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COLEÇÃO VIAGENS NA FICÇÃO Chiado Editora www.chiadoeditora.com

As Aventuras de Andrômeda Nebulosa - O Enigma do Sistema Solar

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Prévia do segundo livro da autora Camila Borges. A obra será publicada no Brasil e em Portugal pela Chiado Editora em setembro de 2015. Todos os direitos reservados.

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Page 1: As Aventuras de Andrômeda Nebulosa - O Enigma do Sistema Solar

COLEÇÃO

V I AG E N S N A F I C Ç Ã O

Chiado Editorawww.chiadoeditora.com

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Um livro vai para além de um objeto. É um encontro entre duas pessoas através da palavra escrita. É esse encontro entre autores e leitores que a Chiado Editora procura todos os dias, trabalhando cada livro com a dedi-cação de uma obra única e derradeira, seguindo a máxima pessoana “põe quanto és no mínimo que fazes”. Queremos que este livro seja um desafio para si. O nosso desafio é merecer que este livro faça parte da sua vida.

www.chiadoeditora.com

Portugal | Brasil | Angola | Cabo VerdeConjunto Nacional, cj. 903, Avenida Paulista 2073, Edifício Horsa 1, CEP 01311-300 São Paulo, Brasil

Avenida da Liberdade, N.º 166, 1.º Andar1250-166 Lisboa, Portugal

© 2015, Camila Borges e Chiado EditoraE-mail: [email protected]

Título: As Aventuras de Andrômeda Nebulosa -- o enigma do sistema solar

Editor: Mayara FacchiniComposição gráfica: Maria do Rosário Costa – Departamento gráfico

Capa: Isabelle Imay e Samara CamargoRevisão: Talita Lima

Impressão e acabamento: Chiado Print1.ª edição: Setembro, 2015

ISBN: 978-989-51-4848-6Depósito Legal n.º 395308/15

Chiado EditorialEspanhaPaseo de la Castellana, 95, planta 1628046 MadridPasseig de Gràcia, 12, 1.ª planta08007 Barcelona

Chiado Publishing U.K | U.S.A | Irlanda Kemp House 152 City Road London EC1CV 2NX

Chiado ÉditeurFrança | Bélgica | Luxemburgo

Porte de Paris 50 Avenue du President Wilson

Bâtiment 112 La Plaine St Denis 93214 Paris

Chiado Verlag Alemanha

Kurfürstendamm 21 10719 Berlin

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Camila Borges

Chiado EditoraPortugal | Brasil | Angola | Cabo Verde

As aventuras de

Andrômeda Nebulosa

O enigma do sistema solar

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Todo mundo tem medo de alguma coisa

Para Junior

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Índice

Prefácio 9O fim de um ciclo e o começo de um outro 11Mingau de aveia para mentes preocupadas 15Emaranhado de rabiscos 17O menino de cabelos verdes 23Isa 29Eu sou um Leão 31Ama: Poderes Medicinais 37Adormecer 45O trem de Londres e a nave de Saturno 47A minha mala e os pelos dos gatos de Camilla 51O ar do lado de fora 53London 537 59Cortinas 67Sobre mundos de cabeça para baixo 69Esses objetivos tão seus 75A nave de Pégaso 77Estrelas 81A história de Februs 83Júpiter 89Mercúrio, um planeta pequeno e quente 97A janela do universo 105A não plantação de bombom de Vênus 107

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O texto vive 117Saturno, o maravilhoso envolto de anéis 119Dez minutos terrestres para Urano 127Última parada: Netuno 135Abra os olhos 145

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PREFÁCIO

Os detalhes fazem toda diferença em qualquer obra li-terária. É importante que a visão do autor esteja cada vez mais clara em cada linha, deixando a história mais real ao nosso redor. Gosto de ler livros que conseguem me introduzir a esse novo mundo, como se eu estivesse lá, naquelas linhas, nadan-do entre os espaços batidos, separando cada palavra. Torna-se mágico o folheio das páginas e a empolgação de virar para a próxima, descobrir e revelar seus segredos, que nos instiga a não desviar o olhar e se perder maravilhosamente no oceano de inspiração proporcionado pela mente criativo de um autor iluminado.

