecarizpopular,queseencontrahojelongedosparametrosdeconforto

e necessidade requisitados à casa e profundamente limitada pela estrutura urbana que

a comporta. Reviver neste bairro leva a um repensar da casa que existe num repensar do

que pode ainda vir a ser.

Repensar a casa urbanada arquitectura anónima implica propôr novas espa-

cialidades,questionandoasnoçõesadquiridasaolongodosséculosanteriores,nomea-

damenteaorganizaçãoespacialbaseadaemzonasseparadasdepúblicoeprivado.Esta

sectorizaçãoespacialquenãoésentidanacasamedievaloriginal,masquesesobrepôsa

elacomopassardotempo,fazconsiderarqueexistenacasaoriginalumaespacialidade

maispragmáticaeeficazàsnecessidadesdeuso,emconstantemudança.

Oestudoseguenabuscadasnecessidadescontemporâneasdesatisfaçãoecon-

forto da casa e procura uma estratégia para a casa da arquitectura anónima.

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

08. Considerações sobre a reabilitação das estruturas da arquitectura anónima

AscidadesantigascomoLisboa,paraocaso,tomampapelnestadiscussãoen-

quantoconjuntosurbanosjáconstruídos.Aolongodesteséculonotou-seoabandono

dosnúcleosantigos,sendoquenasúltimasdécadassetemdiscutidoonovoparadigma

específicoàs cidades ‘comhistória’.Oque fazercomopatrimónioconstruídodasci-

dades em abandono? O caminho tem passado por buscas no campo das disciplínas do

urbanismo,daarquitecturaetambémdaspolíticasdeincentivo47.

O estado da economia nacional não se permite a luxos, nem a desperdicios. Por

issocoloca-seaquestãodesesaberoquefazercomtodootecidourbanoconstruído

mas abandonado.

Acidadedehojejánãoéacidadequefoiontemenãoserátambémacidade

doamanhã.Acidadeexistenteéamaterializaçãodahistóriadahumanidadeeporisso

deve ser preservada, no entanto, a sua transformação é um dado pressuposto da con-

tinuaevoluçãodoHomem–umcontinuadocicloemespiral. Paraa “nãomorte”da

cidade não a podemos congelar no passado, mas antes manter vivo o seu valor. Dar

semprepossibilidadeaocontínuodahistóriamantendoumacoesãoidentitáriacoma

memória e solucionar as necessidades da vida contemporânea. A evolução não tem um

fimagoraeasacçõesdopresentefazempartedomesmocaminhojápercorrido.Parao

âmbitodacasaurbana,acredita-senuma‘reabilitação’doedificadocompressupostos

assentesnaadaptabilidadedasjáexistentesestruturasdacidade.

Podeadmitir-seemconsciênciaqueacidadetemiguallegitimidadedeexistên-

ciadeumpassadocomonapossibilidadedeconstruirumfuturo,nãosequestionando

alegitimidadedeconstruirdenovo,sobreconstruçõesexistentes,masantesquaisos

critérioscomquesedeterminasesereconstrói/reabilitaoedificioexistenteousese

substituiparaconstruirdenovo.Eporquenãoprocurarsoluçõesqueseenquadremna

realidadeactual,envolvendomenorescustosmonetárioseenergéticos,abrindoassim

um vasto campo para a arquitectura?47 ver proposta da CML para oPDMde2011

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

A adaptabilidade surge neste contexto como uma condição preponderante para

ocontínuohabitardascidadesconstruídas.Alémdequeaadaptaçãorepresentauma

acção do homem sobre as construções ao longo dos tempos.

A arquitectura como um objecto de consumo, ao serviço dos homens e da socie-

dade, perdura no tempo e que se vai sempre adaptando aos novos usos e necessidades a

siexigidas.Aoapontarocomportamentodascasas,Brandverificaquetodososedifícios

maloubemsãoadaptadosemanipuladospelosseusutilizadoresaoserviçodassuas

necessidades.Todaaideiadearquitecturaéemsiapermanência48.

48 Brand;p2

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

09.Acasadaarquiteturaanónima

“first we shape our buildings, then they shape us, then we shape

them again – ad infinitum. Function reforms forms, perpetually.” 49

A história da evolução do habitar revelou-se como a história dos modelos sociais

decadaépocaqueseexpressaramnaorganizaçãoespacialdacasa.Nosentidodaex-

pressãodeChurchillháagoraqueconsiderarnovosfactoressócio-culturaisquecontêm

problemasrelacionadoscomaevoluçãodaglobalização,datecnologiaemeiosdecomu-

nicaçãocriandoumexcessodeinformaçãoedeestímulosdomundoexterior,bemcomo

uma nova mobilidade social e heterogeneidade populacional, nos seus modos de vida e

nos seus valores sociais.

Acasacontemporâneaquesepropõerenunciará,àpartida,aomodelosector-

izadodaorganizaçãodacasaurbanamoderna.Apremissa ‘formasegueafunção’de

Sullivan que levou os arquitectos do século XX a acreditar que podiam antecipar os usos

(a função)decadacompartimento,constítuiumapré-determinaçãofuncional,pré-di-

mensionamentonaorganizaçãodoespaço,‘hiper’racionalizaçãodohabitarquelevoua

uma‘ditaduradoespaço’quenãodeixoumargemparaacriatividadeeapropriaçãodo

espaço por parte dos seus ocupantes, agora profundamente heterogéneos.

Nãoseencontranasociedadecontemporâneaapenasafamílianuclear,sobre

oqualaarquitecturateorizouepropôsaorganizaçãodavidaprivada,encontrando-se

afinalecadavezmaismodosdevida50.

9.1.Sociedadesemmudança

Um dos fenómenos de mudança a considerar são as transformações antropológi-

cas. Reconhece-se hoje uma variedade de estruturas familiares assim como uma cres-

cente diversidade de culturas e etnias, provenientes dos fenómenos de migração. Sobre

a estrutura familiar, os dados apontam para que nas cidades europeias, apenas 40% das

49 WinstonCurchillem1924nacerimónia de prémios da Archi-tecturalAssociation;Brand; p 350 Brand; p 5

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

casassejamhabitadaspelaconsiderada família tradicional, “nuclear”,aumentandoas

chamadas novas famílias monoparentais ou reagrupadas, e aumentando também desta-

cadamenteaspessoasquevivemsozinhasnasgrandescidades.Segundooartigoestu-

dado, acrescenta-se que além das transformações das estruturas familiares, mesmo nas

famíliasconvencionaishádiferençasnaconformaçãodaestruturadacasaaolongodo

tempo,porexemplo,seasfamíliassãoformadasporfilhosaindacriançasouporado-

lescentes (indicando que as necessidades de espaço de um adolescente distam das ne-

cessidadesdeumacriançapequena).Amobilidadesocialsurgecomonúmerodeetapas

diferentes que um indivíduo passa ao longo da sua vida e as casas que habita são um

reflexodoquecadamomentorepresentaemdesejoserestrições.

O que leva a crer que à casa não são exigidos sempre os mesmos requisitos e

queorepensardatipologiaemtornodeumquadrodedísparesrequisitosencaminha

oestudodacasaenquantoumprogramadevárioscenáriosdeapropriação51 onde a

adaptabilidadeeflexibilidadesãotemasprincipais.

Com a evolução dos meios de comunicação e de informação, a casa desenvolve-

-se crescentemente como um lugar de trabalho, quer seja por exemplo o teletrabalho,

asprofissõesquesedesenrolamempartenoambientedomésticobemcomoasdiver-

sasetapasdoestudo,desdeoensinobásicoatéàuniversidade.Constata-seassimuma

necessidadedeespaçosnacasaondesedesenrolemestasactividades,deestudoou

profissionais.

De forma geral, as disparidades culturais e étnicas existentes nas metrópoles

reflectemumanecessidadedepropostasresidenciaisversáteiseadaptáveis.

Sendodifícilanteciparquaisosindivíduosqueirãohabitaracasa,estadevere-

flectirummododevidaigualitário,compreendendodeterminadoscritérios,taiscomo:

anecessidadedoshabitantesdesuperfíciessemelhantes,paraquenãoseestabeleçam

relaçõesdeprivilégioentreumhabitanteeacasa;situaracozinhaeolugardetrabalho

compartilhadocomocentrodacasa,fomentandoespaçosespecíficosdearrumoselim-

pezas;promoverumaproximidadedeformasdeacesso/apropriação.

51 Traduzidodo inglês ‘scenariobuffered’,Brand;

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

Os factoresmencionadosanteriormenteretratamobjectivamenteasnecessi-

dadedacasa.Realça-se,agora,queacasanãovisasóadefiniçãodefunçõesconcretas

quedevedesempenhar,acasacompreendetambémumadimensãosubjectiva,quevisa

a satisfaçãodo indivíduoqueahabita.Atravésdemecanismosconscientesou incon-

scientes desperta no habitante a necessidade de felicidade e conforto. A casa contém

outra dimensão antropológica que remete para a ideia de abrigo, o ninho protector que

acolhe o habitante e protege das intempéries, dos perigos. Remete também como o mo-

mentodepausaedescansonummundodocaótico,ondeacasasurgecomoolugarda

ordemedeencontrodo‘eu’.52

51 Curtareferênciaaosmodelosdesatisfaçãoresidencial,defini-dos por autores da sociologia e arquitectura como MariluciMenezes,M. João Freitas, J. B.Pedro,BatistaCoelho.52 Bachelard;PoéticadoEspaço;1989

24.c) Lisboa,1999;Ilfochrome

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

9.2.Pistas

Nostextosdacasacollage53osautoresXavierMonteysePereFuertesapontam

para a cabana, a pequena casa de férias como um “juguete que redescubre la experien-

cia del habitar”ecriticamacasaurbanacorrente,comoumsubprodutobanalizadoe

provavelmentemaisobsoletodoqueútil.Nestesentido,propõemumarevisãodacasa

urbanacomoumreflexodacasadeférias,eassim,parafraseando‘talvez vivêssemos ha-

bitualmente numa casa que gostamos, mais prática, mais aconchegante, mais cómoda e

que recupera a condição de jogo’.Assim,osautoresapresentamumconjuntoreferências

e pistas para o estudo da casa urbana, que seguem.

