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AS CAMPANHAS MILITARES E A REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES E
EQUIPAMENTOS NAS ESTRUTURAS DAS FORMAÇÕES E UNIDADES
MILITARES SOVIÉTICAS DURANTE A GRANDE GUERRA PATRIÓTICA.
Eduardo Guimarães Martini1
INTRODUÇÃO
O que se pretende com esta dissertação é apresentar as evoluções das “tabelas de organização
e equipamentos”, abreviadas TOE’s, que ocorreram nas formações e unidades das ordens de
batalhas do Exército Vermelho soviético de 1941 a 1945 nas armas de infantaria, de artilharia
e de blindados.
Desde que comecei a me interessar sobre assuntos militares, o que mais me chamou atenção
foi como as tropas em combate se organizavam para uma batalha. Descobri ter um ponto em
comum com um historiador militar tão renomado, John Keegan. Citando o próprio
(KEEGAN, 2006:13), para conferir uma importância ao assunto que será objeto deste artigo:
Numa conferência acadêmica encontrei por acaso um sujeito simpático que
conhecia meu trabalho de história militar e perguntou qual o aspecto que
mais me agradava nessa área. “A análise das ordens de batalha”, respondi
sem hesitar; a ordem militar é a lista das unidades envolvidas em
determinada operação, coisa que muitas vezes, surpreendentemente, é muito
difícil de organizar. “É verdade”, disse ele. Pouco depois recebi uma
mensagem desse sujeito na qual afirmava ser o responsável pelo treinamento
de funcionários do governo norte-americano para os quais a ordem de
batalha era tema de grande importância, razão pela qual me perguntava se eu
poderia ir a Washington dar uma conferência sobre o assunto.
1 Engenheiro Cartógrafo, especialista em História Militar, formado, desde 2017, pela UNISUL. E-mail para contato: [email protected]
CATACLISMA
A Segunda Guerra Mundial iniciou-se em três de setembro de 1939, quando França e Reino
Unido declararam guerra à Alemanha, depois que esta invadiu a Polônia dois dias antes. Em
1940, a guerra expandiu-se com a invasão da Europa Ocidental pela Alemanha, quando
derrotou a França e a retirou da Aliança Ocidental, isolando o Reino Unido política e
militarmente.
As campanhas militares agressivas do Eixo na Europa – Alemanha e Itália – sucederam-se
rapidamente, englobando toda a Europa. Em 1941, o conflito dirigiu-se mais uma vez para a
Europa Oriental e, em junho, chegou à União Soviética.
De 22 de junho de 1941, quando a operação “Barbarossa” iniciou-se, até o início de dezembro
de 1941, quando a Batalha de Moscou terminou, a URSS sofreu derrotas militares em
proporções nunca antes vistas em operações bélicas.
Cerca de 4.500.000 homens da marinha e, principalmente, do exército foram perdidos.
Desses, mais de três milhões eram baixas irreparáveis. Em termos de equipamentos, as perdas
foram também gigantescas, haja vista alguns exemplos importantes: os fuzis somaram
5.500.000 de unidades (60% do total existente); 12.000 canhões antitanques (71%); 20.500
tanques (73%); 24.400 peças de artilharia (56%); 18.000 aviões (60%).
Por conta destas perdas, a alteração das TOE´s se fez obrigatória, pois não havia como repor
as perdas e nem mobilizar novas formações e unidades sem a redução de efetivos,
equipamentos e estruturas. Resumidamente, pretende-se demonstrar aqui as adaptações
ocorridas nas armas INFANTARIA, ARTILHARIA e BLINDADA.
INFANTARIA
Na infantaria a formação básica era a DIVISÃO DE FUZILEIROS, equivalente à divisão de
infantaria nos países ocidentais. Esta formação adotava o modelo triangular, no qual cada
divisão continha três regimentos de fuzileiros, que, por sua vez, continham três batalhões.
Estas unidades eram complementadas por outras de apoio, como comunicação,
reconhecimento, artilharia divisional, artilharia antiaérea, artilharia antitanque e demais
serviços (hospital, cozinha, transporte, polícia, proteção química e alguns outros).
Esta formação praticamente não foi alterada ao longo do conflito, com exceção da artilharia
divisional. Os efetivos variaram com o crescimento do número de formações e,
principalmente, do grande número de baixas.
