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Saúde em Debate ISSN: 0103-1104 [email protected] Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Brasil Brasil de Araújo, Igor; Alves do Nascimento, Maria Angela; Araújo Assis, Marluce Maria Modelos de atenção à saúde no PSF: práticas e relações Saúde em Debate, vol. 34, núm. 84, enero-marzo, 2010, pp. 119-128 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Rio de Janeiro, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406341770014 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ARTIGO ORIGINAL / vice~coordenadorado NUPISC da UEFS. [email protected] 3 Professora titular do Departamento de Saüde da UEFS; Doutora em Enfermagem; coordenadora do NUPISC

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Saúde em Debate

ISSN: 0103-1104

[email protected]

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Brasil

Brasil de Araújo, Igor; Alves do Nascimento, Maria Angela; Araújo Assis, Marluce Maria

Modelos de atenção à saúde no PSF: práticas e relações

Saúde em Debate, vol. 34, núm. 84, enero-marzo, 2010, pp. 119-128

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406341770014

Como citar este artigo

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ARTIGO ORIGINAL / ORlGINALARTICLE

Modelos de atenção à saúde no PSP: práticas e relações

Health care models in the Family Health Program: practices and relations

Igor Brasil de Araújo I

Maria Angela Alves do Nascimento 2

Marluce Maria Araújo Assis 3

119

I Enfermeiro; membro do Núcleo de

Pesquisa Integrada em Saúde Caleei"a

(Nu Pise) da Universidade Estadual de

Feira de Santana (UEFS).

[email protected]

1 Professora titular do Departamento

de Saúde da UEF5i Doutora emEnfermagem; vice~coordenadorado

NUPISC da UEFS.

[email protected]

3 Professora titular do Departamento

de Saüde da UEFS; Doutora em

Enfermagem; coordenadora do

NUPISC da UEFS; pró-reitora dePesquisa e Pós-graduaç:ío da UEF5;

pesquisadora do ConseUlO Nacional

de Desenvolvimenw CientÍfico e

Tecnológico (CNPq).

m,l [email protected]

RESUMO Trata-se de estudo crítico-reflexivo, que tem como objetivos analisar

as práticas de saúde nas Equipes de Saúde da Família (ESF) e caracterizar os

modelos de atenção à saúde desenvolvidos no Programa Saúde da Família (PSF).

Foram utilizadas como técnica de coleta de dados a entrevista semiestruturada

e a observação sistemática; os sujeitos do estudo foram 25 profissionais das ESF

O método de análise de dados se aproximou da hermenêutica-dialética. Os

resultados mostraram que as práticas de saúde no PSF apontam um modelo

médico-hegemônico, juntamente à coprodução de coletivos e subjetividades,

configurando um plano complexo e contraditório de práticas e relações.

PALAVRAS-CHAVE: Atenção à saúde; Atenção primária à saúde; Programa

Saúde da Família; Sistema Único de Saúde

ABSTRACT This critical-reflective study has the goal ofana/yzing the health

care practices in the Fami/y Health Teams, and ofdistinguishing the models of

health care developed in the Fami/y Health Programo Data were collected through

semi-structured interviews and systematic observations; the subjeets ofthe study

were 25profissionais ofthe Fami/y Health Teams. The method ofdata ana/ysis was

c/ose to the hermeneutic dialeetics. The results showed that the health practices of

the Fami/y Health Program point to a medical hegemonic model, along with the

coproduction ofcollecti1Jes and subjectilJities, depicting a complex and conflicting

plan ofpractices and relationships.

KEYWORDS: Health care (public health); Primary health care; Fami/y Health

Program; Single Health System.

Saúde em Debate. Rio de J~Uleiro, v. 34, n. 84, p. 119- 128, jan.lmar. 20 lO

Anotacao
Título do Artigo: Modelos de atenção à saúde no PSF: práticas e relações Autor(es): Igor Brasil de Araújo; Maria Angela Alves do Nascimento; Marluce Maria Araújo Assis a_Igor_Brasil_de_Araújo;_Maria_Angela_Alves_do_Nascimento;_Marluce_Maria_Araújo_Assis

120 ARAÚJO, J. B.; NASCIMENTO, M. A. A.; ASSIS M. M. A. • Modelos de atençáo à saúde no PSF: práticas e relações

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como ponto de partida a cons­

trução do 'modelo SUS', a partir do direcionamento-dos princípios constitutivos do Sistema Unico de Saúde

(SUS), assegurados na legislação brasileira: integralidade,

equidade e universalidade.

