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1 BULA DE REMÉDIO: DA TEORIA À PRÁTICA EM SALA DE AULA Alba Maria Perfeito (UEL) Márcia Cristina Greco Ohuschi (PG-UEL) Cleide Aparecida Gomes Borges (G-UEL) Resumo Este trabalho, vinculado ao Projeto de Pesquisa em Linguística Aplicada - de cunho etnográfico Escrita e ensino gramatical: um novo olhar para um velho problema, apresenta uma análise do gênero discursivo bula de remédio, na qual se observam alguns aspectos das marcas linguístico-enunciativas, que, juntamente com as condições de produção, o tema e o arranjo textual, contribuem para a construção de efeitos de sentido. A partir dessa análise e dos pressupostos teóricos de Bakhtin (2003), Barbosa, (2003), Rojo (2005) e Gasparin (2002), apontamos sugestões de encaminhamento didático a serem desenvolvidas em turmas das três últimas séries do Ensino Fundamental, com o intuito de contribuirmos, de maneira teórico-prática, para os estudos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem da língua materna. Palavras-chave: gêneros discursivos; análise linguística; bula de remédio. Considerações iniciais A partir da concepção interacionista de linguagem, reconhecemos um sujeito ativo em sua produção linguística, isto é, que realiza um trabalho constante com a linguagem dos textos orais e escritos, uma vez que, de acordo com Geraldi (1984), emprega-a para agir, atuar sobre o outro e sobre o mundo. Desse modo, cabe à escola proporcionar, aos alunos, situações de produção de linguagem, a qual, segundo Faraco (2003), ocorre por meio de gêneros, no interior de determinada esfera da atividade humana. É nessa concepção que se insere o presente trabalho, o qual integra os estudos realizados no Projeto de Pesquisa em Linguística Aplicada "Escrita e ensino gramatical: um novo olhar para um velho problema", levado a efeito pela Universidade Estadual de Londrina, no período de 2003 a 2007, formado por alunos (de graduação e de pós- graduação) e por professores (da rede pública e de instituições superiores). O projeto orientou-se para a formação do professor de Língua Portuguesa, via diagnóstico - de 20 horas-aula - e consequente intervenção, em 5 escolas da região de Londrina-PR, ao buscar, por meio de reflexão prática-teoria-prática, o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, no ensino fundamental, sobretudo no que tange à prática de análise linguística. Nesse sentido, as discussões consideraram o gênero discursivo como objeto de ensino - eixo de articulação e de progressão curricular. E, assim, o texto passa a ser concebido como unidade de significação e de ensino, elemento integrador das práticas de leitura, de análise linguística e de produção/refacção textuais. Consequentemente, o gênero, como objeto de ensino e eixo de articulação/progressão curricular, visa a proporcionar ao aluno a ampliação do horizonte discursivo, por abordar propósitos diferentes, com sócio-histórias diversas. Elegemos, para aqui veicular, o gênero bula de remédio, ao realizarmos uma análise das suas marcas linguístico-enunciativas, contextualizadamente. Convém observar que a abordagem é fruto das discussões junto ao grupo de pesquisa. Propomos, ainda, algumas sugestões de encaminhamento didático, que podem ser levadas a efeito,

Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

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BULA DE REMÉDIO: DA TEORIA À PRÁTICA EM SALA DE AULA

Alba Maria Perfeito (UEL)

Márcia Cristina Greco Ohuschi (PG-UEL)

Cleide Aparecida Gomes Borges (G-UEL)

Resumo

Este trabalho, vinculado ao Projeto de Pesquisa em Linguística Aplicada - de cunho

etnográfico – “Escrita e ensino gramatical: um novo olhar para um velho problema”,

apresenta uma análise do gênero discursivo bula de remédio, na qual se observam alguns

aspectos das marcas linguístico-enunciativas, que, juntamente com as condições de

produção, o tema e o arranjo textual, contribuem para a construção de efeitos de sentido.

A partir dessa análise e dos pressupostos teóricos de Bakhtin (2003), Barbosa, (2003),

Rojo (2005) e Gasparin (2002), apontamos sugestões de encaminhamento didático a

serem desenvolvidas em turmas das três últimas séries do Ensino Fundamental, com o

intuito de contribuirmos, de maneira teórico-prática, para os estudos relacionados ao

processo de ensino-aprendizagem da língua materna.

Palavras-chave: gêneros discursivos; análise linguística; bula de remédio.

Considerações iniciais

A partir da concepção interacionista de linguagem, reconhecemos um sujeito

ativo em sua produção linguística, isto é, que realiza um trabalho constante com a

linguagem dos textos orais e escritos, uma vez que, de acordo com Geraldi (1984),

emprega-a para agir, atuar sobre o outro e sobre o mundo. Desse modo, cabe à escola

proporcionar, aos alunos, situações de produção de linguagem, a qual, segundo Faraco

(2003), ocorre por meio de gêneros, no interior de determinada esfera da atividade

humana.

É nessa concepção que se insere o presente trabalho, o qual integra os estudos

realizados no Projeto de Pesquisa em Linguística Aplicada "Escrita e ensino gramatical:

um novo olhar para um velho problema", levado a efeito pela Universidade Estadual de

Londrina, no período de 2003 a 2007, formado por alunos (de graduação e de pós-

graduação) e por professores (da rede pública e de instituições superiores). O projeto

orientou-se para a formação do professor de Língua Portuguesa, via diagnóstico - de 20

horas-aula - e consequente intervenção, em 5 escolas da região de Londrina-PR, ao

buscar, por meio de reflexão prática-teoria-prática, o aprimoramento do processo de

ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, no ensino fundamental, sobretudo no que

tange à prática de análise linguística.

Nesse sentido, as discussões consideraram o gênero discursivo como objeto de

ensino - eixo de articulação e de progressão curricular. E, assim, o texto passa a ser

concebido como unidade de significação e de ensino, elemento integrador das práticas de

leitura, de análise linguística e de produção/refacção textuais. Consequentemente, o

gênero, como objeto de ensino e eixo de articulação/progressão curricular, visa a

proporcionar ao aluno a ampliação do horizonte discursivo, por abordar propósitos

diferentes, com sócio-histórias diversas.

Elegemos, para aqui veicular, o gênero bula de remédio, ao realizarmos uma

análise das suas marcas linguístico-enunciativas, contextualizadamente. Convém

observar que a abordagem é fruto das discussões junto ao grupo de pesquisa. Propomos,

ainda, algumas sugestões de encaminhamento didático, que podem ser levadas a efeito,

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dependendo da relação: realidade do aluno e a complexidade da tarefa, nas 3 últimas

séries do ensino fundamental.

