AS AVENTURAS DE JOÃO SEM

MEDO

Maria Inês

As personagens, sua caracterização física e

psicológica

2 3

1- João Sem Medo

- rapaz chamado João - o único que talvez por capricho de contradizer o ambiente e instinto de refilar resistir à choradeira pegada - em virtude duma contínua ostentação bravata alegre e teimosia na luta todos conheciam por João Sem Medo - esgueirou-se… e dirigiu-se à socapa - explorou com lentidão prudente o solo da floresta - resolveu acordar-se com dois ou três gritos

- aos pontapés às pedras e aos arbustos para não adormecer - verificou com um sorriso de compreensão irónica - pôs-se aos gritos de troça - não evitou um incondescendente riso de chacota - preferiu tudo a viver sem cabeça - orgulhoso de sentir a cabeça nos ombros - enveredou decidido - gritou desafiante - continuou a subir o caminho árduo resoluto na sua pertinácia de ocultar o medo - não perdeu o bom humor corajoso - comentou com desdém, a engolir os gemidos - suportou aquele inferno, com muita firmeza - resolveu mudar de táctica - corajosamente, bravamente, principiou a cantar

4 5

- fiel ao seu sistema de persistência enérgica não renunciou ao combate - repeliu a coruja, fez das tripas coração e desatou a cantar à sobreposse - acercou-se sorrateiramente, em bicos de pés - disse que para ele a felicidade consistia em resistir com teimosia a todas as infelicidades - estava metamorfoseado em árvore - os cabelos… com aparência de folhas, tinham crescido de forma desmesurada - os braços, as pernas, os olhos, a boca, o nariz, a testa, apareceram cobertos de drogas (os homens chamavam-lhes flores) - ficou careca - lábios de cortiça

- ficou reduzido a uma enorme montanha de cavacos - foi consumido pelas labaredas e o fumo que se desprendia da lenha era o seu verdadeiro corpo - empurrou com curiosidade a lenha - tentou esconder o medo exagerando o espanto - com polidez enérgica começou logo a magicar maneira de fugir - resignado a correr mais aquela aventura vexado da sua ignorância em geografia - não resistiu à indicação de espreitar - envolveu a cidade num derradeiro olhar curioso - enfureceu-se, a defender com egoísmo o resto do corpo - gracejou

6 7IL 2009

- transformou-se em fonte - encontrava-se partido aos bocados - retornou à forma primitiva - caiu na arara com a cabeça a malucar ambições e anseios mirabolantes - saboreou a alegria de viver em liberdade - esperou por um pretexto que tornasse normal a curiosidade - com a cabeça chocalhante de confusões examinou com minúcia o seu interlocutor - aceitou atarantado - riu de bom humor - resignou-se - esforçava-se por se manter imune ao contágio, repugnando-lhe aderir à lógica absurda de certos hábitos e cerimónias .

2. Chora que logo bebem-se

- infelizes chorincas que se lastimavam de manhã à noite - mal tinham força para arrastar os bolos negros das sombras - preferiam choramingar agachados em casebres sombrios - andavam de monco caído, sempre constipados - ouviam com delícia canções de cemitério

8 9IL 2009

2.1. Mãe de Soão Sem medo

- Caiméjove no seu canto de viúva - a pobre desatou aos berros de súbito - durante horas não cessou de barregar, histérica

3. Pseudofada / fada falsificada / fada fingida- jovem - bela - ser prodigioso que de longe parecia - roca na mão esquerda mulher - túnica bordada de rubis e esmeraldas - chapéus de plástico

4. Monstro sem cabeça / guarda do caminho da Felicidade - figura monstruosa - sem cabeça / descabeçado - dois olhos redondos no peito - boca de lábios grossos e carnudos talhada no estômago - voz desentoada de ventríloco - traja nos pés e nas mãos correntes de ouro - com paciência burocrática - acrescentou um comentário imbecil