Em 1941, o efetivo previsto da divisão era de 14.483 homens. No final de 1942, era de 9.435
e, em 1945, totalizava 11.706 homens. Outra característica dos fuzileiros soviéticos foi o
grande incremento na quantidade de submetralhadoras, armas automáticas, demonstrada pelo
efetivo de quase 3.600 armas nesta formação, no final da guerra, contra 1.204 no início.
A artilharia divisional passou por profundas alterações. Na estrutura de abril de 1941, a
divisão de fuzileiros contava com um QG de artilharia que comandava um regimento de
artilharia de campanha e um regimento de artilharia de obuseiros, totalizando 60 canhões e
obuseiros, conforme a figura 1. Esta formação enfrentou o ataque inicial alemão desfechado
pela “Operação Barbarossa”.
Figura 1 – Divisão de fuzileiros – abril de 1941 - Operou durante o verão de 1941.
Fonte: o Autor, 2020.
Depois da grande debacle de 1941, com a perda de efetivos e oficiais mais graduados, é que
foi ordenada a criação de BRIGADAS DE FUZILEIROS. Menor que as divisões, a brigada
consistia inicialmente de três batalhões e armas e serviços de apoio, totalizando cerca de
4.500 homens.
Em sua organização final, a brigada de fuzileiros, passou a ter, a partir de julho de 1942, uma
estrutura quaternária, ou seja, com quatro batalhões e atingiu um total de 5.125 homens.
A brigada de fuzileiros chegou a contar um total de 177 unidades na ordem de batalha
soviética em janeiro de 1943. A partir daí, começou um processo de formação de novas
divisões de fuzileiros absorvendo estas unidades, principiando a redução quantitativa,
chegando ao fim da guerra com apenas 17 unidades.
Incluídas na Arma Infantaria havia ainda algumas formações de fuzileiros especializados.
Eram os fuzileiros de montanha, as unidades de esquiadores (mobilizados durante os invernos
da guerra), as formações de destruidores de tanques (armados com fuzis antitanques) e as
QG
14.483 homens
RGT FUZILEIROSRGT FUZILEIROS
3.182 h
BAT CANHÕES REGIMENTAIS
6X76mmIG
BTL FUZILEIROS
BTL FUZILEIROS
BTL FUZILEIROS
766 h
CIA FUZILEIROS
174 h
CIA FUZILEIROS
174 h
CIA FUZILEIROS
174 h
CIA MG
12XMMG
CIA MORTEIRO 6X82mm
CIA SAPADORES
93 h
CIA MG ANTIAÉREA
3XHMG + 6XQUAD MMG
CIA SINALEIROS
77 h
BAT ANTITANQUE
6X45mm
BAT MORTEIRO
PESADA 4X120mm
SERVIÇOS REGIMENTAIS
RGT FUZILEIROS QG ARTILHARIA
RGT ART CAMPANHA
BTL ART CAMPANHA 8X76mmG + 4X122mmH
BTL ART CAMPANHA 8X76mmG + 4X122mmH
RGT ART OBUSEIROS
BTL OBUSEIROS LEVES
12X122mmH
BTL OBUSEIROS LEVES
12X122mmH
BTL OBUSEIROS MÉDIOS
12X152mmH
BTL RECONHECIMENTO
246 h
BTL ANTITANQUE 18X45mm
BTL SAPADORES
521 h
BTL SINALEIROS 278 h
SERVIÇOS DIVISIONAISBTL ART ANTIAÉREA 8X37mm + 4X76mm
denominadas regiões fortificadas (unidades de ocupação e defesa de terreno, fortes em
metralhadoras pesadas e canhões antitanques, eram praticamente estáticas).
As unidades de elite do Exército Vermelho não estavam subordinadas à infantaria. Eram as
tropas aerotransportadas (paraquedistas) que, no momento da crise de julho de 1942, tiveram
suas brigadas de fuzileiros paraquedistas agrupadas e transformadas em divisões de Fuzileiros
de Guardas (elite).
Elas foram enviadas para combater contra a ofensiva alemã no Cáucaso, inclusive em
Stalingrado. A partir de 1943, novas formações de paraquedistas foram criadas para substituir
as que foram transformadas em infantaria.
A formação final da divisão de fuzileiro utilizada na Europa, junho de 1944, é mostrada na
figura 2, à guisa de comparação.
