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! "#$!%% GESTÃO DE OPERAÇÕES EM SERVIÇOS DE SAÚDE Antônio Augusto Gonçalves MADE/INCA [email protected] Mário Jorge Ferreira de Oliveira Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE [email protected] Altino Ribeiro Leitão INCA [email protected] Resumo A gestão de operações em serviços de saúde desempenha um papel estratégico pela necessidade de um acompanhamento rigoroso na utilização de recursos, que além de limitados são de alto custo. Tradicionalmente as organizações de saúde apresentam seu desempenho através de indicadores como: número de consultas, cirurgias, internações. Estes indicadores não explicitam uma das maiores preocupações da sociedade nesta área: As filas de atendimento. O objetivo desse trabalho é apresentar uma abordagem inovadora de gestão, agregando conceitos da teoria das restrições na identificação de gargalos no fluxo de tratamento e da simulação computacional, propondo redução das filas de atendimento. Palavras Chave: Gestão de Operações, Serviços de Saúde, Teoria das Restrições, Simulação 1 Introdução Os serviços representam um importante papel na economia. Este setor tem se destacado cada vez mais em países que, outrora, baseavam fortemente suas atividades produtivas na indústria manufatureira. Este fato tem causado uma verdadeira revolução em muitas organizações, que enfrentam novos desafios para se posicionar no mercado. Nos países desenvolvidos o setor de serviços é o segmento que mais cresce. No Brasil, as estatísticas não são diferentes do cenário mundial, conforme é demonstrado no gráfico da figura 1, com uma tendência que aponta a alocação de mais de 60% da população no setor.

Art03. Gestão de Operações Em Serviços de Saúde

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    GESTO DE OPERAES EM SERVIOS DE SADE

    Antnio Augusto Gonalves MADE/INCA

    [email protected]

    Mrio Jorge Ferreira de Oliveira Universidade Federal do Rio de Janeiro COPPE

    [email protected]

    Altino Ribeiro Leito INCA

    [email protected]

    Resumo

    A gesto de operaes em servios de sade desempenha um papel estratgico pela necessidade de um acompanhamento rigoroso na utilizao de recursos, que alm de limitados so de alto custo. Tradicionalmente as organizaes de sade apresentam seu desempenho atravs de indicadores como: nmero de consultas, cirurgias, internaes. Estes indicadores no explicitam uma das maiores preocupaes da sociedade nesta rea: As filas de atendimento. O objetivo desse trabalho apresentar uma abordagem inovadora de gesto, agregando conceitos da teoria das restries na identificao de gargalos no fluxo de tratamento e da simulao computacional, propondo reduo das filas de atendimento.

    Palavras Chave: Gesto de Operaes, Servios de Sade, Teoria das Restries, Simulao

    1 Introduo

    Os servios representam um importante papel na economia. Este setor tem se destacado cada vez mais em pases que, outrora, baseavam fortemente suas atividades produtivas na indstria manufatureira. Este fato tem causado uma verdadeira revoluo em muitas organizaes, que enfrentam novos desafios para se posicionar no mercado. Nos pases desenvolvidos o setor de servios o segmento que mais cresce. No Brasil, as estatsticas no so diferentes do cenrio mundial, conforme demonstrado no grfico da figura 1, com uma tendncia que aponta a alocao de mais de 60% da populao no setor.

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    Figura 1 - Evoluo da populao ativa por ramo de atividade

    Fonte: Extrado de GIANESI, I.G.N., CORRA, H. L. Administrao estratgica de servios: operaes para satisfao do cliente. So Paulo: Editora Atlas, 1996.

    A evoluo tecnolgica tem provocado uma verdadeira revoluo na sociedade mundial. A disponibilidade de computadores com grande capacidade de processamento e transmisso de informaes, propicia um terreno frtil s inovaes. Assim como o desenvolvimento de mquinas transformou a economia agrcola em economia industrial, a tecnologia de informao vem transformando a economia industrial em uma economia baseada em servios.

    Existem diversas definies atribudas a servios. Entre os vrios conceitos encontrados na literatura pode-se destacar: Kotler (1997) que define um servio como qualquer atividade que uma parte oferece outra em que o resultado essencialmente intangvel e que no se transforme em propriedade. Na viso de Grnroos (1995), este considera o servio como de natureza parcialmente intangvel, pois se caracteriza como atendimento pessoal e o consumo ocorre no mesmo momento que se estabelece a interao entre clientes e prestadores de servios. Looy, Dierdonck e Gemmel (1998) resumem estes conceitos, definindo servios como toda atividade econmica que alm de no ser tangvel, implica numa interao entre cliente e fornecedor para ser realizada. Para Levit (apud Tboul, 1999) atualmente quase todas as empresas prestam servios, agregados ou no aos produtos, sendo que as dimenses dos servios prestados que definem o grau de importncia dos mesmos para as respectivas empresas.

