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~\ Leonardo Barci Castriota Orgc7nizador ARQUITETURA DA MODERNIDADE Belo Horizonte Editora UFMG Instituto de Arquitetos do Brasil· Departamento MG 1998

Arquitetura Da Modernidade

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    Leonardo Barci Castriota

    Orgc7nizador

    ARQUITETURA DAMODERNIDADE

    BeloHorizonteEditoraUFMG

    InstitutodeArquitetosdo Brasil DepartamentoMG1998

  • A FORMAO DA CIDADE

    Rodrigo Ferreira Andrade

    Beatriz de Almeida Magalhes

    Na leitura destas notas sucintas sobre a formao de Belo Horizonte, o leitor ver

    destacadasduas ele suas caractersticas,a nosso ver, as mais m[lrcantes:a preponderncia da

    iniciativa eloEstado, paraalm elacriaoda Capital, nas intervenesurbanasimportantes, boas

    ou ms; e a vertigem elo novo com a negaoelo passado, verificvel na desproporo entre o

    nmero elemoelificaese o tempo decorrido desde o momento inicial da cidade, a despeito de

    ter sido ela planejada.

    O papel que o Estado desempenhou no crescimento de Belo Horizonte pode ser

    melhor percebido por contraposio. Christian Norberg-Schulz, um grandeestudioso do carter

    e do significado do lugar construdo pelo homem, comentaas relaesentre o pblico e o priva-

    do e como elasse resolvemespaciale formalmenteno crescimentodaciebdeamericana.A forma

    vertical, que na histria do homem simbolizou o sagrado- a torre na paisagemsignificando a

    presenade foras transcendentes vida cotidiana -, torna-sea expressode direitos e OPO!'tll-

    nidadesindividuais iguais para todos na cidadeamericanaatual,de origemessencialmentedemo-

    crtica.A cidade que o Estado prov no urna estrutura hierarqulzada em torno de bairros

    dominantes, mas uma grelha neutra, uma rede horizontal aberta, de infra-estrutura facada na

    possibilidade de criao de ns de atividadespela iniciativa privada.A paisagemurbana america-

    na vai sendo, ento, constituda pela aposio de estruturas particulares de ntidas intenes

    expressivas:o crescimento vertical, como exerccio de liberdade individual, se d submetido

    grelha, que ordena o interessecomum, e em dilogo respeitoso com o entorno, que persiste at

    mesmoemperspectivaarea,graasaostratamentosiconogrficosdiferenciadosdos coroamentos.

    Vi.goraa noo bi-unvoca de pertinnci.aentre indivduo e coisa pblica.

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    o opostosedentrens,emcrculovicioso.Coma iniciativaprivadaindispostaacorrer riscos,o Estadoprov, almda infra-estrutura,grandeparte das construese dos

    investimentoscriadoresdos nsou focosde atividade.Comisso,inibeaindamaiso impetode

    criaoelenovasoportunidadespelaempresaprivada,quedesempenhaumpapelmuitoaqum

    do quepoderianaconstruodacidade.A empresaprivadasereservaparaos investimentosde

    retornogarantidoe inovapoucoporqueesperaqueo Estadofaaos investimentosmaisarrisca-

    dosemesmoosdematuraolenta.Semqualquergenerosicladeparaacriaodeespaosdeuso

    pblico,fazaproveitamentoquasesempremesquinhoelosterrenose acabapor produziruma

    paisagemurbanaacanhadaecheiademesmices.NocasodeBeloHorizonte,almdoprojetoeda

    implantao,ogovernoestadualcontinuoubancandodiretamenteaconstruoeaadministrao

    daCapitalato finaldaPrimeiraRepblica.TodasasdeciseserecursosemanavamcioPalcioda

    Liberdade,sejamparaa implantaoe melhoriasde infra e superestruturasde urbanizao,

    organizaodosserviospblicosdeluze transporte,educao,cultura,sadeeabastecimento,

    ouparaosinvestimentosestruturantesdoespaourbanoou daeconomia.Comaprimeiraeleio

    de um prefeito,em 1945,constituiu-seumaadministraomunicipalautnoma,com mais

    iniciativa,masaindasempoderarrecadarrecursossignificativosdentrodeumaeconomiaurbana