ARTILHARIA
A artilharia é considerada como a “Rainha dos Campos de Batalhas” nos meios militares. Em
nenhuma outra nação em guerra esta citação foi mais verdade do que na União Soviética. A
artilharia soviética foi dividida em várias especialidades e agrupada em batalhões, regimentos
e, posteriormente, também em brigadas. Morteiros (120 mm e 160 mm); artilharia de corpo,
com canhões leves e obuseiros; artilharia pesada, com canhões de 152mm; artilharia extra
pesada (BM, abreviatura em cirílico) com obuseiros de 203mm.
Figura 2 - DIVISÃO de FUZILEIROS - DEZEMBRO 1944. Batalha de Berlim (maio/45).
Fonte: o Autor, 2020.
Uma categoria ainda mais pesada, agrupada em batalhões, foi denominada “artilharia
superpesada”, abreviada OM, em cirílico. Era composta por obuseiros de 280mm e de 305mm
e de canhões de 210mm e de 305mm.
A principal alteração destas unidades foi a eliminação da artilharia do corpo de fuzileiros, pois
este tipo de formação deixou de existir durante o primeiro ano de guerra. Os regimentos
foram agrupados na chamada “artilharia de reserva do quartel-general” ou RVGK.
Estas unidades eram alocadas em uma determinada frente de combate pelo tempo previsto
para a batalha, quando então retornavam à reserva ou eram alocadas em outra frente. A figura
3 representa as unidades que, em julho de 1941, enfrentaram o ataque inicial alemão.
QG
11.706 homens
RGT FUZILEIROS RGT FUZILEIROS
BAT CANHÕES INFANTARIA 4X76mmIG
BTL FUZILEIROS BTL FUZILEIROS BTL FUZILEIROS
CIA FUZILEIROS CIA FUZILEIROS CIA FUZILEIROSCIA MG 6XMMG
CIA MORTEIRO 6X82mm
SERVIÇOS BTL
CIA SUBMG
BAT ANTITANQUE 6X45mm
BAT MORTEIRO 6X120mm
CIA SUBMG
SERVIÇOS REGIMENTAIS
CIA SINALEIROS
RGT FUZILEIROSBRIGADA
ARTILHARIA
RGT ART CAMPANHA
BTL ART CAMPANHA 16X76mmG
BTL ART CAMPANHA 16X76mmG
RGT ART CAMPANHA
BTL ART OBUSEIRO
10X122mmH
BTL ART OBUSEIRO
10X122mmH
RGT ART CAMPANHA
BTL ART MORT
10X120mm
BTL ART MORT
10X120mm
CIA RECONHECIMENTOBTL ANTITANQUE
12X76mm/57mm + 32XFZ.AT
BTL SAPADORESBTL SINALEIROS
SERVIÇOS DIVISIONAIS
BTL ANTIAÉREO
12X37mm + 18XHMG MTZ
Figura 3 – ARTILHARIA 1937-1941 – Operação Barbarossa, julho/41.
Fonte: o Autor, 2020.
Para concentrar poder de fogo, unidades independentes foram reunidas em divisões de
artilharia, a partir de 1942. Estas formações agrupavam praticamente todas as especialidades,
de artilharia leve até extrapesada ou de 76 a 203 milímetros. Continham ainda lança-foguetes
de 300mm – as famosas “katyushas” — e morteiros pesados de 160mm.
No final do conflito, haviam sido criados quatro tipos de divisões: divisão de artilharia padrão
42; divisão de artilharia de penetração padrão 43; divisão de artilharia de canhões; e, divisão
de artilharia de penetração padrão 44. A figura 4 apresenta o quadro destas formações.
No final da guerra na Europa, existiam 37 destas formações, sendo três do tipo 42, 2 de
canhões, 22 do tipo 43 e 10 do tipo 44.
