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ARTIGO DE ATU ALIZAÇÃO ANÃLlSE CRfTICA DA UTILIZAÇ ÃO DAS FOLH AS DE CONTROLE NAS UNIDA DES DE TERAPIA IN TENSIVA (U Tls) Edna Ikumi Umebayashi TakahashP , Ana Maria Kazue Miyad ahira l , Miako K imura2 TAKAHASHI, E.1 . U. et alii . Análise crítica da u tilização das folhas de control e nas unidades de t erapi a inten- siva (UTIs). Rev. Bras. Ef, Brasília, 37 (3/4): 257- 26 1 , jul./dez . 1984. RESUMO. Trata-se de uma análi se crftica da utilização das folhas de controle nas uni- dades de tra tamento in tensivo de um ho spital-escol a. Para es sa análise foi feito um levan- tamen to do impress o empr egado nas doz e UTls de sse r ef erido hospital, como também foram coletados alguns dados refe rentes à sua utilização. A análise dos r esultados no s permite reflet ir sobre a inadequação das folhas de controle por não re tratarem uma as sis- tência de enfermagem sistema tizada aos pacien tes, nas unidades pesquisadas. ABSTRACT. This is a crit ica i analys is on the u se of control record s in 12 intensive care units of a scho ol h ospital. The d at a obt ained showed t hat the control records are in ade- quate and do not demonstra te a sys tematic nursing. care given to p atien ts in tho se unit s. INTRODUÇÃO A necessidade d a consolid ação de um corpo dc conhecimentos tem vol tado a atcnção d o cnfcr- meiro par a a definição de um método próprio dc assistênci a. Em busca de tal m eta e cm prol de uma cnfer- mage m mais c ientífica e qu al i fic ad a , tentav as de imple mentação de uma assi stência sistematiz ada têm sido fe itas. Algumas dess as, ating iram co m sucesso o objetivo pro post o e outras aind a estão com dificul dades em su a efetiv ação. FRIED LANDER (1 983) acredit a que o sucesso ou. ins ucesso na impl ant ação desse sistema de trabalho c abe ao apoio, colabor ação e interesse das chefi as de enfeiagcm e do pre paro rigoroso consta nte e sisteático dos enfermeiros. KOCH & O KA (1977) sugerem que cad a pro- ssional fa uma aplic ação e av ali ação de uma sistemática de assistência de ntro da su a áre a de atu ação. Nas unid ades de tcr api a intensiva (UTls), a consecução dos obj etivos a ela incrcntcs depe ndc principalment e do des empenho planej ado da e q ui pe de e n f e r ma ge m . A es tra t é gi a operacional de uma U s e toa possível quando e x i s t e uma enfermage m csp c cialmente prepar ad a par a assistir o paci cnt c crítico. WHlPPLE (1980) considera que UTl consiste em u ma oportunid ade e dcsafio par a a en f ermagem: oportunidade p ara desempenhar um papel pro s- sional vo ltado ao tr at amento d a enfermid ade crí- tica c desa0 p ar a enfre ntar ec azmente as respon- sabil ida des profiss ionais e técn icas aumentadas. 1 . Professores As si stentes de di scipl ina de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem d a USP, enfermeiras. 2. Auxil iar de Ensino da disciplina de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escol a de Enfermagem da USP, enfermeira. Rev. Bras. E/l! , Brasília, 37 (3/4),jul./dez. 1984 - 257

ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO ANÃLlSE CRfTICA DA … · regi trar os dados vitais dos pacientes, mas que se constituam em instrumentos que retratem um pla ... crição de enfermagem. Ressaltamos

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A R T I G O D E ATU A L I ZAÇÃO

ANÃ L lS E C R fT I CA DA UT I L I ZAÇÃO DAS F O L HAS D E CONT R O L E N AS U N I DAD ES D E T E RAP I A I NT E NS I VA ( U T ls )

E d n a I ku m i U mebayash i Takah ash P , Ana M a r i a Kazue M i yadah i ra l , M i a ko K i m u ra 2

TAKAHASHI , E . 1. U . et al i i . Análise crítica d a utilização das folhas de controle nas unidades de terapia inten­siva (UTIs) . Rev. Bras. ElIf. , Brasília, 37 (3/4 ) : 257-2 6 1 , ju l . /dez. 1 9 84 .

