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INDUSTRIALIZAÇÃO: uma moeda de duas faces
Autora: Marilda de Pauli Bianchini1
Orientador: Marcos Vinícius Ribeiro2
Resumo
O Objetivo deste artigo, além de cumprir mais uma etapa do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional SEED PR) é dialogar com a estruturação do capitalismo no Estado do Paraná e em Salto do Lontra problematizando a industrialização e a participação do sujeito histórico neste processo. O Estado do Paraná iniciou o processo industrial no final do século XIX, sendo pouco expressiva até na segunda metade do século XX, quando teve acentuado crescimento baseado nas relações capitalistas de produção. Em Salto do Lontra, no final do século XX e início do XXI, houve um relevante crescimento industrial, baseado em incentivos públicos municipais, modificando o panorama social, econômico e ambiental do município. Fazem parte também o envolvimento do aluno nesta pesquisa, bem como a socialização do mesmo com alguns professores da rede pública do Paraná.
Palavras-chave: Industrialização; Sujeito Histórico; Capitalismo.
Abstract
The purpose of this article, in addition to meeting one more step the PDE (Programa of Desenvolvimento Educacional - SEED PR) is to dialogue with the development of capitalism in the State of Parana and the Salto do Lontra questioning industrialization and the subject's participation in this historic process. The State of Parana began the process industry in the late nineteenth century, with little expression even in the second half of the twentieth century, when it had strong growth based on capitalist relations of production. On Salto do Lontra, in the late century XX and the beginning of XXI, was a significant industrial growth, based on municipal incentives, changing 1 Especialista em Desenvolvimento e Integração da Amárica Latina, Professora de história da Escola Estadual Jorge de Lima - Salto do Lontra-PR. e-mail: [email protected] 2 Mestre em História– docente do Colegiado de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE .e-mail [email protected]
the social, economic and environmental development of the municipality. Are also part of student involvement in this research as well as socializing with some of the same public school teachers in Paraná.
Keywords: Industrialization; Historical Subject; Capitalism.
Introdução
Este artigo é resultado de dois anos de estudo dentro do Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE proporcionado aos professores do Paraná.
Após esses dois anos de estudos incluindo fundamentação teórica, pesquisas em
diversos órgãos, participação em cursos, elaboração do projeto de pesquisa, do
material didático e a implementação na escola Estadual Jorge de Lima, além da
atuação no GTR – Grupo de Trabalho em Rede, colaboração de professores e
alunos, que nos proporcionou discussão e enriquecimento do conhecimento sobre a
industrialização do Paraná e mais especificamente do município de Salto do Lontra,
concluímos o programa com este trabalho.
Este programa nos proporcionou o retorno às atividades acadêmicas para
reflexão, atualização e aprofundamento dos conhecimentos teórico-práticos
possibilitando mudanças na prática escolar.
A história do Paraná e local fazem parte do aprendizado para uma educação
integral de nossos alunos. Partindo dessa perspectiva desenvolvemos todo o
trabalho voltado para esta temática, visando à busca de conhecimento e material.
Inicialmente, o tema era o Turismo no Paraná, com o objetivo de mostrar aos alunos
as belezas e o potencial do Paraná nesta área, porém ao entrar em contato com a
universidade e o professor orientador, entrei em contato também com outra
concepção de história o que me levou a aprofundar conhecimentos sobre a indústria
do Paraná e mais especificamente do município de Salto do Lontra e o envolvimento
desta com o sujeito e a sociedade.
O desenvolvimento do trabalho desde a preparação do projeto até a
elaboração deste artigo, o qual esperamos que sirva de subsídio para outros
trabalhos nesta área, proporcionou junto aos alunos uma discussão e reflexão crítica
do processo industrial do Paraná e de Salto do Lontra.
Indústria: uma moeda de duas faces apresenta o processo industrial
discutindo as facetas de um processo extremamente formoso aos olhos de quem o
vê de forma superficial, porém não tanto quando se analisa profundamente, daí a
necessidade do conhecimento. Este texto tem a seguinte divisão:
- A estruturação do capitalismo no Paraná: abordaremos neste texto as
diversas fases econômicas, as transformações do meio e a participação do sujeito
histórico neste processo. O Paraná passou de um estado essencialmente agrícola e
rural para um estado industrial e urbano em um curto espaço de tempo, modificando
também, a vida dos paranaenses.
- A formação industrial em Salto do Lontra: até o século passado Salto do
Lontra era um município essencialmente agrícola. Mesmo que esta continue sendo a
principal fonte de economia, a indústria é uma realidade, pois o município já possui
um parque industrial significativo. E neste trabalho refletimos sobre o papel que a
industrialização representa na vida dos sujeitos.
- A participação no Grupo de Trabalho em Rede: analisamos a atuação como
tutora do GTR, bem como a participação dos professores da rede que participaram
conosco da socialização deste trabalho e a abordagem que será dado em outras
escolas do Paraná, contribuindo para a melhoria da escola pública deste estado.
- A implementação do material didático na escola Jorge de Lima: neste
espaço discorremos sobre a aplicação do material produzido no espaço de um ano
de estudos no PDE, e aplicado junto aos alunos da escola Jorge de Lima, as
atividades propostas e desenvolvidas, bem como os efeitos provocados nos
mesmos.
A Estruturação do capitalismo no Paraná
A formação econômica do Paraná baseou-se em vários produtos de agro-
exportação como gado, erva-mate, madeira e café que proporcionaram riquezas ao
Paraná. Porém esta riqueza beneficiou apenas uma pequena parte dos
paranaenses, pouco contribuindo para a melhoria de vida do sujeito histórico. Os
produtos da agroindústria paranaense continuam a ser produzidos em menor escala,
acrescidos de uma agricultura mais diversificada com ênfase na produção de soja,
além da indústria, comércio e prestação de serviços. O homem branco também
desmatou, acabando com os pinheirais paranaenses. O ciclo da madeira no século
XX foi quando mais ocorreu o desmatamento.