A obra de Camila Borges nos remete a isso. O fanta-sioso mundo das curiosidades imaginárias, como um barco em alto mar em busca do horizonte. A oportunidade de via-jarmos para um mundo longe desse no qual encaramos dia após dia. A realidade nos chateia, encarna em nosso espírito e devemos aproveitar alguns momentos de distração para levan-tarmos voo em direção ao desconhecido e desbravar os cami-nhos ocultos atrás de um pedaço de papel. O momento áureo, quando nos desviamos da realidade e ativamos um ponto em nosso cérebro conhecido como – imaginação – e como tal, nos desgrudamos do comum e criamos um novo plano, alte-rado de acordo com a nossa criatividade e também do autor.

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A história de “As aventuras de Andrômeda Nebulosa” nos colocam um desafio. Sair do nosso mundo, mergulhar num intenso oceano de possibilidades e, assiduamente, des-cobrir os mistérios de uma história que nos levará para o desconhecido de Andrômeda. A visão da autora deixa cla-ros os detalhes, mas somos nós, leitores, que podemos viajar nesse enredo e imaginar cada pequeno acontecimento, cada detalhe, nos desviando da nossa realidade para nos entregar a magia de ler um livro e ser abraçado pelo sonho literário de uma jovem jornalista.

Sobre a história, acho que não devo mencionar nem um trecho do primeiro capítulo aqui, a minha mera opinião pode influenciar na sua imaginação e filtrar sua criatividade pelas inúmeras páginas que lhe aguardam com tanto fervor. Cada linha, cada página, cada capítulo, deve ser ansiosamen-te aguardado cada vez que você começa um parágrafo, caso contrário, não terá graça. Se apaixone, se deixe levar, flutue e caminhe por um mundo do desconhecido que você, meu caro aventureiro (pois todos os leitores são aventureiros), irá desbravar. Se solte do cotidiano, se desmembre da realidade. Agora você estará junto com Andrômeda, ambos mergulhan-do no novo, iluminando o caminho oculto. Não vale pular páginas e nem folhear o livro. Deixe que o tempo se perca e você se perca na história. O mágico está apenas começando. Mude a página, mude o rumo, mude a sua realidade e esteja preparado para desvendar todos os acontecimentos, prepara-dos e sonhados pela mente fértil de um jornalista, agora es-critora. Bom, chega de ler o que eu tenho a dizer, vamos logo virar essa página e cair nesse mundo de aventuras.

Gabriel Eloi | Jornalista

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UM:

O fim de um ciclo e o começo de um outro

Hoje fazem exatamente seis meses que tudo começou. O tempo passou tão rápido. Não gosto de falar com estranhos então deixe-me me apresentar. Meu nome é Andrômeda, ain-da tenho dezesseis anos e ainda moro na Noruega no Orfanato Barsa. Apesar da terrível morte de meus pais, Nathan e Roald me fazem companhia. Nathan é uma criança de dez anos que conhece o mundo muito mais além do que eu conheço, mas ele conhece o mundo tão bem, por causa dos livros que carrega em baixo do braço para cima e para baixo. Nathan é pequeno, os dentes ainda estão crescendo e os óculos ocupam boa parte de seu pequeno rosto. Roald? Bem, ele tem a mes-ma idade que eu, têm cabelos pretos e uma pela clara que se pode comparar a neve, alto e um pouco magro, seu timbre de voz aconchega carinhosamente qualquer ouvido.

Desde a minha chegada no Orfanato Barsa muita coi-sa aconteceu, estou sentindo um pressentimento ruim, acho que alguma coisa irá acontecer. No momento, estou sozinha em meu quarto, apenas ouvindo a chuva que caí lá fora. Para

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minha sorte, eu não preciso dividir o meu aposento com nin-guém, me incomodo um pouco por ele também ser utilizado para guardar as vassouras de faxina, mas infelizmente, nem tudo pode ser perfeito.

