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METODOLOGIA PARA O ENSINO DE ALUNOS SURDOS: UMA ANÁLISE DA ESCOLA INCLUSIVA DA CIDADE DE CAMETÁ/PA Adriana Silva Carvalho da Costa 1 Resumo: Ter um aluno surdo em sala de aula regular exige que o professor repense em suas abordagens metodológicas que favoreça o aprendizado de maneira igual ao aluno ouvinte. No entanto se torna necessário uma série de ações que proporcione essa inclusão significativa para o aluno surdo. Esse artigo, utilizando uma metodologia de pesquisa de campo de cunho qualitativo propõe refletir sobre a realidade da inclusão dos alunos surdos e as metodologias utilizadas neste processo em uma escola regular na cidade de Cametá/ PA. Conclui-se que o processo de inclusão está em andamento, necessitando de formação continuada dos professores para lidarem com as diferenças linguísticas e culturais dos alunos surdos, investimentos de recursos, adaptações no currículo escolar de forma a organizar uma didática favorável ao ensino aprendizagem do aluno surdo e contratação de profissionais capacitados, como intérprete de LIBRAS para fazer a ponte comunicativa, e preparo de 1 Licenciada em Pedagogia Plena pela Faculdade Adventista da Bahia. Contato: [email protected]

Artigo Adriana LIBRAS

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METODOLOGIA PARA O ENSINO DE ALUNOS SURDOS:

UMA ANÁLISE DA ESCOLA INCLUSIVA DA CIDADE DE CAMETÁ/PA

Adriana Silva Carvalho da Costa1

Resumo:

Ter um aluno surdo em sala de aula regular exige que o professor repense em suas

abordagens metodológicas que favoreça o aprendizado de maneira igual ao aluno

ouvinte. No entanto se torna necessário uma série de ações que proporcione essa

inclusão significativa para o aluno surdo. Esse artigo, utilizando uma metodologia de

pesquisa de campo de cunho qualitativo propõe refletir sobre a realidade da inclusão dos

alunos surdos e as metodologias utilizadas neste processo em uma escola regular na

cidade de Cametá/ PA. Conclui-se que o processo de inclusão está em andamento,

necessitando de formação continuada dos professores para lidarem com as diferenças

linguísticas e culturais dos alunos surdos, investimentos de recursos, adaptações no

currículo escolar de forma a organizar uma didática favorável ao ensino aprendizagem

do aluno surdo e contratação de profissionais capacitados, como intérprete de LIBRAS

para fazer a ponte comunicativa, e preparo de toda comunidade escolar na importância

do aprendizado da LIBRAS.

Palavras chave: Professor. Educação do Surdo. Metodologia. Bilinguismo. Intérprete.

LIBRAS.

1 INTRODUÇÃO:

A inclusão de alunos surdos em escolas regulares tem sido alvo de muitos questionamentos devido ao fato destes alunos serem usuários de uma língua diferente da língua majoritária. Ter um aluno surdo em sala requer uma postura metodológica

1 Licenciada em Pedagogia Plena pela Faculdade Adventista da Bahia. Contato: [email protected]

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diferenciada, para que seja possibilitado ao aluno surdo uma participação efetiva nas aulas. Além de profissionais capacitados que atendam ao aluno surdo em todas suas necessidades pedagógicas, como no caso, o intérprete de LIBRAS.

Mediante essa realidade do despreparo ou desconhecimento da língua de sinais- LIBRAS, qual deve ser a metodologia para se trabalhar com alunos surdos?

Esta pesquisa visa analisar quais são os procedimentos metodológicos desenvolvido pelas professoras, em uma escola regular na área urbana da cidade de Cametá/PA no ensino de alunos surdos.

A pesquisa iniciou com um levantamento bibliográfico para a construção da base teórica, após foi realizado uma pesquisa de campo de cunho qualitativo através de um questionário estruturado onde os professores responderam a quatro pontos relevantes para atuação com alunos surdos: a formação deste para trabalhar com alunos surdos, a concepção que este possui acerca da LIBRAS, a concepção sobre educação do surdo e pôr fim a avaliação sobre o processo de inclusão do aluno surdo nas escolas regulares. Serão tratados temas como a importância do bilinguismo no processo da educação, questões legais sobre a inclusão do surdo e análise do questionário respondido pelas professoras.

