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Arquitetura Sustentável: Psicologia Comportamental e recursos projetuais Julho/2018 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 Arquitetura Sustentável: Psicologia Comportamental e recursos projetuais Núbia Potrich Chagas [email protected] Design de Interiores: Ambientação e Produção de Espaço Instituto de Pós-Graduação - IPOG Vitória, ES, 01 de março de 2017 Resumo As atividades do cotidiano, quando não planejadas, podem afetar a vida pessoal dos usuários no presente ou no futuro, a partir do momento que aumentam o consumo de recursos naturais não renováveis e deixam de prover um ambiente interno saudável. A arquitetura e seus recursos projetuais surgem como planejamento para uma construção autossuficiente que apresenta equilíbrio e proporciona uma melhor qualidade de vida para os usuários. O profissional tem total responsabilidade diante das edificações, e devem se preocupar com a saúde pública. Estudos mostram que locais saudáveis previnem doenças a curto e longo prazo, como asma, irritação nos ouvidos e nariz e agravamento de alergias conforme Keller e Burke (2010). Ao buscar uma melhor qualidade de vida para si, o homem passa a se preocupar mais com questões afetas a toda coletividade, na medida em que, a partir de decisões acerca do que é melhor para a sua vida, e dos atos dai decorrentes, cria e fomenta um maior senso de responsabilidade social (CANEPA, 2007). Vale ressaltar que o uso dos recursos oferecidos pela própria natureza, se bem utilizados pelos profissionais da área, fazem com que a construção torne-se satisfatória tanto para o ocupante quanto para o meio ambiente. Por isso, o tema proposto para o artigo busca alternativas que visam a proporcionar o bem-estar aos ocupantes. Assim, os profissionais devem estar cada vez mais aptos a desenvolver construções sustentáveis, para levar para dentro das edificações a harmonia desejada pelos clientes, tornando os usuários mais conscientes e mantendo uma relação mais próxima com a natureza. Palavras-chave: Psicologia comportamental. Bem estar. Qualidade de vida. Sustentabilidade. Meio ambiente. 1. Introdução Além da responsabilidade com a edificação, os profissionais devem se preocupar com a saúde ambiental também, através de um projeto responsável e com boas especificações. A importância da relação pessoa-ambiente exsurge a partir do momento que se verifica que a maioria do tempo de vida das pessoas acontece em ambientes internos, os quais devem transmitir qualidade de vida para os usuários: Projetamos para pessoas que têm necessidades psicofisiológicas, anseios e formas de expressão culturais; construímos intervindo no ambiente natural, composto dos mais

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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018

Arquitetura Sustentável: Psicologia Comportamental e recursos

projetuais

Núbia Potrich Chagas – [email protected]

Design de Interiores: Ambientação e Produção de Espaço

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Vitória, ES, 01 de março de 2017

Resumo

As atividades do cotidiano, quando não planejadas, podem afetar a vida pessoal dos usuários

no presente ou no futuro, a partir do momento que aumentam o consumo de recursos naturais

não renováveis e deixam de prover um ambiente interno saudável. A arquitetura e seus

recursos projetuais surgem como planejamento para uma construção autossuficiente que

apresenta equilíbrio e proporciona uma melhor qualidade de vida para os usuários. O

profissional tem total responsabilidade diante das edificações, e devem se preocupar com a

saúde pública. Estudos mostram que locais saudáveis previnem doenças a curto e longo

prazo, como asma, irritação nos ouvidos e nariz e agravamento de alergias conforme Keller e

Burke (2010). Ao buscar uma melhor qualidade de vida para si, o homem passa a se

preocupar mais com questões afetas a toda coletividade, na medida em que, a partir de

decisões acerca do que é melhor para a sua vida, e dos atos dai decorrentes, cria e fomenta

um maior senso de responsabilidade social (CANEPA, 2007). Vale ressaltar que o uso dos

recursos oferecidos pela própria natureza, se bem utilizados pelos profissionais da área,

fazem com que a construção torne-se satisfatória tanto para o ocupante quanto para o meio

ambiente. Por isso, o tema proposto para o artigo busca alternativas que visam a

proporcionar o bem-estar aos ocupantes. Assim, os profissionais devem estar cada vez mais

aptos a desenvolver construções sustentáveis, para levar para dentro das edificações a

harmonia desejada pelos clientes, tornando os usuários mais conscientes e mantendo uma

relação mais próxima com a natureza.

Palavras-chave: Psicologia comportamental. Bem estar. Qualidade de vida.

