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INTRODUÇÃO Nenhuma passagem do AT revela tanto os mistérios do plano profético de Deus para Israel e as nações quanto o livro de Daniel. Em particular, a profecia das “setenta semanas” em Daniel 9:24-27 apresenta a chave cronológica indispensável para a profecia bíblica. A profecia diz respeito tanto ao início quanto ao fim da “destruição de Jerusalém” (desde a conquista dos babilônicos até o segundo advento de Cristo) e define este período como “os tempos dos gentios” (Lc 21:24), depois do qual o tempos de restauração de Israel terá início (veja Is 2:2-4; Zc 8:1-15; 14:3-21). A profecia das setenta semanas, portanto, pertence ao grande acervo de textos sobre a restauração profética, dados a Israel como consolo em seu cativeiro. Estas profecias prometem a redenção messiânica por intermédio da dinastia de Davi em Jerusalém (Is 40- 66; Jr 30-33; Ez 33-48). A profecia das setenta semanas fornece um modelo profético para posteriores revelações escatológicas como o Sermão do Monte das Oliveiras proferido por Jesus (Mt 24-25; Mc 13; Lc 21), o sermão do “dia do Senhor” feito por Paulo (II Ts 2), e a seção sobre a ira divina no livro do Apocalipse (Ap 6-19). Os autores do NT usaram a profecia das setenta semanas para predizer eventos futuros, de modo que nós também devemos interpretá-la de forma futurista. O parêntese histórico/cronológico onde a Igreja está inserida também pode ser entendido ao estudar as setenta emanas de Daniel 9. O CONTEXTO HISTÓRICO DA PROFECIA Daniel, já com cerca de 80 ou 85 anos de idade, estava no 1 o ano do reinado de Dario (538 a.C.), conforme Dn 9:1,2 (II Cr 36:21-23; Ed 1; 6:3-5), e observou que o cativeiro de 70 anos profetizado por Jeremias (Jr 25:11,12 e 29:10) estava próximo de se completar. Ele reconheceu que a restauração dependia do arrependimento nacional (Jr 29:10-14), de modo que Daniel intercedeu pessoalmente por Israel com penitência e petições. Ele orou especificamente pela restauração de Jerusalém e do Templo (Dn 9:3-19). Aparentemente, Daniel esperava o cumprimento imediato e completo da restauração de Israel com a conclusão do cativeiro dos setenta anos. No entanto, a resposta que lhe foi entregue pelo arcanjo Gabriel revelou que a restauração de Israel seria progressiva e se cumpriria definitivamente somente no tempo do fim. 1

As 70 Semanas de Daniel

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Page 1: As 70 Semanas de Daniel

INTRODUÇÃO

Nenhuma passagem do AT revela tanto os mistérios do plano profético de Deus para Israel e as nações quanto o livro de Daniel. Em particular, a profecia das “setenta semanas” em Daniel 9:24-27 apresenta a chave cronológica indispensável para a profecia bíblica. A profecia diz respeito tanto ao início quanto ao fim da “destruição de Jerusalém” (desde a conquista dos babilônicos até o segundo advento de Cristo) e define este período como “os tempos dos gentios” (Lc 21:24), depois do qual o tempos de restauração de Israel terá início (veja Is 2:2-4; Zc 8:1-15; 14:3-21). A profecia das setenta semanas, portanto, pertence ao grande acervo de textos sobre a restauração profética, dados a Israel como consolo em seu cativeiro. Estas profecias prometem a redenção messiânica por intermédio da dinastia de Davi em Jerusalém (Is 40-66; Jr 30-33; Ez 33-48).

A profecia das setenta semanas fornece um modelo profético para posteriores revelações escatológicas como o Sermão do Monte das Oliveiras proferido por Jesus (Mt 24-25; Mc 13; Lc 21), o sermão do “dia do Senhor” feito por Paulo (II Ts 2), e a seção sobre a ira divina no livro do Apocalipse (Ap 6-19). Os autores do NT usaram a profecia das setenta semanas para predizer eventos futuros, de modo que nós também devemos interpretá-la de forma futurista. O parêntese histórico/cronológico onde a Igreja está inserida também pode ser entendido ao estudar as setenta emanas de Daniel 9.