Além do indígena, povo originário paranaense, e os europeus povoadores, o
Paraná também recebeu muitos imigrantes de várias nacionalidades, que com seus
conhecimentos e culturas diferentes, modificaram o panorama humano e econômico
deste Estado.
A população urbana paranaense ultrapassou a rural nos anos 1980, além
dos valores da produção industrial também ultrapassar a produção agrícola, nesta
década (OLIVEIRA, 2001).
O início da industrialização no Paraná se dá no final do século XIX, quando o
ciclo da erva-mate está no auge e se intensifica a migração de europeus e sujeitos
de outras regiões do Brasil que ajudam a criar um mercado local, um mercado de
trabalho urbano e industrial, fazendo inclusive parte deste contingente. Porém a
industrialização continua pouco expressiva até por volta de 1960. A partir daí se dá o
impulso a industrialização com a exploração da erva-mate, da madeira e do café.
Produto de exportação, a erva-mate teve participação importante na história
do Paraná, sua produção introduziu um número cada vez maior de sujeitos ao
processo produtivo, baseado nas relações capitalistas de exploração “[...] o efeito
decisivo da introdução das atividades econômicas relacionadas ao mate foi a
generalização das relações capitalistas de produção” (OLIVEIRA, 2001, p. 26).
A partir dos anos 30, a indústria ervateira entra em crise, porém abre
caminho para que a madeira e o café passem a ser os principais produtos da
economia paranaense.
O Paraná, ao longo de sua história sempre foi rico em variedades de
madeiras. A extração delas e indústrias do ramo se tornaram as mais importantes na
economia de muitos municípios paranaenses, empregando a maior parte dos
trabalhadores, inclusive levando a indústria para o interior do Estado.
Se por um lado a indústria madeireira proporcionou dividendos ao Estado,
por outro destruiu suas matas. Por volta dos anos 70, a mata nativa estava
praticamente esgotada (OLIVEIRA, 2001).
Por volta de 1860, inicia-se a produção de café no Norte Pioneiro,
introduzido pelos cafeicultores paulistas. Nesse período os vínculos dessa região
com o restante do Estado do Paraná eram insignificantes. O escoamento do produto
e o abastecimento necessário na região eram feitos e trazidos de São Paulo.
Somente a partir dos anos 20 que essa região começa a se integrar à economia
paranaense com o escoamento da produção pelo Porto de Paranaguá.
A partir da ocupação da região chamada Norte Novo, por fazendeiros em
sua maioria interessados no cultivo do café, altera consideravelmente a economia
paranaense. Além do considerável aumento da população. Na década de 1950, o
café passa a ser o principal produto nas exportações paranaense.
Em função do café surgiu um parque industrial dedicado a torrefação e a
moagem do produto. Além de empresas de café solúvel instaladas na região Norte.
Este produto se manteve em alta até o início dos anos 60.
Com a diminuição dos lucros do café, muitos proprietários rurais passam a
cultivar a soja. Nos anos 70, o Paraná teve o maior crescimento da produção de
soja no país, passando a ser o principal produto paranaense. O cultivo da soja
ocasionou êxodo rural no Estado, devido a sua mecanização, processo conhecido
pela concentração fundiária que ocasionou. Esse período de grande produtividade
da soja foi justamente a época da Revolução Verde, também chamada de
Modernização conservadora. Como acontece na maioria das vezes a “Revolução
Verde” foi lançada a população como sendo um benefício, com aumento da
produtividade para acabar com a fome no mundo. Na realidade não foi o que
aconteceu.
A grande produtividade realmente aconteceu. Porém o grande aumento da
produtividade que ocorreu principalmente nos países em desenvolvimento, gerou
elevada concentração da terra e de renda. Como os pequenos produtores não
conseguiam arcar com o financiamento de maquinários, estes se desfaziam das
terras, mudando para as cidades. Além do êxodo rural, excluiu as massas das
condições mínimas de qualidade de vida, de acesso ao trabalho, à moradia, a
educação, alimentação e saúde, presentes na sociedade capitalista e agravada pela
Revolução Verde.
Segundo Oliveira (2001), a agroindústria, neste período, teve um grande
impulso com a cultura da soja. Um parque industrial foi criado para o beneficiamento
do produto, ocasionando aumento significativo de produtos derivados da soja.
Com a industrialização e urbanização, a classe burguesa e ou os donos dos
meios de produção passaram a ter papel importante quanto ao poder político, social,
econômico e cultural.
Na lógica dos grupos dominantes a maior responsabilidade pelo
desempenho da economia capitalista fica com os empresários, portanto é interesse
do governo que estes prosperem e tenham sucesso em seus negócios. Neste
contexto, através da prosperidade da iniciativa privada os governos arrecadam mais
impostos para investir em educação, saúde e segurança para a população. Porém
na prática não é o que realmente acontece. Nem sempre esses benefícios são
revertidos em melhorias para a qualidade de vida do povo em geral.
Em 1962 foi criado, pelo governo do Paraná a Companhia de
Desenvolvimento Econômico do Paraná - CODEPAR que impulsionada pelo Fundo
de Desenvolvimento Econômico (FDE) que tanto criavam infraestrutura para a
industrialização como financiavam as indústrias. Essa infraestrutura deu prioridade a
energia e o transporte. No transporte destaca-se a construção da Rodovia do Café e
na energia elétrica a Companhia Paranaense de Energia - COPEL.