    incipiente.A iniciativaprivadade Belo Horizonteveioatuarde modo tardioe secundriona

    edificaoelacidade.Esteve,quasesempre,a reboquedos estmulosdos PoderesPblicos,

    aproveitando-semuitasvezesdesuaomissooudasbrechasdalegislaoparaempreendimentos

    oportunistas.Ascincofasesemquedividimosesterelatosodenominadasporbinmiosque,no

    nossoentendimento,representamoresultadodaspolticasdoEstadohegemnico,epor subttu-

    los queidentificamos interessesqueo Estadojulgava deversatisfazer.

    O carterde transitoriedadenaformaomaterialde Belo Horizontetemorigens

    superpostas.Avertigemdo novoprpriadanossaformaocolonial.Dentreasmuitasmatrias

    divulgadaspelaimprensaemcomemoraociosquinhentosanosdadescobertadaAmrica,chama

    especialatenoumaquereferesereventomaisimportantetero homempostoopnaAmrica

    ao finaldo sculoXV cioquet-IopostorecentementenaLua.Na histriadacivilizao,muito

    maiscoisasparecemtermudadoemdecorrnciadaviagemdeColombo.E tantase taisforamas

    expectativascriadasno VelhoMundocoma aberturaelenovosespaos,novaspossibilidadese

    novassoluesparasuascarnciasque,aOlongodo tempo,foi seconsolidandoaidiade que,

    aqui,tudohaveriade sersemprenovo,numaespciede condenaoeloshabitanteselasnovas

  • terras culturada eternarenovao.Isso acaboutornando-nosmaisapegadosaosvaloresda

    mudanaqueaosdapermanncia.Naprimeirametadedo presentesculo,ClaucleLvi-Strauss,

    comentandoo contrasteentreo respeitoea revernciadoseuropeuspeladignidadedascoisas

    antigaseo desdmcomqueconsideramosovalorqueo tempolhesempresta,dizserem"deciclo

    rpido"ascidadesdo Novo Mundo,dadoquese degeneramou sotransformadassemterem

    atingidoo estgiodeenvelhecimento.

    O anseioeleindependncia,denoslibertarmosdacondiocolonial,nosimpeliu

    buscadeumaidentidadeprpria..O longoprocesso,queseresolvenaProclamaodaRepblica,

    carregaemsi o germedamudana.Paraaafirmaodanao,anegaodopassado.Acrescente-

    se o engajamenrodo projeto elacapitalde Minas,tantopor partedo contratante,quantoelo

    contratado, legendapositivistado novoBrasil:aordemcomomeioeo progressocomometa,o

    quesignificaa superaodo naturalpelo racional,do espontneopelo cientfico,cioorgnico

    pelo geomtrico,do culturalpelo progressistae, conseqentemente,do velho pelo novo.A

    destruiodo arraialaquiexistente umamarcano destinotransitriodestelugar.Instalaum

    processode transformaesqlle no permiteque a cidadeacumulememria.Nemmesmoo

    projetooriginalchegaaserimplantadosemmudanas. suprimidaapraade maiorcontedo

    simblico,a daRepblica,paradar lugaraoPalciodaJustia, DelegaciaFiscale maistarde

    Prefeitura.Maistarde,o terrenodestinadoaoZoolgico,, emparte,ocupadopor habitaese

    peloprpriogovernoestadual,construindoum clubedeusorestrito,o MinasTnisClube,por

    elemantidodurantemuitotempo.

