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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS SEMIRA PACHECO SELVATICI AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES VITÓRIA 2014

AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

SEMIRA PACHECO SELVATICI

AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

VITÓRIA 2014

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SEMIRA PACHECO SELVATICI

AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

Monografia apresentada ao Departamento de Administração do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Administração.

Orientadora: Profª. Drª Susane Petinelli Souza.

VITÓRIA 2014

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RESUMO

A ampla concorrência no mercado de trabalho atualmente demanda cada vez mais

profissionais qualificados. Para isso, os estudantes buscam nas universidades, uma

forma de ascensão profissional. O curso de administração é um dos mais

procurados por universitários de todo o país, devido ao seu caráter generalista e um

possível amplo mercado de trabalho. Acreditando nisso, muitos jovens, da

Universidade Federal do Espírito Santo, optaram por esse curso, sendo a

modalidade noturna, uma oportunidade para aqueles que trabalham ou que desejam

trabalhar durante o curso. As expectativas profissionais desses estudantes é o

objeto desse estudo. Percebeu-se que a maioria dos graduandos do curso de

administração noturno da UFES entrevistados buscam um diploma universitário para

concorrer à vagas em concursos públicos, melhorar sua situação empregatícia ou

abrir o próprio negócio.

Palavras-chave: Mercado de Trabalho, Curso de Administração, Expectativas

Profissionais.

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LISTA DE SIGLAS

CFA – Conselho Federal de Administração

INEP – Instituto Nacional De Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

MEC– Ministério da Educação

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

PROPLAN – Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional

REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Page 5: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7

1.1 O Problema .................................................................................................................................... 7

1.2 Objetivos ................................................................................................................................. 8

1.3 Relevância do Estudo .............................................................................................................. 8

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................... .................................................... 9

2.1 O Curso de Administração no Brasil ............................................................................................. 9

2.1.1 O curso de Administração da UFES ...................................................................................... 10

2.2. Carreira e Oportunidades de Trabalho ...................................................................................... 12

2.2.1 Carreira .............................................................................................................................. 12

2.2.2 Oportunidades de Trabalho ............................................................................................ 13

3. METODOLOGIA .................................... ............................................................... 19

3.1 Tipo de Pesquisa .......................................................................................................................... 19

3.2 Coleta e análise de dados ............................................................................................................ 19

3.3 Sujeitos da pesquisa .................................................................................................................... 20

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS .............. ....................................... 22

4.1 Perfil dos estudantes entrevistados ............................................................................................ 23

4.2 Expectativas profissionais ........................................................................................................... 26

4.2.1 Expectativas no início do curso ...................................................................................... 26

4.2.2 Expectativas ao final do curso ....................................................................................... 27

4.3 Satisfação com o curso ................................................................................................................ 28

4.4 Pensando no futuro .................................................................................................................... 32

4.4.1 Como alcançar os objetivos ........................................................................................... 33

4.4.2 Vida profissional no longo prazo ................................................................................... 35

5. CONCLUSÃO ...................................... ................................................................. 36

6. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 39

7. APÊNDICES ......................................................................................................... 42

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7. 1. Roteiro de entrevista ................................................................................................................ 42

7. 2. Matriz curricular do curso de administração noturno da UFES ............................................... 44

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1. INTRODUÇÃO

1.1 O Problema

No Brasil, a demanda por formação universitária vem crescendo a cada ano gerando

um aumento na oferta de cursos de nível superior no país. Do ano 1991 a 1996 a

taxa de crescimento dos cursos de graduação presenciais no Brasil foi de 35,4% e

do ano 2001 a 2004 essa taxa foi para 180.6% (INEP, 2006).

De acordo com dados do Censo de Educação Superior do Instituto Nacional De

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), um dos cursos mais

procurados por universitários do Brasil é o curso de Administração (INEP, 2010).

No intuito de estarem mais preparados para o mercado de trabalho, os estudantes

percebem na graduação uma forma de ascensão profissional e os cursos noturnos

vêm ganhando destaque neste contexto devido à possibilidade de estudo e trabalho

simultâneos, contribuindo para as pessoas que desejam uma formação superior,

mas que trabalham durante o dia.