O‘Raumplan’deAdolfLoosmanifestadonacasaKhuner(1930)caracteriza-se

enquanto a construçãodeumvazio, em tornodoqual, Loos constrói bidimensional-

menteoutrosespaçosabertosparaovaziocentral,caracterizando-oscomopequenos

nichos. De modo diferente, Christopher Alexander sugere uma casa formada por ‘thick

walls’sobreasquaisoshabitantespoderiamirescavandodandooutradimensãoaoes-

paço da casa.

Uma das apreciações apresentadas e que maior impacto causou no estudo de

Fuertes,surgecomaseguintequestão:“oquefazeraosobjectosacumuladosaolongo

davida?”Estasurgecomoumaquestãopertinentenocontextodacasaactual,origi-

nandooconceitodearmazenamentoracional.Conceberespaçosatravésdeelementos

esistemasdestinadosaoarmazenamentoracional,permiteesvaziaroscompartimentos

da casa para o uso livre de cada habitante. Deste modo, os autores concebem a casa

comoumconjuntodeelementosdearmazenamentoeespaçoshabitáveis.

Atítulodeexemplo,osautoresanunciamacasaprópriadeJeanProuvé,Nancy,

1954.Nestaoarquitectorecorreauma“banda”de27metrosdearmazenamentode

diferentes usos, para conformar o limite norte da casa. O uso destes elementos leva facil-

menteàsuaconcepçãocomopartedeumsistemaestandardizadoquepermitepensá-

loscomouma‘parede-armário’,umaunidadeindissociável.

53 Fuertes, P.; Casa Collage

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Construir no Construído

Noâmbitodainfluênciadeprojectosnomododepensaracasaurbana,osautoresrefer-

emapropostadeAbalosyHerrerosparaoconcurso“HabitatgeeCiutat”,emBarcelona.

Oespaçodomésticoficadestemodovazioparaserutilizado.Umvazioquesepõeem

evidênciaaosugeriremqueascasassecolonizam,maisdoqueseocupam,nosentido

tradicionaldotermo,nãoatravésdecompartimentosquedelimitamoespaço,massim

unidades técnicas nómadas.

Retira-se,porfim,apropostados‘carromatos’,ondeacasaéconstituídacom

elementos fundamentais, definidos comonúcleosdearmazenamentoque libertamo

espaço, o ‘studio mobile’,umnúcleodetrabalhoautónomoea ‘charriotte à coucher’, o

núcleoparadormir,estesúltimoscomodoisespaçosmínimosondesedesenrolamac-

tividadesdaesferaíntima,privadaequepermitemcolonizarqualquerespaçodiáfano.

fig28.CasaKhunder,AdolfLoos

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

10.1Referências

Noseguimentodasconclusõessobreacasadaarquitecturaanónimanacontem-

poraneidade,mencionam-seosmodelosdeflexibilidadedasHabitaçoesdeFokuoka,de

StevenHoll(1989-91)easpropostasdemoveisretrácteisdeAllanWexler(1991).

AsHabitaçõesdeFukuoka(1989-91)tornaram-seumemblemadacasatrans-

formável.Trata-sedaadaptaçãodoconceito japonês“fusuma”detransformabilidade

nahabitaçãocolectivacontemporânea.Osseus interioressãodefinidoscomtabiques

deslizantesquepermitemtantosepararcomouniroespaçoecriarespaçospolivalentes.

Numatipologiaépossiveltranformaroespaçodacasadodiaparaanoite,expandindoa

saladediaefechandoquartospelanoite.Outratipologiareflecteadaptabilidadeàtrans-

formação da família ao longo dos anos, podendo quartos ser adicionados ou subtraídos

ao espaço da casa 54.

“Nexus Housing (...) I did not want to design one, two and three

bedroom apartments; I wanted to generate a hinged space, a flex-

ible space able to change from one organization to another, o that

all 30 apartments could be different. ...” 55

54 GA architect55 S. Holl entrevista croquis

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

Gp.29 HabitaçõesFofuoka;1989-91;S.Holl

29.a)Plantasdointerior

29.b)Imagemdointerior1

29.c)Imagemdointerior2

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ACasaContentor(CrateHouse;1991)dodesignerindustrialAllanWexler,revela-sede

carizmaisexperimentalenoentantomuitorepresentativadostemasdacasadaArqui-

tecturaAnónimaqueabordaosnúcleosfuncionaisseparadosdaestruturaemprolde

umespaçovazio.

“I divided the house into its parts. A bedroom, bathroom, kitchen

and living room each has a function that is isolated and studied.

Each is contained in it own crate on wheels. When a room such as

the the kitchen is needed, that crate is rolled through one of the

door openings...” 56

Wexlerconceptualizaacasanasactividadesbásicadedormir,comer,‘higiene’e

descansar.Estasactividadesãoreduzidasaartefactosrepresentativosdasnecessidades

edesejosdofinaldoséc.XX.Oquedefineacozinhaouoquedefineumquarto,quaisos

objectos que explicitam uma função, são questões abordades neste objecto criado por

Wexler.

56 AllanWexler;p42

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

Gp.30 CasaContentor;1991;A.Wexler

30.a)“Contentor”

30.b)Organizaçãosegundoumnúcleocentral1

30.c)Organizaçãosegundoumnúcleocentral2

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30.d)Alçadodocontentorcozinha

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

30.d)Alçadodocontentorcozinha 30.e)Alçadodocontentorsala

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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído

10. A casa sob a casa

As mudanças tipológicas da casa são uma consequência das transformações

sociaise tecnológicasoutorgandoumamaiorflexibilidadedoespaço interior, semhi-

erarquiasecompoucoscompartimentosfixos.Propondoumamaiordiversidadedeca-

sas possíveis, onde se pode viver e trabalhar, onde pode viver uma pessoa só ou uma

família, monoparental, tradicional, idosos ou diversas pessoas sem qualquer relação de

parentesco.Procura-seumacasacapazdeevoluirjuntamentecomosseushabitantes,

numespaçomultifuncionalemutável,quealterneentreacompartimentaçãodeespa-

çosindividuaiseopen-space’s.Paraumamaiorlibertaçãodoespaçoutildacasa,será

talvezagoraummomentoparacolocarempráticaasexperiênciassoviéticasedarcon-

tinuidadeasestudosdeoptimizaçãorealizadosentreosanos20e70doséculoXX.

Acasadaarquitecturaanónimaassentanaorigemdaestruturadecarizmedi-

evalqueseconfiguravaemespacialidadespolivalentes.Otempoquetrouxeconsigoas

questõesdahigienizaçãoesalubridade,asexperiênciasdaoptimizaçãoeeficáciadas

funções,impôsdirectrizesfrutodosvaloresburgueses,ondeacasaécondicionadapor

umasectorizaçãofuncional,dedivisãopúblico/privadoministradospela ‘distribuição’.

Reflectirsobreaconfiguraçãodacasadaarquitecturaanónimanacontemporaneidade

implicanecessariamentereflectirsobreosmodelosdeorganizaçãonocontextoactual

deummododevivermaispragmáticoemenos‘circunstancial’.

Nessesentido,nopanoramageraldostemasanteriormenteapresentados,con-

sideram-se para a casa da arquitectura anónima contemporânea, os seguintes príncip-

ios:

A-“casaconcha”:

Aideiadecasa‘concha’enquantoolugar,ninhoprotectordomundoexterior,

enquantoaespacialidadedointeriorseja‘mutável’consoanteasnecessidadesapresen-

tadas de individuo para individuo.

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

B - Flexibilidade:

Acasadeveprovidenciarqualidadeeflexibilidade,vontadedeexperimentação,

adequação.Focando-senumaflexibilidadeoperativa,queseparaaestruturaexistente

dos novos componentes internos da intervenção.

C-NúcleosFuncionaisPrimários:

Para a adaptabilidade das estruturas novas e pré-existentes considera-se a li-

bertação do espaço interior da casa. Gerando maior liberdade de apropriação do

espçaopelohabitanteequesemanifestaatravésdaconstruçãodeumespaçovazioface

àposiçãoestratégicadenúcleosfuncionaisprimários.

D-NúcleosFuncionaisSecundários:

A possibilidadede várias opções deorganização, os elementos de armazena-

mentosesecundários,sugeremapersonalizaçãoeindividualizaçãodoespaçodacasa.

E-ExperiênciaMulti-sensorial:

-Umestudodoespaçoenquanto‘experiência’humana,retomaparaasnoções

abordadasnocapítulo I sobreoHomem,asexperiênciassensoriaiseapercepçãodo

espaço.

Destemodolançam-seaspistasparaodesenvolvimentodoprojectode“arqui-

tecturaanónima”naenvolventepróximadonovoMuseuNacionaldosCoches.

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

Arquitectura Anónima | rua da Junqueira

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Fig.31 Re-inventarvínculos(fotografiaCharlesRayEames)

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

Para fechar o entendimento da arquitectura anónima, apresenta-se o que deu

origemàanáliseanteriormenteapresentadaapretextodaconstruçãodonovoMuseu

dos Coches.

Anovafiguraemconstrução–omuseu–revelaarealidadecruadaestruturaur-

banadefundo-aenvolvente-profundamentedescaracterizadaeenvelhecida.Revela-

-se uma envolvente anónima de que pouco ou nada se sabe, mas onde se reconhecem

padrões urbanos semelhantes aos padrões das estruturas da arquitectura anónima estu-

dados neste documento.

Oobjectivodesteestudo visa suportar a elaboraçãodeumprojectoonde se

propõe a consolidação da estrutura urbana envolvente para a sua leitura como um todo

comoum“fundo”.Apremissadeconstruircomomáximodojáconstruídoreflecteas-

simofundamentoparaoarranquedoprojecto.Estapropostaassume-seenquantouma

intervençãocirúrgicanarealidadeclaradolugar,retirandoomáximopartidodaestru-

turapré-existente,re-caracterizando-a,ecriandonovosvínlculoscomoshabitantesda

cidade.

Retoma-se o conceito benjaminiano de ‘atenção distraída ou distração atenta’

paravíncularapropostaqueprocura‘reactivar’pedaçosdacidadeantiga,projectando-

a na contemporaneidade. Com base na noção de percepção distraída, as intervenções

propõem-se integradas, discretas, algumas quase invisíveis ao olhar desatento, mas ex-

pressivasequereflectemtodoumgestorelacional.