R ESUMO. Trata-se de uma aná l ise c r ft i ca d a ut i l ização das fo lhas de controle nas un i ­dades de tratamento intens ivo de u m hosp ita l -esco l a . Pa ra essa aná l ise fo i fe i to um levan­tamento do impresso empregado nas doze UT l s desse refer ido hosp i ta l , como também foram coletados a lguns dados re ferentes à sua u t i l i zação. A aná l ise dos resul tados nos perm ite ref let i r sobre a inadequação d as fo lhas de contro le por não retratarem uma assis­tência de en fermagem sistemat izada aos pacientes, nas un idades pesqu isadas.

ABST RACT. This is a cr i t ica i ana lys i s on the use of control records i n 1 2 i ntens ive care un i ts of a school hospita l . The d ata obta ined showed that the control records are inade­quate and do not demonstrate a systematic nursi ng . care g iven to pat ients in those un its.

I NT R O D U ÇÃO

A necessidade da consolid ação de um corpo dc conhecimentos tem voltado a a tcn ção do cnfcr­meiro para a definição de um método próprio dc assistência .

Em busca de tal meta e cm prol de uma c n fer­mage m mais cient ífica e qual i ficada , ten ta Livas de

implemen tação de uma assis tência sistematizada têm sido fei t a s . Algumas dessas , a tingiram com sucesso o objet ivo proposto e outras ainda estão com dificuldades em sua efe tivação .

F R IED LANDER ( 1 983) acredita que o sucesso ou. insucesso na implan tação desse sis tema de t rabalho cabe ao apoio , colaboração e in teresse das chefias de enferniagcm e do preparo rigoroso constante e sis tel'l1ático dos enfermei ros .

KOCH & OKA ( 1 977) sugerem que cada pro­t1ssional faça uma aplicação e avaliação de uma sis te mática de assis tência dentro da sua área de atuação .

Nas unidades de tc rapia intensiva (UTls) , a consecução dos obje tivos a e l a incrcn tcs dependc principalmen te do desempenho planejado da e quipe de en fermage m . A es tratégi a operacional

de uma UTl se torna possível quando ex iste uma enfe rmagem cspccialmen te preparada para assistir o pacicn tc crítico .

WHlPPLE ( 1 980) considera que UTl consiste em uma oportunidade e dcsafio para a en fermage m : oportunidade para desempenhar u m papel pro t1s­sional vol tado ao tratamen to da enfermid ade crí­t ica c desat10 para enfrentar etlcazmente as respon­sabilidades profissionais e técnicas aumen tadas.

1 . Professores Assistentes de disciplina de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da U SP, enfermeiras . 2 . Auxiliar de Ensino da discipl ina de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP, enfermeira.

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o sucesso do desempenho profissional em UII , depende da manei ra como o enfe rmeiro enca­ra e assume o seu papel e, prin cipal mente , de uma abordagem sis tematizada da assistência a ser pres­tada . Esta sistematização de assistência se torna essencial em UII , pe la própria situação cr ít ica do pacien te grave e pela dinânúca intensiva dessas unidades .

Port anto , é primordial que a assistência seja planejada com b ase numa sis tem,ítica que adote <: ;:-:etodologia cien t ífi ca . Não importa a termino­logia utilizada para definir essa metodologia , ou mesmo , a sua forma, mas sim, que seja implemen­tada para atender desde os problemas mais simples do paciente até os problemas mais complexos, nas esferas biopsicossócio-espirituais .

Sendo o planejm;lento escrito ou regis trado , de alguma forma, proporciona uma comunicação melhor e mais consisten te entre os membros da e quipe de saúde , permitindo a continuidade de um a l to padrão de assistênci a .

Na maioria das U Tl s , t e m o s observado q u e a i mp lemen t aç ão de u l \ 1a s i s t e l l l ü t ica de assis tên cia tem sido u llla p reocupação con stante . No e n t an t o ,

a s caracterís t icas dos pacien tes de UTl parecem tornar impróprios al guns mode l os precon izados.