A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) criou no segundo semestre de

2009 o curso de Administração Noturno. Com uma matriz curricular diferenciada do

curso diurno, esse curso proporcionou oportunidades de vagas para quem não

poderia cursar o curso diurno (PROPLAN).

O presente estudo tem como problemática indagar sobre as expectativas dos

estudantes do curso noturno de Administração da UFES. Quem são esses

estudantes e o que eles pretendem alcançar tornando-se administradores? Essa

pergunta servirá de base para esse estudo e também ajudará a analisar o curso

noturno de administração da UFES e para quem ele está sendo construído.

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1.2 Objetivos

O presente estudo tem por objetivo identificar as principais expectativas profissionais

dos estudantes do curso de Administração Noturno da Universidade Federal do

Espírito Santo.

No intuito de atender ao objetivo principal, foram traçados os seguintes objetivos específicos para este trabalho:

- Descrever o perfil dos respondentes;

- Identificar em que setores do mercado de trabalho estão alocados os estudantes de administração noturno da UFES, no caso daqueles que já estão trabalhando;

- Analisar quais as expectavivas profissionais dos estudantes ao ingressar e ao finalizar curso;

1.3 Relevância do Estudo

O estudo torna-se relevante pelo fato da existência de um grande número de

administradores que estão se formando a cada ano, tornando o setor bastante

competitivo e com mão-de-obra abundante. Esses profissionais, muitas vezes não

atuam em sua área de formação. Esse problema pode ser devido à falta de

conhecimento sobre a profissão antes da escolha do curso, à criação de falsas

expectativas em relação ao mercado de trabalho ou até mesmo pelo fato de

algumas pessoas só desejarem a obtenção de um diploma de um curso superior.

O curso de Administração Noturno da UFES, sendo um curso relativamente novo da

Universidade Federal do Espírito Santo, iniciado em 2009/2, ainda não possui

informações sobre o seu público.

Com isso, é relevante identificar quem são os estudantes desse novo curso e quais

são suas expectativas em relação ao curso, ou seja, quais usos pretendem fazer

dessa formação em suas vidas, que carreiras pretendem seguir. Também seria de

interesse da Universidade ter acesso a esses dados para identificar lacunas no

curso e assim, promover melhorias.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O Curso de Administração no Brasil

O início do ensino superior no Brasil foi considerado tardio. Registros da história do

Brasil atribuem a Universidade Federal do Rio de Janeiro como sendo a primeira

universidade criada no Brasil em 1922. Segundo Buarque (2003) embora já

existissem no país diversos cursos de ensino superior, em razão da visita do Rei

Leopoldo, da Bélgica ao Brasil, para que lhe fosse concedido o título de Doutor

Honoris foi criada a primeira universidade brasileira.

A Universidade Pública Federal, em suas primeiras décadas de criação, foi produto

de apoio estatal. Ao longo das décadas essa instituição passou por severas crises

devido ao fim do protecionismo estatal, mas ainda sim a comunidade universitária

continuava a crescer, abrindo novos cursos, oferecendo vagas, pesquisando,

publicando e inovando (BUARQUE, 2003).

O primeiro curso de administração no Brasil data de 1941 com a criação da Escola

Superior de Administração de Negócios em São Paulo – ESANSP (CFA, 2011).

Observa-se uma proliferação de cursos de ensino superior no Brasil. Muitas

instituições privadas surgiram para atender a demanda de estudantes. De acordo

com a Sinopse Estatística da Educação Superior de 2012, havia no Brasil nesse ano

o total de 2.416 instituições de educação superior. Desse número, 304 são

instituições públicas contra 2.112 instituições privadas. (INEP, 2012).

Essa grande expansão das universidades particulares, observada por Buarque

(2003), foi financiada por recursos particulares e públicos, financiamentos estes

frequentemente vinculados a interesses econômicos em detrimento à liberdade de

espírito que cabe a universidade prover.