    Crawford (1994), Fitzsimmons&Fitzsmmons (1998), Grnroos (1995) e Kotler (1998) apresentam em seus estudos as caractersticas pertinentes aos servios, como a intangibilidade, inseparabilidade/simultaneidade, a variabilidade, a perecibilidade e a no transferncia de propriedade. Os mesmos autores consideram que estas caractersticas

    60%

    50%

    40%

    30%

    20%

    10%

    0% 1950 1960 1970 1980 1990

    Agricultura

    Servios

    Indstria

    Outros

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    possuem implicaes que devem ser analisadas detalhadamente. Ressaltam ainda que os servios no podem ser estocados como ocorrem com os produtos. Sendo assim, no possvel produzir um servio em um determinado momento, armazen-lo em uma prateleira, e utiliz-lo quando for conveniente como o caso dos produtos.

    Considerando o servio como uma atividade intangvel e suas caractersticas de inseparabilidade e simultaneidade, o servio no pode ser estocado, e a capacidade instalada que no for utilizada por ausncia de demanda, perdida de forma definitiva. Este fato no causaria problemas se a demanda por servios se mantivesse constante ao longo do tempo. O que se observa uma realidade diferente, com oscilaes na demanda ao longo do dia e nos diferentes dias da semana e do ms. Estas condies reforam a necessidade de uma gesto criteriosa do sistema de servios. Como contribuio ao que foi apresentado at o momento, destaca-se abaixo a tabela 1 que apresenta as principais diferenas entre servios e produtos.

    Tabela 1 - Diferenas entre Servios e Produtos

    SERVIOS PRODUTOS Uma atividade ou processo Um objeto fsico Intangvel Tangvel Produo e Consumo simultneo: consumidores participam do processo

    Separao entre produo e consumo: Clientes geralmente no participam da produo

    Heterogneo Homogneo Perecvel: No pode ser estocado Pode ser estocado

    Fonte: Extrado de LOOY B., DIERDONK R., GEMMEL P. Service management: an integrated approach. London: Financial Times, Pitman publishing,1998.

    Recentemente, observa-se que vrias tcnicas de administrao da produo que eram utilizadas na gesto de manufaturas, esto auxiliando na gesto de servios. Estas tcnicas que so eficientes na gerncia de uma indstria manufatureira, devem agora se adequar s novas necessidades que esto surgindo na gesto de servios, particularmente na rea de sade.

    2 Servios na rea de Sade

    Os servios prestados na rea de sade apresentam seu desempenho atravs de indicadores quantitativos somente com dados de produo tais como: nmero de consultas ambulatoriais, cirurgias, internaes, entre outros. A anlise destes indicadores no capaz de explicitar uma das maiores preocupaes da sociedade nesta rea: a situao das filas de atendimento.

    Quando se analisa a eficincia de um servio prestado na rea de sade pelo seu volume de procedimentos clnicos, o paciente considerado apenas como uma estatstica, cujas necessidades vo sendo atendidas na medida do possvel e da capacidade instalada. Estes indicadores podem trazer ainda uma noo artificial de eficincia de alguns servios mdicos que, apesar de apresentar grandes volumes de produo no conseguem absorver a demanda, criando longas filas de espera.

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    Este quadro tem conseqncias dramticas, j que na maioria das doenas o sucesso do tratamento est vinculado agilidade do atendimento e incio do tratamento. Sendo assim, importante analisar as questes que fazem parte do dia-a-dia das unidades assistenciais. Conhecendo a situao da fila de atendimento, pode-se aplicar o processo de focalizao, identificando os gargalos no fluxo de tratamento e definir um modelo de gesto da capacidade e da demanda dos servios mdicos a serem prestados.