Escolhemos a bula de remédio por ser um gênero ainda pouco explorado em sala

de aula e de grande importância na vida cotidiana das pessoas, pois, conforme dados

publicados pela revista Veja (10 de janeiro, 2001, p. 71, apud CARVALHO et al, 2002,

p.1),

o Brasil é o quinto país do mundo em consumo de medicamentos, com uma

farmácia para cada 3000 habitantes, mais que o dobro do recomendado pela

Organização Mundial de Saúde. O país é também campeão em mortes por

intoxicação e, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz, também citados pela

revista, 30% das 80.000 mortes anuais por intoxicação têm como causa o uso

indevido de medicamentos. É provável que estes (tristes) fatos estejam

relacionados a uma criticável tendência à auto-medicação (sic) por parte do brasileiro. Desaprovamos a prática da auto-medicação (sic), mas defendemos o

argumento de que o acesso às informações contidas nas bulas é um direito do

cidadão.

Frente às estatísticas apresentadas e por concordamos com a opinião dos autores,

consideramos importante o trabalho com esse gênero em sala de aula, visto que, além de

contribuir para a formação de cidadãos conscientes, atua como um mediador no trabalho

com a linguagem. E, nesse enfoque, especialmente nos detivemos na análise do emprego

das marcas linguístico-enunciativas em consonância com as condições de produção, a

construção composicional e o conteúdo temático.

Desse modo, primeiramente, realizamos uma breve reflexão teórica sobre os

gêneros discursivos e sugestões didáticas. Em seguida, tecemos algumas considerações a

respeito do gênero bula de remédio, após a observação das regularidades (relativas) do

gênero, via seleção de textos - sem desconsiderar a sua heterogeneidade. Então,

abarcarmos, para análise e práticas de leitura e de análise linguística, a bula do

medicamento Tylenol, versando sobre as regularidades do gênero e suas características

mais específicas no texto em pauta, conforme veiculado, posteriormente, no estudo. Por

fim, apresentamos as sugestões de encaminhamento didático.

1 Os gêneros discursivos

De acordo com Bakhtin (2003, p. 262), os gêneros são “tipos relativamente

estáveis de enunciados”, ou seja, formas de textos criados pela sociedade, que funcionam

como mediadores entre o enunciador e o destinatário. O autor salienta

a extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos), nos quais devemos

incluir as breves réplicas do diálogo cotidiano (...), o relato do dia-a-dia, a carta (em todas as

suas diversas formas), o comando militar lacônico padronizado, a ordem desdobrada e

detalhada, o repertório bastante vário (padronizado na maioria dos casos) dos documentos

oficiais e o diversificado universo das manifestações publicísticas (...) as variadas formas das

manifestações científicas e todos os gêneros literários (do provérbio ao romance de muitos

volumes) (BAKHTIN, 2003, p. 262).

Ele ainda diferencia os gêneros primários dos secundários. Os primeiros se

constituem nas interações diárias, naturais, ou seja, em circunstância de comunicação

verbal espontânea, especialmente na oralidade, e em alguns tipos de escrita informal,

como bilhetes e cartas pessoais. Já os gêneros secundários se constituem em situações

mais complexas de comunicação, principalmente escrita, como os discursos políticos,

científicos etc. e, em seu processo de formação, “eles incorporam e reelaboram diversos

Page 3: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

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gêneros primários (simples), que se formaram nas condições de comunicação discursiva

imediata.” (BAKHTIN, 2003, p. 263).

Para Bakhtin (2003), há três aspectos que caracterizam o gênero: o conteúdo

temático, isto é, aquilo que pode ser dizível num gênero (os assuntos, os temas típicos);

o estilo, ou seja, a escolha dos recursos linguístico-expressivos do gênero; a construção

composicional, ou formas de organização textual. Conforme Bakhtin (2003, p. 262),

esses três elementos “estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são

igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da

comunicação”. Aspectos estes também intrinsecamente associados às condições de

produção: quem fala; para quem fala; com que finalidade; em que época, local e suporte.

Dessa forma, cabe ao professor saber qual gênero é ensinável e em que nível de

profundidade ele pode ser ensinado-aprendido.

Mas é preciso, antes, situar que cada gênero não está sozinho, nem “solto” no

espaço, ele está contido em um conjunto ideológico de várias forças, que são as esferas

comunicativas. Conforme Bakhtin/Volochinov (1992), as esferas são divididas em:

esferas do cotidiano, em que se incluem as familiares, íntimas, comunitárias, e as esferas

dos sistemas ideológicos constituídos, em que fazem parte a ciência, a arte, a religião, a

política etc. Em cada uma delas, há um conjunto específico de gêneros, por exemplo, na

esfera jornalística, há o artigo de opinião, o editorial, a notícia a reportagem etc., na

esfera da universidade, há o paper, o fichamento, o relatório, o seminário, a avaliação, a

monografia etc. e todas as esferas conversam entre si. Por isso, ao se ensinar um gênero,

além das suas condições de produção e de suas características básicas, é preciso levar

em conta a esfera comunicativa a que pertence, pois ela determinará os espaços sociais

que podem ou não ser ocupados por seus interlocutores.

Diante da perspectiva apresentada, questionamos como poderíamos viabilizar

isso na escola e, então, concluiu-se, no projeto de pesquisa, observar, nas práticas

pedagógicas em textos de diferentes gêneros discursivos, aspectos relativos:

ao contexto de produção - autor/enunciador, destinatário/interlocutor,

finalidade, época e local de publicação e de circulação;

ao conteúdo temático - ideologicamente conformado - temas

avaliativamente manifestados por meio dos gêneros, explorando-se,

assim, sobretudo na leitura, para além decodificação, a predição,

inferência, críticas, criação de situações-problema, emoções suscitadas

etc.;

à construção, forma composicional – elementos de estrutura

comunicativa e de significação e

às marcas linguístico-enunciativas - de regularidade na construção

composicional e linguística do gênero, veiculadas, dentre outras, pela

expressividade do locutor (BARBOSA, 2003; ROJO, 2005).