2 EDUCAÇÃO DE ALUNOS SURDOS

Quando o assunto é surdez no Brasil existem dois documentos que são referências e representam a base das ações e respeito ao sujeito surdo. A lei 10436/2002 considerada um grande marco na educação dos surdos, tem sua importância devido ao fato de reconhecer a LIBRAS como a língua de sinais utilizada pelo sujeito surdo dentro de sua comunidade. Outro documento é o Decreto 5626/2005 que regulamenta a lei nº 10436/2002. Segundo o decreto cap. IV Art 15, a educação do aluno surdo deve ser feito em LIBRAS e a modalidade escrita [...] como segunda língua para os alunos surdos, devem ser ministradas numa perspectiva dialógica, funcional e instrumental.

É notável que em relação a educação de alunos surdos envolva muitas discussões e contradições devido ao fato que este aluno faz o uso de uma língua diferente da comunidade ouvinte. LIBRAS é uma modalidade distinta das línguas orais “são línguas espaço visuais”, ou seja a realização dessa língua não é estabelecida pelo canal oral auditivo, mas através da visão e da utilização do espaço”. (QUADROS,1997, p 46). A presença do aluno surdo em sala exige que o professor reconheça a necessidade de mudanças e de elaboração de novas estratégias e métodos de ensino e que estes sejam adequados a forma de aprendizagem do aluno surdo.

Para além de questões legais, o professor deve estar disposto a acolher este aluno em sala e levar em conta as experiências visuais e desta forma assegurar igualdade de oportunidade e um ensino de qualidade.

“A libras aparece como esse elemento facilitador na relação pedagógica que oferece mediação pelo outro e pela linguagem. Além de representar uma conquista para os surdos, a LIBRAS é um estímulo para novas conquistas e ampliação dos horizontes para surdos e ouvintes. O respeito a essa língua é a forma mais próxima da natureza do indivíduo surdo. Preservá-la como meio da expressão da comunidade surda é possibilitar que diversas pessoas se apropriem e internalizem conhecimentos, modos de ação, papeis e funções sociais que sem a existência dessa língua eles jamais poderiam acessar.

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(Sacks 2002, P 82)

Entender a metodologia adequada para a efetiva inclusão do aluno surdo é o que faz a diferença na pratica pedagógica. Entretanto, o posicionamento de alguns professores observa-se em um rumo contraditório ao que Carvalho e Barbosa(2008) refletem sobre o que é ideal em sala, pois muitas vezes não utilizam uma metodologia específicas aplicada aos alunos surdos. As aulas são ministradas, em sua grande parte através de diálogos orais e atividades escritas durante as classes que na maioria das vezes, no planejamento não engloba a forma de aprendizagem ou desempenho necessário ao aluno surdo. Fica então evidente a exclusão do aluno surdo, pois essa metodologia adotada não realiza uma inclusão linguística necessária. E, como consequência resulta em uma grande falta de uma língua que os una.

“O ensino da língua portuguesa para criança surdas, principalmente em escolas regulares, não tem considerado este fato e as crianças surdas, inseridas em classes de crianças ouvintes recebem o mesmo tipo de atividade como se já tivessem adquirido esta língua naturalmente e tivessem o mesmo desempenho dos ouvintes”. (FELIPE 1997, P. 41)

Mas então, surge a grande pergunta: qual seria a metodologia ideal para ser utilizada na educação dos alunos surdos? A abordagem metodológica bastante difundida nos dias atuais é o Bilinguismo (FERNANDES 2008). Embora a educação dos surdos tenha utilizado outros métodos, com estudos e avanços na área hoje entende-se ser a metodologia que melhor atende as necessidades é o bilinguismo.

O Bilinguismo surgiu nos anos 80 como consequência de pesquisas na comunidade surda e com base na Língua de sinais e, nada mais é do que uma proposta que torna acessíveis duas línguas no contexto escolar. Especificamente falando de surdez, a proposta bilíngue preocupa-se em divulgar e estimular a utilização de uma língua que é adquirida espontaneamente pelo surdo, a LIBRAS, sendo considerada a L1 e a língua do país entendida como L2, no caso a Língua Portuguesa, devendo ser adquirida na modalidade escrita, e caso o aluno opte adquirir através da modalidade oral, deverá ser realizado fora da escola. Esse direito é assegurado pelo Decreto federal nº 5626, de 22 de dezembro de 2005.