A integralidade se configura num conjunto ar­

ticulado e contínuo de ações e serviços preventivos e

curativos, individuais e coletivos, conforme evidencia

Manos (2006, p. 36):

{ ..} construída a partir de atitudes individu­

ais amalgamadas que se constroem práticas

sanitárias comprometidas, é vista como forma

pela qual se organizam os serviços e as práticas

de saúde.

Equidade se traduz na noção orientadora de justiça

que deve orientar os planejadores, gestores e trabalhadores

de saúde, no atendimento às demandas que emergem no

cotidiano das práticas. Ou seja, seria o reconhecimento da

desigualdade de necessidades en tre pessoas, grupos e clas­

ses sociais, sob o enfoque demográfico, socioeconâmico

e epidemiológico. Nesse processo, a igualdade e a justiça

na oferta de serviços, além da captação de demandas dos

usuários, formam o arquétipo da construção da equidade,

que pode ser indicada pela desigualdade da oferta, indi­

retamente proporcional à desigualdade das necessidades,

para ações e serviços de promoção, proteção e recuperação

da saúde (SANTOS, 2004).

A un iversal idade das ações e serviços de saúde deve

ser pensada a partir da construção do Estado democrá­

tico de direitos. Isso porque a universalidade constitui

um princípio desse Estado, que garante a cobertura dos

riscos sociais de sua população.

Toma-se como pressuposto a definição de mo­

delos de arenção à saúde, enquanto fruto do processo

de formação de relações horizontais (equipe-usuário),

como parte das estruturas de saúde; tais modelos podem

ser definidos como modos de produção constituídos, e

outros tantos inovadores, que aparecem num contexto

de ampla construção de práticas e maneiras de agir em

saúde, configurando processos de "trabalho vivo em

ato'" (MERHY, 1997a, 2002). Complementando essa

ideia, Campos (2006, p. 53) adota a seguinte definição

de modelo:

{ ..} a forma de produção das ações de saúde

na inter-relação entre os serviços de saúde e

o Estado, quanto à organização coletiva das

práticas de saúde, no intuito de produzi-las e

distribuí-las.

Acerca das transformações no âmbito da produção

do cuidado em saúde, Merhy (l997b, 2002) teoriza sobre

o ptocesso de trabalho em saúde, afitmando que esse é,

designadamente, um trabalho vivo. Dessa forma, só existe

em ato, em ação, ou seja, no momento do trabalho em

si, ocorrendo no instante do encontro do trabalhador de

saúde com O usuário; sendo assim, é sempre relacional.-E o momento em que o trabalhador pode agir com certa

autonomia, ainda que esteja sob pressão externa, pois o

trabalho vivo é, eminentemente, instituinte, mesmo que

em graus diversos, já que poderá estar sendo sujeitado aos

procedimentos instituídos. Complementa, ainda:

[..} qualUÚJ se trata de trabalho em saúde, esta

autonomia do trabalho vivo em ato ébem ampla,

I Entendido como práticas de produção de relações no momento em que é produzido o trabaUlO, em ato, sendo essencialmente um trabalho intercessor, ou seja,

que opera na relação entre os diferentes saberes e práticas (MERHY, 1997b).

Saúde em Debau, Rio de Janeiro, v. 34, n. 84. p. 119-128, jan.lmlu. 2010

ARAÚJO, I. B.; NASCIMENTO, M. A. A.; ASSIS M. M. A. • Modelos de atençJo à saúde no PSF: praticas e relações 121

independente de estarou não sob aforma empresa­

rial em relação aos movimentos de 'captura'pelas

tecnologias mais estruturadas (duras e leve-duras)

epelas necessidades. Pois ambas - tecnologias es­

truturadas e necessidades - capturam o trabalho

vivo em ato, noprocesso interseçor que, em saúde,

ésempre umprocesso 'quase-estruturado'(MERHY,

1997a, p. 89).

o pensamento de Merhy possibilita discutir os

momentos do processo de trabalho, como momentos de

embates com interesses diversos quase nunca consensuais

sobre as necessidades de rupturas. Aqui, O autor introduz o

conceito de micropolítica, afirmando que cada sujeito social

tem certo grau de aurogoverno - imprime, no cotidiano

das práticas em saúde, distintos processos instituintes que

operam em várias direções dentro desse microespaço.

