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As 3 cores do amor

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As 3 cores do amor concentra-se em três dimensões fundamentais do amor de Deus que cada pessoa pode refletir em sua vida: justiça, verdade e graça. Dependendo do seu ponto de partida, seu caminho de crescimento pessoal pode ser muito diferente de alguém. As 3 cores do amor oferece ferramentas práticas para ajudá-lo a identificar o ponto de partida e o poder revolucionário do amor não convencional de Deus em sua vida.

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Christian A. Schwarz AS 3 CORES DO AMOR

Se é correta a afirmação de que cada livro tem, na verdade, vários autores (no sentido de pessoas que contribuíram para a formação do texto e do formato), então isto se aplica especialmente ao livro As 3 Cores do Amor.

Em primeiro lugar, há os participantes dos meus congressos e semi-nários, que marcaram praticamente todas as páginas deste livro. Com eles pude testar estes conceitos de forma bem ampla e o seu retorno, positivo e negativo, deixou sua marca neste livro. Nestes eventos aprendi muito mais do que fui capaz de dar – não só para escrever este livro, mas até mesmo para minha própria capacidade de praticar o amor. Obrigado.

Em minhas viagens pude conversar constantemente com nossos parceiros nacionais DNI nos cinco continentes sobre os princípios que servem de base para este livro. Destas conversas aprendi mais do poderia ter apren-dido em meus estudos acadêmicos, especialmente em termos de distinguir entre os princípios universais do evangelho e as minhas preferências cul-turalmente condicionadas. As contribuições criativas de nossos parceiros fizeram deste livro um verdadeiro projeto multicultural. Obrigado.

Como também em outros livros da série do desenvolvimento natural da igreja, meu amigo e colega Christoph Schalk participou ativamente. Ele e sua equipe assumiram a tarefa da normatização dos materiais de pesquisa. E como sei da grande importância de um teste cientificamente desenvolvido em comparação com alguma “versão caseira”, sou profundamente grato a Christoph Schalk, tanto por seu empenho pessoal como também por sua competência científica. Obrigado.

E como tive que preparar a maior parte deste livro em inglês para nossa co-produção internacional, descobri quão dependente sou da ajuda de outras pessoas. Um dos maiores privilégios de meu ministério atual é a cooperação com Jonathan e Kathy Haley. Eram inicialmente meus editores ameri-canos, mas agora tornaram-se as cabeças mais criativas em nossa equipe DNI. Obrigado.

E já é quase um ritual terminar a seção de agradecimentos lembrando da esposa, especialmente por que ela abriu mão do cônjuge, que ficou escrevendo por longas horas. É um presente que você seja tão diferente, Brigitte. Constantemente me convencia, motivava e até forçava a gastar mais tempo em meu escritório para trabalhar na liberação deste livro. Você tornou possível que família e ministério, gestão e amizade, negócios e oração se unissem em nossa casa como uma maravilhosa sinfonia. Em sua vida consigo ver todas as três cores do amor de Deus. Obrigado, Brigitte.

A arte de compartilhar a justiça, a verdade e a graça

Tradução: Werner Kroker

Curitiba2012

As 3 Cores do Amor

RECURSOS PRÁTICOS DO DNI

Christian A. Schwarz

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As 10 características desta série

Deus se revelou como Criador, em Jesus e no Espírito Santo e, portanto, nós podemos encon-

trá-lo de três maneiras diferentes. As três cores: verde (para a revelação na criação), vermelha (para a revelação da salvação) e azul (para a reve-lação pessoal) são símbolos centrais em todos os livros da série Desen-volvimento Natural da Igreja. Estes livros mostram as consequências práticas da revelação de Deus na história: Criação, Gólgota e Pentecoste.

O DNI se baseia no reconhecimento bíblico de que boas raízes produzem bons frutos. Quando a

igreja tem qualidade, ela também crescerá em quantidade. Por esta razão a série Desenvolvimento Natural da Igreja se concentra nas “raízes”. A nossa tarefa não é “fazer” o crescimento da igreja mas “liberar” o poten-cial de crescimento que Deus já colocou em cada uma delas. Quando este potencial é liberado, o crescimento ocorre “por si só”.

Os livros da série Desenvolvimento Natural da Igreja são elaborados de tal forma que podem ser

usados por indivíduos, por grupos e por igrejas. Por trás destes livros está a convicção de que a qualidade de uma igreja é determinada pela quali-dade de vida individual de cada membro. Todos os materiais e estudos do DNI estão voltados para os aspectos práticos do processo do discipulado que devem nos ajudar a alcançar uma fé madura, forte e emancipada.

O DNI se baseia em pesquisas abrangentes que o Instituto para o Desenvolvimento Natural da

Igreja realizou em todos os cinco continentes. Até hoje, já participaram destas pesquisas mais de 7000 igrejas em mais de 50 países. O objetivo era descobrir princípios universais de crescimento da igreja, válidos em todos os lugares e independentes de cultura, tradição ou estilo de vida cristã. A série Desenvolvimento Natural da Igreja se baseia nos resultados destes estudos.

Cada livro da série Desenvolvimento Natural da Igreja trata de uma das “Oito Marcas de Qua-

lidade” de igrejas que crescem. Em vez de apresentar um destes ele-mentos como “a chave para o sucesso”, o conceito do Desenvolvimento Natural da Igreja procura integrar cada uma destas qualidades no todo. Descobrindo o seu perfil, cada igreja pode descobrir qual é a “marca de qualidade” que, na sua situação atual, exige mais atenção.

E xistem muitos bons livros sobre a vida espiritual e a edificação da igreja. Qual é, então, a característica peculiar da série DNI Desenvolvimento Natural da Igreja? O DNI Desenvolvimento Natural da Igreja é um novo ponto de partida sobre o crescimento

da igreja cujos fundamentos são descritos nos livros O Desenvolvimento Natural da Igreja, Nós diante da Trindade e A Mudança de Paradigmas na Igreja. Todos os livros desta série são:

O que é o DNI?