Além da dificuldade e m consegui r a dequar um modelo de acordo com as caracte r ís t icas do

paciente grave , deparamos t a m b é m com a difi­culdade e m evidenciar o pacien te nas suas esferas biopsicossócio·espirituais . Muitas vezes , a esfera biológica é priorizada em função da gravidade das condições físicas em que se encont ra o pacien­te e pela necessidade premente de lutar pela sobre­vivência do doent e . No entanto , por todo esse contexto de risco de vida , o componen te h uma­

nístico do relacionamento enfermeiro-paciente se torna ainda mais rico , exigindo do profissional

uma atuação também efe tiva nas demais esferas . Da mesma forma, GOMES ( 1 978) considera neces­sária uma at itude da equipe , não somen te orien ­t a d a para o aprovei tamen to das faci l idades técnicas que a UTI oferece , como também conscienl izada da prioridade do relac ionamento huma no como fa tor essencial à segurança e apoio emociona l ao paciente .

En tre t anto , como consegui r enfa t izar todos

e sses pon tos de forma p d t ica , conc isa e e fe t iva ? Por não se tra tar de tarefa fác i l , observa- se que a forma como a sistematização da assistência em UII pode ser efe t ivada ainda não está claramente definida. M IZUTANI ( 1 978) cOl lsidera que podem ser cria­dos os mais d iversos tipos de instrumento que visem uma assistência sistematizada, desde que práticos e

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obje t ivos. O que se tem verificado é que , em função da a tividade incessante do enfermeiro nas UIIs,

parece haver uma t e ndência para a u tilizaçãO de im­

pressos simp l ificados que não somente sirvam para regi�trar os dados vitais dos pacientes , mas que se constituam em instrumentos que retratem um pla­nejamento da a ssistência de enfermagem e possib i­

l item a evolução do paciente e a ava l iação dessa assistência . Dentre os impressos ut il izados nas UIIs , o que mais expressa as at ividades do enferme iro é aquele no qual ele registra os parâme tros con tro­lados do paciente , isto é, as folhas de controle .

Diante do exposto , optamos por analisar o

conteúdo e a u t ilização , pelo enfermeiro , das folhas de controle nas UTIs de um hosp ital­escola .

O propósito fundamental dessa análise é de possib i li tar aos enferme iros que atuam em UTls,

um momento de reflexão quan to à uti l izaçITo das folhas de controle preconizadas em suas re specti­vas unidades .

M ET O D O LOG I A

O es t udo foi re a l izado em u m hospi ta l -esco l a , tendo sido fei to u l l l l e van t al l lcnto das fo lhas de con ­trole d'<! pacientcs nas doze UTls desse mesmo hospi­

t al . Nesse levan tamen to , além do impresso empre­gado , col e t a ram-se alguns dados re ferentes à sua utilização bem como suas vantagens e desvan tagens .

R ESU LTADOS E D I SC USSÃO

Das doze unidades pesquisadas , todas uLi l izam folhas de controle , sendo que foram identificados nove dife rentes mode los . D uas unidades uti l izam um mesmo modelo e t rês unidades u ti l izam igual ­mente um outro model o . Os demais diferiam entre si em tamanho , forma e conteúdo . Na descriçITo dos resu l t ados fa re mos se mpre re fe rência às fol h a s ,

po is apesar de a l guns modc los iguais , as unidades

s:1o independen tes en tre si e a sua ut i l ização pode d i ferir de um local para outro. Além disso , inte­ressa para c sse esLudo, a aná l ise do gl oba l c nITo d as folhas isol adamente .

Conteúdo das fo lhas de contro le

A gravidade das condições do pacien te in ter­nado em UTI se reflete significativamente no dese-

L

quil íbrio dos parúmetros considerados vitais . Em vi rt ude , ta lvez, dest e fa t o , obse rva-se uma preocu­pação expressa Ilas fo lhas de controle analisadas, em evidenciar os sinais vitais e m primeiro p lano . Os sinais vitais mais comumente encontrados são tempera tura (1' ) , pulso ( P) , respiração (R) e pres­são arterial (PA). A pressão venosa central (PVC) foi encontrada· em seis folhas e a freqüência card ía­ca (FC) em quatro folhas. Em duas folha s havia e spaços vazios na coluna referente aos sinais vita is, possibil itando o acréscimo de ou tros parú­metros. Entretanto , para todos eles só havia espaço para registro dos dados quantita tivos. Acredita-se , porém, que para uma avaliaçãO mais expressiva, as informações qu alitativas devam ser tão valori­zadas quanto as quantita tivas.