Diante dessa possibilidade de transformação,

Merhy (l997a) retorna a discussão sobre as ferramentas

tecnológicas apropriadas para confrontar com as sól idas

instituições de saúde. Sobre a questão, aposta nas tec­

nologias leves - tecnologia de relações - para ampliar

as possibilidades terapêuticas e redirecionar o modelo

de saúde comprometido com a defesa da vida. Além

disso, traz a ideia ordenada em três tecnologias: a dura,

caracterizada pelo instrumental complexo, incluindo

equipamentos e exames; a leve-dura, que se refere a

saberes profissionais na interseção entre a Clínica e a

Epidemiologia: e o campo das tecnologias leves, que são

as tecnologias de relações, a partir do encontro entre o

trabalhador de saúde e os usuários.

A prática de relações ou tecnologias leves é envol­

vida por escuta, fala, acolhimento, responsabilização

e resol ubilidade dos problemas a serem enfrentados.

Constituem-se, assim, as relações entre sujeitos com

capacidade de resolver os problemas da comunidade pela

escuta, os ruídos do cotidiano, a construção de vínculos,

com responsabilidade e humanização.

Por conseguinte, o objeto da recnologia de relações

é a produção de cuidados, e, a partir dela, almeja-se a

cura e a saúde/promoção da saúde, que deve ser orienta­

da pela troca de afetos e corresponsabilização, situando

o usuário no centro do processo.

Diante do exposto, o estudo tem como objetivo

analisar as práticas de saúde nas Equipes de Saúde da

Família (ESF), e caracterizar os modelos de atenção à

saúde desenvolvidos no Programa Saúde da Família

(PSF) em Feira de Santana (BA).

CAMINHO METODOLÓGICO

O cenário da pesquisa foi o município de Feira

de Santana (BA), tendo importância como centro co­

merciai, inclusive por ser entroncamento rodoviário e

próximo da capital baiana, Salvador. Segundo dados do

DATAsus (BRASIL, 2007), a cidade tem uma média de

544.133 habitantes, dispersos em lU11a área territorial

de 1.363 km'. Atualmente há 156 unidades de saúde,

sendo 114 municipais. A rede municipal é composta

por: 75 Unidades de Saúde da Família com 82 equipes

de Saúde da Família, com um percentual de cobertura do

PSF de 60%, enquanto a zona rural está 100% coberta

(BAHIA, 2008).

Trata-se de um estudo crítico-reflexivo, que uti­

lizou como técnicas de coleta de dados a entrevista

semiestruturada e a observação sistemática da prática. Os

sujeitos do estudo foram 25 trabalhadores, incluindo as

seguintes categorias profissionais: médicos, enfermeiros,

odontólogos, técnicos e/ou auxiliares de enfermagem e

agentes comunitários de saúde. Considerou-se a equipe

básica que atua no programa e que possui o atendimento

de saúde bucal. O quantitativo de sujeitos foi definido

por meio da saturação teórico-empírica, ou seja, quan­

do os dados começaram a se repetir, de acordo com as

Saúde em Debate. Rio de J~Uleiro, v. 34, n. 84, p. 119- 128, jan.lmar. 20 lO

122 ARAÚJO, J. B.; NASCIMENTO, M. A. A.; ASSIS M. M. A. • Modelos de atençáo à saúde no PSF: práticas e relações

unidades temáticas definidas para o estudo, concluiu­

se a coleta das entrevistas. As observações das práticas

duraram 32 horas e foram registradas em um diário de

campo. Os entrevistados foram apresemados a partir da

classificação que receberam, por exemplo, Ent. 01.

Os dados foram coletados no período de maio a

julho de 2007 após O parecer favorável do Comitê de-Etica em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de

Santana (UEFS), sob o protocolo 014/2007.

A análise dos dados se aproximou da hermenêuti­

ca-dialética com base em Minayo (1999), sistematizada

em três etapas: ordenação, classificação e análise final dos

dados, que possibilitou uma análise dos elementos sub­

jetivos que atravessam a produção da prática, referente

aos diversos momentos de fluxo de usuários na rede de

atendimento SUS.