Rel

acio

nam

ento

s

Liderança Ministérios

Espiritualidad

eEstru

turas

CultoGrupos pequenos

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gel

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o

Orientações

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O DNI não apresenta um modelo de igreja para ser copiado por outras (“Faça como nós e vocês

terão os mesmos resultados”). Pelo contrário, o DNI procura liberar a individualidade, a criatividade e a espontaneidade de cada cristão e de cada igreja. Ele parte do princípio que cada cristão é singular e tem um chamado altamente individual e que o mesmo vale para as igrejas. O objetivo de cada livro da série Desenvolvimento Natural da Igreja é promover o desenvolvimento singular e individual de cada igreja.

O DNI é uma rede composta por parceiros distribuídos em mais de 50 países. A maneira como estamos

conectados permite um processo de aprendizado global. Em vez de exportar as particularidades de uma cultura para outras, o DNI tem por objetivo coletar os impulsos mais úteis de igrejas dos cinco continentes e fazer com que se tornem internacionalmente frutíferos. A série Desen-volvimento Natural da Igreja é encontrada em diferentes idiomas.

Deus é colorido, a natureza é multi-colorida, a vida está repleta de cores portanto, a série o Desenvolvimento

Natural da Igreja não poderia comunicar a sua mensagem em preto e branco. Deste modo, todos os livros da série DNI são impressos em quatro cores. E como a série é uma co-produção internacional, impressa simultane-amente em vários idiomas, é possível oferecê-la a um preço inferior ao dos livros em preto e branco, especialmente nos países fora do mundo ocidental.

Os livros do DNI são bíblicos mesmo sem serem “estudos bíblicos”. Todos têm a Palavra de Deus

como norma. Tudo o que pode ser aprendido de outras culturas - seja das igrejas, como resultado das pesquisas ou da natureza - é avaliado à luz dos princípios bíblicos. Apenas conhecimentos que passam pelo teste bíblico são usados nos nossos livros. Um dos objetivos mais importantes da série é mostrar a importância da Palavra de Deus para a nossa vida diária.

O propósito do DNI não é acumular teoria mas levar à aplicação prática dos conhecimentos adquiridos.

De acordo com a Bíblia, a verdade é algo que pode e deve ser praticado. Cada capítulo da série Desenvolvimento Natural da Igreja foi escrito de modo a ajudar o leitor a dar passos práticos e concretos. O alvo do caminho é servir melhor a Deus e desenvolver igrejas que sejam sadias, que causem impacto transformador em sua sociedade e sejam contagiantes.

Uma abordagem diferente... para resultados diferentes.

Desenvolvendo Naturalmente

a Igreja

O que é o DNI?

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As 3 Cores do Amor é um dos oito livros da série Desenvolvimento Natural da Igreja a serem publicados ao longo do tempo. Cada livro dedica-se a uma das oito marcas de qualidade de igrejas que crescem.

Introdução das bases do desenvolvimento natural da igreja:

Christian A. SchwarzDesenvolvimento Natural da Igreja

O material de trabalho para a teologia e prática do desenvolvimento natural da igreja está disponível em aproximadamente 40 idiomas. Títulos e endereços rela-cionados de todos os materiais disponíveis em língua estrangeira você encontra na Internet:

www.ncd-international.org www.dni-brasil.org

As 3 cores do amorA arte de compartilhar a justiça, a verdade e a graça

Título do original: Die 3 Farben Deiner Spiritualität© 2004 por Christian A. Schwarz, NCD Media© 2012 Editora Evangélica EsperançaLayout e Gráfi cos: Christian A. SchwarzTradução: Werner KrokerRevisão: Josiane Zanon MoreschiEdição: Sandro Bier

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Schwarz, Christian A. As 3 cores do amor : a arte de compartilhar a justiça, a ver-

dade e a graça / Christian A. Schwarz ; [tradutor Werner Kroker] - Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 2012. - - (Série recursos práticos do DNI)

Título original: Die 3 Farben der LiebeISBN 978-85-7839-011-21. Deus - Amor 2. Doutrina cristã 3. Igreja - Crescimento 4.

Novas igrejas - Desenvolvimento 5. Presença de Deus 6. Vida cristã I. Título. II. Série.

09-00720 CDD-262.001Índice para catálogo sistemático:

1. Amor de Deus : Igreja : Desenvolvimento natural : Cristianismo 262.001

Proibida a reprodução do livro ou parte dele.Por trás de todos os livros da série Desenvolvimento Natural da Igreja há dispend-iosos projetos de pesquisa que o Instituto para o Desenvolvimento Natural da Igreja desenvolveu nos cinco continentes. Os custos deste desenvolvimento são cobertos exclusivamente com a venda destes livros. Quem divulga os materiais de apoio por meio de fotocópias compromete a continuidade do trabalho de edifi cação da igreja feito pelo instituto, especialmente em países fora do mundo ocidental.

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As 3 Cores do Amor Sumário

Introdução:Refletindo o amor de Deus em todas as cores.....................................9

Capítulo 1:O que são as três cores do amor?...............................................11O anseio por amor............................................................................12As deficiências do amor em nossas igrejas.........................................14Conceitos errados sobre o amor.......................................................16Deus é amor......................................................................................18Três dimensões do amor de Deus.....................................................20Deus é luz.........................................................................................23O que é escuridão?...........................................................................26Praticar o amor significa refletir a luz de Deus...................................28A cor verde: justiça...........................................................................30A cor vermelha: verdade ...................................................................32A cor azul: graça...............................................................................34Três modelos de amor cristão...........................................................36Modelo para justiça: Tiago................................................................37Modelo para verdade: João...............................................................38Modelo para graça: Paulo.................................................................39O que isso significa na prática?.........................................................40Virtudes primárias e secundárias ......................................................41Pontos fortes e perigos de diferentes culturas...................................44Duas perspectivas em conflito..........................................................46O amor pode ser aprendido..............................................................48Seu processo pessoal de crescimento...............................................50