ARQUITECTURAANÓNIMA | Rua da junqueira

57 Appleyard,1979p16

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Gp. 32.a)Maquete(MMBB)

Gp. 32.b)Fotomontagemcomenvolvente

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

11.ANovafigura-MuseudosCoches

OMuseudosCochesque,desde1905,sesituanoedifíciodoantigoPicadeiro

Real,seráembrevetransferidoparaumnovoedifícioprojectadopeloarquitectoPaulo

MendesdaRocha.EstenovoprojectofaráfrentecomaAvenidadaÍndiaeaPraçaAfonso

deAlbuquerqueeaRuadaJunqueira,ocupandoolugardasAntigasOficinasdoInstituto

PortuguêsdeArqueologiaedoInstitutoPortuguêsdeMuseologia.Formalmente,onovo

museuéconstituídopordoisvolumeseumagrandepraça:

a) Umvolumeprincipal,quealbergaráacolecçãodecocheseoutroedificioanexo

comfunçõesadministrativas.Ovolumeprincipalmanifesta-seabstractamentecomoum

grandeparalelepípedo,suspensonoar.Noseuníveltérreoencontra-seaentradaparao

museu,aoficinapararestaurodoscocheseumaesplanadadefaceparaapraçaAfonso

de Albuquerque.

ANorte,fazendofrentecomaRuadaJunqueira,situa-seoanexo,quecontémos

járeferidosserviçosadministrativos,bemcomorestauranteeumauditório.Existiutam-

bém uma proposta um terceiro volume, o qual seria um silo automóvel, com capacidade

para400lugares,dooutroladodasavenidas,oqualnãodeveráserconstruíoemvirtude

dadeliberaçãodaCML.

Oprojectoapresenta-secomoumanotávelobradeengenharia.Asuaconstrução

combinaosvolumes,atravésdegrandestreliçasmetálicas,revestidaspeloexteriorcom

osistemade‘aquapanel’,decorbranca,assentesemfundaçõesdebetãoarmado.

Apósaleituradamemóriadescritivadoarquitecto(emanexo),definem-sedois

conceitosfundamentaisparaadefiniçãodoprojecto:

ApassagemaéreaquedácontinuidadeàCalçadadaAjudaatéaoRioTejoeo

conjuntodeedificaçõespreservadas,“ao longo da Rua da Junqueira confrontando aos

fundos com a área do Museu, antiga Rua Cais da Alfândega Velha , com grande encanto

para o lugar”

Apósumavisitaàobra(verrelatórioemanexo),compreende-sequeaimplanta-

çãodoMuseudosCochesassenta,sobretudo,numabasecadastral,sendoqueolimite

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

dazonadeintervençãoédefinidopeladimensãoeconfiguraçãodolotemaisdoquepor

umalógicaglobaldeenquadramentodoedifíciopropostanaquele lugar.Surgindoas-

simoproblemadecomorelacionaroMuseudosCochescomasuaenvolventepróxima

(maisdoquecomalógicaurbanadaBelémMonumental).

O futuroMuseu dos Coches ocupa uma posição estratégica no que respeita

a resolvera integraçãodaCordoariaNacionalnoâmbito turísticodeBelém, jáqueo

mais longoemaisantigoexemplardearquitectura industrialpoucose relacionacom

adinâmica turísticadessazona.Nessesentido,oMuseudosCochesvemdar inicioà

monumentalizaçãodoladoorientaldaCalçadadaAjuda.(fig.32c))

Relativamenteaoenquadramentodonovoedifíciose,porumlado,arelaçãodo

comaAvenidadaÍndiaePraçadeBeléméclaraeinequívoca,assimcomoarelaçãopo-

tenciada para envolver a Cordoaria, por outro, a relação que se estabelece com a Rua da

Junqueiraémanifestamenteincompatívelcomoestatutodoedifícioecomoqueseria

desejávelemtermosdearticulaçãoecontinuidadeurbanas.(fig.32d))

Gp. 32.c)RelaçãomacrocomasdinâmicasdeBelém

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

Esteproblemapodeserdecomposto:

a) Narelaçãoentreasescalas–omuseucontrastabrutalmentecomasconstruções

envolventes,fazendo-aspareceraindamenores,comoqueminiaturasdecasas;

b) Najustaposiçãovisualdasconstruções–aclaraapercepçãodafigura-fundo

deixadeoserquandoofundonãoseconstituicomoumaestruturadeclaroentendi-

mento.

Surge,assim,anecessidadedegarantirecriarrelações(deescala,deuso,de

imagem)quefuncionemparabenefíciomútuotantodoMuseudosCoches(a“figura”),

comodasuaenvolvente(o“fundo”),repensandoaformacomootecidourbanonazona

daRuadaJunqueiraeonovoMuseudosCochessevalorizammutuamente.Nessesen-

tido,aanálisequeseguefaráumasíntesedocontextoactualdaRuadaJunqueira,fo-

cando a envolvente imediata do futuro museu.

Gp. 32.d)Relaçãodirectacomaenvolvente

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Page 107: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

12.Ofundo-RuadaJunqueirapoente

Nestepontofaz-seumacontextualizaçãodaevoluçãodosítiodaJunqueirase-

gundoumabrevesíntesehistóricabemcomodoqueestánaorigemdasduasmorfo-

logiasurbanasqueconstituemosítiodaJunqueira.Deseguida,atravésdeummodelo

deanáliseempírico,observa-seoconjuntourbanoondeseconjecturamhipótesesde

transformação e adaptação do troço da rua.

12.1BrevesíntesehistóricadosítiodaJunqueira

ApesardositiodaJunqueiraremontaraopaleolíticosuperioreneolítico,saltar-

se-áumlargoperíododetempoeinícia-seadescriçãonaLisboaquinhentista,ondea

cidade que se estendia ao longo do rio para ocidente era repleta de quintas de veraneio

comos seuspomares, longos areais e onde seprojectava já a construçãodo grande

mosteiro(1501)edaTorredeBelém.

EmmeadosdoséculoXVII,paraseprotegeracidadedosataquesmarítimos,

construiu-seaolongodoareal(deLisboaàEriceira)umalinhadefortificaçãoabaluar-

tada,correspondendoosítiodaJunqueiraadoisdosvinteeoitofortes,fortesdeS.João

edeS.PedrodaJunqueira.

NoséculoXVII,afamíliaSaldanhavíncula--seaolugar,constituindo-seassimo

MorgadiodosSaldanha.AgranderesponsabilidadedaconstruçãodositiodaJunqueira

deve-se a esta família e ao outras famílias nobres que ali se instalaram durante os séculos

XVIIIeXIX.

DuranteosséculosXVIIIeXIX,aJunqueiraécenáriodediversasmutações,desta-

cando-seumacrescenteconstruçãodepalácios,aplantaçãodeumaalamedapública,

quefaziaopasseiointermédioentreascasas,tantodeveraneiocomoresidenciaiseo

areal das praias - “uma grande avenida, arborizada ao longo do Tejo”,dizMardel-eo

rompimentodaCalçadadaAjuda,comomeiodeligaçãodosterrenosreaisàJunqueirae

ao Rio.

“Enquanto as frentes palacianas de expressão urbana e erudita estruturavam a

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via pública principal, um conjunto de ruelas e travessas, com um casario simples, rasga-

va-se perpendicularmente à praia da Junqueira, tradicionalmente ligadas às actividades

piscatórias e ao movimento fluvial.” C. Mardel

AestreitaligaçãodestesítioaorioTejopersistiuatéaoiníciodaindustrialização

dazonaocidentaldacidade.ComfocoentreAlcântaraeBelém,oprimeiromomentoé

marcadopelaconstruçãodaCordoariaRégia,nosítiodoFortedeSãoJoãodaJunqueira,

em1771/78,oqueimpulsionouumaprogressivatransformaçãodecarizindustrialsóin-

terrompidapeloEstadoNovo,noâmbitodaExposiçãodoMundoPortuguês,em1940.

Atéao séculoXX, a grande transformaçãoda frente ribeiradá-se coma con-

strução do porto de Lisboa e a promoção do aterro que a distanciou umas centenas de

metrosdaantigamargemdorio,oquesucedeujánosfinaisdoséculoXIX.Possibilitou-

-se, assim,a construçãodaAvenidaMarginal,projectodoEng.DuartePacheco,bem

comoalinhaférreaocidental,estaúltimajánoiníciodeséculo.

ComaExposiçãodoMundoPortuguês, em1940,o cariz industrial começaa

retrocederemproldeumaprogressivaconsagraçãoculturaldazonadeBelém.

Asuatoponímiareferencia-seaoséculoXIV,ondesecrêqueexistiaummaciço

dejuncos,potenciadopelaexistênciadeterrenoshúmidos,frutodaságuasquesefixa-

vamjuntodafozdorioseco,ondehojesesituaochafariz.ComaconstruçãodaCordo-

aria Régia, esse terreno é aterrado, eliminando-se o juncal.

Emmododeconclusão,adiversidadearquitectónicahojeexistenteéoreflexo

dasváriasfunçõeseusosquesesobrepuseram:agrícola,religiosa,piscatória,balnear,

residencialnobre,indústrial,residencialoperáriaemilitar.ARuadaJunqueiraconforma

umeixolineardeligaçãoentreBelémeocentrodeLisboa,compostaporpaláciosepor

modestas habitações.

Fig. 33 A marginal da

CidadedeLisboa,1960

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

12.2DescriçãoMorfológicadaR.daJunqueira

AR.da Junqueiraéumaestruturaurbana linear,aqualocupaumaextensão

limitada a nascente pela Travessa do Conde da Ponte, a poente pela Calçada da Ajuda,

aNortepeloBairrodaAjudaeSantoAmaroeaSulpelazonamarginalaorio.Aruaas-

sume-se enquanto eixo estruturante da malha urbana, congregando uma grande diversi-

dadedeelementosformais.Estaécompostaporfrentesderuaprincipais,atravessadas

por ruelas perpendiculares ao eixo e ao rio.

