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1 Escola de Artes Marciais Hodory Coordenador ARTES MARCIAIS NAS ESCOLAS Taekwondo Pedagógico O resgate da arte marcial formativa como recurso de apoio educacional infanto-juvenil em ambiente escolar Ms. Iano Tolomei Hausen 4º DAN Niterói 2004

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Escola de Artes Marciais Hodory

Coordenador

ARTES MARCIAIS NAS ESCOLAS

Taekwondo Pedagógico

O resgate da arte marcial formativa como recurso de apoio educacional

infanto-juvenil em ambiente escolar

Ms. Iano Tolomei Hausen 4º DAN

Niterói

2004

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ARTE MARCIAL NAS ESCOLAS

Taekwondo Pedagógico Uma proposta de resgate da arte marcial formativa como recurso de

apoio educacional infanto-juvenil em ambiente escolar

Por

Ms. Iano Tolomei Hausen

4º Dan

Niterói

2004

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Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus filhos e meus alunos, com os quais aprendo muito

mais que ensino.

Agradecimentos No Taekwondo, agradeço ao Grão Mestre Jung Roul Kim e Mestre José dos Santos,

pelo exemplo e orientação, aos Mestres e Professores Marco Albacete, Gilberto Gonçalves, Maurício Dutra, Josinaldo da Silva, Alexandre Américo, Arurai Marinho, Enguelbertt Ferreira e tantos colegas pela amizade e apoio.

No Judô, agradeço aos Mestres Valquenares, Rudolph Hemany e Mauro Gurgel. Principalmente ao Mestre Valqueneres, de quem tive o privilégio de ser aluno e com quem entendi a importância da pedagogia, acadêmica ou empírica na iniciação das artes marciais.

Resumo

Resumo : Este trabalho, ao invés de tratar das questões sobre as capacidades corporais de nossos alunos, tratará de seu desenvolvimento sócio-psico-emocional. Buscará propor uma utilização das ditas, “lutas”, que favoreça um equilíbrio afetivo que o torne mais capaz na obtenção de sua educação e apto a desfrutar da tão falada “Qualidade de Vida” e cidadania. Dedica-se a fundamentar um resgate do perfil educativo das Artes Marciais. Propomos com elas e outros recursos semelhantes, compor estratégias que façam face à caótica situação disciplinar da escola. Apresentaremos um desenvolvimento das artes marciais, que historicamente às desvincula do padrão violento de seu atual conceito social. Para tanto viajaremos até as filosofias que determinaram a sua criação. Apresentaremos, mais especificamente os resultados do “Taekwondo Pedagógico” método de ensino desta modalidade desenvolvido pela Escola de Artes Marciais Hodory. O qual submetemos a um levantamento transversal de percepção de resultados, estes que aqui apresentaremos. Baseados nos animadores resultados, propomos um debate sobre a construção de uma concepção pedagógica baseada na apresentação aos alunos de conceitos e valores.

Unitermos: Educação Física Escolar, Lutas na Escola e Resultados Escolares.

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Sumário

Capítulo I – Problematização do estudo

1.1 – Introdução

1.2 - Iniciação e massificação

1.3 - Breve histórico do Taekwondo

Capítulo II – Arte Marcial Formativa

2.1 – Conceito e definição

2.2 - Dos Templos à Escola em poucas palavras

2.2 - Jigoro Kano e o Judô – Um marco no resgate do respeito às Artes Marciais

Capítulo III – Formando uma concepção educacional

3.1 - A luta como processo educador

3.2 - Apoio Pedagógico – O taekwondo na escola

3.3 - A progressão metodológica utilizando as Faixas , “Ti”.

3.4 - Apresentando os valores da ética e disciplina marcial do Taekwondo.

3.5 - Taekwondo Infantil, Os pequenos tigres – Segurança, a prioridade máxima.

Capítulo IV – Análise e interpretação dos dados

4.1 – Taekwondo Hodory.

Capítulo VI – Conclusão.

Referência bibliográfica

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Capítulo I

PROBLEMATIZAÇÃO DO ESTUDO

1.1 – Introdução

Assistimos hoje a Educação do povo brasileiro passar por um momento de extrema complexidade onde a maioria da população, que habita as áreas urbanas, atravessa uma grande diminuição do poder aquisitivo e onde normalmente as famílias têm seus responsáveis obrigados a submeterem-se à jornada de trabalho prolongada, com grande diminuição do tempo e da qualidade de convívio com seus filhos. Tal condição atribui à Escola a função de responder não só pela educação formal, mas também por uma considerável parte da formação geral destas crianças e jovens. O professor é hoje mais do que nunca exigido como educador. Mas a questão é: Será que a escola e seus profissionais estão preparados para o cumprimento de tamanha tarefa? Infelizmente, vemos, há anos, a classe educadora tendo sua importância banalizada pelas instituições que deveriam zelar carinhosamente por sua imagem. O que claramente gera um ser humano desestimulado, formando uma legião acuada e insegura na abordagem dos temas críticos de seu cotidiano, como bem descreve Julio Groppa Aquino, na apresentação do livro que organiza: Indisciplina na Escola, Alternativas teóricas e práticas:

“Há muito os distúrbios disciplinares deixaram de ser um evento esporádico e particular no cotidiano das escolas brasileiras para se tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais. Claro está que, salvo o enfrentamento isolado e personalizado de alguns, a maioria dos educadores não sabe ao certo como interpretar e/ou administrar o ato indisciplinado. Compreender ou reprimir? Encaminhar ou ignorar?

Diante das encruzilhadas do trabalho diário, todos parecem, em alguma medida, marcados por uma cisão fundamental: de um lado, a autoridade e o controle absoluto de outrora foram substituídos por uma crescente perplexidade e, conseqüentemente, um certo desconforto pedagógico; mas, de outro, a linha divisória entre indisciplina e violência pode se tornar muito tênue, esgarçando os limites da convivência social. Por onde ir? O que fazer?

Não apenas professores, diretores e orientadores, mas também pais e os próprios alunos, com o tempo, tornaram-se reféns do emaranhado de significados e valores que a indisciplina escolar comporta. Como entendê-la, enfim, para além da “naturalidade” com que é processada no dia-a-dia?”( Summus 1996-p 07)

Cabe-nos a obrigação de educar porém sem os direitos e condições necessários

para isto.

O “constrangimento”, que é um sentimento também ligado à conscientização de se ter errado e desta forma é prerrogativa indispensável tanto do arrependimento quanto da vontade de se restaurar o erro, passa a ser somente um sinônimo de humilhação passível até mesmo de punição legal. E uma boa parte dos responsáveis vê como um “grande

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constrangimento” qualquer tipo de repreensão a seus filhos, independente da gravidade do ato por eles cometido.

A inversão de valores denunciada na família, não tardou a alcançar seu ápice na sociedade, quando nos apresenta inúmeros casos em que os representantes do “poder paralelo”, enviam ordens para que os professores não mais repreendam determinada criança ou chegam até mesmo ao cúmulo de mandarem fechar as escolas em “homenagem” a marginais mortos.

E de repente as tendências da educação, que num dado momento, fundamentaram a liberdade, diante do caos, passam a gritar desesperadamente que “devemos estabelecer limites!” . Mas para uma Sociedade que se declara democrática e livre, quais são os limites?

Lembremos que a vida nos apresenta limites que devem ser respeitados, outros que devem ser transpostos e outros que devem ser impostos, como nos leva a reflexão, o Psicólogo Ives de La Taile em seu livro: Limites: três dimensões educacionais .

“Limite” remete a idéia de fronteira, de linha que separa territórios. Se existe um limite, é porque há pelo menos dois continentes, concretos ou abstratos, separados por essa fronteira. “0 limite de meu jardim está ali” significa dizer que, além dele, há algo que não é mais meu jardim. “Atingi o limite de Idade” significa dizer que, atingida essa idade, há coisas que não posso ou não me deixam mais fazer. Os dois exemplos nos remetem à idéia de restrição: o lado de lá do limite é negativo, o que não é meu, o que não posso fazer. Entendido assim, o limite se referiria apenas a um horizonte intransponível. Porém, a idéia de fronteira remete-nos também à ação de transpor, de ir além. Aquilo que hoje me limita pode ser ultrapassado amanhã. Os navegadores do século XVI pensaram assim: transpuseram aquilo que parecia ser o fim do mundo e encontraram novos mundos. Foram além dos limites, passaram fronteiras. 0 bom esportista pensa assim: o desempenho que hoje é impossível poderá ser alcançado amanhã. 0 bom cientista também pensa assim: aquilo que é hoje ignorância poderá ser, num futuro próximo ou longínquo, conhecimento. Portanto, “limite” não deve ser pensado apenas como ponto extremo, como fim, como limitação. Não há dúvida de que esse é um de seus significados, mas apenas um apenas, um lado da fronteira. “Limite” significa também aquilo que pode ou deve ser transposto. Toda a fronteira, todo o limite separa dois lados. 0 problema reside em saber se o limite é um convite a passar para o outro lado ou, pelo contrário, uma ordem para permanecer de um lado só. Ora. na vida, e na moralidade, as duas possibilidades existem: o dever transpor e o dever não transpor “. (Ática -1999 p 12)”.

Tal conceito, como fica claro, está longe de ser facilmente delimitado pelos próprios

pensadores da educação, que dirá ser transmitido aos alunos. Daí a necessidade de uma revisão dos conceitos éticos e morais que os tornem mais

coerentes com os tempos atuais e também lançarmos mão de estratégias eficazes para revertermos tal quadro. Construindo com nossos alunos uma melhor cidadania.