Sustentabilidade. Meio ambiente.

1. Introdução

Além da responsabilidade com a edificação, os profissionais devem se preocupar com a saúde

ambiental também, através de um projeto responsável e com boas especificações. A

importância da relação pessoa-ambiente exsurge a partir do momento que se verifica que a

maioria do tempo de vida das pessoas acontece em ambientes internos, os quais devem

transmitir qualidade de vida para os usuários:

Projetamos para pessoas que têm necessidades psicofisiológicas, anseios e formas de

expressão culturais; construímos intervindo no ambiente natural, composto dos mais

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variados elementos climáticos, topográficos e geográficos; utilizamos materiais que

têm propriedades e características físicas e químicas; articulamos formas por meio

da aplicação de tecnologias a sistemas construtivos e estruturais; interferimos nos

eventos sociais concretizando relações públicas e privadas, delimitando territórios,

favorecendo ou dificultando a acessibilidade etc (RIO; DUARTE; RHEINGANTZ,

2002, p. 76).

O projeto não tem que abranger apenas a estética, ele é um produto muito mais amplo, pois

está em contato diretamente com as pessoas e suas vivências. Todas as necessidades do

ocupante estão refletidas em sua residência. Quando ela for bem projetada, consequentemente

trará bem estar para quem a habita.

Com todos esses cuidados, pode-se enxergar que uma construção sustentável não é fácil de

ser realizada, pois ela consegue abranger vários aspectos e muitos deles alteram o bem estar

de seus ocupantes. Nem todos os usuários terão as mesmas sensações, pois variarão de acordo

com material escolhido, organismo de cada um e o tempo de exposição.

Um exemplo disso é o despreparo na hora da especificação dos materiais, que podem

provocar a inalação de produtos químicos de um acabamento interno, pelo contato direto com

os equipamentos de limpeza, irritações, sintomas de asmas e resfriados. Logo a seleção

criteriosa na escolha dos materiais deve levar em consideração a durabilidade dos mesmos e

as exigências de limpeza e manutenção (KEELER; BURKE, 2010).

Portanto, o viver e pensar sustentável vem a partir das boas ações para com a natureza e o

bem-estar, como confirma Venâncio (2010, p.43): “Os recursos disponíveis na natureza,

quando aproveitados de forma inteligente em uma construção, trazem conforto térmico e

consequentemente ajudam na sensação de felicidade dos seus ocupantes.” O ideal seria que a

Arquitetura, em todos os seus projetos, fosse sustentável, sem precisar diferenciar-se da

arquitetura convencional.

2. Psicologia ambiental

O estudo da psicologia ecológica foi inserido em diversas faculdades de Arquitetura com o

objetivo de explicar os acontecimentos da vida relacionados com o ambiente natural, o qual,

por seu turno, está diretamente relacionado aos espaços em que os ocupantes estão locados.

Logo, o arquiteto ao projetar deve levar em consideração a relação indivíduo e ambiente, isto

é, a importância e a influência dos ambientes no desenvolvimento humano (RIO; DUARTE;

RHEINGANTZ, 2002).

Um arquiteto, ao projetar, preocupa-se com a funcionalidade dos ambientes, aliando a estética

e a beleza. Tal profissional busca construir espaços para o convívio, trazendo bem estar para

os ocupantes. A psicologia visa a completar o estudo (figura 01), mostrando o que os

ambientes transmitem aos ocupantes. Pode-se verificar que uma área está ligada a outra, como

explica Bernardes; Cecconello; Martin (2013, p.1):

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Tais estudos integrados podem ser usados em benefício de um ambiente pautado em

conceitos arquitetônicos, que levam em conta as necessidades e demais aspectos do

ser humano, visto que o indivíduo usuário é o centro do ambiente, e assim deve ser

um dos focos do programa, enquanto necessidades e níveis de satisfação a serem

atendidas.

Com isso, percebe-se que ambientes bem projetados fazem diferença no viver das pessoas,

através do conforto e da acessibilidade, podendo alterar o humor e até mesmo a percepção do

indivíduo. Arquitetos que aliam Arquitetura e Psicologia oferecem um projeto mais completo,

com resultados mais significativos, através de ambientes que atendam as necessidades de

tarefa e tragam conforto psicológico para os ocupantes.

