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1 Arquivo Público do Estado de São Paulo Oficina: O(s) Uso(s) de Documentos de Arquivo na Sala de Aula (2013) Evelyn Ariane Lauro Universidade federal de São Paulo (UNIFESP) - História SEQUÊNCIA DIDÁTICA Tema: O papel social da mulher nos Anos Dourados da economia capitalista. Justificativa: A questão base para a atividade é: Qual o papel da mulher na sociedade brasileira dos anos 50/60 e o quanto se pode notar de permanência e ruptura na sociedade brasileira atual? Enquanto sexo diz respeito aos aspectos biológicos dos indivíduos, de acordo com doutor em sociologia Paulo Silvino Ribeiro, “o gênero, (ou seja, a feminilidade ou masculinidade enquanto comportamentos e identidade) trata-se de uma construção cultural, fruto da vida em sociedade”. Neste sentido, as diferenças sexuais foram valorizadas pelos mais diferentes povos em todo o mundo fazendo com que mulheres e homens desempenhassem papéis sociais e gerassem expectativas comportamentais muito diferentes entre si ao longo de boa parte da história. O casamento (conquista e manutenção) foi o paradigma de sucesso da mulher ocidental, base de fundamentação de seu papel social: A edificação do lar. Com a ascensão da sociedade industrial, a mulher expande seu espaço social para além do âmbito doméstico e, desde então, têm conquistado maior autonomia, liberdade de expressão, emancipação do corpo. Torna-se, cada vez mais, agente ativo dos processos históricos. Contudo, é preciso se pensar que mesmo com todas essas mudanças no papel da mulher, ainda não há igualdade de salários, mesmo que desempenhem as mesmas funções profissionais, ainda havendo o que se chama de preconceito de gênero. Além disso, a mulher ainda

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Arquivo Público do Estado de São Paulo

Oficina: O(s) Uso(s) de Documentos de Arquivo na Sala de Aula (2013)

Evelyn Ariane Lauro

Universidade federal de São Paulo (UNIFESP) - História

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Tema: O papel social da mulher nos Anos Dourados da economia capitalista.

Justificativa: A questão base para a atividade é: Qual o papel da mulher na

sociedade brasileira dos anos 50/60 e o quanto se pode notar de permanência e

ruptura na sociedade brasileira atual?

Enquanto sexo diz respeito aos aspectos biológicos dos indivíduos, de acordo

com doutor em sociologia Paulo Silvino Ribeiro, “o gênero, (ou seja, a feminilidade

ou masculinidade enquanto comportamentos e identidade) trata-se de uma

construção cultural, fruto da vida em sociedade”. Neste sentido, as diferenças

sexuais foram valorizadas pelos mais diferentes povos em todo o mundo fazendo

com que mulheres e homens desempenhassem papéis sociais e gerassem

expectativas comportamentais muito diferentes entre si ao longo de boa parte da

história.

O casamento (conquista e manutenção) foi o paradigma de sucesso da

mulher ocidental, base de fundamentação de seu papel social: A edificação do lar.

Com a ascensão da sociedade industrial, a mulher expande seu espaço social para

além do âmbito doméstico e, desde então, têm conquistado maior autonomia,

liberdade de expressão, emancipação do corpo. Torna-se, cada vez mais, agente

ativo dos processos históricos.

Contudo, é preciso se pensar que mesmo com todas essas mudanças

no papel da mulher, ainda não há igualdade de salários, mesmo que

desempenhem as mesmas funções profissionais, ainda havendo o que

se chama de preconceito de gênero. Além disso, a mulher ainda

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acaba por acumular algumas funções domésticas assimiladas

culturalmente como se fossem sua obrigação e não do homem –

funções de dona de casa. Da mesma forma, infelizmente a questão da

violência contra a mulher ainda é um dos problemas a serem

superados, embora a ‘Lei Maria da Penha’ signifique um avanço na

luta pela defesa da integridade da mulher brasileira. (RIBEIRO, Paulo

Silvino. O papel social da Mulher. Disponível em:

http://www.brasilescola.com/sociologia/o-papel-mulher-na-

sociedade.htm).

As revistas femininas do período (décadas de 1950, 60 e 70) deixam entrever

os conflitos sociais oriundos deste processo de emancipação. Enquanto admitem a

mudança comportamental, como por exemplo, tratando com naturalidade o cotidiano

da mulher no mercado de trabalho, fazem um agressivo esforço discursivo para a

reafirmação do papel feminino na edificação do lar e na manutenção da estabilidade

emocional masculina, tão necessários para o equilíbrio da vida em sociedade.

