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ISSN 2176-1396 K-LABEDUC: UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA-INTERVENÇÃO- PESQUISA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Fabiana dos Santos Nascimento 1 - UNEB Inaiá Brandão Pereira 2 - UNEB Josemeire Machado Dias 3 - UNEB Antônio Carlos Fontes Atta 4 - UNEB EixoEducação, Tecnologia e Comunicação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O Grupo de Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade GEOTEC, da Universidade do Estado da Bahia, ampliou ainda mais suas ações de pesquisa e parcerias com a Educação Básica a partir da criação do K-Lab: Laboratório de Projetos Educacionais e Tecnológicos. O K-Lab é um Laboratório Educacional destinado à construção e qualificação de processos formativos, por meio da elaboração, utilização e redimensionamento de técnicas, práticas e processos tecnológicos e tem o intuito de desenvolver pesquisas, por meio da produção de tecnologias e processos formativos, baseados nos princípios de multirreferencialidade e colaboração, para o entendimento de dinâmicas socioespaciais. Esses pressupostos alinhados à sua estrutura organizacional, marcada por uma dimensão colaborativa e uma equipe formada por pesquisadores de diferentes áreas (Educação, Computação, Design, Matemática, entre outros), possibilita o empreendimento de diversas ações formativas nas instituições parceiras. Neste contexto e a partir das demandas oriundas da relação entre K-Lab e a escola, foi constituído o K-LabEduc, como um eixo de pesquisa-intervenção-pesquisa que agrega todos os participantes do laboratório no intuito de promover processos formativos a partir de temáticas específicas abordadas no grupo. Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir acerca das dinâmicas referentes ao K-LabEduc, por meio de uma experiência específica, realizada em uma escola municipal da cidade de Salvador/BA, demonstrando as reflexões e práticas desenvolvidas na composição de estratégias à compreensão das dinâmicas 1 Doutoranda em Educação e Contemporaneidade - UNEB. Professora da Rede Municipal de Educação de Salvador. Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade GEOTEC. E- mail: [email protected]. 2 Doutorando em Educação e Contemporaneidade - UNEB: Professor da Rede Estadual de Educação da Bahia. Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade GEOTEC. E-mail: [email protected]. 3 Doutora em Educação e Contemporaneidade - UNEB. Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade GEOTEC. E-mail: [email protected]. 4 Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Professor Assistente da Universidade do Estado da Bahia UNEB. Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade GEOTEC. E-mail: [email protected].

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ISSN 2176-1396

K-LABEDUC: UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA-INTERVENÇÃO-

PESQUISA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Fabiana dos Santos Nascimento1 - UNEB

Inaiá Brandão Pereira2 - UNEB

Josemeire Machado Dias3 - UNEB

Antônio Carlos Fontes Atta4 - UNEB

Eixo–Educação, Tecnologia e Comunicação

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O Grupo de Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade – GEOTEC, da Universidade

do Estado da Bahia, ampliou ainda mais suas ações de pesquisa e parcerias com a Educação

Básica a partir da criação do K-Lab: Laboratório de Projetos Educacionais e Tecnológicos. O

K-Lab é um Laboratório Educacional destinado à construção e qualificação de processos

formativos, por meio da elaboração, utilização e redimensionamento de técnicas, práticas e

processos tecnológicos e tem o intuito de desenvolver pesquisas, por meio da produção de

tecnologias e processos formativos, baseados nos princípios de multirreferencialidade e

colaboração, para o entendimento de dinâmicas socioespaciais. Esses pressupostos alinhados

à sua estrutura organizacional, marcada por uma dimensão colaborativa e uma equipe formada

por pesquisadores de diferentes áreas (Educação, Computação, Design, Matemática, entre

outros), possibilita o empreendimento de diversas ações formativas nas instituições parceiras.

Neste contexto e a partir das demandas oriundas da relação entre K-Lab e a escola, foi

constituído o K-LabEduc, como um eixo de pesquisa-intervenção-pesquisa que agrega todos

os participantes do laboratório no intuito de promover processos formativos a partir de

temáticas específicas abordadas no grupo. Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir

acerca das dinâmicas referentes ao K-LabEduc, por meio de uma experiência específica,

realizada em uma escola municipal da cidade de Salvador/BA, demonstrando as reflexões e

práticas desenvolvidas na composição de estratégias à compreensão das dinâmicas

1Doutoranda em Educação e Contemporaneidade - UNEB. Professora da Rede Municipal de Educação de

Salvador. Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade – GEOTEC. E-

mail: [email protected]. 2Doutorando em Educação e Contemporaneidade - UNEB: Professor da Rede Estadual de Educação da Bahia.

Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade – GEOTEC. E-mail:

[email protected]. 3Doutora em Educação e Contemporaneidade - UNEB. Professora Assistente da Universidade do Estado da

Bahia - UNEB. Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade –

GEOTEC. E-mail: [email protected]. 4Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Professor Assistente

da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Integrante do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e

Contemporaneidade – GEOTEC. E-mail: [email protected].