É aí, que propomos o resgate da função formativa das Artes Marciais para oferecermos aos nossos alunos uma direção, um azimute, pelo qual ele se sinta novamente desafiado. Se uma parte da sociedade e seus exemplos atualmente não justificam a opção, por parte do aluno, de adotar uma conduta ética em sua vida, que ele o faça almejando se tornar um ”Faixa Preta”. E que, nesta trajetória, possamos ajudá-lo a incluir as qualidades inerentes a um indivíduo “ideal”, como descrito na Constituição de Nossa República de

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1988: “Plenamente desenvolvido, preparado para o exercício de sua cidadania e qualificado para seu trabalho”.

Dentre as Artes Marciais que ainda apresentam forte potencial e ligações com a tradição formativa, apontamos o Taekwondo.

O Taekwondo é derivado de práticas corporais milenares, oriundas da própria necessidade de sobrevivência do homem, onde lutar e manter-se forte, era crucial para superar todas as dificuldades existentes na época. Apesar de toda a sua evolução desportiva uma parte do Taekwondo não se desprendeu de seus alicerces filosóficos, éticos e morais, o que o aponta ainda como uma excelente ferramenta de apoio pedagógico nas escolas. Hoje, o taekwondo é também um esporte olímpico “de plasticidade radical única, já que os movimentos do combate, os saltos, os chutes, as defesas são tão primitivos quanto o próprio homem” como bem descreve Mestre César de Carvalho em um texto de sua autoria que lembro ter lido.

O desenvolvimento da metodologia das lutas e mais particularmente do Taekwondo seria de extrema importância para os seus instrutores profissionais e os graduados em Educação Física, pois é notada uma tendência no meio escolar, tanto nas escolas da rede pública quanto particular de buscar resgatar as Artes Marciais e lutas com sua tradição disciplinadora, que lida com a apresentação dos limites a serem superados ou respeitados, que apresentam uma hierarquia natural baseada na antiguidade e no conhecimento e finalmente o fortalecimento da estima do aluno, tornando-o mais sociável e equilibrado. Devemos entender que a prática do Taekwondo tem influência direta no desenvolvimento das qualidades bio-psico-sociais, simultaneamente com a taxionomia do domínio cognitivo, afetivo, e psicomotor envolvidas nas várias idades e fases do desenvolvimento.

Apesar de, através da história das Artes Marciais, as mesmas nem sempre terem se mantidos fiéis a seus códigos de honra, acreditamos que seja justamente nos códigos de honra, que reside à peculiaridade que garantiu sua sobrevivência. Quanto ao esporte contemporâneo, todos que conhecem a história dos mesmos, sabem que muitas vezes servem a interesses de grandes grupos comerciais, patrocinadores ou às nações que tentam mostrar sua hegemonia através da performance de seus abnegados atletas, muitas vezes através de manobras desonestas. Tais comportamentos, porém são totalmente incompatíveis com a prática marcial, mas são assustadoramente comuns no certame esportivo.

É notável, porém um movimento dentro dos ditos ”esportes marciais” brasileiros que os aproxima perigosamente dos aspectos negativos das demais modalidades. Gerou-se uma atmosfera onde a performance atlética passou a ser a prioridade e se esvazia cada vez mais a importância das suas tradições educacionais. Ao contrário desta visão, defendemos as Artes Marciais como uma atividade capaz de fortalecer a estima e a saúde do indivíduo melhorando sua vida e não uma prática somente para eleitos da classe média e super atletas. Nossa organização não deveria ser somente voltada a excelência atlética, mas principalmente baseada nos valores éticos que formam o alicerce de todas as Artes Marciais e que podem ser de grande contribuição para a complexa situação disciplinar, que ameaça gravemente boa parte das crianças, jovens e adultos da sociedade brasileira.

1.2 - Iniciação e Massificação

Não obstante, o bom resultado de nossos “atletas marciais” no cenário mundial é intrigante, o abandono total das políticas de massificação destas modalidades e aproveitamento do seu potencial educacional. Porém, a garantia de um trabalho eficaz passa obrigatoriamente pela reflexão sobre os métodos de “iniciação esportiva” e pela

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qualificação do profissional, que teria a atribuição de plantar a semente do “esporte marcial”. Normalmente, a mídia nos apresenta matérias vindas de indivíduos ligados ao “alto rendimento” que preconizam até mesmo o fim das competições infantis, sem fundamentar cientificamente tais opiniões baseando-as apenas em “achismos” pessoais. Como se a competitividade não fizesse parte das características dos pequeninos...

A situação aponta para um total desconhecimento sobre o desenvolvimento infanto-juvenil e sobre as possibilidades da arte marcial formativa para a população geral. São observadas críticas a graduação de faixas pretas infantis (poom). Indago-me se alguns colegas os vêem como praticantes, ou seres humanos, de segunda categoria e que por isso não são dignos de usar uma faixa preta? É como se alguém que houvesse definido quais os requisitos para se merecer a faixa preta, além do aprendizado das técnicas específicas de cada graduação intermediária, de forma que excluísse as crianças do universo marcial. Tal contexto talvez fosse coerente nos primórdios destas práticas, mas atualmente as crianças compõem a maioria de seus praticantes. Além deste aspecto, o que nossa experiência tem mostrado é que em referência a atributos e virtudes, que consideramos importantes como “dignidade” e “sinceridade”, os pequeninos normalmente são uma lição para boa parte dos adultos que conheço, sem contar que o amor e a dedicação que estes “pequenos tigres” nutrem pela arte é incomparavelmente isenta de vaidade e de interesses pessoais.

Quanto às competições infantis, basta que sejam criativas e tenham regulamentos adaptados, priorizando a questão da aquisição das prerrogativas da cidadania (convivência harmoniosa com as regras e limites), a segurança e a ludicidade. Só que isso dá trabalho e é uma ameaça aos paradigmas atuais da própria comunidade das Artes Marciais.

Acreditamos que se não tivermos nas escolas, nas academias e nos campeonatos adaptados, o “tigrinho” apaixonado de dez anos, certamente não teremos o campeão olímpico aos vinte. O que por sinal ainda não temos. Já havendo vários nos países que melhor investem na arte marcial educacional. Pode até ser coincidência, mas vejo na ausência de uma política de iniciação esportiva competente uma das principais razões para tal lacuna.

Vemos então, na arte marcial formativa, além de um vastíssimo campo profissional para nossos colegas, um possível alicerce de um futuro de vitórias para os praticantes de Artes Marciais, no Brasil. Basta que não vejamos nossas crianças como uma miniatura de adulto e respeitemos os limites de segurança e o ritmo de seu desenvolvimento.

Baseando-nos nestas convicções, temos procurado aprender mais sobre o Taekwondo infantil e na prática da arte marcial em escolas e temos tido resultados mais que satisfatórios com grande realização pessoal e profissional, porque vemos nossos alunos ganharem muito mais que medalhas, temos a oportunidade de vê-los buscando a preparação para serem campeões na vida.

Nas páginas a seguir, apresentaremos uma proposta de desenvolvimento de um método, no qual as Artes Marciais sejam mais bem aproveitadas. Baseamos-nos nas experiências que vêm sendo acumuladas desde 1998, em um projeto que implementamos, o que chamamos de “Taekwondo Pedagógico”, que teve seu início em um colégio particular de Niterói, onde buscamos enfatizar os resultados comportamentais e escolares dos alunos, além dos resultados desportivos. Procuramos adaptar a metodologia das Artes Marciais modernas aos valores e objetivos pedagógicos, tanto da Educação Formal e seus níveis de ensino, como da própria Educação Física. Buscando formatar uma ferramenta de apoio à Instituição Educacional de grande utilidade.

Sendo este método voltado ao desenvolvimento integral de nossos alunos, procura-se aparelhá-los não só para uma atuação desportiva numa modalidade olímpica, mas também nos outros aspectos da Arte Marcial que normalmente, se bem administrados,

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trazem rapidamente reflexos positivos nos campos da socialização e do desenvolvimento das habilidades físicas. O código de ética que norteia nossa atividade é estabelecido baseado na consideração dos limites da boa e harmoniosa convivência humana. Onde o respeito é o pilar central das relações pessoais.

1.3 - Breve Histórico do Taekwondo

O Taekwondo surgiu aproximadamente há dois mil anos, na península da Coréia como uma forma de luta ancestral. Por volta do século VII tornou-se um sistema de defesa pessoal, simples e eficaz que pudesse rapidamente ser assimilado pela população que vinha sofrendo constantes ataques de bandoleiros e piratas estrangeiros. Devido ao sucesso de sua popularização, tornou-se um importante referencial para o desenvolvimento cultural do povo Coreano. Em 1909, a Coréia foi invadida militarmente pelo Japão que cerceou qualquer manifestação ligada às tradições culturais de seu povo, proibindo inclusive a prática do Taekwondo. Com o acirramento da segunda guerra mundial, no Oceano Pacífico, o Japão perdeu a capacidade de manter suas forças de domínio e acabou em 1945, sendo expulso do território Coreano,

Com a libertação, o povo coreano foi capaz de resgatar sua cultura e suas tradições. Na década de cinqüenta, este país novamente viu-se assolado por uma guerra civil. Esta Guerra envolveu tropas Norte Americanas e Britânicas, no sul e da antiga União Soviética, ao norte. As tropas Americanas, enquanto baseadas naquele país, receberam treinamento de defesa pessoal com técnicas de Taekwondo. Decorrentes deste contato, surgiram inúmeros convites para que os Mestres Coreanos fossem para os Estados Unidos, ministrar aulas de Taekwondo em unidades militares e em universidades norte americanas.

A aceitação ao Taekwondo por parte do povo americano incentivou o governo da Coréia do Sul, no final da década de 60 e início da década de 70, enviar centenas de outros Mestres a quase todos os países “capitalistas” do mundo. O que fez do taekwondo uma arte marcial praticada em todo o planeta e ainda mantém um índice de crescimento considerável (Taekwondo Times Magazine, Sep. 1997).