Capítulo 2:Como podemos refletir o amor de Deus?.....................................53O fruto é visível.................................................................................54Compreendendo o fruto do Espírito.................................................561 Coríntios 13 e a “roda espiritual das cores”....................................60O teste do fruto do Espírito...............................................................62Como avaliar o teste do fruto do Espírito..........................................67Em qual cor você terá de se concentrar.............................................69Qual o significado de cada conceito?................................................70O fruto da paciência: amor duradouro..............................................71O fruto da alegria: amor que celebra................................................72O fruto da paz: amor que reconcilia..................................................73O fruto da fidelidade: amor confiável................................................74O fruto da bondade: amor que corrige.............................................75O fruto da amabilidade: amor afável.................................................76O fruto do domínio próprio: amor disciplinado................................77O fruto da mansidão: amor humilde.................................................78O amor é indivisível..........................................................................79

10 Sumário

Capítulo 3:Doze exercícios que podemrevolucionar sua vida......................................................................81Exercício nº 1: Abasteça-se do amor de Deus....................................82Exercício nº 2: Ame a si mesmo.........................................................85Exercício nº 3: Veja pelos olhos de outros..........................................87Exercício nº 4: Acabe com a hipocrisia espiritual................................91Exercício nº 5: Aprenda a confiar.......................................................94Exercício nº 6: Seja vulnerável...........................................................97Exercício nº 7: Ouse perdoar............................................................100Exercício nº 8: Seja transparente......................................................103Exercício nº 9: Aprenda a ouvir ativamente......................................107Exercício nº 10: Surpreenda com presentes.....................................110Exercício nº 11: Use seu humor........................................................112Exercício nº 12: Façam refeições juntos............................................115

Capítulo 4:Oito exercícios que transformarãosua igreja em um oásis de amor..................................................117Exercício nº 1: “Exalem seu perfume, senhores!”.............................118Exercício nº 2: “Apenas pelo prazer de fazer”..................................120Exercício nº 3: “Proibido tédio”.......................................................123Exercício nº 4: “Que bom que você está aqui”................................126Exercício nº 5: “Deixe-me usar seus mocassins”..............................128Exercício nº 6: “O princípio do oikós”..............................................131Exercício nº 7: “Quais são seus dons espirituais?”............................134Exercício nº 8: “Posso orar por você?”.............................................138

Epílogo:O maior poder do mundo..............................................................140

A implantação dos recursos DNI:Materiais para líderes..................................................................143

Recursos práticos do DNI A Série das 3 Cores.....................................................................144

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Dedicar-se a praticar mais o amor não se trata de algum hobby cristão, mas da essência do ser cristão.

Introdução: Refletindo o amor de Deus em todas as cores

Lembro-me de uma cena muito cômica, como se fosse ontem. Eu havia sido convidado a apresentar os resultados de nossa pesquisa com mais de 1000 igrejas a um grupo de especialistas em cres-

cimento de igreja. Como eu só tinha vinte minutos para esta apresen-tação, decidi compartilhar um exemplo que eu julgava ser bastante representativo para todo o projeto de pesquisa. “Está comprovado que em igrejas que crescem”, falei, “ri-se mais do que em igrejas que não crescem. Este é um dos princípios de crescimento da igreja mais facil-mente documentado que conheço.” A reação destes especialistas? Pois é, eles... riram. “Muito engraçado, Christian. Ha, ha, ha. Admiramos o seu senso de humor. Mas você não vai querer nos convencer de que você gastou alguns anos de sua vida só para no final nos apresentar his-tórias como esta? Revele os fatos mais impactantes de sua pesquisa, aqueles pontos que são estrategicamente relevan-tes.” Eu respondi: “Amigos, estes são os fatos impactantes. Estes são exatamente os pontos estrategicamente relevantes, quando se trata de ganhar o mundo para Jesus.” Então o riso parou, sendo substituído por claros sinais de desapontamento. Alguns dos participantes olharam osten-sivamente para seus relógios para que eu avaliasse se isso era uma forma de protesto ou expressão evidente de tédio. Durante o restante da tarde dedicaram-se então às questões que eles achavam decisivas quanto ao crescimento da igreja: métodos de gestão, ferramentas de marketing, técnicas organizacionais, modelos de grandes igrejas.Porque rir é um sinal de saúdePor que eu tinha decidido escolher justamente o “riso” como centro de minha apresentação? No momento em que enten-dermos que tipo de vida de igreja é necessário para que haja uma atmos-fera em que rir faça parte da vida normal, ficará claro porque “rir na igreja” é um bom indicador de saúde da igreja. Em igrejas saudáveis as pessoas podem rir de si mesmas. Elas sabem que foram perdoadas. Elas sabem que foram aceitas. “Salvação” marca toda sua existência, não só o seu inte-lecto. Nestes grupos a verdadeira alegria é compartilhada, tanto aberta-mente como em particular. Sim, é divertido ser parte de uma igreja assim. É exatamente esta atmosfera que devemos fomentar, ensinar, divulgar e aprender; é a atmosfera do amor. Esta é a razão por que este livro é uma das oito pedras fundamentais da série do Desenvolvimento Natural da Igreja. Três características deste livroNo decorrer do trabalho neste projeto li mais de 200 livros sobre rela-cionamentos amorosos. Muitos deles são excelentes. Então o que você pode esperar deste livro que os outros não ofereçam?1. Acredite você ou não, a maioria dos livros cristãos sobre este tema

são mais fortemente influenciados por uma perspectiva secular e romântica de amor do que por um conceito bíblico de amor. Já que

Refletindo o amor de Deus em todas as cores

12 Introdução

Tem sido muito frustrante

descobrir que muitos livros

tratam todos da mesma forma..

o conceito bíblico é imensamente superior a qualquer outra pers-pectiva de amor que encontrei, coloquei-o no centro deste livro. Como os outros livros desta série, As 3 Cores do Amor baseia-se em uma bússola de três cores, que é também o centro estratégico do desenvolvimento natural da igreja. A teologia trinitária, como a maioria de nós está acostumada a ver, tende a ser irrelevante para nossa vida diária. Por outro lado, a bússola das 3 cores tem se mos-trado como uma das mais práticas ferramentas imagináveis para nos ajudar a definir como será nossa segunda, terça, quarta-feira e o resto da semana. Você vai experimentar isto!