O CONTEXTO HISTÓRICO DA PROFECIA

Daniel, já com cerca de 80 ou 85 anos de idade, estava no 1o ano do reinado de Dario (538 a.C.), conforme Dn 9:1,2 (II Cr 36:21-23; Ed 1; 6:3-5), e observou que o cativeiro de 70 anos profetizado por Jeremias (Jr 25:11,12 e 29:10) estava próximo de se completar. Ele reconheceu que a restauração dependia do arrependimento nacional (Jr 29:10-14), de modo que Daniel intercedeu pessoalmente por Israel com penitência e petições. Ele orou especificamente pela restauração de Jerusalém e do Templo (Dn 9:3-19). Aparentemente, Daniel esperava o cumprimento imediato e completo da restauração de Israel com a conclusão do cativeiro dos setenta anos. No entanto, a resposta que lhe foi entregue pelo arcanjo Gabriel revelou que a restauração de Israel seria progressiva e se cumpriria definitivamente somente no tempo do fim.

Nesta visão, Deus decretou que completaria a redenção messiânica dos judeus e de Jerusalém em setenta semanas. Ele apresentou seis objetivos da restauração que se cumpriria no decorrer deste tempo:

(1) “extinguir a transgressão”(2) “dar fim aos pecados”(3) “expiar a iniquidade”(4) “trazer a justiça eterna”(5) “selar a visão e a profecia”(6) “ungir o Santo dos santos”

Os três primeiros objetivos dizem respeito aos pecados nacionais de Israel (o Messias cumpre estes objetivos no seu primeiro advento), e os três últimos têm a ver com a salvação (o Messias cumpre estes objetivos no seu segundo advento).

Portanto, Daniel descreve a missão do Messias para com Israel, começando com a sua crucificação como o Salvador de Israel, e culminando com o seu reinado como o Rei de Israel. Deus cumprirá todos os elementos da oração de Daniel na era futura do reinado do Messias.

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Aqui fala da futura dedicação do Santo dos santos do Templo. Quando o Messias retornar em glória, edificará o Templo milenial (veja Ez 40-48), e o encherá com a presença divina (Ez 43:1-7). Ele o consagrará para uso, por toda a era messiânica (Is 56:6-7; 60:7; Jr 33:18; Ez 43:11,18-27; 44:11-28; 45:13-46:15; Zc 14:16-21).

Aqui fala da futura dedicação do Santo dos santos do Templo. Quando o Messias retornar em glória, edificará o Templo milenial (veja Ez 40-48), e o encherá com a presença divina (Ez 43:1-7). Ele o consagrará para uso, por toda a era messiânica (Is 56:6-7; 60:7; Jr 33:18; Ez 43:11,18-27; 44:11-28; 45:13-46:15; Zc 14:16-21).

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OS FATORES IMPORTANTES DA PROFECIA DE DANIEL:

1. Toda a profecia se relaciona ao “povo” e à “cidade” de Daniel, isto é, a nação de Israel e Jerusalém (24).

2. São mencionados dois príncipes diferentes: o primeiro é chamado Ungido (Messias), o Príncipe (25); e o segundo é designado o “príncipe que há de vir” (26).

3. Todo o período em questão é visto como uma unidade e especificado exatamente como “setenta semanas” (24); e essas setenta semanas são divididas em três períodos menores: primeiro, um período de “sete semanas”, depois disso um período de “sessenta e duas semanas” e, finalmente, um período de “uma semana” (25,27).

4. O começo de todo o período das setenta semanas é claramente fixado desde “a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém” (25).

5. O final das “sete semanas” e “sessenta e duas semanas” (69 semanas) será marcado pelo “surgimento do Messias como o Príncipe de Israel” (25). O Messias estaria no mundo 483 anos depois do início das setenta semanas (ver Zc 9:9).