A Universidade vem passando por um processo de mudanças, procurada, muitas

vezes como meio de formação para atender às necessidades do mercado de

trabalho.

Sobrinho (2005) também alerta para a transformação da Universidade como um

instrumento com finalidade de atender aos interesses dos setores produtivos.

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Segundo ele, a Universidade não deve colaborar para reduzir a sociedade ao

mercado, como se ambas fossem equivalentes.

De acordo com Bertero (2007), têm sido criados muitos cursos de administração no

país de forma desordenada e nem sempre com qualidade. Esse crescimento não é

observado em países desenvolvidos e uma possível causa desse comportamento no

Brasil seria a facilidade de se abrir novos cursos visto o pouco investimento em

ativos fixos e a possibilidade de se realizar o curso em meio período, favorecendo o

crescimento de cursos noturnos.

Castro (1974) já atentava para a questão da formação dos administradores àquela

época. O autor mostra em seus estudos que os cursos de administração formam

basicamente dois tipos de profissionais: um seria “técnico em administração”,

definido por ele como profissionais cuja formação é associada ao dia-a-dia em sua

ocupação. Ou seja, um profissional que seria responsável pela implantação de

métodos mais eficientes de realizar qualquer atividade administrativa. O outro

conceito definido pelo autor é o de “decision-maker”. Esse profissional demanda

mais atributos pessoais do que propriamente uma formação universitária, seria uma

pessoa que tem uma visão mais ampla, com grande capacidade de julgamento.

Esses dois tipos de profissionais demandam perfis, qualidades e conhecimentos

diferentes, por isso o autor sugeriu uma reformulação na estrutura e funcionamento

dos cursos de administração.

2.1.1 O curso de Administração da UFES

O departamento do curso de administração da UFES faz parte do Centro de

Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE). O curso é oferecido na modalidade

presencial nos turnos diurno e noturno.

O curso de administração noturno pode ser considerado novo e teve seu início no

segundo semestre de 2009. O curso noturno foi implementado graças a uma

iniciativa gerada pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão

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das Universidades Federais (REUNI)1 . Esse plano faz parte de uma das ações do

Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) desenvolvido pelo Presidente da

República, em 24 de abril de 2007. O intuito dessa iniciativa era de expandir as

vagas das Universidades Federais, dando mais acesso e garantindo a permanência

dos estudantes (PROPLAN).

Com o REUNI, vários cursos da UFES tiveram suas vagas ampliadas, inclusive o

curso de Administração que conseguiu oferecer a modalidade noturna.

Pode-se verificar com o gráfico abaixo o aumento das vagas dos cursos noturnos da

UFES antes do REUNI em 2006 e após o REUNI em 2011:

Figura 1 – Evolução das vagas dos cursos noturnos Fonte: PROPLAN Assim, através do REUNI o curso de administração noturno pôde ser oferecido pela

UFES, dando mais oportunidades para alunos que queiram estudar na modalidade

noturna. O curso noturno tem duração de 4,5 anos diferente do matutino que tem

duração de 4 anos. Algumas diferenças também são encontradas na matriz

curricular desses dois cursos. A matriz curricular do curso noturno aparece como

apêndice desse trabalho.

1 O REUNI foi instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007.

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De acordo com o PPC2 (2008) o curso espera um perfil de alunos que trabalhem

durante o dia que busquem uma educação continuada com aplicabilidade na sua

carreira profissional.

Os ítens a seguir apresentam algunas considerações sobre carreira e oportunidades

de trabalho para o profissional de administração.

2.2. Carreira e Oportunidades de Trabalho

2.2.1 Carreira

A noção de carreira surgiu a partir do século XIX e sua definição moderna quer dizer

um ofício que passa por etapas, uma progressão. Enquanto na Monarquia não se

permitia a mobilidade social, com o advento da sociedade industrial capitalista liberal

o sucesso não está mais ligado à passagem entre classes sociais, sendo então

relacionado ao êxito individual, liberdade e progresso econômico e social. Assim

surge o sentido moderno de carreira (CHANLAT, 1995).