Capítulo II

ARTE MARCIAL FORMATIVA 2.1 – Arte Marcial, conceito e definição

Atualmente, nota-se a tendência de descrever como Arte Marcial toda e qualquer prática corporal relacionada com o combate ou confronto, indiferente das suas origens e seus objetivos. Porém dificilmente é mencionado o significado de tal termo e o verdadeiro sentido deste. É como se colocássemos todas as lutas ou meros sistemas de defesa pessoal dentro de um só conceito.

Normalmente, se aceita este conceito como sendo oriental, o que é um engano. Na cultura oriental, sabe-se que esta prática é representada pelo ideograma chinês “MU”, o qual abordaremos posteriormente neste trabalho.

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O conceito do termo “Arte Marcial” tem sua origem na Roma e Grécia antiga, e para entendê-lo em toda a sua amplitude deveríamos observá-los separadamente. “Arte” de acordo com o que descreve Joaquim Pimenta em seu livro: Enciclopédia de cultura - Sociologia e Ciências correlatas

“No ponto de vista estético a arte é um fenômeno de fundo emotivo,

individual [...] é sentimento de beleza, de harmonia, de ritmo, e assenta em uma lei de físico-psicologia, em virtude da qual toda a impressão tende a converter-se e a exteriorizar-se em idéia , em imagem , em ato.”(Freitas Bastos 1955- p.20) .

Melhor ainda coloca Antonio Xavier Teles em Introdução ao Estudo de Filosofia:

“As artes são manifestações do Belo, mas de um Belo ligado a condições diversas de época de povo e de cultura. A arte como expressão do belo, é uma maneira de descarregar as intensas emoções estéticas. Todo o estado afetivo, tal como : cólera, dor , alegria etc. tende a terminar em movimentos exteriores e a resumir-se, ao mesmo tempo, neles”(Ática 1979-p.114).

Podemos dizer então que “arte” seria a expressão do sentimento humano através de

uma manifestação plástica, baseada na estética de cada povo, em cada tempo , buscando dar a forma perfeita a seus sentimentos. Seja na forma musical, na forma poética, na forma desenhada ou na forma do gesto no teatro, na dança ou na pantomima. O complemento “Marcial” é referente ao deus Marte, versão romana para o deus Ares da mitologia grega, o deus da guerra, do combate, da luta e das disputas, da sexualidade e da fertilidade.

Então podemos definir Arte Marcial como a busca de uma representação plástica e estética do gestual do combate . Nesta classificação se incluiriam todas as práticas que valorizassem uma suposta beleza da técnica, ao invés da violência ou do potencial destrutivo da mesma, o que realmente coincide com as práticas orientais. Outro fator que propicia a inclusão das práticas orientais neste conceito é a coincidência destas normalmente possuírem seqüências de movimentos de complexidade e dificuld ade progressiva, que representam combates com um ou mais oponentes imaginários (poom-se no Taekwondo, katas no Caratê e Judô e os Katis no Kung-fu).

De acordo com descobertas arqueológicas, tais seqüências tiveram origem na era neolítica, onde os orientais primitivos as usavam como danças-rituais para pedir sorte em batalhas, agradecer boas colheitas e pedir proteção contra as forças da natureza. Atualmente, servem para sistematizar o ensino das técnicas novas a serem transmitidas para os alunos.

Deste modo é fácil notar, que apesar de possuírem um potencial agressivo , artes marciais não se dedicavam a este fim, sendo também uma manifestação artística de cultura corporal dos povos que as desenvolveram.

2.2 - Dos templos à Escola em poucas palavras

Ao contrário do que se pratica hoje, nas escolas e academias, a maioria das Artes Marciais, ou pelo menos as orientais, não oferecem um perfil meramente desportivo. Elas foram idealizadas para fins artísticos e formativos, onde seus praticantes buscavam obter desenvolvimento corporal, espiritual, ético, moral e intelectual.

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Buscavam resultados comportamentais, além dos resultados físicos. Sua utilização em combate se dava muito mais por uma prerrogativa vinculada a momentos históricos turbulentos das sociedades de origem.

Essas práticas surgem como citado anteriormente, no período neolítico oriental, onde a movimentação das tribos determinava uma série de confrontos, gerando a necessidade de formação de sub-grupos dentro das tribos, que fossem preparados para o combate. Com o desenvolvimento destas culturas, a figura destes guerreiros teve o seu prestígio mantido e veio as ser ainda mais valorizado com o passar do tempo.

No Japão, a existência dos Samurais é amplamente divulgada, porém eles não foram os únicos. Existiam tais personagens em todo o oriente, que correspondiam ao cavalheiro medieval ocidental.

Diferente do ocidente, os guerreiros orientais normalmente não eram re-inseridos na sociedade ao retornarem das campanhas bélicas, onde travavam combates bárbaros, lutando com espadas, numa proximidade que permitia, literalmente, ver a vida se apagar dos olhos de seu inimigo. O que mesmo no guerreiro vitorioso contraria terrivelmente o instinto de preservação da vida, gerando um custo inconsciente inimaginável. Já cientes do risco social do retorno deste homem à sua comunidade, passavam então, por períodos nos quais se internavam, em mosteiros para terem os “efeitos espirituais” da guerra amenizados. Para tanto, utilizavam as “artes sutis”, entre elas, a poesia, a caligrafia, a jardinagem, o Yôga, a meditação e a prática das Artes Marciais como ferramentas de suavização dos indivíduos. Muito embora exista uma controvérsia sobre quais seriam exatamente as seis artes, após conhecermos várias das versões, acreditamos que seriam indicadas de acordo com a prática profissional do individuo envolvido, por exemplo, como no caso do Samurai é sempre mencionada a indicação do Budô (Artes Marciais), no caso de um administrador público seria sempre mencionada a indicação da matemática. Não obstante a polêmica sobre suas categorias, a prática terapêutica das Seis Artes era um fato. Como podemos concluir, através da menção feita a elas por Shissai Chozan, em seu tratado de filosofia Zen para a arte das espadas Tengu-Geijutsu-Ron (Arte dos Demônios da Montanha), gravado em madeira no ano de 1729 d.c., Traduzido inicialmente para o Alemão (Die Kunst der Bergdãmonen), em 1969, por Scherz Verlag, posteriormente para o Inglês por Reinhard Kammer e para o Português por Alayde Mutzenbecher:

“O Sábio ensinava as seis artes [...] Quando alguém se movimenta dentro do âmbito das seis artes durante sua juventude, passa a considerar seu coração como o mais importante, libertando-se assim, sozinho das palavras ignóbeis [...] A petulância, o preconceito, a malevolência e o egoísmo não constituem perigo para seu corpo. Exteriormente, ele fortalece a conformação do corpo, e assim liberte-se de doenças.”(Pensamento 1995-p25).

Ainda no mesmo tratado, Chozan volta ao assunto esclarecendo ainda melhor às conseqüências da utilização das Seis Artes.

“Até os sábios da escola de K’ung-tzu eram todos mestres nas seis artes, e vários dentre eles haviam abraçado o ensinamento do Caminho [...] ele se esforça no aprimoramento da técnica, treinando o trabalho de mãos e pés e fortalecendo sua condição física. Além disso, pratica o seu fluido e educa o seu coração, mergulhando assim no seu segredo. E assim deve ser...”(Pensamento 1995-61).

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Muito embora soe contraditório suavizar um indivíduo através da prática das lutas, é fácil entender que se dedicarmos horas de nossos dias, repetindo centenas, milhares de vezes o movimento de um soco, por exemplo, buscando supostamente uma perfeição plástica deste movimento, o mesmo perderá o seu sentido agressivo, sendo sublimado e então imbuindo de um sentido de arte corporal quase tão sutil quanto a dança. Sendo tal conceito tão significativo que o próprio ideograma do alfabeto chinês que representa as Artes Marciais (“Moo”, “Wu” ou “Bu” - Fig. 01) é o desenho de um sabre simbolizando a violência e o símbolo correspondente a uma cerca, “defesa”, deixando em aberto o sentido metafórico de qual violência devemos realmente nos defender, daquela que vem de fora contra nós, ou daquela que existe em nossa alma contra nós mesmos, contra o próximo ou contra o mundo.

武 Fig: 01 Ideograma Môo, Wu ou Bu Simbolizando arte marcial.

Os senhores da guerra oriental, os Shoguns, equivalentes aos senhores feudais europeus, os Samurais, guerreiros a serviço dos Shoguns ou do Imperador, ou os Moo-Sa, equivalente chinês e coreano dos samurais japoneses, compunham uma classe de homens especiais. No caso dos Samurais, sua experiência foi um importante referencial no alicerce cultural do oriente. O desenvolvimento de sua classe se baseou num rígido código de honra, o Bu Shi-Do, influenciado pelas doutrinas Budista, Zen-budistas, Confucionista, Taoísta e Shintoísta.

A honra era seu único bem, apesar de serem extremamente poderosos, para evitar serem corrompidos pelo poder, se obrigavam a uma vida frugal e desprovida de acúmulos materiais. Crédulos no sentido dual do universo, representado pelo Yin-Yang, acreditavam que para alcançarem um nível superior nas “artes da guerra”, também teriam que obter níveis igualmente superiores nas “seis artes sutis”, onde buscavam a perfeição através da prática, do qual chamamos hoje de autoconhecimento, desenvolvendo a inspiração e o controle (inspiração na poesia, na caligrafia, na meditação, na jardinagem e o controle , nas Artes Marciais, no arco e flecha, na arte da espada, na equitação). Deste último, podemos dizer que se tratam das práticas corporais com potencial desportivo, que sobreviveu até os dias de hoje e foram mais facilmente absorvidas pela cultura ocidental. Infelizmente sua função filosófico-formativa não fora satisfatoriamente compreendida, nem tão pouco assimilada. Reside, aí talvez, uma das grandes razões a que se atribui a enorme incidência de fatos violentos ligados aos praticantes de lutas.