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socioespaciais. Desse modo, abordaremos no decorrer do texto, uma breve discussão teórica

acerca dos pressupostos basilares do laboratório, a estrutura metodológica do K-LabEduc,

assim como algumas ações na escola, seus temas geradores, interlocutores e as possibilidades

de articulação entre a pesquisa e as práticas de cunho educacional e tecnológico.

Palavras-chave: Laboratório Educacional. Dinâmicas Socioespaciais. Tecnologia.

Introdução

Os dias atuais são caracterizados por formas diversas de pensar a sociedade e os

sujeitos, pois oferece uma infinitude de possibilidades de comunicação e difusão da

informação, jamais vistas em outro momento histórico. O espaço extrapola as fronteiras do

físico e social e percorre os caminhos virtuais, digitais e subjetivos. A virtualização5 da "vida"

(independente de um lugar determinado, livre da presença) é uma realidade impressa no modo

como os indivíduos se relacionam consigo e com os outros, onde a busca pela potencialização

da informação, do saber, do tempo, é condição primordial para essa geração em constante

latência.

Essa geração, caracterizada pelo movimento contínuo de criação de novas

possibilidades, pela experimentação do novo e redimensionamento do que está posto, reflete e

é refletida pela rapidez das transformações. As redes sociais, potencializadas pelo acesso à

internet, permite a divulgação, criação e invenção de notícias em tempo real, fazendo dos

sujeitos consumidores, “compartilhadores”, mas também formadores críticos de opinião.

Em nenhum outro momento da história, a informação foi tão acessível aos sujeitos,

que dispõem da mesma sob diferentes formas e olhares. Contudo, esse acesso nem sempre

reflete um entendimento, criticidade ou empoderamento desses “fatos” contextualizados com

o momento social, político e econômico, isto é, a partir de uma ótica imersa nas dinâmicas

socioespaciais. Tais dinâmicas são compreendidas neste trabalho, como os macro e micro

fenômenos existentes na relação sociedade e espaço, perpassando desde as práticas dos

sujeitos até os processos sociais em grande escala, nos quais os mesmos estão inseridos.

Nesta perspectiva de potencializar o entendimento das dinâmicas socioespaciais e sua

relação com os meandros que permeiam a vida do sujeito em sociedade, criou-se no final de

2015 o Projeto K-Lab: Laboratório de Projetos e Processos Educacionais e Tecnológicos,

destinado à construção e qualificação de processos formativos e educacionais, por meio da

elaboração, utilização e redimensionamento de técnicas, práticas e processos tecnológicos.

5Ver mais sobre isso em: LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: 34, 1996.

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O K-Lab tem o objetivo de desenvolver pesquisas, por meio da produção de

tecnologias e processos formativos, baseados nos princípios de multirreferencialidade e

colaboração, para o entendimento de dinâmicas socioespaciais. O processo que permeou a

criação do K-Lab foi constituído por algumas motivações solidificadas, principalmente, no

movimento de ação e pesquisa, base fundamental do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias,

Educação e Contemporaneidade. São elas:

A criação do espaço-pessoas-objetos denominado Laboratório fez-se necessário para

agregar de forma sistematizada as iniciativas, desejos e objetos de pesquisa

relacionados à área de educação e tecnologias dentro do âmbito da universidade;

Este lugar pretende ser instituinte de teorizações e práticas, criação e experimentação

de elementos diversos, que ao longo do tempo constituíram os projetos de pesquisa e

as ações do Grupo GEOTEC;

Com perspectiva de tornar-se um espaço de formação por meio da pesquisa e ação em

espaços públicos e privados que possuam inquietações referentes às relações entre

tecnologias digitais, jogos, geotecnologias, design e aprendizagens.

Dentro dessa dinâmica, buscou-se a partir do K-Lab, confluir diversas ações em um

espaço que não se caracteriza apenas pelo atenuante físico, mas, principalmente, pela reunião

de pessoas com diferentes formações, concepções e experiências, que dentre outros processos,

propõe a ampliação e deflagração de ações alinhadas aos processos educativos e tecnológicos.

Com base nessas concepções, é salutar destacar que o K-Lab caminha na prática da

pesquisa por meio de uma Metodologia Colaborativa, entendendo-a como ponto crucial para

o imbricamento entre teoria e prática, e na união de diferentes personagens com um intuito

comum.

Ao realizar uma pesquisa que traz consigo a marca da colaboratividade nos

surpreende logo de início. O caminho é outro. Há uma alegria no colaborar, talvez

aqui, implicitamente e mesmo inconscientemente, o conceito apregoado por Pierre

Lévy de Inteligência Coletiva: “É uma Inteligência distribuída por toda parte,

incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma

mobilização efetiva das competências”. (LÉVY, 1998, p.28). Esta inteligência

distribuída por toda parte implica que todos sabem alguma coisa,

independentemente de sua situação econômica, cultural, social ou geográfica [...].

(PASCHOAL, 2008, p. 986).