    Nenhumacidadetemvistomodificartantoo carterdoslllgarespblicos.A ocupa-

    oartificialdacidade- osvnculoseramnoprincpiodenaturezaestritamenteburocrtica-

    e quesedeude formaresistentee emcertoscasossobprotesto,acarretouum processoainda

    demoradodeconsolidaodoapegoedaidentidade.Nodecorrerdosculo,emseqnciaainda

    hoje node todo interrompida,citem-seos espaosconsecutivossubtradosao Parque,queo

    deixaramreduzidoaumterodareaoriginal;ac1emoliflOdoprimeiroprdiodosCorreiospara

    a construodo EdifcioSulacape a suaposteriordescaracterizao;a destruiodo primeiro

    mercadoparaaconstruodaFeiradeAmostrase suaposteriordemolioparaaconstruoda

    Rodoviria,objetode novascogitaes;a destruiodo PrimeiroFrumparaa construodo

    InstitutodeEducao;adescaracterizaoestilsticadoTeatroMunicipaleaposteriordemolio

    do prdio,j comoCine Metrpole,paraconstruode um banco;a retiradadasnroresda

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    Avenida Afonso Pena; as vriasmodificaesdas praas Sete, Rio Branco, da Estaoe Diogo de

    Vasconcelos;a transformaocios adros das igrejasem lojas e estacionamentos,de estdios em

    supermercados, de praas em postos de gasolina;a demolio da face maisvisveldo bairro da

    Lagoinha; a exportaodo perfil mineral elaSerrado Curral; e tantos outros.

    Em Belo Horizonte, poucos lugaresainda conservamum carterque faleao corao

    de maisde umagerao.H trechosem que o processoautofgico,a criaode esp,loSnovos no

    lugar dos antigos,j viveaquartagerao.Nesseritmo, no secriamfidelidades,noseconsolidam

    sentidos.A partir de refernciasentrecortadas,aspessoastmuma memriavoltil cioslugares e

    vo-seresignandoao cartercadavezmaisefmeroda cidade. O amor ao lugar umaquesto de

    afinidade com os seus significados, de confiana na sua permanncia. Sem chegar a ter

    familiaridade, difcil que se possacompreenderessessignifcaclose improvvelque se chegue

    a tla com ambientesem circunstnciade constantemutao.

    1889/1920 - ORDEM E PROGRESSOUMA CIDADE PARA A REPBLICA

    Na histria do Brasil, a idia de "construir nova capital" aparece,pela primeira vez,

    em meadosdo sculoXVIII, quando o Marqusde Pombal, argumentandocom ayulnerabilidacle

    de uma cidadel.itornea,afirmaa convennciade setransferir a administraocolonial do Rio de

    Janeiro para umaregio interna do pas.

    Com semelhantemotivaoestratgica,mas acrescidade nfaseno fator simblico

    da mudana, a idia reaparece no movimento da Inconfidncia Mineira, conjurado em 1789,

    assimcomo em todos os movimentosde libertaoocorridos depois dessapoca.

    No princpio do sculo'1X, comamudanada corteportuguesaparao Brasil,D. Joo V1

    tambmmanifestao desejode mudara Capitalparaum lugardl: climamaisamenoe,a lXu1:irele1813,

    o assuntoganhamaior divulgao,sendo referidodiversasvezesn:lsp:igilias do Correiol:Jrazillen.se.

    Sobo argumentodequeo Rio de)aneironopussuaas (1'1:dldad('.', 1'l'lllll'l;l.s d(' lII11ac:lpital,prupunha

    seasuatransfernciaparauma"regiflocentral"ti, I pas.1':11I 1.'1'U,:" ,I, ,I 1,11" 1('111'1,1,io Vl.s'')I]( 1(',11' l'orlo

  • Seguro, apresentadopelaprimeiravezaoSenadoum projetode lei sobrea transferncia,

    Entrementes,j no princpio do Imprio, o tema"novacapital"aparecesendo discu-

    tido tambmno mbito regional. Assim que, em 1843,em fala dirigida AssembliaLegislativa

    Provincial de Minas Gerais,o prprio Presidenteda Provnciaprope "umamudanade localidade

    para a capital", constatando que a atual "mal poder em qualquer tempo desenvolver-se",Na

    mesmaAssemblia,em 1868,o discurso de um deputado registraque a matria"", pode dizer-se

    matriavelha, pois desde 1833 que se tratada mudana da Capita!..,"