Ordenação dos dados: essa etapa teve como obje­

tivo estabelecer uma identificação do material empírico

coletado no campo de estudo. Assim, no primeiro

contato com O material empírico coletado, realizou-se

a transcrição fiel e em seguida foi feita a leitura preli­

minar do material transcrito, organização dos diferentes

dados contemplados nas entrevistas e observações, com

O intuito de estabelecer um mapeamento horizontal do

material empírico coletado no campo de estudo.

Classificação dos dados: tealizada a lei tu ta exaustiva

e 'Rutuante' dos textos contidos nas entrevistas, recortan-

do e realizando a sÍmese vertical ou geral de cada unidade

de análise, o que possibilitou a visualização das ideias

cemrais sobre o tema em foco. As categorias empíricas

foram construídas a partir de algumas convergências en­

comradas, o que caracteriza o semido das representações

das Falas ou outtaS formas de expressão, relacionadas ao

objeto de estudo com direcionamento para sistematizar a

análise (AsSIS, 1998). (Veja se ficou bom assim, com um

pomo de seguimemo no meio do parágrafo)

A análise final foi produzida através da símese evi­

denciada nas categorias empíricas: Modelos de Atenção

Saúde em Debau, Rio de Janeiro, v. 34, n. 84. p. 119-128, jan.lmllT. 2010

no Programa Saúde da Família: do Assistencialismo à

Focalização, e Modelo de Atenção à Saúde: as Contra­

dições nas Práticas de Relações.

MODELOS DE ATENÇÃO NO PROGRAMA

SAÚDE DA FAMÍLIA: DO ASSISTENCIALISMO

À FOCALIZAÇÃO

Campos (2006) comextualiza o modelo liberal

privatista como O primeiro modelo de atenção por

procedência histórica e predominante no Brasil, caracte­

rizado pelo forte viés do assistencialismo. Nesse semido,

práticas subjetivas não são valorizadas, direcionando as

prioridades para os atendimentos rápidos, consul tas,

procedimentos baseados na relação queixa-conduta,

e a resolubilidade é comprometida com os problemas

de saúde das pessoas, pois são resolvidos fora de seu

contexto sócio-político-ambiental.

Para tanto, destacam-se as falas dos entrevistados

14 e 17:

[a resolubilidade} eu acho que ainda é muito

pequena. Aqui é a unidade básica, se atende

consulta, o exame de rotina. {. ..} Tem a parte

básica, que resolve, mas se dependerpra resolver

algum problemas é difícil. (..) a prioridade

clinica. O atendimento clínico, pois afinal a

carência maior é clinica. (Ent. (4).

O mais importante pra mim é o atendimento,

a linha de frente é a chegada do paciente na

unidade de saúde. (Ent. 17).

A partir desses depoimentos e das observações no

PSF, viu-se que na realidade da prática cotidiana a prio­

ridade é dada ao atendimento individual e curativista, o

ARAÚJO, I. B.; NASCIMENTO, M. A. A.; ASSIS M. M. A. • Modelos de atençJo à saúde no PSF: praticas e relações 123

que gera um déficit de resolubilidade, tanto no que se

refere à atenção primária quanto nos demais níveis de

complexidade do sistema. Além do mais, O problema

é visto unilateralmente, com enfoque na doença, que

precisa ser 'resolvida', desconsiderando inclusive as

determinações sociais e políticas que envolvem o dia a

dia das pessoas que, consequentemenre, inrerferem no

processo saúde-doença.

Os entrevistados 4 e 9 complementam a visão sobre

a realidade do agir dos rrabalhadores do PSF:

Eu busco tentar resolver o problema dele [usu­

ário} de uma fOrma que ele não precise chegar

à médica, que às vezes eu já sei qual vai ser a

resposta dela, entendeu? (Ent. 4).

tu acho que quanto a isso, eu acho que a gente

tá tudo bem, mas o acesso pra alguns é mais

difícil, porque a comunitÚlde aqui é muito

carente, até mesmo a medicação, ou coisa assim,

não tem a condição de comprar e agente fàlta

(Ent. 9).