Figura 01 – Formas de intervenção em Psicologia Ambiental

Fonte: Bernardes; Cecconello; Martin (2013, p.1)

Muitos pesquisadores acreditam que a psicologia ambiental veio para explicar a forma

arquitetônica de certas obras, mostrando porque certos ambientes obtêm mais sucesso que

outros. Então, é preciso estar atento à função do espaço e o que este desempenha na vida dos

indivíduos (MELO, 1991). Outra questão, também vista pelo autor, está relacionada à seleção

de acabamentos, na qual o profissional deve conhecer as preferências para atender as

necessidades do cliente.

2.1 Consciência ambiental

Uma boa educação gera uma melhor consciência ambiental (figura 02). Assim como a

educação de uma criança, em que a cada dia é proposta uma nova palavra (MELO, 1991), no

caso da sustentabilidade e sua relação com a natureza, o raciocínio é semelhante. A cada dia

procura-se uma nova forma de aproveitar esse bem gratuito, sempre buscando a melhor

maneira de utilizá-lo.

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Figura 02 – Conciência ambiental Fonte: JIMDO (2012)

Tudo que o homem projeta acaba sendo estático e reto, sem ter movimento, e a natureza vem

desafiar isso, colocando curvas através do desenho orgânico das árvores, flores e cursos

d´aguas (OKAMOTO, 2002). Atualmente, a construção civil é um dos setores que mais

consome energia e que gera entulhos. Ao utilizar dos recursos naturais de forma mais

eficiente, sem agredir o meio ambiente, o cliente estará dando a forma necessária, junto com a

estética desejada. Para esse autor (2002, p.142): “[...] o entorno exerce também importância

sobre nós. A harmonia, a suavidade ou a agressividade do meio ambiente reflete sobre nosso

sistema háptico, sobre nossa sensibilidade”.

A consciência ambiental vem desde a concepção do projeto, pois o cliente deve entender o

que sua obra poderá causar no entorno imediato, bem como se causará problemas ao espaço

natural vizinho e quais as alternativas que podem ser utilizadas, por exemplo, no transporte de

material. Todas essas etapas devem estar pré-determinadas, para que durante a obra não

ocorram complicações (KEELER; BURKE, 2010).

Quando o local é desprovido de ambientes naturais, ou seja, vegetação no entorno, o arquiteto

responsável traz a natureza para dentro das casas, a partir de terraços verdes, jardins de

inverno ou mesmo uma parede revestida de vegetação. No momento em que se utiliza esses

mecanismos, o ar dentro do ambiente estará sendo purificado e renovado, evitando doenças

respiratórias. Oferecer um ambiente interno saudável é solucionar mais de um problema

ambiental, pois o usuário contribui para o bom funcionamento do ecossistema e ajuda na

economia da água.

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Nenhum projeto sustentável vai conseguir solucionar todos os problemas naturais, mas se

cada um fizer sua parte, ajudando-se um ao outro, aumentará a renovação dos recursos e

consequentemente a qualidade de vida dos moradores.

3. Psicologia comportamental

Para alcançar a qualidade de vida esperada pelos ocupantes, além de oferecer ambientes

atrativos, com acabamentos adequados e espaços agradáveis, o arquiteto deve proporcionar

locais que tragam conforto e não comprometam o comportamento dos mesmos. Nesse

sentido, para Okamoto (2002, p. 8): “O espaço deveria favorecer o comportamento

harmonioso do homem, mais do que apenas atender às suas necessidades básicas como

repousar, trabalhar, reproduzir-se, divertir-se e relaxar [...]”.

O espaço onde as pessoas vivem está, a cada dia, tornando-se objeto de segundo plano, como

uma caixa fechada a ser manuseada quando necessária e deixada de lado quando não for mais

útil. Porém, deveria estar presente na vida do usuário como algo que faz bem, proporcionando

benefícios de saúde, local onde se reúne a família e momento de lazer. Os clientes, quando

contratam os profissionais, estão em busca de fugir do cotidiano turbelento, dos altos índices

de ruído e do estresse da rua. Nesse caso o arquiteto busca solucionar isso, trazendo inovações

que atendem esse desejo.

O comportamento dos ocupantes está relacionado ao que eles sentem. A partir do momento

que ele ocupa um espaço prazeroso sua conduta é de transmitir o bem também, realizar suas

atividades com mais disposição, permanecer no local por um tempo mais longo, o que antes

talvez ele nem quisesse estar ali.

A arquitetura vai além do abrigo das necessidades e atividades e, no meu entender,

seria um meio de favorecer e desenvolver o equilíbrio, a harmonia e a evolução

espiritual do homem, atendendo às suas aspirações, acalentando seus sonhos,

instigando as emoções de se sentir vivo, desenvolvendo nele um sentido afetivo em

relação ao locus e ao topos (OKAMOTO, 2002, p.15).