O mercado de trabalho vem passando por diversas modificações nos últimos

tempos. Nota-se cada vez menos, o desenvolvimento de carreiras sólidas e

estáveis. Por outro lado as pessoas investem mais na profissionalização em busca

de empregos sólidos que estão mais escassos.

O conceito de carreira tem passado por transformaçôes de acordo com as

mudanças vivenciadas pela sociedade e consequentemente no mercado de

trabalho.

Arthur e Rousseau (1996, apud CAVAZOTTI et al, 2012, p. 165) atentam para o

declínio da carreira organizacional, na qual o rumo da carreira é definido pela

organização. Essa configuração de carreira atingiu seu auge entre o pós-guerra e os

anos 1970. A ascensão profissional dentro da carreira estava vinculada à

organização na qual trabalhavam e as pessoas geralmente planejavam sua carreira

em uma única empresa. Esse tipo de carreira foi dando lugar, a partir dos anos

2 Projeto Pedagógico do Curso de Administração Noturno da UFES de 2008.

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1980, à chamada carreira sem fronteiras entendida como trajetória individual

traçada não mais pela empresa, e sim pelo próprio indivíduo, baseada em suas

experiências profissionais em diversas organizações, na qual existe uma relação

independente entre a organização e o empregado. Nessa nova configuração, os

indivíduos passam a ser responsáveis pela gestão de suas carreiras.

Outro conceito de carreira similar à carreira sem fronteiras é definida por Hall e Moss

(1998 apud CAVAZOTTI et al, 2012 p. 165) como carreira Proteana. O termo

referencia o deus Proteu da mitologia grega, o qual tinha a capacidade de se

apresentar de diversas formas. Os autores postulam estar a carreira proteana de

acordo com o novo contrato psicológico estabelecido entre indivíduo e organização,

no qual a segurança de longo prazo dá lugar à volatilidade de curto prazo em um

relacionamento que seja satisfatório para ambos os lados. A continuidade dessa

relação vai depender do desempenho do trabalhador de um lado e por outro lado

das trocas transacionais nas quais a empresa deve oferecer oportunidades

recompensatórias ao funcionário.

Segundo Hasembalg (2003, apud ROCHA-DE-OLIVEIRA; PICCININI, 2012, p. 46),

no Brasil, a partir da década de 90 houve um significativo aumento do número de

pessoas que alcançaram o ensino superior. Se por um lado aumenta-se a formação

profissional, por outro há uma redução de contratos de trabalho formais em

detrimento do aumento da oferta de trabalhos informais e com contratos flexíveis,

mostrando que há uma desconexão entre as estruturas educacional e ocupacional.

2.2.2 Oportunidades de Trabalho

De acordo com uma pesquisa divulgada em 2011 pelo Conselho Federal de

Administração (CFA), os estudantes são atraídos pela formação generalista e

abrangente do curso de administração e a existência de um amplo mercado de

trabalho.

O mesmo estudo traz uma evolução da carreira do administrador desde 1969 até

2011. O gráfico a seguir produzido pela CFA mostra uma função do cargo com o

tempo de formação.

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Figura 2- Evolução da carreira do administrador de 1969 a 2011

Fonte: CFA (2011)

Esse gráfico mostra como o tempo de carreira tem importância na evolução do cargo

sendo a posição de gerente a mais frequente e como posições mais secundárias

como a de auxiliar e analista se encontram em ascensão nos últimos anos.

Esse quadro, no entanto, não representa todos os administradores. Em uma

pesquisa com alunos formados da UFES, Petinelli-Souza (2011) constata que

muitos formados em administração não conseguem exercer sua profissão. Se por

um lado o mercado é amplo, a formação generalista do administrador pode ser um

fator que dificulta a sua inserção no mercado de trabalho, fazendo com que os

formados em Administração, muitas vezes não atuem como Administradores e

frequentemente exerçam atividade laboral fora da área de atuação.