Outro fato histórico que contribuiu para uma maior caracterização violenta das Artes Marciais, foi que no século XIX, houve o movimento de modernização do oriente, após a Guerra do Ópio. Movimento ao qual a classe dos Samurais e dos Moo-Sa se opunham, alegando que tal modernização ameaçava uma cultura milenar e um duradouro estado de paz. Os partidários da modernização então iniciaram uma campanha de difamação e desmoralização dos Samurais e Moo-Sa. Culminando com a extinção da classe dos Samurais, no Japão, em 1876 e a proibição aos mesmos de portarem sua espada e com eles foram também enterrados o seu peculiar modo de vida e sua filosofia.

A partir daí, as Artes Marciais tinham um papel obscuro e suas formas remanescentes foram basicamente continuadas em três vertentes principais, a linha

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monástica que era praticada por monges budistas, nos templos, como pratica corporal e meditativa 1, a linha acrobática assimilada pelos artistas, tipo saltimbancos, que demonstravam suas técnicas arrojadas nas ruas ou em festivais e finalmente a militarista, que como é fácil imaginar se especializaram no perfil mais destrutivo e letal das artes.

1 - Na filosofia Zen prega-se que através da prática repetitiva das seqüências de

movimentos, conciliada à correta respiração é possível favorecer o alcance do “satori” (estado de “não-mente”, mente vazia ou mente natural, quase um transe, também considerado o paraíso meditativo) o que nós ocidentais costumamos descrever como “automação” com relatos do tipo “durante a corrida de repente não mais senti meu corpo” ou que “eu e o carro parecíamos uma coisa só, eu pilotava por instinto”.

Por ter sido adotada pelos exércitos orientais, a concepção militarista teve a

continuação de sua prática garantida e difundida. Porque, infelizmente, o advento das guerras nunca esteve ausente da experiência humana e por mais bizarro que soe, sempre alavancou seus avanços tecnológicos e econômicos.

Contraditoriamente, na Segunda Grande Guerra o Império Japonês lançou mão da lendária figura dos Samurais para inspirar seus soldados e elevar o seu moral em combate, o que até certo ponto restaurou a honra à imagem histórica dos Samurais na cultura contemporânea do Japão, porém contribuiu para incutir ainda mais um sentido bélico ao uso das artes marciais.

Fora também nesta Guerra e na Guerra da Coréia nas décadas de quarenta e cinqüenta, que os americanos e europeus, que já haviam conhecido o jiu-jitsu e o Judô, este último como modalidade esportiva, entraram em contato com outras Artes Marciais orientais e ficaram impressionados com a eficácia destas técnicas em situação de combate, convidando, como citado anteriormente, vários mestres para lecionarem em seus continentes.

Os primeiros mestres a viajarem para os Estados Unidos e Europa eram considerados a nata das Artes Marciais. Com o sucesso destes mestres, seus governos de origem viram aí uma grande oportunidade de divulgar mundialmente a cultura de seus países e alavancarem possíveis mercados comerciais.

Neste momento, enviaram mestres, normalmente militares, para uma infinidade de países inclusive o Brasil. Assim sendo é natural que a difusão das Artes Marciais orientais, no Brasil, não tenha sido efetuada com o nível de filosofia e “espiritualidade” que tornasse a sua aplicação mais próxima de sua original e milenar função formativa. O que não quer dizer que não possamos atribuir-lhe novamente tal função, resgatando seus princípios, pois boa parte deste conhecimento está disponível na literatura e no próprio cerne das Artes Marciais. Por outro lado, o fato das mesmas não terem mantido sua função doutrinária, nos permite revisá-las, atualizá-las e associá-la à pedagogia e às teorias do desenvolvimento contemporâneas, tornando-as ainda mais eficazes como recurso educacional e de apoio pedagógico nas escolas.

2.3 - Jigoro Kano e o Judô,

Um marco no resgate do respeito às Artes Marciais

Em 28 de outubro de 1860, nasce em Miage no Japão, Jigoro Kano. Aos dezesseis anos, Kano assiste à humilhante extinção da classe dos heróicos

Samurais e do processo de desmoralização dos mesmos nos anos anteriores. Porém,

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apesar de medir apenas um metro e meio e pesar cinqüenta quilos, Kano era especialmente atraído pelas Artes Marciais e inicia no ano seguinte, 1877, a prática do Jiu-jitsu, “Tenshin Shin’yo Ryu” (Escola do Coração de Salgueiro), com o Mestre Hachinosuke Fukuda. Em maio de 1879, Kano participa de uma demonstração de Jiu-Jitsu para o Presidente Grant do EUA, que se encontrava em visita ao Japão. Porém, Kano não era somente um ótimo praticante das Artes Marciais, também possuía uma grande e admirável capacidade intelectual. Adquirindo muito precocemente (21 anos) seu nível acadêmico, se formou em Letras, em 1881 e no ano seguinte, graduou-se também em Ciências Estéticas e Morais, pela Universidade Imperial de Tókio. Já em agosto do mesmo ano é nomeado professor Colégio dos Nobres, posto de incomparável importância no rigoroso sistema de ensino do Japão Imperial. Esta nomeação se deu no mesmo ano em que abre sua escola de artes marciais o Do-jo Kodokan (Do = caminho, Jô = lugar , ou lugar do caminho – espaço de aula das artes marciais) e passa a chamar a arte que ensina de Ju-dô (caminho suave). Neste período das artes marciais, muito embora continuassem a serem praticadas por alguns, vinham atravessando uma fase, como dito anteriormente, obscura. Onde prevalecia o conflito entre os Do-jôs (escolas) e a falta de interação entre os Mestres. Porém, apesar de pertencer à elite intelectual do Japão, Kano se mantinha obstinado em sua crença de que as Artes Marciais poderiam ter maior valor desportivo e educacional para seu povo, como descreve Stanley Virgílio no seu livro A Arte do Judô , quando comenta as condições de criação do mesmo.

A decadência do jiu-jitsu era notória, a ética e a moral não

existiam, e isso preocupou Jigoro Kano que colocou esta mesma ética e esta mesma retidão moral como metas a serem alcançadas.

Também as técnicas não lhe satisfaziam, principalmente pela pobreza e inexistência de princípios pedagógicos e científicos e ainda mais, os perigos que estas técnicas representavam, mais ou menos graves que impossibilitavam a participação maior, ampla e generalizada com que sonhava.

Assim retirou-se com alguns alunos para o Templo Budista de Eishosi onde estudou e analisou cientificamente as técnicas mais em evidência na época, separando o que de bom havia, inventando quando necessário e surgindo então um novo método pela fusão de técnicas do antigo Jiu-jitsu e dos princípios pedagógicos, morais e científicos e, ainda, sem um perigo maior de acidentes.

Este foi um período de duras provações para Kano, pois mesmo lecionando no Colégio Gakushuin (onde os filhos da nobreza estudavam) e, também mantendo sua escola de Inglês, o Kobukan , para cobrir as despesas com seus alunos em Eishosi , passava longas horas à noite fazendo traduções.

Nessa época [ 2 ], pelos motivos já exposto, todas as formas de lutas e suas escolas eram vistas como uma espécie de reduto de marginais, portanto não eram bem vistas pela sociedade e Kano tinha também que se sobrepor a essa discriminação (1970, p.39). Basta vermos o atual panorama de divulgação das artes Marciais para avaliarmos os

resultados do memorável trabalho de Kano. E, em conseqüência de seu esforço, todas as artes marciais foram beneficiadas, pois, ele foi o grande embaixador das lutas. Viajou por

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inúmeros países conhecendo vários estilos interagindo com outros mestres e defendendo suas convicções.

Fora a primeira vez na história que se registrou a aproximação, que novamente sugerimos. Incorporar o lutador ao professor e o professor a o lutador e permitir que a Arte Marcial ocupe o lugar de ferramenta de forta lecimento ético, moral e corporal voltada à formação de um cidadão melhor .

Acredito, que através dos pensamentos de um homem, lemos o seu espírito. E, de Jigoro Kano, dois pensamentos entre muitos, para mim, resumem sua intenção de seu sublime espírito. O primeiro quando ele descreve a atitude mental a ser aplicada na luta do Ju-dô: “Ceder para vencer” e o segundo revelado por sua resposta quando indagado por um aluno sobre qual seria a melhor técnica a ser utilizada em um determinado momento. Respondeu, Kano, ao jovem discípulo: “A melhor espada é aquela que ainda não foi desembainhada”.

Com este comentário acreditamos fazer jus à histórica dívida que todo o praticante das artes marciais contemporâneas têm para com a figura deste honorável Mestre e ao legado de sua gigantesca obra. Podemos notar que a última parte da descrição de Mestre Virgilio, é curiosamente semelhante ao atual conceito das lutas na sociedade brasileira, o que pode indicar também outro momento de necessidade de reestruturação pedagógica das artes marciais no Brasil.

Fig. 02, 03 - Mestre Jigoro Kano, já próximo de sua morte, com o título de Embaixador do Japão e membro do Comitê Olímpico Internacional e em seu Ju-dô-Gui (uniforme).

