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7/31/2019 Artigo Hipermodernidade e Espiritismo
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A Convergência das Questões da Hipermodernidade em
Lipovetsky e do Homem Moderno no Espiritismo
Cristiano Evaristo da Rosa Alves
Resumo
Alguns escritores destacam-se como porta-vozes das questões da Contemporaneidade. O
francês Gilles Lipovestky e sua reflexão sobre essa “era do vazio” em que vivemos é um
deles. No entanto, resolvemos chamar um outro saber para compor esse artigo e somar suas
análises na linha da psicologia espírita, vinculada por sua vez à psicologia transpessoal,
representado pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.
Palavras-chave:
A sociedade da decepção. Hipermodernidade. Espiritismo. Conflitos degenerativos da
sociedade. O homem integral.
INTRODUÇÃO
Os pensadores atuais procuram entender o momento histórico em que vivemos e
nunca foi tão fácil e, paradoxalmente, difícil analisar o mundo. Fácil porque o mundo está
ligado on-line através da internet e outras formas de comunicação, oferecendo-nos
informações em tempo real, como consequencia há uma homogeneização no estilo de vida
das pessoas em boa parte do planeta, criando problemas e soluções comuns; difícil porque
parece haver uma desordem no íntimo de muitas delas (MACHADO DA SILVA in
LIPOVETSKY, 2007, p. 18) produzindo o que Lipovetsky (2007) denominou como “a
sociedade da decepção”, a época da hipermodernidade.
Resolvemos ousar unir os conhecimentos como fazíamos antes do estabelecimento
da dicotomia ciência/religião, ocorrida no século oitocentista, na medida que, pela lógica a
verdade não deve estar somente numa delas, mas no esclarecimento, que não teme a razão,
tampouco o que não conhece.
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Desta forma, incluímos um texto de um espírito psicografado pelo médium Divaldo
Pereira Franco, trata-se uma autora que aborda principalmente o comportamento humano,
discorrendo sobre “O homem moderno”, Joanna de Ângelis faz um contraponto
contundente à ambição desmedida dos nossos dias.
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HIPERMODERNIDADE: CAUSAS COMUNS
Nada mais contemporâneo e “quântico” do que uma análise entre as ideias de
Lipovetsky e as de Joanna de Ângelis, o que parece absurdo, tem na verdade convergências
impressionantes. Primeiro porque trazemos uma religião que nasceu na Modernidade
(1857; KARDEC, 1999)e que traz toda uma cultura de vanguarda no tratamento de temas
atuais.
Gilles Lipovetsky (2007, pp. 4, 5) defende que o paradoxo da felicidade, através da
decepção, é o ponto central da vida contemporânea:
Obviamente, a decepção, como qualquer outro sentimento, constitui uma experiênciauniversalmente conhecida. Enquanto ente de desejo cuja essência consiste em negaraquilo que é - Sartre dizia que o homem não é aquilo que ele é, sendo aquilo que não
é -, o homem é um ser que espera, e que, por isso mesmo, não pode evitar adecepção. Desejo e decepção caminham juntos.
Contudo, se a decepção é uma condição do nosso estado, a civilização moderna
(democrática e individualista) conseguiu impor-lhe uma notoriedade sem precedentes,
acrescentaríamos à reflexão de Lipovetsky (2007), o materialismo como uma característica
dessa civilização.
Poucos grupos sociais estão imunes à decepção inflacionada, somente aquelesligados às tradições, conseguem harmonizar mais ou menos seus anseios. Criou-se então, o
conceito de ”carência zero” com base nas promessas de felicidade e prazeres elevados,
deixando a vida cotidiana uma dura prova, continua Lipovetsky (2007, p. 6):
Os valores hedonistas, a sobrecarga, os ideais psicoculturais, os fluxos deinformação, tudo isso deu origem a um gênero de indivíduo mais introvertido, maisexigente, mas também mais vulnerável aos tentáculos da decepção. Após a "cultura
do aviltamento" e "a cultura da culpabilidade" (que assim foram analisadas por RuthBenedict), temos agora o tempo das culturas da ansiedade, da frustração e dadecepção.
Se uma ideia tem por base a sua reflexão, a de Joanna de Ângelis (FRANCO, 1990,
p.92) consegue levantar questões muito particulares no homem e na mulher modernos:
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Buscando enganar a sua realidade mediante a própria fantasia, o homem modernoprocura a projeção da imagem sem o apoio da consciência. Evita a reflexãoesclarecedora, que pode desalgemar dos problemas, e permanece em contínuas
tentativas de negar-se, mascarando a sua individualidade. O ego exercepredominância no seu comportamento e estereotipa fantasias que projeta no espelhoda imaginação.Irrealizado, porque fugindo do enfrentamento com o seu eu, transfere-se deaspirações e cuidados a cada novidade que depara pelo caminho. Não dispõe dedecisão para desmascarar o ego, por temer petrificar-se de horror, qual se aquelefosse uma nova Medusa, que Perseu, e apenas ele, venceu, somente porque a fezcontemplar-se no escudo espelhado que lhe dera Atena...