RGT ART de CORPO - Tipo A
BTL OBSERVAÇÃO
BTL ART CAN CORPO
12X107/122mmG
BTL ART CAN CORPO
12X107/122mmG
BTL ART OB CORPO
12X152mmH
RGT ART de CORPO - Tipo B
BTL OBSERVAÇÃO
BTL ART OB CORPO
12X152mmH/G
BTL ART OB CORPO
12X152mmH/G
BTL ART OB CORPO
12X152mmH/G
RGT ART de CORPO - Tipo C
BTL OBSERVAÇÃO
BTL ART CAN CORPO
12X107/122mmG
BTL ART CAN CORPO
12X107/122mmG
BTL ART OB CORPO
12X152mmH/G
BTL ART OB CORPO
12X152mmH/G
RGT ART OBUS
BTL OBSERVAÇÃO
BTL ART OB
12X152mmH
BTL ART OB
12X152mmH
BTL ART OB
12X152mmH
BTL ART OB
12X152mmH
RGT ART OBUS EXTRA PESADO
BTL OBSERVAÇÃO
BTL ART OB
12X203mmH
BTL ART OB
12X203mmH
BTL ART OB
12X203mmH
BTL ART OB
12X203mmH
RGT ART CANHÕES
BTL OBSERVAÇÃO
BTL ART CAN
12X107/122mmG
BTL ART CAN
12X107/122mmG
BTL ART OB
12X152mmH/G
BTL ART OB
12X152mmH/G
RGT ART CAN PESADO
BTL OBSERVAÇÃO
BTL ART CAN PES
6X152mmG
BTL ART CAN PES
6X152mmG
BTL ART CAN PES
6X152mmG
BTL ART CAN PES
6X152mmG
BTL ART OBUS SUPER PESADO
BATERIA OB SuPes
2X280/305mmH
BATERIA OB SuPes
2X280/305mmH
BATERIA OB SuPes
2X280/305mmH
BTL ART CAN SUPER PESADO
BATERIA CAN SuPes
2X210/305mmG
BATERIA CAN SuPes
2X210/305mmG
BATERIA CAN SuPes
2X210/305mmG
BTL ART MORTEIRO
BATERIA MORT
12X120mm
BATERIA MORT
12X120mm
BATERIA MORT
12X120mm
Figura 4 - DIVISÕES DE ARTILHARIA 1942-1944, como empregadas em Kursk (julho/43), apenas o primeiro
modelo, e Berlim (maio/45).
Fonte: o Autor, 2020.
BLINDADOS
A força blindada era a arma crucial na estratégia militar nas operações em profundidade. No
período inicial da “Operação Barbarossa”, a formação básica da força blindada era o corpo
mecanizado.
No papel, o corpo mecanizado era uma formação poderosa, com 36.000 homens e mais de mil
tanques, composta por duas divisões de tanques e uma divisão de fuzileiros motorizados e
mais alguns elementos de apoio.
DIVISÃO ARTILHARIA (T42)
BTL OBSERVAÇÃO
BRIGADA ART LEVE
72X76mmG
BRIGADA ART OBUSEIROS
60X122mmH
BRIGADA ART CANHÕES
36X152mmG/H
BRIGADA ART MORTEIRO
80X120mmM
DIVISÃO ARTILHARIA PENETRAÇÃO (T43)
BTL OBSERVAÇÃO
BRIGADA ART LEVE
72X76mmG
BRIGADA ART OBUSEIROS
84X122mmH
BRIGADA ART CANHÕES
36X152mmG/H
BRIGADA ART MORTEIRO
108X120mmM
BRIGADA ART OBUS PES
32X152mmH
BRIGADA ART OBUS EXTRA PES
24X203mmH
DIVISÃO ARTILHARIA CANHÕES (T43)
BTL OBSERVAÇÃO
BRIGADA ART CANHÕES
36X152mmG/H 16X76mmG
BRIGADA ART CANHÕES
36X152mmG/H 16X76mmG
BRIGADA ART CANHÕES
36X152mmG/H 16X76mmG
DIVISÃO ARTILHARIA PENETRAÇÃO (T44)
BTL OBSERVAÇÃO
BRIGADA ART LEVE
72X76mmG
BRIGADA ART OBUSEIROS
84X122mmH
BRIGADA ART MORTEIRO
108X120mmM
BRIGADA ART OBUS PES
32X152mmH,G/H
BRIGADA ART OBUS EXTRA PES
24X203mmH
BRIGADA ART MORT PES
32X160mmM
BRIGADA MORT GUARDA
36XM31-12
DIVISÃO MORTEIROS DA GUARDA
BRIGADA MORTEIROS DA
GUARDA
288XM-31
BRIGADA MORTEIROS DA
GUARDA
288XM-31
BRIGADA MORTEIROS DA
GUARDA
288XM-31
Esta formação passou a ser reintroduzida na ordem de batalha desde 1940, numa volta ao que
preconizava nos anos 30 a arte operacional soviética. Era destinada a ser o instrumento da
batalha em profundidade e operações profundas.
