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7 AS BULAS E TRATADOS DOS SÉCULOS XV, XVI E XVIII NA HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA 1 RAFAEL DE ALMEIDA LEME PONTIN 2 “[...] o Brasil ainda não havia nascido e já tinha fronteiras [...].” (ARANHA, 1939 apud CHAVES, 1943, p. 26). Sumário: 1. Introdução. 2. As Bulas e o Tratado de Tordesilhas sob o con- texto dos séculos XV e XVI. 2.1. Bulas. 2.2. Tratado de Tordesilhas. 3. Fun- damentos jurídicos da posse pelos portugueses do território brasileiro. 4. Considerações Finais. 5. Referências Bibliográficas. Resumo: Compreender os primeiros fundamentos da formação dos limites territoriais do Brasil, dentro do contexto dos séculos XV e XVI, sob o ponto de vista histórico-jurídico, é em síntese o objetivo do artigo. Através de documentação relativa ao tema, analisa o papel dos Papas na expedição das bulas nos desco- brimentos e sua relação com Portugal e Espanha, os quais pelo Tratado de Tordesilhas estabeleceram os limites de suas con- quistas, marcando o início de um longo processo, no qual se consolidou os atuais limites territoriais brasileiros. Palavras-chave: História do Direito, Bulas, Tratados de Limites, Di- reito Internacional Público. Abstract: To understand the first principles of the formation of boun- daries in Brazil, within the context of the XV and XVI centuries, from the historical point of view and legal, is in summary the purpose of the article. Through documentation on the subject, 1 Artigo produzido a partir da Monografia de Conclusão de Curso de Direito, apresentada à Universidade Metodista de Piracicaba, campus Taquaral, sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Luís Mialhe. 2 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). E-mail: [email protected] CadernoUnisal4.indb 175 16/5/2012 17:42:40

As Bulas e Tratados Dos Séc XV, XVI e XVIII - Direito Brasileiro, América Portuguesa

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Um trabalho sobre o Direito Internacional nos séculos XV, XVI, XVII.

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  • 7AS BULAS E TRATADOS DOS SCULOS XV, XVI

    E XVIII NA HISTRIA DO DIREITO BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMRICA PORTUGUESA1

    RAFAEL DE ALMEIDA LEME PONTIN2

    [...] o Brasil ainda no havia nascido e j tinha fronteiras

    [...].

    (ARANHA, 1939 apud CHAVES, 1943, p. 26).

    Sumrio: 1. Introduo. 2. As Bulas e o Tratado de Tordesilhas sob o con-

    texto dos sculos XV e XVI. 2.1. Bulas. 2.2. Tratado de Tordesilhas. 3. Fun-

    damentos jurdicos da posse pelos portugueses do territrio brasileiro. 4.

    Consideraes Finais. 5. Referncias Bibliogrficas.

    Resumo: Compreender os primeiros fundamentos da formao dos limites territoriais do Brasil, dentro do contexto dos sculos XV e XVI, sob o ponto de vista histrico-jurdico, em sntese o objetivo do artigo. Atravs de documentao relativa ao tema, analisa o papel dos Papas na expedio das bulas nos desco-brimentos e sua relao com Portugal e Espanha, os quais pelo Tratado de Tordesilhas estabeleceram os limites de suas con-quistas, marcando o incio de um longo processo, no qual se consolidou os atuais limites territoriais brasileiros.

    Palavras-chave: Histria do Direito, Bulas, Tratados de Limites, Di-reito Internacional Pblico.

    Abstract: To understand the first principles of the formation of boun-daries in Brazil, within the context of the XV and XVI centuries, from the historical point of view and legal, is in summary the purpose of the article. Through documentation on the subject,

    1 Artigo produzido a partir da Monografia de Concluso de Curso de Direito, apresentada Universidade Metodista de Piracicaba, campus Taquaral, sob a orientao do Prof. Dr. Jorge Lus Mialhe.

    2 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). E-mail: [email protected]

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    examines the role of the Popes in the expedition of discovery of the bulls and their relationship with Portugal and Spain, the Tordesilhas Treaty which established the limits of their achie-vements, marking the beginning of a long process, in which consolidated the current brazilian territorial limits.

    Keywords: History of Law, Bulls, Treaties of Limits, International Public Law.

    1. INTRODUO

    Os sculos XV e XVI foram certamente marcados pela con-quista e explorao de antigas e novas rotas martimo-comer-ciais por pases Europeus, as quais implicaram em profundas transformaes econmicas.

    Essa expanso martima e consequente explorao econ-mica de antigos e novos mercados no Oriente e Ocidente, pro-vocaram a expedio de bulas pelos Papas e a celebrao de tratados entre Portugal e Espanha, com a finalidade de regular esse novo cenrio intra e extraeuropeu.

    Iniciada pelos portugueses em seus feitos no norte da fri-ca e ampliada pelos espanhis com a descoberta da Amrica, representaram uma nova etapa do processo civilizatrio, de-nominada de revoluo mercantilista.

    Esses fatos geraram inmeras consequncias, no que uma em especial chama a ateno: a aquisio do territrio brasilei-ro por Portugal.

    Territrio que no viria a pertencer aos portugueses sem que houvesse tenses com a Espanha, provocando quase uma guerra entre as naes ibricas, j que em disputa estava o direito de propriedade e explorao econmica das terras ul-tramarinas.

    A soluo para a superao dessas disputas se deu com a celebrao do Tratado de Tordesilhas, o qual representou o primeiro documento e fundamento que reconhecia a posse de parte do atual territrio brasileiro aos portugueses.

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    Por outro lado, tem-se que os conflitos europeus tiveram grandes implicaes para a histria colonial j no sculo XVI, porque normalmente se refletiram na ocupao territorial e na delimitao de fronteiras. (WEHLING; WEHLING, 1994, p. 57, negritos nossos).

    Dentro dessa perspectiva, busca o presente artigo anali-sar as bulas e tratados, ou seja, os primeiros fundamentos da primeira fase histrica da formao dos limites territoriais bra-sileiros, compreendida pelos sculos XV-XVIII3, no qual Portu-gal durante esse perodo dirimia as questes de limites com a Frana, e principalmente Espanha.

    Importante compreend-la, pois influenciou a segunda fase histrica, mais recente, abrangida pelos sculos XIX e XX, iniciada pela independncia do Brasil e da necessidade de se estabelecer juridicamente os limites da soberania adquirida, no qual para tanto, se recorreu em regra, ao princpio do uti possidetis.