2. Uma das mais importantes consequências desta abordagem é que as pessoas não são todas tratadas da mesma forma. Para mim foi muito frustrante ver que muitos livros fazem exatamente isto. De repente todos nós temos que prestar mais atenção em nossos sentimentos...

ou aprender como confrontamos as pessoas com a ver-dade... ou priorizar a justiça social. Que absurdo! Enquanto para alguns de nós é importante concentrar-se em alguma destas áreas para crescer no amor, outros terão que se con-centrar em aspectos bem diferentes. Para refletir melhor o amor de Deus teremos que seguir caminhos muito diferen-tes, dependendo de nosso ponto de partida pessoal.

3. Como você logo verá, esta versão deste livro nasceu em meio ao nosso ministério intercultural. Isso deixou marcas pelo caminho. Aprendi que algumas culturas orien-tais estão, em muitos aspectos, mais próximas do conceito original bíblico de amor do que sociedades ocidentais. Inúmeros mal-entendidos sobre amor resultam do fato de que muitas culturas (especialmente as de herança grega e indo--europeia) se distanciaram das raízes orientais da fé cristã. É bom que cada cultura aprenda de outras. Isso não é globalização? Ou ao menos, não deveria ser assim?

Amor – o centro da fé cristãDedicar-se a praticar mais o amor não se trata de algum hobby cristão, que alguns podem cultivar e outros, não. Trata-se da essência do ser cristão. E também é o centro da edificação da igreja. O motivo para a edificação da igreja é o amor, a mensagem é amor, e é possível comprovar empirica-mente que não há melhor método de edificação da igreja do que o amor!Minha oração é que os cristãos e os grupos cristãos que trabalharem com este livro possam ser canais mais abertos para o amor de Deus. Que possam refletir ainda mais todas as cores do amor de Deus. Isto colocará em movimento um processo de crescimento e multiplicação que sem dúvida é muito mais poderoso do que qualquer técnica de marketing deste mundo.

Christian A. Schwarz Instituto para o Desenvolvimento Natural da Igreja

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O que são as três cores do amor?

Capítulo 1: Fundamentos

Amor. Uma das palavras mais centrais da teologia cristã e ao mesmo tempo, uma das palavras mais vagas deste planeta. Quando usam esta palavra, muitos cristãos relacionam-na mais com uma compreensão secular do que com o conceito bíblico. Às vezes parece que nós, cristãos, ainda nem começamos a compreender este conceito bíblico, quanto mais vivê-lo na prática. Afinal, o que é o conceito bíblico de amor?

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O anseio por amor

Capítulo 1:Fundamentos

“Frequento uma igreja conhecida

e que cresce, mas tenho a impressão

de ser a pessoa mais solitária do mundo.”

Foi em um seminário na Suíça. O dia todo eu havia trabalhado com um grupo altamente motivado sobre questões centrais do desenvolvimento da igreja: Quais são as marcas das igrejas que

crescem? Como conseguimos mais colaboradores? O que fazer para que os grupos na igreja se multipliquem? Eu estava falando do que entendo, compartilhando meus conhecimentos com base em gráficos,

questionários e estatísticas.No final da noite uma mulher veio falar comigo. Eu estava justamente organizando a confusão das transparências que iria usar no dia seguinte. Ela disse: “Não tenho nenhuma dúvida de que você tem toda razão em cada um dos pontos mencionados.” Agradeci o elogio.“Mas”, ela continuou, “tive dificuldades para prestar atenção. Ouvia como se fosse algo muito distante, como se tudo isso nada tivesse a ver comigo.” Mais um mecanismo de fuga!, pensei. “E por que a senhora acha que nada tem a ver com desenvolvimento da igreja?” Perguntei meio sem interesse. Ela começou a falar. Ela contou-me o quanto ela fora ferida por disputas ocorridas nos últimos anos na igreja. Falou também que seu grupo pequeno quebrou por causa disto, que alguns de seus melhores amigos agora a evitavam, que seu marido, que nunca entendeu esse seu envolvimento com a igreja, a abandonara há quatro meses, que os outros mem-bros da igreja mal tinham tempo para ela, de tão ocupados que estavam na edificação da igreja, que várias vezes se ofe-

recera para envolver-se com alguma tarefa na igreja, mas sempre fora rejeitada: “Cuide de seus problemas familiares primeiro!” era a resposta. “Frequento uma igreja conhecida e que cresce”, disse ela enfim, “mas tenho a impressão de ser a pessoa mais solitária do mundo.” Lágrimas vieram aos seus olhos quando ela disse isto. Uma mudança de paradigmaEu realmente me envergonho de contar o resto da história, mas quem sabe você aprenda alguma coisa com a minha falta de sensibilidade. Com cuidado, eu disse a esta mulher que eu sentia muito pelo que ela estava passando, mas que esta não era minha especialidade. Minha especialidade era desenvolvimento da igreja. Dei-lhe o conselho de buscar um conselheiro para ajudá-la com seus problemas. Ela então foi para casa e eu fui para o meu quarto.Naquela noite não consegui adormecer. O rosto dessa mulher não saía da minha cabeça. Quanto mais eu pensava em nosso encontro, mais me culpava por tê-la mandado embora daquele jeito. É claro: desen-volvimento da igreja é a minha área. Mas o que isso quer dizer? Mais programas? Mais grupos? Mais atividades? Mais realizações? Meu Deus, o futuro das igrejas não pode se basear nisso! Não quero nem saber de programas de crescimento da igreja que não possam levar con-solo, apoio e cura para uma mulher solitária e ferida como esta! No dia seguinte esta mulher não veio ao seminário. Nunca mais ouvi falar dela.

O que são as três cores do amor?

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Para quê servem os melhores programas de crescimento da igreja se eles não ajudam a criar um ambiente em que pessoas solitárias encontrem consolo e cura?