Sofrendo em menos de um mês a destruição de 13 de seus corpos mecanizados, esta formação
foi retirada da ordem de batalha soviética, em 15 de julho de 1941. Entre os motivos do
péssimo emprego tático estavam: uma mobilização em andamento, poucas lideranças,
escassos de meios de comunicação (rádios) – principalmente numa formação tão grande – e as
condições mecânicas dos equipamentos. Os novos tanques KV-1 e T-34 eram poucos ainda.
Com a extinção dos corpos mecanizados, a mobilidade passou para as divisões de tanques,
agora empregadas isoladamente e, logo depois, estas formações também foram extintas. Os
tanques remanescentes foram agrupados em pequenas brigadas. As divisões de fuzileiros
motorizados foram convertidas em divisões comuns e entregues à infantaria.
A divisão de tanques era formada por dois regimentos de tanques, cada um contendo um
batalhão pesado com 31 tanques, dois batalhões médios com 104 tanques no total e um
batalhão de lança-chamas com 37 tanques. O total de tanques por divisão atingia 361
unidades.
A força de apoio da divisão consistia de um regimento de fuzileiros motorizado, um batalhão
de reconhecimento, um batalhão antiaéreo, um batalhão de sapadores, um batalhão de
sinaleiros e um regimento de artilharia motorizado com 24 obuseiros.
A divisão de fuzileiros motorizados era formada por um regimento de tanques, cada um
contendo cinco batalhões leves, totalizando mais de 270(!) tanques. O total de tanques por
divisão atingia 287 unidades.
Ainda, a divisão tinha dois regimentos de fuzileiros motorizados, um batalhão de
reconhecimento, um batalhão antiaéreo, um batalhão de sapadores, um batalhão de sinaleiros,
um batalhão antitanques e um regimento de artilharia com 12 canhões e 24 obuseiros.
O período inicial de seis meses de combates viu um dos grandes feitos humanos da Segunda
Guerra Mundial: a desmontagem dos milhares de indústrias de áreas à frente do avanço
alemão, seu transporte e sua remontagem na Sibéria, incluindo seus trabalhadores. A
retomada do nível de produção necessário para manter a máquina de guerra do Exército
Vermelho demoraria ainda vários meses.
Em 1942, os soviéticos começaram a reorganizar sua força blindada em uma nova formação,
o corpo de tanques. No geral era formado por duas ou três brigadas de tanques e uma brigada
de fuzileiros motorizada, mais armas de apoio, como na figura 5.
Figura 5 – CORPO DE TANQUES - JULHO 1942, como empregado na batalha de Kursk/43.
Fonte: o Autor, 2020.
A evolução da brigada de tanques foi o elemento bélico que possibilitou o emprego racional
dos blindados pelo Exército Vermelho. Em sua última estruturação, a unidade consistia de três
batalhões de tanques, todos T-34/85, um batalhão de submetralhadores motorizados e uma
companhia antiaérea com metralhadoras pesadas.
Esta formação evoluiu tanto tática como tecnicamente. As deficiências do comando, controle
e comunicação foram reduzidas paulatinamente. Melhores e mais numerosos, os rádios foram
mais disseminados.
Os veículos de combate agora começavam a contar com os modelos KV-1, pesado, T-60 e T-
70, leves, e o tanque que revolucionou a arma blindada da guerra, o T-34. O tanque médio
combinou rusticidade, padronização, velocidade, blindagem e um canhão de 76mm num só
veículo.
No final de 1942, o STAVKA criou outra formação móvel, o corpo mecanizado. Esta nova
versão, bem menor que a de 1940, era mais poderosa que o corpo de tanques, com a função de
ocupar e manter o terreno. Para isto, tinha um componente de fuzileiros mais numeroso assim
como as unidades de apoio, principalmente artilharia.
O corpo mecanizado consistia de três brigadas mecanizadas e uma variação com uma brigada
ou dois regimentos de tanques de apoio. Em cada brigada mecanizada tinha três batalhões de
fuzileiros motorizados e um regimento de tanques, como mostrado na figura 6.
Figura 6 – CORPO MECANIZADO - SETEMBRO42, como empregado na batalha de Kursk (julho/43).