O intuito comum aos personagens desse enredo intitulado K-Lab, está relacionado ao

movimento contínuo de promover ações, produtos e processos para/com/nas escolas parceiras,

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possibilitando intervenções a partir do lastro teórico denominado dinâmicas socioespaciais

que permeiam processos formativos por meio de diferentes conceitos, dissolvidos em algumas

temáticas, assim como retroalimentar as pesquisas dentro do laboratório, viabilizando um

intercâmbio de ideias, experiências e dinâmicas traçadas através da parceria entre escola e

universidade. Na busca por um alinhamento dessas ideias, entrelaçadas ao contexto de

possibilidades e necessidades das escolas parceiras, constituímos o K-LabEduc, como um

eixo de pesquisa-intervenção-pesquisa que agrega todos os participantes do laboratório no

intuito de promover processos formativos a partir dos conceitos e temáticas acima elencados.

Diante disso, este artigo apresenta e discute acerca das dinâmicas referentes ao K-LabEduc,

por meio de ações formativas realizadas na Escola Municipal Álvaro da Franca Rocha,

localizada no bairro da Engomadeira – Salvador/BA, com alunos do 4º e 5º, nos anos de 2016

e 2017, demonstrando assim as reflexões e práticas desenvolvidas na composição de

estratégias à compreensão das dinâmicas socioespaciais que perpassam a vida dos sujeitos em

todos os âmbitos.

Desse modo, busca-se neste trabalho construir reflexões em relação às dinâmicas

socioespaciais, discutindo aspectos relacionados ao conhecimento cartográfico,

geotecnológico, entre outros, bem como seu potencial à compreensão do espaço e suas

dinâmicas. Por fim, será apresentada a estrutura metodológica do K-LabEduc, assim como

algumas ações na escola, seus temas geradores, interlocutores e as possibilidades de

articulação entre a pesquisa e as práticas de cunho tecnológico.

Cartografia, Geotecnologias e Espaço: reflexões em busca de uma compreensão acerca

das Dinâmicas Socioespaciais

Ao longo dos tempos, a noção de espaço foi concebida de diferentes formas e isso

ocorre pelo fato de que a palavra não tem uma definição única, mas perpassa por oscilações a

partir do foco que lhe é dado. No entanto, não é nosso objetivo retomá-las em toda sua

amplitude, mas sim discutir o espaço geográfico a partir dos conceitos que aqui são cabíveis.

Vale ressaltar, primeiramente, que o espaço é um daqueles conceitos que todos acham

que sabem, mas poucos sabem realmente explicar com exatidão. Além disso, é uma palavra

com uma multiplicidade de significações, afinal, a mesma se encaixa entre as diferentes

expressões (espaço geográfico, espaço aéreo, espaço insuficiente, pequeno espaço de tempo,

espaço sideral, espaço geométrico e etc.). Isso mostra que a palavra espaço perpassa entre o

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objetivo e o subjetivo, o concreto e o imaterial, adquirindo sentido dentro das mais diferentes

áreas (Geografia, História, Matemática, Antropologia, etc.).

Neste sentido, torna-se necessário diferenciar a noção de espaço como estrutura mental

e o espaço como categoria do conhecimento geográfico, entendendo que,

O espaço é, simultaneamente, noção e categoria. É noção enquanto estrutura mental

que se constrói desde o nascimento até a formalização do pensamento e é categoria

enquanto objeto de estudo da Geografia. Sem dúvida, trata-se de dois aspectos de

uma mesma questão, cada um guardando suas especificidades, mas, ao mesmo

tempo, com suas contribuições para que os alunos ampliem seus conhecimentos a

respeito do espaço enquanto noção e do espaço enquanto categoria da Geografia, o

espaço geográfico. (PCN, 2001, p. 26).

O geógrafo Milton Santos buscou entender a gênese do espaço, traduzindo isto em sua

vasta obra, onde o mesmo procura compreendê-lo a partir de seu hibridismo, utilizando para

isso algumas representações ou nomenclaturas que promovem conceituações sobre esse

objeto de estudo. Neste trabalho o espaço será tratado como uma estrutura dinâmica e

mutante, “[...] social dotada de um dinamismo próprio e revestida de uma certa autonomia, na

medida em que sua evolução se faz segundo leis que lhe são próprias”.(SANTOS, 1988, p.

15)

Esse dinamismo pode ser relacionado ao fato de que no espaço está contido o

movimento. Esse movimento ocorre porque o mesmo é formado por elementos indissociáveis

que são os objetos geográficos, isto é, a própria forma geográfica, os objetos naturais, o objeto

social e a sociedade que vive em mudança, ou seja, a vida que preenche esses objetos. Assim,

pode-se dizer que o espaço é uma soma das paisagens e fruto das ações do homem, ações

estas que podem ser sociais, culturais, ideológicas e políticas. O espaço é muito mais que a

paisagem, o lugar ou a natureza, o espaço é vivo, possui e reconstrói histórias que se

fundamentam, principalmente, nas ações do homem com o meio. Portanto, o espaço é

composto por diversas dinâmicas socioespaciais, engendrada pelo ser humano e construídas

historicamente.