O entrevistado 4, implicitamente, relaciona a

prática assistencialista a um processo de trabalho

artesanal, em que cada profissional é autónomo

pelo cuidado, caracterizado pela "predominância da

abordagem estritamente técnica, em que o trabalho

de cada área profissional é apreendido como conjunro

de atribuições, tarefas ou atividades" (PEDUZZI, 2001,

p. 104). Ressalta-se, dessa forma, a característica de

um trabalho artesanal, porque cada profissional afasta

para si a resolução de problemas imediatos que acome­

tem o usuário, em detrimento à corresponsabilização

e à integração das atividades entre os membros da

equipe. Já o entrevistado 9 apoma a dificuldade de

acesso, também característica do modelo biomédico,

em que:

ocorre desigualdade de acesso dos consumitÚJres

aos serviços. Assim, para a população de maior

poder aquisitivo, estruturou-se especialitÚldes,

e como complemento uma rede de hospitais

altamente especializados e confOrtáveis. Para o

restante, aqueles para quem o Estado compra

serviços, organizou-se vasta rede de Pronto­

atendimento, onde a atenção é impessoal e de

pequena resolutivitÚlde, além de inúmeros hos­

pitais contratados ou credenciados. (CAMPOS,

2006, p. 54).

Nesse conrexto, a população desprovida de poder

aquisitivo é um obstáculo para a falra de acesso às tecno­

logias leves, para a eficácia de cuidados de reabilitação,

porque muitas vezes não consegue recursos para seu

tratamento. Tal obstáculo poderá tanto caracterizar a

falta de acesso como a resolubilidade das necessidades

de saúde que o usuário apresenta.

Concomitante aos depoimentos com enfoque as­

sistencial, evidencia-se no campo empírico uma prática

de focalização, tal como a organização dos atendimentos

por grupo populacional específico ou por patologias

presentes, em maior número na população atendida

('formatados' em programas de atenção à criança, mu­

lher, idoso, hipertenso e diabético), explicitada aqui nas

falas dos entrevistados.

Porque oPSI; ele é, que éda atenção básica, ele

tem, ele desenvolve Programas. Os progmmas

que são parte do PSFsão hipertensão, diabetes,

saúde tÚl Mulher, do idoso, da criança, do ho­

mem ainda ta menos, mas (risos), hanseníase,

tuberculose { ..}. (Ent.3).

A prioridade aqui é hipertensos, diabéticos,

{ ..} criança de Oa 1 ano, isso realmente é uma

prioridade. A gestante também. E as atividades

Saúde em Debate. Rio de J~Uleiro, v. 34, n. 84, p. 119- 128, jan.lmar. 20 lO

124 ARAÚJO, J. B.; NASCIMENTO, M. A. A.; ASSIS M. M. A. • Modelos de atençáo à saúde no PSF: práticas e relações

educativas, eu acho que é pra orientar mesmo

a comunidade (Ent. 21).

(...) a prioridade das ações do PSF são as ações

voltadas aosgrupos: Saúde da criança, idoso, mu­

lher. .. {..} oponto chave é a questão educativa.

A gente não trabalha com programas que levem

em conta o ser humano como um todo. A gente

trabalha saúde da mulher, saúde da criança,

hipertenso e diabético, hanseníase (Ent. 24).

Como se vê, os entrevistados 3, 21 e 24 reco­

nhecem a prioridade dada às práticas dos programas

verticalizados de atendimento a determinados grupos

populacionais, oferecendo 'pacotes prontos', sem aten­

tarem para a individualidade e subjetividade das pessoas,

nem ao seu processo de saúde-doença.

Teixeira (2003, p. 265) evidencia tal realidade ao

afirmar que tais práticas são formatadas:

sob o rótulo das açõesprogramáticas em saúde:

na medida em que tomam como ponto de parti­

da, uma reflexão sobre aprogramação enquanto

uma tecnologia que pode ser utilizada para

a reorganização do processo de trabalho. {. ..}

Propõe a delimitação dos objetos de intervenção

no âmbito dos serviços como sendo 'necessidades

sociais de saúde' definidas em fUnção de crité­

rios demográficos, socioeconômicos e culturais,

o que promove o estabelecimento de recortes

populacionais.