Meus pais eram amantes da astrologia e é daí que vem meu nome que discreto não tem nada: Andrômeda! Como eles já não estão mais entre nós, não podem ver a loucura que a mi-nha vida se transformou, acredito que se eles desconfiassem que este nome me traria tanta desgraça, teriam me dado um outro. Andrômeda é o nome de uma constelação, ela também é conhe-cida como M31, se você estiver com um telescópio por perto, consegue me achar em ascensão reta em: 0h43m22s e declinação +41º22’15”.

Eu tenho algo para lhe contar, mas preciso que acredite em mim. Há seis meses descobri uma série de coisas que me trans-formaram. Primeiramente tem um monstro de outro mundo que não gosta de mim. Espere, eu vou explicar melhor. Quando meus pais morreram, eu passei a morar no Orfanato Barsa, logo fiz amizade com Nathan e Roald, meus únicos amigos aqui. Depois de um tempo, um de meus professores, o Stean, contou para nós que tínhamos uma missão e que não éramos “normais”, que poderíamos salvar todo o universo se estivéssemos juntos.

Descobri também, que o mundo corria perigo, pois as três pedras que deram origem ao universo estavam perdidas no espaço. Eu, Nathan e Roald deveríamos ir busca-las e então, des-truí-las antes que Februs, uma criatura nojenta e demoníaca o fizesse. Foi muito difícil, mas conseguimos encontrar todas as três pedras e também destruí-las. Foi necessário utilizar um buraco negro para dar fim a elas. Mas conseguimos! Februs sumiu desde então, todos acham que ele está morto, que foi consumido pelo buraco negro. Eu quero acreditar nisso também, mas não consi-go. É desesperador!

Estou sentindo um cheiro delicioso de mingau, estamos em pleno sábado, provavelmente esse cheiro vem da cozinha.

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As funcionárias do orfanato cuidam muito bem de nós, ape-sar de não existir amor, diálogo ou carinho, elas apenas fazem o serviço delas e um mingau de aveia com semente de girassol maravilhoso! Tenho certeza que Nathan e Roald, como sempre esfomeados já devem estar se arrumando para descer as escadas desse grande orfanato e ir para a sala de alimentação. Acho que vou ir até lá também.

Retirei meu pijama e coloquei uma calça, um moletom e um tênis, nada que parecesse muito chique para a ocasião, mas também nada muito desleixado. Abri a porta do meu quarto e andei pelo corredor em direção à escada. O orfanato era colori-do em tons de vermelho bordo e um marrom triste, não havia nada na decoração daquele lugar que fizesse você se sentir “em casa”. Em contrapartida o cheiro era um convite à mesa, uma mistura perfeita entre leite, açúcar, aveia e semente de girassol. Eu conseguia sentir meu estômago reclamar de fome.

Desci as escadas lentamente, a sala de alimentação estava lotada. Eu adoro mingau, mas todos os outros órfãos que moram no orfanato gostam também, de modo que ele é bem concorri-do. A sala de alimentação era grande, com uma luminária no teto, mesas em tamanho retangular grande o suficiente para acomo-dar a todos, com janelas de vidro como aquelas das igrejas da ida-de média. Roald e Nathan estavam sentados em uma das mesas, já estavam comendo e ao lado de Nathan, havia um prato fundo com mingau, eu não tive dúvida, aquele prato era para mim. Já estava na hora de fazer o desjejum e eu estava faminta, fui até eles.

– Oi meninos. Vocês estão bem? – Sim. Temos um bom mingau de aveia e com mingau de

aveia não existe problema. – Comentou Nathan.– Você é muito inteligente, mas quando quer, consegue

fazer frases completamente sem sentido. – Roald, como sempre, importunava Nathan.

– É, vejo que estão bem. Espero que esse mingau esteja melhor que essa conversa. – Concluí.

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Eu precisava contar a eles tudo o que eu estava pensando, decidi contar logo após a nossa refeição. Independente da rea-ção, eu tinha certeza que estávamos correndo perigo, se algo fosse acontecer, é melhor informa-los, assim, ninguém seria pego de surpresa.

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DOIS:

Mingau de aveia para mentes preocupadas

Em um dia frio, um mingau quente pode esquentar o seu corpo e também a sua alma.