Comaproximadamente2000metrosdecomprimentoeumalarguraquevaria

entreos10e30metros,aRuadaJunqueiradivide-seemduaszonas,asquaiscorrespon-

demaáreasdecrescimentodistintas,asaber(fig.34):

a) ‘Monumentalpalaciana’

CompreendidaentreaRua1ºdeMaioeo LargodoMarquêsdaAngeja,en-

contra-senestazonaumaarquitecturadecarizmonumentaleerudito.Aquihistorica-

menteconsolidaram-seospalácioseasquintasdeveraneio,tipicamenteestruturados

em grandes lotes, o que potenciou a formação de quarteirões de grandes dimensões. Os

espaçosverdesqueaquiseencontramsãojardinsdospalácios,reguladospeladimensão

delotespalacianos.Encontram-se,ainda,tipologiasdecasaunifamiliar,opaláciooua

quinta,edifíciosreligiososeinstitucionais.Realça-seaimplantaçãodaCordoariaRégia,a

qualintroduzumarupturanacontinuidadedoeixodaJunqueira.

b) ‘Urbanamodesta’

AzonasituadaentreolargodoMarquêsdeAngejaeaCalçadadaAjudatem

umcarizmaismodestodoqueaanterior.ARuadaJunqueiraapresentaaquiumafaceta

maisurbana,sendoconformadaporhabitaçõesdecaráctercolectivo,construídasprin-

cipalmentenosséculosXVIIIeXIX,enquantoestruturasdeapoioàproduçãoindustrial

episcatória.Contrastandocomosgrandesquarteirõesdefinidosnazonamonumental

daJunqueira,aquiencontra-seumloteamentodeparcelamenores.Osespaçosverdes

sãodedimensões reduzidas,manifestando-sesobrea formade logradouros,quintais

ereminiscênciasdeespaçosvazios.Astipologiasidentificadassãoacasaunifamiliar,a

habitaçãocolectiva,osarmazénsindustriaisemilitares,bemcomoumgrandenúmero

debarracões.Nestazonadestaca-seoquarteirãodefinidopela ruadoEmbaixador,o

qual, pela sua singularidade e homogeneidade, contrasta com o lado oposto da Rua da

Junqueira,esteper si heterogéneo e aparentemente degradado e obsoleto e em parte

devoluto.

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Por ironia ou não, a envolvente imediata do futuro museu dos coches, foco e gé-

nesedestetrabalho,apresenta-senocontextoemúltimomencionado,ouseja,otroço

finaldaruadaJunqueira,maisempobrecidoenuncadevidamenteconformado.Ocon-

juntourbanoqueseiráanalisardeseguida,apresentamodelos-tipodeconstruçõesmais

oumenoshumildes,abandonadasoutransformadaspelotempo,podendoafirmar-se

comoumconjuntourbanodescaracterizado,apresentandoalgunsvestígiosdoqueterá

sidoumdia.Aprópriatoponímiareflecteestaideia,v.g.RuadoCaisdaAlfandegaVelha,

Rua das Casas de Trabalho ou ainda Rua das Galeotas.

11.3Análisecríticadoestadodosedifícios

Nomomentoemqueselançouapremissadeprojectovínculou-sefortemente

a intervençãoaoconjuntourbanoexistente.Paraumrigorosoconhecimentodaárea

emestudoelaborou-seumaanálisedoconjuntourbanodaenvolventepróximadonovo

edifício,assentenummétododeregistofotográfico.

Ométodoenunciadoorganiza-seporgruposdeaproximaçãoaoedifícado,abor-

dando os seguintes temas:

-grupoA,frentedaR.daJunqueira;

-grupoB,confrontocomonovoedifíciodoMuseudosCoches;

- grupo C, espaços residuais e frentes de rua;

-grupoD,tipologias;

-grupoE,interiores;

- grupo F, materialidades e pormenores.

LargodoMarquêsdeAngeja

R.daJunqeira

‘Monumentalpalaciana’

‘Urbanamodesta’

fig.34Esquemamorfológicodosítio

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

Gp. 35

Análise fotografica da en-

volvente

A.a) R.da Junqueira,àdireitaoquarteirãodefinidopelaR.Embaixadoreàesquerda, o conjunto urbano em estudo.

A.b)FrentedaR.daJunqueiradoconjuntoemestudo.(vistaparcial)

A-FrentedaruadaJunqueira

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B.a)ConfrontodevolumetriasgeraiscomoedifícioanexodoMC.

B.b)EstadoderuinaconfrontaanovaobradoMC.

B-ConfrontocomonovoedificiodoMuseudosCoches

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

B.c)VistadonovoMCporentreaenvolvente.

B.d)Confrontodemorfo-tipologiasexistentes.

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C.a)TérmitodaRuadoCaisdaAlfandegaVelha,juntoàTravessahomónima.

C.b) EstadoactualdafrentederuadaRuadocaisdaAlfandegaVelha.

C-EspaçosesiduaisefrentesderuaAruaqueirácontornaredaracessodaR.daJunqueiraàparçadonovoedifícioéaR.doCaisdaAlfandegaVelha(R.CAV).EstaconformadaentreaTravessadoCaisdaAlfandegaVelha (Tv.CAV) e a Travessa da Pimenteira (Tv.P), surge comouma sucessãode espaçosresiduais.

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

C.c) DaTravessadoCaisdaAlfandegaVelha,afuturaaruaenvolventeterácontinuidadenestesentido.

C.d) Término da R.CAV, junto à Tv.P.

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C.e)Umarealidadedetardoz.

C.f) ÚnicoedifícioexistentecomfrenteparaaRuadoCaisdaAlfandega.

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

D.a)nº307A,Armazémmilitar(vistaparcial)

D.b) nº307A,Fachadadomesmoarmazém(vistaparcial).

D - Tipologias

Apresentaçãodosedifíciosetipologias,vistosdaR.daJunqueira.

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D.c)nº341,Tipologiadehabitaçãooperária,séc.XIX

D.d)nº329,Tipologiadehabitaçãooperária,séc.XIX.(devoluto)

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

D.e)nº317,Edifíciodahabitaçãocolectiva,de3trêsandares.

D.f)nº323,CentrodedocumentaçãoeInformaçãodoIAP.

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E.a)nº317,Vistaparasuldointeriordo3ºandar.

E.b)nº317,Interiordacave,revelaaestruturadevigasembarrotesdema-deira.

E-Interiores

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

F.a)Pavimentoempedradebasalto.

F.b)Vegetação(amendoeira)

F-Materialidadesepormenores

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F.c)Algunsedifíciosapresentamrevestiventoazulejular.Própriodoembeleza-mentodoromântismoportuguês.

F.d) Pormenor de uma fachada. Com paredes portantes de alvernaria mista.

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

F.e)CantariasemLioz

F.f) Janelasegradesdesacada.

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Combasenaanáliseefectuadaextraem-seasseguintesconclusões:

a)Estadodeconservaçãodoconjuntoedifícadoemfunçãodasestruturasindi-

viduais,osedifíciosestudadosapresentamumaestruturarudimentardeparedespor-

tantesemalvenariamistaevigasdemadeira.Nosedificiosquefoipossívelverointerior,

constatou-seque,regrageral,muitasmadeirasestavamnofimdoceuciclodevidae

provocamcedênciasemtodaaestrutura.

b)Oreconhecimentodosusosactuaispermiteumamaioraproximaçãoaolugar.

Destaca-seumadiversidadeprogramática.

Ruína

Degradação extrema

Degradação parcial

Bom estado

Barracões ou acrescentos sem qualidadepreservável

36. a) Estado de conserva-

ção

Habitaçãocolectiva

Habitaçãounifamiliar

Equipamento

Uso misto

Oficinas

Devoluto

36. b) Levantamento de

usos

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

c)DolevantamentodafrentederuadaR.daJunqueiraconstata-seumagrande

irregularidadequemarcaoconjunto,conferindo-lheumadesarticulaçãoenquantoum

todourbano,emboraestacaracterísticatambémconfiraàruaumritmoprópriopreva-

lecente.Esquemasdefachadapertencemfundamentalmenteamodelostardo-pombal-

inos, quando esta métrica se torna um modelo de construção popular.

Paradeterminaracçõesdeintervençãoemcadaedifíciotornou-sepreponder-

anteumreconhecimentodeaspectosqualitativosearquitectónicos.

d)Relativamenteaosrevestimentosdefachadamateriaisecores,destacam-se

quatroedifícioscujorevestimentoéfeitocomazulejo,própriodaintroduçãodoroman-

tismonaarquitecturaemPortugal,cujacoresnãofogemàbasedostradicionaisbrancos,

ocres e rosas.

Reboco pintado

Revestimentoazuleijar

36.d)revestimentos

36.c)Cérceas

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e)Aáreadepesquisa,apresentaumconjuntodepormenoresarquitectónicos

de destaque, como elementos de mansarda, sacadas, cantarias, portadas de madeira,

elementos em ferro forjado, estes revelam a expressividade do lugar.

f)Paraconcluiraanalise,odiagramarepresentaapropostadeintervençãono

edificado,resultadodeumaapreciaçãoempíricadoestadodeconservaçãodoedificado

existenteetendoemcontaas‘qualidades’maisoumenosrelevantesdosmesmos,de-

terminandoumalinhadeacçãoparacadaedifício.

Janelasdemansardaousacada

Elementosemferroforjado

Platibanda

Portadas de madeira

Cantarias

36. e) Pormenores dedestaque

Demolir

Restaurar

Reconstruir / reabilitar

Nãointervir

36.f)propostadeacção

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

13. Descrição da proposta

Para dar resposta aos problemas anteriormente enunciados, da relação de escala

urbanaqueonovomuseuintroduz,coma‘Belémmonumental’edestacadamentecom

arelaçãoespecíficaqueestabelececomasuaenvolventepróxima,apropostacentra-se

notecidourbanoenvolvente,pretendendoreinventá-lonasuahistóriaemorfologiae

restituir-lhequalidadesvivenciais.

Focandoapropostaapartirdaescaladaarquitecturaurbana(descritaapartir

de12.2),elabora-seemparaleloumapropostaquepretenderesolveroenquadramento

daescalaurbanadeBelém(descrita12.1).

13.1. Plano urbano

O plano urbano é uma proposta elaborada juntamente com o aluno Gilberto

Pedrosa.Aproximidadedasintervençõeseumasemelhanteconceptualizaçãodaprob-

lematicaurbana,fezcomqueasduaspropostasseintegrassemnumúnicoplano.

Assimsendo,olocaldaintervençãoédefinidoaNortepelaRuadaJunqueira,

aSulpelaAvenidadaÍndia,aNascenteligaàCordoariaNacional,pelaR.daGaleotase

aPoentecircunscreveonovoedifíciodoMuseudosCoches,frenteàPraçaAfonsode

Albuquerque.(fig.37a))

Reconhecida a posição estratégica do novo museu dos coches enquanto uma

pontedeligaçãoàCordoariaNacional,propõe-sepelopresenteresolverauniãodosdois

pontos(MCeCordoaria)atravésdeumparque,quedácontinuidadeàfrenteribeirinha

destazonadacidadedeLisboa.(fig.37b))

37.a)lugar

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Ajunqueiracomoseucarácterlineardefinido,nasuagénese,pelamargemdo

rioestáhojeprofundamentealteradacomossucessivosaterroseafastamentosdeste,

conferindocertaperdadesentidodosítio,quesemanifestaemespaçosresiduaissoltos.