Por que falo deste encontro? Porque foi esta mulher que me deu o empurrão para uma mudança de paradigma radical em meu ministério. Creio que nossas igrejas estão cheias de pessoas assim: solitárias, feri-das, decepcionadas. Creio até que cada um de nós sofre, talvez não na mesma intensidade, com estes ou sentimentos semelhantes. E só uns poucos têm um grupo de cristãos no qual podem se abrir completa-mente, experimentando um pouco do poder curador do amor de Deus.O principal problema: falta de amorEm um seminário pedi que os participantes escrevessem em um pedaço de papel o que achavam que eram as principais barreiras para a edifi-cação da igreja. “Briga” estava em um pedaço de papel. “Disputa de poder”, escreveu outro. Outros papéis traziam: “fofocas”, “indiferença”, “sobrecarga”, “tradicionalismo”, “teimosia”, “distanciamento”, “falta de confiança”. Perguntei então aos participantes se todas estas barreiras não poderiam ser resumidas em três palavras: “falta de amor”. Quase todos balançaram suas cabeças concordando.Falta de amor é a doença de nossos dias, mesmo que na mídia o amor seja o tema predominante. As canções que fazem sucesso, os romances baratos sobre este pretenso amor são prova desta neurose social. Poucos temas são tão enfatizados quanto o amor. Mas...• A verdade é que a solidão logo será a pior epidemia em

nossa sociedade. Constatações recentes confirmam que um quarto da população sofre de solidão crônica. A soli-dão é uma das causas mais frequentes para suicídio. Só na Alemanha, mais de 13.000 homens e mulheres cometem suicídio por ano, E a cada suicídio realizado correspon-dem oito a dez tentativas de suicídio.

• A verdade é que, na Europa, um em cada três casamentos acaba em divórcio. A maioria das pessoas deseja compa-nhia harmoniosa, mas a cada cinco minutos, um casa-mento se quebra, somente na Alemanha.

• A verdade é que o número de doenças psíquicas na Europa aumentou assustadoramente nos últimos tempos. De cada cinco pacientes que procuram um médico para tratar de suas doenças, um paciente sofre de doença psí-quica ou de sintomas psicossomáticos. “Falta de amor”, dizem os terapeutas mais renomados de hoje, é a causa de neuroses sérias e até de psicoses entre adultos.

Estas estatísticas, por mais tristes que sejam, não revelam o verdadeiro sofrimento, as feridas, as dores, as lágrimas. Esta-tísticas não mostram os sentimentos de rejeição e de deses-pero. Não conseguem expressar, nem de longe, o sofrimento que a necessidade de amor não suprida pode causar. Onde estão as igrejas que podem satisfazer essa fome? Onde estão os cristãos que devem refletir o amor de Deus de tal forma que seu poder curador seja experi-mentado em nosso mundo?

O anseio por amor

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As deficiências do amor em nossas igrejas

Capítulo 1: Fundamentos

Antes de nós, cristãos, criticarmos

“o falso conceito de amor do mundo”

seria melhor considerarmos o quão amorosas são nossas

igrejas.

Parece-me simplista demais fazer caricaturas do amor do mundo secular como acontece, embora não sempre, em algumas prega-ções. Você já conhece este discurso: “Queridas irmãs e irmãos,

vejam como é o amor aí fora neste mundo! A pessoa que não conhece a Deus, presa ao seu mundo de egocentrismo, sempre vai compreender o amor como uma forma de egoísmo, enquanto que os cristãos...” Então vem um lindo quadro, pintado com as mais lindas cores, de como é a vida da igreja de Cristo. Sempre que ouço palavras assim sinto-me muito mal. Não que eu ache errado criticar a compreensão secular de amor vigente neste mundo. Farei isso em quase todo o livro. Quero, contudo, dizer que, Antes de nós, cristãos, criticarmos “o falso conceito de amor do mundo” seria melhor considerarmos o quão amorosas são nossas igrejas..

Obstáculos “cristãos” ao amorEm outras palavras, não deveríamos discutir só com aque-les que confundem amor com desejo sensual e ainda fazem comércio disto, mas, sobretudo, com aqueles que......se orgulham e tanto falam de amor cristão em seus grupos e igrejas, mas não o vivenciam em lugar algum;...domingo após domingo sentam juntos nos cultos sem conhecerem nem se interessarem uns pelos outros;...fazem todo o possível em suas igrejas, mas não se impor-tam em levar outras pessoas a ter um relacionamento pessoal com Jesus e assim experimentar o amor de Deus;...até trabalham a todo vapor no evangelismo, mas usam mais o martelo do que o amor de Deus;...em seu modo de pensar e agir só se ocupam com lutar contra outras expressões de fé e denominações diferentes da sua, com o objetivo, é claro, de “preservar a pureza do Reino de Deus”;...constroem em torno de suas igrejas barreiras mais difíceis de quebrar que o muro de Berlim;

...sufocam os outros em um ambiente opressivo, ao invés de oferecer--lhes a oportunidade de respirar o ar puro e libertador do amor de Deus.Nem todas as igrejas são amorosasNos últimos anos tive o privilégio de conhecer centenas de igrejas nos cinco continentes. Muitas delas são exemplos maravilhosos de amor cristão em ação. Não apenas são sensíveis às necessidades de seus membros, mas também se envolvem de forma muito criativa com as necessidades da comunidade ao seu redor. Aprendi muitos dos concei-tos deste livro nestas igrejas.

O que são as três cores do amor?

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“Na igreja não se vê com bons olhos quando as pessoas se abraçam”, disse um