    Assim,quandoa Repblica proclamadaem 15de novembl'Ode 1889,impregnadados

    ideais positivistas,essaquesto,que j vinha sendo tratadanos dois nveisda poltica nacional,

    definitivamenteincorporadalegislao.Coma motivaodequeasnovascapitaissimbolizemo novo

    regimedos estadosfederados,os republicanos,logo no Decreton7, de 20 de novembrodo mesmo

    ano,doatribuioaosgovernadoresdosestadospara"amudanadeSuacapitalparao lugarquemais

    convier",Depois,no artigo3da Constituiode 1891,determinama mudanada capitaldo pas,

    Em Minas Gerais, j em 15 de junho de 1891,a Constituio Poltica cio Estado, em

    SUaSdisposiestransitrias,tratada "mudanada capitaldo Estadoparaum local que,oferecendo

    as precisascondies higinicas, se preste construo de uma grande cidade". O esgotamento

    das minase a desagregaoeconmica e social cio EstadotInham tornado Ouro Preto decadente

    e inoperante como capital. Os grupos polticos tmdicionais, o do Centro e o do Nocte, enfcentam

    a ameaadas novas lideranas surgidas nas zonas cafeeirasdo Sul e da Mata na disputa pela

    gernciado Estado alltnomo.A mudanada sededo governo,h muito discutida, masimpedida

    pelo centralismo do Imprio, torna-se,coma Repblica, possvel e necessriapara a obteno de

    um novo equilbrio de foras.Acordados quanto mudana,tendoquevencerapenasa resistncia

    de um pequenogrupo ouropretano, essesdois blocos demoram,no entanto,nadivecgnciaquanto

    localizao. O verdadeiro projeto do grupo tradicional deslocar a capitalpara um lugar mais

    central do Estado,com um plano futuro de explorao mineral que restaurea economia, urna

    proposta conservadora,pois tem origem na re,loa umasituaflOde ameaae no em processo

    de considervelmudanaeconmica.Todavia,essacorrentesaivencedora,entrandoo novo grupo

    como financiador do projeto. O ento Presidentedo Estado,Afonso Pena,do grupo moderado da

    oligarquia dominante, convida Aaro Reis para dirigir os trabalhos de estudo das localidades.

    Nascido em Belm do Par, engenheiro formado pela Escola Politcnicado Rio de Janeiro, ele ,

    como a maioria de seus colegas,um positivism.A autonomiaque lhe concedidaem funo ch

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    VistClareClcio Barro Preto, vendo-se. a Pracl Raul Soarese o Ediflcio Jl

  • - os bairros da Barroca, Cidade Jardim, Carmo, Cruzeiro, Serra

    e So Lucas, apresentam o nvel Superior com deficincia de equipamento,

    de ocupafto mais recente e densidades variveis;

    - no hemiciclo sul, os bairros do Cruzeiro, Funcionrios, Santo

    Antnio, Lourdes e SantoAgostinho, formando um tecido quasehomogneo,

    apresentamo nvel Superior Residencial, de baixa densidade,ocupado pelas

    camadasmdiasa superiores.

    Desde o incio desse perodo, a populao crescea taxasanuais

    entre 5 e 7%. De 350 mil habitantes em 1950, passa a 700 mil, em 1960,

    chegando a 1 milho e 200 mil em 1964.Destes, 10%vivemem 79 favelas.

    O aquecimento das atividadesprodutivas, em parte provocado

    pela demanda das obras do Planalto Central, acentua o processo de

    complementaridade entre as ['unesda rea central de Belo Horizonte e a

    das .reasindustriais dos municpios vizinhos, propiciando o incio ela

    conurbaftono processometropolitano. O adensamentoelaocupaoeloespao

    se el atravs da habitao unifamiliar horizontal, na zona Norte, e ela

    verticalizaftoda zona Sul.