Ao cruzar os depoimentos apresentados com a ob­

servação realizada, percebe-se um forte viés da atenção,

pautada na utilização de conhecimentos e tecnologias

voltadas pata a intetvenção de grupos populacionais

específicos ou problemas específicos que vão aparecendo

na prática do 'trabalho vivo'. A epidemiologia e a imensi-

Saúde em Debau, Rio de Janeiro, v. 34, n. 84. p. 119-128, jan.lmllT. 2010

ficação dada a alguns problemas aparecem nessa perspec­

tiva, voltadas a problemas específicos de determinadas

camadas populacionais, particularmente observadas nas

consultas individuais com atenção à queixa-conduta el

ou nas atividades em grupos focalizados. A assistência

no interior dessas consultas é dirigida a atendimentos

de puericultura, planejamenro familiar, pré-natal, sem

espaço para se vislumbrar um problema posterior que

estivesse ligado indiretamente, pois O enfoque dado era

específico naquele momento à criança, ou à mulher, ou

à gestante, caso estivessem na consulta de atendimento

ao crescimento e desenvolvimento da criança, planeja­

mento familiar, ou pré-natal, respectivamente.

MODELO DE ATENÇÃO À SAÚDE: AS

CONTRADlÇÓES NAS PRÁTICAS DE

RELAÇÓES

Diante da análise do modelo médico-centrado com

práticas focalizadas, tem-se clareza de que a mudança

pode ser feita a partir da reorganização do cotidiano do

trabalho, através da inserção da diversidade de saberes

pela equipe multiprofissional do PSF. Contudo os sa­

beres devem ser articulados não apenas nas tecnologias

leve-duras e duras, mas também nas tecnologias leves

(das relações) para produzir saúde, respaldadas por rela­

ções 'intercessoras', vislumbrada no 'trabalho vivo'.

A tecnologia da relação é reforçada nos depoimen­

tos dos entrevistados 9 e 16:

Eu acolho muito bem. Recebo todo mundo

muito bem, até mesmo aqueles que já chegam

'daquele jeito'! (Em. 9).

Acolhimento, acolher aquelas pessoas que real­

mente vêm nosprocurar, pois nós todos sabemos

ARAÚJO, I. B.; NASCIMENTO, M. A. A.; ASSIS M. M. A. • Modelos de atençJo à saúde no PSF: praticas e relações 125

que quando vêm nosprocurar éporque tão com

algum problema. Geralmente, quando eles vêm

assim, procurar aqui, quer urna consulta, às

vezes já estar preenchido o 'saldo: mas a gente

sempre dá aquele Jeitinho'de conversar. Então,

oacolhimento éagente nunca deixar opaciente

voltar sem nenhuma esperança (Ent. 16).

Tais fulas demonstram a existência da prática de

relações, com mençáo ao acolhimento aos usuários do

serviço. A fala do entrevistado 16 reafirma o poder que o

trabalho e o desenvolvimento das relações 'intercessoras'

produzem com possibilidades para a abertura de cami­

nhos para o diálogo e negociações. Assim, consegue-se

obter a construçáo subjetiva na produçáo do cuidado

em saúde, ou por si mesmo, O cuidado prestado.

Nessa iminência de relações, destaca-se em alguns

depoimentos a evidência do vínculo entre os profis­

sionais que atuam no PSF e os usuários desse serviço,

conforme as falas dos entrevistados 5 e 18:

Corno eu já tefilei: a gente já tem um vinculo

maior porque a gente ta aqui nessa equipe há

5 anos. tntão a gente tem um vinculo muito

grande com a comunidade. Eles [os usuários}

participam bastante. Porque, corno a gente

tem esse vinculo, eles têm uma abertura maior

de mostrar de passar o que realmente eles tão

passando (Ent. 5).

Avalio também corno positivo. É corno eu te

disse. Há pessoas que reclamam... Tem pessoas

que reclamam, que dizem que não se deu bem.

Já existe urna intimidade com a comunidade e

com a equipe toda, mas se você me perguntar

dessa forma, eu vou te dizer que é o agente

comunitário de saúde, já pela ficilidade de

morarmos aqui no bairro (Ent. 18).

Da mesma forma que o acolhimento, o vínculo retrata

a relação próxima entre profissional e usuários ao estabelecer

um comato que pode serde forma benéfica para a promoção

da saúde, a partir do momento que se tem a possibilidade de

ouvir com mais acurácia os ruídos do cotidiano do serviço

e interferir de forma positiva na vida das pessoas e famílias,

no intuito de se produzirem cuidados.