Em dez unidades , as folhas pernútem o regis­tro de dados para con t role h ídrico . Em apenas uma unidade , Unidade de Queimados , pelas carac terísticas próprias dos pacientes que assi s te e pela necessidade de um rigoroso controle h ídri­co , h á espaço sut1cic n t e para espec i l1car quali ta ­t i vamen te os dife rentes volumes gan h os e perd idos . Nos demais , esse controle é b aseado pra ticamente nos I íquidos ingeridos e/ou administrados por via parenteral e nas perdas por diurese . Em a lgumas

folhas ( três a cinco) são incluídas ainda as perdas por drenas , sondas, vômitos e sudorese . É impor­tante ressaltar que neste i tem de con trole h ídrico , não sejam somente regist rados os . d ados rela tivos ao volume perdido e ganho . Há necessidade que se faça o b alanço h ídrico , fator de grande impor­tância para avaliação da homeostase .

Outros cuidados como exerc ício respiratório , aspiração orotraqueal , mudança ' de decúbito e lúgiene também são encontrados em quatro a cinco diferen tes folhas . Ainda , o controle de peso , a troca de cânula traqueal , a troca de frascos de d ren agem foram encontrados em dois modelos . Apenas em uma folha existe um espaço que é empregado improvisadamente para prescrição de en fe rmuge m .

Da observação acima, constata-se que o s modelos que contêm cuidados específicos d e enfermagem não chegam à metade d o total pesqui­sado , sendo que aque les que os con têm estão incomple tos . Apenas uma unidade fez e xceção ao estabelecer u m espaço improvisado para a pres­crição de enfermage m . Ressal tamos que a folha de cOl)trole é o impresso mais utilizado pe l a enfer­meira e sua e quipe , nas Unidades es tudadas . COI\S­tata-se , entre tan to , que esse impresso, mais apro­priado para re tratar as condições gerais do paciente

de UTI , é utilizado mais freqüente e priori taria­mcnte para o regis tro de a lguns parâme t ro s , n ão

visando um planejamento global de enfermagem. Desta forma, vemos que as esferas psicossócio­

espirituais nem sequer são mencionadas nas dife­rentes folhas , excetuando uma que , talvez na tentativa de abrangê-las, tem um espaço para o registro de Problenlas e Queixas. A organização do con teúdo e a utilização das folhas de controle re fle tem a preocupação em salientar os aspectos d a área biológica . De certa forma , isto é esperado em funçãO do grande comprome timento físico dos pacientes de U1'l . No entanto , a própria condição de risco de vida do paciente grave , entre outros, torna evidente a necessidade e a importância do componen te humanístico, na assistência de enfer­mage m . Acredi tamos que isso se efetive quando a enfe rmeira . vol t ar sua aten ção para as demais esferas do pacien te , que não somente a física . Mui tas vezes questionamos até onde vai a nossa compotência para l idar com aspectos que t ranscen­dem a área b i ológica . Se rá que ao rea l izarmos <Jqui­lo que especificamente nos compe te , com respei to , compreensão e interesse por aquele a quem assist i ­mos, não es ta r íamos minimizando grande parte dos problemas re lativos âs esferas psicossócio­e spiri tuais ? Essa post ura de respei to pela pessoa , mesmo em condições cr íticas , de compreensão dos problemas apresentados e de interesse e m aj udar na so l ução desses probl�mas não deveria ser da compe tência de todo enfermeiro ?