    2. AS BULAS E O TRATADO DE TORDESILHAS SOB O CONTEXTO DOS SCULOS XV E XVI

    Longe ainda estava o Direito Internacional do final do sculo XV e incio do XVI do que viria a ser contemporanea-mente, porm, assistiu nesse perodo algumas transformaes que dariam as bases para o surgimento do direito internacio-nal moderno.

    Transformaes essas que se iniciaram com a revoluo tecnolgica martima.

    Tal foi a Revoluo Mercantil, fundada numa nova tecnologia da navegao ocenica, baseada no aperfeioamento dos ins-

    3 Durante esses sculos, Portugal celebrou os seguintes tratados de limites ou relativos a limites: Tratado de Alcovas, de 4 de setembro de 1479; Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494; Tratado de Lisboa, de 7 de maio de 1681; Tratado de Utrecht, de 11 de abril de 1713; Tratado de Utrecht, de 6 de fevereiro de 1715; Tratado de Madri, 13 de janeiro de 1750; Tratado de El Pardo, de 12 de fevereiro de 1761; Tratado de Santo Ildefonso, de 1 de outubro de 1777.

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    trumentos de orientao (bssola magntica montada em ba-lancins, o quadrante, a balestilha, o astrolbio, cartas celestes e portolanos, cronmetros e outros) e de navegao (as naus e caravelas, a vela latina, o leme fixo, as carretilhas e os barcos de guerra. (RIBEIRO, 1998, p. 165).

    Proporcionou ela a explorao de antigos mercados no Oriente e novos mercados com o descobrimento da Amrica, no Ocidente, que fez com que se modificasse significativamen-te o cenrio econmico Europeu e junto dele, trouxe em seu bojo, consequncias no mbito cientfico, poltico e religioso, como a Reforma Protestante, por exemplo.

    Esses fatos foram mudando substancialmente as condi-es de criao e circulao da riqueza, os modelos de ordena-o poltica e as regras de convivncia entre as diferentes uni-dades soberanas, com o surgimento dos estados modernos. (CASELLA; SILVA; ACCIOLY, 2011, p. 69).

    A autoridade do Papa comeava a se enfraquecer diante da autoridade dos reis ou prncipes, que aos poucos iam se fortalecendo.

    Alis, assistia a fase em comento, a concepo de um di-reito internacional, como forma de reger a convivncia entre as unidades polticas, no mais havendo [...] o reconhecimen-to da primazia de figura papal, que pudesse atuar como rbi-tro supremo nas controvrsias entre os soberanos. (CASELLA; SILVA; ACCIOLY, 2011, p. 70-71).

    2.1 Bulas

    Durante os sculos XV e XVI, o poder no se restringia aos reis, figurando como sujeito no mbito internacional, o Papa.

    poca em que o Sumo Pontfice exercia atravs do seu po-der temporal e espiritual significativa influncia e interferncia nos conflitos ocorridos entre os Estados, quadro que comea-ria a ser modificado somente no sculo XVII, pelo Tratado de Paz de Westflia (1648), em que os Estados nacionais, ainda em formao, comeavam a sentir-se emancipados, tanto da

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    tutela eclesistica catlica, quanto do Sacro Imprio Romano--Germnico. (AGUADO, 2008, p. 319).

    No caberia aqui uma discusso sobre as teses desse po-der e nem sua extenso, certo que esse se fazia presente nas relaes entre os reinos da Europa, porm, de maneira muito mais intensa da que se tem atualmente.

    Atravs de bulas, os Papas impulsionavam a expanso das conquistas portuguesas na frica desde seu incio. Nesse sen-tido, logo que os portugueses conquistaram Ceuta em 1415, o Papa Martn V expediu a bula Rex regum de 4 de abril de 1418, entre outras que se seguiram. (CASTAEDA DELGADO, 1968, p. 285).

    Sob o estmulo de interesses econmicos e religiosos, ali-s, muito mais econmicos do que religiosos, concretizava-se a expanso martima de portugueses e espanhis pelos mares da frica, sia e Amrica.

    Interesses no s divididos entre os pases ibricos catli-cos, como compartilhado com a Santa S, que ao mesmo tem-po em que Portugal e Espanha avanavam em suas conquistas, expandia junto dela sua jurisdio fora da Europa, com a con-verso dos povos no cristos atravs de sua aculturao.

    Desta forma, representou interveno papal a primeira base ou fundamento da explorao, ocupao e colonizao de terras ultramarinas por pases da Europa, de maneira a legi-tim-la sob o ponto de vista religioso.

    Refora esse entendimento RIBEIRO (1992, p. 17), o qual para ele as bulas representaram o fundamento primeiro, de todos os direitos de propriedade e de todo o processo de avas-salamento das massas trabalhadoras da Amrica.

    Ademais, nos ltimos sculos da Idade Mdia e at o fim do sculo XV, as aquisies de novos territrios, merc da preponderncia exercida no mundo pelo Papado, dependiam quase exclusivamente de bulas pontifcias [...]. (CASELLA; SILVA; ACCIOLY, 2011, p. 563).

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    Portanto, ainda nesse perodo marcante a influncia do Papa como autoridade eclesistica, usando de seu poder, que se manifestava ou se exteriorizava, atravs dessas bulas que fazia expedir.

    Bula, palavra cujo conceito se faz necessrio elucidar.

    A palavra bula significa, etimologicamente, medalha ou selo. Como, porm, desde a antiguidade, fora empregada para designar o selo de chumbo ou de ouro, que normalmente pendia das escrituras solenes imperiais ou pontificiais, o seu mbito de significado passou a compreender tambm os pr-prios documentos selados.

    Por volta dos fins da Idade Mdia, as chancelarias imperiais cessaram de servir-se das bulas, que, contudo, permaneceram em largo uso na cria pontifcia, inclusive at nossos dias, principalmente para dar forma s lege pontificiae e a outros atos administrativos com valor de constitutiones. (FRANA, 1977, p. 267-268).

    Logo, bula o documento expedido pelo Sumo Pontfice, representante mximo da Igreja Catlica, por meio do qual se manifesta sobre assuntos de Justia ou de Graa, como por exemplo, a concesso de perdo ou privilgio a determinada(s) pessoa(s), ou at a imposio de punio de excomunho. (SIL-VA, D., 2009, p. 231).