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Capítulo III

FORMANDO UMA CONCEPÇÃO EDUCACIONAL

3.1 - A luta como processo educador

A própria palavra “luta” já nos remete ao processo de aquisição de conhecimento ou de experiência. Haveria melhor palavra para descrever as incontáveis tentativas de uma criança de permanecer em pé ou mesmo de caminhar? Ou no notável esforço que é empenhado por um garoto que aprende a manter uma bicicleta em movimento? Lutamos desde nossa concepção e o fazemos invariavelmente para vencer o estágio anterior e prosseguir na perpetuação. Lutamos constantemente pela superação, fazendo de tal habilidade, um item indispensável à amálgama da sobrevivência. Assim, entendemos que a luta não é nenhuma novidade para o desenvolvimento humano. Então por que estranharmos que a luta seja utilizada como processo educador?

Assim como nos outros esportes, na luta também está representada grande parte das situações da própria vida, só que com grande exigência ética. Imaginemos um espaço delimitado, onde deveremos durante um tempo predeterminado enfrentar um oponente, estando este oponente a nós equiparado em categoria de peso, tamanho e graduação técnica. Tais condições somadas a ação de controle das regras, faz com que haja um grande equilíbrio entre os oponentes. A partir daí, farão a diferença qualidades extremamente desejáveis como: coragem, perseverança, autoconfiança, paciência, tolerância ao estresse, tolerância à dor, capacidade de raciocínio e processamento de informações sob pressão adquiridas através do treinamento, desejo de autosuperação e finalmente complementada pelo respeito às regras. Como vemos, não foi sem razão o surgimento do ditado marcial “a boa luta revela o melhor dos homens”. Devemos observar também que todas as lutas começam e terminam com reverências, onde fica claro o respeito entre os oponentes, pois a tradição dos “lutadores” indica que: o tatame é um lugar de iguais e que o resultado da luta é efêmero , sendo a própria luta, o desafio e a honra de ter lutado, a verdadeira vitória . No coração de um lutador, tal disputa jamais gera um derrotado...ambos serão sempre vencedores.

Tal conduta não é exclusiva das artes Marciais, porém nas mesmas não se admite de outra forma. Talvez, tal ênfase, se dê ao fato de através de sua prática, entrarmos em contato com sua filosofia que é baseada no Confucionismo e no Zen. O Confucionismo busca despertar no Homem, o compromisso com a sua atitude individual e social tendo sido uma forte referência para o “Pensamento Chinês”, como bem descreve Antônio Xavier Teles no livro Introdução ao estudo da Filosofia, se referindo à diferença entre ao pensamento Hindu e o Pensamento Chinês:

“Em oposição à conclusão do pensar hindu que, como caminho da salvação se afasta do mundo, a sabedoria chinesa se caracteriza por um traço eminentemente prático: orienta-se diretamente para a vida. Nesta direção volta-se o homem para o estudo da natureza humana, da felicidade individual e do bem-estar coletivo. Pergunta o que é existir e quais as condições ótimas em que se deve desenrolar a vida individual e coletivamente”(Ática 1979-p.58)

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Ainda na mesma obra o autor atribui ao Confucionismo e seus pensadores a

precursão da filosofia social:

“Filosofia social:

O pensamento chinês é precursor desta Filosofia. O homem nas suas vivências e experiências sociais sofreu, desde o começo, o impacto de muitos acontecimentos decisivos e adversos. Sentiu-se, como indivíduo, imerso num mundo histórico que o conduzia para onde não queria ir. Sentia o seu ser como que submerso no Estado ou na comunidade política. Diante disto formulou a respeito do mundo social perguntas e explicações que não eram míticas e sim racionais. Estas explicações assinalam o co meço da Filosofia como Ética e Filosofia Social.” (Ática 1979-p.59)

Talvez, aí resida também uma das razões do grande potencial socializador e ético da prática marcial.

Já o Zen tem como maior objetivo o aprimoramento pessoal pela introspecção, pelo autoconhecimento e pelo auto-aperfeiçoamento. A influência Zen mostra ao aluno que ele sempre pode buscar melhorar e que sua competição é contra os seus próprios limites e não contra adversários ou padrões externos.

No ocidente esta abordagem interpessoal dos valores, infelizmente não é comum, como coloca C.G. Jung em seu livro Psicologia e Religião Oriental .

O Oriente se baseia na realidade psíquica, isto é, na psique, enquanto

condição única e fundamental da existência. A Impressão que se tem é a de que este conhecimento é mais uma manifestação psicológica do que o resultado de um pensamento filosófico. Trata-se de um ponto de vista tipicamente introvertido, ao contrário do ponto de vista ocidental que é tipicamente extrovertido. [...] A introversão é, se assim podemos exprimir-nos, o estilo do Oriente, ou seja, uma atitude habitual coletiva, ao passo que a extroversão é o estilo do Ocidente. [...] No oriente, a extroversão, que cultivamos com tanto carinho, é considerada como um apetite ilusório e enganador (1971, p.07).

Ainda nesta mesma obra de Jung podemos entender o foco do desenvolvimento

psicológico buscado pela arte marcial, usando o trecho em que este exemplifica muito bem, o tipo de atitude mental utilizando o modelo de espiritualidade e religiosidade entre os Orientais e Ocidentais.

“O Ocidente Cristão considera o Homem inteiramente dependente da

graça de Deus ou da Igreja, na sua qualidade de instrumento terreno exclusivo da obra de redenção sancionado por Deus. O Oriente pelo contrário, sublima o fato de que o Homem é a única causa eficiente de sua própria evolução superior; o Oriente, com efeito, acredita na “auto-redenção” (1971, p.07)”. De acordo com Jung, tal situação começa a mudar no início do século XX, com o

advento da Psicologia e conclusão por parte do Homem ocidental, que ele possuía o

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inconsciente, que era um mundo interior autônomo. Com tal mudança, os conceitos das práticas orientais vinculadas à meditação e introspecção como a Yoga e as Artes Marciais passaram a receber atenção e terem seus efeitos reconhecidos. Porém, devemos sempre lembrar que tais conceitos não participaram do imaginário social ocidental, durante milênios e sua aplicação pode ainda ser confusa e fragmentada.

Mesmo que fragmentada, o perfil da parte da filosofia oriental que é de forte influência na conceituação das artes marciais, faz com que ao aluno destas, passe a se sentir o principal responsável por seu próprio destino e passe também a buscar dentro de si mesmo os meios para que ele próprio viabilize o seu sucesso. Indaguemos então se tal conduta, não seria também, altamente desejável na vida fora do “Tatame”.

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3.2 – Apoio Pedagógico - O Taekwondo na escola

A terminologia “apoio pedagógico” ou “Taekwondo Pedagógico” é usada por mim para descrever a prática desta Arte Marcial, dentro do ambiente escolar. O Taekwondo enquanto ferramenta de apoio pedagógico pode ser de grande utilidade no desenvolvimento comportamental da criança, independente da idade. De acordo com esta proposta metodológica, a partir da Escola Infantil, o Taekwondo, assim como quaisquer atividades desportivas, orientadas à socialização, já teriam benefícios a oferecer aos alunos.

Para organizar resumidamente a sugestão de prática do professor envolvido, no intuito de dar uma real colaboração na educação de nossos alunos, adaptamos a tabela de valores descrita no livro “Educação Física da Escola infantil à Universidade”, coordenado por José Roberto Borsari. Definindo valores gerais possíveis de serem desenvo lvidos: Como esquema para a classificação de valores, adaptamos e adotamos a proposição segundo Harmen, Kieschenbaum e Simom (fatos, conceitos e valores). Obs.: (X) Os valores duplamente assinalados são os sugeridos para serem trabalhados com maior evidência no nível, durante a fase específica.

Porém, lembramos que na prática não existe uma defi nição estanque das fases de desenvolvimento do aluno , pois tal condição é totalmente baseada na individualidade bio-psíquica do mesmo.

Valores selecionados 04 a 06

anos 06 a 09 anos

09 a 11 anos

11 a 13 anos

13 a 15 anos

15 a 18 anos

18 em diante

Conhecer a si e aos outros (X) X X X X Respeito a si e aos outros (X) (X) X X X (X) (X) Respeito às normas e regras esportivas, éticas

X X X X (X) (X)

Sociabilidade X X (X) (X) X X X Espírito de equipe X X X (X) X X Responsabilidade X X (X) (X) X X X Disciplina X X (X) (X) X X X Organização X (X) X (X) X X X Participação (X) (X) X X (X) (X) (X) Cooperação X X X X X X X Iniciativa X X X X (X) (X) X Liderança X X (X) (X) X Autoconfiança (X) (X) X X X X X Esforço para superar-se X X X X X X (X) Honestidade X X X X X X X Fraternidade X X X X X X X Afetividade (X) X X X X X X Modéstia e humildade X X X (X) (X) X Autocontrole X X (X) X (X) (X) X

A metodologia e o planejamento deverão buscar alcançar objetivos, desenvolver valores e habilidades, tal tabela é extremamente simples e serve de base para definir um padrão de objetivos pedagógicos para a prática apropriada da Arte Marcial Formativa em

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ambiente Escolar. Podendo ser facilmente adaptada aos aspectos culturais específicos de qualquer comunidade ou grupo sócio-cultural.

Tal Prática não deveria, pelo menos na Escola Infantil e Fundamental, estabelecer um ambiente de extrema competitividade, pois as tensões geradas por tal tipo de prática normalmente, no aspecto motor, são prejudiciais além de perigosas. Como comenta João Batista Freire, no seu livro: Educação de corpo inteiro,

“Ao envolver a criança em propostas de competição, no entanto, é necessário, não criar um clima competitivo exacerbado, que possa deteriorar a qualidade do movimento. Se a competição pode acarretar maior empenho das crianças em acertar, os exageros, por sua vez podem prejudicar a aprendizagem motora, pois a ênfase exclusiva na competição faz com que desconsidere o gesto que está realizando...” (Scipione 1999, P-97).

ainda podemos aproveitar outra colocação sua no mesmo livro onde diz:

“Induzidas por um adulto, fora do contexto lúdico, em atividades ditas” sérias “, as crianças podem ultrapassar os limites que suas regulações próprias tendem a controlar, correndo o risco de acidentes vasculares, contusões musculares, entre outros.” (Scipione 1999, P-141).