Segundo Dreifuss (2006), a década de 60 foi o momento da formação da
elite orgânica no Brasil. Um grupo de intelectuais formados por diretores de
corporações multinacionais, diretores e proprietários de empresas privadas, técnicos
executivos estatais e oficiais militares. Este grupo de poder político conservador
tinha como objetivo o crescimento econômico e não se preocupava com a
independência nacional e tampouco estavam preocupados com a classe social dos
trabalhadores envolvidos no processo produtivo. Estes empresários acumulavam
poderes e exerciam pressões junto aos governos a favor do domínio do capital e
contra as forças populares do início da década de 60.
Esse grupo tornou-se muito forte dentro das estruturas econômica e política,
articulando vários órgãos, grupos, escritórios de manipulação para melhor controlar
o poder político, ideológico e militar. O resultado dessas manipulações culminou com
o golpe de 1964:
A ação da elite orgânica empresarial deve ser considerada como a praxe de um bloco burguês de poder, premeditada e cuidadosamente amadurecida durante vários anos. Trazendo à tona a dimensão orgânica e dinâmica envolvida (situação, posição e ação de classe), pode-se perceber e revelar a evidência histórica do emergente bloco de poder multinacional e
associado forjando a sua própria forma de Estado. O que ocorreu em abril de 1964 não foi um golpe militar conspirativo, mas sim resultado de uma campanha política ideológica e militar travada pela elite orgânica. [...] (DREIFUSS, 2006, p. 247).
Pode-se observar nesta citação, a complexidade do poder das elites
orgânicas moldando as estruturas políticas e ideológicas a seu favor, abafando a
participação e organização da massa popular. O poder ideológico desse grupo era
exercido principalmente através dos meios de comunicação. Outra forma de
dominação era através de grupos de assistências sociais. Alguns setores da Igreja
Católica também foram importantes canais de colaboração das elites orgânicas para
o domínio principalmente das classes médias e também das classes trabalhadoras
da população. Enfim várias foram as formas de dominação desse grupo manipulador
da sociedade brasileira.
Em 1970, a CODEPAR se transformou no Banco de Desenvolvimento do
Estado do Paraná - BADEP. Se com a CODEPAR dava-se prioridade às empresas
paranaenses, com o BADEP abre-se para financiamento de grandes empresas
independentes de sua origem. Deu-se prioridade as empresas de bens de capitais e
intermediários da indústria pesada, além da agroindústria.
O crescimento da indústria paranaense nos anos 70 está intimamente ligado
ao contexto nacional do chamado “milagre brasileiro”. “Milagre” que endividou ainda
mais o Brasil, socializando a dívida provocada pelos grupos dominantes com o
trabalhador brasileiro. Nesse período o poder público Federal instala a Refinaria de
Araucária (1976) e a Cidade Industrial de Curitiba - CIC.
Com o intuito de criar o distrito industrial em Curitiba a elite dirigente sentiu a
necessidade de um plano que orientasse o crescimento da cidade. Foi então criado
o Plano Diretor (1966) que previa uma área da cidade para o Distrito Industrial
depois chamada de Cidade Industrial de Curitiba - CIC. Processo parecido ocorreu
com o estudo de caso de Salto do Lontra, quando foi criado o distrito industrial deste
município.
Nesse processo há uma concentração do capital nas mãos de poucas
empresas. Configurou-se também a concentração da indústria em Curitiba e Região
Metropolitana com a criação da CIC (1973) e mais tarde o Pólo Automotivo (1996).
Ao contrário do que predominava até os anos 60 (distribuição mais equilibrada da
indústria no interior do Estado). O processo estudado em Salto do Lontra, foi
posterior a esse período.
Com o intuito de criar o distrito industrial em Curitiba a elite dirigente sentiu a
necessidade de um plano que orientasse o crescimento da cidade. Foi então criado
o Plano Diretor (1966) que previa uma área da cidade para o Distrito Industrial
depois chamada de Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
Os investimentos dispensados à CIC geraram enormes dívidas para os
órgãos responsáveis. Algumas empresas estaduais como SANEPAR, COPEL,
TELEPAR, socializaram esses prejuízos “[...] todos os paranaenses pagaram em
suas tarifas (de água, luz ou telefone) uma certa porcentagem do investimento
realizado na CIC [...]” (NAMUR apud OLIVEIRA, 2001).
A instalação da CIC gerou dívidas e problemas, além de alguns empregos,
alterando o perfil da economia urbana. Além das mudanças econômicas percebem-
se mudanças no âmbito da política, estreitando as relações entre empresários e
poder público. Dentre os problemas deste tipo de paradigma de industrialização
encontramos àqueles que não levam em consideração a experiência e os costumes
da população, bem como os ambientais (OLIVEIRA, 2001).
Baseado no projeto que gerou a CIC as elites dirigentes transferem para o
plano estadual as estratégias de atração de empresas com concessão de subsídios
favorecendo aos interesses do capital industrial.
Nos anos 90 o Paraná, através do poder público, encampou uma verdadeira
“guerra” fiscal com outros Estados da Federação na disputa pela instalação de
montadoras no Estado, ou mais precisamente na região metropolitana de Curitiba
evidenciando o modelo político neoliberal no Estado.
Em seu discurso de inauguração da Renault o ex-governador Jaime Lerner
disse que ”[...] a Renault é que irá possibilitar ao Paraná deixar a posição de Estado
periférico para se tornar um polo econômico de peso no país” (OLIVEIRA, 2001). O
discurso de Lerner demonstra os esforços de seu governo na política de atração de
empresas privadas e o grau de concessões proporcionadas. Justificando com base
em efeitos positivos da vinda dessas empresas para a economia Estadual como
alavancar o crescimento e promover o pleno emprego. A política de atração das
montadoras Renault, Chrysler e Audi no Paraná, se dá num momento em que a
economia local e nacional está numa fase de desnacionalização.