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TRÊS:

Emaranhado de rabiscos

Após o café da manhã os órfãos se dispersaram pelo orfanato, para nossa sorte, não precisamos lavar a louça ou fazer tarefas domésticas. Ainda estávamos sentados à mesa, e eu precisava encontrar um lugar onde pudéssemos con-versar sem sermos importunados. Ninguém do orfanato sabia das nossas aventuras, o único que estava ciente de nossa dor de cabeça era o Professor Stean, que gastava seu tempo dando aula de filosofia, cuidando de nós e também estudando a origem e o futuro desse vasto universo.

Pensei em ir para a floresta, bem eu chamo de flo-resta, mas é apenas um pequeno agrupamento de árvores perto do Rio Aker que passa atrás do orfanato.

– Eu preciso conversar com vocês. – Você está séria, aconteceu alguma coisa? –

Perguntou Roald com as sobrancelhas arqueadas. – Ainda não. Mas vai acontecer. Quando o Professor

Stean vai voltar? Essas férias dele não terminam nunca! – Esbravejei.

– Provavelmente vai voltar nos próximos dias. Eu conversei com ele ontem, me disse por telefone que estava

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no litoral do Brasil, que iria passar por Londres, mas vol-taria o mais breve possível. Eu o alertei sobre o risco de tubarão e monstros marinhos. – Completou Nathan.

– Eu já lhe disse muitas vezes, monstros marinhos não existem, Nathan! Vamos caminhar até a floresta, eu preciso conversar com vocês.

Os olhos deles estavam fixos em mim. Sabiam que eu estava preocupada, provavelmente, sabiam também da minha inquietação desde que nossas vidas se transformaram em um grande show de horrores.

Saímos do grande salão do orfanato, fomos em dire-ção à porta e então, caminhamos alguns metros até a floresta. Não estávamos sós, apesar da grama ainda estar molhada por causa da chuva da madrugada, haviam outros órfãos que tam-bém escolheram o jardim como escapismo da realidade vivida dentro do orfanato.

As árvores da floresta eram enormes, é tão estranho quando nos deparamos com esses elementos da natureza, é como ver o oceano, ele é tão grande que nos me faz sentir pequena e vulnerável, à toda essa imensidão da natureza. É sempre assim, como o mar, as grandes montanhas, a imensi-dão da neve, somos pequenos perto da natureza. Acho engra-çado como conseguimos desafiá-la regularmente, desmatan-do, matando a fauna e a flora, um dia, certamente, tudo isso se voltará contra nós, ou talvez simplesmente façamos parte de tudo isso, e estamos matando a nós mesmos aos poucos.

Conseguimos encontrar um canto seguro perto do Rio Aker, como estava frio, poucos se arriscaram a chegar tão perto da água. Escolhi o fiorde para contar a eles tudo o que eu estava pensando.

– Estou com medo! – Comecei. – Precisava vir até aqui para nos contar que está com

medo? – Indagou Roald com seu sempre presente tom de sarcasmo.

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– Deixe-a terminar, Roald!– Obrigada Nathan. Eu não me sinto segura, sei que

tudo terminou, que o futuro do universo está garantido desde que destruímos aquelas malditas pedras extragalácti-cas, mas consigo sentir a presença de Februs. Estou como medo, acho que a qualquer momento ele pode voltar.

– Ele foi engolido por um buraco negro, a volta dele é impossível. – Falou Roald.

– Februs era poderoso, um demônio extragaláctico. Entendo que esteja com medo, mas não se precipite, eu adoro você, mas você consegue colocar minhocas na ca-beça quando quer. Dê um tempo a si mesma de tudo isso. Estamos bem. Eu, você e Roald. Logo as aulas irão come-çar e o professor Stean estará de novo aqui conosco. Em uma questão de tempo tudo voltará ao normal. Não tenha dúvida. – Falou Nathan.

– Ouviu o que Nathan disse? Não costumo con-cordar com essa criança, mas ele está certo. Vamos voltar ao orfanato, eu ainda preciso terminar de ler o livro que peguei na biblioteca.

– Falamos, falamos e não falamos nada. Tudo bem, vamos voltar. – Conclui.

Era sempre assim, ninguém me ouvia. Quando Roald e Nathan se juntavam com o mesmo ponto de vista a conversa ficava sempre em desnível.