    No que tange ao aspecto formal, as bulas possuem as se-guintes caractersticas, elencadas no trabalho de DIEGO FERNN-DEZ (1990, p. 91-95):

    1) Cabealho: contendo o nome do Papa outorgante e do(s) destinatrio(s);

    2) Exposio de motivos: breve histrico, apontando os fatos que levaram a expedio da bula;

    3) Motu proprio: no se manifestava mendiante provocao da parte interessada, mas to somente o Papa agia por sua ini-ciativa prpria;

    4) Validao de traslados: validade do documento pontifcio em outros lugares em que for apresentado;

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    5) Clusula penal: sano papal contra aqueles que forem con-tra ao exposto no documento pontifcio ou que intentarem contra o contedo dele;

    6) Data: dia, ms e ano em que foi escrita e tambm o ano de pontificado do Papa que a expedia.

    No que diz respeito s bulas expedidas pelo Papa Alexan-dre VI durante o ano de 1493, estas j foram objeto de inme-ros estudos e interpretaes, aqui, porm, caber apenas um breve relato dentro da perspectiva em anlise.

    O estudo das bulas alexandrinas envolve, na maioria dos autores consultados (GIMENEZ FERNANDEZ, 1944; CASTAEDA DELGA-DO, 1968; DIEGO FERNNDEZ, 1990; SILVA, DINAIR, 2000), cinco docu-mentos: Inter coetera, datada e expedida em 3 de maio; Piis fidelium, datada e expedida em 25 de junho; Inter coetera, datada de 4 de maio e expedida em 28 de junho; Eximiae de-votionis, datada de 3 de maio e expedida em 2 de julho; Du-dum siquidem, datada e expedida em 25 de setembro; todas de 1493.

    Para melhor compreenso, veja-se o quadro abaixo:

    Quadro 1 Bulas alexandrinas de 1493

    Bula Datao Expedio Caractersticas Destinatrio(s)

    Inter coetera 3 de maio 3 de maio Doao Fernando e Isabel

    !!"#$%&'!() 25 de junho 25 de junho

    Espiritual Bernardo Boil

    Inter coetera 4 de maio 28 de junho

    Doao e Partio Fernando e Isabel

    *+!)!,%&-./!.0!" 3 de maio 2 de julho Concesso de Privilgios

    Fernando e Isabel

    1(%()#"!2(!%&) 25 de setembro

    25 de setembro

    Ampliao de Domnio Fernando e Isabel

    !"#$%&'()*+,+-'.+/,0,1+-2'34552'607809+10'1+:(01;2'34

    Sob o aspecto de contedo, segundo CASTAEDA DELGADO (1968, p. 322):

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    Inter coetera de 3 de maio, que hace donacin a los Reyes Catlicos de las islas y tierras descubiertas y que se des-

    cubrieran, navegando hacia occidente hacia las Indias, con

    tal de que no pertenecieran a otros prncipes cristianos, con

    los derechos y privilegios concedidos ya a los portugueses.

    Piis fidelium, otorga a fray Bernardo Boyl, y a los otros religiosos que pasaron entonces al Nuevo Mundo, facultades

    espirituales de carcter extraordinario.

    Inter coetera de 4 de maio, que reproduce a la letra, con leves variantes, la primera parte de la Inter Cetera primera, y

    establece una lnea de demarcacin a cien leguas, direccin

    norte-sur, al oeste de las Azores y Cabo Verde.

    Eximiae devotionis, en la que extracta la primera par-te de la anterior, y reproduce, casi literalmente, la segunda

    parte de la misma, con los mismos derechos y privilegios que

    tenan los reyes de Portugal.

    Dudum siquidem, concede a los reyes de Castilla (pues la segunda Inter Cetera dejaba imprecisa la demarcacin en

    las partes de la India) las tierras que se descubrieran al este,

    al sur, y al oeste de la India, con tal de que no estuviesen ocu-

    padas de hecho por otro prncipe cristiano.

    Citadas bulas, independentemente das divergncias exis-tentes acerca de suas expedies e finalidades, possuam o ca-rter de doao das terras descobertas, presente em todas elas. (SILVA, DINAIR, 2000, p. 6-11).

    Os reis Fernando e Isabel so citados em todas as bulas, o que indica serem os principais destinatrios e beneficirios do Papa Alexandre VI, que atravs dessas, concedia ou doava alm de terras, os mares, estabelecendo tambm limites a essa, a qual era sempre gravada com nus de evangelizao e propa-gao da f catlica.

    No obstante, o poder do Papa se restringia doao, sen-do que no era possuidor do que doava, mas outorgava a um

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    soberano cristo a posse, de forma a reconhecer um direito, do que criar um que j existia por natureza.

    A concesso ou doao, com nus de evangelizar, portan-to, no cria e no extingue direito, mas to somente o reco-nhece, de cunho meramente declaratrio.

    Nesse sentido, o rei da Frana, Francisco I, descontente com as concesses pontifcias, afirmou desconhecer a clusu-la do testamento de Ado que reservava o mundo unicamente a portugueses e espanhis. (PRADO JNIOR, 1956, p. 26).

    Fato inegvel que a posse de Portugal e Espanha de ter-ritrios se efetivava quando exerciam efetivamente esse direi-to, explorando, ocupando e por fim colonizando, ao mesmo tempo em que excluam, no s outros pases da Europa, mas principalmente os gentios da posse natural que exerciam so-bre as terras que ocupavam.

    Portanto, no bastava por si s o ttulo, a bula, que confe-ria um privilgio ou direito sobre a coisa.

    Outro ponto relevante, que o Papa Alexandre VI na bula Inter Coetera, faz doaes no apenas de terras, mas tambm dos mares. Balboa tomou posse do Oceano Pacfico para o rei de Espanha. (MELLO, 2004, p. 1245).

    Trata-se do princpio jurdico do mare clausum, pelo qual a prioridade da descoberta dos mares determinava sua posse, com a excluso das demais naes crists, ou seja, o mar era restrito navegao de portugueses e espanhis, con-forme estabelecido na bula Inter coetera de 4 de maio de 1493 e no Tratado de Tordesilhas de 7 de junho de 1494, provocan-do ataques de ingleses, holandeses e franceses, que ao contr-rio, defendiam o princpio do mare liberum. (WEHLING; WEHLING, 1994, p. 39).