Fonte: o Autor, 2020.
QG
15.018 h 175 Tq
BRIGADA MECANIZADA 3.558 h 39 Tq
BTL FUZ MTZ
707 h
BTL FUZ MTZ
BTL FUZ MTZ
RGT Tq 39XTq
CIA REC 7XCa BL
CIA SMG 94 h
CIA FUZ AT 27XFZAT
BTL MRT
12X82mm 6X120mm
BTL ART LV 12X76mm
BTL AAE
8X37mm 12XHMG
SERVIÇOS
CIA SAPAD.
BRIG MEC BRIG MEC BRIGADA DE
TANQUES
55 Tq
BTL Tq Lv 21XTq
BTL Tq Md 32XTq
BTL FUZ MTZ
403 h
BAT AT 4X76mm
CIA AAE 9XHMG
BTL MOTOC BTL MRT GD
8XBM-13
BTL AT 12X76mm
RGT DESTR. TQ
20X45mm
BTL SAPAD. RGT MRT 36X120mm
RGT ART AP
17XSU-76 8XSU-122
BTL SINAL.RGT AAE
16X37mm 16XHMG
SERVIÇOS
O sucesso do emprego destas formações levou o Exército Vermelho a criar uma versão
melhorada do Exército de Tanques, agora composto por três corpos de tanques e mecanizados
e um sólido apoio. Esta foi a formação que levou o STAVKA de volta às operações em
profundidades, pela definitiva vez, levando a Alemanha nazista à derrota.
No final da guerra na Europa, a URSS tinha em sua ordem de batalha seis exércitos de
tanques, 24 corpos de tanques e 14 corpos mecanizados. Fora isto, as brigadas de tanques
independentes totalizaram 63 unidades e os regimentos de tanques, geralmente pesados,
outras 70 unidades Havia ainda oito brigadas mecanizadas independentes. A versão final do
corpo mecanizado, de janeiro de 1944, é apresentada na figura 7.
Figura 7 – CORPO MECANIZADO - JANEIRO 1944. Batalha de Berlim, maio de 1945.
Fonte: o Autor, 2020.
Além destas formações, foram criadas unidades na forma de brigadas, regimentos e batalhões
blindados. Batalhões de tanques independentes, entre 1941 e 1944, regimentos de tanques,
regimentos de tanques pesados da guarda, inicialmente denominados de penetração,
QG15.018 h 182 Tq
63 CAN ASS 256 CN/MRT
BRIG MEC
3.558 h 39XTq
BTL FUZ MTZ
649 h 18XFZAT 6X82mm 4X45mm
BTL FUZ MTZ
BTL FUZ MTZ
RGT Tq 39XTq
CIA REC
141 h 7XCa BL
CIA SMG 94 h
CIA FUZ AT 27XFZAT
BTL MRT
12X82mm 6X120mm
BTL ART LV 12X76mm
CIA AAE MTZ
9XHMG
SERVIÇOS
CIA SAPAD
121 h
BRIG MEC BRIG MEC BRIG TQ
65XTq
BTL TQ MD
21XTq
BTL TQ MD
21XTq
BTL TQ MD
21XTq
BTL SMG MTZ
507 h 6X82mm 4X45mm 18XFZAT
CIA AAE MTZ
9XHMG
BTL MOTOC
BTL MRT GD
8XBM-13
BTL SAPAD. RGT MRT
36X120mm
RGT ART AP LV
21XSU-76
BTL SINAL.
RGT AAE 16X37mm 16XHMG
SERVIÇOS
RGT ART AP MD
21XSU85
RGT ART AP PES
21XSU152
RGT DEST TQ
36X76mm
regimentos de tanques de engenharia, que formavam nas brigadas de assalto junto com
batalhões de tanques lança-chamas.
Os canhões de assalto autopropulsados formaram os novos regimentos e, mais no final da
guerra, brigadas, de três tipos, leves (SU-76), médios (SU-122, depois SU-85 e SU-100) e
pesados (SU-152, depois ISU-152 e ISU-122) de regimentos de canhões de assalto. No final
da guerra, existiam sete brigadas leves, quatro médias e uma pesada.
Quanto aos regimentos, estes somaram 119 leves, 69 médios e 53 pesados. Nas divisões de
fuzileiros da guarda, havia um batalhão de assalto leve de apoio, sendo 70 no total. Para
finalizar, a formação de agosto de 44 do Corpo de Tanques apresentado na figura 8.