6. Mais tarde, “depois das sessenta e duas semanas” que seguem as primeiras sete semanas (isto é, depois de 69 semanas), “o Messias, o Príncipe será morto” e “Jerusalém será destruída novamente” pelo povo do outro “príncipe” que ainda há de vir (26).

7. Depois desses dois importantes acontecimentos, chegamos à última, ou septuagésima semana, cujo início será marcado pelo estabelecimento de uma “firme aliança” ou tratado entre o príncipe por vir e a nação judia por um período de “uma semana” (27).

8. Em “meio” à septuagésima semana o príncipe que há de vir, subitamente “fará cessar o sacrifício judeu”, rompendo o seu tratado, e lançará sobre esse povo um período de ira e desolação que permanecerá até o final da semana (27).

9. Com o final de todo o período das setenta semanas, será introduzido “um período de grande e incomparável bênção para a nação de Israel” (24) – Israel terá justiça eterna.

Outra explicação que se faz necessária é quanto ao significado da “semana”. Os judeus tinham um “sete” de anos bem como um “sete” de dias. A palavra hebraica para “semana” shabua [ׂש�בע], que literalmente significa “sete”, foi usada sozinha quando se referiu à conhecida “semana” de anos, mas, no capítulo 10:2,3, quando Daniel fala das “três semanas” que esteve em jejum, ele claramente as especifica como “semanas de dias” para distingui-las das “semanas” de anos no capítulo 9. Também, o contexto da profecia de Daniel exige que as “setenta semanas” (lit. “setenta setes estão determinados” – v.24) sejam de anos, pois, do contrário, haveria pouco tempo para o cumprimento dos acontecimentos descritos nesta profecia. Assim como, no capítulo 10:2,3, no qual o profeta lamentou e jejuou “por três semanas”, o contexto exige uma “semana” de dias (lit. “três setes de dias”).

O PROPÓSITO DA PROFECIA

Daniel procurava os profetas e orava, pedindo uma resposta para o mistério que rodeava a desolação do Templo nos seus dias. Ele aprendeu que os temos dos gentios começaram com o cativeiro dos seus dias, e terminará com um império internacional, liderado por um futuro

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governante ímpio. Deus revelou que isto aconteceria no tempo do fim, e que o ato final da destruição do Templo assinalaria o juízo final de Deus contra as forças gentias. Finalmente, Deus cumpriria todas as suas promessas a Israel (Dn 2:44-45; 7:17-27; 12:1,7).

CONCLUSÃO

Na profecia das setenta semanas, Deus nos dá a chave para o enigma profético do tempo do fim, de modo que possamos saber o que esperar, e tenhamos confiança em nossos dias.

NOTA: Este é um dos mais fortes argumentos do PREMILENISMO. Para se refutar este argumento, é necessário provar que a Igreja termina o programa de Deus relacionado com as alianças que Deus fez com Israel. Mas para isso é necessário negar o novo programa.

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AS SETENTA SEMANAS DE DANIEL(Daniel 9:24-27)

70 Semanas = 490 anos

Para extinguir a transgressão,Para dar fim aos pecados,Para expiar a iniquidade,Para trazer a justiça eterna,Para selar a visão e a profecia,Para ungir o Santo dos santos.

LACUNA PROFÉTICA

Decreto deRestauração

O Messias,o Príncipe

O príncipe que há de vir(Ap 6:2)

O Messias retornacom poder(Ap 19:11)

14 de março de 445 a.C.

6 de abrilde 32 d.C.

69 Semanas = 483 anos 1 Semana = 7 anos

1260 dias 42 mesesMessias “tirado”10 de abril de 32 d.C.

Cidade e Templo destruídos 6 de agosto de 70 d.C.

Decreto de Artaxerxes(Ne 2:1-8)

Entrada Triunfal(Lc 19:28-40 cf. Zc 9:9)

7 Semanas49 anos

62 Semanas434 anos

(até)

(Era da Igreja)

Explicação das 70 Semanas de anos de Daniel69 x 7 x 360 dias (ano lunar do calendário judaico) = 173.880 dias

14 de março de 445 a.C. + 173.880 dias = 6 de abril de 32 d.C.

