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Arte: Pe. Reinaldo S.Leitão, RCJ Permanece conosco! (Lc 24,29) A CAMINHO DA XXIV AGE A CAMINHO DA XXIV AGE 02 de fevereiro de 2016 INFORMATIVO Nº 04 Pe. Stefano Raschietti, SX Os temas da profissionalização e da especialização na VRC dizem respeito a dois aspectos complementares: a exigência de qualificação e de organização das iniciativas apostólicas e a necessidade do retorno financeiro que garanta a sustentabilidade da missão. Diga-se de passagem, esta última é uma reivindicação do próprio Evangelho quando Jesus insiste no sustento e no salário para os missionários. Paulo lembra aos Coríntios que essa foi uma ordem explicita do Senhor. Qualificação e remuneração se situam hoje dentro de um sistema de economia capitalista altamente estruturada, informatizada, eficiente e racional. Gratuidade e entrega parecem não ter espaço num mundo cujo princípio vinculante é o da concorrência no livre mercado para conseguir a maximização dos lucros. Evidentemente, a VRC relaciona-se de maneira muito inquieta com essa realidade. Por outro lado, a fuga não é a solução. É preciso encarar esses desafios: em primeiro lugar, porque a missão precisa dessas mediações históricas para se encarnar; em segundo lugar, porque o Evangelho é chamado a transformar toda a realidade humana, também sua dimensão socioeconômica, para recolocá-la a serviço das pessoas; e em terceiro lugar, porque profissionalização e especialização, assim como ciência e mercado, devem ser consideradas conquistas da humanidade, que devem ser sempre mais direcionadas para o bem comum e, afinal, para o próprio Deus. Devemos ter a humildade de reconhecer, de maneira geral, que a VRC precisa muito amadurecer essas dimensões. Aqui podemos indicar algumas tarefas que nos competem olhando para uma VRC em processo de transformação. 1) A primeira é reconhecer o valor da racionalidade empresarial. Nas instituições religiosas há um equivoco em considerar esse tipo de abordagens como algo de específico de empresas comerciais. No entanto, noventa por cento dos princípios, das tarefas e dos desafios das organizações em geral são absolutamente semelhantes. Trata-se, consequentemente, de conhecer bem os 90 por cento que são comuns a qualquer instituição, concentrando-se, ao mesmo tempo, nos dez por cento que a qualifica. 2) A segunda tarefa é discernir os perigos e as seduções que estão por trás de um uso equivocado dos instrumentos de gestão organizacional. O Papa Francisco alerta para não cair na tentação do funcionalismo que reduz a missão à estrutura de uma ONG. O que vale é o resultado palpável e as estatísticas. Para a VRC não pode ser assim, pois nem sempre é possível relacionar “sucesso” com “fidelidade” ao Evangelho: a cruz de Jesus é testemunha disso. Profissionalização, Especialização e Missão Congregacional

Arte: Pe. Reinaldo S.Leitão, RCJ A CAMINHO DA XXIV AGEconsultorremoto.com/crbrs/wordpress/wp-content/uploads/2016/01/A... · os anseios concretos da realidade e de abrir caminhos

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Permanece conosco!(Lc 24,29)

A CAMINHO DA XXIV AGEA CAMINHO DA XXIV AGE

02 de fevereiro de 2016INFORMATIVO Nº 04

Pe. Stefano Raschietti, SX

Os temas da profissionalização e da especialização na VRC dizem

respeito a dois aspectos complementares: a exigência de qualificação e de

organização das iniciativas apostólicas e a necessidade do retorno

financeiro que garanta a sustentabilidade da missão. Diga-se de

passagem, esta última é uma reivindicação do próprio Evangelho quando

Jesus insiste no sustento e no salário para os missionários. Paulo lembra

aos Coríntios que essa foi uma ordem explicita do Senhor.

Qualificação e remuneração se situam hoje dentro de um sistema de

economia capitalista altamente estruturada, informatizada, eficiente e

racional. Gratuidade e entrega parecem não ter espaço num mundo cujo

princípio vinculante é o da concorrência no livre mercado para conseguir

a maximização dos lucros.