Figura 8 – CORPO DE TANQUES - Agosto 1944 – Batalha de Berlim – maio/45.
QG
11.535 Homens + 196 Tq + 63 CAN AP
+176 Cn/Mrt
RGT CAN AP MD
21X SU85/100
BRIG TQ
65 Tq
BTL TQ MD
21 Tqs
BTL SMG MTZ
507 h 6X82mm 4X45mm 18XFZAT
SERVIÇOSBTL
TQ MD
21 Tqs
CIA AAE MTZ
9XHMG
BTL TQ MD
21 Tqs
BR TQ
BR TQ
BTL SAP
474
BRIG FUZ
MTIZ
3.064 h 60
Cn/MRT
CIA RECON 141 h
7XCaBL 10CamBL
BTL FUZ MTZ
641 h 6X82mm 18XFZAT 4X45mm
BTL FUZ MTZ
BTL FUZ MTZ
CIA SUBMG
94 h
CIA FUZ AT
27XFZ.AT
BTL MRT 12X82mm 6X120mm
BTL ART LV
12X76mm
CIA AAE MTZ
9XHMG
SERVIÇOS
BTL MRT GDA
8XBM-13
BTL MOT
451 h 20 CBL
SERVIÇOS
RGT MRT
36X120mm
RGT ART AP PES
21X SU152
RGT AAE
16X37mm
BTL SIN RGT
CAN AP LV
21XSU76
RGT DESTR. TQ
4X76mm
Fonte: o Autor, 2020.
O TÍTULO DE GUARDAS
Estabelecido em 1941 como mais um estímulo para o moral do exército, o título honorífico
era entregue para formações e unidades que se distinguissem em combate e significava que
aquela unidade agora era parte da elite daquela arma.
O título “de Guardas” significava para a formação, além de um maior prestígio, um melhor
provimento em efetivo e equipamentos. Em cada arma, Estes títulos foram outorgados, ao
longo de todo o conflito, para unidades e formações, inclusive as maiores formações, como
corpos e exércitos, que se distinguiram em combates.
CONCLUSÃO
Neste pequeno apanhado de tabelas de organização e equipamentos do Exército Vermelho,
procurou-se demonstrar a capacidade de adaptação, durante quatro anos de ferozes combates e
lutando por sua existência como Estado, do STAVKA2.
A adaptação, já citada no texto, foi resultado do trabalho desenvolvido pelo Marechal
Tukhachevsky3 nos anos 30 e criaram a base da operacionalidade do exército soviético e seus
instrumentos (sua ordem de batalha e sua organização e equipamento).
2 STAVKA – A sigla significava o Supremo Alto Comando das Forças Armadas Soviéticas.
3 TUKHACHEVSKY, MIKHAIL NIKOLAYEVICH (1893–1937) - figura militar soviética proeminente;
estrategista, comandante, conhecedor de armas. Junto com seus colegas militares, Tukhachevsky desenvolveu o
conceito de emprego de força tática de batalha profunda. Essa manobra envolveu o uso de tanques e aeronaves
para penetrar profundamente na defesa do inimigo e destruir suas forças. O conceito de batalha profunda foi
incorporado aos Regulamentos de Campo soviéticos de 1936 e foi utilizado nas operações de combate do
Exército Vermelho contra o Exército Alemão na segunda metade da Segunda Guerra Mundial. A relação de
Tukhachevsky com Josef Stalin foi se deteriorando até que este ordenou sua execução em 1937, durante o
Grande Terror.
Com sua morte e o mau desempenho na guerra de 1939-40 contra a Finlândia, todo o seu
trabalho foi abandonado. Só as vitórias alemãs sobre a Polônia e França, empregando a
“Blitzkrieg”, trouxeram o Comando soviético de volta à realidade, mas já era tarde para
reconstruir e por em prática o conceito da batalha profunda.
Toda esta reconstrução do Exército, principalmente de 1942 a 1944, foi para trazer a força ao
conceito de Tukhachevsky, o que foi conseguido. Com um esforço constante de estudos
profissionais de táticas, operações e estratégias, sem loas e influências ideológicas – isto foi
deixado para o setor político, ou seja, o Partido – o STAVKA provou o valor de estudos e
conhecimentos permanentes.
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