Prosseguindo a análise , verificamos que dez folhas apresenta';1 um espaço para obse rvações . Entre tanto, dessas dez somente três permitem o u possib il i tam urna evolução de enfermagem. Apesar da existência desse espaço para observa­ções , com exceção de uma unidade , todas as demais ut i lizam um outro impresso comum a todo hospital para anotações de enfermagem. Verifica­se , portanto , que em nove unidades ocorre dupli­caçrro de espaço para anotação de enfermagem. No en tan to , para o p resen te es tudo, não foi possíve l anal isar o conteúdo das anotações feitas pela enfermagem, não sendo possíve l , dessa ma­neira , ver ificar a ocorrência de dupl icação de informações. Da mesma forma, não foi possível verificar se os enfermeiros e sua equ ipe conside­ram os aspectos relacionados às e sferas p sicossócio­e spiritua is dos pacien tes , pelo registro no impresso das anotaçOes de enfermagem . Se tais aspectos são de uma forma ou de outra valorizados pela enfermagem, um espaço deveria ser destinado a

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eles, por se tratarem de aspectos imprescindíveis para a compreensão do paciente na sua totalidade . Enfatizamos mais uma vez que , na maioria das unidades, os dois impressos referidos acima (folhas de controle e anotaçOes de enfermagem) s[o os únicos u tilizados pela enfermagem e que , portanto, dever iam re tra tar a metodologia de assistência empregada pelo enfermeiro .

Outros itens como prescrição médica, exames laboratoriais , condiçOes de ventiladores , são incluí­dos em uma ou outra folha .

Uti l ização das fo lhas de contro le

Na tentativa de identificar o envolvimento do profissional enfermeiro no planej amento dos con­t roles realizados por ele e sua equipe , b uscou-se levantar a quem cabia a determinação da freqüên­cia e dos parâmetros a serem controlados .

Verificou-se que em sete unidades , o enfer­meiro j untamente com o médico são os responsá­ve is por essa determinação e , em cinco unidades , cabe somente ao enfermeiro .

En tretanto , quando foi questionado em que se b ase ava a de terminação da freqüência e dos parâ­me tros a se re m con tro lados , const a tou-se que , e m se i s unid ade s , os con t i'o lcs s:io fe i t os de acordo com a ro t ina estabe lecida , em cinco , de acordo com a rotina e a condição do pacien te e, em ape­nas uma , se estabelece os controles de acordo com as condições do pacien te .

Denota-se por essas respostas, a incoerência ent re a finalidade e a forma de utilização das folhas de con trole . Se os cuidados, ou melhor , os controles são es tabe lecidos rotineiramen te , isto é , sem um planej amen to prévio individualizado , a determinação desses controles depende exclusiva­mente da rotina pré-estabelecida nas unidades , o que foge comple tamente de uma filosofia de assistência individualizada . Mesmo nas unidades em que se mencionou considerar a condição do paciente além da rotina, na realidade o controle de início é rotineiro . Sorilente após a modificação do estado geral do paciente , ou sej a , de seu agrava­mento , esse controle foge aos padrões estabele­cidos nas unidades . Isto denota a pouca importân­cia que é dada ao caráter preven tivo de uma assistência planejada .

Portanto , pelas respostas obtidas, constata-se que de doze unidades somente em uma o enfer­meiro planeja a assistência a se r prestada, tomando como base para o seu planejamento , a avaliaç[o das condições do paciente .

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Por sua vez , a aval iação dos parâmetros con­trolados é fe ita por enfermeiro e médico em nove unidades, somer. te por médico em duas unidades e somente por enfermeiro em uma unidade . Se o enfermeiro realmente tem a preocupação de ana­lisar e avaliar os dados obtidos nos controles , ele pode se questionar quanto à viab ilidade de serem e stabelecidas rotinas para assistên cia dos pacientes de UTI . Sabe-se que rotinas administrativas são estabe lecidas para facilitar o desenvolvimento das a t ividades pertinentes a uma assistência de enfer­magem. Ent re tanto , as rotinas existentes não devem ser a base para a assistência, pois assim , e la deixa de ser direcionada às necessidades de cada paciente .

Tais dados nos mostram a falta de preparo dos enfermeiros na uti lização de um método cient ífico de assistência . Questionamos, no entanto , até onde os órgãos formadores têm se preocupado em preparar o seu produto para tal assistência . Se essa preocupação ainda não existe a nível de a lgumas e scolas , devemos lembrar da existência do Projeto d e Lei n9 60/82 do exerc ício pro fissional (COFEN 1 980), que legal izará a realização da prescriçãO de enfermagem pelo enfermeiro como parte de sua atividade profiss ion a I .