    'lbrna-se 1lOda,entre aspessoasde maior poder aquisitivo morar

    em apartamentose vrios desses prdios so erguidos no centro da cidade,

    onde o gabaritode altura permite maior nmero de pavimentos.O sistemade

    trolebus, que havia substitudo o sistema de bondes, sobrcxiste por pouco

    mais de dez anos; desativaelono final dos anos sessenta.Sendo passagem

    obrigatria elosprincipais fluxos de trfego,agrupam-seno Centro cadavez

    maisos estabelecimentosde comrcio e eleservios,o que acentuaaindamais

    a verticalizao,de moeloa ma.,ximizaro aproveitamentoeloslotes e elainfta-

    estrutura. Essaconcentrao de atividadestorna, gradativamente,a rea im-

    prpria para a convivncia residencial, e a demanda por apartamentosmigra

    para os bairros mais tranqilos, sobretudo os da regio sul elaantiga rea

    urbana,prximos daAvenielado Contorno, como os bairros dos Funcionrios,

    SantoAntnio, Carmo, Cruzeiro e Serra. Constroem-se,no princpio, muitos

    prdios de trs pavimentos, com apartamentoselegenerosasreas internas,

    Avenida Afonso Pena, 1955Arquivo PLlblico da Cidade de Belo Horizonte

    Avenida Antnio Carlos, 1962Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte

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    1964/1977 - CENTRALIZAO E PLANEJAMENTOUMA CIDADE PARA O ESTADO FORTE

    A interfernciado RegimeMilitar implantadoem 1964no desenvolvimentodascidades

    brasileiras tem base em duas caractersticas,corolrios do autoritarismo,da nova administrao

    federal: a centralizaode todas as decisesem Braslia e a formao de uma tecnocracia com

    grande poder decisrio em detrimento do poder poltico e com reduo sensvelda autonomia

    dos estadose municpios.Adota-seuma lgicaempresarialconcentradorana produodos servios

    e bens pblicos e o Estado o agentebsico do "milagre brasileiro", nome pomposo dado ao

    rpido crescimentoe modernizaoda economia,na tentativade amenizara viso de suas graves

    conseqnciassociais.

    Com a criao do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, cio Instituto de

    DesenvolvimentoIndustrial e da Companhia de Distritos Industriais, expande-seo parque indus-

    trial de Belo Horizonte, apropriando-se de granclesreas nas proximidades do sistema virio

    principal. Implanta-sea HefinariaGabriel Passos,a .MBRcomeaa escaladaexportadorado minrio

    da Serra cio Curral e a modernizao do setor tercirio leva abertura da CEASA e de outros

    equipamentoscomerclsde grandeporte em reascadavez mais perifricas.Tem incio a instala-

    o do Campusda UniversidadeFederal de Minas Gerais, na AvenidaAntnio Carlos, processo

    Vista area da Pampulha, vendo-se a lagoa, o Campus da UFMG e o MineiroArquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte

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    Manchas CJaocupao urbana, 1964 / 1972 67Flvio Villaa )

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    que iria se prolongaratos diasde hoje.Entreo Campuse a

    LagoadaPampulha,emreaantesaeledestinada,soconstmdos,

    em seqncia,os estdiosdo Mineiroe do Mineirinho.

    Em 1967, criadoo BancoNacionaldaHabitao-

    BNI-I e, vinculado a ele, o Servio Federal de Habitaoe

    Urbanismo- SERFHAU.Sobreessabase,funda-seum amploe

    complexosistemade financiamentoque centralizatodosos

    recursose decisesrelativos urbanizaoe constmfLOde

    habitaesparafamliasde baLxarenda.Ademaisde o fazerem

    para"cooptarasmassasurbanasdeserclaclas",ostecnocratas,na

    presunodeseremracionaiseobjetivos,emitem,paratodasas

    questes,normasquemenosprezamasdiferenasregionaiseas

    peculiaridadeslocaisetornam-secamisasdeforaadefenderem

    maisarecuperaodosrecursosaplicadosdoqueos interesses

    daspopulaesatingidaspelosprogramas.

    Assim,no setordo chamado"PlanejamentoLocal

    lntegrado",sofeitastoneladasde planos,queiriamenvelhecer

    nasestantesda burocraciasemproduzirquaisquermelhorias

    nascidadesa quesedestinavam.Na lgicabancria,condiciona-se,

    aosinteresseselocapitalpblicoou privadotoelaa produoe

    administraodasinfi'a-estruturase serviospblicos.A partir

    de ento,o BNH torna-seo principalagentedinamizaclorda

    construocivil e, emconseqncia,da indstriaelemateriais

    eleconstruoe elomercadoimobilirio.