O ser humano sempre busca o melhor para sua vida. A arquitetura escolhida por ele, também,

pode trazer isso (figura 03 e 04), através de atividades e métodos bem planejados. Uma

pessoa não precisa ter uma boa situação financeira para se sentir bem, basta estar em um lugar

que traga bem estar.

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Figura 03 – Arquitetura de interior sustentável

Fonte: FORTIN (2012)

Figura 04 – Conforto e bem estar aos usuários

Fonte: VERTVCS (2017)

No sentido da percepção espacial dentro do ambiente, o profissional contratado para idealizar

o projeto do usuário deve estar atento à movimentação dentro dos espaços. Observar o espaço

mínimo entre objetos ou o uso dos equipamentos para realização das atividades é importante

para uma arquitetura sustentável. Se caso algum instrumento não esteja bem colocado, o

espaço não vai ser tão confortável, pois pode restringir a movimentação do usuário

(OKAMOTO, 2002).

É necessário ter uma boa disposição no ambiente, para que o movimento no entorno dos

equipamentos torne-se algo prazeroso e traga harmonia. Caso não seja bem colocado, o

mobiliário escolhido acaba tornando-se estressante, ao contrário do seu verdadeiro propósito,

de proporcionar bem estar os moradores depois de um dia cheio de preocupações e problemas

cotidianos. Okamoto (2002, p.161) ao analisar essa situação, afirma que:

Percorrer um espaço com tranquilidade e de forma automática e inconsciente para a

ser um ato agradável, o que não acontece ao se atravessar uma sala cheia de objetos

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colocados irregularmente, exigindo atenção, contorções do corpo para desviar-se,

dando a sensação de desconforto e irritação.

Concordando com isso, para a autora do trabalho toda atenção é necessária na hora de fazer

um layout, desde suas dimensões até as formas escolhidas. Tudo deve ser pensado de acordo

com o cliente, não basta a beleza e o uso de tendências, se não traz qualidade a vida dos

ocupantes. Um ambiente bem pensado se tornará um ambiente saudável.

4. Recursos Projetuais

No sentido da percepção é preciso estar atento aos condicionantes arquitetônicos

proporcionados pela obra. Ao projetar um ambiente precisa-se estar atento às variáveis que

podem interferir no mesmo, como iluminação, temperatura, ventilação, vegetação e matérias

de construções mais sustentáveis.

4.1 Temperatura

Em relação à temperatura, Okamoto (2002, p. 137) recomenda que “o controle da temperatura

é essencial para nossa sobrevivência. O excesso de frio ou de calor prejudica o funcionamento

do corpo [...]”. Quanto maior a atividade física, maior será o calor gerado por metabolismo. É

importante o arquiteto saber a função de sua arquitetura de forma a prever o nível de atividade

realizado no seu interior, tirando assim algumas conclusões sobre a sensação de conforto

térmico das pessoas. A figura 05 mostra os valores de metabolismo para algumas atividades.

Figura 05 – Atividades físicas e respectivo metabolismo

Fonte: Lamberts; Dutra; Pereira (2004, p.42)

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Segundo Lamberts (2004), a ventilação resolverá os problemas de desconforto por calor em

até 61% das horas do ano. Os mesmos cuidados devem ser tomados com a aplicação das duas

principais estratégias indicadas - ventilação e massa com aquecimento solar – evitando-se a

diminuição de eficiência da segunda como o emprego de isolamento térmico nas aberturas

para os períodos frios.

4.2 Ventilação

Uma edificação bem ventilada tem como vantagem a redução de gastos energéticos com o

condicionamento de temperatura e umidade. A ventilação natural pode ser utilizada para o

controle térmico dispensando o uso de aparelhos que consome muita energia como, por

exemplo, o ar condicionado. Segundo o sítio eletrônico Ecologic (acesso em janeiro de 2017),

com a troca de ar dentro das edificações, os ventos levam consigo microorganismos

prejudiciais à saúde humana, odores indesejados e gases tóxicos, deixando o ambiente fresco

e arejado, melhorando a qualidade do ar.