Não resta dúvida de que este espaço tem um componente natural que dá

limite deste com o que é histórico - fruto do processo de desenvolvimento

das forças produtivas. Na realidade, é o movimento histórico do processo de

produção espacial que desvenda o fato de que o espaço geográfico não é nem

eterno, nem inerte e imóvel, e tampouco natural, mas um produto concreto

de relações sociais historicamente determinadas. (CARLOS, 1994, p.33)

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O espaço, antes de qualquer coisa, deve ser inserido no campo social, percebendo

assim sua complexidade organizacional e sua relevância para uma maior compreensão dos

processos de construção da natureza e da sociedade, numa conexão que jamais deve ser

omitida. Segundo Milton Santos (2004), o conceito de espaço não pode ser dissociado do ser

humano que o constrói e o modifica a cada dia. Sendo assim, a construção de um

entendimento acerca da dinâmica da sociedade, perpassa pelo estudo e apreensão do espaço

geográfico, ao entender que este reflete a expressão das forças econômicas, políticas e sociais.

Diante disso, ressaltamos a importância do espaço urbano remetendo-nos ao lugar,

tendo como premissa a ideia de que esse “espaço específico” leva-nos a reprodução dos

fenômenos observados na totalidade, ou seja, esse espaço urbano, local, específico, carrega

em si características e fenômenos do espaço geográfico, global, geral, mostrando que o lugar é

uma peça determinante no mosaico que constitui o mundo.

Segundo Carlos (1994), cada “parcela do espaço” tem um papel dentro da totalidade,

articulando-se com o processo de produção do espaço global. Isso significa que o lugar ganha

sentido quando faz suas inter-relações, mostrando o contínuo movimento de formação e

reprodução histórica, social, geográfica, política, econômica, antropológica que seria esse

espaço global. Desse modo, o estudo do espaço urbano traz como cerne da questão a

relevância e a complexidade do que seriam os recortes de um espaço total, firmemente

caracterizado por uma rede de relações diretamente ligadas às diversas áreas da vida dos

homens. Sendo assim:

O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social,

cheio de símbolos e campo de lutas – é um produto social, resultado de ações

acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e

consomem espaço. São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível ou

processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é

complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades

mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela

emergem. A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a

um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de

novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas

áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança,

coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade.

(CORRÊA, 2000, p. 11)

Como visto acima, o espaço urbano é então um emaranhado de ações que se

construíram através do tempo e que tem em seu movimento contínuo sua principal

característica. Na produção e reformulação da cidade o espaço e tempo são elementos

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indissociáveis que garantem sua essência, afinal, os sujeitos constroem e transformam o

espaço por meio do tempo, constituindo assim um mosaico de “cidades” construídas em

tempos diferentes, coabitando nos mesmos espaço citadino. Nesse espaço em que convergem

ações “macro” e “micro” escalares, é onde construímos nossas práticas socioespaciais,

construímos dinâmicas, relações de pertencimento, laços e enlaces, ao mesmo tempo que

contribuímos às transformações desse espaço.

Nesse espaço complexo e produto do social que construímos nossas relações, damos

sentido e construímos o lugar, um recorte essencial no entendimento da relação homem com o

meio. Tal contexto justifica-se, pois “o lugar é à base da reprodução da vida e pode ser

analisado pela tríade habitante - identidade - lugar. (...) É o espaço passível de ser sentido,

pensado, apropriado e vivido através do corpo”. (CARLOS, 2007, p.17).

É nesse sentido que o bairro torna-se, o lugar, o espaço do cotidiano, no qual são

efetuadas as relações de vizinhança. Tomando assim proporções importantes no ensino e na

construção da noção de espaço. O bairro para Carlos (Op.Cit, p.18) constitui,

(...) o espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas — as relações de

vizinhança o ir as compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jogo de bola,

as brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida /reconhecida em

pequenos atos corriqueiros, e aparentemente sem sentido que criam laços profundos

de identidade, habitante-habitante, habitante-lugar.

Sendo assim, ao apreender o espaço a partir do lugar, permitimos identificar elementos

que estão intimamente ligados à nossa identidade e vivência, consequentemente analisar as

dinâmicas socioespaciais que perpassam nossas práticas em sociedade. Com isso, abre-se a

possibilidade de perceber as transformações do espaço, baseado na percepção e no que é

concebido e nas experiências constituídas pelos indivíduos. Nessa perspectiva, a análise do

espaço vivido pelos indivíduos possibilita a efetivação de um registro histórico dos eventos

ocorridos, em distintos contextos espaços-temporais, no cotidiano dos mesmos.