As deficiências do amor em nossas igrejas

Contudo, também encontrei igrejas nas quais a situação era bem dife-rente: grupos nos quais os crentes até fazem progresso no conheci-mento da Bíblia, mas não em sua capacidade de amar. Seria errado considerar estas igrejas como “exceções à regra”. Infelizmente parece que há muito mais igrejas deste tipo do que as do tipo positivo. Muitas igrejas assim estão literalmente congeladas; quem participa de um de seus cultos corre o risco de pegar um resfriado espiritual. Seu ensino pode até ser “correto”, mas eles espalham uma energia negativa que pode ser sentida até mesmo fisicamente. “Proibido tocar” Alguns anos atrás minha esposa e eu fizemos uma parada de uma hora na cidade de Colônia, durante nossa viagem de trem pela Alemanha. Como a Catedral de Colônia estava exatamente em frente à estação de trem, e como eu até então ainda nunca tinha entrado nela, decidimos visitar e ver a catedral por dentro. Devo confessar que eu tinha certas expectativas espirituais em relação a esta visita. Alguns de meus amigos já tinham me dito: “Christian, no momento em que você entrar na catedral você sentirá a presença de Deus.”Era um lindo e brilhante dia de sol quando Brigitte e eu subimos as escadas do acesso principal. Mal a grande porta maciça se fechou atrás de nós, toda a luz sumiu. A arquitetura majestosa e a atmosfera sem luz deram uma momentânea sensação de medo. Inconscientemente fiz o que a maioria de nós faz em uma situação assim: coloquei meu braço no ombro de Brigitte e andei bem juntinho dela. Ao menos um pouco de calor neste ambiente pouco hospitaleiro! Mal tinha tocado o ombro da Brigitte e um dos monges em ministério na catedral já veio para cima de nós. “Tire seu braço daí imediatamente” voci-ferou ele, “na igreja não se vê com bons olhos quando as pessoas se abra-çam.” Ainda nos pediu uma contribuição para a manutenção do prédio...Brigitte e eu saímos da igreja o mais rápido possível. Os últimos metros foram em ritmo de corrida. Mal a porta tinha se fechado atrás de nós e já havia luz e calor. Músicos de rua cantavam. Pessoas riam. O sol brilhava. Podíamos respirar de novo. Sentimo-nos livres de novo. Tínha-mos a clara impressão de estarmos mais próximos de Deus.Um símbolo para muitas igrejasEsta experiência tornou-se para mim um símbolo de inúmeras igrejas. Apesar de todas as coisas boas que se poderia dizer sobre elas – e eu não tenho dúvidas de que haveria muita coisa a ser dita, especialmente a respeito da arquitetura da Catedral de Colônia – elas comunicam para muitas pessoas exatamente o oposto do que deveria ser o amor cristão. Mas a Bíblia não nos diz que a marca pela qual a igreja de Cristo deveria ser conhecida é justamente o amor (Jo 13.35)?

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Pelo conceito romântico secular,

o amor é sempre amigável, cordial

e sentimental (surgem os filmes

de rosas e violinos).

Capítulo 1: Fundamentos

O que são as três cores do amor?

Conceitos errados sobre o amor

Como é possível que igrejas estejam tão mal desenvolvidas em sua capacidade de vivenciar o amor, que apresentem exatamente aquelas doenças para as quais deveriam ter a cura? Pode-se com-

provar que uma grande parte do cristianismo está marcada por perigo-sos conceitos errados sobre o amor. A consequência disto é que muitos cristãos acham que seu conceito de amor está totalmente de acordo com o que a Bíblia ensina sobre ele. A verdade é que já nos acostuma-mos tanto com estes conceitos errados que os lemos na Bíblia. Sempre que vemos a expressão “amor” em um texto da Bíblia, achamos que isso confirma a convicção que já tínhamos sobre o assunto. Para muitos de nós a palavra “amor” está tão fortemente ligada a certas imagens

que temos dentro de nós, que estas imagens vêm automa-ticamente à mente assim que encontramos a palavra. Não é exagero afirmar que Hollywood tem maior influência sobre nossa compreensão de amor do que o criador dos céus e da terra, o próprio Deus.São principalmente estes dois conceitos errados que encon-tro com frequência nas igrejas cristãs:Conceito errado nº 1: “Amor é sempre gracioso”Este é o conceito padrão que o amor tem na vida diária. Este conceito errado, transplantado para o âmbito cristão, reduz o amor a uma forma muito restrita de graça. Graça é, sem dúvida, parte inseparável do amor, mas amor não pode ser reduzido somente a graça. Graça é graça e amor é amor – dois conceitos diferentes, e isto por uma boa razão! Tudo o que é característico da graça é abrangido pelo conceito de amor, mas graça não abrange todas as expressões de amor. Para cristãos que seguem um conceito romântico secular de amor, o “amor duro”, como por exemplo confrontar uma pessoa com a verdade, é inaceitável. Amor precisa ser sempre amigável, cordial e sentimental (surgem os filmes de rosas e violinos). O resultado final é uma amabilidade exclusiva-

mente cordial (e muitas vezes temerosamente ineficaz), na qual a essên-cia do amor cristão acaba se esvaindo totalmente a ponto de deixar as pessoas sem condições de combater pecado e engano em suas vidas.Cada cristão sabe que na vida de fé não se trata apenas de ser cordial. Na Bíblia lemos sobre verdade, justiça, medidas duras que às vezes são necessárias para o desenvolvimento pessoal das pessoas. Mas lemos também que Deus é um Deus que ama, e lemos até mesmo que ele é amor. Como estas duas afirmações podem ser conciliadas?A solução mais comum que eu encontrei funciona assim: continuamos a usar a palavra “amor”, mas a relacionamos a outros suaves tons. Então continuamos: “Deus é amor, é verdade, mas também justo.” Ou: “Nós temos que tratar os outros com amor, mas também com verdade.” Não quero criticar as palavras “amor”, “justiça” ou “verdade” nestas frases. O que, do ponto de vista bíblico, precisa ser analisado de forma crítica, é

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Como muitas igrejas podem produzir exatamente as doenças que deveriam curar?