Material que, contraposto com as revistas femininas hoje em circulação, nos oferece

um parâmetro interpretativo quanto às permanências e rupturas práticas e

discursivas entre a sociedade do tempo recortado e a do tempo presente.

Discutir o papel social da mulher na sala de aula é suscitar reflexão acerca

das possibilidades de mudanças que esperamos e estimular o debate público desta

questão que é ainda muito sensível em nossa sociedade, além de oferecer a

possibilidade de os alunos pensarem a história de forma mais integrada com suas

realidades do que as propostas pela história das grandes estruturas.

Objetivo geral: Analisar o papel social das mulheres por meio da representação

produzida e/ou sustentada pelas revistas para o público feminino no contexto dos

Anos Dourados contrapondo-as com as revistas femininas hoje em circulação.

Objetivos específicos:

• Propor contato com fontes históricas diversificadas, assim como com suas

metodologias de trabalho;

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• Estimular análise crítica dos fenômenos sociais propostos;

• Aproximar o problema histórico proposto ao cotidiano do público escolar;

• Estimular a aproximação entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento

produzido em sala de aula do ensino médio;

• Estimular a leitura crítica dos produtos da imprensa e do mercado editorial

moderno.

Componente Curricular: A República Liberal (1945 - 1964)

Eixo temático Cidadania: Gênero, Diferenças e Desigualdades

Conteúdo: Ainda que parte do componente curricular maior (A República Liberal -

1945 - 1964), o problema apresentado se enquadra num recorte temporal mais

delimitado, os reflexos da “Era de Ouro do Capitalismo Mundial” (entre os anos de

1947 e 1973, na perspectiva de Eric Hobsbawm) na economia brasileira, marcada

por projetos de desenvolvimento econômico e industrial, sobretudo sob o modelo

Nacional-Desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek (1956 – 1961).

Ano/ Série: 3º ano do ensino médio

Tempo previsto: 6 aulas (2 aulas expositivas, 3 aulas práticas e 1 avaliativa)

Desenvolvimento e conteúdo das atividades:

Aulas 1 e 2: Expositivas

Objetivo: Apresentar e discutir, com o apoio do livro didático, o processo de

desenvolvimento industrial ocorrido durante a implementação do Plano de Metas do

governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) e a relação com o contexto

político e econômico mundial, chamando a atenção para a importância do ambiente

externo para a compreensão a dinâmica da economia nacional a partir dos seguintes

temas:

• Anos Dourado (O contexto pós- guerra) – Definição;

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• O Plano de Metas (apresentação);

• A importância do capital estrangeiro;

• Comparação entre o modelo de desenvolvimento de Getúlio Vargas e

de JK

• Apresentação dos índices de inflação e concentração econômica

• Desequilíbrios regionais no Brasil

• A consolidação da Indústria

Aulas 3: Prática

Objetivo: Mostrar, com apoio do livro didático e de fontes primárias, que a

percepção coletiva de “anos dourados” extrapola os aspectos políticos e

econômicos, mas é acompanhado de uma efervescência no campo das artes, da

cultura e do esporte. Como fruto, temos a Bossa Nova, a primeira vitória da seleção

de futebol brasileira numa Copa do Mundo, a inauguração da nova capital do país, a

alteração drástica dos hábitos de consumo e a luta da mulher por novos espaços

sociais.

Tema: Sociedade e Cultura nos Anos Dourados

Primeira parte da aula: Deve ser apresentado aos alunos (em duplas ou em grupos

de até quatro indivíduos) os documentos 1 e 2, e solicitar que tendem identificar:

A) A qual tipo documental pertencem;

B) Quando foram produzidos;

C) O que têm em comum entre si;

D) Como podem ser relacionados com o tema da aula passada;

E) E porque este tipo de documento nos serve como vestígio material de

tempos passados.

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Objetivos esperados: Espera-se que os alunos identifiquem os documentos como

material publicitário voltado para o público feminino; que os relacionem com os

novos hábitos de consumo (ou simplesmente com o aumento do consumo) de bens

e práticas culturais frutos das trocas de bens industriais e fluxos financeiros e

percebam que não só documentos oficiais servem de fonte para a compreensão do

passado.

Segunda parte da aula: Deve-se discutir em grupo os documentos apresentados de

acordo com o que foi proposto acima, inclusive trabalhar a importância do uso de

fontes documentais para a produção do conhecimento em História e, com apoio do

livro didático, expor o conteúdo acerca das mudanças sociais e culturais da

sociedade no período em questão.