    Nombitodeumprogramaabrangendoasmaiores

    aglomeraesurbanasbrasileiras,institucionaliza-sea Regio

    MetropolitanaeleBelo Horizonte,congregando14 municpios.

    Prevalecendo,na poca,o conceitodequeplanejamento ao

    forosamentefundada em conhecimento exaustivo, logo

    demorado,detodososaspectosdarealidade,monta-seo Plambel,

    um escritriotcnicode grandesdimenses,de cujotrabalhos

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  • Coma prioridadedo transporteindividualsobreo coletivo,asviascentraiscongesti-

    onam-see diversasmodificaesno traadoviriotornam-senecessrias.A PraaSetedeixade ser

    umagmnderotatvaparaseratravessadapelosfluxoselaAfonsoPenae daAmazonas;o obelisco

    transpostoparaa PraadaSavassi,querecebeassimaresde novocentro.

    Hgrandesinvestimentosemobrasvirias,naimplantaodasviasexpressasNorte

    e Leste-Oestee no equacionamentodo problemade gua,comascaptaeseloRio elasVelhas

    e da VrzeadasFlores. Os bairros maisprximosdo Centro, principalmenteno vetar sul,

    renovam-setransformando-seem espaospreferenciaisda burguesia.

    PraaSetede Setembro.semo obelisco,dcadade 70Arquivo Pblico da Cidadede Belo Horizonte

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    A partir de 1976,uma breve recuperao dos salrios faz bascular para as faixas

    ele baixa renda a maior parte dos investimentOsdo mercado imobilirio. H LImaoferta sem

    precedentesde unidadesem conjuntos habitacionaisna regio Norte e no Vetar Industrial Oeste

    da rea Metropolitana,

    Reforadapela Lei de Uso e Ocupaodo Solo, consolida-sea tendnciaespontnea

    cleadensamentOao longo de eL'(osque saemdo Centro em todas as direes,elemodo a l11ucbr

    radicalrnentea identidadecioslugares;verticaliza-seo eixo AvenidaPrudenteeleMorais/SantaLcia,

    e os bairros Luxemburgo e Santo Antnio,

    Dando seqncia descaracterizaoque comeou cedo, com a tomadagradativaele

    espaosao Parque,com o sacrifciodesnecessrioe tautolgico do antigo prdio dos Correios e

    do conjunto SulaC

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  • comcoeficientesdeaproveitamentomuitogenerosos,seriamrevistosem85,mascontinuariam

    propiciandoa repetioexaustivadassoluesarquitetnicasnosprdioscomerciaisou mistos,

    conferindocertamonotonia paisagemurbana.

    Aconjugaodessalegislaocomumanovapolticadetransportesacelerao processo

    de mudanasna reacentral.No Hipercentrode BeloHorizonte,comopassaa serchamadaa

    regiomaiscongestionada,a qualidadedevidaj ficaprejudicada,mesmoparao desem.penho

    dasatividadesde comrcioe servios.

    Em 1981, criadaa empresaparagerenciara questodo transportee do trfego

    metropolitanose tmincioprogramasde reformasnasviasdareacentrale eleestruturaoelo

    sistem,lde transportecoletivo.

    Coma participaodosgovernosEstaduale Federal,sotambmcomeaelasasobras

    de implantaoeloTremMetropolitano,novaledo RibeiroArruelas,e do conjuntodeviadutos

    parasuperarapassagemdenvelsobreasviasfrreas,denominadoComplexoViriodaLagoinha.

    Iniciadoo processo,o vetustotecidodo maispeculiarbairrodacidadepassaa sofrerento,por

    etapas,radicaiscirurgiasem que desaparecem,de cambulhada,com barracose eclificaes

    realmentedeterioradas,os espaoseleapropriaopopularde um mercadoe da PraaVazele

    MeIo,assimcomo,duasquadrasinteirasde suamodesta,mashomogneae, por issomesmo,

    muitorepresentativaarquitetura.Conclui-setambmo tnelelaLagoinha,cujaaberturaficara

    interrompidapor muitosanos,e implanta-seaAvenidaCristianoMachado,queviriaformarcom

    a Antnio C~ll'Ioso principalvetor eleocupafLoelarcgifloNorte.