Voltamos para o orfanato em silêncio, evitávamos fa-lar perto dos outros órfãos tudo o que havíamos passado, pois para eles, éramos somente mais um grupo de aban-donados que esperava pelos dezoito anos para se ver livre daquele lugar.

Quando entramos pela porta de trás do casarão, já não conseguíamos sentir o cheiro de mingau, agora impe-rava apenas o cheiro típico de ceira vermelha para chão de madeira. Nos despedimos logo no primeiro andar. Fui para

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meu quarto novamente, sei que isso pode parecer depres-sivo, mas com aquele céu cinza e o frio que cortava até a alma, era difícil encontrar um outro lugar onde eu pudesse me sentir quente.

No último natal ganhei do professor Stean um baú cheio de lápis de cor e tintas, de colorir eu nem mesmo havia retirado os lápis de dentro da embalagem, mas esse era o momento, resolvi utilizá-los.

Ousei a abrir as cortinas e as janelas do meu quarto, a luz entrou delicadamente pelas vidraças, coloquei um papel em cima de minha mesinha de quarto improvisada, peguei meu lápis e comecei a desenhar. Eu não pensei no que iria desenhar, apenas fazia um traço aqui e outro lá, mas no fim, os riscos no papel se transformavam em lindos desenhos, ou talvez não tão lindos assim. Às vezes me sinto velha para desenhar, mas de qualquer forma, o desenho liberta a alma e afasta-me dos maus pensamentos.

Não demorei muito até chegar ao fim do desenho, não consegui decifrar o que eu havia desenhado. Era um grande emaranhado de riscos, sem começo e sem fim. Peço desculpas se você não conseguir entender, mas esse era meu desenho.

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Esse meu primeiro desenho é tão confuso quanto os pensamentos da minha mente.

Não dei muita atenção ao resultado do desenho, fechei a cortina tirei meu tênis e me joguei na cama. Os pensamentos

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me atormentavam e eu queria esquecer. Comecei a chorar, há muito tempo eu não chorava, estava cansada da vida que esta-va levando, sem perspectiva, sem carinho e sem futuro. Nesses casos, o melhor que se tem a fazer é dormir, apesar do relógio que ficava ao lado do abajur em cima da mesinha marcar dez horas da manhã, resolvi fechar meus olhos e tentar a sorte de sonhar que eu vivia uma vida feliz.

O sono era incontrolável, eu não estava sonhando, nem mesmo sei explicar se eu estava dormindo, ouvi alguns baru-lhos em minha porta, não levantei, não me mexi, continuei empenhada em tentar sonhar. Quando se está dormindo o tempo passa de forma desconexa, não sei quanto tempo se passou, mas os barulhos na porta voltaram, alguém estava ba-tendo e murmurando palavras. Odeio ser acordada assim, abri os olhos, ainda estava com a boca aberta e o travesseiro estava molhado de baba, consequências de uma adenoide que se apegou a mim.

– Andrômeda. Venha logo! Ele chegou. – Quem está aí? – Gritei com a voz sonolenta. – Sou eu, Nathan. O professor Stean chegou! Por que

você trancou a porta? – Que porta chegou? – Perguntei ainda recuperando-

me do sono.– Não. Você não está me entendendo? O professor

Stean chegou e trouxe com ele um novo órfão. Venha ver.

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QUATRO:

O menino de cabelos verdes

Levantei-me da cama apressada, o professor Stean havia finalmente chegado. Alguns pensamentos rolavam pela mi-nha cabeça: um novo órfão no orfanato, aquilo realmente não fazia muito sentido pois estávamos com a capacidade lotada e mais uma criança é sempre mais uma criança. Calcei os sapatos rapidamente, caminhei em direção ao banheiro para lavar o rosto e em seguida, saí em disparada ao encontro do professor Stean e do novo órfão no primeiro andar do casarão.

Muitos órfãos estavam ao redor deles, afinal era uma novidade no orfanato. O professor Stean me viu de longe, nem precisei chamá-lo, logo ele veio ao meu encontro e me abraçou ainda nos últimos degraus da escada. Ele murmurou em meu ouvido.