Deve-se sugerir que discutam acerca do padrão publicitário dos documentos

apresentados e o que é corrente nos anúncios veiculados atualmente, com especial

atenção à linguagem e à representação da mulher.

Documento 1: Recorte da Revista Capricho número 90, de agosto de 1959.Acervo: Municipal, Biblioteca Mário de Andrade.

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Documento 2: Recorte da Revista Capricho número 21, de novembro de 1953.Acervo: Municipal, Biblioteca Mário de Andrade.

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Aula 4 : Prática

Objetivo: problematizar o papel da mulher na sociedade moderna por meio da

análise do discurso “sucesso/ fracasso” em revistas voltadas ao público feminino dos

anos de 1950/ 60 e atuais, apresentando olhar próximo ao cotidiano dos alunos;

discutindo a relação passado e futuro a partir dos temas:

• Casamento/ namoro

• Participação no Mercado de Trabalho

• Sexualidade

Primeira parte da aula: Deve ser apresentado aos alunos (em duplas ou em grupos

de até quatro indivíduos) os documentos 3 e 4 e os excertos do texto de Carla BASSANEZI - que seguem abaixo do documento 4, na página 8 - e, com base nas

aulas anteriores e no texto “O papel das mulheres na sociedade”, solicitar que eles

identifiquem:

A) Qual o canal de veiculação das ideias;

B) De quem para quem o material foi escrito;

C) Quando foi escrito;

D) Qual o tipo de linguagem;

E) O que podemos concluir a partir desses documentos;

Objetivos esperados: Espera-se que os alunos percebam que o material é

produzido e destinado para a classe média com o objetivo de agir sobre o

comportamento feminino dessa camada da sociedade.

Segunda parte da aula: Deve-se discutir em grupo os documentos apresentados a

partir do proposto acima e, com apoio da referência bibliográfica proposta para a

aula, expor o conteúdo acerca do papel social da mulher na sociedade do período

em questão, ressaltando as mudanças comportamentais e as diferenças entre as

diversas camadas sociais.

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Documento 4: Recorte da Revista Capricho número 129, de novembro de 1962.Acervo: Estadual, Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Excertos do texto: Carla BASSANEZI. As mulheres dos anos dourados. In: Mary Del PRIORE (org.). História das Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 2004, p. 607 – 639

• A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar a uma mulher que não tenha resistido a experiências pré-núpciais, mostrando que era perfeita e única, exatamente como ele a idealizara. (Revista Claudia, 1962)

• Mesmo que um homem consiga divertir-se com sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu. (Revista Querida, 1954)

• É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957)

• Se dá preferência a modas e modos provocantes, perde o direito de queixar-se se o rapaz quiser avançar o sinal” (BASSANEZI, 2002: 612)

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Aula 5: Prática

Primeira parte da aula: Deve-se apresentar aos alunos os documentos 5, 6, 7 e 8 , os dados que seguem abaixo acerca das faixas etárias dos públicos-alvo das

revistas apresentadas e, a partir de todo o proposto anteriormente pedir que

identifiquem:

• A qual tipo documental pertencem;

• Para qual camada da sociedade foram produzidos;

• Qual a temática apresentada nos documentos;

• O têm em comum com os demais documentos apresentados;

• O que os documentos nos dizem sobre a sociedade contemporânea.

Objetivo esperado: Espera-se que os alunos identifiquem a continuidade na

temática trabalhada e percebam que temas históricos não se descolam do período

em que estão vivendo, que problemas sociais, como o então trabalhado, percorrem

períodos, por vezes, longos e que a produção documental contemporânea pode

fazer parte do processo de compreensão da história.

Segunda parte da aula: Debater coletivamente as conclusões acerca da proposta

trabalhada nas últimas cinco aulas a fim de identificar a assimilação do

conhecimento, a identificação dos alunos com o tema, suscitar o hábito do debate

crítico e avaliar a proposta e sua aplicação.

OBS: Faixa etária do público-alvo de cada uma das revistas apresentadas

• ATREVIDA: Público Alvo: 15 a 19 anos http://www.escala.com.br/midiakit/detalhe.asp?revista=4

• ATREVIDINHA: Público Alvo: 07 a 12 anos http://www.escala.com.br/midiakit/detalhe.asp?revista=5

• CAPRICHO DÉCADAS DE 50, 60 E 70:Público Alvo: 15 a 25

CAPRICHO A PARTIR DE 70: Público Alvo: 11 a 19 anos capricho.abril.com.br/

• CLÁUDIA hoje: Público Alvo: Jovens adultas claudia.abril.com.br/

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Documento 5: Recortes da Revista Atrevida, de novembro de 2012.