A melhor forma de promover a circulação do ar no interior de uma edificação é adotar o

sistema de ventilação cruzada, principalmente em locais quentes e úmidos. De acordo com

Ecologic (acesso em janeiro de 2017) a ventilação cruzada através de um ambiente é

caracterizada pelo escoamento de ar entre aberturas localizadas em paredes opostas ou

adjacentes desse ambiente, desde que sua localização produza um escoamento de ar que

cruze diagonalmente os ambientes. Esse sistema pode ser feito tanto de forma horizontal

quanto vertical, conforme as figuras 06 e 07 abaixo:

Figuras 06 – Ventilação cruzada horizontal

Fonte: Ecologic (acesso em janeiro de 2017)

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Figuras 07 – Ventilação cruzada vertical

Fonte: Ecologic (acesso em janeiro de 2017)

4.3 Ruídos

Um ambiente sustentável também é um ambiente sem ruídos ou sem barulhos que

prejudiquem a audição do ocupante e o desconcentre em atividades de estudo e/ou trabalho.

Utilizando-se de mecanismos que diminuam esses impactos, doenças relacionadas ao ruído

também podem ser evitadas (figura 07), como a surdez. Algumas recomendações para que

isso não ocorra são:

• Separar espacialmente atividades barulhentas das silenciosas

• Definir horários diferenciados para atividades barulhentas e silenciosas

• Manter a fonte ruidosa o mais distante possível dos indivíduos

• Utilizar materiais absorventes de ruído no teto e no piso

• Rebaixar o teto com material acústico

• Utilizar barreiras acústicas entre a fonte e o receptor

• Utilizar materiais orgânicos (madeira, borracha, plástico, etc.) como barreiras

acústicas [...] (BITENCOURT, 2011, p. 74).

Quando são utilizados esses métodos no projeto, o bom funcionamento da casa torna-se

agradável aos ouvidos do morador, o qual vai se sentir relaxado e confortável, em relação ao

conforto acústico. Porém, é preciso que essas estratégias sejam mantidas após a finalização de

obra, isto é, que os moradores tenham consciência de que os recursos de projeto podem mudar

o cotidiano, prevenindo algumas doenças.

Os ruídos podem vir da área externa da residência, da rua e da própria casa. Logo, é preciso

verificar todas essas fontes para propor o melhor método para redução dos ruídos. Ou seja, o

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conforto acústico depende igualmente das condições locais, da implantação do

empreendimento no terreno e das características do edifício. A caracterização dos ruídos se dá

a partir de análises e medições acústicas, segundo Santos (2009). Com esse resultado, o

profissional pode propor ideias para a redução do nível de ruídos nos ambientes. Atualmente,

existem normas que fixam as condições necessárias de aceitabilidade de ruídos em diferentes

áreas, como a NBR 10151 (ABNT, 2000).

A zona de conforto segundo a NBR 10152 (ABNT, 1987) para áreas residenciais varia de 35

a 45 decibéis nos dormitórios, e de 40 a 50 decibéis nos ambientes de estar. Para que essa

zona também funcione é preciso que o período de exposição nesses ambientes seja respeitado,

pois para cada nível existe um tempo proporcional de permanência. Com a norma em vigor, o

setor passa por uma conscientização e acaba implantando as diretrizes. Os ocupantes têm

acesso a ela e ficam mais exigentes (figura 08).

Figura 08 – Efeitos do ruído no corpo humano Fonte: Santos (2009)

Os sistemas utilizados devem ser atraentes aos olhos do consumidor, já que a construção

tornar-se-á um diferencial no quesito acústico. Cada projeto deve ser elaborado em função da

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qualidade acústica requerida, buscando, ao mesmo tempo, satisfazer às necessidades estéticas,

decorativas e funcionais de arquitetura.

4.4 Iluminação

Há ainda a questão da iluminação. Um ambiente bem iluminado é aquele que vai atender às

necessidades de tarefa a ser executada sem problemas ao indivíduo. Porém, o arquiteto deve

estar atento, também, para, ao solucionar um problema, não gerar outro, conforme Melo

(1991). Como exemplo, o projeto que preveja a colocação de janelas grandes em ambientes

que recebam sol em um determinado horário tornará necessária a instalação de cortina e ar

condicionado para redução do calor. Obter uma boa iluminação deve conciliar a iluminação

natural e a artificial, que deve completar a primeira. Diante disso, Bitencourt (2011, p. 86)

explica que:

A iluminação natural hoje é uma das ferramentas que podemos contar para compor à

Arquitetura Sustentável de forma a fazer com que o edifício se integre ao ambiente e

que desta faça parte de um contexto maior, objetivando minimizar o impacto

humano e o ambiental. Portanto, projetar prédios que visem melhor qualidade de

vida aos seus usuários e ao entorno, deve ser o objetivo de todos que interagem

nessa área.