A criação do K-LabEduc como potencializadora às ações educacionais do K-Lab

O K-LabEduc é um eixo de pesquisa-intervenção-pesquisa, criado pelo K-Lab, com o

intuito de constituir, organizar e possibilitar os trabalhos realizados nas escolas e instituições

parceiras do laboratório. Esse trabalho, desenvolvido a partir de processos formativos

realizados com alunos do Ensino Fundamental I, é formado pelas seguintes etapas: 1 –

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Levantamento de demandas, dentro dos subprojetos, para alimentação dos objetivos dos

encontros; 2 – Levantamento de demandas dos projetos de pesquisa (mestrado e doutorado)

para articulação com as propostas de encontro nas escolas parceiras; 3 – Organização de

equipes para criação, planejamento e execução das ações do K-LabEduc.

Levantamento de demandas, dentro dos subprojetos, para alimentação dos objetivos dos

encontros

Para a primeira etapa (demandas dos subprojetos), é necessário compreender a

estrutura organizacional da qual o K-Lab faz parte. O projeto K-Lab é um dentre os três

projetos articuladores (guarda-chuva), existentes no Grupo de Geotecnologias, Educação e

Contemporaneidade – GEOTEC. Os projetos articuladores foram criados com o intuito de

organizar as ações do Grupo, assim como possibilitar que os seus componentes realizem suas

pesquisas a partir de um viés teórico, metodológico e prático, adotado por cada projeto em

conformidade com seu objeto, objetivos e público alvo: (a) “A rádio da escola na escola da

rádio” é uma proposta de intervenção desenvolvida em espaços formais e não formais de

educação, com o objetivo de possibilitar aos sujeitos da educação o redimensionamento do

entendimento do lugar, geotecnologias e das Tecnologias da Informação e Comunicação –

TIC - à compreensão da história, memória e manifestações culturais, mobilizando processos

formativos através do exercício dialógico e investigativo; (b) “RedePub” busca agregar e

difundir as histórias e memórias das escolas da rede pública de ensino de Salvador,

valorizando as práticas e saberes humanos, potencializadas pelo redimensionamento das TIC

e Geotecnologias, contribuindo diretamente com ações engajadas, suscitando um ato de

inovação para o registro da trajetória de vida dos sujeitos, vivenciadas no decorrer do percurso

escolar e; (c) “K-Lab: Laboratório de Projetos e Processos Educacionais e Tecnológicos” visa

desenvolver pesquisas, por meio da produção de tecnologias e processos formativos, baseados

nos princípios de multirreferencialidade e colaboração, para o entendimento de dinâmicas

socioespaciais.

O K-Lab agrega subprojetos, responsáveis por empreender ações relacionadas às

Tecnologias da Informação e Comunicação, Geotecnologias, Arte, Letramento, dentre outros

eixos teóricos que buscam potencializar processos educacionais, como destacado a seguir: (a)

O jogo-simulador Kimera: cidades imaginárias é um jogo-simulador de cidades com o

objetivo de explorar o entendimento dos espaços da cidade (vivido, percebido e concebido);

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(b) O K-Ágora é uma funcionalidade que permite acessar mapas, através do upload de

arquivos ou informações georreferenciadas disponibilizadas pelo Google Maps; (c) O Musical

Kimera busca potencializar a musicalidade junto aos alunos, resgatando a música intrínseca às

suas dinâmicas de mundo, de vida e de espaço, sendo oriundo do desenvolvimento

colaborativo do jogo-simulador para uma vivência artística desses sujeitos; (d) O K-Book é

uma plataforma digital desenvolvida em parceria com a escola pública para o projeto “Meu

primeiro Livro” e (e) O K-Mat é baseado em processos formativos para professores, voltado

para ações na área de matemática que vão além das quatro operações.

Figura 1–Estrutura do GEOTEC com destaque para o K-Lab e seus projetos

Fonte: os autores

Como é demonstrado no organograma acima, o K-LabEduc é um eixo oriundo do K-

Lab que permeia todos os subprojetos do laboratório. Nesse sentido, e em conformidade com

seus objetivos, os subprojetos demandam ações ao K-LabEduc, com o intuito de

retroalimentar, aprofundar e ampliar as ações de cada um. Vale salientar que esse processo

não é unilateral, mas cíclico, pois as demandas surgem dos subprojetos que se alinham com o

K-LabEduc e as escolas parceiras, assim como surgem também das escolas parceiras que são

dinamizadas pelo K-LabEduc e repassadas aos subprojetos para criação ou adaptação de

alguma funcionalidade técnica, prática ou teórica, que potencializará ações pedagógicas junto

aos sujeitos-atores-autores da pesquisa.

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Levantamento de demandas dos projetos de pesquisa (mestrado e doutorado) para

articulação com as propostas de encontro nas escolas parceiras

Outro ponto importante na organização e estruturação da proposta do K-LabEduc está

na articulação entre as pesquisas advindas dos mestrados e doutorados dos componentes do

Grupo. Estas pesquisas são alinhadas com um ou mais subprojetos, tendo como objetivo a

criação de um produto que pode ser técnico (a exemplo de aplicativos, jogos, ferramentas,

etc.) e/ou teórico-práticos (como propostas pedagógicas, orientações, ações formativas,

cursos, oficinas, artigos, livros e etc.) que será entrelaçado e qualificado a partir das pesquisas

realizadas por meio dos processos formativos desencadeados pelos movimentos oriundos do

K-LabEduc.