    A Santa S claro, no deixou por isso de expedir suas bu-las, porm, cumpre ressaltar que essas concesses ou doaes representaram um instrumento hbil a reconhecer direitos,

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    mas que foi perdendo importncia conforme o fortalecimento dos prncipes ou reis e perda significativa do poder do Papa. Portanto, fora desse perodo ou contexto, perde-se o seu sen-tido, s o havendo para aquele momento histrico especfico.

    Ainda, no incio do sculo XVIII, antes mesmo das bulas alexandrinas serem declaradas nulas e de nenhum efeito pelo Tratado de Madri, duas bulas chamam a ateno.

    Em 1720 a bulla copiosus in misericordia creava o bispado do Par subordinado ao patriarchado lisbonense sendo a respectiva direco conferida a D. Frei Bartholomeu do Pilar, e vinte e poucos annos depois eram fundadas ao sul do Brazil pela bulla candor lucis eternae mais quatro dioceses: os bis-pados de So Paulo e de Minas e as prelasias de Goyaz e do Cuyab. (MARTINS JUNIOR, 1941, p. 198).

    Note que a criao dessas prelazias de Gois e Cuiab, subordinadas administrativamente a Portugal, a Santa S esta-ria reconhecendo indiretamente neste ato, ao cri-las, como sendo parte das possesses portuguesas, regies que pelo Tra-tado de Tordesilhas pertenciam de direito Espanha.

    Assim, atravs dessas bulas, pode-se chegar a duas conclu-ses: 1) reconhecia o Papa regies as prelazias de Gois e Cuiab que extrapolavam os limites de Portugal na Amrica, denotando a em pleno sculo XVIII sua influncia indireta sobre as questes de limites entre Portugal e Espanha; 2) a impossibilidade de se manter como base desses limites o que foi acordado em Tordesilhas (1494), at podendo ser utilizado como fundamento contra a tese que a defendeu.

    Por final, as concesses feitas pelo Papa Alexandre VI, atra-vs de suas bulas, como citado h pouco, foram declaradas pelo Tratado de Madri, assinado entre Portugal e Espanha, em 13 de janeiro de 1750, nulas. o que prev o seu artigo I: fica-r abolido qualquer direito e ao que possam alegar as duas Coroas, com base na bula do Papa Alexandre VI. (SEITENFUS, 2009, p. 1377).

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    Resta, portanto, nulo o que foi concedido em favor de Fernando e Isabel de Espanha pelas bulas alexandrinas, em especial a bula Inter coetera datada de 4 de maio de 1493 e expedida em 28 de junho de 1493, conhecida como bula da partio, por ter estabelecido uma linha de cem lguas, divi-dindo o que era espanhol e portugus no Novo Mundo.

    2.2 Tratado de Tordesilhas

    D. Joo II, Rei de Portugal, no muito contente com as concesses obtidas por D. Fernando e D. Isabel, alcunhados de reis catlicos, junto ao papado, no tardou em procurar uma via que amenizasse o cenrio desfavorvel.

    E a sada no foi morosa, rapidamente iniciou negocia-es diplomticas com a Espanha, as quais culminaram com a elaborao do Tratado de Tordesilhas, denominado tambm de Capitulao da Partio do Mar Oceano, concludo em 7 de junho de 1494, na vila de Tordesilhas, Espanha.

    Segundo RIBEIRO (1992, p. 69), o Tratado de Tordesilhas representava uma inovao na relao entre as naes crists, introduzia novos critrios de autoridade e arbtrio para a con-quista e posse de territrios coloniais.

    Resultado das tenses entre Portugal e Espanha, por inter-mdio desse tratado internacional, significou o ato inaugural da diplomacia moderna, pois foi o primeiro acordo entre Esta-dos sem a interferncia papal. (WEHLING; WEHLING, 1994, p. 39).

    notvel que as partes em vez de procurarem por meio da guerra ou outra sada mais agressiva e mais gravosa, resol-veram a contenda atravs de um tratado, utilizando da diplo-macia, evitando maiores consequncias polticas.

    Assim, pelo Tratado de Tordesillas, por el cual, de comn acuerdo, se recorria la linea imaginaria a 370 leguas al Occi-

    dente de las islas de Cabo Verde, quedando as el actual ter-

    ritorio de Brasil bajo jurisdiccin lusitana. (DIEGO FERNNDEZ, 1990, p. 88).

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    Expressamente o tratado prev a limitao das 370 lguas:

    E logo os ditos procuradores dos ditos senhores Rei e Rainha de Castela, de Leo, de Arago, de Siclia, de Granada, etc., e do dito Senhor Rei de Portugal e dos Algarves, etc., disseram: que visto como entre os ditos senhores seus constituintes h certa divergncia sobre o que a cada uma das ditas partes per-tence do que at hoje, dia da concluso deste tratado est por descobrir no mar Oceano; que eles portanto para o bem da paz e da concrdia e pela conservao da afinidade e amor que o dito senhor Rei de Portugal tem pelos ditos senhores Rei e Rainha de Castela, de Arago, etc., praz as Suas Altezas, e os seus ditos procuradores em seu nome, e em virtude dos di-tos seus poderes, outorgaram e consentiram que se trace e as-sinale pelo dito mar Oceano uma raia ou linha direita de polo a polo; convm a saber, do polo rtico ao polo antrtico, que de norte a sul, a qual raia ou linha e sinal se tenha de dar e d direita, como dito , a trezentas e setenta lguas das ilhas de Cabo Verde em direo parte do poente, por graus ou por outra maneira, que melhor e mais rapidamente se possa efetuar contanto que no seja dado mais. E que tudo o que at aqui tenha achado e descoberto, e daqui em diante se achar e descobrir pelo dito senhor Rei de Portugal e por seus navios, tanto ilhas como terra firme desde a dita raia e linha dada na forma supracitada indo pela dita parte do levante dentro da dita raia para a parte do levante ou do norte ou do sul dele, contanto que no seja atravessando a dita raia, que tudo seja, e fique e pertena ao dito senhor Rei de Portugal e aos seus sucessores, para sempre. E que todo o mais, assim ilhas como terra firme, conhecidas e por conhecer, descobertas e por des-cobrir, que esto ou forem encontrados pelos ditos senhores Rei e Rainha de Castela, de Arago, etc., e por seus navios, desde a dita raia dada na forma supraindicada indo pela dita parte de poente, depois de passada a dita raia em direo ao poente ou ao Norte Sul dela, que tudo seja e fique, e pertena aos ditos senhores Rei e Rainha de Castela, de Leo, etc., e aos seus sucessores para sempre. (RIBEIRO; MOREIRA NETO, 1992, p. 71, negrito nosso).