Se a principal fonte de renda do poder público são os impostos, nessa
“guerra” fiscal os vencedores são as empresas privadas, pois com esse tipo de
incentivo o poder público fica com sua capacidade de arrecadação comprometida,
comprometendo assim os investimentos que deveriam ser direcionados para
melhorar a qualidade de vida da população. Além de comprometer o regime
democrático visto que nessa guerra fiscal não há transparência política e
administrativa. O caso estudado reflete essa questão quando oferece terreno,
barracão e demais infraestrutura, além de isenção de impostos municipais às
empresas privadas.
As críticas ao processo de atração das montadoras ao Paraná vieram dos
partidos de oposição, do movimento ambientalista local (devido à área que seria
ocupada pela Renault, principal manancial de abastecimento de água da Região
Metropolitana de Curitiba). O movimento sindical praticamente não se envolveu
nessa questão. O único pronunciamento foi no sentido de capacitar a mão de obra
local para assumir os trabalhos oferecidos por estas empresas.
O projeto de industrialização do Paraná, nos termos da CIC, lançou mão da
guerra fiscal para atrair grandes indústrias. De fato várias indústrias se instalaram,
porém se houve avanço no nível de arrecadação e de empregos ainda é
questionável.
Com a industrialização voltada para Curitiba e região Metropolitana houve o
inchaço desta região e deve se ampliar nos próximos anos. A predominância da
população urbana sobre a rural deve se intensificar. Há uma tendência de maior
aglomeração com o crescimento das grandes e médias, e diminuição das pequenas
cidades. Este cenário traz grandes desafios a serem enfrentados no século XXI, com
relação à qualidade de vida da população nesses centros urbanos. Pois quanto
maior for o agrupamento nas cidades, maiores também serão os problemas de
infraestrutura e ambientais gerados nestes locais.
Segundo o Jornal de Beltrão em agosto de 2004 “o Paraná está se firmando
como o segundo maior pólo industrial de confecções do país e o setor está entre os
maiores geradores de empregos do Estado”. E ainda em 2007 “As indústrias da
região Oeste e Sudoeste estão investindo mais em ações de responsabilidade social
e projetos ambientais” baseado na participação de empresas da região no prêmio
SESI de Qualidade no trabalho. Percebemos através deste discurso que as
empresas estão tentando fazer o mínimo para demonstrar preocupação com a
qualidade de vida dos sujeitos envolvidos no processo industrial e as pessoas que
indiretamente são prejudicados com a aceleração do processo industrial sem
planejamento sustentável.
O desenvolvimento industrial do Paraná tem sido motivo de satisfação para
as classes dominantes do Estado. Em 2009, o jornal de Beltrão anuncia “mesmo
com queda na produção industrial, Paraná tem o melhor desempenho do país”
referindo-se ao destaque na produção industrial, neste ano, mesmo com um
pequeno recuo na produção, ficando acima de outros estados brasileiros.
Percebemos, atualmente, um estado voltado para a mobilização social de
aceitação ao modelo político neoliberal. Esse equilíbrio de interesses antagônicos
pode ser “quebrado” quando a classe subalternizada perceber a precariedade de
sua vivência e fortalecer uma proposta contra a hegemonia burguesa.
A formação industrial em Salto do Lontra
O município de Salto do Lontra localiza-se na região Sudoeste do Paraná e
possui uma área de 335 km2. Limita-se com os municípios de Nova Prata do Iguaçu,
Boa Esperança do Iguaçu, Dois Vizinhos, Enéas Marques, Nova Esperança do
Sudoeste e Santa Isabel D’Oeste.
Figura 1: Município de Salto do Lontra e seus limites
Fonte: EMATER - API Iguaçu, 2005.
A vila começou a ser povoada em 1951, quando as primeiras famílias se
instalaram na região. Os primeiros moradores não possuíam título de propriedade da
terra, sendo, portanto, considerados posseiros. Muitos destes posseiros participaram
da luta pela terra juntamente com o restante do Sudoeste em 1957. (LAZIER, 1997)
Os primeiros moradores que chegaram nesta região vinham em busca de
um futuro melhor. Eram oriundos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estas
famílias, em sua maioria, eram descendentes de italianos, alemães e poloneses, que
vieram para Salto do Lontra em busca de novas oportunidades e iniciaram a
formação da sociedade lontrense mesclando seus costumes, hábitos e tradições.
Piran (1983), em sua monografia sobre a origem da população de Salto do
Lontra, escreveu: “Salto do Lontra foi povoado em mais de 56% por catarinenses,
mais de 21% por rio-grandenses, mais ou menos 20% pelos próprios paranaenses e
a mínima parte por São Paulo, Minas e apenas um estrangeiro da Alemanha”. Ainda
Schmitz (2007), em seu livro Salto do Lontra: história e memória 1951-2007,
acrescentou: “embora não se possa desconsiderar a existência de uns poucos
‘bugres’, como eram chamados os caboclos e descendentes de índios que
habitavam as terras da região [...]”
A família de Nicolau Inácio foi a primeira a chegar e fundar a vila. Com a
autorização da CANGO - Colônia Agrícola Nacional General Osório3, instalaram-se
nestas terras, que deram origem ao município de Salto do Lontra.
Meses depois, outras famílias também chegaram. Instalavam suas casas
próximas a um rio, que devido à existência de muitas lontras, passou a denominar-
se Rio Lontra, o mesmo possuía uma queda de água, a qual mais tarde deu origem
ao nome do município “Salto do Lontra”.