A pesquisa da CFA (2011), no tocante ao perfil do Administrador revela que a

maioria estaria atuando na Administração Geral (28,8%), em segundo lugar, os

administradores estariam alocados na área financeira (13,25%). A pesquisa não

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especifica exatamente a que cargos se relacionam a área “Administração Geral”,

estando seu entendimento um pouco vago.

Figura 3- Áreas de atuação do Administrador 1994 a 2011

Fonte: CFA (2011)

Por outro lado, em relação aos empregadores, a pesquisa mostra que apesar de a

maioria relatar que os administradores de suas empresas estariam alocados

também na área de Administração Geral (42,26%), em segundo lugar (33,9%),

responderam “Não se aplica” e abaixo do gráfico pode-se ver uma explicação sobre

essa alternativa na qual compreendem empresas que não possuem

administradores.

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Figura 4- Alocação de Administradores de acordo com Empresários / Empregadores 2006 e

2011

Fonte: CFA (2011)

Essa distribuição demonstra que a área de atuação dos administradores não está

bem delineada, e que a formação genérica do curso pode ocasionar essa

distribuição irregular nas áreas de atuação.

Além disso, essa distribuição pode provocar dúvidas aos empregadores que podem

não saber em qual área eles precisam desse tipo de profissional, ou mesmo,

pensarem que não necessitam de um administrador em suas organizações.

Em relação a esse aspecto, Petinelli-Souza (2011) contribui dizendo que o curso de

administração ainda serve para atender as organizações com mão-de-obra barata e

semiqualificada, como é o caso dos estágios. Os estágios contribuem para a

precarização do trabalho, pois as organizações, muitas vezes substituem

funcionários por estagiários.

Apesar disso, os estágios ainda são considerados uma dos principais meios de

inserção profissional para os estudantes. A pesquisa realizada por Rocha-de-

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Oliveira e Piccinini (2012) com estudantes de administração, mostra que embora

nem todos os estudantes analisados se orientem para inserção em grandes

empresas, estes compartilham a ideia de que estágios em grandes empresas

oferecem mais oportunidades de aprendizado e desenvolvimento da carreira. Na

mesma pesquisa os autores relatam sobre outro grupo de estudantes que acreditam

que a rede de relacionamentos contribui para a contratação como funcionários

efetivos. Outro grupo almeja a aprovação em programas de trainee como forma de

obter um bom emprego no mercado competitivo. Quanto à carreira acadêmica, os

futuros administradores que participaram dessa pesquisa dizem que não têm

interesse devido ao fato do curso ser voltado para a formação da prática

organizacional.

Sabe-se também que muitos estudantes pensam em prestar concurso público após

a formação na universidade. Isso porque os concursos públicos oferecem além de

estabilidade, salários melhores dos que os praticados no mercado, se comparado a

salários iniciais para administradores em empresas privadas ou a salários para

cargos de nível médio, e também benefícios que muitas empresas não

disponibilizam para seus empregados. O caráter democrático também é bastante

relevante para a busca do emprego público, pois geralmente não tem limite de

idade, e como o processo seletivo é relativamente simples (aplicação de provas),

não é necessário rede de relacionamentos, fazendo com que todos os candidatos

tenham as mesmas chances.

Um estudo recente com os estudantes do curso de bacharelado em Administração

noturno da UFES mostra que a maioria dos estudantes pretende seguir carreira

pública após a graduação. Pinto (2013). A pesquisa também aponta que apesar do

interesse dos graduandos em atuar na área pública, a matriz curricular do curso está

voltada para área empresarial e apenas uma disciplina do curso é voltada para

formação de gestores públicos. Isso mostra que a matriz curricular e, portanto, a

área de foco do curso não está sendo levada em consideração na escolha do curso.

Nesse caso pode-se dizer que o interesse do estudante estaria apenas na obtenção

de um diploma em Administração para que possa concorrer as vagas no setor

público para este cargo, independente do foco da área de atuação do curso.