    Porm, no foi demarcada, mesmo contendo no tratado a previso de como procederia. de se notar, que:

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    As capitanias hereditrias, lembra Clvis Bevilqua, dividiram o Brasil atendendo raia de Tordesilhas; mas deixaram inde-terminados os limites do norte e do oeste, em parte, porque o pas no estava suficientemente explorado para o levanta-mento da linha geodsica norte-sul, e em parte porque essa indeterminao convinha poltica dos povos interessados. (bevilqua, 1915, p. 26 apud soares, 1939, p. 101).

    O prembulo do Tratado de Madri faz implicitamente meno linha de Tordesilhas e os motivos de no mais servir de fundamento ao que de direito de Portugal e Espanha.

    Os Serenssimos Reis de Portugal, e Espanha, desejando efi-cazmente consolidar e estreitar a sincera e cordial amizade, que entre si professam, consideraram, que o meio mais con-ducente para conseguir to saudvel intento, tirar todos os pretextos, e alhanar os embaraos, que possam ao diante alte-r-la, e particularmente os que se podem oferecer com o mo-tivo dos Limites das duas Coroas na Amrica, cujas Conquistas se tem adiantado com incerteza e dvida, por se no haverem averiguado at agora os verdadeiros Limites daqueles Dom-nios, ou a paragem donde se h de imaginar a Linha divis-ria, que havia de ser o princpio inaltervel da demarcao de cada Coroa. E considerando as dificuldades invencveis, que se ofereceriam se houvesse de assinalar-se esta Linha com o conhecimento prtico, que se requer [...]. (FERREIRA, 1956, p. 413-414).

    Indefinio, indeterminado, talvez este seja o ponto chave para o entendimento do Tratado de Tordesilhas, pois abrange um tempo em que as certezas eram bem menores, dentro dos limites da tecnologia da poca.

    Assim, as linhas limtrofes estipuladas nada mais eram que fices jurdicas, mas que cumpriam o papel de, querendo ou no, delimitar imprecisamente os limites das descobertas, de um lado as de Portugal e do outro da Espanha.

    E nessa impreciso que se fundamentaram as bases, no qual se apoiaram, por mais de dois sculos os limites territo-riais brasileiros pertencentes a Portugal na Amrica.

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    Contudo, no bastava ser assinado, era necessrio que o tratado fosse validado por ambas as partes e pelo Papa.

    Sob o aspecto da validade jurdica, ao celebrarem o trata-do, Portugal e Espanha, se obrigaram a cumpri-lo, eis que livre e conscientemente definiram os direitos a que cada um caberia pelos territrios descobertos.

    Tanto que foi ratificado pela Espanha em Arvalo em 2 de agosto e por Portugal em Setbal em 5 de setembro de 1494. (VIANNA, 1958, p. 19).

    Mas, no somente isso bastava para que produzisse natu-ralmente sua validade, eis que era necessrio, em complemen-to, conforme as regras do direito internacional entre os rei-nos cristos, nessa poca, [...] a confirmao da Santa S, para que o Tratado tivesse plena validade entre as demais naes da Europa. (CORTESO, 1990, p. 559).

    Essa confirmao, sano ou ratificao no caso se mani-festava atravs da expedio de uma bula, no qual o Papa reco-nhecia, confirmando e aprovando, o que fora convencionado entre os reis cristos.

    No caso do Tratado de Tordesilhas, esta se deu com a ex-pedio da bula Ea quae pelo Papa Jlio II em 1506, em que confirmava e aprovava a capitulao firmada entre Portugal e Espanha no ano de 1494.

    No que tange a vigncia, o Tratado de Tordesilhas celebra-do em 7 de junho de 1494 durou at 13 de janeiro de 1750, quando foi expressamente revogado pelo Tratado de Madri que naquela data era assinado entre Portugal e Espanha, e pos-teriormente pelo Tratado de Santo Ildefonso assinado em 1 de outubro de 1777.

    Assinado entre o Rei de Portugal, Dom Joo V e o Rei da Espanha, Dom Fernando VI, no dia 13 de janeiro de 1750, e ratificado em Lisboa por Dom Joo V em 26 de janeiro de 1750 e em Madri por Dom Fernando VI em 8 de fevereiro de 1750

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    (FERREIRA, 1956, p. 413), o Tratado de Madri revogou o Tratado de Tordesilhas em seu artigo I, que possui a seguinte redao:

    Art. I. O presente tratado ser o nico fundamento e regra que doravante ser seguido para diviso e estabelecimento dos limites dos domnios !"#$%&"&"'!()*+&" "&",-*&." " !"-/&"0*)#/% 1"2+&)3"&4$5*%$"6/&56/ )"direito e ao que possam alegar as duas Coroas, com base na bula do Papa Alexandre VI, de feliz memria, e dos tratados de Tord-esilhas, de Lisboa e Utrecht, da escritura de venda outorgada em Saragoa, e de outros quaisquer tratados, convenes e promessas; que tudo aquilo, que tratar da linha de demarcao, ser de nenhum valor e efeito, como se no houvesse sido determinado em todo o de-mais em sua fora e vigor. E no futuro, no se tratar mais da citada linha, nem se poder usar desse meio para a deciso de qualquer discusso que ocorrer sobre os limites, seno unicamente da fronteira que se prescreve nos presentes artigos, como regra invarivel e no sujeita a controvrsias. (SEITENFUS, 2009, p. 1377, negrito nosso).