A este propósito Quadros (2005) esclarece que a educação de surdos, tendo uma proposta bilíngue deve gozar de um currículo organizado na perspectiva visual-espacial para garantir ao aluno surdo acesso a todos conteúdos escolares na Língua Brasileira de Sinais.

A inclusão do aluno Surdo no espaço escolar para o Bilinguismo apresenta-se como uma proposta adequada para a comunidade, que se mostra disposta ao contato com as diferenças, porém não necessariamente satisfatórias para aqueles, que tendo necessidades especiais, necessitam de uma série de condições que na maioria dos casos não tem sido propiciada pela escola (LACERDA 2006).

De acordo com Fernandes (2006, p 9) afirma que o ambiente bilíngue ideal pressuporia o conhecimento de língua de sinais pelo maior número de pessoas na escola, mas devido o processo de inclusão estar em construção, ainda demanda uma série de ações como oferta permanente de cursos de libras para a comunidade, trabalho com as famílias, a reorganização a proposta curricular, etc. Mas a curto prazo existem algumas estratégias metodológicas e de organização do ambiente da sala de aula para facilitar interação/ comunicação:

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Combinar diferentes tipos de agrupamentos de alunos, facilitando a visualização da sala toda pelo aluno surdo e sua consequente interação com os colegas (círculos, duplas, etc.)

Introduzir métodos e estratégias visuais complementares a língua de sinais (alfabeto manual, gestos manuais, dramatização, mímica, ilustração, vídeo/tv, retroprojetor etc.) nos desenvolvimentos das atividades curriculares afim de facilitar a comunicação e a aprendizagem dos alunos surdos.

Planejar atividades com diferentes graus de dificuldade e que permitam diferentes possibilidades de execução (pesquisa, questionário, entrevista, etc.) e expressão (apresentação escrita, desenho, dramatização, maquetes, etc.).

Propor várias atividades para trabalhar no mesmo conteúdo (vivencias, observações, leitura, pesquisas, construção coletiva, etc.).

Promover a interação de professores do ensino regular e da educação especial para o desenvolvimento de atividades tais como: orientações sobre a forma de comunicação/interação com os alunos surdos, indicação de práticas pedagógicas alternativas, participação de conselho de classe, entre outros (FERNANDES, 2006, P 9).

Além dessas estratégias que podem e devem ser adotadas é fundamental a presença de um interprete da língua de sinais- LIBRAS para mediar a comunicação em sala de aula. Este profissional surgiu com a necessidade da comunidade surda de possuir um mediador no processo de comunicação com os ouvintes. E a lei nº 12.319 de 01/09/2010 foi de suma importância pois regularizou a profissão do interprete. No Brasil, além de ter o domínio sobre a LIBRAS, este profissional precisa ter domínio da língua falada do país, conhecer processos e estratégias, técnicas e tradução e possuir formação específica na área de atuação.

O intérprete dentro da sala de aula atua como canal comunicativo entre o aluno surdo e o professor ouvinte. Em sala de aula o intérprete precisa ter consciência de que ele não assume o papel de regente em situações relacionadas ao ensino aprendizagem do aluno surdo. Quadros(2004) aponta que existem diversos problemas de ordem éticas que surgem em função do modelo de intermediação de ordem ética que surgem em função do modelo de intermediação que se constrói em sala de aula.

Muitas vezes o papel do interprete em sala de aula acaba sendo confundido com o do professor e por muitas vezes o próprio aluno surdo acaba se direcionando questões ao intérprete sobre conteúdos escolares, resultando em diálogos e discussões em relação aos assuntos abordados em sala com e intérprete e não com o professor.

Deve ser do professor o papel de estimular o aluno surdo a pensar, raciocinar, não deve lhe dar respostas prontas, precisa ser tratado de maneira igual, não deve ser deixado de lado nos questionamentos, debates e seminários.