    A avaliao da capacidade instalada existente envolve duas questes principais: Qual a capacidade que deve estar disponvel e como utilizar esta capacidade de maneira mais apropriada demanda oscilante? Entretanto, deve-se considerar muitas outras decises. Conforme observa Correa (1996) importante considerar vrios pontos estratgicos no gerenciamento e utilizao da capacidade instalada. Este pontos so apresentados a seguir:

    Avaliao da capacidade existente e previso de necessidades futuras de aumentar esta capacidade;

    Identificao de diferentes formas de alterar a capacidade a curto, mdio e longo prazo;

    Identificao de diferentes formas de alterar a demanda; Avaliao do impacto da deciso relacionado qualidade do servio a ser prestado; Avaliao econmica, operacional e tecnolgica de alternativas de incrementar a

    capacidade instalada; Seleo de alternativas e critrios para obteno de capacidade adicional.

    Considerando a contribuio de Correa (1996) neste contexto, cabe destacar trs estratgias para gesto da capacidade:

    1. A primeira estratgia a ser considerada a que identifica a necessidade do ajuste da capacidade do sistema demanda, identificando os recursos onde alterao da capacidade vai gerar o maior benefcio. Para tal estratgia, deve-se utilizar o processo de focalizao da teoria das restries, identificando os fatores limitantes do sistema. Os recursos gargalos devem ser explorados com o objetivo de aumentar a capacidade, fazendo com que ocorra uma revoluo em todo o processo.

    2. A segunda estratgia consta em absorver as variaes de demanda utilizando-se de estoques. Esta estratgia limitada pela impossibilidade dos servios serem estocados. Nos servios de sade, os estoques de clientes so materializados atravs das seguintes alternativas: Filas de Atendimento, Sistemas de Reservas (Agendamento) e a diviso da demanda.

    3. A estratgia de influenciar a demanda, no sentido de nivel-la capacidade existente pode ser feita atravs da comunicao com os clientes, servios alternativos, promoes e polticas de preos que ajustem demanda dos picos para os vales, explorando a ociosidade e diminuindo a presso nos picos.

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    Conclui-se, ento, que importante que a gesto de servios para a rea de sade seja contemplada por estratgias que auxiliam na promoo do potencial de incorporao desta gesto para uma diferenciao eficaz dos servios prestados entre as empresas que atuam neste setor.

    3 Teoria das Restries na rea de Sade

    A teoria das restries foi originalmente desenvolvida por Eliyahu Goldratt, um fsico Israelense que publicou os fundamentos no seu livro A Meta. Goldratt introduziu o termo teoria das restries ( Theory of Constraints TOC) em 1987 englobando vrios conceitos como o sistema de gerenciamento de desempenho, os cinco passos para melhoria contnua, refinamentos de conceitos de como gerenciar a produo e outras reas de uma empresa. Como uma teoria de gesto , a TOC foi inicialmente aplicada em sistemas industriais e de negcios, com o objetivo de obter uma melhoria contnua de seus processos.

    Existem duas premissas em sua abordagem. A primeira considerar a empresa como um sistema cujo sucesso ou fracasso depende da forma como diferentes processos interagem entre si. A segunda a de que uma restrio qualquer coisa que limite o sistema de atingir sua meta. Sendo assim, todo sistema deve ter pelo menos uma restrio ou fator limitante. Uma restrio no boa nem m. Ela existe e deve ser gerenciada. De fato, o reconhecimento da existncia de um fator limitante uma excelente oportunidade para a melhoria, pois permite o foco na identificao e gerenciamento das restries.

    Apesar da teoria das restries ter nascido no setor industrial, sua filosofia pode ser aplicada em diferentes tipos de organizao, j existindo aplicaes da TOC na rea de sade. Segundo Burton T. (2001), consultora do instituto Goldratt , as metas de uma organizao de sade de oferecer tratamento com qualidade e a de gerar lucro so complementares e essenciais. Na Inglaterra esta teoria foi aplicada com sucesso na reduo das longas listas de espera que so administradas pelo sistema nacional de sade conforme descrito por Phipps (1999). Na rea do tratamento de cncer, Kershaw (2000) apresenta uma estudo interessante realizado no setor de quimioterapia de uma clnica oncolgica.

    Um dos princpios fundamentais da teoria das restries baseia-se no processo de focalizao buscando a melhoria contnua. Os cinco passos para se aplicar teoria das restries na rea de sade pode ser descrito da seguinte forma:

    1. Identificar as restries do sistema:

    Restries fsicas devem ser imediatamente identificadas como por exemplo o nmero de salas de exames, equipamentos, mdicos, enfermeiras e tcnicos. Quando existe a necessidade de reduo de custos, grande parte das organizaes decidem reduzir o pessoal administrativo preservando o corpo clnico. Esta ao pode resultar em um crescimento de atividades administrativas desempenhadas por mdicos e enfermeiras reduzindo o tempo para atendimento ao paciente.