No início da colonização, a paisagem era formada por mata densa e
abundante com variedades de vegetação como: araucária ou pinheiro, canela, louro,
grápia e outros. Mas o extrativismo predatório destruiu muito dessas espécies de
vegetais, transformando estas paisagens em terras favoráveis a agricultura do milho
e do feijão. Porém, o desmatamento trouxe sérias conseqüências ao solo,
principalmente a erosão.
3 Órgão criado pelo Governo de Getulio Vargas em 1943, com o objetivo de colonizar a região do sudoeste do
Paraná.
O desmatamento é uma realidade que não aconteceu só em Salto do Lontra,
mas também no Paraná e em todo o Brasil. A abundância das matas brasileiras
despertava a cobiça de grupos econômicos, além da falta de conscientização de
muitos sujeitos que a depredaram.
A principal atividade econômica do município sempre foi a agricultura. A
pecuária, principalmente a suinocultura, também foi significativa nas atividades
primárias do município. A primeira atividade industrial e comercial foi a extração da
madeira. O pinheiro passava a ser a tábua que era usada na construção das casas,
antes feitas de madeira lascada. A atividade industrial lontrense teve início com a
família pioneira do Sr. Nicolau Inácio, quando ao chegarem em 1951, trabalhou na
agricultura, porém logo montaram uma serraria e um pequeno moinho. Esta
atividade era de pequenas proporções.
Em 1954 foi instalado, pelo Sr. Fermino Deitos, um moinho de dois cilindros
grandes. Descascava arroz, fazia farinha de milho e de trigo. Moía em média 200
sacas por dia. Essa produção vinha na época, de lugares onde hoje estão os
municípios de Santa Izabel, Realeza, Nova Prata, Enéas Marques. Trabalhavam
nele três pessoas que davam conta de toda produção.
Atualmente o moinho citado pertence ao Sr. Fausto Dallagnol e está em
funcionamento como prestador de serviços. Somente um funcionário cuida da
moagem do trigo, para uma empresa de macarrão, de Itapejara do Oeste no Paraná.
Ainda na década de 50, o Sr. Fermino instalou uma serraria ao lado do
moinho. Esta serraria funcionava com a mesma turbina que tocava o moinho. Foi a
partir da instalação desta serraria que as casas passaram a ser construídas de
madeira serrada e não mais de madeira lascada, já que a madeira na época era
abundante.
Nesse período as árvores eram cortadas indiscriminadamente. Segundo seu
Fermino4 “a madeira que tivesse “algum nozinho” não era nem serrada”. Após o
corte eram arrastadas por bois até um estaleiro onde era carregada em um
caminhão e levada até a serraria.
O desmatamento é uma realidade que ocorreu não só neste município, mas
também em todo o Paraná e no Brasil.
4 Entrevista concedida pelo Sr. Fermino Deitos, em maio de 1998, para a monografia de Pós-
graduação da professora PDE Marilda Bianchini.
Além de moinhos e serrarias, Salto do Lontra teve ao longo de sua história
algumas indústrias de pequeno porte, na sua maioria ligada à madeira como fábrica
de móveis e beneficiamento.Confecção de roupas.Possuiu também uma fábrica de
refrigerantes e um soque de erva mate.
A economia de Salto do Lontra atualmente é diversificada, porém possui um
Distrito Industrial de certa forma expressivo pelo porte do município.
A primeira lei de incentivo a industrialização em Salto do Lontra data de
1974, quando o prefeitura municipal doou terreno para a instalação de uma Indústria
Cerâmica. A partir desta data outras leis beneficiaram a indústria com isenções de
impostos.
Em 1989 pela Lei nº 20/89 aprovada pela câmara municipal e sancionada
pelo prefeito João Maria de Liz, foi criado o Distrito Industrial de Salto do Lontra,
localizado na gleba 102-FB lote 22B da Planta Geral do Município, com área de
36.300m². Esta mesma lei autoriza a doação destes terrenos às empresas industriais
e a prestadoras de serviços pesados que tivessem interesse de se instalarem no
município, desde que atendam as exigências da municipalidade.
A lei 47/93 aprovada em 20 de agosto de 1993 pelo prefeito municipal Dalvo
Koerich concede o terreno, barracão e demais infraestrutura, além de isenção de
tributos municipais, às empresas que tiverem interesse de se instalar no município,
de acordo com o nº de empregos criados pelas mesmas.
Em 1993, o prefeito municipal sancionou a lei 55/93. Através desta lei o
executivo municipal fica autorizado a locar imóveis destinados à instalação de
indústrias no município.
A lei nº 139/94 de 28 de dezembro de 1994, autoriza o município a edificar
barracões industriais em terrenos particulares, bem como executar todas as obras
de terraplanagem com o fim de instalar empresas industriais. Esta lei No artigo 3º,
parágrafo 3º determinava que a empresa que, no prazo de dez anos, fizesse
recolhimento de ICMS suficiente para ressarcir ao município o valor gasto na
construção do barracão, teria o imóvel incorporado ao seu patrimônio.
A primeira empresa beneficiada pela lei 139/94 foi a Indústria de Móveis
Vingos Ltda. que recebeu o barracão através da lei 12/98, em 15 de junho de 1998,
a qual continua com suas atividades industriais até esta data. A partir daí outras
empresas se instalaram e tiveram os mesmos incentivos.
Em 22 de julho de 1998, o prefeito municipal Nery Maria sancionou a lei
24/98 que dispõe sobre a concessão de incentivos de fomento à instalação ou
ampliação de empreendimentos industriais e outros ramos. Institui o FUNDES fundo
de Desenvolvimento Econômico de Salto do Lontra; a Comissão de Análise e
Parecer da Prefeitura Municipal; e o CODES Conselho de Desenvolvimento
Econômico. Esta lei revoga a anterior de nº 139/94.
A lei nº 25/98 foi sancionada em 20 de julho de 1998, pelo prefeito municipal.