De qua lquer for ma , a c re d i t a mos q ue o e l l fe r­meiro tenha preparo e deva util izar o se u potencial cr ítico , direcionando-o para análise e reflexão da sua prática . Acreditamos ser esse o primei ro passo com o qual , cada um de nós poderá contribuir para o fortalecimento do enfermeiro enquanto profissional e da enfermagem enquanto profissão .

Vantagens e desvantagens

As principais vantagens citadas pelos enfermei­ros com as folhas de controle utilizadas nas res­pectivas unidades são apresentadas a seguir , em ordem decrescente de citação : permite visão geral do paciente ; é prática e obje tiva ; permite controle das 24 horas e é de fácil manipulação .

Como desvantagens , o s seguin tes pontos fo­ram colocados em ordem decrescente de citação : é incomple ta (fa l ta prescrição de enfermagem, espaço para anolações) ; tem d ados em excesso (em a lguma s unidades nem todos os dados con ti­dos nas folhas são u tilizados) ; é complexa ; tem tamanho impróprio e não é' anexada à papele ta .

Em vista das diferentes colocações quanto às vantagens e desvan tagens das folhas de controle , verifica-se a dúvida que o enfermeiro tem quanto à sua finalidade e a relação das mesmas como parte

de uma assistência sistematizada . A util ização das folhas tais quais são aprescn tadas nITo s igni fica que e l as nlío podc m cs tar vin culadas a um mé todo assistencial de enfermagem, con tudo , é essencial que , para a sua uti l ização , as folhas de controles estejam inseridas den tro de uma filosofia compar­t i lhada por toda a equipe , que vise primordialmen­te , uma assistência de enfermagem planejada e glob al .

Desta forma, verifica- se a inadequação de introduzir modelos de outros locais , sem uma avaliação prévia das condições estruturais de cada unidade bem como da análise das especificidades dos tratamentos e condições do paciente .

Nota-se ainda, pelas vantagens e desvantagens citadas, a necessidades sentida pe lo enfermeiro de se atribuir outras qualidades às denominadas folhas de controle , ampliando a sua abrangência, sem contudo alterar as facilidades por e las oferecidas.

CONCLUSOES

Em vista dos aspectos analisados an teriormen­te , concluímos :

1 . As folhas de controle consideram em seu conteúdo alguns cuidados da área biológica dentre os quais o controle dos sinais vitais e o con trole

h ídrico , nITo incluindo aspectos psicossócio-espiri ­tuais dos pacientes graves .

2. As folhas de controle e o impresso de ano­tações de en fermagem são os úni cos impressos ut i l izados pe l a en fc rmagc m nas UTls pesquisadas .

3. As folhas de controle são usadas mais fre ­qüen temente para simples registro dos dados obti­dos nos con troles feitos pela enfermagem , n ão in cl uindo ou tros aspectos pertinentes à prob le­mática do pacien te n� UTl .

4. Não existe um planej amento prévio dos cuidados realizados e anotados nas folhas de con­t role . Esses cuidados são realizados com base em rotinas estabelecidas nas unidades .

5. A utilização das folhas d e controle , t al como se faz , não permite caracterizar uma assis­tência de enfermagem sis tematizada nas UTIs pesquisadas .

Com base na análise fei ta no presente estudo quanto à uti lização das folhas de control e , consi­deramos oportuno sugerir que estudos sejam reali­zados pelos enfermeiros com o intuito de analisar a validade dos instrumentos ora utilizados em suas respectivas unidades , bem como de refle tir sobre a sua atuação e sua contribuição para a con­solidaçãO de um corpo de conhecimen tos da profisSãO .

TAKAHASHI, E . L U. et a l i i . Crit icaI analysis abou t lhe use of eontrol record s in in tcnsive eare units . RelI. Bras. Enf , Brasília , 3 7 (3/4) : 25 7-261 , Ju l . /Dcc . 1 9 84 .

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