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Outro fato relevante é sobre a dificuldade de inserção profissional dos estudantes de

administração. No caso dos recém formados essas dificuldades podem ser ainda

maiores devido ao fato de não poderem mais concorrer a vagas de estágio, visto

que, muitas empresas preferem contratar estagiários ao invés de funcionários

efetivos, pois podem realizar uma boa parte das mesmas tarefas dependendo da

função, por um custo muito menor. Isso acaba gerando outro problema percebido

pela comunidade universitária. Esses alunos que estão em fase final de graduação

acabam protelando a conclusão do curso para não perderem a vaga de estágio,

atrasando a formatura e ocupando uma vaga no curso que poderia ser oferecida

para outro aluno.

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3. METODOLOGIA

3.1 Tipo de Pesquisa

A pesquisa pode ser considerada do tipo descritiva, pois pretende-se descrever

características próprias de um determinado grupo selecionado, no caso dessa

pesquisa, os estudantes do curso de administração noturno da UFES. De acordo

com Gil (2010), uma pesquisa descritiva tem como objetivo descrever características

de uma população, experiência ou de um fenômeno.

Com intuito de atingir os objetivos esperados, foi executada uma pesquisa do tipo

qualitativa. Esse método se justifica pela necessidade de buscar respostas mais

aprofundadas sobre as questões com menor amplitude. Para Godoy (1995), na

pesquisa qualitativa os dados encontrados devem ser analisados de forma holística,

não sendo reduzidos a variáveis e o interesse é investigar de que forma certos

fenômenos se manifestam nas atividades diárias.

3.2 Coleta e análise de dados

Como base de conhecimento para o estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica

acerca do tema proposto.

A pesquisa bibliográfica refere-se à conhecer parte da bibliografia pública sobre o

tema estudado. Utiliza-se desde publicações avulsas como periódicos, pesquisas,

monografias, teses etc, até meios orais de comunicação. Tem como finalidade

deixar o pesquisador em contato com o que já foi publicado sobre o assunto em

questão (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Para isso, utilizou-se de fontes secundárias desde publicações em revistas e anais

de congressos até livros que proporcionem uma visão sobre o assunto para buscar

casos parecidos a fim de fazer possíveis correlações. A pesquisa bibliográfica foi

realizada na Biblioteca Central da UFES e boa parte também foi encontrada em

meios eletrônicos.

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Para realização da pesquisa de campo foram aplicadas 15 entrevistas. Uma

entrevista é um encontro entre duas pessoas e tem como principal objetivo obter

informações do entrevistado acerca de um determinado tema ou questão através de

conversas de natureza profissional. É um instrumento importante em diversos

campos das ciências sociais. (MARCONI; LAKATOS, 2010).

As entrevistas aplicadas são do tipo semi-estruturadas. Esse tipo de entrevista

sugere que o entrevistador siga um roteiro previamente estabelecido. (MARCONI;

LACKATOS, 2010). Apesar do roteiro estabelecido, foi deixado aberto o diálogo

entre as partes, para melhor compreensão das percepções dos alunos. Para se

chegar aos resuldados as respostas foram comparadas e as mais parecidas foram

agrupadas. Com isso pretende-se identificar o perfil do grupo entrevistado e tentar

responder às questões que emergem desse estudo.

O roteiro de entrevistas foi composto de duas partes. A primeira refere-se a

questões fechadas com o objetivo de identificar o perfil dos entrevistados (perguntas

de 01 a 07). A segunda parte é composta de perguntas abertas (de 08 a 17) com a

possibilidade de diálogo entre as partes para que haja melhor entendimento das

questões.

3.3 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos desse estudo são 15 (quinze) estudantes do curso de administração

noturno da UFES que estejam cursando o último ou penúltimo período do curso.

Essas turmas de aproximadamente 30 alunos cada, foram selecionadas pois já

estão terminando o curso. Assim, esses alunos já possuem experiência suficiente no

curso para avaliar se suas expectativas foram atingidas ou não, e também para

saber se estão satisfeitos ou não com a formação que estão obtendo.