Mobilizamos as concepções sobre gêneros e de transposição didática ao Projeto

de Trabalho Docente de Gasparin (2002), publicado como Anexo 1 de sua obra,

elaborado em uma perspectiva sócio-histórica, oriundo dos estudos vygotskynianos1. O

quadro abaixo apresenta uma síntese da proposta:

1 Para elaborar as dimensões do aprendizado escolar, Vygotsky (1988 p. 97) descreveu o conceito de Zona

de desenvolvimento proximal, “distância entre o nível de desenvolvimento real (...) e o nível de

desenvolvimento potencial”, sendo aquele o definidor das funções mentais já amadurecidas, e este

daquelas que “ainda não amadurecerem, mas que estão em processo de maturação” e que podem alcançá-

la, se estimuladas por um mediador.

Page 4: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

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PRÁTICA

(zona de

desenvolvimento

real)

TEORIA

(zona de desenvolvimento proximal)

PRÁTICA

(zona de

desenvolvimento

potencial)

Prática social

inicial do

conteúdo

Problematização Instrumentalização Catarse Prática social

Final do

conteúdo

1) Apresentação

do conteúdo;

2) Vivência

cotidiana do

conteúdo:

a) O que o aluno

já sabe: visão da

totalidade

empírica.

Mobilização.

b) Desafio: o que

gostaria de saber

a mais?

1) Identificação

e discussão

sobre os

principais

problemas

postos pela

prática social e

pelo conteúdo.

2) Dimensões

do conteúdo a

serem

trabalhadas.

1) Ações docentes

e discentes para

construção do

conhecimento.

Relação aluno x

objeto do

conhecimento

através da

mediação docente.

2) Recursos

humanos e

materiais.

1)

Elaboração

teórica da

síntese, da

nova postura

mental.

Construção

da nova

totalidade

concreta.

2) Expressão

da síntese.

Avaliação:

deve atender

às

dimensões

trabalhadas e

aos

objetivos.

1) Intenções do

aluno.

Manifestação da

nova postura

prática, da nova

atitude sobre o

conteúdo e da

nova forma de

agir.

2)Ações do

aluno.

Nova prática

social do

conteúdo

Conforme Gasparin (2002), esses passos pedagógicos constituem um todo

indissociável e dinâmico, em que cada fase interpenetra as demais. Observamos,

portanto, um trabalho dos conteúdos de forma contextualizada, o qual exige a atuação do

professor enquanto mediador de todo o processo.

Assim, após essa breve apresentação da perspectiva teórica em que este trabalho

se insere, passamos às considerações a respeito do gênero bula de remédio.

2 Conhecendo a bula de remédio

Ao se caracterizar como um texto concreto que encontramos em nosso cotidiano,

além de ter como interlocutores pessoas de áreas específicas da saúde, a bula de remédio

é um gênero cuja leitura pode ser feita por qualquer cidadão, provavelmente, quando este

necessitar de orientações para usar corretamente um medicamento, para cessar ou

amenizar uma dor ou mal-estar. Porém, muitas vezes, para este interlocutor, é impossível

a total compreensão das orientações e informações disponibilizadas nas bulas, devido ao

volume de dados, à linguagem técnica (em virtude de ser, também, encaminhada ao

leitor especializado) e ao tamanho reduzido das letras.

Page 5: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

5

Conforme Carvalho et al (2002), há dois tipos de leitores para as bulas de

remédio: o leitor leigo (paciente) e o leitor técnico (profissional da saúde). Para o autor,

aos pacientes, as informações disponibilizadas nas bulas são quase sempre

incompreensíveis e, para os profissionais da saúde, as informações técnicas são

insuficientes.

Com o objetivo de atender a essas necessidades distintas de informações, a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Ministério da Saúde determinou a

reformulação dos textos de bulas de medicamentos, cujas regras estão dispostas na

resolução nº140 de 29 de maio de 2003. Esta resolução obriga os laboratórios a

prepararem dois tipos de bulas: uma voltada para o consumidor, com linguagem mais

simples e letras maiores, adquiridas junto ao medicamento, no ato da compra, e uma bula

voltada para o profissional da saúde, com informações técnico-científicas. Não obstante,

ainda são encontradas, nas farmácias, bulas que fogem ao padrão exigido. Tal resolução

está sendo revista em função de facilitar o entendimento para os consumidores e o

gerenciamento das informações sobre os medicamentos registrados pela Anvisa

(ZULINO, 2007).

Dessa forma, em nosso estudo, selecionamos algumas bulas de variados

medicamentos (para problemas de dor, digestão, pressão arterial, gripe, falta de sono

etc.) e observamos nas regularidades no processo de construção do gênero, o objetivo de

orientar o leitor quanto ao uso e ainda, de indicar, identificar e expor informações.

Para exemplificarmos tal constatação, escolhemos a bula do medicamento

Tylenol, que abordamos a seguir.

3 A bula do Tylenol

A escolha do texto para análise da bula do medicamento Tylenol (Anexo), dentre

outras, deve-se ao fato de ela possuir uma linguagem simples, direcionada ao leitor leigo

(paciente). Trata-se, ainda, de um remédio que não precisa de prescrição médica, tendo

como princípio ativo o paracetamol (fármaco usado no tratamento da dor moderada

inflamatória), um dos mais conhecidos e consumidos, não só no Brasil, mas também em

outros países, como, por exemplo, Estados Unidos, Portugal e Reino Unido.

Segundo Tavares (2001), médico e professor do Departamento de Clínica Médica

da (UFMG),

o paracetamol é a medicação mais indicada para o tratamento dos sintomas da

dengue (febre, mal estar e dores musculares), uma vez que, outros

analgésicos e antitérmicos, principalmente que contenham ácido acetil

salicílico ou aspirina, aumentam as chances de hemorragia nos casos de

dengue e deve ser evitados.

A bula em pauta é um impresso de 2005, que acompanha o medicamento Tylenol

(paracetamol). O medicamento é um analgésico e antitérmico, usado para aliviar a dor e

prevenir ou reduzir a febre, respectivamente.

O medicamento tem como farmacêutico responsável Roberto Araki e é fabricado

pelo laboratório Janssen – Cilag Farmacêutica LTDA., uma divisão farmacêutica da

Johnson & Johnson, a maior empresa do mundo na fabricação de produtos para cuidados

com a saúde.

De acordo com o Bulário Eletrônico da Anvisa (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2007), a estrutura do texto da bula de remédio, direcionada ao paciente, está dividida

em três partes: identificação do medicamento, informações ao paciente e dizeres legais.