Outrossim, destaca-se a fala do entrevistado 18

sobre a importância da inserçáo do agente comunitário

de saúde, como um facilitador da construçáo de vín­

culos e relações 'intercessoras' entre a comunidade e os

profissionais do serviço. Nesse sentido, acredita-se que o

contato permanente desse profissional em especial com o

cotidiano da comunidade (inclusive que mora no mesmo

local que os usuários) poderá facilitar esta comunicaçáo

permanente e fortalecer os vínculos.

No sentido de complementar O entendimento da

existência das tecnologias de relações, os entrevistados

1 e 3 mencionam como se constitui a humanizaçáo no

interior das práticas no PSF.

Humanização... para mim, é eu tratar as pes­

soas do jeito que eu quero ser tratada. { ..} Pra

mim, a humanização é a pessoa sempre ter um

jeito assim, {..} de tratar as pessoas assim como

você gostaria de ser tratado (Ent. 1).

Porque, se você, além ver de o estado fisico da

pessoa, ver a outra parte, que a pessoa precisa:

o lazer, até aconselha as pessoas, é um pouco

psicólogo e tudo. Então a gente trata a pessoa

corno um ser humano, e não como uma pressão,

ou como um diabetes, ou a doença. A gente ver

o todo (Ent. 3).

Porém, os entrevistados 2 e 10 relativizam as idéias

destacadas anteriormente pelos entrevistados 5, 18, 1 e

3 em relaçáo às práticas das tecnologias leves:

Saúde em Debate. Rio de J~Uleiro, v. 34, n. 84, p. 119- 128, jan.lmar. 20 lO

126 ARAÚJO, J. B.; NASCIMENTO, M. A. A.; ASSIS M. M. A. • Modelos de atençáo à saúde no PSF: práticas e relações

Sobre isso, eu não tenho o que dizer, só que tem

momentos que não agüenta apressão, opessoalda

recepção se estressa naturalmente. A gente acolhe,

mas não é às vezes bem entendido (Ent. 2).

Humanização aqui é nenhuma. Com os pro­

fissionais náo tem nenhuma. Com os usuários,

sim, porque a gente conversa, conhece a jàmí­

lia, até a mais, mas quando a paciente estar

estressada, não tem humanização nenhuma. É

agressáo mesmo (Ent. 10).

Outrossim, observa-se também que há certos

-aspectos estressores que comprometem a manutençao

de Wlla relaçáo positiva entre trabalhadores e usuários,

possibilitando a utilizaçáo de tecnologias leves como

ferramentas de cuidado e promoçáo da saúde. Na fala do

entrevistado 2, o próprio reconhece a importância que

o acolhimento tem no seu processo de trabalho; porém,

há momentos em que ele é 'quebrado' pelo estresse. Viu­

se também na prática que há outras formas de cuidado

que tem maior aproximaçáo com uma prática centrada

no modelo biomédico. Ou seja, valoriza-se o poder da

medicalizaçáo e a queixa-conduta, quando as tecnologias

leves náo sáo, ou náo podem ser utilizadas como ferra­

menta. Conforme aponta Campos (2005, p.70):

os profissionais. os grupos, também despertam

sentimentos positivos ou negativos entre os

profissionais que atendem: vontade de curar

ou antipatia, desejo de educar ou de ser livre

um do outro. Ninguém é de pedra, ninguém

é absolutamente racional e frio no trabalho

em saúde, somos afetados pelo modo de ser dos

nossos pacientes.

De outro modo, os entrevistados 11 e 20 trazem

à discussáo a prioridade dada às suas práticas, baseadas

Saúde em Debau, Rio de Janeiro, v. 34, n. 84. p. 119-128, jan.lmllT. 2010

nas tecnologias leve-duras, numa in ter-relaçáo entre a

Clínica e a Epidemiologia:

Modelo de atenção é dar prioridade aos pro­

blemas da minha área, do meu território {..}

então a gente fez um levantamento, avaliou,

fez um diagnóstico da área, daí a gente tratou

de ver que modelo melhor se ajeitaria com a

população que a gente tem. {..} A gente ainda

tem algumas práticas dentro do PSF que são

práticas daquelaforma antiga que trabalhava.