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    2. Decidir como explorar as restries do sistema

    Se a restrio fsica, o objetivo gerenciar os fatores limitantes tornando o processo o mais eficiente possvel. O gargalo dita a velocidade do fluxo de atendimento dos pacientes. Sendo assim, uma vez identificada a restrio ela deve ser imediatamente explorada e gerenciada.

    3. Subordinar/Sincronizar todos os recursos restantes s decises tomadas acima

    Subordinar e sincronizar todo o restante para as decises tomadas nos dois primeiros passos a etapa mais difcil e geralmente a mais importante. Sem esta subordinao, os planos de explorar a restrio podem no ocorrer, sendo colocados de lado em funo dos problemas e incndios do dia-a-dia.

    4. Elevar a capacidade das restries do sistema

    Em contraste com o passo 2 em que so realizadas aes para aumentar o fluxo de atendimento aos pacientes sem que hajam gastos significativos, este passo requer um investimento nos recursos considerados gargalo. Por exemplo, pode ser necessrio o aumento da equipe mdica ou o crescimento da capacidade instalada com a compra de um novo equipamento.

    5. Se a restrio se deslocar, retornar ao passo 1 e no permitir que a inrcia se instale.

    No se pode permitir que a inrcia se instale e se transforme numa restrio do sistema. O ambiente est em constante mudana.

    A TOC considera qualquer organizao como uma cadeia de processos interdependentes, onde o desempenho de cada processo depende do anterior. O desempenho do sistema depende da estrutura desta cadeia de processos. O que importa o desempenho do sistema e no de processos isolados.

    Quando se analisa o fluxo de tratamento de pacientes em um hospital ou clnica, pode-se observar que o mesmo composto de uma seqncia de atividades tais como, registro, consultas ambulatoriais, exames de diagnstico e condutas teraputicas, que configuram uma seqncia linear de eventos ou uma cadeia de processos interdependentes. Cada elo dessa cadeia possui a habilidade de executar suas respectivas atividades em diferentes taxas mdias de atendimento. importante ressaltar que esta cadeia to forte quanto o seu elo mais fraco que corresponde ao processo com a menor taxa mdia de pacientes atendidos.

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    Kershaw (2000) traduz os princpios da TOC utilizados no setor industrial para o setor do sade atravs da seguinte abordagem: Enquanto no ambiente de manufatura se busca uma maior produtividade, na rea hospitalar a meta atender com qualidade o maior nmero de pacientes. Similarmente, uma restrio pode ser considerada como um dos processos que compem o fluxo de tratamento de pacientes.

    Uma diferena bvia entre o ambiente industrial e o de sade que, diferentemente da manufatura, o que tratado em um hospital o ser humano. Nesta situao, a aplicao dos princpios da teoria das restries acrescida de novos desafios. Um exemplo disto a importncia da satisfao do paciente no processo de tratamento e sua percepo em relao qualidade dos servios prestados. A elevao da capacidade de atendimento de um determinado setor considerado gargalo no pode ser obtida em detrimento da qualidade dos servios prestados.

    Kershaw (2000) destaca as principais diferenas entre a rea de sade e de manufatura nos cinco passos necessrios para se aplicar a teoria das restries em um estudo comparativo demonstrado na tabela 2.

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    Tabela 2 Estudo Comparativo TOC (Manufatura/Sade)

    Fonte: Extrado de KERSHAW R, Using TOC to cure Healthcare problems, Management Accounting Quaterly, Spring, 2000.

    Manufatura Passos (TOC) Sade Existe demanda suficiente para o produto?

    O suprimento de matria prima est adequado?

    A demanda excede a capacidade por mquina ou processo?

    Passo 1

    Identificar as restries do sistema

    Existe um volume de pacientes adequado?

    Existe disponibilidade de medicamentos e material hospitalar?

    O volume de pacientes excede a capacidade de tratamento de cada setor?

    Compra de material baseado nas restries de capacidade instalada.

    Programao da produo baseada nas restries de capacidade.

    Passos 2 e 3

    Decidir como explorar as restries do sistema

    e subordinar os recursos restantes

    Compra de medicamentos e material hospitalar baseado nas restries de capacidade instalada.

    Agendamento de pacientes baseado nas restries de capacidade instalada.

    Reduzir tempo de preparao de mquina.