Na bula do medicamento Tylenol, encontramos a seguinte estrutura (construção

Page 6: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

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composicional do gênero): a) na identificação do medicamento é denominado o nome de

marca (Tylenol), o nome do princípio ativo (paracetamol), que é a substância que age no

organismo, a forma farmacêutica e a apresentação, além de a maneira como o remédio é

produzido e se apresenta (comprimidos de 500 mg em embalagem contendo 200

comprimidos/comprimidos revestidos de 750 mg em embalagens contendo 20 ou 200

comprimidos); b) nas informações ao paciente, são disponibilizadas orientações sobre a

ação do medicamento, como ele funciona e como atua no organismo. Aborda-se,

também, para que e para quem o medicamento é indicado e, ainda, apresenta frases de

alerta; c) nos dizeres legais, é apresentado o número do registro no Ministério da Saúde,

o nome e o número no Conselho Regional de Farmácia (CRF) do farmacêutico

responsável, o nome da empresa fabricante, o telefone do Serviço de Atendimento ao

Cliente (SAC) e o site do Tylenol.

Traçadas as regularidades e as características do gênero, apresentamos, na

próxima seção, uma análise do gênero em pauta.

4 Análise da construção composicional e dos aspectos linguístico-enunciativos da

bula

Ao analisarmos a bula do medicamento Tylenol, observamos que, na primeira

parte, o autor apresenta a marca (Tylenol), que é o nome fantasia pelo qual se compra o

remédio nas farmácias. Em seguida, escrito com letras minúsculas, vem o princípio

ativo - a substância contida no medicamento que age no organismo e é responsável pelo

seu efeito.

A forma farmacêutica e apresentação referem-se ao aspecto em que os

medicamentos são produzidos: na aparência de “comprimidos de 500mg em embalagem

com 200comprimidos/comprimidos revestidos de 750mg em embalagens com 20 ou 200

comprimidos.” Na composição, são informadas quais as substâncias presentes no

medicamento. Vale lembrar que, em algumas bulas, deixa-se o leitor ciente, também,

além dos componentes, da quantidade em que estes se apresentam.

Em seguida, o enunciador, ao fornecer informações ao paciente (objetivo do

medicamento), utiliza perguntas (interlocução direta) e respostas, certamente para

facilitar a compreensão do leitor, esclarecendo suas possíveis dúvidas, como podemos

observar abaixo:

Informações ao paciente

COMO ESTE MEDICAMENTO FUNCIONA?

TYLENOL® reduz a febre atuando no centro regulador da temperatura no Sistema

Nervoso Central (SNC) e diminui a sensibilidade para a dor.

POR QUE ESTE MEDICAMENTO FOI INDICADO?

TYLENOL® é indicado em adultos para a redução da febre e para o alívio temporário

de dores leves a moderadas, tais como: dores associadas a gripes e resfriados comuns, dor de cabeça, dor de dente, dor nas costas, dores musculares, dores associadas

a artrites e cólicas menstruais.

Ademais, observamos a presença dos adjetivos “leves” e “moderadas”,

fundamentais em termos de relativização do efeito (temporário) e da eficácia do

medicamento para alguns sintomas.

Nas contra-indicações do medicamento, encontramos:

Contra-indicações

QUANDO NÃO DEVO USAR ESTE MEDICAMENTO?

Contra-indicações

Page 7: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

7

Você não deve tomar TYLENOL® se tiver hipersensibilidade (alergia) ao paracetamol

ou aos outros componentes da fórmula.

Advertências

Você não deve tomar mais do que a dose recomendada (superdose) para provocar

maior alívio, pois pode causar sérios problemas de saúde.

Você não deve usar o medicamento para dor por mais de 10 dias ou para febre por

mais de 3 dias, exceto sob orientação médica.

Você deve consultar seu médico se a dor ou febre continuarem ou piorarem, se

surgirem novos sintomas ou se aparecerem vermelhidão ou edema, pois estes sintomas podem ser sinais de doenças graves.

Se você toma 3 ou mais doses de bebidas alcoólicas todos os dias, deve consultar seu

médico se pode tomar TYLENOL® ou qualquer outro analgésico. Usuários crônicos de

bebidas alcoólicas podem apresentar um risco aumentado de doença do fígado se

tomarem uma dose maior que a dose recomendada (superdose) de TYLENOL®. O

paracetamol pode causar lesão ao fígado.

No processo de interlocução direta, temos: o uso de perguntas; do pronome você;

do verbo modalizador de obrigação, dever, e de possibilidade, poder; de operadores

argumentativos; de adjetivos e de comparativos. As informações - contra-indicações -

são salientadas ao consumidor, e o verbo dever, precedido pelo pronome você, transmite

a ideia de modo imperativo. Nesse sentido, o enunciador (fabricante/laboratório) recorre

sempre, de forma excessiva (mas talvez necessária, pois é explícita),ao emprego da

prescrição/obrigatoriedade, numa atitude imperativa, na enunciação, usando as

expressões: você não deve e você deve. Ainda, observa-se que a presença dos operadores

articulam argumentativamente os enunciados.

Pode-se notar que o sujeito, fabricante/laboratório, prescreve: “você não deve

tomar”, mas justifica/explica “pois pode causar sérios problemas à saúde”. Aqui,

percebe-se o emprego do modalizador, apontando possibilidade (o cuidadoso verbo

poder), além do adjetivo sérios, que intensifica/enfatiza o processo de enunciação. Além

disso, com o emprego do operador argumentativo se, são levantadas hipóteses e, a partir

delas, a indicação é para que se procure um médico.

Há frequência, como visto, de uso dos verbos modalizadores dever e poder, os

quais normalmente aparecem nas bulas de remédio, porém, não necessariamente nesta

quantidade. Também é constante a presença do operador argumentativo ou, que aparece

cinco vezes (com função de introduzir mais uma alternativa, seja entre expressões

lexicais, no mesmo período, seja entre períodos diferentes). Há, ainda, a preocupação

com o excesso do possível consumidor em relação à dosagem. Por isso, o emprego do

comparativo (mais/maior).

Gravidez e amamentação Em casos de uso por mulheres grávidas ou amamentando, a administração deve ser

feita por períodos curtos.

Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista.TYLENOL® 500 mg: Atenção: Este medicamento contém

Açúcar (amido), portanto, deve ser usado com cautela em portadores de Diabetes. Não

use outro produto que contenha paracetamol.

A frase de alerta “Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas

sem orientação médica ou do cirurgião-dentista” aparece em destaque, para obedecer

aos padrões exigidos pela resolução nº. 140, que estabelece regras das bulas de

remédios para pacientes e profissionais da saúde. Atenta-se, inclusive, ao uso do

imperativo, também seguido pelo verbo usar. Aparece, novamente, uma marca de

linguagem da bula: o operador (alternativo) ou. O vocábulo atenção aponta para a

Page 8: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

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existência de amido no produto e o operador argumentativo, portanto marca uma relação

de conclusão /consequência ao enunciado anterior.