Acervo: Pessoal

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Documento 6: Recortes da Revista Atrevida, de novembro de 2012.

Acervo: Pessoal

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Documento 7: Recortes da Revista Atrevida, de novembro de 2012.

Acervo: Pessoal

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Documento 8: Revista Cláudia online, 09 de março de 2012.

Disponível em: http://claudia.abril.com.br/materia/mulheres-bem-sucedidas-tem-

menos-chances-de-ser-felizes-no-amor/?p=/amor-e-sexo/relacionamentos

As garotas superpoderosas andam se estranhando com as princesas cor-de-rosa, como diz a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As superpoderosas e as princesas são duas facetas das mulheres que hoje têm mais de 30 anos, alto nível de escolaridade, realização profissional – e também o ideal de amar ou casar com um cara que seja bacana como elas. Bacana, no senso comum, é o homem tão ou mais estudado e bem-sucedido que elas. Essas são as mulheres que, instaladas hoje em patamares mais elevados da pirâmide social, olham para o lado e para cima e se dão conta de que suas opções de encontro amoroso dentro desse

parâmetro se reduziram muito. Sim, porque no topo cabe menos gente. A solução, têm dito estatísticos e outros especialistas, é casar “para baixo”. Nunca foi fácil encontrar a tampa da panela, e provavelmente os novos tempos trouxeram mais complexidade à questão. Homens e mulheres mudaram, a sociedade mudou. Mas será que já não partimos em desvantagem quando usamos a figura da pirâmide, tão adequada para alegorias socioeconômicas, também para ilustrar as emoções? E por que as garotas superpoderosas de hoje ainda guardam essa princesa cor-de-rosa dentro de si? “Em outros países, a mulher investe um período só na carreira, outro no casamento, outro na função de mãe. Aqui, ninguém quer subtrair nada”, observa Mirian. “As mulheres não veem problema em acumular desejos, mas aí enfrentam um conflito muito grande.” Recentemente, um cruzamento de informações do IBGE mostrou que o número de universitárias livres supera em 54% a quantidade de homens na mesma situação – nos grupos menos instruídos, a diferença não passa de 10%. Espalhou-se logo a conclusão de que diploma, veja só, é atestado de fracasso afetivo para o time feminino.

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Aula 6: Avaliação.

Propor que os alunos, individualmente, escrevam uma redação dissertativa, a ser

apresentada no fim da aula, a partir do conteúdo trabalhado nas cinco aulas que

compõem esta sequência didática, tendo como base suas experiências pessoais, os

trechos sublinhados do texto em anexo (O papel da mulher na sociedade) e as

seguintes questões (que não devem ser respondidas literalmente, mas tidas, ao todo

ou parte delas, como norteadores da reflexão):

1. Percebendo as diferenças na atuação social da mulher dos anos 50 até os

dias atuais, podemos dizer que o papel estritamente doméstico atribuído a ela trata-

se de uma construção cultural que vem se alterando ao longo da história? Justifique!

O que mais podemos identificar como exigências historicamente construídas para a

mulher?

2. Qual o papel da industrialização e do desenvolvimento econômico do Brasil

no processo de emancipação da mulher?

3. É possível, ainda hoje, dizer que o lugar da mulher é no lar? Por que é

importante valorizar a participação da mulher no mercado de trabalho?

4. Como os homens contribuem e como deveriam contribuir na divisão da

jornada doméstica?

5. Se a mulher alcançou a liberdade para a carreira profissional, o que a é

possível identificar de empecilho para sua emancipação sexual?

6. Analisando os documentos propostos, o que houve de rupturas e de

permanências no discurso dos meios de circulação de ideias?

7. Podemos acreditar que a permanências de ideias “antiquadas” com relação

ao papel da mulher pode ser responsável pela violência por elas sofrida hoje? Como

isso pode ser mudado?

8. Apresente uma breve conclusão acerca do que foi discutido.

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Anexo

O papel da mulher na sociedade.

Disponível em: <http://www.brasilescola.com/sociologia/o-papel-mulher-na-

sociedade.htm>. Acesso em 28 de abril de 20013.

A primeira mulher a assumir o cargo mais importante da República

Muito recentemente, a propaganda de televisão de uma grande marca mundial de

automóveis tentava vender seu produto ilustrando a mudança do papel social da mulher.