    Direcionar carga para mquinas/processos sem restrio.

    Eliminar/Reduzir parada de mquinas.

    Aumentar a capacidade do fluxo.

    Aumentar os tempos de produo nos gargalos.

    Contratar/Adquirir novos profissionais/equipamentos.

    Reduzir o tempo de preparo de pacientes.

    Direcionar o tratamento para setores sem restrio quando for possvel.

    Eliminar/reduzir tempos ociosos de recursos gargalos.

    Agilizar o fluxo de tratamento de pacientes.

    Aumentar os tempos de operao nos gargalos.

    Contratar/Adquirir novos profissionais/equipamentos.

    Passo 4

    Elevar a capacidade das restries do sistema

    Passo 5

    Se a restrio se deslocar, retornar ao

    Passo 1

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    4. Estudo de Caso

    Segundo Yin (2005), a metodologia de estudo de caso adequada para pesquisas que procuram respostas a perguntas do tipo como e por que, quando a nfase se encontra em fenmenos inseridos em algum contexto da vida real. O problema que ser estudado neste artigo est relacionado identificao de possveis gargalos no processo de diagnstico e melhor alocao de equipamentos hospitalares, componentes estratgicos da capacidade instalada de um hospital.

    Estes gargalos so considerados como restries meta de oferecer um tratamento gil e com qualidade. Neste contexto, pode-se aplicar a teoria das restries que um conjunto de princpios e ferramentas para resoluo e minimizao de restries existentes para melhoria do desempenho do sistema como um todo.

    No tratamento do cncer, um dos fatores crticos de sucesso o diagnstico precoce. A agilidade no encaminhamento do paciente a adequadas condutas teraputicas, com a reduo do tempo de espera fundamental para o aumento da sobrevida, melhoria da qualidade de vida e chances de cura. Conforme abaixo apresentado, o fluxo de tratamento de pacientes composto de trs grandes processos.

    1. Processo de Triagem: Identifica atravs de exames clnicos se a suspeita de cncer procede ou no.

    2. Processos de Diagnstico: Detectam atravs de uma srie de exames o tipo de cncer, sua localizao e o estgio de evoluo clnica da doena. Somente aps estes exames o tratamento realmente iniciado.

    3. Processos Teraputicos: Encaminhamento do paciente a adequadas condutas teraputicas, que correspondem, em sua grande maioria, a uma cirurgia, aplicaes de radioterapia e quimioterapia.

    A figura 2 demonstra de forma resumida o fluxo de pacientes em um Hospital de Cncer desde sua triagem at o incio de um procedimento teraputico. Quando um paciente encaminhado ao hospital, a primeira etapa possui o objetivo de confirmar atravs de exames clnicos, o diagnstico de cncer. Caso o diagnstico no seja confirmado, o paciente encaminhado para outros hospitais. Caso seja confirmado ou haja a necessidade de exames complementares, o paciente matriculado para que se detecte a localizao e o estgio de evoluo clnica da doena. Aps estes exames, o tratamento realmente iniciado.

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    Figura 2 Fluxo de tratamento do Paciente.

    Fonte: Extrado de GONALVES A.A, Gesto da Capacidade de Atendimento em Hospitais de Cncer, Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ, 2004.

    PROCESSO DE TRATAMENTO DE PACIENTES DOHOSPITAL DO CNCER (Leso Externa)

    Triagem

    Possui Cncer?(Caso INCA)

    Matrcula(Registro)

    Anatomia Patolgica

    ExamesRadiologia,Tomografia

    Patologia

    Radioterapia Quimioterapia Cirurgia CSTO/FPT

    Rede SUS

    Leso Visvel

    Diagnstico

    No

    SIM

    Tem

    po de

    in

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    Ef

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    ata

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    O fluxo do paciente foi analisado de forma detalhada desde a triagem at o incio do tratamento. Atravs do processo de focalizao foi possvel identificar que o departamento de radiologia desempenhava funo estratgica, j que qualquer atraso na rea afetava todo o processo. Os demais exames de patologia clnica e anatomia patolgica apresentavam resultados com intervalos de tempo bem menor que os de imagem, no se constituindo em fatores limitantes no processo de diagnstico. A figura 3 destaca os intervalos de tempo mdio entre a requisio dos exames e a produo de laudos dos setores de patologia clnica, anatomia patolgica e tomografia computadorizada. Os resultados demonstram a necessidade do foco no setor de tomografia computadorizada.