a palavra “mas”. Ela transmite a ideia de que justiça e verdade são algo oposto a amor – uma compreensão sem qualquer base bíblica. Amor é a essência de Deus, assim como “graça” é parte inseparável do amor. E isso vale também para “verdade” e “justiça”. Pode até haver tensão entre verdade e graça, mas nunca entre verdade e amor. O amor que foge da verdade deixa de ser amor. Esse tipo de compreensão estaria diametral-mente oposto à afirmação de Paulo de que o amor se alegra com a verdade (1Co 13.6). Conceito errado nº 2: “Se você realmente me ama, precisa ser inimigo de meus inimigos”O segundo conceito errado começa na outra ponta da escala. Geralmente aparece em meio a grupos que destacam valores como “verdade” e “justiça”. É completamente normal que outros crentes tenham opiniões, tradições ou práticas bem diferentes das nossas. Também é normal (ou, ao menos, ine-vitável) que vejamos algumas destas pessoas como “oposito-res”. O que não é aceitável é o seguinte: para demonstrar o meu amor por alguns cristãos, tenho que ser também inimigo de seus inimigos. Ter comunhão com esse tipo de cristão signi-fica fazer parte de suas cruzadas contra outros cristãos!Nosso ministério é estruturado de forma interdenominacio-nal. Isso quer dizer que eu trabalho com igrejas de diferen-tes denominações e diferentes linhas de espiritualidade. Eu posso dizer, com toda a convicção, que amo, de coração, cada um destes diferentes grupos, e que gostaria de apoiá-los em tudo que me for possível. Contudo, repetidas vezes encontro cristãos no trabalho que me pedem: “Se você realmente quiser ter comunhão conosco, pre-cisa afastar-se publicamente de XYZ.”Por exemplo: tenho alegria em trabalhar com igrejas que se entendem como “carismáticas”, e também com outras que olham para este estilo de espiritualidade com muito ceticismo. E vários de meus amigos caris-máticos questionam seriamente o meu amor por eles por eu investir tanto tempo em grupos não carismáticos. Outros não carismáticos têm a impressão de que tomei partido dos carismáticos por trabalhar tanto com estas igrejas. Conclusão: para alguns, sou “herege” por dar a mão a pessoas que eles consideram “hereges”. O lema é sempre o mesmo: “Se você me ama, será inimigo dos meus inimigos.” Esta forma de pensar em categorias de segregação e lutas está tão disseminada entre os cristãos que me parece ser o principal obstáculo à evangelização do mundo. Não estou dizendo que estes grupos não deveriam envolver-se tanto com a verdade. Acima disto gostaria de apontar para o fato de que em seu sistema de crença possi-velmente falta o mais importante aspecto do amor de Deus: o poder de transformar inimigos em amigos. Em vários grupos que conheço parece acontecer exatamente o oposto: eles continuam a transformar amigos (potenciais) em inimigos.

Conceitos errados sobre o amor

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Deus é amor

Só vamos entender o que é amor

quando olharmos como Deus lidava

com pessoas.

Na primeira carta de João encontramos uma frase que apresentou algo totalmente novo na história da religião: “Deus é amor” (1Jo 4.8,16). Sentimos isso quando tentamos aplicar esta frase a

deuses de religiões não bíblicas: Iemanjá é amor, Zeus, Júpiter, Brahma é amor. Todas estas composições mostram-se totalmente impossíveis.A afirmação de que Deus é amor não é só fundamental para nossa com-preensão da natureza de Deus, mas também para nossa compreensão da essência do amor. Esta frase nos diz que amor é muito mais do que uma característica de Deus (“Deus é amoroso”). “Deus é amor” signi-fica que amor é a essência de Deus, a tal ponto que João também pode

dizer: “Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus” (1Jo 4.16).Características de Deus e natureza de DeusAo ler superficialmente os versículos citados, muitas pessoas deixam de perceber a grande diferença que há entre um “Deus amável” e um “Deus que é amor”. A questão é muito mais do que um mero jogo de palavras e conceitos. Como veremos mais adiante, esta diferenciação tem consequên-cias dramáticas, especialmente quando se trata de praticar o amor cristão com atitudes concretas.É marcante que a Bíblia nunca afirme “Deus é justiça”, “Deus é poder”, ou “Deus é sabedoria”, ou ainda “Deus é ira”. A Bíblia fala, sim, da justiça de Deus, de seu poder, de sua sabe-doria, e, especialmente no Novo Testamento, de sua ira! Mas, tudo isso são características de Deus, que não podem se con-fundidas com sua natureza. Deus ama a justiça, ele revela seu poder, ele rege o mundo com sabedoria, ele mostra sua ira. Mas, Deus é amor. Amor é mais do que apenas uma carac-

terística de Deus, que se destaca ou retrai alternadamente com outras características. A natureza de Deus é amor. É disso que também parte a sua justiça, seu poder e sua sabedoria. Sim, até sua ira jorra de seu amor, e de nenhuma outra fonte. Como definimos amor?Deus é amor – isto significa que nós só vamos compreender o que é amor se conhecermos Deus, se dermos uma olhada, na Bíblia, em como Deus se relacionava com pessoas. Mas, como já vimos até aqui, a maio-ria de nós tem o ponto de partida oposto quando se trata de compor sua imagem de Deus. A ordem, na maioria das vezes, é a seguinte:1. Começamos com nossa própria ideia do que é amor, que na maioria

dos casos é uma variante da compreensão secular de amor romântico. 2. Em seguida lemos que Deus é amor.3. Depois então projetamos nossa ideia de amor romântico sobre Deus.Em outras palavras: nós definimos “Deus” nos termos de nossa compreen-são preconcebida de amor. Mas deveríamos fazer exatamente o contrário: definir amor nos termos que a Bíblia nos revela sobre a natureza de Deus.

Capítulo 1: Fundamentos

O que são as três cores do amor?

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O padrão de nosso amor por outros é o amor de Deus por nós.

Deus é amor

O perigo da projeçãoQuando seguimos a primeira abordagem, e a maioria de nós tende para esta direção, chegamos a dois conceitos totalmente errados:• Nossa compreensão de amor permanece secular e romântica, já que

esta compreensão nunca foi esclarecida de forma crítica através das afirmações bíblicas sobre a natureza de Deus.

• Nossa imagem de Deus também é secular e romântica, já que proje-tamos sobre Deus todas as nossas imagens seculares.