Uma jovem com trajes de executiva chegava em casa após um dia de trabalho e

cumprimentava seu marido, o qual estava ocupado preparando a refeição da família. Para

surpresa desse homem, que “comandava” a cozinha e cuidava de suas filhas, sua esposa o

presentearia com um carro novo. A partir dessa cena, rapidamente aqui descrita, pode surgir

a seguinte pergunta: esse comercial faria sentido décadas atrás? Certamente que não.

Contudo, essa resposta carece de uma explicação menos simplista, e requer uma maior

compreensão do que se chama de questões de gênero e papéis sociais.

Mulheres e homens ao longo de boa parte da história da humanidade desempenhavam

papéis sociais muito diferentes. Mas do que se trata o papel social? Segundo a Sociologia,

trata-se das funções e atividades exercidas pelo indivíduo em sociedade, principalmente ao

desempenhar suas relações sociais ao viver em grupo. A vida social pressupõe expectativas

de comportamentos entre os indivíduos, e dos indivíduos consigo mesmos. Essas funções e

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esses padrões comportamentais variam conforme diversos fatores, como classe social,

posição na divisão social do trabalho, grau de instrução, credo religioso e, principalmente,

segundo o sexo. Dessa forma, as questões de gênero dizem respeito às relações sociais e

aos papéis sociais desempenhados conforme o sexo do indivíduo, sendo o papel da mulher

o mais estudado e discutido dentro dessa temática, haja vista a desigualdade sexual

existente com prejuízo para a figura feminina. Assim, enquanto o sexo da pessoa está

ligado ao aspecto biológico, o gênero (ou seja, a feminilidade ou masculinidade enquanto

comportamentos e identidade) trata-se de uma construção cultural, fruto da vida em

sociedade. Em outras palavras, as coisas de menino e de menina, de homem e de mulher,

podem variar temporal e historicamente, de cultura em cultura, conforme convenções

elaboradas socialmente.

As diferenças sexuais sempre foram valorizadas ao longo dos séculos pelos mais diferentes

povos em todo o mundo. Algumas culturas – como a ocidental – associaram a figura

feminina ao pecado e à corrupção do homem, como pode ser visto na tradição judaico-

cristã. Da mesma forma, a figura feminina foi também associada à ideia de uma fragilidade

maior que a colocasse em uma situação de total dependência da figura masculina, seja do

pai, do irmão, ou do marido, dando origem aos moldes de uma cultura patriarcalista e

machista. Assim, esse modelo sugeria a tutela constante das mulheres ao longo de suas

vidas pelos homens, antes e depois do matrimônio.

Aliás, o casamento enquanto ritual marcaria a origem de uma nova família na qual a mulher

assumira o papel de mãe, passando das “mãos” de seu pai para as de seu noivo, como se

vê no ato da cerimônia.

Mas como aqui já se abordou, se as noções de feminilidade e masculinidade podem mudar

ao longo da história conforme as transformações sociais ocorridas, isto foi o que aconteceu

na cultura ocidental, berço do modo capitalista de produção. Com o surgimento da

sociedade industrial, a mulher assume uma posição como operária nas fábricas e indústrias,

deixando o espaço doméstico como único locus de seu trabalho diário. Se outrora a mulher

deveria apenas servir ao marido e aos filhos nos afazeres domésticos, ou apenas se

limitando às tarefas no campo – no caso das camponesas europeias, a Revolução Industrial

traria uma nova realidade econômica que a levaria ao trabalho junto às máquinas de tear.

Obviamente, não foram poucos os problemas enfrentados pelas mulheres, principalmente

ao se considerar o contexto hostil de um regime de trabalho exaustivo no início do processo

de industrialização e formação dos grandes centros urbanos.

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Após um longo período de opressão e discriminação, a passagem do século XIX para o XX

ficou marcada pelo recrudescimento do movimento feminista, o qual ganharia voz e

representatividade política mais tarde em todo o mundo na luta pelos direitos das mulheres,

dentre eles o direito ao voto. Essa luta pela cidadania não seria fácil, arrastando-se por

anos. Prova disso está no fato de que a participação do voto feminino é um fenômeno

também recente para a história do Brasil. Embora a proclamação da República tenha

ocorrido em 1889, foi apenas em 1932 que as mulheres brasileiras puderam votar

efetivamente. Esta restrição ao voto e à participação feminina no Brasil seriam

consequência do predomínio de uma organização social patriarcal, na qual a figura feminina