    Porm, o Tratado de Madri foi revogado pelo artigo I do Tratado de El Pardo de 12 de fevereiro de 1761, mas mesmo anulado no retroagiu ao estipulado em Tordesilhas, o que se infere do transcrito abaixo:

    Art. I. O sobredito Tratado de Limites da sia e da Amrica celebrado em Madri a treze de Janeiro de mil setecentos e cinquenta, com todos os outros Tratados ou Convenes, que em consequncia dele se foram celebrando depois para regular as Instrues dos respectivos Comis-srios, que at agora se empregaram nas demarcaes dos referidos limites, e tudo o que em virtude delas foi autuado, se estipula agora !"# $%&'# "# ("# )*+,# "'# -./0!)"# )+# 1/"("20"#3/&0&)+,# 1+/# %&2%"4&-dos, cassados e anulados, como se nunca houvessem existido, nem houvessem sido executados; de sorte que todas as coisas perten-centes aos limites da Amrica e sia se restituem aos termos dos Tratados, Pactos e Convenes que haviam sido celebrados entre as duas Coroas Contratantes, antes do referido ano de mil setecentos e cinquenta; em forma que s estes Tratados, Pactos e Convenes %"4"5/&)+(#&20"(#)+#&2+#)"#'.4#("0"%"20+(#"#%.2 !"20&,#$%&'#)& !.#

    em diante sem sua fora e vigor. (SOARES, 1939, p. 159-160).

    O citado Tratado de El Pardo, junto com o Tratado de Lis-boa e Utrecht, cujo contedo em parte se refere aos limites ter-ritoriais de Portugal e Espanha na Amrica, foram pelo Tratado

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    de Paz assinado entre Portugal, Frana, Gr-Bretanha e Espa-nha em 10 de fevereiro de 1763, em seu artigo II, renovados.

    J o Tratado de Santo Ildefonso, assinado pela Rainha de Portugal, D. Maria I e pelo Rei da Espanha, D. Carlos III, em 1 de outubro de 1777, e ratificado por parte de Portugal em Lisboa em 10 de outubro de 1777 e por parte da Espanha em San Lorenzo El Real em 11 de outubro de 1777 (FERREIRA, 1956, p. 431), teve por escopo resolver o conflito que existia entre as possesses portuguesas e castelhanas na Amrica Meridional.

    O mesmo tratado previa a elaborao de um Tratado defi-nitivo de limites, j que o prprio Tratado de Santo Ildefonso era um Tratado Preliminar de Limites, que, alis, nunca che-gou a ser elaborado.

    Os tratados anteriormente firmados restaram anulados, o mesmo se diga do de Tordesilhas, no qual no podia mais servir de fundamento a posse de terras ultramarinas, nem de Espanha, nem de Portugal, assim o fez no artigo respectivo infracitado:

    Art. XXI. Com o fim de consolidar a dita unio, paz e amizade, e de extinguir todo o motivo de discrdia, ainda pelo que respeita aos domnios da sia, Sua Majestade Fidelssima, em seu nome e no de seus herdeiros e sucessores, cede a favor de Sua Majestade Catlica, seus herdeiros e sucessores, todo o direito que possa ter ou alegar ao domnio das ilhas Filipi-nas, Marianas e o mais que possui naquelas partes a Coroa de Espanha; renunciando a de Portugal qualquer ao ou direito, que possa ter ou promover pelo Tratado de Tordesilhas de 7 de junho de 1494, e pelas condies da escritura celebrada em Saragoa a 22 de abril de 1529, sem que possa repetir coi-sa alguma do preo, que pagou pela venda capitulada na dita escritura, nem valer-se de outro qualquer motivo ou funda-mento contra a cesso convinda neste artigo. (FERREIRA, 1956, p. 443).

    Assim, tanto o Tratado de Madri, como o de Santo Ildefon-so revogam o Tratado de Tordesilhas, dado suas incertezas e indefinies, acima j citadas, no podendo mais ser utilizado

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    como fundamento hbil a reconhecer o que era de Espanha ou de Portugal.

    Contudo, vale lembrar que os fundamentos jurdicos uti-lizados na elaborao e previstos em Tordesilhas, foram defen-didos no sculo XVIII.

    O ministro de Estado espanhol em sua primeira memria de negociao, que antecedeu ao Tratado de Madri, propu-nha declarar por meio de convnio ou conforme o processo adotado no Tratado de Tordesilhas, os termos a quo da linha divisria. (FERREIRA, 1956, p. 372).

    Graas a Alexandre de Gusmo, tal pretenso no logrou xito, sendo que alm de prescindir da linha divisria de Tor-desilhas, props para pr termo ao conflito que as partes se socorressem do princpio do uti possidetis. (FERREIRA, 1956, p. 372-373).

    3. FUNDAMENTOS JURDICOS DA POSSE PELOS PORTUGUESES DO TERRITRIO BRASILEIRO

    Passados pouco mais de cinco anos da assinatura do Trata-do de Tordesilhas, em 22 de abril de 1500 a frota liderada por Pedro lvares Cabral desembarcava em terras brasileiras.

    Depara-se, diante do que at agora se exps, onde situar o descobrimento do Brasil na Histria do Direito Brasileiro? Mais do que isso, qual a importncia de se saber quem e quan-do se descobriu o Brasil?

    E no de se assustar se isso for um evento de pouca importncia, pois primeiro no leva a uma resposta exata e segundo a dimenso do evento no comporta a relevncia que se tem dado.

    O contexto em que o territrio brasileiro veio a se tornar conhecido o da expanso martima europeia do sculo XV, em que portugueses e espanhis desempenharam papis fun-damentais em tais feitos.

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    Portugal, nesse sculo, somava inmeras viagens de ma-peamento de rotas comerciais e seus portos atraam merca-dores e negociantes de toda a Europa, sendo um dos lugares mais intensos de circulao humana.

    SERGE GRUZINSKI (1999, p. 51) descreve o centro das trans-formaes da poca, o porto de Lisboa.

    um porto muito ativo frequentado pelos comerciantes fla-mengos e italianos, e tambm aonde vo parar marinheiros vindos de todos os mares europeus e onde trabalham milha-res de escravos africanos. A expanso da indstria naval no deixa de impressionar os visitantes estrangeiros. Fundies e fornos de Lisboa fabricam as ncoras, os canhes e todas as peas indispensveis aos grandes navios que zarpam para a frica.

    A velocidade em que chegavam novas informaes e ra-pidamente eram assimiladas se assemelha globalizao dos dias atuais.

    Tamanha rapidez est atrelada ao nmero dos empreen-dimentos martimos, que simultaneamente eram to diversos quanto o nmero de embarcaes envolvidas e os destinos auferidos.

    No obstante, no h uma data especfica para apontar quando se tomou conhecimento do Brasil e quem o teve, mas pode-se afirmar que por volta do ano de 1493 certamente os portugueses j tinham conhecimento geogrfico do Brasil.