Evidentemente, a VRC relaciona-se de maneira muito inquieta com essa realidade. Por outro

lado, a fuga não é a solução. É preciso encarar esses desafios: em primeiro lugar, porque a missão

precisa dessas mediações históricas para se encarnar; em segundo lugar, porque o Evangelho é

chamado a transformar toda a realidade humana, também sua dimensão socioeconômica, para

recolocá-la a serviço das pessoas; e em terceiro lugar, porque profissionalização e especialização,

assim como ciência e mercado, devem ser consideradas conquistas da humanidade, que devem ser

sempre mais direcionadas para o bem comum e, afinal, para o próprio Deus.

Devemos ter a humildade de reconhecer, de maneira geral, que a VRC precisa muito

amadurecer essas dimensões. Aqui podemos indicar algumas tarefas que nos competem olhando

para uma VRC em processo de transformação.

1) A primeira é reconhecer o valor da racionalidade empresarial. Nas instituições religiosas há

um equivoco em considerar esse tipo de abordagens como algo de específico de empresas

comerciais. No entanto, noventa por cento dos princípios, das tarefas e dos desafios das organizações

em geral são absolutamente semelhantes. Trata-se, consequentemente, de conhecer bem os 90 por

cento que são comuns a qualquer instituição, concentrando-se, ao mesmo tempo, nos dez por cento

que a qualifica.

2) A segunda tarefa é discernir os perigos e as seduções que estão por trás de um uso

equivocado dos instrumentos de gestão organizacional. O Papa Francisco alerta para não cair na

tentação do funcionalismo que reduz a missão à estrutura de uma ONG. O que vale é o resultado

palpável e as estatísticas. Para a VRC não pode ser assim, pois nem sempre é possível relacionar

“sucesso” com “fidelidade” ao Evangelho: a cruz de Jesus é testemunha disso.

Profissionalização, Especialização e Missão Congregacional

3) A terceira tarefa é organizar a missão congregacional em torno de um projeto. Olhando para

o mundo corporativo podemos aprender que a missão precisa ser definida em termos bem objetivos.

O próprio Jesus faz isso ao enviar seus discípulos para a missão: ele define uma visão da realidade;

chama e capacita seus discípulos; define um objetivo e interlocutores específicos; indica linhas de

ação de promoção da vida e de luta contra o mal; e, enfim, determina os recursos indispensáveis para

alcançar as metas.

4) Uma quarta tarefa é valorizar e capacitar os recursos humanos. O primeiro grande

patrimônio de cada organização são seus membros: essa é a garantia principal da operacionalização

da missão. Junto a um claro projeto institucional é preciso apostar na profissionalização e

especialização como elementos de uma formação integral dos missionários e das missionárias de

hoje.

5) A quinta tarefa é repensar alguns pressupostos da VRC. É muito comum entre as

congregações religiosas promover uma espiritualidade de absoluta confiança na divina providência.

Isso é muito bom, mas a providência é um princípio de fé e não de economia. Portanto, é bom

também reconhecer uma legítima autonomia da racionalidade econômica, porque assim

participamos de maneira mais responsável, e espiritualmente menos infantil, da ação e do projeto

providencial de Deus no mundo.

6) A sexta tarefa é articular a gratuidade com sustentabilidade e reciprocidade. A dimensão da

entrega total da vida, típica da VRC, para se expressar historicamente e produzir frutos, precisa se

relacionar com compromissos de ordem contratual e participativa. Sem definições em termos de

pacto social, não há como garantir uma sustentabilidade do dom de si mesmo. Sem relações de

amizade e participação, não há como operacionalizar a missão. Enfim, claramente, sem a gratuidade,

generosidade e entrega não há a paixão: qualquer atividade humana torna-se mecânica, alienada e

“sem graça”.

7) Por ultimo, os temas da profissionalização e da especialização apontam que é preciso

avançar e inovar na missão congregacional, para responder a novas demandas que emergem das

conjunturas históricas. Este é um desafio permanente e crucial para qualquer organização: perceber

os anseios concretos da realidade e de abrir caminhos brilhantes e atrativos de solução. Trata-se de

pensar mais no serviço que temos a oferecer e menos na nossa sobrevivência: sair da comodidade e

entrar num processos de renovação missionária exige não confundir fidelidade ao carisma

fundacional com a fixação em modelos historicamente ultrapassados.