O campo de atuação do intérprete é delimitado, especifico e precisa ser assegurado para que o aluno surdo de fato possa usufruir de diretos iguais e a inclusão ser satisfatória. A grande questão implícita aqui é o fato de que o aluno surdo possui capacidade igual ao do aluno ouvinte, o que acontece é que por vezes essa capacidade se torna comprometida pelo fato de haver barreira na comunicação, impedindo assim o desenvolvimento cognitivo do aluno surdo, acarretando consequências que poderiam ser evitadas com a presença de um profissional intérprete nas salas de aula da escola

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inclusiva e/ou metodologias adotadas pelo professor favoráveis ao modo de aprender do aluno surdo, no caso, visual/espacial.

Baseada nestes conhecimentos, essa pesquisa buscou conhecer a realidade das práticas metodológicas utilizadas para alunos surdos numa escola regular situada na área urbana na cidade de Cametá/PA.

3 METOLOGIA

Essa pesquisa configura-se como uma pesquisa de campo de cunho qualitativo e o campo de pesquisa é uma escola regular na área urbana na cidade de Cametá/PA.

Segundo José Filho (2006) o surgimento da necessidade de pesquisar traz em si a necessidade de um diálogo com a realidade a qual se objetiva investigar com o diferente, uma comunicação dotada de crítica, que direciona a momentos criativos. O intuito é de conhecer os fenômenos que o constituinte dessa realidade busca de aproximação, diante de sua complexidade dinâmica e dialética.

Para recolher as informações necessárias foi perguntado aos professores através de um questionário sobre a formação deste professor para trabalhar com alunos surdos, a concepção que este professor possui acerca da LIBRAS, a concepção sobre educação do surdo e pôr fim a avaliação do professor sobre o processo de inclusão do aluno surdo nas escolas regulares.

Nesse sentido, a utilização da entrevista é relevante por gerar ricas contribuições a pesquisa. O critério escolhido para aplicação deste questionário é que o professor tivesse pelo menos um aluno surdo incluído no ensino regular. 32.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A entrevista foi aplicada com três professoras de uma mesma escola e os dados analisados foram através da articulação das falas dos entrevistados com o referencial teórico. As professoras, afim de preservar sua identidade serão representadas pelas siglas: P1, P2 e P3. Importante deixar claro que a presença de intérpretes não é uma realidade vivenciada na Cidade de Cametá em nenhuma escola inclusiva, sendo responsabilidade unicamente do professor de trabalhar com alunos surdos e também com outras deficiências. Fato que de antemão aponta para os grandes desafios enfrentados nesta escola.

3.1.1 SOBRE A FORMAÇÃO QUE POSSUI PARA TRABALHAR COM ALUNOS SURDOS

A secretaria municipal de educação(SEMED) entende da necessidade de estar preparando melhor os professores para o processo de inclusão e para isso ofertou um curso de LIBRAS nível básico nos meses de agosto a setembro no ano de 2014 de como proposta de formação continuada, com duração e 120 h. As professoras P1 e P3 tiveram a oportunidade de participar recebendo então algumas noções básicas para se trabalhar com este aluno surdo. Porém relatam que foi insuficiente e que não se sentem preparadas para atender os alunos surdos E a professora P2 relatou que fez um curso básico mas sente que precisa de mais preparo e conhecimentos específicos e procura sempre que possível assistir vídeos para que consiga o mínimo de comunicação com seus alunos surdos.

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É imperativo que um novo olhar seja dado a educação inclusiva, uma vez que as leis em vigor garantem que todas crianças sejam matriculadas na educação básica, porém as escolas em sua maioria não estão preparadas para receber este aluno, oferecendo-lhes uma educação que não satisfaz a necessidade dos educandos. Ministério da Educação reconhece que incluir não significa simplesmente matricular os educandos, ignorando suas necessidades especificas, mas significa das ao professor e a escola o apoio necessário a sua pratica pedagógica (Brasil, 1998).