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    Complexo Virio da Lagolnha, 1998Foto: Nino Andrs

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    Minas ShoppingFoto: Nino Andrs

    Avenida Cristiano Machado

    em obra's, 1973Ac~rvo SUDECAP

    Tem incio a formao elenovos centros nos bairros Santo Agostinho e So Lucas,

    Volta o obelisco para a Praa Sete, a Praa Rio Bl~anco modificada com a elevao ele um

    monumento que divide as opinies e a Praa da Estao transformada em estacionamento e

    lugar preferencial para festaspopulares.

    O centralismoautoritriodeBraslia jcriticado emtodos os setoresdo pensamento

    nacional e iniciada a sua dissolu,o.O Banco Nacional de Habitao, que se desviaramuito de

    seus objetivos aplicando mais recursos no financiamento de construes p,lra as classes mais

    favorecidas e no setor elesaneamento, clesativaclo,preservando-se o SistemaFinanceiro ela

    Habitao, sob o controle elaCaLxaEconmica Federal.

    Com o movimento pelas eleies diretase a re-democratizao,em 85, tem lugar a

    retomada elopoder poltico em mbito municipal. As Regies Metropolit;ll1as,instnciasentre o

    poder do estacloe o do municpio, so contestaclaspor todos os prefeitos e suasagncias de

    planejamento perdem fora atserem,finalmente,suprimidas.

    No setor elaconstruo civil, vose formando empresasde maior porte que chegam

    a ser responsveis,juntamente com a FIAT, a FMB, a KRUPP e a DEMAG, por 70%eloemprego

    da cidaele,em todos os ramos. Esto concentrados em Belo Horizonte quase 60% dos postos

    de trabalho da Regio Metropolitana. Na recesso elos anos SO, as caladas do centro da

    cidade comeam a ser ocupadas pelo comrcio ambulante e h uma retrao elaconstrufto

    civil que faz o mercado imobilirio se voltar para os loteamentos de baixo custo, acelerando

    o processo de adensamenro das periferias,

  • Trecho verticalizado junto ao Minas ShoppingFoto: Nino Andrs

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    Com a criao de um shopping center, no final da dcadade 70, no limite entre

    Belo Horizonte e Nova Lima, aparece pela primeira vez, no municpio, uma estratgia com

    origem na iniciativa privada. A descentralizao, assumida depois por outros empresrios e

    pelos administradores da cidade, cria corpo e passa a determinar o estmulo a investimentos

    semelhantes. Funcionando como atratores para a formao de centros secundrios, so

    implantados, no entroncamento elasavenidasCristiano Machado e Bernardo ele Vasconcelos,

    um conjunto de dois shoppings, um supermercado e um restaurante e, 110 cruzamento ela

    Avenida Carlos Luz com o Anel Rodovirio, um outro shopping center.

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    Belvedere 111,vendo-se a Serra do Curral ao fundo. Foto de 1998Foto: Nino Andrs

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  • os consultriosmdicose laboratrios;naSavassi,asboutiques;naAvenidaRajaGabaglia,os carros

    importadose asdiversesetc.As dificuldadesdo trnsitodeterminama construoeloelevado

    CasteloBranco,elastrincheirasdaRuaRioGraneledo Nortee daAvenidado Contorno,dediversas

    passarelasmetlicasparapedestrese do viadutodaAvenidaFranciscoSales,entreSantaEfigniae

    SantaTereza.A PraaRaulSoares,inacessvelspessoas,sobreviveapenascomoentroncamento

    virio.As praasDiogo de Vasconcelos,BenjamimGuimares,21 de Abril e AfonsoArinosso

    redesenhadasparacumpriro mesmoobjetivo.Estaciona-sesobreascaladascoma complacncia

    elafiscalizao,pavimentam-sejardinsparaalargamentodepistase paradasdeautos.Degradam-se

    asavenidasParan,OlegrioMaciele SantosDumont,sobo pesodacirculaode centenasde

    linhasdetransportecoletivoe transb01'damdepedestrese vendedoresambulantestodasascala-

    dasdo tringuloentreasduasltimasavenidase aAmazonas.Oscongestionamentosde trnsito,

    que se tornamcomuns,mesmofora dashorasde pico, e a poluioambiental,comeama

    comprometerseriamentea qualidadedevielaemmuitasregiesde BeloHorizonte.A rapidezcom

    quevodesaparecendoaamenidadedoslugareseosrarosexemplaresdaarquiteturadosprimeiros

    tempos,acabampor despertar,enfim,o aparecimentoda conscinciaprotecionista.