Na indicação das precauções, observamos que o autor (fabricante/ laboratório)

lança mão dos operadores argumentativos se e mas, empregando, mais uma vez, o verbo

poder e o intensificador mais. Com o uso do operador argumentativo se, o enunciador

estabelece uma condição para a absorção mais rápida e, com o operador mas, ele faz a

contraposição em relação ao uso de alimentos, antes de se tomar o remédio: velocidade

(afetada) x quantidade (não afetada), conforme a leitura abaixo:

Precauções

A absorção de TYLENOL® é mais rápida se você estiver em jejum. Os alimentos podem

afetar a velocidade da absorção, mas não a quantidade absorvida do medicamento.

O emprego da interlocução direta, de condicionais, dos verbos dever e poder, de

adjetivos precisos na enunciação continua:

Interações medicamentosas

A interferência do paracetamol na metabolização de outros medicamentos e a

influência destes medicamentos na ação e na toxicidade do paracetamol não são

relevantes. Este medicamento é contra-indicado em crianças menores de 12 anos. Informe ao

médico ou cirurgião-dentista o aparecimento de reações indesejáveis.

COMO DEVO USAR ESTE MEDICAMENTO?

Aspecto físico

Comprimidos ovalados de cor branca.

Características Organolépticas

Não se aplica.

Dosagem

Adultos e crianças de 12 anos ou mais: As doses de paracetamol para adultos e

crianças de 12 anos ou mais variam de 500 a 1000 mg/dose com intervalos de 4 a 6

horas entre cada uso. Não exceda o total de 4 g em 24 horas. TYLENOL® 500 mg: 1 a 2 comprimidos, 3 a 4 vezes ao dia. Não exceda 8

comprimidos, em doses fracionadas, em um período de 24 horas.

TYLENOL® 750 mg: 1 comprimido, 3 a 5 vezes ao dia. Não exceda 5 comprimidos, em

doses fracionadas, em um período de 24 horas.

Como usar

Você deve tomar os comprimidos com líquido.

TYLENOL® 750 mg: Este medicamento não pode ser partido ou mastigado.Siga

corretamente o modo de usar. Não desaparecendo os sintomas, procure orientação

médica ou de seu cirurgião-dentista.Não use o medicamento com prazo de validade

vencido. Antes de usar observe o aspecto do medicamento.

QUAIS OS MALES QUE ESTE MEDICAMENTO PODE CAUSAR?

Este medicamento pode causar algumas reações desagradáveis inesperadas. Caso você tenha uma reação alérgica, deve parar de tomar o medicamento.

O QUE FAZER SE ALGUÉM USAR UMA GRANDE QUANTIDADE DESTE

MEDICAMENTO DE UMA SÓ VEZ?

Se você tomar uma dose muito grande deste medicamento acidentalmente, deve

procurar um médico ou um centro de intoxicação imediatamente. O apoio médico

imediato é fundamental para adultos e crianças, mesmo se os sinais e sintomas de

intoxicação não estiverem presentes.

Aparecem, também, na bula, os advérbios modais acidentalmente e

imediatamente e o uso da concessiva mesmo se (uma ideia de oposição, em termos de

suposição, ao enunciado anterior: o apoio médico é fundamental ao sujeito consumidor,

mesmo se/ mesmo que os sintomas não aparecerem - em caso de superdosagem).

Segundo Carvalho et al. (2002), geralmente as bulas se dirigem a um modelo de

leitor com domínio do padrão formal culto e conhecedor da terminologia científica -

Page 9: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

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leitor técnico - (com complexidade lexical, períodos longos, construções impessoais, uso

de hiperônimos etc.). Entretanto, observamos que as marcas linguísticas mais relevantes

da bula do medicamento em pauta são: a ideia de imperativo (prescrição), com o uso do

pronome você mais o verbo modalizador de obrigatoriedade dever (você deve; você não

deve); a presença de interlocução direta (com o emprego do pronome você e de

perguntas nas informações ao paciente), de modalizadores, de alguns operadores

argumentativos, de adjetivos e de períodos, em geral, não longos. Tal nos leva a afirmar

que a bula em foco, talvez devido ao grande número de usuários de variadas classes

sociais, é construído em uma linguagem mais acessível, buscando aproximar-se do leitor.

Assim, a partir desse estudo, elaboramos uma proposta com sugestões de

atividades para o trabalho, em sala de aula, com o gênero bula de remédio.

5 Uma abordagem em sala de aula para o gênero ‘bula de remédio’

Ao assumirmos uma concepção de linguagem como meio de interação social e

entendermos que as práticas sociais de linguagem se materializam em gêneros,

acreditamos que o aluno precisa ser exposto a diferentes situações de produção de

linguagem, a partir do trabalho integrado de leitura, escrita e análise linguística.

Contudo, no caso do gênero em tela, cremos que a sua produção textual não seja viável

em situações de sala de aula, já que pertence especificamente a uma esfera da área da

saúde. Assim, ancoramo-nos em Lopes-Rossi (2002, p. 31), ao afirmar que “A leitura de

gêneros discursivos na escola não pressupõe sempre a produção escrita”.

Dessa forma, propomos, aqui, algumas sugestões didáticas, relativas ao gênero

bula de remédio, a serem trabalhadas em sala de aula, do Ensino Fundamental.

Adotamos, aqui, a proposta de Perfeito (2005), ao dividirmos o encaminhamento de

apenas um texto do gênero bula de remédio em “contexto de produção”, “conteúdo

temático”, “construção composicional (organização ou arranjo textual)” e “marcas

lingüísticas e enunciativas”.

Salientamos que nosso objetivo não é apresentar receitas ou modelos, mas

contribuir para o processo de ensino e aprendizagem da língua, sob a perspectiva da

teoria enunciativa de Bakhtin. Dessa maneira, a aplicação da proposta em sala de aula

dependerá de diversos fatores, como a vivência dos alunos, a motivação, o objetivo do

professor etc., por isso, a este, caberá realizar as adaptações que forem necessárias, além

da definição da abordagem adotada, ou de um plano de trabalho docente, conforme

Gasparin (2002).

Devido ao fato de, no projeto “Escrita e ensino gramatical: um novo olhar para

um velho problema”, voltarmos nossa atenção, mais especificamente, para a análise

linguística, apontamos várias atividades possíveis de reflexão sobre a língua, que

também poderão ser selecionadas, de acordo com os fatores mencionados acima.