    HOLANDA (2008, p. 47) afirma que ao tempo do Infante D. Henrique, as velas lusitanas tinham levado a mais descobri-mentos do que os mencionados nas crnicas. Continua: E bem provvel que, mais tarde, sobretudo nos anos imediatos ao da faanha de Colombo, se empenhasse a Coroa de Portu-gal em mandar expedies exploradoras s partes do Poente.

    Pelas bulas do Papa Alexandre VI e pelo Tratado de Tor-desilhas, como j visto acima, previa a demarcao dos limites das descobertas, assim no se poderia num tratado estipular

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    direitos e obrigaes entre as partes sem que existisse um ob-jeto.

    O objeto no caso eram os limites das conquistas ou desco-bertas de Portugal e Espanha, da pode-se afirmar que entre os anos de 1493 e 1494 da expedio das bulas e da assinatura do tratado em Tordesilhas , j se tinha o conhecimento do territrio brasileiro, muito antes da viagem de Pedro lvares Cabral em 1500.

    De fato, o estudo histrico do direito brasileiro envolve em suas razes dois atos de Direito Internacional Pblico, de datas pouco anteriores a 1500. (NASCIMENTO, 2007, p. 200).

    Esses atos so as bulas alexandrinas, em especial a bula Inter coetera de 4 de maio de 1494 e o Tratado de Tordesilhas, os quais concorreram para a configurao territorial do Brasil em suas feies atuais, tendo como fato gerador a expanso martima portuguesa e espanhola do sculo XV.

    Nesse contexto, o descobrimento do Brasil se insere como um dos fundamentos jurdicos da posse pelos portugue-ses do territrio brasileiro, eis que Portugal marca sua presen-a na Amrica e do que seu de direito, como ficou acordado em Tordesilhas.

    Cumpre registrar ainda, que o descobrimento se deu por um conhecimento j dominado pelos portugueses que sabiam como bem navegar. A viagem de Cabral foi planejada com antecedncia e a passagem pelo territrio brasileiro no passava de mero entreposto ao caminho das ndias. (CORTESO, 1990, p. 728).

    Assim, fica consignado e mais do que patenteado que tudo foi obra humana e pensada, e que o territrio brasileiro j era conhecido por Portugal, s no dera ainda sinais de ocupao.

    Ocupao, modus adquirendi de territrios ao Estado, que ao lado das bulas pontifcias expedidas pelo papado em

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    meados do sculo XVI, cumpriram papel importante, eis que tambm fundamentaram a posse pelos portugueses do Brasil.

    Pelo Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Es-panha em 7 de junho de 1494, ambas as partes j clamavam pela manifestao papal sobre o que fora contratado.

    Antes por esta presente capitulao suplicam no dito nome ao nosso muito Santo Padre, que sua santidade praza confirmar e aprovar esta dita capitulao segundo em ela se contm, e mandando expedir sobre ela suas bulas s partes ou a qual-quer delas que lhas pedir, e mandando incorporar em elas o teor desta capitulao pondo suas censuras aos que contra ela forem ou passarem em qualquer tempo que seja ou ser possa. (SEITENFUS, 2009, p. 1372, negrito nosso).

    No tardou a bula a ser requisitada pelas partes, j no in-cio do sculo XVI, com essa finalidade Dom Manuel I enviou uma delegao ao Vaticano por volta de 1505. Em resposta, o Papa Jlio II expediu em 24 de janeiro de 1506, a bula Ea quae, onde se ordenava aos Bispos de Braga e Vizeu que exa-minassem o tratado entre D. Joo II e Fernando de Castela e Leo sobre a repartio dos descobrimentos. (CHAVES, 1943, p. 26).

    Pelo que, nos foi humildemente suplicado por parte do dito Rei Manuel, que em razo da benignidade Apostlica, nos dig-nssemos acrescentar a fora da confirmao Apostlica dita concordata, conveno e harmonizao em prol da sua garan-tia, e providenciar oportunamente outras coisas nas premissas declaradas. (SOARES, 1939, p. 89).

    Cumpre ressaltar, que essa bula teve papel anlogo ao da bula Aeterni Regis, que foi expedida pelo Papa Xisto IV, em 21 de junho de 1481, em decorrncia do Tratado de Alcovas, assinado entre Portugal e Espanha em 4 de setembro de 1479, no qual confirmava as concesses dos Papas antecessores e o dito tratado.

    Neste sentido, confirma CORTESO (1990, p. 559) que:

    [...] pela bula Aeterni Regis Clementia, de 21 de Junho de 1481, o Papa Xisto IV confirmava as duas bulas anteriores de

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    Nicolau V, Romanus Pontifex, de 8 de Janeiro de 1454, e a de Calisto III, Inter Coetera, de 13 de Maro de 1456, e os captulos do Tratado das Alcovas, referentes soberania de Portugal sobre as terras descobertas e a descobrir para o Sul contra a Guin.

    E no contido na prpria bula Aeterni Regis:

    Por tanto ns a quem do Co he commetida a universal cura das ovelhas do Senhor, que segundo somos obrigados deseja-mos aver e para sempre durar os Principes e povos Christos a suavidade e folgana de paz, desejando que de Nicolo e de Calixto, nossos predecesores especialmente assi o dito in-serto Capitulo, e hem assi todas e cada huma das cousas nas ditas Bullas e Capitulo contheudas, sejo pera sempre firmes e enteiras a louvor do nome divino, e perpetua paz dos ditos Principes e de seus povos, de nosso moto proprio, nom ins-tancia dalguma pessoa que nollo pedisse, mas de nossa mera liberalidade e providencias, e de certa sciencia e de poderio da S Apostlica, havemos por ratas e gratas as ditas Bullas de Nicolo e de Calisto nossos antecessores e o dito Capitulo. (SOARES, 1939, p. 55).

    Em comentrio ao Tratado de Tordesilhas, CALVO (1862, p. 16, grifo nosso) refere-se bula Ea quae (1506), da seguinte maneira: Este tratado tom un carcter mas invioable an por la sancion del papa Julio II, cuya bula, de 24 de enero de

    1506, fu comunicada por el arzobispo de Braga y el obispo

    de Viseo, sus respectivos soberanos.

    Assim sendo, a bula Ea quae mandou observar, confirmar e aprovar, validando juridicamente o Tratado de Tordesilhas.