A NBR 5413 (ABNT, 1992) estabelece o nível de iluminância correspondente ao local

escolhido para análise. No caso das áreas residenciais há vários parâmetros que precisam ser

analisados, como o peso, que analisa as características da tarefa e do observador. Depois

disso, o profissional deve considerar os três níveis indicados para cada ambiente, medido em

lux (quadro 01).

Quadro 01 – Níveis de iluminância

Fonte: NBR 5413 (ABNT,1992)

4.5 Vegetação

A concepção do projeto arquitetônico, junto com o paisagístico, deve proporcionar bem estar

aos moradores (figura 09). A vegetação ao redor da residência não solucionará todos os

problemas, é preciso também uni-la com a própria arquitetura proposta, de modo que tais

recursos, bem utilizados, trarão benefícios. Basta conhecê-los a fundo e saber combiná-los.

A cobertura verde é uma saída para trazer conforto térmico à moradia de forma a utilizar os

recursos que a natureza oferece. A vegetação atua como massa térmica que regula a

temperatura interna. Possui um efeito duplo, no verão, evita o aquecimento do telhado,

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enquanto no inverno protege do frio, pois, durante o dia, acumula calor. Além disso, regula a

fauna existente nas proximidades da construção. A existência da massa arbórea de

caducifólias nas proximidades traz grandes benefícios para países quentes, como o Brasil,

pois proporciona sombra no verão e deixa passar o sol no inverno.

Outro elemento muito utilizado é o jardim vertical, ou simplesmente, muro vegetal, o qual é

considerado uma parte estética da construção, mas que acaba sendo funcional. Ele serve como

isolante térmico e acústico, além de purificar o ar. O sistema funciona através de um suporte

estrutural, que é alimentado por um sistema de irrigação automático. As plantas nascem

através desse suporte, que, por não precisar de terra, não gera umidade nas paredes.

Figura 09 – Vegetação ao redor da residência.

Fonte: hortodaspalmeiras (2011)

4.3 Cor

Deve-se preocupar também com as cores utilizadas nos ambientes. Por exemplo, um ambiente

muito claro e com muita iluminação pode causar refletâncias, e, consequentemente, fadiga

nos olhos (figura10). Além da interferência que cada cor pode transmitir para o individuo,

cada pessoa apresenta sua própria reação diante das cores (BITENCOURT, 2011). De acordo

com o mesmo autor, a cor luz ou a cor pigmento podem influenciar diretamente no viver

saudável, no ânimo e no sentimento que ela pode transmitir. A forma e cor determinam a

percepção do entorno físico através dos olhos, e nos dão uma mais clara e vivida impressão

do espaço do que os sensos tátil, auditivo e olfativo (figura 11).

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Figura 10 – Refletância

Fonte: GREEN COATINGS (2013)

Figura 11 – Percepção do espaço cromático

Fonte: Bitencourt (2011, p.1)

6. Conclusão

Construir a partir dos conceitos da sustentabilidade não é tão simples como muitos imaginam,

como a simples instalação de uma janela para ventilar ou para permitir a entrada de natural.

Projetar algo sustentável é primeiramente ser sustentável, querer ser e posteriormente

continuar sendo, para que os sistemas adotados continuem funcionando. Ou seja, a

sustentabilidade vai muito além dos recursos naturais, não que estes sejam de baixa

importância, pelo contrário, fazem toda a diferença e contribuem em boa parte do projeto,

mas não são os únicos recursos.

Com base na pesquisa realizada, verificou-se que a arquitetura não convencional passou a ser

algo novo no mercado, que a cada dia vem se tornando uma tendência mundial, e que muitos

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acreditam que seja a escolha primordial dos clientes ao procurar os profissionais. O povo

brasileiro ainda tem muito que aprender, pois muitos não sabem, mas o clima do país pode

proporcionar grandes diretrizes projetuais.

O modo como os ocupantes se interrelacionam com seus ambientes, também faz parte das

características desse tipo de construção. O que o indivíduo sente e transmite, tudo é parte da

psicologia ambiental. Um ambiente bem resolvido passa a ser um ambiente habitável e que

trará bem estar para quem estiver nele.

Por isso, Arquitetos que aliam Arquitetura e Psicologia oferecerão um projeto mais completo,

com resultados mais significativos, através de ambientes que atendam às necessidades de

tarefa e tragam conforto psicológico para os ocupantes.

Referências

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Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento.

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Arquitetura Sustentável: Psicologia Comportamental e recursos projetuais

Julho/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018

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