É importante observar que esta primeira abordagem do gênero bula pode ser

levada a efeito de maneira oral ou escrita, sempre de modo interativo, com a mediação

do professor entre o sujeito e o objeto de estudo.

I Prática Social Inicial

1 Anúncio dos conteúdos

- O gênero bula de remédio;

- A bula do medicamento Tylenol;

- Características da bula do Tylenol;

Page 10: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

10

- Organização textual da bula do Tylenol;

- Marcas linguísticas que contribuem para a construção de efeitos de sentido da bula do

Tylenol.

2 Vivência cotidiana dos conteúdos: Contexto de produção da bula do Tylenol

a) Você sabe o que significa o vocábulo “bula”?

b) Você já leu ou já presenciou alguém da sua família lendo uma bula de remédio? Em

que circunstâncias essa leitura ocorreu?

c) Em pequenos grupos, vamos dar uma olhada nas bulas de medicamentos diversos que

o professor e vocês trouxeram de casa.

- Conclua: qual é a função das bulas?

- Como você reconhece uma bula de remédio?

d) Quem escreve uma bula de remédio?

e) O tipo de linguagem utilizado nas bulas consultadas é parecido ou não? Por quê?

f) Agora vamos ler uma bula específica, a do medicamento Tylenol. Você já utilizou esse

medicamento? Por quê?

g) A quem se destina a bula desse medicamento? Comprove sua resposta com

informações do texto.

h) Qual é o objetivo específico desse texto?

i) Como é feita a identificação desse medicamento?

j) Você compreendeu todas as palavras que constam nessa bula? Por quê? De onde vêm

essas palavras? Por que elas aparecem na bula? Elas dificultam o entendimento do texto

ou das informações que o paciente precisa?

k) Das informações que constam nessa bula, quais seriam mais úteis para um médico?

Por quê?

l) Quais seriam mais úteis para um paciente? Justifique a sua resposta.

II Problematização

1 Dimensão conceitual

- Vamos pesquisar o vocábulo “bula” no dicionário, para compreendermos seu

significado?

2 Dimensão social

- Justifique a criação desse gênero discursivo em nossa sociedade e sua importância para

as pessoas.

3 Dimensão política

- Como a problemática da dificuldade na compreensão do texto da bula por parte de

leitores leigos poderia ser resolvida?

- Todas as bulas são difíceis para a compreensão de uma pessoa leiga?

III Instrumentalização

1 Atividades que abordam o conteúdo temático

a) Será que podemos observar uma temática definida nas bulas de remédio? Como? Em

que parte do texto ela aparece?

b) Essa temática é igual para todas as bulas, ou depende de cada medicamento? Por quê?

c) Qual seria a temática da bula do Tylenol? Como você chegou a essa resposta?

Page 11: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

11

2 Atividades sobre a construção composicional (arranjo, organização textual) do gênero

a) As bulas que você viu possuem semelhança quanto à organização textual? Qual (is)?

Por quê?

b) Há diferenças na organização textual das bulas? Qual(is)?

c) Quais são as partes em que se divide a bula do medicamento Tylenol?

d) De que forma são organizadas as “Informações ao Paciente”? Por que se organizam

assim?

3 Atividades que contemplam as marcas linguísticas e enunciativas (dimensão verbal)

a) Período é a frase constituída por uma ou mais orações. Oração é o enunciado que se

organiza ao redor de um verbo (ou de uma locução verbal). Agora, observe as

pontuações empregadas na bula. Existe a predominância de períodos longos ou curtos?

Por quê?

b) Adjetivo é a palavra que caracteriza o substantivo ou qualquer palavra com valor de

substantivo, indicando-lhe atributo, estado, modo de ser ou aspecto. Por exemplo: Ela é

uma menina bonita. A palavra “bonita” é um adjetivo, pois traz uma característica da

“menina” (substantivo). Em TYLENOL® é indicado em adultos para a redução da febre e para o

alívio temporário de dores leves a moderadas, qual o efeito de sentido produzido pelos adjetivos

“leves” e “moderadas”?

c) Pronome é a palavra que representa ou acompanha o substantivo, indicando-o como

pessoa do discurso (aquela que fala; aquela com quem se fala; aquela de quem se fala) ou

situando-o no espaço e no tempo. Neste momento, vamos nos ater a um tipo de pronome,

denominado pronome de tratamento, que se refere à pessoa a quem se fala. Releia as

“contra-indicações” e “advertências” do Tylenol e responda: de que maneira o

fabricante/laboratório se dirige aos leitores da bula? Pela gramática, ele emprega o

pronome de tratamento você. Discuta com seu professor e colegas qual a origem desse

pronome. E como é empregado atualmente no país. E, consequentemente, qual o objetivo

de seu emprego nesta bula.

d) Verbos são palavras que conjugamos - mudamos de pessoa - (exemplo: verbo ter – eu

tenho, , você tem, ele tem, nós temos etc.), as quais indicam tempo (exemplo: presente

> eu tenho, – futuro > eu terei; passado >eu tive / eu tinha) e modo (certeza > eu tenho;

– incerteza, possibilidade > que eu tenha, se eu tivesse; - apelo, sugestão, mando >

tenha, tenham). Qual é o modo verbal predominante nas contra-indicações e

advertências? Por quê? Quais os verbos presentes? Você acha que a repetição desses

verbos é necessária? Justifique.

e) Após as prescrições em que esses verbos aparecem, ou seja, depois de o autor dizer o

que seu interlocutor “deve” ou “não deve” fazer, existe alguma explicação ou

justificativa? Por quê? Se existir, há algum elemento que a introduz? Qual?

f) Explique o efeito de sentido produzido com a utilização do verbo modalizador (que

indica a atitude de quem fala / escreve no seu dizer) “poder”, nas advertências

apresentadas.

g) Releia a primeira advertência e responda:

- O fabricante/laboratório não poderia ter escrito apenas “pode causar problemas

de saúde”? Por que utilizou o adjetivo “sérios”?

- Explique o que os comparativos “mais do que” e “maior” querem enfatizar.

h) Em Você deve consultar seu médico se a dor ou febre continuarem ou piorarem, se surgirem novos

sintomas ou se aparecerem vermelhidão ou edema, pois estes sintomas podem ser sinais de doenças

graves, o que indicam os elementos sublinhados?