Emfacedoexposto,repropõe-seumsítiodaJunqueiraqueexpresseessestemposem

queoriolhetocavaeosjuncosrompiam,numreinventardasuamargem,resignificando

assimosespaçosperdidos.DosaltosmurosdomiradourodopalácioMarquêsdeAngeja

àsinclinadastravessasdaRuadoPimenteira,daRuadoCaisdaAlfandegaVelhaouda

RuadasGaleotas(porondeseembarcava)lançam-seaspistasparaapropostaurbana.

Nestesentido,apropostapretende(conceptualmente)‘reinventar’alinhana-

turaldamargemdo rioTejo segundoaspreexistênciasdo lugar (murodomiradouro

MarquêsdeAngeja)esegundoalinhare-interpretadapeloarquitectoPauloMendesda

Rocha(murodoMuseudosCoches)

Ummuroquedividedoisníveisdáacontinuidadeurbananaligaçãoàcotabaixa,

comespaçosnaturais‘verdes’eumacontinuidadedepatamaresemiradourosàcotada

RuadaJunqueira.Estadivisãoporníveisoriginaduasqualidadesdeespaçodistintas:

37.b)objectivo

37.c)conceito

37.f)proposta

37.e)cortedeconceito

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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

a) -Umpercursonaturalizado-nosentidodedarcontinuidadeàfrenteribeirinha

verdejante, propõe-se na cota inferior o percurso num tom de parque urbano, atraindo

tanto os turistas de Belém como os habitantes do bairro. O desenho do percurso preo-

cupa-se com a criação de um ambiente de isolamento natural, protegido da velocidade,

poluiçãoambientalesonoradaAv.Marginal,pautadoporumjogodevistasparaoexte-

rior.

b) -Omuroeasucessãodepatamares-apropriando-sedospatamaresdeixados

peloníveldaruada Junqueira,consagram-sedo ‘outro’ ladodomuromiradourosde

contemplaçãodoriooudepermanênciasdistintas.Estepontodedelicadaimportância

revelaasuturadapropostacomtodaaenvolventeurbanaexistente.Acontinuidadedo

muro é pontualmente rasgada por níveis que se encontram e por acessos que estrate-

gicamentepontuammomentosdetransiçãodecotas,parafácil,seguraelivrecircula-

çãohumana.Omuropropostovemdarcontinuidadeaorecentementeconstruídopelas

obrasdoMuseudosCoches.

Apropostadepercursodeligaçãoépontuadapor‘folies’(referênciaaoprojecto

doparquedeLaVillette,deTschumi,Paris)quedãovidaeanimamolocal,taiscomo,

diferentesobjectosarquitectónicosmultifuncionais,quiosquesdealimentação,deleit-

ura,parquesinfantis,postosdeinformação,bares(quepotenciemumavidanocturnae

umaconvivênciajovem),sanitáriospúblicos,entreoutros.

Osmateriaisescolhidossãoreflexodoconceito inicialqueexplicitaamargem

natural,distinguindoaterraondeseconstruiuacidade,doarealqueoriobanhava,e

distinguindo-seaszonasmaisdensasdemaciços,dejuncosevegetaçãoautóctone.

Tenta-se resolver a questão do estacionamento do museu e do parqueamento

indevidodazona,propondoemcontrapartidaaoúltimoprojectoapresentadoparao

museu, um estacionamento subterrâneo para visitantes do museu e para moradores.

37.g)diagramadedeníveis

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110

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13.2.Propostadearquitecturaanónima

“(...) a imagem urbana é aqui entendida como um dos aspectos que contribui para

o processo de construção da identidade das cidades e núcleos históricos, estando

intimamente relacionado com o ambiente social e cultural de tais contextos. (...)”

Aproblemáticadestaescalafundamenta-senarelaçãoqueestabelecemanova

praçadomuseuearuatardoz(queaconforma).ARuadoCaisdaAlfandegaVelhaga-

nhaumnovoestatuto,comanovapraça.Nãoémaisumarualogradourodashumildes

habitaçõesquearodeiam,comosetornaránumcanalabsorventedanovadinâmicaque

provém(especula-se)donovoedifíciodomuseu.Estaruaconformaapraçadeumdos

mais importantesmuseusnacionais.Nesse sentido, a recuperaçãourbananecessária

a este pequeno conjunto urbano mostra-se estratégica na criação de novas dinâmicas

urbanas.

Problema:EstadoactualdaRuadoCaisdaAlfandegaVelhaeasuanovacondição.

Oobjectivodestaintervençãoémanterocarácterurbanodarua,escala,usos,

tipologias,qualificando-a.Istoé,muni-ladenovasferramentasebensconstruídos,ca-

pazesdeabarcarnovasfunções,qualificandoosacrescentosebarracõesdasconstruções

que permanecem, portanto, resolvendo os problemas analisados no capítulo 11.

A primeira acção de projecto reporta às construções preexistentes. Após a

definiçãodoscritériosquetêmemcontapadrõesurbanos,elementosarquitectónicos

demaior interesse, valor físico e económico, estado de degradação e obsolescência,

pode-se,então,definir,paracadasituação,otipodeintervençãonoedificadoedetermi-

narvaziosparanovasconstruções(aconformaçãoequalificaçãodarua).

lugar

Gp. 38Arquitectura AnónimaArq. Urbana

38.a)lugar

rua como arquitectura urbana

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111

ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

Ao longo de todo o processo de conformação da rua, pretendeu-se estabelecer

umacoerênciaformalnoconjuntourbanopreexistente.Procurou-se,desdecedo,uma

harmonia entre as formas urbanas existentes e criadas, estabelecendo-se o seu papel de

arquitecturaanónima,umfundoparaofuturoMuseudosCoches.

Para a nova rua recorre-se aos conhecimentos adquiridos sobre a forma ur-

bana, devidamente explanados no primeiro capítulo deste documento. Uma linha de

águaescreveocaminhodanovarua.Pormeiodepontuações,quepodemserárvores,

bebedourosousimplespoçosdeágua,alinhatraçadaentreapraçadonovoMuseudos

CocheseaR.daJunqueiraligaalargos,miradouros,pracetas,dandoqualidadesdistintas

a cada espaço da envolvente urbana.

?

~~

~~

~~

pontuação praceta miradouro caminhodepeões deflexão estreitamento largo pontuação

38. b) alteração do edificadopropostas

proposta

38.c)Axonometriadeconceitos

Page 132: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

112

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Assim,ehipoteticamente,umindivíduonarraasuaprogressãonumpercurso

com inicio na praça do novo museu, revelando uma sucessão rica de espaços e modos

de o construir:

− Ao subir a rampa que me afasta da praça do museu dos coches, procuro um

café. No topo da rua entro numa loja (I), encontro ‘souvenirs’ para lembrança, agora fal-

ta encontrar um café, então tomo a direcção da rua adjacente ao muro que me permite

ver de onde vim (II). À minha frente e ainda na sombra do museu o caminho estreita-se

anunciando um clarão. Contornando o muro abrando o passo, posso ir-me embora e

virar para a Junqueira ou deter-me a contemplar o rio que é visível pela primeira vez (III).

Porque não continuar ali? Não corro para lugar nenhum e ainda procuro um lugar para

tomar um café. Continuo o caminho ao lado do muro, e lá está, encontro-o dentro de

uma ruína um quiosque, contorno a ruína para aceder ao quiosque, onde um pequeno

largo me acolhe e continuando a desfrutar da presença do Tejo me deixo ficar (IV) ...

(I) (II)

(III)

(IV)

percurso da nova rua

38. d) Ilustração esquema danarrativa

Page 133: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

113

ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído

(I) (II)

(III)

(IV)

Setodaaideiadearquitecturaéapermanência(exceptopressupostosespecífi-

cosquedeterminamocontrário)eseaarquitecturapermanecenoespaçomuitoalém

davidadeumhomem,talcomorefereBrand,avidadeumedifíciovaimuitoalémda

sua função inicial.Apropostadearquitecturaanónimaaquiapresentada formaliza-se

atravésdessadimensãotemporal,ondeaestruturafísicapermanece,masosseususos

vão sendo outros com sucessivas transformações.

Assim, na dimensão da arquitectura urbana, define-se também como uma

questãoprogramática.SegundoosensinamentosdeBrand,adistribuiçãodosprogramas

daarquitecturaéfeitaatravésdeumplaneamentodecenários.Oprincípioorientadoré

sempreomesmo,projectaredifícioscapazesdeseadaptaremadiferentessituações.

As intervençõesa realizarabordamgruposdecenárioshabitacionais, laborais

excepcionalmente,queseorganizamdeformaaresponderomaispossívelaosseuspro-

gramaspropostos.Estesorganizam-sesegundomorfo-tipologiasexistentesepropostas,

do seguinte modo:

1Casa -casauni;casaduo;hab.colectiva;casaeloja;loja;estúdio...

2Armazém -galeriascomerciais,complexosdeescritórios,lojas...

3Excepção -usosdiversos.

Assenteentãoopressupostofundamentaldequea‘casa’albergarámaisdoque

uma função ao longo da sua vida, e que cada construção se encontra num grupo morfo-

tipológicoquecontemplaasuatransformabilidade,elaborou-seumprogramaquepos-

sibilitadesenvolverapropostanumabaseoperativafixadetrabalhosegundo‘clientes’

imaginários.Esteprogramaespeculaqueodesenvolvimentodolugarsejainfluenciadao

pelonovoMuseudosCoches,pelaproximidadeauniversidadeseinstitutos,confrontan-

do o crescente envelhecimento populacional e sustentado pelo fenómeno de mobilidade

social jovem.

definindo o programa da arquitectura anónima

Page 134: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

114

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Paraprojectarascasasdaarquitecturaanónimadefinem-seprincípiosglobais

que orientarão o desenvolvimento de cada projecto per si.