    Entretanto, como antes se diz, se suceder dar-se a dita con-firmao e aprovao Apostlica por vosso meio no vigor das presentes, faais observar inviolavelmente a referida concor-data, e que os mesmos Reis se contentem pacificamente com a concordata e as ditas confirmao e aprovao da mesma, no permitindo que eles entre si ou por quaisquer outros sejam indevidamente molestados sobre isso, reprimindo, sem ape-lao, com a autoridade Apostlica aos contraditores. (SOARES, 1939, p. 89-90).

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    Destarte, o Papa Jlio II atravs dessa bula confirmou a d. Manuel, na qualidade de gro-mestre da Ordem de Cristo e rei de Portugal, os direitos sobre as terras do Brasil. (TRPOLI, 1936, p. 79).

    Posteriormente, com a finalidade de confirmar a referida bula pontifcia, em 7 de junho de 1514 o Papa Leo X expediu a bula Precelsae devotionis e em 30 de dezembro de 1551, com a mesma inteno, o Papa Jlio III a bula Praeclara cha-rissimi, na qual o Brasil ficou perpetuamente unido coroa e domnio dos reis de Portugal como gro-mestres e perptuos administradores da Ordem de Cristo. (TRPOLI, 1936, p. 79-80).

    Alm das citadas bulas pontifcias, que de fato contribu-ram para que se fixasse o territrio brasileiro como parte das possesses de Portugal, cumpre por ltimo entender o funda-mento jurdico dessa aquisio por meio do instituto posses-srio da ocupao.

    Esse modo de aquisio da propriedade surgiu no Direito Romano, no qual consiste na tomada de posse de uma coi-sa in commercio, que no est sob domnio de ningum (res nullius), e gera o direito de propriedade dela. bastante que se estabelea o poder de fato com a inteno de ter a coisa como prpria: a posse com animus domini. (MARKY, 1995, p. 79).

    Sob a tica do Direito Internacional Pblico, a ocupao, modo de aquisio de territrio, a tomada de posse por um Estado de um territrio que no pertena a outro Estado. (MELLO, 2004, p. 1133).

    A primeira fase histrica desse instituto jurdico se fun-damentou em um ttulo, as bulas pontifcias. (MELLO, 2004, p. 1153). por meio desse ttulo jurdico que se confirmou e aprovou o Tratado de Tordesilhas, o qual declara ser a posse do territrio brasileiro como parte dos domnios portugueses do ultramar.

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    Posteriormente, aps uma perda significativa do poder do Papa, frente Reforma Protestante do sculo XVI, passou a se fundamentar no descobrimento o direito as terras descober-tas, com a expresso de um marco representativo da ocupa-o, ocorrido no caso de Portugal em 1500. (MELLO, 2004, p. 1153).

    Diferentemente da concepo contempornea, a ocupa-o se constituiu no res nullius, que nos sculos XVI e XVII nullius o que no pertence a um soberano cristo (MELLO, 2004, p. 1158 apud BEDJAOUE, M.), ou seja, as terras, cujo as quais no hajam estado sob o atual domnio temporal de Prn-cipe cristo algum. (SOARES, 1939, p. 30).

    Colabora com esse posicionamento DINAIR SILVA (2000, p. 9), afirmando que de acordo com o Direito Internacional da poca, o descobrimento de terras no pertencentes a prnci-pes cristos constitua ttulo suficiente para a apropriao.

    Tambm se apoiou no animus domini, ocorrida com o incio da colonizao do Brasil por volta da segunda metade do sculo XVI pelos portugueses, que efetivamente ocuparam o territrio, com vistas a explor-lo economicamente, para tan-to, fazendo instalar-se o sistema de capitanias hereditrias e depois um corpo administrativo centralizado e ordenado.

    Portanto, a posse do territrio brasileiro por Portugal se fundamenta ou se justifica: a) na celebrao do Tratado de Tor-desilhas (1494); b) nas bulas pontifcias (bula Ea quae); c) no descobrimento, viagem de Cabral houve a fixao de marcos externos que simbolizavam que as terras brasileiras eram de domnio de Portugal; d) na ocupao: res nullius (o territ-rio brasileiro no era ocupado por Prncipe cristo) e animus domini (com o incio da colonizao do territrio brasileiro pelos portugueses).

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    4. CONCLUSO

    As bulas alexandrinas e o Tratado de Tordesilhas fazem parte do incio da Histria do Direito Brasileiro e da formao dos limites territoriais nacionais, o qual o ltimo reservava a Portugal a posse de parte do territrio brasileiro.

    Aquisio fundamentada juridicamente pelo Tratado de Tordesilhas, pelo qual foi dirimido o conflito em torno das terras descobertas, sem, contudo, pacificar os interesses de es-panhis e portugueses. Nota-se tambm que o mesmo tratado reforou o poder dos reis ou prncipes, prescindindo da inter-veno pontifcia na soluo dessa controvrsia.

    O Papa que, alis, desempenhou papel importante nesse perodo, interferindo nos descobrimentos ao expedir suas bu-las, documento pontifcio que reconhecia aos reinos cristos, a posse e o direito de explorao das terras descobertas, sendo que as gravava com o nus da propagao da f catlica.

    No tocante ao descobrimento do Brasil, representou o evento somente um dos fundamentos da posse pelos portu-gueses do territrio brasileiro, ao lado do Tratado de Tordesi-lhas, das bulas confirmatrias e da ocupao.

    Em contrapartida, outros pases da Europa, no s ques-tionaram as doaes papais, o princpio do mare clausum e o Tratado de Tordesilhas, como os desrespeitaram. Exemplo marcante na histria colonial brasileira, foram as invases e ocupao do territrio por franceses e holandeses durante os sculos XVI e XVII.

    As negociaes e celebraes de tratados por parte de Por-tugal com Frana e Espanha durante o perodo colonial, o qual teve incio nas bulas e tratados analisados, contriburam para que se consolidasse a posse de territrio na Amrica pelos por-tugueses, parte considervel do que o Brasil passou a possuir em virtude de sua independncia e da que lhe pertence atual-mente.

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    Longe de pacificar os interesses de Portugal e Espanha, como de outros pases da Europa em torno das possesses do ultramar, as bulas pontifcias e o Tratado de Tordesilhas fize-ram parte do incio do processo de formao dos limites terri-toriais brasileiros, que se estendeu at o sculo XX, ao qual se seguiram, com a finalidade de dirimi-la e defini-la, tratados e convenes, celebrados com os pases limtrofes.

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