Esta lei aprova loteamento e determina área localizada na Gleba 102-FB, lotes 12-A
e 145-C da Planta Geral do Município, com área de 45.660,85 para ampliação do
Distrito Industrial, o qual foi denominado “PARQUE INDUSTRIAL 2”. O loteamento já
utilizado e aprovado anteriormente pela lei 20/89 passa a ser denominado “Parque
Industrial 1”. O art. 3º desta lei proibiu a instalação de empresas que através de suas
atividades produzam poluição ambiental e sonora.
Atraídas pelo incentivo público municipal, muitas empresas se instalaram no
município no início deste século. Houve um aumento significativo no parque
industrial no número de fábricas e de trabalhadores empregados. Os bairros no
entorno das fábricas aumentaram sensivelmente o número de moradias,
necessitando de infraestrutura adequada. Recentemente foi construído, próximo ao
bairro industrial, um centro de Educação Infantil para as mães deixarem seus filhos
enquanto trabalham. Foi construída também uma unidade de saúde, que funciona de
forma ainda muito precária, o que faz com que os trabalhadores se desloquem até o
centro para atendimento médico.
Consultando arquivos da Agência do Trabalhador de Salto do Lontra,
constatamos que desde 2007 todo o ano são ofertados em torno de 200 novos
empregos, porém com o dobro de inscritos. Esses dados demonstram a procura por
empregos. Também se constatou um número bastante alto de pedidos de seguro
desemprego, evidenciando a rotatividade de trabalhadores.
Em 2010, foi aprovada lei que autoriza o executivo municipal a construir
barracões industriais na zona rural do município, visando, segundo justificativa, a
geração de emprego e renda a população.
Durante o desenvolvimento da implementação do material didático com os
alunos, da Escola Jorge de Lima, estes aplicaram um questionário com alguns
trabalhadores. O que chamou a atenção é que eles dizem estar satisfeitos com a
atenção dada a eles quando estão com problemas de saúde. Porém não é isso que
se escuta no dia a dia. Outra resposta que não confere com os dados obtidos na
Agência do Trabalhador, é a utilização do seguro desemprego, pois a maioria diz
não ter utilizado este benefício.
Participação no GTR
O Grupo de Trabalho em Rede – GTR, com o título “A indústria e a qualidade
de vida em Salto do Lontra”, no qual atuei como professora-tutora, é parte integrante
do PDE. Inscreveram-se 09 professores da disciplina de História, da rede Estadual
do Paraná. Sete profissionais participaram ativamente de todas as atividades, e
apreciaram o material apresentado. Demonstraram preocupação e
comprometimento com a melhoria da Escola pública em trabalhar temas presentes
no cotidiano dos alunos, a partir de diferentes dinâmicas, ressaltando que o objetivo
maior é a aprendizagem. Como relata a professora 01:
O papel do professor é fazer um trabalho diferente em suas aulas, transmitindo para o aluno que ele também faz parte da história, tornando as aulas diferentes e agradáveis, e formando pessoas críticas, em relação a seus direitos, pois o papel da educação, ou seja, da escola é construir uma sociedade digna para que os alunos tenham seu próprio conceito e interesse em participar da melhoria da qualidade de vida e industrialização, do local onde vivem
A professora 02 comentou que:
Realmente a nossa luta é constante no sentido de motivar os alunos para a busca do conhecimento. De fazê-los entender o quanto precisamos do conhecimento para enfrentar as dificuldades que encontramos em nosso caminho, e que sem ele as coisas ficam ainda mais difíceis”.
A interatividade contribuiu para a troca de experiências e a fundamentação
teórica da história da industrialização e os benefícios e prejuízos que a mesma traz
para os sujeitos, mais especificamente no Paraná e em Salto do Lontra. No decorrer
do curso, a participação dos cursistas, nos fóruns e nos diários permitiu o
conhecimento de parte da realidade dos seus espaços de atuação. Mesmo sendo de
diferentes lugares do nosso Estado, existiu sintonia no pensamento dos cursistas
quanto às possibilidades de utilização do material de nossa produção didática para
aprofundar o tema em questão. Percebemos que muitos deles utilizaram ou vão
utilizar parte do material didático, em suas escolas, como disse a professora 03:
Utilizei a ideia do uso de fotografias trazidas pelos alunos da 6ªsérie/7ºano do Ensino Fundamental, para montar uma pequena exposição da história do bairro onde moram e onde está inserida a escola, com o objetivo de fazê-los perceber as mudanças que ocorreram no mesmo [...]. Na verdade no início da atividade poucos entenderam a importância de estudar sua própria história mais de perto, porém no decorrer do trabalho alguns foram prestando mais atenção e se empolgaram em ajudar saber um pouco mais sobre a história do bairro onde moram. Foram reunidas várias fotos antigas que os alunos conseguiram com os pais, familiares ou outros moradores do bairro e atuais que eles mesmos tiraram. As fotos foram apresentadas em slides e comentadas em sala de aula, logo após os alunos fizeram uma produção de texto sobre o que perceberam de positivo e negativo nas mudanças que ocorreram no local onde moram e o contexto histórico em que estão incluídos. Mesmo esperando uma participação maior por parte dos alunos e até mesmo da comunidade, achei bem interessante perceber que boa parte dos alunos se percebeu como sujeito histórico participativo.
Enfim posso garantir que para mim como tutora do curso foi gratificante e
proveitoso, acredito que para os cursistas também, pois foi uma possibilidade a mais
para socializar conhecimentos. Como disse a professora 04:
Participar do GTR foi muito importante para trocarmos ideias e experiências sobre o desafio de trabalharmos a pesquisa em sala de aula, instigar nos alunos a curiosidade sobre o desenvolvimento econômico e cultural no seu contexto comunitário, estabelecendo novos conceitos e aprimorando seu interlocutor social”.