Oprincípioda‘casaconcha’define-seatravésdaestruturaenvolventequeen-

quadraoespaçointeriordoedifício,queporsuavezsecompreendedentrodoslimites

doloteurbano.Oenquadramentodoespaçodefineassimum‘espaçogenérico’dotado

decertograudeadaptabilidadeepolivalência.Este‘espaçogenérico’podeadquiriros

maisvariadossentidosdeuso,consoanteaintrodução,noespaço,demotores/objectos

‘chave’que,peranteasuacolocaçãodeummodo,maisoumenosambíguo,permitem

umapolivalênciamaior,dotandooespaçocomumaflexibilidadetantoactivacomopas-

siva.

Umfactorquesetomouemconsideraçãoéocrescimento/expansãodosedifí-

cios. Quer seja ocupando os quintais com anexos que, frequentemente, correspondem à

adiçãodeinstalaçõessanitáriasoudesimplescompartimentos,quersejaempequenas

esucessivasconstruçõesdeampliaçãovertical,o factoéqueestasconstruçõesestão

constantementesujeitasaacçõesdeintervençãoporpartedosseushabitantes.Nesse

sentido,propõe-semodelosdeanexosqualificadosequeregularizamafachadatardoz,

oferecendo uma leitura do conjunto urbano mais animada.

Assimsendo,admite-seporúltimoqueaconstantemutabilidadedeusosene-

cessidadesrequeridasàs‘casas’impõe-seaoprincipioda‘casa concha > espaço genérico

> motor chave’ criando um ciclo que permite uma constante transformação do espaço. A

introdução de diferentes motores permite a indução a mais e diferentes usos do mesmo

espaço,domesmoedifício.

39.Ciclodacasa

Page 135: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

115

Construir no Construído

Noprocessodeprojecto,existiuummomentochaverelativamenteàintrodução

dosmotores.Apósaanálisedasmorfotipologiaseadefiniçãodepossíveisprogramas

sintetizou-seaintervençãoemdoistiposdistintosdemotores,istoé,paraosarmazéns

eparaashabitações(moradiaseprédios)doismotoreseramnecessários.

Para o armazém, que se manifesta essencialmente por grandes naves, era

necessárioumaestrutura soltaquesubdividisseoespaçoe incorporasse todaa rede

infraestrutural,comoelectricidade,águas,entreoutras.Propõe-se,assim,umaestrutura

metálica de juntas secas, que compartimenta e concedehabitabilidade ao espaço.O

fundamental para esta intervenção é a possibilidade destas estruturas poderem ser rapi-

damente/facilmentemontadasedesmontadas,possibilitandoassimqueosarmazéns

abandonados que se encontram espalhados por toda a cidade se transformem facil-

menteesurjamcomoespaçosimpulsionadoresdeactividadescriativas,económicasou

culturais.Estanoçãoestáassentenoprincípiodos‘clusterscriativos’.

Para as habitações - moradias e prédios de dimensões pequenas - o motor a in-

serirteráqueresolverascirculaçõesnointeriordoespaçodomésticoeconterasfunções

fundamentaisàvidadoméstica(espaçodeconfecçãodealimentos,instalaçõessanitar-

ias,condutaseespaçosdearrumos).Oesquemaqueseguemostraomotor‘k’,asfun-

ções que alberga e as relações que se estabelecem.

Desta ideia de motor que resolve o espaço da casa, sistematizaram-se três

posiçõesnoespaçogenérico.Sendocertoque,aaplicabilidadedecadaumédefinida

pela dimenção do espaço existente. Assim, e como o esquema que segue mostra, para as

moradiascomáreasmínimasummotorlongitudinalofereceomáximodeáreaútilaos

compartimentos,reduzindodesperdíciodeáreasemcirculação.Omotoremcolunaao

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RELAÇÃO ENTRE 3 TIPOLOGIAS DE CASA E O MOTOR 'K'

MOTOR 'K'

" fogo - espaço de confecção de alimentos

# água - espaço de higiene

$ energia - infra-estrutura eléctrica

! ar - caixa de escadas (quando necessárias em moradias)

% objectos - espaços de arrumos

MOTOR NA DEFINIÇÃO DO ESPAÇO

CASA URBANA DA ARQUITECTURA ANÓNIMA

40. Intervenção

41.Motor

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

centro resolve o espaço da moradia de modo semelhante ao anterior, embora este pela

sua localizaçãocentralpossibilitaasub-divisãodoespaçogenéricoemdoiscomparti-

mentos.Porúltimo,eespecificamenteparaoscasosdosapartamentostradicionais,um

motor central resolve, também, a circulação no interior da habitação, oferecendo mais

umavezomáximopartidodeáreaútilaoscompartimentos.Estesporsuavezpodemser

apenasumgrande‘openspace’,sub-divididoaté4compartimentos.

Nocasodasmoradiasoestudodomotorfoi-setornandocadavezmaisinteres-

sante,nãosóporsetrabalharcomáreasmínimasdohabitar,comoporsetrataremde

moradias com uma estrutura que indica um modo de habitar diferente do convencional

dacasaurbana.AsmoradiasdaparteintervencionadanaRuadaJunqueiraapresentam-

se como um reinventar da estrutura medieval.

Para estas casas urbanas retoma-se a organização da casa urbanamedieval,

atravésdeumapremissadecompartimentospolivalentesnumaestratificaçãodeusos

vertical.Nopisotérreodefine-seumespaçocomumquecomunicacomospisossuperi-

oresecomopisoinferior.Estescaracterizam-secomoumasucessãodecompartimentos

comunicantes de usos indiferenciados, que tanto podem ser quartos de dormir, como

salas ou escritórios.

Emmododesintese,os interiores sãoconstituídoscombasenapremissado

‘vaziodebaixocontrole’, correspondendoaunidadesdeespaçoautónomasepoliva-

lentes,ondea introduçãodenúcleosdefuncionamentoprimárioconfereahabitabili-

dadeaoespaço.Estesnúcleosconstituemunidadesdeáreamínimaparaaconfecção

dealimentos,higieneecirculaçãovertical.Paraadefiniçãodecompartimentos,quando

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REVIVER A ESTRUTURA MEDIEVAL

Para a casa urbana proposta, retoma-se a organização espacial da casa urbana medieval. Numa premissa de

compartimentos polivalentes, propõe-se uma estratificação de usos vertical. No piso térreo define-se então, um espaço

comum que comunica com um ou os pisos superiores e com o piso inferior. Estes são uma sucessão de quartos/

espaços comunicantes de usos indiferenciados, que podem ser quartos de dormir, salas ou escritórios.

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RELAÇÃO ENTRE 3 TIPOLOGIAS DE CASA E O MOTOR 'K'

MOTOR 'K'

" fogo - espaço de confecção de alimentos

# água - espaço de higiene

$ energia - infra-estrutura eléctrica

! ar - caixa de escadas (quando necessárias em moradias)

% objectos - espaços de arrumos

MOTOR NA DEFINIÇÃO DO ESPAÇO

CASA URBANA DA ARQUITECTURA ANÓNIMA

42.Motoredefiniçãodeespaço

43. Reinventar da estrutura me-dieval

Page 137: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

117

Construir no Construído

necessária,recorre-seelementossecundários,osquaissãonúcleosmóveisdearrumo,

que possibilitam a transformação e adaptabilidade do espaço.

Entrecasasearmazénsdesenvolveram-se:

Casatipo1- Intervençãodereabilitaçãonastipologiasdehabitaçãooperária

pré-existentesnaRuadaJunqueira.Define-seumacasadedoisandares,comreaproveit-

amento da semi-cave e quintal, onde se desenvolve um piso independente com entrada

própriaparaaRuadoCaisdaAlfândegaVelha.Noprocessodereabilitaçãosãomantidas

ereforçadascomumaforradebetãoasfachadasviradasparaaRuadaJunqueiraeas

paredes lateraisàexepçãodaparededa fachadaSul,estadeestruturaportante terá

umdesenhodefachadanovoemdiálogocomasmoradiasvizinhas.Asmoradiasdesen-

volvem-seemtornodomotorqueporvezesseestendeparaoexterior,configurandoo

espaçodecozinha.(vernafig.40-A)

Casatipo1A-Combasenatipologiaapresentadanopontoanterior,estastrês

moradias projectam-se sob a mesma premissa da casa medieval, um nivel inferior inde-

pendentequecorresponderiaàoficina,aoniveldaRuadaJunqueiraolugardeconvívio

enosrestantesniveissuperioresoscompartimentosdedormir.Estasmoradiascriadas

apartirdoespaçodolotedefinidoecomprofundidadedeaproximadamentedoister-

E.LojaeRestaurante A-Moradias(existentes) A-Moradias(novas) B - Apartamentos C-Residênciadeestudantes F- Quiosque, dentro da ruína D - Complexo de empresas startup e coworking

44.Definiçãodoprograma

Page 138: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

118

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

ços do total, constroem-se sobre uma estrutura de paredes portantes que oferece total

liberdade ao jogo do motor. O motor varia de piso para piso, oscilando em coluna entre a

posiçãolateralecentral.Resolvendopelasualocalizaçãoacirculaçãoeacompartimen-

taçãodacasa.(vernafig.40-A)

Casatipo2 -Refere-seà intervençãonumedifíciopré-existentedehabitação

colectiva,propondo-setrêsapartamentos.Cadaapartamentoorganiza-sesegundoum

grandenúcleofuncional,centraleatravessável.Emtornodestedesenvolve-setodoo

espaçodacasa,quepodeserumespaçoúnicoousubdivididoemcompartimentospo-

livalentes.(vernafig.40-B)

Emambosostiposdecasaprocurou-sedestacarmaterialmenteaspartescon-

stituintesdoconceito,jáparaa‘concha’enalteceram-seasestruturasdeparedespor-

tantes. No caso das construções existentes mantiveram-se as paredes de alvernaria

mista, no caso das novas moradias optou-se por paredes portantes de betão armado.

Quantoao‘motor’,estefoipensadocomosedeumobjectosoltosetratasse,optando-

seporumaestuturademadeira.OalçadoqueconfrontaaPraçadonovoMuseudos

Coches foi redesenhado, procurando inserir elementos da arquitectura popular, como

por exemplo as janelas de sacada, mansardas e os proclamados anexos no quintal, até

mesmoorevestimentoazulejar(AzulejoLastracoreslisasdaViúvaLamego).Emrelação

àcor,procura-seatravésdestaumaunidadeurbanaatravésdodesenhoedosarquétipos

utilizados,peloqueacorempregueemcadacasamanifestaasuaindividualidade,pro-

curando mostrar um pouco do que é a complexidade deste tecido urbano. Para as casas

maispequenaséatribuidaumacormaisintensa(tonsdevermelhos),paraasmaiores

coresmaissuaves(tonsdeverdeeazul).