estava em segundo plano. Mesmo com alguns avanços, ainda no início da segunda metade

do século XX, as mulheres sofriam as consequências do preconceito e do status de

inferioridade. Aquele modelo de família norte-americana estava em seu auge, em que a

figura feminina era imaginada de avental e com bobs nos cabelos, no meio da cozinha,

envolta por liquidificador, batedeira, fogão, entre outros utensílios domésticos. Seria apenas

no transcorrer das décadas de 50, 60 e 70 que o mundo assistiria mudanças fundamentais

no papel social da mulher, mudanças estas significativas para os dias de hoje. O movimento

contracultural encabeçado por jovens (a exemplo do movimento Hippie) transgressores dos

padrões culturais ocidentais outrora predominantes defendiam uma revolução e liberação

sexual, quebrando tabus para o sexo feminino, não apenas em relação à sexualidade, mas

também no que dizia respeito ao divórcio.

Como se sabe, o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção requer cada vez

menos o trabalho braçal, necessitando-se cada vez mais de trabalho intelectual.

Consequentemente, criam-se condições cada vez mais favoráveis para a inserção do

trabalho da mulher nos mais diferentes ramos de atividade. Ao estudar cada vez mais, as

mulheres se preparam para assumir não apenas outras funções no mercado de trabalho,

mas sim para assumir aquelas de comando, liderança, cargos em que antes predominavam

o terno e a gravata. Essa guinada em seu papel social reflete não apenas nas relações de

trabalhos em si, mas fundamentalmente nas relações sociais com os homens de maneira

em geral. Isto significa que mudanças no papel da mulher requerem mudanças no papel do

homem, o qual passa por uma crise de identidade ao ter de dividir um espaço no qual

outrora reinava absoluto.

Mulheres com maior grau de escolaridade diminuem as taxas de natalidade (têm menos

filhos), casam-se com idades mais avançadas, possuem maior expectativa de vida e podem

assumir o comando da família como no exemplo da propaganda de automóvel citada.

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Obviamente, vale dizer que as aspirações femininas variam conforme seu nível de

esclarecimento, mas também conforme a cultura em que a mulher está inserida.

Contudo, é preciso se pensar que mesmo com todas essas mudanças no papel da mulher,

ainda não há igualdade de salários, mesmo que desempenhem as mesmas funções

profissionais, ainda havendo o que se chama de preconceito de gênero. Além disso, a

mulher ainda acaba por acumular algumas funções domésticas assimiladas culturalmente

como se fossem sua obrigação e não do homem – funções de dona de casa. Da mesma

forma, infelizmente a questão da violência contra a mulher ainda é um dos problemas a

serem superados, embora a “Lei Maria da Penha” signifique um avanço na luta pela defesa

da integridade da mulher brasileira.

Mas a pergunta principal vem à tona: qual o papel da mulher na sociedade atual? Pode-se

afirmar que a mulher de hoje tem uma maior autonomia, liberdade de expressão, bem como

emancipou seu corpo, suas ideias e posicionamentos outrora sufocados. Em outras

palavras, a mulher do século XXI deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar diferente

na sociedade, com novas liberdades, possibilidades e responsabilidades, dando voz ativa a

seu senso crítico. Deixou-se de acreditar numa inferioridade natural da mulher diante da

figura masculina nos mais diferentes âmbitos da vida social, inferioridade esta aceita e

assumida muitas vezes mesmo por algumas mulheres.

Hoje as mulheres não ficam apenas restritas ao lar (como donas de casa), mas comandam

escolas, universidades, empresas, cidades e, até mesmo, países, a exemplo da presidenta

Dilma Roussef, primeira mulher a assumir o cargo mais importante da República. Dessa

forma, se por um lado a inversão dos papéis sociais ilustrada pela campanha publicitária

(citada no início do texto) de um automóvel está em dissonância com um passado não tão

distante, por outro lado mostra os sinais de um novo tempo que já se iniciou. Contudo,

avanços à parte, é preciso que se diga que as questões de gênero no Brasil e no mundo

devem sempre estar na pauta das discussões da sociedade civil e do Estado, dada a

importância da defesa dos direitos e da igualdade entre os indivíduos na construção de um

mundo mais justo.

Paulo Silvino Ribeiro - Colaborador Brasil Escola

Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Est. Paulista "Júlio de Mesquita Filho"

Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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PRIORE (org.). História das Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 2004, p. 607 –

639

• CAIMI, Flávia Eloisa. Fontes históricas na sala de aula: uma

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