Como visto acima, esta ou qualquer outra prática marcial ou esportiva na

Escola, envolvendo crianças, não deveria ser unicamente dedicada à descoberta de indivíduos com possibilidade de atuação esportiva de alto nível. Acreditamos que tal função, a principio, seria justamente a conseqüência de um trabalho de iniciação esportiva criterioso e bem aplicado, evitando, ao máximo, as pressões psicológicas desnecessária e mais adequadas a trabalhos desenvolvidos, preferivelmente após a puberdade, em ambientes não atrelados à educação formal, como clubes, academias ou centros de excelência.

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3.3 - A progressão metodológica utilizando as Faixa s , “Ti” A aplicação dos valores gerais deve ser feita progressivamente, podendo

também ser vinculada ao significado filosófico e simbólico das faixas ou graduações intermediárias descritas abaixo.

Sendo o símbolo da evolução do aluno, veremos a sua história, ordem e o significado simbólico de suas cores.

As faixas, no início da prática das Artes Marciais não tinham nenhum significado especial, serviam apenas para compor o “dobok” (uniforme). Porém, com o tempo de prática, a mesma ia acumulando as marcas de uso e com isso sua cor ia escurecendo. Naturalmente, para identificar o praticante mais antigo, observaríamos a faixa mais escura. Quando o mestre determinava que o aluno havia alcançado o nível de conhecimento satisfatório, no qual passava a ser um “Tokyonim” (instrutor de Taekwondo), o mesmo o presenteava com uma faixa preta. Por isso que nos dias de hoje usamos cores, numa série cada vez mais escura, e mantemos a tradição de, ao contrário do uniforme (dobok), que deverá estar limpo para demonstrar asseio, a faixa nunca deverá ser lavada. Pois simbolicamente ao retirarmos as marcas do uso, estaríamos retirando de nossa vida também os conhecimentos e benefícios adquiridos com nossa prática.

Além disso, as cores das faixas usadas no Taekwondo não foram escolhidas de forma aleatória, pois cada uma delas possui um significado simbólico que auxilia o praticante a entender filosoficamente as características da fase do aprendizado em que o mesmo se encontra. Normalmente, o aluno permanece em torno de seis meses em cada uma delas e no final deste período, o aluno participa de um exame de promoção. O que apesar do nome não significa que este estaria sendo examinado. Preferimos pensar que nesta solenidade estaremos tendo o privilégio de mostrar para nosso “Kwanshanim” ou Grão Mestre (título dado ao Mestre examinador com graduação acima de 7º Dan), para nosso professor, nossos familiares, colegas e amigos, o quanto aprendemos e evoluímos. E assim fomos merecedores da honra de receber das mãos do Grão Mestre, a nova faixa e o diploma, galgando mais um degrau na escada do conhecimento.

Branca – 1º nível (10 o Gub– graduação intermediária)

De três meses a um ano de prática Significa a inocência, o branco é na realidade a ausência de cores e simbolicamente, quer dizer também a ausência dos conhecimentos do Taekwondo. Mas, também pelo fato de ser ainda uma “ausência”, tem o enorme poder do “vir a ser”. Ou seja, o praticante que usa a faixa branca tem a seu favor, o fato de ter ainda todas as possibilidades no seu caminho e quem sabe se, ao estarmos diante de um aluno faixa branca, não estejamos na verdade diante de um futuro campeão mundial ou de um futuro Grão Mestre.

Pensamos também, que é muito difícil sermos iniciantes em qualquer área e é um momento no qual precisamos de apoio. Por isso, sempre dizemos que o respeito por um faixa branca deve ser ainda maior do que o respeito por um faixa preta, pois os desafios à sua frente serão muitos. O praticante mais graduado que não age desta forma com um faixa branca, por mais antigo que seja, demonstra que nada aprendeu ainda sobre humildade e que sua prática tem sido uma perda de tempo.

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Amarela, Ouro, Laranja – 2º nível (9 o Gub, 8 o Gub, 7o Gub) De um ano e meio a três anos de prática Como o nome sugere, trata-se do “ouro” que o praticante, através da dedicação ao treinamento e do autoconhecimento, descobriu existir em seu eu interior. E da mesma forma que o metal precioso, este ouro simbólico precisa ser retirado da terra (interior do espírito do aluno) e trabalhado para receber o seu valor máximo. Seu brilho refletirá em todas as áreas da vida do praticante enriquecendo assim sua existência.

Verde, Verde escura – 3º nível (6 0Gub, 5 0Gub)

De um a dois anos de prática Significa simbolicamente, que a terra trabalhada para a descoberta do ouro, torna-se fértil e passam a brotar as plantas e as árvores. A técnica se enraíza e se fortalece. O praticante começa colher em sua vida os doces frutos da dedicação à arte marcial.

Azul, Azul escura – 4º nível (4 0 Gub,3 0Gub)

De um a dois anos de prática Simboliza o céu e o ar, para onde se dirigem as plantas quando crescem e se desenvolvem. No Taekwondo, nesta fase, o praticante começa a assimilar e dominar as técnicas superiores e os golpes aéreos.

Vermelha, Vermelha escura – 5º nível ( 2 0 Gub, 1 0 Gub) De um a dois anos de prática Significa “perigo”, indica que o praticante que a usa deve ser cuidadosamente observado. É o nível no qual todas as suas atitudes serão medidas. É também o nível no qual o praticante deve demonstrar total controle emocional e todas as virtudes de um verdadeiro guerreiro da justiça e da liberdade e da alegria. É o momento mais difícil e delicado de seu aprendizado onde a tolerância com seus erros será mínima. Pois ele será para todos os seus colegas um importante modelo, uma referência. Simultâneo a toda esta pressão o praticante entrará em contato com as técnicas mais perigosas e por isso ele sofrerá todo este controle. É também a cor do sangue e do fogo, que será o combustível para que seu espírito se torne indomável e não sucumba aos desafios para merecer a Faixa Preta.

Faixa Pré-Preta ou Preta Infantil – último nível (1 o Poom)

Tempo de Prática indeterminado É uma faixa dividida entre as cores vermelha e preta. É usada pelos praticantes que ainda não alcançaram a idade de quinze anos, que já gozam de todas as qualidades e conhecimento técnico de um Faixa Preta, porém ainda, supostamente, não possuem maturidade. Por isso devem continuar sendo cuidadosamente observados.

Faixa Preta – último nível (1 o Dan)

Tempo de Prática indeterminado Simboliza a dignidade e a maturidade. É a cor do conhecimento. O Praticante já domina as técnicas do Taekwondo e já absorveu os seus ensinamentos. Ele agora iniciará sua viagem em direção ao nível de Mestre.

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3.4 - Apresentando os valores da ética e disciplina marcial do Taekwondo.

Como dito anteriormente, a origem da maioria das Artes Marciais sempre esteve ligada ao desenvolvimento do homem, buscando através do equilíbrio entre uma mente positiva e um corpo saudável, o aumento de suas habilidades para a vida. A prática diária de movimentos vigorosos e sutis, desenvolve a coordenação e as habilidades motoras; e o nível de esforço empregado nesta atividade, desenvolve no praticante um aumento notável de sua autoconfiança. Por último temos os treinamentos de combate, que através das proteções de tórax, boca, cabeça e membros, hoje são totalmente seguros e desenvolvem no praticante a habilidade de superar com calma, controle e raciocínio as situações problemáticas e de extrema pressão. Não sucumbindo ao medo ou à insegurança e mantendo-se dentro dos limites impostos pelas regras da ética.

O resultado disso tudo é um individuo forte e seguro, apto a responder melhor às dificuldades que por ventura ocorram em seu meio escolar, social ou profissional.

Com referência aos indivíduos que se encontram nos níveis, desde a educação infantil, ao ensino médio, todas as condições anteriores são também válidas, com a vantagem das crianças serem extremamente receptivas a toda e qualquer atividade que represente, adaptada a seu nível de desenvolvimento, um excitante desafio.

O combustível desta faixa etária, a fantasia, que é talvez o mais poderoso combustível emocional humano depois do amor.

Qual de nós não sonhou um dia ser um grande campeão, uma grande cientista, um ator ou atriz de sucesso?

Se não conseguimos realizar foi porque infelizmente acreditamos no bombardeio de mensagens que sofremos durante a nossa infância e puberdade, que tentam e conseguem nos convencer de que devemos nos conformar com a mediocridade. Daí, a vantagem de uma atividade que trabalhe diretamente nossos sentimentos nas performances atlética, artística e lutadora. Onde a derrota é uma lição para a vitória e a vitória é um convite a melhorarmos ainda mais.

Para entendermos o poder do Taekwondo, como ferramenta de apoio pedagógico, devemos recorrer a uma parte da História recente do País, que é o berço desta milenar Arte Marcial.

No Brasil, muitas vezes vemos as autoridades culparem a falta de condições financeiras, materiais e dificuldades geográficas pelos baixos rendimentos de nossa educação. Então, o que diríamos de um país que em 1909 sofreu uma invasão e viveu sob o brutal domínio Japonês até 1945, que na década de cinqüenta, atravessou problemas internos terríveis culminando na longa e sangrenta Guerra da Coréia, o que dividiu o país em dois? E, se dissermos, que apesar do massacre e da destruição moral, cultural e material que sofreu aquele povo, conseguiu manter seu índice de analfabetismo em praticamente zero.