A seleção dos alunos foi feita pela facilidade de acesso a eles e as entrevistas

foram realizadas em horários nos intervalos entre aulas na própria universidade. As

entrevistas foram realizadas entre os dias 17 e 28 de fevereiro de 2014.

Após a realização da pesquisa, foi feita a análise dos dados obtidos a partir da

tabulação destes decorrentes das questões fechadas e da leitura das respostas das

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questões abertas. Para tanto foi proposto a realização de um agrupamento de

respostas comuns dos entrevistados a fim possibilitar a análise e interpretação das

respostas encontradas. Assim, a análise de dados foi feita criando-se categorias que

foram consideradas mais relevantes para a pesquisa.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

O presente capítulo é composto da análise das entrevistas realizadas. Para isso

foram construídas categorias a partir das temáticas de maior relevância para este

estudo.

Foram selecionados também alguns trechos das entrevistas com a finalidade de

melhor exemplificar as questões levantadas. Os mesmos foram reproduzidos com

pequenas adaptações devido aos vícios de linguagem, sem que a mensagem fosse

alterada. Os trechos foram identificados pela letra “E” seguido do número atribuído

ao entrevistado. Para melhor visualização, foi produzida uma tabela com o perfil

básico dos respondentes que tiveram suas falas destacadas.

Respondente

Gênero

Idade

Estado

Civil

Situação

Empregatícia

Ramo de

Atividade

E 1

Feminino

28

Solteira

Empregada

empresa

privada

Serviços

E 7

Masculino

23

Solteiro

Empregado

empresa

privada

Indústria

E 9

Masculino

31

Solteiro

Empregado

empresa

privada

Indústria

Tabela 01 – Perfil dos respondentes citados

Fonte: autoria própria

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4.1 Perfil dos estudantes entrevistados

Para essa categoria, levaram-se em consideração as perguntas fechadas e abertas

da entrevista com o objetivo de traçar um perfil sobre os entrevistados. Devido ao

pequeno número da amostra, o perfil encontrado não pode ser levado em

consideração para a análise do perfil do estudante de administração da UFES, e sim

em relação ao perfil dos respondentes dessa pesquisa.

Analisando o perfil encontrado na pesquisa, de acordo com as perguntas objetivas

pode se inquirir que a maioria dos participantes são estudantes jovens, com idade

entre 18 e 25 anos, solteiros, entre homens e mulheres, a maioria cursando o oitavo

período (regular ou desperiodizado) do curso de Administração.

Quanto ao período que se encontram os respondentes, a maioria afirmou que estão

no oitavo período ou no oitavo período desperiodizado, pois alguns estão com

algumas disciplinas em atraso. Três dos respondentes estão no nono período. Essa

diferença ocorreu devido à disponibilidade de mais alunos do oitavo período do que

do nono, pois no nono período assume-se que os alunos estejam cursando apenas

a disciplina referente ao trabalho de conclusão de curso, não sendo necessário o

comparecimento a aulas no campus, apenas à orientação com o professor.

A pesquisa mostrou que a maioria dos respondentes (9) estão empregados em

empresas privadas e trabalham no ramo de serviços, sendo baixo o número de

pessoas que não estão empregadas, apenas uma, assim como o número de

estagiários.

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24

3

1 1 9 Empresa Privada

Empresa Pública

Estagiário

Desempregado

Gráfico 01 – Situação Empregatícia Fonte: autoria própria Essa informação reforça uma característica peculiar ao curso noturno, de ter como

principal público pessoas que já exercem alguma atividade remunerada durante o

dia e só podem estudar à noite. Nota-se também que 3 respondentes já trabalham

no setor público.