Aproveitando o que Lipovetsky diz sobre os poucos grupos mais ou menos imunes à
decepção Joanna de Ângelis (FRANCO, 1990, p.89) aponta alternartivas que traçam umcerto respaldo ou vacina para essas afliçoes, mas antes reforça a causa da agitação social
que vigora em nossos dias:
Desestruturados pelos choques comportamentais e esmagados pelo volume dasinformações impossíveis de serem digeridas, as massas eliminam arquétipos ou ostransferem para indivíduos imaturos portadores de fragilidade psicológica, aterrando-os, soterrando-os, na avalanche das necessidades mescladas com os conflitosexistenciais.Simultaneamente, desaparecem os mitos ancestrais individuais e a culturadevoradora investe contra os outros, os coletivos, deixando as criaturas desprotegidasdas suas crenças, dos seus apoios psicológicos.
No entanto, é justamente o hiperlativo dessa frustração que promove as condições
necessárias para uma re-oxigenação da vida (Lipovetsky, 2007).
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Joanna também salienta a necessidade de uma satisfação real, não competitiva, mas
cooperativa.
O conglomerado social, por sua vez, tem o dever de auxiliar o homem em conflito,de ajudá-lo a administrar as suas fobias, ansiedades, traumas, e mesmo o de socorrê-lo nas expressões avançadas quando padecendo psicopatologias diversas, em ética de
sobrevivência do grupo, pois que, do contrário, através do alijamento de cadamembro, quando vier a ocorrência se desarticulará o mecanismo de sustentação dagrei.A sociedade deve responder pelos elementos que a constituem, pelos conflitos queproduz, assim como assume as glórias e conquistas dos felizardos que a compõem.Os conflitos degenerativos da sociedade tendem a desaparecer, especialmente quandoo homem, em se encontrando consigo mesmo, harmonize o seu cosmo individual(micro), colaborando para o equilíbrio do universo social (macro), no qual semovimenta (FRANCO, 1990, p.76).
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CONCLUSÃOProcuramos compreender as questões que aturdem a humanidade pelos reflexos de
seus efeitos. A decepção está presente em nossas vidas simplesmente pela incapacidade do
“ter” fornecer realização duradoura, desta forma, somente quando se adquire valores,
conquista-se a plenitude da verdadeira propriedade, que é a conquista de si mesmo, narealização do eu, convertendo-se em felicidade.
Conseguimos compreender facilmente em Lipovetsky um diagnóstico claro da
mazela criada pela hipermodernidade, mas a ideia desse autor, quando se refere às
tradições, aos valores, à ética, à ajuda aos menos favorecidos como antídoto, nos fez uma
alusão a uma autora nada convencional ao meio acadêmico, pois trata-se de um espírito.
Não entramos nas questões alusivas à crença espírita, simplesmente trabalhamos
com as análises dos autores e suas soluções. E essas alternativas são trabalhadas no sentido
de promover a cooperação, a paixão pelas causas nobres, a superação do hedonismo.
O mais interessante é que se omitíssemos o nome de Joanna de Ângelis e o
atribuíssemos a outro autor, tenderíamos a pensar com mais foco no conteúdo e com
reverência, se fosse o caso. Ficam claros os preconceitos quanto à origem do saber.
Mas ficamos gratos com a experiência ousada de incluir um espírito como
referencia bibliográfica, na medida que se nos melindrássemos estaríamos perdendo,
provavelmente, a oportunidade de entendermos o ser humano de uma forma integral.
Entendemos que a solução para essa decepção que acompanha os seres humanos da
hipermodernidade está ligada ao desprendimentos dos bens materiais, colocando os valores,
a criatividade, a paixão como formas de se viver e ser feliz.
Desta forma, quando saberes de origens tão diferentes, como os dos autores
corroboram-se, acredito que estamos muito perto de uma verdade, na medida em que
quebramos esse Muro de Berlim da verdade absoluta cientificista.
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REFERÊNCIAS
ÂNGELIS, Joanna de (espírito). O homem integral /[psicografia de] Divaldo
Pereira Franco. Salvador: Leal, 1990.
LIPOVETSKY, Gilles. A sociedade da decepção. Barueri, SP: Manole, 2007.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. São Paulo: Petit, 1999.