– Estamos com problemas. Precisamos conversar. Roald e Nathan já estão em minha sala, vá para lá também. Seja discreta.

Olhei-o aflita. Os pensamentos se embolavam nova-mente, absolutamente nada estava claro. Segui da maneira mais discreta possível até a sala do Professor Stean.

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Desde a saída de férias do professor eu não havia entrado naquela sala. Aquele era o único cômodo do orfanato que não era em tons de vermelho. Os móveis eram marrons de um lustre incrível. A sala cheirava a produto de lustrar móveis com biscoito de chocolate, isso porque o café e o biscoito eram sempre pre-sentes naquele lugar, presenciei várias ocasiões em que biscoitos com gotas de chocolate e café eram a única alimentação daquele homem. A lareira estava sempre acessa.

Quando cheguei, Nathan e Roald estavam sentados nas poltronas que ficavam perto da grande lareira. Estavam bem aco-modados e sujos de farelo de biscoito.

– Está servida? – Perguntou Nathan levantando um pote de biscoitos em minha direção.

– Vocês não deveriam ficar comendo biscoitos dos outros. Daqui a pouco iremos almoçar.

– Podemos morrer a qualquer momento. Nos deixe ter um pouco de alegria. – Disse Roald.

– O que? – Indaguei assustada.– O professor Stean ainda não disse nada. Pare de assustá

-la. – Comentou Nathan. Antes de dar tempo de perguntar o que estava acontecen-

do, o professor Stean chegou. A cara dele não era a das melhores, seus olhos verdes estavam com o brilho apagado, a barba estava por fazer, sua pele estava mais morena, muito provavelmente por causa do sol das lindas praias brasileiras. Stean era um quarentão, não tinha filhos ou esposa, se dedicava aos estudos e tinha uma grande coleção de camisas xadrez, mas muito maior que sua co-leção de camisa xadrez era o seu coração. Seu cabelo era de um loiro escuro. As linhas de expressão marcavam seu rosto isso nos mostrava claramente a preocupação que o dominava.

– Vocês estão bem? – Sim. O que está acontecendo? Eu tive um pressenti-

mento ruim. – Respondi.– Quem é aquele menino lá fora? – Indagou Roald.

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– Vejo que já se serviram com biscoitos, aceitam um café? A história é longa. – Disse Stean em um sussurro.

– Por favor. – Concordamos.O café foi servido, os biscoitos estavam frescos e ain-

da conseguia sentir o chocolate derreter em minha boca. Eu que havia pedido para que Roald e Nathan não co-mecem antes do almoço, agora me fartava daquela mistura maravilhosa. Por um instante, senti a beleza da vida como se ela fosse perfeita, toda essa emoção chegava ao fim junto com o último pedaço de biscoito, mas nada me impedia de começar a comer outro.

– As notícias não são boas. Eu estava de férias, passei pelo Brasil e foi ótimo conhecer aquela terra, mas quando fui para Londres as coisas saíram de controle e fiz uma série de descobertas que me deixou assustado. Primeiramente eu encontrei o Lime Green, é aquele garotinho que está lá fora, foi ele que me contou sobre os maus acontecimentos.

A maçaneta da porta girou e quando a porta abriu eu vi pela primeira vez o novo órfão. Seus cabelos eram verdes e grandes, seus olhos eram ainda maiores e pareciam reluzir todo o universo lá dentro. Ele era do mesmo tama-nho de Roald. Lime Green era um típico inglês, era visível isso somente de olhar. Vestia calça jeans e um tênis preto e branco, estava com uma camiseta azul e um moletom pre-to, seu nariz era um pouco avantajado e há muito tempo ele não retirava o excesso de pelos da sobrancelha.

– Este é Robin, eu o encontrei em Londres, mas vo-cês podem chamá-lo de Lime Green. – Comentou Stean se dirigindo à porta e trazendo Lime Green para junto de nós nas poltronas.

– Olá Robin. Opa, desculpe hmmm... Lime Green. Eu sou Andrômeda.

– Obrigado. Meu norueguês é falho, desculpe. – Foi a primeira coisa que Lime Green nos disse.