Através do GTR percebeu-se a preocupação constante entre os professores
da rede em buscar inovações metodológicas, para aperfeiçoar o conhecimento dos
alunos da escola pública, a fim de que, estes possam participar da melhoria da
sociedade, visando a qualidade de vida na qual se valorize o ser humano e não os
bens que possui.
Implementação na Escola
Após a elaboração do projeto de pesquisa “A indústria e a qualidade de vida
em Salto do Lontra”, e a produção do material didático “Aspectos históricos da
indústria e do trabalho” que foi elaborado com base em pesquisas, metodologias e
recursos audiovisuais, levando-se em consideração que o desenvolvimento se daria
com alunos de 8ª serie/9º ano do Ensino Fundamental, procurou-se utilizar
encaminhamentos metodológicos diferenciados, a fim de atrair a atenção dos alunos
participantes.
No dia 21 de julho, o projeto foi apresentado para a comunidade escolar. Em
16 de agosto foi a vez dos alunos da 8ª série/9º ano da Escola Estadual Jorge de
Lima. Houve certa dificuldade em trazê-los para o período contrário, já que alguns
trabalham ou têm outros compromissos. Vieram 22 alunos e iniciou-se as atividades
no dia 23 de agosto, com uma “viagem imaginária pelo Paraná”, através de imagens
apresentadas no projetor multimídia e a análise do poema de Jamil Sneje, “Meu
Paraná eu faço” e com o texto, Emancipação e Modernização do Paraná. O trabalho
foi interessante, os alunos participaram do debate e, mesmo que através de
imagens, ficaram conhecendo muitos lugares interessantes de nosso Estado.
No segundo dia de implementação, os alunos pesquisaram no laboratório de
informática diversos tópicos sobre o Paraná, os quais constam no material didático
“Aspectos históricos da indústria e do trabalho” e após, registraram esses
apontamentos em cartazes, que foram concluídos em suas casas. Nesse dia
analisou-se também o texto “O povoamento e a questão da terra no Sudoeste”
utilizando a TV multimídia para apresentar o texto através de tópicos os quais foram
analisados e questionados, demonstrando a participação do sujeito comum na
construção do Sudoeste paranaense.
No dia 13 de setembro, foi apresentado aos alunos, através de slides, o
texto “Paraná: da erva-mate à industrialização”. Este texto foi analisado, questionado
e depois os alunos realizaram sua própria produção textual, demonstrando o
entendimento que tiveram sobre o que foi estudado a respeito do Paraná.
Assistindo ao filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, ocorreu o
debate referente ao crescimento urbano, trabalho repetitivo na linha de montagem, a
disciplina, a pressão que o trabalhador sofre para produzir cada vez mais, o
desemprego, enfim, as relações entre capital e trabalho. Os alunos gostaram muito,
apesar de alguns já ter assistido, porém, o enfoque que foi dado ao assunto
proporcionou uma visão diferente.
Após o enfoque geral sobre o Paraná o ponto de partida foi a história local.
Analisou-se os textos “Salto do Lontra e sua história” e “A indústria em Salto do
Lontra”, além de fotos antigas do município. Alguns alunos trouxeram fotos que
estavam com suas famílias. O trabalho com estas foi muito atraente para analisar
diversos aspectos, dentre eles o pertencimento e a contextualização histórica. Foi
uma experiência interessante, pois os alunos puderam conversar e estudar sobre o
local em que moram, conhecer a sua gênese e seu desenvolvimento.
Outro trabalho relevante foi a análise da música “Cidadão” de Zé Ramalho
apresentada aos alunos em forma de vídeo na TV multimídia. Analisamos a
importância das diversas formas de trabalho necessários na sociedade e o respeito,
ou a falta dele, que se dá ao trabalhador. Depois de analisada a música, os alunos
foram divididos em grupos e cada um ficou com um poema: “Vista do crepúsculo, no
final do século” de Eduardo Galeano, “Perguntas de um trabalhador que lê” de
Bertold Brecht, “O operário em construção” de Vinícius de Morais, “Censo Industrial”
de Carlos Drummond de Andrade, os quais foram analisados e depois
transformados em vídeos pelos alunos. Nesta atividade houve um pouco de
dificuldade devido a falta de recursos materiais e entendimento da tecnologia.
No dia 25 de outubro, visitou-se três fábricas do município: uma de lingerie,
outra de biquínis, e outra de bebê e jeans, todas de um mesmo grupo de
proprietários. A visita foi muito produtiva, os alunos observaram o desenvolvimento e
o ritmo de trabalho empreendido na fábrica. A visita foi registrada através de
fotografias, além de observação e questionamentos. A recepção, pelo gerente, foi
agradável. Este profissional acompanhou todas as visitas e respondeu aos
questionamentos. Os alunos observaram que alguns trabalhadores usavam
equipamentos especiais de proteção à saúde, enquanto outros apesar dos avisos
contidos, inclusive nas máquinas, não o faziam. Fizeram perguntas e perceberam a
importância do trabalho dos sujeitos envolvidos naquelas atividades e seu grau de
comprometimento. Além das metas de produção que precisam ser atingidas.
Um destaque necessário é para a percepção que os alunos tiveram sobre a
diferença entre o ritmo de aprendizagem na escola e o ritmo de trabalho na fábrica.
Essa foi uma das atividades que os alunos mais gostaram. Depois da visita houve
debate sobre o assunto na escola e os alunos produziram relatórios e histórias em
quadrinhos.