Figura 2 – Ciclo de Constituição do K-Lab

Fonte: equipe K-Lab

A figura 2 demonstra como os subprojetos, os projetos de pesquisa dos componentes

do grupo e os espaços educativos (escolas parceiras) se entrelaçam na formação de uma

dinâmica responsável pelo alinhamento do K-Lab. Ressalta-se, portanto, que as setas de

sentido duplo, assim como seus cruzamentos representam graficamente as ligações suscitadas

pelo K-LabEduc.

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Organização de equipes para criação, planejamento e execução das ações do K-LabEduc

O K-Lab é constituído por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento

(Educação, Geografia, Matemática, Informática, Design, Audiovisual, Estatística, Artes, entre

outras). Essa multiplicidade de saberes permite visualizar um objeto a partir de óticas

diferentes que se unem em prol da potencialização do mesmo. Para criação do K-LabEduc,

definiu-se uma estrutura e delinearam-se as principais ações para efetivação do mesmo. Para

chegar à sua estrutura, foram travadas discussões, onde circundaram ideias, especulações e

percepções sobre esse eixo de alinhamento e estas precisaram ser debatidas e deliberadas a

partir de um profundo trabalho de pesquisa, associado à experiência de alguns membros do

grupo e dos professores das turmas participantes do projeto, assim como do conhecimento

sobre o contexto no qual propunha-se que o próprio projeto K-Lab adentrasse. Nesse

momento, ficou claro que a pesquisa se constrói em pilares maleáveis, pois o plano traçado

inicialmente foi (re)feito e (re)construído a partir do diálogo e da visão de diversos

interlocutores (pesquisadores, professores, alunos). Faz-se necessário pontuar, ainda, que

esses debates foram fundantes de uma nova estrutura para organização do grupo de

pesquisadores, partindo de princípios como a área de atuação, a experiência e o desejo de

aprender e proporcionar saberes, para formar, coletivamente, uma estrutura de pesquisa onde

tudo é produzido para/pela/no movimento da escola.

Nesse sentido, as ações formativas são sempre permeadas por um eixo teórico central,

as Dinâmicas Socioespaciais, e estruturadas a partir de conceitos e temáticas. Conceitos e

capacidades como multiletramento, abstração, raciocínio lógico e gamificação perpassam a

construção teórica-formativa em articulação com conteúdos escolares, essenciais ao

desenvolvimento dos alunos. Já temáticas como História em Quadrinhos – HQ, programação

para crianças, geotecnologias, audiovisual, jogos e Robótica são meios, métodos e práticas

que permitem o convergir de todos esses pontos.

Portanto, as equipes de trabalho são formadas a partir de eixo, conceito e temática,

possibilitando que cada pesquisador participe das ações através da associação entre sua

formação acadêmica, experiência profissional e expertise.

Diante das equipes formadas, seus pesquisadores, juntamente com os professores da

turma e a partir das sugestões dos outros componentes do K-Lab, planejam ações formativas

na escola ou em outros espaços estabelecidos em conjunto, para desenvolver encontros

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quinzenais ou mensais6, onde serão trabalhadas as temáticas do projeto em alinhamento com

os conteúdos escolares, a partir de recursos tecnológicos diversos e já disponíveis para o

público (a exemplo do Google Maps, imagens de satélite, vídeos, músicas, clips, jogos, etc),

assim como os próprios produtos criados pelo grupo (o artefato geotecnológico K-Ágora, o

jogo-simulador Kimera, a plataforma K-Book).

O K-LabEduc e suas ações formativas: experiências e práticas ao entendimento das

Dinâmicas Socioespaciais

O K-Lab, através do K-LabEduc, desenvolve um trabalho contínuo com algumas

escolas municipais da cidade de Salvador/BA, desenvolvendo ações formativas e

consolidando o seu viés de pesquisa, mas também prático e aplicado, interligando funções e

competências de um Grupo de Pesquisa e de um Laboratório. Isso posto, serão destacadas a

seguir, algumas experiências oriundas da parceria entre o Grupo e a Escola Municipal Álvaro

da Franca Rocha, localizada no bairro da Engomadeira – Salvador/BA.

A escola supracitada é parceira do GEOTEC desde 2012, quando participou de outros

projetos vinculados ao grupo. Em 2016, o K-Lab iniciou suas ações na mesma, tendo como

público principal alunos do 4º e 5º ano, na faixa etária de 08 a 15 anos. Nesse período de

tempo, muitas ações já foram empreendidas, mas para a composição deste trabalho, serão

descritos alguns encontros formativos, que dentre as suas finalidades, pretendiam

potencializar e ressaltar as expressões das crianças em relação aos espaços vividos, as

experiências construídas nos seus bairros, assim como problemas urbanos e as diversidades e

possibilidades de uma cidade.