3.1.2 IMORTÂNCIA DO USO DA LIBRAS NO CONTEXTO ESCOLAR

Todas professoras reconhecem que o uso da LIBRAS é fundamental para a inclusão dos alunos surdos, mas isso não é uma realidade presente. Entretanto as professoras P2 e P3 enfocam que a necessidade de uma formação pessoal mais específica em LIBRAS é fundamental para o aprimoramento do trabalho com seus alunos surdos, pois relatam da dificuldade do que é transmitir os conteúdos e este não chegar ao seu aluno devido a barreira linguística, e além disso a professora P2 pontua um outro aspecto: tem alunos surdos que não sabem LIBRAS. A professora P2 possui a concepção de que para se ter alunos surdos seria necessário ter uma especialização já a professora P1 aponta a necessidade de se ter um intérprete em sala de aula e ainda que “a LIBRAS deveria fazer parte do cotidiano escolar como conteúdo essencial da aprendizagem, não ficando restrita apenas a quatro paredes mas sim a toda comunidade escolas, e desta maneira, sim, estaríamos realizando a inclusão de fato”.

A partir destas declarações levantamos algumas questões que precisam ser vistas pois a lei nº 10432/02 reconhece a língua brasileira de sinais como meio legal de comunicação e expressão do sujeito surdo, determinados que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão. (Brasil,2008).

Observa-se também que a professora P1 possuí uma visão bilinguista quando se refere a todo corpo docente e funcionários da escola estarem aptos para comunicar com o aluno surdo. Outra questão que merece ser citada neste tópico é a forma como os professores tentam passar o conteúdo, por que não sendo realizado da maneira que a informação se torne acessível a sala de aula possuí um aluno que não está inserido de maneira efetiva, tornando presente de corpo e ausente nas participações, não porque não queira, mas porque não foi lhe oportunizado.

3.1.3 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO SURDO

Neste item o objetivo foi instigar as professoras sobre o que elas compreendem que seja a educação do aluno surdo, e todas professoras foram unânimes em afirmar que enquanto não houver preparo, ou apoio específico, no caso do profissional intérprete, a educação de qualidade assegurada ao sujeito surdo estará comprometida.

P1 afirma que “Por mais que os professores se esforcem, precisam de muito mais conhecimentos, recursos que possibilitem uma aprendizagem significativa”. Sem esse apoio, o professor não tem como dar conta das demandas e ações que são necessárias dar conta. P2 ressalta que” por mais que eu tente, não tem como dar duas aulas diferentes, e a grande questão é estar adaptando meios para que a educação do aluno surdo não seja comprometida. Mas isso é tão delicado”, desabafa a professora.

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A partir das referências feitas pelas entrevistadas, podemos perceber mais um desabafo do que propriamente a concepção do que cada uma possuí, levantando então mais um aspecto que precisa ser visto, no caso de tornar conhecido a maneira como acontece de fato a educação do surdo dentro da proposta bilíngue. E essa formação precisa se dar a todos que fazem parte da comunidade escolar.

3.1.4 AVALIAÇÃO DA INCLUSÃO DO ALUNO NO ENSINO REGULAR

Foi proposto essa questão no questionário para compreender como é a visão do professor acerca da inclusão. E obtemos os seguintes resultados: P1 descreve que a situação que nos encontramos em sala é muito frustrante, nos deparamos com falta de capacitação, de recursos, com alunos de diferentes deficiências em uma mesma sala, turmas lotadas entre outras dificuldades. Sabemos que por mais que nos esforcemos para atender alunos surdos ou com qualquer outra deficiência é pouco comparado com o que deveria ser oferecido por direito, e isso gera uma frustação tão grande que me faz sentir conivente com o desrespeito com que os deficientes são tratados pelos nossos governantes”.

P2 acredita que primeiramente era necessário ter havido um preparo especifico para os professores e logo em seguida ocorresse a inclusão dos alunos surdos, mas o que acontece na prática é ao contrário: inclusão desses estudantes em salas regulares, mas não a educação inclusiva de fato. Percebo diariamente a angustia dos estudantes surdos dentro da sala de aula quando ficam olhando para os lados, perdidos sem compreender o que se passa ao seu redor” e a P3 conclui” foi implantado e pronto, sem o preparo, sem recursos metodológicos, sem apoio técnico. De maneira insuficiente para atender os alunos surdos.