45.Intervençãotiponacasa

Page 139: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

119

Construir no Construído

Armazémtipo1-Amorfo-tipologiadoedifícioconfereantesdemaisumacon-

tinuidadeformalaoedifícioaqueseencosta.Propõe-separaesteespaçoumaresidên-

ciadeestudantes,organizadaemsectoresdenúcleosprimários,secundáriosequartos.

(vernafig.40-C)

Armazémtipo 2 - Propõe-se a “invasão” da estrutura existente por um com-

plexodeempresasstartupeco-working.Comoasuanaturezaindica,estasempresasde

carácterefémerosãoexemplosdemodosdehabitardeestruturassub-aproveitadasda

cidade.Propõe-se,então,umasub-estruturadesmontávelqueorganizaesub-divideo

espaço(vernafig.40-D)

Armazémtipo3-esteconfiguraotopopoentedaintervenção,projectandoum

restauranteeumaloja.(vernafig.40-E)

Emtodasasintervençõesassentesnatipologiadearmazém,explorou-seuma

maiorexpressividadeplástica.Apartirdecadaumadestasintervençõestirou-separti-

do da sua maior liberdade formal de modo a resolver questões do desenho urbano.

Destemodo,aescolhadecriarumarmazém‘C’emvezdeoutratipologia,defende-se

porvirsuportaredarsentidourbanoaoarmazém‘D’ jáexistenteno lugar.Estessão

construçõesdebetãorebocadodebranco,comcoberturadezinco,eoseu interioré

definidoatravésdeumasub-estruturadeaçotubularlacadodebranco,ospavimentose

paredesdivisóriascriadasporessaestruturamóvelsãoderevestimentodepranchasde

madeira ou mesmo OSB.

Quiosque-ExcepçãoquevisapontuaropercursodanovaRuadoCaisdaAlfan-

degaVelha.Aintervençãonaruínaquepermanecenapropostaproporcionaumambi-

entedemaiorintímidade,umquiosqueparausufrutodavizinhança.(vernafig.40-F)

Abuscade‘uma’casadaarquitecturaanónima,mostrou-sesobaformademo-

radiasdíspares,prédiospequenosegrandes,armazéns,garagens.Enfim,todasasoutras

pequenasconstruçõesqueconstítuemacidadealémdasgrandesconstruçõesinstitu-

cionais.Oprojectofoi-setornandocadavezmaiscomplexoàmedidaquenovoscasos

surgiam,tornandooobjectivodemanterumaunidadeurbananumabatalhadifícilde

travar. Cada caso é um caso e a unidade que se procura não se encontra imediatamente

nas formas arquitectónicas, mas num trabalho posterior através dos modos de intervir e

nodetalhe,tantodosacabamentosexteriorescomonadefiniçãodosinteriores.

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Page 141: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

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Construir no Construído

14. Conclusão

Otermo‘arquitecturaanónima’surgenoiníciodesteestudocomoumtemapor

desvendar.SobreestetínhamosapenasalgumaspistaslançadasporSizasobreasmúlti-

plas construções anónimas de Lisboa, como que formando uma imagem de cidade que

se podia procurar, mas pouco mais.

Os primeiros passos foramaram-se numa incessante busca de exemplos na ci-

dadequecomprovassemaexistênciadessaestruturaenunciada.Foinasestruturasur-

banasmaisantigasdacidadequeencontrámosoconfrontodasmúltiplascontruções

comosconventos,igrejasepálacios,específicasdeumtempodeconstruçãoedeuma

topografia própria. Estas estruturas, que se revelam nos bairros populares cujo cariz

maioritariamentehabitacional(doméstico),estãohojeenvelhecidaseoseuabandono,

ondetodaavidapopularacontecia,agravacrescentementearealidadedacidade.Neste

momento, havíamos circunscrito os limites da arquirtectura anónima.

Apósestaprimeiraabordagemàarquitecturaanónimadá-seinícioaduaslinhas

de estudo, uma que se debruça sobre as questões urbanas da rua e outra que procura

soluçõesparaahabitabilidadedascasasqueaconstítuem.Depoisdeumbreveestudo

da evolução da espacialidade da casa e das necessidades actuais requeridas à casa com-

preendeu-sequeseformouum‘gap’entreasestruturasantigasdacidadeeasmodernas

necessidadesdohabitar.Nofossoqueseformou,entreasantigasestruturaseasactuais

necessidadesdohabitar,nasceumaáreadeinteressearquitectónico.Comoresolvere

reintegrar estes bairros na vida da cidade?

Para dar resposta a esta questão, para repropor estas estruturas urbanas como

lugares de excelência da habitação, procuraram-se novosmodelos de habitabilidade

quefossemeficazesepragmáticosdentrodos limites impostos,apoiando-setambém

nadisciplinadaarquitecturaurbana,queprocuraresolverasquestõesdavivênciada

rua,daacessibilidade,dasuapercepçãoedoseusignificado,focando-senaresolução

dequestõespontuais,decoerênciaecontinuidadeurbana.Comoumadisciplinadocon-

struirnoconstruído,aproblemáticaenglobadesdeodesenhodaruaaointeriordoedi-

ficado.

Conclusão

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Aarquitecturaanónimanasce,então,nestetrabalho,comoumtermoespecífico

da estrutura urbana dos bairros populares que se desenvolveram nas colinas de Lisboa -

a arquitectura anónima na cidade-e,revela-se,também,comoummodocríticodeagir

sobre a cidade na sua contemporaneidade - a rua e a casa da arquitectura anónima.

Esteéumtrabalhoquesevínculaàdiscusãodacidadeexistenteeaotemado

construirnoconstruido.Nãoseencontramrespostas,masantesmaisdúvidas.Nãose

encontra uma solução, mas antes um vasto leque de soluções. À medida que o estudo

avançava, mais vasto e complexo se mostrava. A arquitectura anónima não se esgota,

nãoéumtemasó,éumtemadacidadee,comoela,inesgotável.Conclui-oestetrabalho

compoucascertezasemuitasdúvidas,masesperoquecontribuaparaadiscusãodos

temas da cidade existente e de como nela agir.

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Construir no Construído

Bibliografia

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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

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Construir no Construído Bibliografia

15.Bibliografia

15.1Bibliografiageral

BENEVOLO,Leonardo;Introdução à arquitectura,(traduçãodeMariaManuelaeArturLopesCardoso);Edições70,Lisboa:1991(1923)

CACCIARI,Massimo;A CIDADE,EditorialGustavoGILI,SL,Barcelona:2010

ROSSI, Aldo; A Arquitectura da Cidade(trad.JoséChartersMonteito)EdicõesCosmos,Lisboa:2001(1966)

TAFURI,Manfredo;Teorias e história da arquitectura(traduçãodeAnaBritoeLuísLeitão);EditorialPre-sença,Lisboa:1988.

SIZA,Álvaro;A Reconstrução Do Chiado – Lisboa:LivrariaFigueirinhas,Lisboa:2000 SIZA,Álvaro;Imaginar a Evidência: Edições70,Lisboa:1998

15.2BibliografiaEspecífica-ArquitecturaAnónima|cidade

ARAÚJO,Norbertode;Peregrinações em Lisboa descritas por Norberto de Araújo;livroXI,A.M.Pereira,Lisboa:1937.

CARVALHO,JoséSilva(et.al),Guia urbanístico e arquitectónico de Lisboa; Associação dos Arquitectos Portugueses,ediçãoapoiadaporCâmaraMunicipaldeLisboa,FundaçãoCalousteGulbenkianeInstitutoPortuguêsdoPatrimónioCultural,Lisboa:1987

CULLEN,Gordon,Paisagem Urbana (Townscape),Edições70,Lisboa:1983(1971)

GRACIA, Francisco de; Construir En Lo Construido:LaArquitecturaComoModificación;Nerea,Madrid:1992

LAMAS,JoséM.RessanoGarcia;MorfologiaUrbanaeDesenhodaCidade,FundaçãoCalousteGulbenkian,Lisboa:2010(1989)

LYNCH,Kevin,HACK,Gary;Site Planing: TheMITPress

LYNCH,Kevin;TheImageoftheCity,M.I.T.Press&HarvardUniversityPress,Cambridge(Mass.):1960

PALLASMAA,Juhani;The eyes of the skin: architecture and senses,(prefáciodeStevenHoll);Chichester:Wiley-Academy,Chichester:2005

ZUMTHOR,Peter;Atmospheres,Birkhauser:PublishersforArchitecture,Basileia:2006.

Page 146: Arquitectura Anónima (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)

126

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

15.3BibliografiaEspecífica-ArquitecturaAnónima|casa

ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear;

Tesededoutoramento,FaculdadedeArquitectura-UTL,2009

BRAND,Stewart;How buildings learn – what happens to them after they’re built; Phoenix Illustrated, Lon-don:1997(1994)

CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos,CâmaraMunicipaldeLisboa:1990

Elcroquis,“ConversaciónentreRyueNishizawaySouFujimoto=ConversationbetweenRyueNishizawaandSouFujimoto”,Madrid,nº151,2010,p.4-19.

Elcroquis,“Espacioliquidoylimitefractal=Liquidspaceandfractalboundary:unaconversaciónconToyoIto=aconversationwithToyoIto”,Madrid,nº147,2009,p.6-20.

FUTAGAWA,Yukio(ed.);GAarchitect-Chronicleofmodernarchitects:StevenHoll,(introduçãodeToyoIto);nº167,Tokio:1993

GUSTAU,GiliGalfetti(dir.coord.);AllanWexler(introduçãodeBerndShulz,traduçãodeGlóriaBohigas);EditorialGustavoGili,Barcelona:1998

LEVENE,RichardC.(dir.);CECILIA,FernandoMárquez;Elcroquis,Madrid,A.13,v.4,nº68-69,1994.

ELEB-VIDAL,Monique;DEBARRE-BLANCHARD,Anne;PERROT,Michelle,Architectures de la vie privée:

maisons et mentalités: XVIIe-XIXe siècles,Archivesd’ArchitectureModerne,Bruxelas:1999.

KIPNIS,Jeffrey;PÉREZ-GOMEZ,Alberto;Elcroquis-StevenHoll1996-1999;Madrid.nº93,1999,p.4-27.