O encontro denominado “Linguagem de Programação, Transportes e Mobilidade” foi

construído juntamente com a professora da turma, com o objetivo de trabalhar noções de

programação digital: lateralidade, sequência lógica, pensamento criativo e orientação espacial

a partir dos conceitos básicos de transporte e mobilidade urbana. Os encontros foram sempre

iniciados a partir de um levantamento de conhecimentos prévios dos alunos, buscando

relacionar as discussões com o contexto e as experiências que as mesmas trazem. Em seguida,

foram apresentados alguns vídeos que demonstraram os meios de transporte e sua evolução na

história, explorando as formas de orientação que os mesmos utilizam, entre elas, os pontos

cardeais e colaterais. Com o uso de tapetes representando os pontos cardeais e colaterais, os

6 A periodicidade dos encontros é definida a partir das demandas das escolas e dos pesquisadores do K-Lab.

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estudantes foram desafiados a percorrerem os trajetos indicados usando os pontos como

referência. É importante salientar que nesse desafio os participantes foram como “peças de

um jogo”, simulando diferentes meios de transporte e suas características.

Por conseguinte, foi apresentada uma animação na linguagem de programação

ScratchJr7, contendo elementos do conteúdo “meios de transporte”, o que permitiu propor aos

alunos a criação de uma história utilizando estes elementos. A turma foi organizada em

duplas, onde cada uma escolheu um personagem para contar uma história usando os recursos

do aplicativo associada ao conteúdo trabalhado em sala, experimentando recursos e comandos

direcionados as práticas básicas de programação.

A continuação do encontro acima foi intitulada “Programação, Transportes e

Mobilidade Urbana”, que objetivou, a partir do uso de programação digital, refletir sobre

conceitos relacionados à Mobilidade Urbana. Nesse sentido, as crianças foram sensibilizadas

a discutir sobre o tema, a partir da animação “A ilha”8, que conta a história de um rapaz preso

em um canteiro, enquanto milhões de carros passam sem parar. A animação utiliza-se de uma

metáfora para discutir sobre o direito de ir e vir do pedestre e a vulnerabilidade daqueles que

na nossa sociedade não são sujeitos “motorizados”.

Figura 2 – Fotos dos encontros formativos

Fonte: Equipe K-Lab

7 O Scratch Jr é uma linguagem de programação para crianças com o intuito de promover a prática da

programação, através de uma atividade essencialmente visual e interativa. Esta linguagem foi desenvolvida para

crianças dos 5 aos 7 anos e está disponível para iPad e Android. Disponível em: https://www.scratchjr.org/ 8 Direção: Alê Camargo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=99Dka-twHXI

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Os alunos ficaram surpresos com a animação e apresentaram diversos fatos

relacionados ao seu contexto, dando exemplos de como é difícil caminhar pelas calçadas do

bairro, pelo fato dos carros estacionarem no lugar de direito do pedestre, a não parada dos

carros quando os mesmos esperam para atravessar a rua, entre outros. Após essa parte, falou-

se sobre o papel das tecnologias em relação à mobilidade urbana e aos meios de transporte

atuais, principalmente no que diz respeito aos modos de vida das grandes cidades. Em

seguida, a turma foi organizada em duplas e solicitou-se que os alunos, a partir da utilização

de fichas, escrevessem frases contendo soluções para os problemas de mobilidade.

Por conseguinte, os alunos elaboraram pequenas cenas no ScrachJr a partir das frases

criadas sobre Mobilidade Urbana. Por fim, os alunos apresentaram as cenas criadas, narrando

os problemas evidenciados e as soluções sugeridas a partir da temática proposta.

A relação entre as discussões promovidas nas duas oficinas permitiu perceber e

também construir noções de orientação e localização, assim como desenvolver o raciocínio

lógico. Em consonância a isso, diferentes temas foram trabalhados como meios de transporte

coletivo e suas condições de uso, o direito e as condições de ir e vir, assim como refletir sobre

problemas evidenciados na cidade e que acarretam diretamente nos modos de vida de cada

sujeito.

Outro encontro a ser destacado, é denominado “A cidade que tenho... a cidade que

desejo” objetivou compreender os diferentes aspectos que envolvem os problemas urbanos,

utilizando métodos, estratégias e elementos de jogos para tratar de situações do cotidiano.