Page 12: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

12

i) Operadores argumentativos são elementos que orientam a argumentação e mostram

sua força dentro do texto. A partir desse conceito, observe a terceira advertência. Por que

há repetição do operador argumentativo “ou”?

j) A parte destacada contém um alerta: Atenção: Este medicamento contém Açúcar (amido),

portanto, deve ser usado com cautela em portadores de Diabetes. Para o que aponta o vocábulo

“atenção”? O que indica o operador argumentativo “portanto”?

k) Explique o empregodos operadores argumentativos “se” e “mas” na indicação das

precauções.

l) Elenque quais dos elementos analisados anteriormente se repetem no restante da bula e

explique o motivo dessa repetição.

m) Releia: Se você tomar uma dose muito grande deste medicamento acidentalmente, deve procurar um

médico ou um centro de intoxicação imediatamente. O apoio médico imediato é fundamental para adultos

e crianças, mesmo se os sinais e sintomas de intoxicação não estiverem presentes.

- Explique o efeito de sentido produzido pelos advérbios “acidentalmente” e

“imediatamente”, sabendo que advérbio é a palavra que modifica o verbo, exprimindo

determinada circunstância, como tempo, lugar, modo etc.

- Qual o efeito de sentido no uso do operador argumentativo “mesmo se”.

IV Catarse

Agora sintetize o que você aprendeu, respondendo às questões abaixo:

a) O que é bula? (abordagem conceitual)

b) Qual é a função da bula na sociedade? Qual é a função específica da bula do

medicamento Tylenol? (abordagem social)

c) Por que é preciso que as pessas compreendam o texto da bula? O texto da bula do

medicamento Tylenol tem uma compreensão fácil ou difícil? Justifique. (abordagem

política/social)

d) Como é a organização textual da bula do Tylenol? (dimensão verbal)

e) Qual o efeito de sentido provocado pelo uso de adjetivos na bula do Tylenol?

(dimensão verbal)

e) Qual modo verbal se repete nas contra-indicações e advertências da bula analisada?

Por quê? (dimensão verbal)

f) De que maneira o fabricante se dirige aos leitores da bula? Qual é o pronome de

tratamento utilizado? Por quê? (dimensão verbal)

V Prática Social Final

- Após o estudo com o gênero discursivo bula de remédio, vamos, juntos, sistematizar

nossas intenções e propostas de ação que farmos com os conteúdos aqui apreendidos.

Sugestões:

1 - Não tomar medicamentos sem prescrição médica;

2 – Dar a devida importância à leitura de bulas de remédio, reconhecendo-a como um

gênero discursivo que circula na sociedade;

3 – Buscar as informações necessárias nos locais específicos da bula;

4 – Procurar ajuda de uma pessoa da área da saúde para compreender termos específicos;

5 – Reconhecer elementos linguísticos na bula de remédio e compreender seus efeitos de

sentido;

Page 13: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

13

6- Desenvolver capacidades linguístico-discursivas no processo de ensino-aprendizagem

da língua materna.

Considerações finais

De acordo com Barbosa (2000, p. 158), trabalhar com diferentes gêneros do

discurso contribui para “o desenvolvimento das capacidades discursivas” do aluno e

permite ao docente a determinação de critérios que propiciem a intervenção eficaz no

processo de ensino e aprendizagem da língua.

Nessa perspectiva, apresentamos uma proposta teórico-prática com o gênero bula,

foco deste estudo. Assim, buscamos contribuir para a perspectiva que aponta os gêneros

discursivos como eixo de progressão e de articulação curricular, além de propiciar, aos

professores do Ensino Fundamental, parâmetros de elaboração de trabalhos que abordem

a gramática de forma contextualizada, produzindo efeitos de sentido no processo de

leitura.

A abordagem, com análise e uma possibilidade de transposição didática, insere-

se dentre outros trabalhos desenvolvidos no projeto de pesquisa relatado, com o intuito

de contextualizar a análise linguística às práticas pedagógicas de leitura e de produção

textual, consoante já posto.

Nesse sentido, mobilizamos, no projeto, textos dos seguintes gêneros: biografia,

narrativa com mitos, comunicado, notícia, editorial, artigo de opinião, crônica infantil,

carta do leitor, manual-etiqueta. Todos veiculados em publicações diversas, que serão

disponibilizados, em breve, conjuntamente em uma obra.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BAKHTIN, M.; VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. 6 ed. São

Paulo: Hucitec, 1992.

BARBOSA J. P. Receita (Coleção trabalhando com os gêneros do discurso: instruir).

São Paulo: FTD, 2003.

______. Do professor suposto pelos PCNs ao professor real de língua portuguesa:são os

PCNs praticáveis? In: ROJO, Roxane (org). A prática da linguagem em sala de aula:

praticando os PCNs. São Paulo: EDUC, 2000, p.149-184.

CARVALHO, Maurício Brito de ; FERREIRA, Lucia M. A. ; ORRICO, Evelyn

Goyannes Dill . Um gênero discursivo legalmente constituído?. In: II Congresso

Internacional da Abralin, 2002, Fortaleza. Anais do II Congresso Internacional da

Abralin, 2001. v. 1. Disponível em

<http://saudetodavida.com/arquivos/analise_bulas.pdf>. Acesso em 12/6/2008, p. 1-6.

FARACO, C. A. Linguagem & Diálogo. As idéias lingüísticas do círculo de Bakhtin.

Curitiba: Edições Criar, 2003.

Page 14: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

14

GASPARIN, J. L. Uma didática para a pedadogia histórico-crítica. Campinas:

Autores Associados, 2002.

GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português. In: GERALDI, J. W.

O texto na sala de aula; leitura e produção. Cascavel: Assoeste, 1984, p.41-49.

LOPES-ROSSI, M.A.G. O desenvolvimento de habilidades de leitura e de produção de

textos a partir de gêneros discursivos. In: LOPES-ROSSI, M.A.G.(org.).Gêneros

discursivos no ensino de leitura e produção de textos.Taubaté:Cabral Editora e

Livraria Universitária, 2002, p.19-40.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Bulário eletrônico da Anvisa. Disponível em

<http://bulario.bvs.br/index.php?action+sobre>. Acesso em 05 fev. 2007.

ROJO, R. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In:

Gêneros: teorias, métodos e debates. Meurer, J. L.; Bonini, A; Motta-Roth, D. (orgs.).

São Paulo: Parábola Editorial, 2005. p. 184-207.

TAVARES, A. de P. Dengue e febre amarela. [2001]. Disponível em

<http://boasaude.uol.com.br/eve/chathistorybody.cfm?eventid=54>. Acesso em 02 jun.