Diante disso podemos notar que o processo de inclusão dos educandos surdos no sistema regular de ensino, está ocorrendo mais com o objetivo de cumprir as leis e quem deve se adaptar é a escola para receber o aluno e não o aluno quando chega na escola. Silva (2003, p.32) aponta que a integração no ambiente escolar tem o objetivo inserir o aluno surdo, no entanto a escola continua organizada da mesma forma sendo que o aluno que foi inserido deve adaptar-se a ela.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realidade da educação de surdos de Cametá é algo que precisa ser melhor aprofundado e discutido. Embora a cidade conte com profissionais que atuam como multiplicadoras e realizando atendimento com alunos surdos em horários fora da aula no AEE, a carência de ações e conhecimento específicos da área ainda é muito grande por parte da grande maioria. Com o objetivo de conhecer como se dá a metodologia adotada por professores da escola regular e inclusiva a partir da análise deste trabalho é possível chegar algumas conclusões.

O processo de inclusão acontece segundo ano consecutivo, possuindo registrado no sistema 78 surdos inclusos nas escolas da cidade de Cametá, e por esta razão o objetivo inicial seja de cumprir as leis que determinam a inclusão deste aluno no sistema, ainda precisando de muita ressignificação para que não seja meramente

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ampliação de matriculas no ensino regular, mas que hajam precauções que favoreçam a real participação no processo de ensino aprendizado.

Ficou evidente que diante das dificuldades de implementação por parte dos professores de metodologias para o ensino de surdos, é possível concluir que há a necessidade de estudar mais sobre assunto através de cursos contínuos de formação continuada. Dessa forma, todas opiniões foram relevantes pois a reflexão levou a análise da LDB nº9394/96, ao estabelecer que os sistemas de ensino devem assegurar, principalmente professores especializados e devidamente capacitados para atuar com qualquer pessoa especial em sala de aula. Portanto, fica claro o direito do aluno surdo ter suas necessidades pedagógicas atendidas em todas suas especificidades. Nesse sentido, o papel do intérprete se torna fundamental neste processo de inclusão, pois o modelo de educação bilíngue visa que o aluno surdo possa ter um desenvolvimento cognitivo linguístico equivalente ao do aluno ouvinte.

Numa análise mais atenta na pesquisa poderia ser apontado que a presença do intérprete não acabaria com o problema da falta de conhecimento sobre o planejamento metodológico por parte dos professores, mas de certa forma contribuiria para uma melhor inclusão do aluno surdo. É inegável a importância da utilização de metodologias adequadas em sala de aula que beneficiem os alunos surdos que estão inclusos, sendo o professor responsável por incentivar e mediar a construção de conhecimento através da interação com o aluno surdo e seus colegas (LACERDA 2006).

Diante disso, essa pesquisa possibilita compreender que a inclusão dos alunos surdos carece de um ambiente mais propício, com recursos visuais e professores preparados, para o desenvolvimento de suas aulas com base em metodologias que atendam todos os alunos em suas peculiaridades conforme prevê o Decreto 5626/2005.

Não basta criar lei que apontem inclusão, mas precisa ser efetivada através da formação continuada de professores, investimentos de recursos, adaptações no currículo escolar de forma a organizar uma didática favorável ao ensino aprendizagem do aluno surdo e contratação de profissionais capacitados, como intérprete de LIBRAS para fazer a ponte comunicativa para o aluno surdo. Mas, Pellanda (2006, p181) defende que na inclusão, “o fato mais importante é ter a coragem e o empenho de transformar o ideal em realidade, apesar dos desafios e barreiras que surgem no caminho”.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, Lei nº. 12.319 de01/09/2010.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares nacionais – adaptações curriculares: estratégias de ensino para educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Secretaria de Educação Fundamental/ Secretaria de Educação Especial. SEF/SEESP: Brasília, 1998.

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Decreto nº. 5.626. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais- Libras e o artigo 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 22 dez.2005.

FELIPE, T. A. Escola Inclusiva e os direitos linguísticos dos Surdos. Rio de Janeiro:Revista Espaço – INES, 1997. p. 41-46, Vol. 7.

FERNANDES, E. Surdez e Bilinguismo. Porto Alegre: Mediação, 2008

LACERDA, C. B. F. de. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Cad. CEDES [online]. vol. 26, n.69, 2006, p. 163-184.

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