O mestre do qual somos discípulos e que supervisiona a parte marcial de nosso projeto, Grão Mestre Jung Roul Kim, nos conta que era ele mesmo um estudante naquela época, e que o Ministro da Educação da Coréia em meio a total destruição, não dispondo de prédios, carteiras, e nem mesmo lápis e papel, ordenou: _“Se temos professores e alunos então temos uma Escola, e ela não pode parar...”. As aulas eram ministradas nas praças, na praia ou nos campos. Ao sol ou sob árvores nos dias de neve, para alguns, montes de papel eram costurados e serviam de caderno e qualquer pedaço de carvão servia de lápis.

Eles não tinham nada além de determinação e coragem e isso era tudo que eles precisavam.

O Taekwondo Pedagógico, como definido no Capítulo III, utiliza também de recursos que tem centenas, milhares de anos para inspirar seus alunos a se comprometerem com

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seu próprio desenvolvimento e buscar determinação e coragem semelhantes a dos professores e das crianças coreanas, que superaram aquelas dificuldades.

Como exemplo citamos uma ferramenta didática que buscamos sintetizar, normalmente chamada de educação mental, muito usada nas práticas orientais, definimo-las a partir de duas outras definidas pelo Grão-Mestre Yeon Hee Park de Manhattan – New York - USA, “The Eleven Comands” (Os onze comandos) inspirada no código de honra dos Hwarangs (flor da juventude), grupo de jovens guerreiros que se tornaram uma lenda na história da Coréia por lutarem armados apenas com bastões de madeira, nunca matando seus oponentes. E, apesar disto, terem logrado vitórias inacreditáveis contra piratas e bandoleiros, que assolavam o povo do reino de Silla (reino ancestral coreano) no século VIII.

Tomamos o cuidado de chamar de “Os onze conselhos ” para evitar a rejeição por parte de alunos Cristãos que pudessem associar o texto aos “Dez mandamentos” confundindo e atribuindo alguma conotação mística ou religiosa.

E do Grão-Mestre “Tiger” Kim de Astoria – Queens - NY – USA: “the Estudant Creed”, o que chamo de as “três intenções do aluno ”, onde a primeira busca incentivar o aluno a comprometer-se com seu desenvolvimento físico e mental, a segunda visa conscientizá-lo da função positiva de seu treinamento e a terceira, visa valorizar a transmissão do conhecimento e também a experiência dos mais antigos ou idosos.

E finalmente, “the Goals”, o que chamo de “os cinco objetivos ”, que trata dos adjetivos básicos que devem nortear a prática da arte marcial formativa.

O resultado da tradução e organização destas ferramentas é apresentada aos alunos da seguinte forma:

Ao ingressarmos na arte marcial devemos ter sempre em mente a nossa educação mental.

“AS TRÊS INTENCÕES DO ALUNO” 1- Eu pretendo me desenvolver positivamente e evitar tudo que reduza meu crescimento

mental e minha saúde física.

2- Eu pretendo usar o que aprender em classe, pacificamente e construtivamente, como ferramenta da felicidade própria e alheia.

3- Eu pretendo honrar meus mestres e seus ensinamentos, assim como eles honram seus mestres e seu aprendizado.

Assim intencionados passamos aos “ONZE CONSELHOS” . O caminho para alçarmos os objetivos passa pelo seguimento dos conselhos

retirados do Código de Honra dos Hwarangs. 1º Amar sua Nação 2º Respeitar seus pais 3º Ser fiel na união 4º Respeitar aos seus irmãos e irmãs 5º Ser leal aos amigos 6º Respeitar aos idosos 7º Respeitar aos seus professores 8º Nunca tirar uma vida injustamente 3

9º Ter um espírito indomável 10º Honrar sua escola 11º Terminar tudo que começa

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“OS CINCO OBJETIVOS” HONESTIDADE, AUTOCONTROLE, PERSEVERANÇA, RESPEITO e HUMILDADE.

3 - Na doutrina “Hwarang-do”, somente era justificada a ação de se tirar uma vida quando

tal ato se dedicava à sobrevivência, legítima defesa proporcional ou para a alimentação.

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3.5 – Taekwondo Infantil - Os Pequenos Tigres, Segurança, a prioridade máxima.

O Taekwondo moderno é uma prática desenvolvida em três aspectos; o da Arte Marcial , que proporciona o alto desenvolvimento físico e mental, buscando uma perfeição plástica utópica da arte de combater, onde a violência é dominada e acaba dando lugar ao profundo controle das energias elementares do ser, através da execução de movimentos precisos e harmoniosos, simbolizando combates imaginários (Poom-se). O aspecto esportivo , que devido ao grande número de competições e a adoção de vários itens de segurança, a modalidade atrai cada vez mais jovens no mundo inteiro. Pelo treinamento intenso e o inconformismo característico dos atletas, tem desenvolvido técnicas cada vez mais arrojadas, trazendo a habilidade dos praticantes a níveis excelentes. E finalmente, o aspecto do entretenimento , que atrai a pessoa comum, buscando simplesmente uma atividade onde ela possa descarregar o stress da vida cotidiana, mantendo uma boa forma física e se relacionando socialmente com um grupo de pessoas também envolvidas em uma atividade saudável. Curiosamente, é comum que os atraídos por este terceiro aspecto, acabem sendo influenciados pelo dois aspectos anteriores, desenvolvendo de forma equilibrada também seus lados de artistas marciais e atletas competidores, o que lhes abre novos horizontes.

fig. 04 - EQUIPAMENTO DE SEGURANÇA

O equipamento de segurança (fig. 04) é fundamental para a prática segura da modalidade, e consiste em: capacete, protetor de tórax, protetor genital externo (para meninos), protetor dos membros e protetor bucal.

Os itens de segurança previnem lesões, tal material de preferência incluindo o protetor bucal, deve ser obrigatório para a prática do combate e deve

cobrado pelo instrutor que ficará responsável pelo seu uso adequado. Tão importante quanto o uso dos itens de segurança, é também o uso de alvos

inanimados para treinamentos das técnicas. Estes alvos consistem em sacos de pancadas, raquetes e almofadas acolchoadas para chutes. Este material deve estar disponível em quantidade suficiente.

A utilização de todos este equipamentos é imprescindível para a prática segura do Taekwondo. Tanto para evitar acidentes quanto para desde cedo, desenvolver o sentimento de autopreservação no aluno e formar a consciência de que o importante no treinamento, não é acertar com violência o adversário, mas sim acertar com precisão o alvo.

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Capítulo IV

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE ALGUNS DADOS

5.1 - O taekwondo Hodory

Para aferirmos se a prática do “Taekwondo Pedagógico” trazia os resultados esperados, dirigimos aos pais ou responsáveis o que chamamos de “QUESTIONÁRIO 01”.

O projeto abordado neste artigo foi o Taekwondo Hodory, projeto no qual aplicamos o método baseado nas concepções aqui citadas. Possuía dois núcleos, um instalado em uma unidade de um colégio particular, na região oceânica de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, sendo este particular e freqüentado majoritariamente por crianças da classe média e média alta. Este núcleo trabalha com crianças de 04 a 11 anos de idade. O segundo núcleo do Hodory é instalado na academia Total Sport, na mesma região e também freqüentada majoritariamente por indivíduos da classe média. Neste segundo núcleo, boa parte dos alunos é oriunda de convênios com várias escolas da região, sendo desta forma uma prática fora de ambiente escolar, porém almejando resultados também na área comportamental. Variando as idades dos pesquisados entre 04 e 17 anos. Devido a isso a segunda pergunta apresenta a porcentagem dos alunos divididos entre os dois núcleos.

De um modo geral as idades de todos os alunos pesquisados variaram entre 04 e 17 anos e o tempo de prática: que variou entre 02 meses e 6 anos

Foram enviados questionários para aproximadamente sessenta alunos (60) dos quais trinta e três (33) responderam. Por motivos de erros e rasuras somente trinta (30) foram aproveitados, os alunos se dividiam igualmente entre alunos que praticam em ambiente escolar e alunos que praticam na Academia Total Sport, porém, vinculados a convênios com escolas. Dirigimos perguntas referentes a mudanças no comportamento das crianças e jovens praticantes, obtendo os resultados seguintes.

A seguir observaremos os itens que trazem as perguntas, os resultados percentuais e nossos comentários sobre os mesmos.

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Item 02: Iniciaram voluntáriamente?

97%

3%SimNão

Como mencionado anteriormente, a informação do Item 01 aborda a acomodação do grupo

de trinta alunos divididos em dois grupos, sendo quinze praticantes no núcleo escolar e quinze vinculados a escolas treinando na academia .

Como é demonstrado no item 02, normalmente as atividades extracurriculares tem uma

população voluntária, as exceções são de casos em que os responsáveis acreditam que tal atividade venha a suprir deficiências do aluno no campo disciplinar, social, psico-emocional ou para a melhoria da saúde corporal. Temos ainda casos em que a atividade é indicada por profissionais da área de educação ou de saúde.

Item 01: Ambiente de Prática

50%50%

Amb.Escolar

Amb. Externo

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Item 03: O aluno apresentou comportamento diferenci ado após o início da prática?

58%

14%

7%

21%

SimNãoNão ObservadoNão houve mudança

As atividades, as quais as crianças e jovens aderem, objetivam normalmente gerar mudanças

comportamentais e favorecer hábitos saudáveis. Normalmente, a Arte Marcial pode também mudar a “visão de mundo” do aluno e fica claro na informação do item 03, que a mudança comportamental ocupa uma maioria considerável.