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– Você pode retirar a batata da boca para falar conos-co. – Disse Roald com um risinho.

– Lime Green é britânico, o sotaque é um pouco carre-gado, mas ele vai ficar muito bem com a gente. – Falou Stean.

– Café ou Chá preto? – Indagou Nathan.– Eu sou um cara de café. – Comentou Lime Green.– Temos café aqui. Vou lhe servir uma xícara. Mas pre-

ciso que nos conte o que está acontecendo. Eu estou preo-cupada. – Falei.

– Obrigado pelo café. Bem, vocês sempre acreditaram que eram os únicos representantes das constelações em todo o Planeta Terra, mas Februs sabia que vocês não eram os úni-cos. Eu não tenho cabelo verde porque faço coloração com anilina, eu venho de um Planeta distante chamado Nimeyer, minha casa é muito além do Sistema Solar. Eu era um bebê quando me perdi no espaço, flutuei por dias até cair no Planeta Terra, fui criado por um casal de idosos em Londres, eles me acolheram, me criaram e estiveram comigo até ano passado, quando eles se foram. Me recordo muito vagamente de meu planeta de origem. Februs me procurou há alguns meses, me prometeu recompensa para ajudar a derrotar vocês.

– Nos derrotar? Como você faria isso? – Perguntou Nathan.

– Nathan você tem o poder da sabedoria, consegue guardar em sua mente quantas informações desejar. O Roald consegue ter o poder de um vulcão quando quer, consegue explodir todos os vulcões do mundo. A Andrômeda tem como melhor amiga a sorte, isso tudo além de ter previsões e usar o arco e flecha como ninguém. O Lime Green conse-gue destruir planetas apenas com a força do pensamento, aos poucos tudo ao seu redor vai ficando verde e sem vida. Ele é poderoso, por isso Februs o queria. – Explicou Stean.

– Ah, maravilha! – Comentei ironicamente. – Você é um cara poderoso! – Disse Nathan.

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– Obrigado. Stean me contou sobre vocês e sobre o que passaram.

– Foi uma vitória e tanto! – Vangloriou Roald.– Vitória? Como assim? Februs está vivo! – Disse Lime

Green.Não consegui administrar as informações, tudo a mi-

nha volta começou a rodar. Os biscoitos que até pouco tempo faziam meu estômago feliz agora queriam voltar pela gargan-ta. Februs está vivo! Februs está vivo! Februs está vivo! Essa frase não saía da minha memória. Não aguentei, o coração batia rápido, fechei meus olhos e senti meu corpo cair no chão.

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CINCO:

Isa

Que tombo! Minhas pernas ficaram com manchas ver-des enormes, um verde meio roxo e meio vermelho. Acordei na enfermaria do orfanato, nunca havia estado lá. Eu estava em uma maca branca, os armários eram brancos e o lugar era pequeno o suficiente para dar medo a qualquer claustrofóbi-co. Antes de tudo isso começar, ainda quando eu era criança, lembro-me de ter uma amiguinha chamada Isa. Ela tinha des-cendência japonesa e seus olhos eram fechadinhos, tinha um cabelo preto brilhoso e longo. Isa iria gostar daquele lugar, não por ser uma enfermaria, mas sim por causa das paredes da enfermaria que eram brancas, uma branquidão sem fim.

Ainda quando meus pais eram vivos, em um sábado ensolarado ela me convidou para conhecer sua casa. Não me recordo bem da casa em si, mas me lembro do quarto dela, e ele era todo branco: as paredes, o teto, a porta. Quando per-guntei a ela por que tudo era branco, Isa me respondeu que no branco ela poderia ver todas as cores, poderia imaginar todos os cenários que quisesse e todos os amigos que pudesse. Eu nunca me esqueci de Isa e sua grande imaginação. Desde a morte de meus pais eu não a vejo, mas até hoje, quando

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observo paredes brancas, eu me lembro dela. Naquele mo-mento, eu queria ver cores nas paredes, mas eu não sou a Isa. Suspirei fundo. Não havia ninguém por perto quando acordei. Fiquei olhando para as paredes durante um tempo, a minha cabeça doía muito.