    Todasasintervenesnacidadesodeterminadaspelosinteresses,acimaelequais-

    queroutros,do capital,imobilirio,mercantile financeiroe cioautomvel.TiJdopodeserdesfeito,

    desdequeos beneficie.A argumentaodo direito propriedadee ao lucroprevaleceemtodas

    as questesque envol\rema preservaode patrimnionaturalou cultural.

    A Constiruiode 1988estabeleceumapolticamodernadeproteodospatrimnios

    naturale cultural,atribuindoum novopapelaosmunicpios,sobretudono quediz respeitoao

    controlee execuodasmedidaspertinentes.Amplia-senacomunidadea conscinciaciovalor

    da preservaoe, no mbitoda administraomunicipal,soestabelecidosinstrumentoslegais

    comesseobjetivo.Umarelaode maiorrespeitoentreempresriose ospoderespblicoscomea

    tmida,masesperanosamente,a se estabelecer.

    a municpio,que tomaraa iniciativade desativarsuaempresaelemineraoe deimplantaro grandeParquedasMangabeirasjuntoSerradoCurral,consegue,numprocessobem

    sucedidodenegociaocomvriasempresas,restauraro ParqueMunicipal,aspraasdaLiberdade,

    HugoWerneck,FlorianoPeLxoto,CarJosChagas,DuquedeCa.xiase estabelecercomumafirmade

    construocivilumentendimentoexemplar,noquallhesocedidos,umedifciotombado,naRua

    EstvoPinto,eajudaparainstalarneleo CentroeleRefernciaAudiovisualelaSerra.

    Bairro da Lagoinha. comrciode mveisusados. Foto de 1996

    Acervo Projeto L21goinlla I UFMG

    77

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    De modounnime,cresceemtodosos estratosda populaoa noode ter direito

    a um patrimnioambientalurbanode melhorqualidadee podertrabalharpor isso.Nosltimos

    anos,atravsde um programade participaopopularna elaboraodo oramento,consegue-

    seumaaplicaomelhordosparcosrecursospblicos,distribuindo-oscommaisjustiaentreo

    Centroe osespaosperifricos.No entanto,consolida-se,comigualunanimidade,o entendimento

    dequea capacidadedeadaptaodaestruturaurbanasnovase crescentesnecessidadesestno

    limitedo esgotamentoe deque urgentee imprescindveltransform-Iaemsuaessncia.Elabora-se

    um Novo PlanoDiretore a suacorrespondenteLei de Parcelamento,Ocupaoe Uso do Solo

    Urbano,queentralliemvigorchegadoo anodo centenrio.

    Invertendoa lgicaeloplano anterior,o novo estabelececomodiretrizesparaa

    distribuiodosusose ocupaes,noa tendnciamanifestapelo mercadoimobilirio,masao

    contrrio,a utilizaomaisracionalda infra-estruturadisponvele potencialdasdiversasreas.

    Parao descongestionamentoda reacentrale do'I-Iipercentro,estimulaa descentralizaoespa-

    cialelasatividades,aformaoelenovoscentrose vedaa possibilidadedeconstruoe alnpliao

    de umasriede equipamentospblicosou privadosdentrodessepermetro.Estabeleceuma

    estruturaviriacoerente,visando formaodeum sistemade anisconcntricosquepermitam

    a circulaoentreos bairrossempassarforosamentepelareacentraLCria,principalmente,um

    conjuntode instrumentosvigorososque deveroatraira iniciativaprivada,tantoparagestos

    maisgenerososnaocupaodo espaodividido,quantoparasaudveisparceriascom o setor

    pblicona ediHcaoeleespaocomum.

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