No final temos um Deus irreal e uma realidade sem Deus, uma fé alie-nada do mundo e uma compreensão do mundo sem fé. O filósofo ateu Ludwig Feuerbach, e, seguindo seus passos, também Karl Marx, acusa-ram os cristãos de projetar no céu suas próprias figuras mundanas e a esse ser criado por eles mesmos chamarem “Deus”. Quando os ateus declararam que este Deus está morto, estavam com toda a razão. Este Deus está morto. Na realidade, ele nunca existiu.Obrigado, Ludwig Feuerbach, obrigado, Karl Marx, vocês ajudaram a nos livrar desta imagem errada de Deus!O Deus da BíbliaEsta é a razão pela qual o primeiro capítulo deste livro é totalmente dedi-cado à natureza de Deus. Antes de desenvolver exercícios práticos para o crescimento no amor, precisamos ter muita clareza sobre o que de fato entendemos por amor. O padrão de nosso amor por outros é o amor de Deus por nós.Quando estudamos como Deus demonstrou seu amor por nós, aprendemos que amor é mais do que dar alguma coisa a alguém. Quando Deus nos ama, ele não só nos dá alguma coisa, ele nos dá a si mesmo. Ainda voltaremos às consequências práticas desta diferença quando tratarmos da diferença entre “virtudes primárias” e “virtudes secundárias” (páginas 41-43).O centro da compreensão cristã de amor é que nós nos doamos. Isso de forma alguma é um conceito barato. Ele tem seu preço. Ao mesmo tempo, contudo, é a chave para uma vida plena, desafiadora e feliz. Aqui se aplica bem a afir-mação decisiva e paradoxal de Jesus: “Quem acha a sua vida perdê-la-á, e quem perde a sua vida por minha causa achá--la-á” (Mt 10.39).Estou plenamente consciente de que um ou outro leitor deste livro sobre relacionamentos marcados pelo amor achará bem difícil lidar primeiramente com diferentes imagens de Deus. Prometo que ainda chegaremos aos detalhes mais banais e corriqueiros do crescimento no amor (os capítulos 3 e 4 são compostos apenas de exercícios práticos). Minha esperança é que, quando chegarmos a estes capítulos, você ao menos tenha aprendido a valorizar a abordagem teológica sobre a qual estes exercícios se baseiam.

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Três dimensões do amor de Deus

Pois a palavra do Senhor é verdadeira, ele é fiel (’aemunah) em tudo o que faz. Ele ama a justiça (sedaqah) e a retidão; a terra está cheia da bondade (haesaed) do Senhor.

O teu amor (haesaed), Senhor, chega até os céus; a tua fidelidade (’aemunah) até as nuvens. A tua justiça (sedaqah) é firme como as altas montanhas; as tuas decisões como o grande mar.

Não oculto no coração a tua justiça (sedaqah); falo da tua fidelidade e da tua salvação. Não escondo da grande assembleia a tua fidelidade (’aemunah) e a tua verdade (haesaed).

Será que teu amor (haesaed) é anunciado no túmulo, e a tua fidelidade (’aemunah), no Abismo da Morte? Acaso são conhecidas as tuas maravilhas na região das trevas, e os teus feitos de justiça (sedaqah), na terra do esquecimento?

O Senhor anunciou a sua vitória e revelou a sua justiça (sedaqah) às nações. Ele se lembrou de seu amor leal (haesaed) e da sua fidelidade (’aemunah) para com a casa de Israel...

Sei, Senhor, que as tuas ordenanças são justas (sedaqah), e que por tua fidelidade (’aemunah) me castigaste. Seja o teu amor (haesaed) o meu consolo, conforme a tua promessa ao teu servo.

Salmo 33.4s

Salmo 36.5s

Salmo 40.10

Salmo 88.11s

Salmo 119.75s

A Bíblia, em sua terminologia origi-nal, usa frequente-mente os conceitos

justiça, verdade e graça para

descrever Deus.

Salmo 98.2s

Os conceitos ’aemunah (verdade), sedaqah (justiça) e haesaed (graça) são muito usados nos Salmos para glorificar a Deus. A maioria de nossas traduções bíblicas usa outros termos (a tabela nos mostra a NVI – Nova Versão Internacional).

Capítulo 1: Fundamentos

Dê uma olhada no diagrama da página ao lado (página 21). É pos-sível expressar o conceito de amor cristão de duas formas dife-rentes. Podemos usar somente uma palavra, isto é, “amor” (no

centro do diagrama onde, da mesma forma, poderíamos usar a palavra “Deus”). Ou podemos também usar três palavras, que são: “justiça”, “verdade” e “graça”, cada uma expres-sando uma dimensão diferente do amor. Estes três concei-tos não são facilmente separáveis. Quanto mais refletirmos o amor de Deus em nós, mais os significados destes conceitos se aproximam uns dos outros.Se estes três conceitos são tão centrais para nossa compreen-são da natureza de Deus, então é estranho não lembrarmos de algum versículo bíblico que resuma estes três aspectos em uma frase. No entanto, qualquer leitor da Bíblia sabe que as Escrituras falam sobre as três dimensões do amor. Mas, se é verdade que o conjunto dos três conceitos (justiça, verdade e graça) é uma chave teológica, não deveríamos encontrar pelo menos alguns versículos bíblicos que se relacionem dire-tamente com este trio?O problema da traduçãoFato é que a Bíblia, em sua terminologia original, constante-mente usa os termos justiça, verdade e graça para descrever

O que são as três cores do amor?

23Três dimensões do amor de Deus

Podemos expressar o conceito com uma única palavra, “amor” (no centro do diagrama), ou podemos usar três termos diferentes: “justiça”, “verdade” e “graça”. Cada um destes três termos expressa uma dimensão diferente de Deus. Quando, porém, lidamos com estes três termos deveríamos compreendê-los a partir de suas raízes hebraicas. Esta compreensão pode ser diferente em nosso próprio idioma.

(haesa

ed)

(sedaqah) (’aem

unah)

amor

graça

justiçaverdade

Deus. A razão pela qual a maioria de nós ainda não está familiarizada com esta terminologia está relacionada com o fato de que estes concei-tos foram traduzidos de forma diferente nas muitas versões. Veja, por exemplo, a tabela à esquerda (página 20). Escolhi seis trechos do livro dos Salmos que são representativos para muitos outros trechos. Cada um dos trechos contém uma referência explícita sobre a justiça, a verdade e a graça de Deus. Quando, contudo, analisamos as mais diferentes versões, constatamos que, via de regra, os três conceitos aparecem em algum lugar, mas praticamente nunca no mesmo texto. Por que isso acontece?Paradigma oriental versus paradigma ocidentalA resposta está no fato de que no hebraico, que não é só o idioma do Antigo Testamento, mas toda a base de pensamento de Jesus e dos apóstolos, estes conceitos têm um signifi cado que não é fácil de ser traduzido para outras línguas. Em alguns idiomas não é fácil reproduzir o exato “sabor” destas expressões, especialmente naqueles marcados por uma herança grega (por exemplo, os idiomas indo-europeus ou “ocidentais”). Vamos dar uma olhada mais detalhada nestes termos:

24 O que são as três cores do amor?