Verificação445 a.C. a 32 d.C. = 476 anos (1 a.C. até 1 d.C. = 1 ano)

476 anos x 365 dias (ano solar / calendário gregoriano) = 173.740 dias (14 de março de 32 d.C.)de 14 de março a 6 de abril, incluindo ambos = 24 dias

dias dos anos bissextos = 116 dias (*3 a menos em 4 séculos)173.740 dias + 24 dias + 116 dias = 173.880 dias

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QUANDO A CONTAGEM DOS 490 ANOS COMEÇOU?

Um aspecto importante da revelação de Daniel é o marco inicial em que a contagem dos 490 anos devia começar (v.25). De acordo com o anjo Gabriel, esse ponto de partida coincide com o decreto para a reconstrução completa de Jerusalém, inclusive a reconstrução das “praças” e das “circunvalações”. À primeira vista, parece que temos m problema, já que os reis da Pérsia e da Média expediram vários decretos para a reedificação de diversas partes de Jerusalém:

1º Decreto expedido por Ciro em 538 ou 537 a.C. – autorizava a reconstrução do Templo (Ed 1:1-4).

2º Decreto expedido por Dario em 519 a.C. – reafirmava o direito dos Judeus reconstruírem o templo (Ed 5:3-7).

3º Decreto expedido por Artaxerxes em 458 a.C. – autorizava Esdras a tomar sacerdotes/levitas para os serviços religiosos (Ed 7:11-16).

4º Decreto também expedido por Artaxerxes em 445 a.C. – autorizava Neemias para reconstruir os muros de Jerusalém (Ne 2:1-8).

A qual desses decretos o anjo Gabriel se referiu em Daniel 9:25? Qual dos decretos permitia a construção de “praças” ” [[rehovrehov – – “um espaço aberto”“um espaço aberto” dentro da cidade, limitado por seus muros e dentro da cidade, limitado por seus muros e portões]portões] e “circunvalações” [[harutzharutz – – “um fosso, uma trincheira ou um valado que circunda a“um fosso, uma trincheira ou um valado que circunda a cidade”cidade” – sistema de defesa] – sistema de defesa]?

A História Bíblica relata que, logo após a expedição do terceiro decreto (o de Artaxerxes em 458 a.C.), os judeus que se encontravam na Judéia começaram a reconstruir os muros por iniciativa própria. A obra não se completou, porque os inimigos dos judeus informaram ao rei sobre a atividade deles (Ed 4:8-16), alertando-o de que conceder aos judeus uma permissão para construir os muros de sua cidade principal era o mesmo que encorajá-los a se rebelarem contra o rei. O rei, então, ordenou que a obra de reconstrução fosse imediatamente interrompida até que uma nova permissão fosse expedida (Ed 4:17-21). A linguagem da ordem que interrompia aquela obra continha uma válvula de escape que abria a possibilidade de se expedir outro decreto que permitisse a continuidade da construção dos muros de Jerusalém, já que a lei dos medos e dos persas era irrevogável, ou seja, as sua lei proibiam o rei de anular um decreto que ele mesmo expedira ou que tinha sido expedido por um de seus predecessores (Et 1:19; 8:8; Dn 6:8,12,15).

Somente o quarto Decreto permitia um amplo esquema de defesa, com circunvalações. No ano 445 a.C. (mais de uma década depois do terceiro Decreto) Neemias soube que os muros da cidade ainda estavam derrubados (Ne 1-2). Ele, então, fez um pedido ao rei Artaxerxes para voltar a sua terra e reedificá-la. Isso aconteceu no vigésimo ano do reinado de Artaxerxes, i.e., em 14 de março de 445 a.C..

Portanto, os 490 anos proféticos de Daniel 9 começaram “no mês de Nisã”, mais especificamente, no dia 14 de março do ano 445 a.C..

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