Temos campanha de vacina, não haveria mais

necessidade de campanhas de vacinação desde

quando eu trabalho cada caso. [. ..} Quando isso

tiver consolidado no PSF, essas práticas de cam­

panha, elas deverão desaparecer. (Ent. 20).

A gente sempre tenta melhorar, eu sempre

entrego aos meus agentes [ACS} planilhas pra

ver o meu perfil de hipertensos, o meu perfil de

diabéticos, quantos tem plano de saúde, quantos

são acompanhados no posto, quantos pegam

medicação. Além da planilha normal que o

agente tem dele, eu preparo a minha. Além

disso, eu também tenho a minha pLanilha pra

meus adolescentes. (Ent. 11).

As tecnologias leve-duras:

relacionam-se com osaber que aspessoas adqui­

rem e se apropriam no modo de pensar e atuar

sobre os casos de saúde, e a tecnologia dura, por

exigir um saber-fazer estruturado, organizado,

que normaliza eé normalizado. (MERHY; MA­

GALHÃES JR; FRANCO, 2006, p. 23).

As tecnologias leve-duras identificadas nos depoimen­

tos dos entrevistados 11 e 20 se referem à priorizaçáo dada

ARAÚJO, I. B.; NASCI ME!'rrO, M. A A; ASSIS M. M. A. • Modelos de :Hençjo ~ saúde no PSF: práticas e relações 127

às planilhas, ao delineamento epidemiológico e à busca ati­

va de doenças, que orientam as ações nesses espaços. Como

menciona o entrevisrado 20 sobre a intensificação vacinal

ao recolher informaçóes acerca das afecções que mais aco­

metem a população da área de abrangência do PSF.

Assim, são analisadas as situações e tomadas medi­

das de intervenção, a fim de combater os problemas de

saúde de maior risco na comunidade. Já o entrevistado

11 se refere à construção de planilhas criadas pelo pró­

prio profissional para mapear com maior fidedignidade

a população a que sua equipe é responsável.

O mesmo entrevistado 20 complementa a sua

fala, informando a utilização de tecnologia leve-dura

para a produção de cuidado, por meio de estratégias

campanhistas e focalizadoras para o enfrentamento de

indicadores correspondentes a uma baixa de cobertura

vacinaI. Traz o indicativo da utilização, porém, das tec­

nologias duras e leves no tratamento específico de cada

caso, não sendo mais necessária a cobertura vacinai,

atualmente proposta como alternativa.

CONSIDERAÇÓES FINAIS

As práticas de saúde no PSF de Feira de Santa­

na (BA) se traduzem particularmente no processo de

trabalho das equipes, de como O modelo de saúde se

configura nesse cenário, trazendo novas questões para

serem repensadas no espaço concreto de produção do

cuidado em saúde.

A forma com que o PSF se configura no seu íntimo

processo de construção das práticas de saúde caminha

para a confluência de um modelo médico-hegemônico,

com ações focalizadas a grupos específicos da população,

na interseção de contradições no que diz respeito às

tecnologias das relações, com amplitude de concepções

acerca do processo saúde-doença.

O modelo médico hegemônico se mostrou presente

quando se analisou a existência de características rais como:

medicalização; a prática focalizada e baseada na queixa con­

dura, com valorização das tecnologias duras e leve-duras.

Porém. aponta-se para a necessidade de apoiar um

projeto em defesa da vida, dos usuários e famílias, bem

como práticas que priorizam o contexto individual e subje­

tivo das pessoas que usufruem do serviço com a introdução

de tecnologias leves, rais como o acolhimento, o vínculo e

a humanização numa prática resolutiva e coerente com a

proposra de se realizar práticas em saúde que tenhan1 como

intuito a emancipação, a responsabilização e a autonomia

dos usuários, para definirem os caminhos de suas vidas.

Porém, a contradição nesse aspecto se refere à prática

centrada na queixa-condura e à 'pressão' dos usuários por

atendimentos imediatos de um determinado problema.

Dessa forma, o modelo de atenção desenvolvido no

PSF em ['eira de Santana mostrou que as práticas de saúde

apontam para um modelo médico-hegemônico, juntamente

à coprodução de coletivos esubjetividades, configurando um

plano complexo e contraditório de práticas e relações.

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Recebido: Outubro/Z008

Aceito: Dezembro/2009

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