Esse objetivo foi delineado a partir de uma demanda da escola de discutir questões

relacionadas ao movimento citadino e as diversas mazelas imbuídas no ato de viver em um

grande centro urbano como Salvador. Para se aproximar desse desejo, o encontro começou

com uma sensibilização, utilizando um vídeo, sobre o processo de urbanização e o surgimento

dos problemas presentes em uma cidade. A turma foi organizada em pequenos grupos que

participariam de um jogo, onde os acertos, dentro do tempo estipulado, seriam premiados com

pontos já estabelecidos. O primeiro desafio foi indicar qual problema urbano estava sendo

representado pelas imagens apresentadas. O segundo desafio foi indicar a solução para os

problemas apresentados e sorteados para cada equipe. O terceiro e último desafio foi desenhar

um painel representando o problema urbano delineado em um dos clips musicais

apresentados: Calibre9 – Banda Paralamas do Sucesso/ Alagados10 – Gilberto Gil/ Firme e

9 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Eh315YNPVpE

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Forte11 – Banda Psirico/ Xote Ecológico12 – Luíz Gonzaga. No final do encontro, a equipe

que mais pontuou, recebeu um prêmio. Por fim, discutiu-se sobre as atividades, detectando

problemas e soluções e refletindo sobre o papel de cada um na transformação desses

aglomerados urbanos.

Com esse encontro foi possível trabalhar os conteúdos acima especificados por

intermédio de técnicas de gamificação, da exploração da linguagem escrita, imagética e

musical, além do confronto de fatos apresentados com a realidade vivenciada pelos

participantes.

As práticas cotidianas, que aparecem implícita e explicitamente nos encontros e

temáticas tratadas, demonstram que no movimento de caminhar, observar e criar laços e viver

um determinado contexto, possibilita aos sujeitos a experimentação do mundo de forma plena,

traçada pelas marcas do vivido. Plena, porque o cotidiano permite hesitar a fragmentação e

instituir formas outras de ver o mundo, seja ele sentido e experimentado pela vivência (física,

tateável, simbólica) ou pelos tantos meios tecnológicos e digitais disponíveis (virtual, tácita,

simbólica).

É preciso que haja concepções teórico-metodológicas capazes de permitir o

reconhecimento do saber do outro, a capacidade de ler o mundo da vida e

reconhecer a sua dinamicidade, superando o que está posto como verdade absoluta.

É preciso trabalhar com a possibilidade de encontrar formas de compreender o

mundo, produzindo um conhecimento que é legítimo. (CALLAI, 2005, p. 231).

Essa constatação corrobora com Callai (2005) sobre a necessidade de concepções

teórico-metodológicas que enfatizem os saberes e práticas do cotidiano, possibilitando que os

sujeitos pensem e atuem sobre a realidade de forma crítica. Trabalhar o cotidiano, as práticas

do vivido e os espaços de relação e pertencimento, é também caminhar sob égide das

dinâmicas socioespaciais.

Considerações Finais

Com base no que foi exposto nesse trabalho, é possível tecer algumas considerações,

deixando claro que as mesmas não são conclusivas, afinal, a pesquisa aqui expressa está em

contínua renovação.

10 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cfi9K97ulmE 11 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=61zPgI5uPds 12 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iChbnR4pOB8

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As ações do Projeto K-Lab, em especial, as articulações teóricas e metodológicas

possibilitadas pelo K-LabEduc vem permitindo a maturação de elementos essenciais a um

Grupo de Pesquisa, são elas: imbricamento entre os projetos de pesquisa envolvidos, a partir

da conversação, troca e correspondência entre pesquisadores; relação entre objeto estudado,

técnicas empreendidas, métodos aplicados e produtos gerados e; experimentação de contextos

sócio-culturais diversos que enriquecem e ampliam o olhar de todos os sujeitos envolvidos no

processo.

No que concerne os processos formativos e as práticas e parcerias entre Universidade

e Educação Básica, este artigo procurou demonstrar parte dessas ações, em especial os

encontros formativos com os estudantes, os quais envolveram temáticas que passaram pela

valorização dos espaços vividos por esses sujeitos, identificação de problemas sociais, assim

como as possíveis soluções traçadas pelos cidadãos, a partir de técnicas de gamificação,

noções básicas de lógica, letramento, entre outros. Com isso, existe a percepção de ter

contribuído para reflexões que perpassam pelas Tecnologias, mas principalmente, na

utilização e redimensionamento das mesmas à valorização do saber cotidiano como categoria

basilar para construção de estratégias ao entendimento das dinâmicas socioespaciais.

Em relação à progressão do laboratório, vale pontuar que, como espaço de

experimentação e produção, o K-Lab necessita ampliar seus horizontes ao desenvolvimento

de outros produtos e processos educacionais e tecnológicos direcionados aos alunos da

Educação Básica. Essa percepção fortifica-se a cada encontro, onde são discutidos os acertos

e erros, fissuras e potencialidades apontadas ou identificadas pelo movimento coletivo. Nesse

sentido, a colaboração é elemento si ne qua non à proposta do grupo, que presa por

conhecimentos, saberes e experiências constituídos mediante a soma de singularidades na

busca pela criação plural.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Fundamental.

Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Brasília: MEC / SEF, 2001, p.

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CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino

fundamental. Caderno Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, 2005. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n66/a06v2566.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2015

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CARLOS, A. F. A. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: USP, 1994.

_______ O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007.

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SANTOS, Milton et al. O espaço em questão. São Paulo: Marco Zero, 1988.

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Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.