2007.

ZULINO, P. Anvisa quer padronizar os remédios. Agência Estado - 01/06/07.

Disponível em

<http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/estado/2007/06/01/ult4513u144.jhtm>. Acesso

em 02 jun. 2007.

ANEXO

TYLENOL®

paracetamol Comprimidos

Analgésico e antitérmico

IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO

FORMAS FARMACÊUTICAS E APRESENTAÇÕES

Comprimidos de 500 mg em embalagem contendo 200 comprimidos.

Comprimidos revestidos de 750 mg em embalagens contendo 20 ou 200 comprimidos.

USO ADULTO

USO ORAL

COMPOSIÇÃO

Tylenol® 500 mg:

Cada comprimido contém 500 mg de paracetamol.

Excipientes: amido, celulose microcristalina, dioctilsulfosuccinato de sódio, estearato de

cálcio e metabissulfito de sódio.

Tylenol® 750 mg:

Page 15: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

15

Cada comprimido revestido contém 750 mg de paracetamol.

Excipientes: carboximetilcelulose sódica, celulose microcristalina, dioctilsulfosuccinato

de sódio, estearato de magnésio, hipromelose, macrogol e povidona.

INFORMAÇÕES AO PACIENTE

COMO ESTE MEDICAMENTO FUNCIONA?

TYLENOL® reduz a febre atuando no centro regulador da temperatura no Sistema

Nervoso Central (SNC) e diminui a sensibilidade para a dor.

POR QUE ESTE MEDICAMENTO FOI INDICADO?

TYLENOL® é indicado em adultos para a redução da febre e para o alívio temporário

de dores leves a moderadas, tais como: dores associadas a gripes e resfriados comuns,

dor de cabeça, dor de dente, dor nas costas, dores musculares, dores associadas a artrites

e cólicas menstruais.

QUANDO NÃO DEVO USAR ESTE MEDICAMENTO?

Contra-indicações]

Você não deve tomar TYLENOL® se tiver hipersensibilidade (alergia) ao paracetamol

ou aos outros componentes da fórmula.

Advertências

Você não deve tomar mais do que a dose recomendada (superdose) para provocar maior

alívio, pois pode causar sérios problemas de saúde.

Você não deve usar o medicamento para dor por mais de 10 dias ou para febre por mais

de 3 dias, exceto sob orientação médica.

Você deve consultar seu médico se a dor ou febre continuarem ou piorarem, se surgirem

novos sintomas ou se aparecerem vermelhidão ou edema, pois estes sintomas podem ser

sinais de doenças graves.

Se você toma 3 ou mais doses de bebidas alcoólicas todos os dias, deve consultar seu

médico se pode tomar TYLENOL® ou qualquer outro analgésico. Usuários crônicos de

bebidas alcoólicas podem apresentar um risco aumentado de doença do fígado se

tomarem uma dose maior que a dose recomendada (superdose) de TYLENOL®. O

paracetamol pode causar lesão ao fígado.

Gravidez e amamentação

Em casos de uso por mulheres grávidas ou amamentando, a administração deve ser feita

por períodos curtos.

Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação

médica ou do cirurgião-dentista.TYLENOL® 500 mg: Atenção: Este medicamento

contém Açúcar (amido), portanto, deve ser usado com cautela em portadores de

Diabetes.Não use outro produto que contenha paracetamol.

Precauções

A absorção de TYLENOL® é mais rápida se você estiver em jejum. Os alimentos

podem afetar a velocidade da absorção mas não a quantidade absorvida do medicamento.

Interações medicamentosas

A interferência do paracetamol na metabolização de outros medicamentos e a influência

destes medicamentos na ação e na toxicidade do paracetamol não são relevantes.

Este medicamento é contra-indicado em crianças menores de 12 anos.Informe ao

médico ou cirurgião-dentista o aparecimento de reações indesejáveis.

COMO DEVO USAR ESTE MEDICAMENTO?

Aspecto físico

Comprimidos ovalados de cor branca.

Características Organolépticas

Não se aplica.

Page 16: Artigo Genero Bula Remedio Perfeito

16

Dosagem

Adultos e crianças de 12 anos ou mais: As doses de paracetamol para adultos e

crianças de 12 anos ou mais variam de 500 a 1000 mg/dose com intervalos de 4 a 6 horas

entre cada uso. Não exceda o total de 4 g em 24 horas.

TYLENOL® 500 mg: 1 a 2 comprimidos, 3 a 4 vezes ao dia. Não exceda 8

comprimidos, em doses fracionadas, em um período de 24 horas.

TYLENOL® 750 mg: 1 comprimido, 3 a 5 vezes ao dia. Não exceda 5 comprimidos, em

doses fracionadas, em um período de 24 horas.

Como usar

Você deve tomar os comprimidos com líquido.

TYLENOL® 750 mg: Este medicamento não pode ser partido ou mastigado. Siga

corretamente o modo de usar. Não desaparecendo os sintomas, procure orientação

médica ou de seu cirurgião-dentista.Não use o medicamento com prazo de validade

vencido. Antes de usar observe o aspecto do medicamento.

QUAIS OS MALES QUE ESTE MEDICAMENTO PODE CAUSAR?

Este medicamento pode causar algumas reações desagradáveis inesperadas. Caso você

tenha uma reação alérgica, deve parar de tomar o medicamento.

O QUE FAZER SE ALGUÉM USAR UMA GRANDE QUANTIDADE DESTE

MEDICAMENTO DE UMA SÓ VEZ?

Se você tomar uma dose muito grande deste medicamento acidentalmente, deve procurar

um médico ou um centro de intoxicação imediatamente. O apoio médico imediato é

fundamental para adultos e crianças, mesmo se os sinais e sintomas de intoxicação não

estiverem presentes.

ONDE E COMO DEVO GUARDAR ESTE MEDICAMENTO?

Você deve conservar TYLENOL® em temperatura ambiente (entre 15°C e 30°C),

protegido da luz e da umidade.

TODO MEDICAMENTO DEVE SER MANTIDO FORA DO ALCANCE DAS

CRIANÇAS.

DIZERES LEGAIS

MS-1.1236.3326

Farmacêutico responsável: Roberto Araki - CRF/SP-6177

Fabricado por:

JANSSEN-CILAG FARMACÊUTICA LTDA.

Rodovia Presidente Dutra, km 154 São José dos Campos-SP

CNPJ 51.780.468/0002-68 – Indústria Brasileira

®Marca Registrada

Lote, Data de Fabricação e Validade: Vide Cartucho.