    Figura 3 Intervalo mdio entre a solicitao e o resultado de exames

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    (Dias)

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    ANO 2002

    Tempo Mdio entre a solicitao e o resultado do exame

    Patologia Clnica Anatomia Patolgica Tomografia Computadorizada

    Fonte: Extrado de GONALVES A.A, Gesto da Capacidade de Atendimento em Hospitais de Cncer, Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ, 2004.

    Atravs da aplicao da TOC fica clara a necessidade de aumentar a capacidade diria de execuo de exames, com repercusso imediata na reduo do tempo entre a marcao e sua realizao. O gargalo estava localizado exatamente entre os processos de agendamento e realizao dos exames de imagem, que levavam mais de 30 dias no caso da tomografia computadorizada.

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    Esta reduo do tempo fundamental para agilizar o incio do tratamento sendo foco de um estudo de simulao. Durante a modelagem e a fase de levantamento de dados, pontos importantes devem ser debatidos com as reas envolvidas. A discusso e o entendimento de cada atividade deve tratada de forma integrada com o corpo clnico para que aspectos relevantes do processo seja representado no modelo construdo. O modelo computacional que replica o funcionamento do setor de tomografia da clnica de radiologia apresentado na figura 4.

    Figura 4 Modelo de Simulao

    Fonte: Extrado de GONALVES A.A, Gesto da Capacidade de Atendimento em Hospitais de Cncer, Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ, 2004.

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    5 Resultados Obtidos

    Os resultados da simulao permitiram uma anlise apurada de indicadores estratgicos, tais como a taxa de utilizao dos tomgrafos, quantidade de pacientes atendidos, tempo de permanncia nas filas, fornecendo informaes importantes para a tomada de deciso em cada cenrio analisado. A utilizao desta ferramenta foi importante na identificao antecipada de eventuais problemas na agenda de um dia tpico e que foram solucionados atravs de aes gerenciais tais como a utilizao de roteiros alternativos e de horas extras para atender a demanda.

    O simulador permite que o gestor tenha total domnio do dia-a-dia da clnica, aumentando sua eficincia nas tomadas de deciso relativas programao da agenda. Isto possvel com o uso da simulao na gesto de curto prazo para avaliar cenrios e examinar hipteses de forma gil e precisa, evitando testes na vida real que alm do custo so de alto risco.

    A figura 5 demonstra um estudo comparativo dos intervalos de tempo mdio entre a requisio do exame de tomografia computadorizada e sua realizao nos anos de 2002 e 2003. O intervalo foi reduzido de 30 para 22 dias com uma diminuio de 25% do tempo de espera, comprovando a eficcia do processo de focalizao.

    Figura 5 Tempo mdio entre a solicitao e resultado do exame

    Fonte: Extrado de GONALVES A.A, Gesto da Capacidade de Atendimento em Hospitais de Cncer, Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ, 2004.

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    6 Concluses

    Este trabalho teve como foco alguns dos principais problemas relativos gesto da capacidade de atendimento de hospitais. Em especial aqueles especializados no tratamento do cncer. Foi realizado um estudo detalhado dos conceitos fundamentais relativos ao planejamento da capacidade de servios e as estratgias para sua administrao. Existe uma grande oportunidade para a aplicao dos princpios da teoria das restries (TOC) na rea de sade, principalmente no que se refere ao estudo do fluxo de tratamento de pacientes.

    Esta pesquisa tambm demonstra a possibilidade da utilizao de duas tcnicas de grande potencial e que podem ser implementadas em perfeita sintonia. A TOC na identificao dos fatores limitantes e a simulao computacional para auxiliar no gerenciamento destes gargalos. O modelo de simulao elaborado teve como foco a programao e controle de atividades estratgicas com anlises do tipo se-ento avaliando cenrios e polticas operacionais com o objetivo de reduzir o tempo de espera na fila para a realizao de exames e agilizar o diagnstico.

    A utilizao destas ferramentas possibilita a identificao de eventuais problemas operacionais de um dia tpico em uma rea identificada como gargalo e que pode ser gerenciada seja atravs de aes de curto prazo tais como a utilizao de roteiros alternativos e de horas extras ou de mdio e longo prazo como o aumento da capacidade instalada para atender a demanda.

    O modelo de gesto estratgica desenvolvido pode ser estendido para servios de sade de diferentes especialidades j que todos possuem um fluxo de tratamento de pacientes. As particularidades de cada hospital est exatamente na identificao dos recursos gargalo dentro do seu fluxo especfico.

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