O que é preocupante nesta grande capacidade, é que os alunos tendem a adotar o modelo do professor, modelo este que nem sempre é comprometido com o processo formativo e educacional dos alunos influenciando-os negativamente.

Tal condição reforça ainda mais a necessidade de uma orientação pedagógico-formativa nas práticas marciais.

A informação contida no item 04 avaliza o efeito socializador do “Taekwondo Pedagógico” ou da “Arte Marcial Formativa”. O motivo da melhora no relacionamento ainda não foi precisado, mas nossa experiência indica que muito provavelmente, esta melhora está relacionada com a melhora da estima do aluno. Mais seguras de suas capacidades, sejam elas físicas ou psicológicas, se relacionam de forma mais relaxada em seu meio social, permitindo assim que os pontos positivos de suas personalidades.

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Item 06: O aluno demonstra mais segurança após o in ício da prática?

87%

0%

3%

10%

SimNãoNão ObservadoNão houve mudança

A informação do Item 05 trás talvez a confirmação de um dos mais importantes efeitos

positivos da inserção da “Arte Marcial Formativa”, no apoio educacional infanto–juvenil em ambiente escolar. Muito embora não consista na maioria, o grupo que apresentou melhora dos resultados escolares é satisfatoriamente grande e devemos lembrar que um mal resultado escolar não se trata de uma unanimidade em nenhuma população escolar, exceto em casos de “turmas especiais”. Portanto acreditamos que 37% de melhoria, já apresenta a confirmação de um resultado positivo. Acreditamos também que o fato de o aluno conviver com os desafios a ele impostos pela prática marcial e superá-los, dá a ele a consciência de que os outros desafios de sua vida, como as dificuldades escolares por exemplo são igualmente superáveis.

A informação do item 06 é uma contundente confirmação da melhora da estima do aluno, reafirmando a eficácia do “Taekwondo Pedagógico” e da “Arte Marcial Formativa” no seu propósito principal, que é o auxílio à formação de um aluno-cidadão melhor preparado para a vida.

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O item 07 foi incluído neste levantamento pelo fato de o aumento de relatos de conflito ser

um importante indicativo de um possível aumento também da disposição para o uso das técnicas de combate da “Arte Marcial” para a solução de conflitos ou problemas. Tal efeito deve ser sempre cuidadosamente observado para a ação preventiva contra o comportamento do aluno.

Lembramos porém, que até certo ponto, o aumento destes relatos é normal principalmente na puberdade, onde o jovem aumenta, devido a sua própria natureza biológica, suas habilidades competitivas e sua necessidade de afirmação pessoal e social.

A informação contida no item 08 é normalmente um forte indicativo da utilização errada dos

conhecimentos de defesa pessoal das “Artes Marciais”. Muito embora em certos casos pode ser positivo, pois pode indicar que um suposto aluno medroso e inseguro passa a não mais tolerar abusos e tripudiações, reagindo e enfrentando os problemas, se reafirmando dentro do grupo.

No grupo pesquisado a resposta expõe uma situação positiva no objetivo pacificador do “Taekwondo Pedagógico”.

Item 07: O aluno aumentou a freqüência de relatos d e conflitos após o início da prática?

0%

73%

7%

20%

SimNãoNão ObservadoNão houve mudança

Item 08: Aumentaram as queixas de brigas por parte dos professores ou profissionais de apoio pedagógico da escola após o início da

prática?

0%

80%

10%

10%

SimNãoNão ObservadoNão houve mudança

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A informação trazida pelo item 09, confirma nossas expectativas de que: primeiramente a parte das crianças e jovens que se envolvem em brigas dentro das instituições educacionais, normalmente não constituem uma unanimidade, exceto nos casos de “turmas especiais” como mencionado anteriormente . E também que um grupo de 13% dos alunos terem tido as queixas de brigas diminuídas é, portanto, um percentual satisfatório comprovando como no item anterior o efeito pacifista do Taekwondo Pedagógico.

Na informação do item 10 é importante o fato de não haver demonstração alguma de aumento

da tendência de uso de violência corporal , confirmando a constatação feita no item 08, de que apesar de estar praticando técnicas de luta o aluno não as assume como forma de solução de problemas ou conflitos.

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O Stress normalmente se origina no medo e na insegurança. Acreditamos que com a prática

marcial, indivíduo aprende a conviver com o medo em situações seguras, de uma forma que este não o bloqueia ou o leva ao desespero. Pelo contrário, este passa a ser um importante indicador de perigo real. A ênfase dada a este objetivo, acarreta certamente num efeito positivo como demonstrado na informação trazida pelo item 11. Tal condição é um dos principais objetivos do Taekwondo Pedagógico, aumentar a capacidade do aluno de manter-se calmo e ponderar seus atos sob altos níveis de stress.

A informação trazida pelo item 12 nos indica que quando as artes marciais são oferecidas

com ênfase pedagógica e formativa, fica claro para a grande maioria, que não há vínculo das mesmas com atos violentos. Os incidentes ligando as artes marciais à violência são muito mais fruto de indivíduos que isoladamente as usam de forma errada, orientados por professores negligentes ou de caráter duvidoso. Tal situação fica clara para as famílias dos alunos ou para as pessoas ligadas ao “Taekwondo Pedagógico”.

* Um responsável deixou a resposta em branco afirmando que ”não tinha bases para responder”e outro respondeu que “não”e colocou a observação:”Depende da educação do professor”.

Item 11: O aluno apresenta comportamento mais calmo e ponderado sob estresse após o início da prática?

53%

7%

23%

17%

SimNãoNão ObservadoNão houve mudança

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Item 13: Você Indica a prática das artes marciais em ambiente escolar?

87%

13%

SimNão

Em vários questionários foi notada além do preenchimento a colocação de observações. Sobre

esta pergunta, nos foi devolvido um questionário acompanhado de uma carta a qual transcrevemos na íntegra:

“Ola, pelo que entendi de sua proposta, o taekwondo como recurso de apoio educacional, deveria prioritariamente ser feito em ambiente escolar, porem não concordo, pois dependendo da faixa etária, esta prática, naquele determinado ambiente, dispersaria as atividades fim daquele estabelecimento, sem falar nos grupinhos que poderiam se formar. Assim acredito que a arte marcial, por ser matéria não só técnica como os outros esportes, mas por ter cunho cultural, histórico, filosófico e podemos até dizer espiritual, deve ser praticado em ambiente próprio, sem que se possa sofrer influências externas, para alcançar seu fim de resgate e apoio à educação infanto-juvenil. * Se possível mande maiores esclarecimentos sobre seu trabalho. Parabéns, é fixando um objetivo e caminhando em sua direção, que evoluímos! Atenciosamente M. “.

Curiosamente, esta carta mostra apoio a uma situação dogmática das artes marciais, a qual acreditamos ser justamente um dos motivos pela qual a mesma não presta maior serviço a sociedade e restringe seus conhecimentos a pequenos sub-grupos possibilitando a desvirtuação de seu uso. Na nossa proposta acreditamos justamente no contrário, que a escola possuindo o perfil prioritariamente educacional, garantiria este aspecto também a prática das artes marciais, afinal, tudo na escola deve ter o intuito educativo e formativo. E tal entendimento fica claro se nos basearmos na parcela de 87% dos questionados que indica a prática das artes marciais em ambiente escolar.

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Capítulo VI

CONCLUSÃO

Esperamos, que o nosso objetivo de apresentar uma concepção com novas possibilidades de utilização das artes marciais na educação, tenha sido cumprido. Devemos lembrar que o potencial formativo não é exclusivo das artes marciais, mas abrange todas as práticas dentro das escolas.

Porque aceitarmos de nossos alunos o uso de palavreado chulo ou comportamento desrespeitoso e agressivo nas quadras de nossas escolas? Será que somos obrigados a permitir que reproduzam o padrão comportamental dos atletas profissionais, que com raras exceções, não tem nenhum compromisso com a formação dos jovens brasileiros? Infelizmente, acreditamos que hoje o potencial educativo da prática desportiva está sendo pouco aproveitado.

Tivemos também, o cuidado de deixar claro que não é somente o nosso Taekwondo Pedagógico a única ferramenta a ser usada. Quando mencionamos a Arte Marcial Formativa, incluímos todos os estilos e modalidades, desde que estas sejam aplicadas com fins educacionais e que os professores envolvidos, insiram conceitos e valores coerentes com a cultura da comunidade em que estejam lecionando.

Acreditamos ter lançado idéias para fomentar um debate, onde muitas outras experiências e projetos sejam apresentados. Propomos que outros levantamentos sejam feitos, nos quais, a prática empírica ou fundamentada seja analisada e seus resultados documentados. Isto reforçaria nossa recomendação e traria a tona o verdadeiro efeito das artes marciais na vida de jovens e crianças, efeito este, que não tememos afirmar que na grande maioria dos casos é de incontestável benefício para os alunos.

Muito embora, a mídia em geral insista em focalizar uma minoria, que por ignorância ou ganância enfatize a violência e a agressividade em suas condutas, esquecendo que ”o aluno é o espelho do mestre”, determinando que estas características passem para a opinião pública como um padrão.

Assim sendo,baseados nas informações neste trabalho apresentadas, reiteramos que o “Taekwondo Pedagógico” e o resgate da função formativa da arte marcial, são de grande utilidade para as escolas como ferramenta de apoio educacional, podendo amenizar de forma eficaz as ações violentas, favorecendo uma atitude mais sociável entre os alunos e devido a esta condição culminar com uma melhora geral dos resultados escolares dos mesmos.

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Infância, São Paulo, Universidade de São Paulo – Escola de Educação Física ENDEREÇOS DE INTERNETE CONSULTADOS: www. Artes marciais e zen no japão2.html www.cao.pt www.vlink.com.br/budokan/formaeduc.html