15.3BibliografiaEspecifica-RuadaJunqueira

RIBEIRO,MáriodeSampaio, DO SITIO DA JUNQUEIRA,PublicaçõesculturaisdaCâmaraMunicipaldeLisboa:1939

LXF:Lisboafutura:revistadaassociaçãoparaodesenvolvimentodeLisboa,Lisboa:AMBELIS,2004-nº2(Ago.2004)-nº3(Dez.2004)-nº5(Set.2005)

IHRU-HTTP://WWW.PORTALDAHABITACAO.PT/PT/IHRU/

SIPA-HTTP://WWW.MONUMENTOS.PT/SITE/APP_PAGESUSER/DEFAULT.ASPX

HTTP://WWW.MONUMENTOS.PT/SITE/APP_PAGESUSER/SIPASEARCH.ASPX?ID=0C69A68C-2A18-4788-9300-11FF2619A4D2

abarrigadeumarquitecto.blogspot.com/2009/03/novo-museu-nacional-dos-coches.html-27.02.2011

www.oasrs.org/coneudo/agenda/noticias-detalhe.aps?noticia=1408-27.02.2011

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Construir no Construído

14 584 palavras

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Faculdade de Arquitectura da UTL

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Construir no Construído

ANEXOS

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MemóriadescritivadoMC

Faculdade De Arquitectura da UTL

APRESENTAÇÃOSUMÁRIADOPROJETONOVOMUSEUNACIONALDOSCOCHESLISBOA-BELÉM

UmprojetoparaasnovasinstalaçõesdoMuseudosCocheslevanta,primordialmenteparaaarquitetura,duasquestõesbásicas.DoladodaMuseologia,umcritériobásicoparaaexposiçãodonotávelpatrimônio;doladodoUrbanismo,aimplantaçãonorecintomonumental,amparadanoprojetogovernamental“BelémRedescoberta”.

NaMuseologia,oprojetoadotaumcritériocentradonaidéiadapreservaçãodefinitiva,parasempre,dotesouro guardado e a um só tempo visitado. Considerada a visita sob todas as formas possíveis de des-dobramentos quanto à memória histórica, enquanto construção intelectual no tempo. Arte e técnica em constanteandamento.ExposiçõeseOficinas,cenárioscambiáveis.Someimagensvirtuaisassociadasaosartefatos originais.

NoUrbanismo,umadisposiçãoespacialempenhadanaintegridadedorecinto,principalmentenocamin-hardapopulaçãoturísticajápresenteecertamenteampliadacomanovavitalidadequesurge.

Édesenotaraqui,doiseventos:apassagemaéreadepedestrespresumida,naseqüênciadaCalçadadaAjudaatéosjardinsjuntoaoTejo,noancoradouro(transpondoAv.Índia,Av.Brasília,ferrocarril)eocon-juntodeedificaçõespreservadas(BelémRedescoberta),aolongodaR.JunqueiraconfrontandoaosfundoscomaáreadoMuseu,antigaR.CaisdaAlfândegaVelha,comgrandeencantoparao

lugar.Estimulaainiciativadopequenocomerciolocaleparticular.SãoestasasraízesdoProjetoqueagora,junto aos desenhos e imagens de modelo estamos apresentando.

Nãosetratadesubestimaroprogramaestabelecidocomtodassuasfunçõeseáreasdeterminadas,bemcomooshorizontesdaverbadestinadaparaoempreendimento.Estessãodados,digamos,inquestion-áveis. Comosevê,aconstruçãoestápropostademododual,pavilhãoprincipal,navesuspensaparaasex-posições e um anexo com recepção, administração, restaurante, auditório e amparando estrategicamente a tomada,emrampas,paraapassagempublicadepedestresatéoTejo.Estapeculiardisposiçãoespacialcriaumpórticocomaligaçãoaéreaentreosdoisedifíciosdeentradaparaapequenapraçainterna,umlargo,paraondesevoltam,(umanovafrente)asconstruçõespreservadasnaR.Junqueiraagoraabertasparaorecintonaforma,eventualmente,depequenoscafés,livrarias...noqueeraaR.CaisAlfândegaVelha,interessante recomposição da mesma coisa. Seria de se notar, as cotas destes espaços e sua interlocução nadinâmicadospassantes,pordentroeporforadoqueé,natotalidade,oMuseuenquantoumlugarpúblico.Rigorosamenteprotegidoeimprevisivelmenteaberto. Adotou-se, além das escadas de segurança exigidas por lei, todo o acesso feito através de elevadores espe-ciais,hidráulicos,queasseguramcontroledacapacidadedosespaçosexpositivos.FoidadaênfaseespecialàpartedesegurançaeàdoconfortoeapoioaosfuncionáriosdoMuseu.Paraascrianças,ficareservadaáreaespecialnaesplanadatérreadoMuseucomumjardimnafachadalesteejuntoaopavilhãodeacessodosvisitantesàsexposições.NafaceopostavoltadaparaapraçaAfonsoAlbuquerque,namesmaesplanadapúblicatérrea,ficaumagrandecantinacomcaráterpopular,abertaecommesastambémnascalçadas.

Gostaríamos ainda que fosse notada a ligação aérea entre o recinto das exposições e a administração. ComumavistaparaoTejo.Muitoútilparaosserviçosemgeral,paraapolíticadesegurança.Easamplasvisuais,doRestauranteelevado,paraoladodoAtlântico,dosJerônimos,daAdministraçãovoltadaparaoEstuário,paraolargointerno,osjardinsdoMuseu.

Aconstruçãoficadefinidapeloafloramentodasfundaçõesemconcretoarmado,comrelativaconcentra-çãodecargascomorecomendamascondiçõesdosolo,ondeseapóiamastreliçasmetálicasrevestidas,configurandoasgrandesparedesdoMuseu.

Paraosestacionamentosexcluímosasoluçãosubterrânea,devidoàságuasdesubsolo,drenagemda

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MemóriadescritivadoMC

Faculdade De Arquitectura da UTL

esplanadaemovimentaçãodeterrascomparcoaproveitamentofinaleprejuízodatranqüilidadedorecinto. Sugerimos o estacionamento elevado proposto junto às barcas, com capacidade para 400 veículos epequenaocupaçãonoterritório.Quepoderiaaindaserrepetidooportunamenteenquantoprotótiponoprojeto Belém Redescoberta.

O exame dos desenhos e modelo podem esclarecer melhor estas breves notas.

SãoPaulo,28demaiode2008

PauloMendesdaRocha

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Relatório da visita à obra com Ricardo Bak Gordon (23 de Março, 2011)

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A visita à obra das futuras instalações do Museu Nacional dos Coches, decorreu

na manhã do dia 23 de Março, 2011. No âmbito do trabalho final do MIARQ da

FAUTL, os alunos do prof. Nuno Mateus visitaram a obra acompanhados com o

arquitecto representante da obra em Portugual, Ricardo Bak Gordon(RBG).

Os trabalhos finais do MIARQ intervirão no terreno onde a actual obra se en-

contra, por isso, a visita constitui uma aprendizagem in loco contribuindo com

um contacto real da acção transformativa do terreno.

A presente análise é feita através da descrição do complexo feita pelo arqui-

tecto e assenta num método de registo fotográfico.

As citações apresentadas surgiram no decorrer de uma conversa informal en-

tre o arquitecto e os estudantes.

O registo aborda a obra em grupos temáticos:

g.1 compreensão da volumetria;

g.2 acesso ao edifício;

g.3 relações de interior/exterior;

g.4 apontamentos de estrutura e materialidades;

g.5 o muro - e a relação com a envolvente;

g.6 panoramica quebrada das volumetrias gerais

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Relatório da visita à obra com Ricardo Bak Gordon (23 de Março, 2011)

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g.1.a Relação volumétrica entre os dois corpos.Vista do interior do complexo.

g.1.b Volumes e distinção da materialidade. Vista do exterior.

RBG (...) duas construções fundamentais, o pavilhão de exposições e um edifícios

anexo. Ambos em diálogo intímo sobre um térreo infinito que comunica com

toda a periferia, das maneiras mais variadas. Ora aberto sobre a Praça Afonso

de Albuquerque, ou delicadamente cosido ao casario da Rua da Junqueira.(...)

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g.2.a Acessos do casario e vista para o acesso à praça. Vista de Nascente.

g.2.b Acesso em rampa, vista de Poente.

O acesso ao museu é feito directamente pela Praça Afonso de Albuquerque e

por rasgos pontuais no muro que contorna o casario existente e que dá acesso

à R. da Junqueira.

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O edifício estabelece relações distintas com a envolvente que se encontra em

diferentes níveis. Apresentam-se as relações que o edifício estabelece num ol-

har centrífugo.

g.3.a Vista do anexo para Norte/Poente.

g.3.b Vista do anexo para a R. Junqueira Norte/Nascente.

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g.3.c Vista para Praça Afonso de Albuquerque, a Poente (assim que levantado o estaleiro).

g.3.d Vista para Sul, com en-quadramento da Central Tejo.

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RBG. (...) um diálogo muito íntimo e muito original. Construtivamnte são con-

struções de matérias

diferentes um em estrutura metálica e outro em estrutura de betão (...)

g.4.a Pormenor de estrutura

g.4.b Treliças metálicas assentes em fundações de betão.

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A obra constitui-se com duas materialidades distintas. Estrutura metélica para

o pavilhão de exposições e estrutura de betão armado para o edificio anexo.

g.4.c Aspecto da materialidade do edifício anexo.

g.4.d Textura do muro que con-torna a praça do museu. Betção com acabamento jacteado.

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Relatório da visita à obra com Ricardo Bak Gordon (23 de Março, 2011)

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RBG. (...) a envolvente pré-existente é um dado do conceito, mostra-se intencio-

nalmente a realidade das casas, das cuecas a secar e essas coisas assim (...) os

vários acessos actuam como poros (...)

g.5.a Confronto com a frente de rua da R. da Junqueira.

g.5.b Volume que articula a R. da Junqueira e com o novo per-curso. Rua do Cais da Alfandega Velha.

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g.5.c Aspecto geral da envol-vente.

g.5.d Aproximação.

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RBG. (...) espera-se que com o tempo o novo edifício in-fluencie a mutação do lugar (...)

g.6.a Vista Nascente

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g.6.b Vista Sul

g.6.c Vista Poente

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Repensar a envolvente do novo do Museu dos Coches

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Programa e estratégia global

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