As observações dos alunos foram escritas em relatórios e algumas
destacadas através de comentários a seguir: “Nos dias de hoje, os trabalhadores
são bem remunerados, só trabalham oito horas por dia” (aluno 01) “A qualidade de
vida em Salto do Lontra é muito boa, pois o nosso município não é muito poluído,
tranquilo, bem estruturado”(aluno 02). “Muitos dos trabalhadores são jovens que
acabaram de sair da escola, e eles aprendem a fazer o trabalho lá mesmo na fábrica
sem uma experiência” (aluno 03) “Cada trabalhador trabalha sentado ou em pé sem
poder se alongar e correndo o risco de ficar doentes com o esforço repetitivo” (aluno
04). Essas falas demonstram o quanto acreditam que a industrialização veio para
melhorar a vida das pessoas, sem considerar a existência de outros problemas a
enfrentar.
Os alunos fizeram entrevistas com alguns trabalhadores da indústria,
obtendo os seguintes resultados: a escolaridade da maioria desses trabalhadores é
o Ensino Fundamental completo ou incompleto, poucos possuem o ensino médio e a
idade varia de 18 a 48 anos. A maioria é trabalhadora das facções de confecção. O
tempo de trabalho na fábrica varia de 04 meses a 10 anos. Metade dos
entrevistados afirma estar satisfeita com o trabalho e a outra metade gostaria de
trabalhar na Sadia de Dois Vizinhos, de agente de saúde, de zeladora, cabeleireira.
A maioria trabalha mais de oito horas por dia, porém diz ganhar hora extra e sente
segurança com relação à saúde. Poucos dizem ter utilizado o seguro desemprego, o
que não confere com as informações da Agência do Trabalhador de Salto do Lontra,
na qual consta um grande número de fruição deste benefício. O divertimento para as
horas de folga é, principalmente, ficar em casa com a família, jogar bola, sair com
amigos, ir a bailes.
No dia 8 de novembro as atividades foram concluídas práticas, com exibição
de slides, organização de painéis e produção de texto final. No dia 16 do mesmo
mês, encerraram-se as atividades com certificação para os participantes. Para
registrar o término da implementação foram divulgadas as atividades através de uma
grande painel, exposto no corredor da escola, a fim de que toda a comunidade do
estabelecimento pudesse conhecer um pouco dos trabalhos desenvolvidos,
conhecendo também, um pouco da história do município em que moram.
Figura2: Foto de parte do painel das atividades
Fonte: BIANCHINI, 2011
A implementação do projeto não foi só maravilhas, as dificuldades existiram,
principalmente com relação à frequência dos alunos, pois nessa época do ano a
maioria deles está comprometida com outras atividades. Outro destaque à
dificuldade ocorreu com relação aos espaços na escola, pois nem sempre estava
disponível um local adequado para o desenvolvimento das atividades. O material
necessário e o pouco tempo para a realização de todas as atividades planejadas
foram outros aspectos a considerar.
Os alunos participantes são comprometidos com a aprendizagem, porém às
vezes existiram problemas com relação a esse comprometimento, como ocorre na
prática pedagógica cotidiana, haja visto que os educandos são adolescentes em
formação
As experiências vivenciadas durante a implementação permitiram perceber
que os objetivos foram alcançados, pois proporcionaram momentos de informação,
orientação e reflexão sobre a melhoria na qualidade de vida dos sujeitos históricos
envolvidos no processo.
Considerações Finais
Os dois anos de estudo proporcionados pelo Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, do Estado do Paraná oportunizou um retorno à academia, bem
como a possibilidade de renovar, pedagogicamente, a concepção de história. Todas
as etapas do programa desde a produção do projeto de pesquisa, os cursos
ofertados pelo Programa e pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná -
UNIOSTE, as leituras, a produção do material didático e sua aplicação, a
participação como aluna e como tutora do Grupo de Trabalho em Rede – GTR,
aliado às experiências profissionais e a dedicação comprovada, proporcionou
oportunidade de conhecimento e enriquecimento da prática pedagógica, que sem
dúvida vai enriqueceu e dinamizou o processo de ensino e de aprendizagem. A
culminância de todo esse processo resulta na melhoria da aprendizagem dos alunos
da escola pública.
A pesquisa sobre a industrialização no Estado do Paraná e o estudo de caso
em Salto do Lontra, proporcionou uma reflexão profunda sobre as mudanças
ocorridas com esse processo. De um lado, empresários satisfeitos em “oferecer”
empregos aos trabalhadores e de outro, trabalhadores “satisfeitos” em ter emprego
para sustentar sua família. Porém, são notórias as situações precárias em que vivem
esses trabalhadores, as mudanças ocasionadas no meio ambiente e possíveis
consequências desse processo. Ao abordar informalmente, algumas pessoas
relatam situações difíceis em que passam devido ao trabalho nas fábricas, porém ao
serem entrevistadas mudam o discurso, pois aí está o sustento de sua família e
compreende-se a importância do trabalho na vida do sujeito histórico. Porém as
relações capitalistas de produção que determinam essa necessidade, sabe-se que
são de exploração do trabalhador.
A participação no GTR proporcionou uma interação com professores de
diversos lugares do Paraná, os quais possuem a mesma preocupação com relação
ao aprendizado, o esforço para que o aluno da escola pública possa ser um sujeito
instruído e capaz de defender seus direitos, cumprir seus deveres e lutar por uma
sociedade melhor.
A aplicação do material didático na Escola Jorge de Lima, foi um dos
momentos culminantes das etapas do PDE, apesar das dificuldades encontradas, foi
lá que a prática e a teoria se encontraram. E lá que está o objetivo maior da
educação, o aluno.
Enfim todo esse trabalho teve um significado especial na carreira profissional
e pessoal da professora autora deste artigo, uma oportunidade única de aprender e
ensinar, a qual foi aproveitada de maneira ímpar.
Referências
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