Quanto ao setor do mercado de trabalho que os estudantes estão alocados, desca-

se o setor de serviços, com 6 entrevistados, conforme gráfico a seguir:

4

64

Comércio

Indústria

Serviços

Gráfico 02 – Ramo de Atividade

Fonte: autoria própria

Page 25: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

25

Esses dados vêm ao encontro dos dados obtidos em pesquisa do MTE, (2011) que

apontam que o setor de serviços é o que mais cresce no Brasil, sendo o que mais

contratou em 2010. De acordo com a pesquisa, 37,2% dos empregos formais

gerados no ano de 2010 na região Sudeste foram do setor de serviços.

Figura 5 – Distribuição dos empregos formais por setor de atividade econômicaBrasil e Grandes Regioões 2010 (em %)

Fonte: MTE, (2011)

Em relação à área na qual os entrevistados exercem sua atividade, foram

identificadas cinco áreas ou departamentos nos quais os respondentes realizam

suas atividades. A maioria (05 pessoas) respondeu que exerce atividade na área

administrativa entre atendimento ao cliente, seviços de secretaria, auxiliar

administrativo e administração geral. Duas pessoas trabalham na área operacinal,

duas trabalham na produção, duas trabalham na área financeira e uma pessoa

trabalha com vendas. Os demais trabalham na área de comércio exterior e logística.

Quanto à faixa salarial, a maioria dos estudantes recebem entre 2 e 4 salários

mínimos (47%), portanto entre R$ 1.448,00 e R$ 2.896,00, com base no valor do

salário mínimo em 2014 (R$ 724,00).

Portanto, quanto ao perfil dos estudantes entrevistados, pode se dizer que são

pessoas que já estão no mercado de trabalho e foram buscar na universidade uma

formação acadêmica com o intuito de melhorar sua situação empregatícia através do

aprimoramento profissional.

Page 26: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

26

4.2 Expectativas profissionais

A partir dessa etapa não foram dadas opções de respostas aos entrevistados para

interpretar as perguntas abertas da entrevista. Num primeiro momento, tentou-se

identificar fatores comuns nas falas dos alunos entrevistados com o intuito de

perceber quais afirmações apareceram com mais frequência. Em seguida, focou-se

atenção para as afirmações mais singulares.

4.2.1 Expectativas no início do curso

Em consonância com a pesquisa divulgada em 2011 pelo Conselho Federal de

Administração (CFA), os estudantes pesquisados mostraram-se atraídos pela

formação generalista e abrangente do curso de administração, e também pela

possibilidade do concorrer a vagas de curso superior em concursos públicos.

Em sua maioria, os respondentes afirmaram que as expectativas profissionais em

relação ao curso, no início, eram de que o curso contribuísse para a aprovação em

algum concurso público. Também relataram que esperavam que o curso abrisse

mais oportunidades no mercado de trabalho. Em terceiro lugar apareceu como

expectativa aprender a administrar o próprio negócio. Apenas um aluno respondeu

que gostaria de se tornar gestor e um outro respondente relatou o desejo de seguir

carreira acadêmica. Essa mesma pessoa disse que desistiu da carreira acadêmica,

optando por concurso público. Alguns respondentes citaram mais de uma

expectativa.

Segue um trecho de um dos relatos:

“Achei que iria abrir mais portas do que realmente abriu. Apareceu mais chances

para estágios do que emprego de verdade. Também achava que iria contribuir para

abrir meu próprio negócio”. (E7)

Essa fala demonstra o que Petinnelli-Souza (2011), afirmou sobre o curso de

administração servir para atender organizações com mão-de-obra barata e

semiqualificada através de estágios. O respondente em questão relata sobre a

Page 27: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

27

quantidade de ofertas para vagas de estágio em detrimento de vagas de emprego

com carteira assinada.

Esse é também um problema identificado no curso noturno, pois se por um lado os

estágios são considerados um dos principais meios de inserção profissional para os

estudantes, assim como aponta Rocha-de-Oliveira e Piccinini (2012). Por outro, para

esses estudantes entrevistados considera-se difícil abandonar o emprego formal,

que conforme visto no perfil dos entrevistados já proporciona uma renda regular

capaz de arcar com as despesas individuais, trocando esse emprego por estágios

que podem ou não contribuir para adquirir experiência na área e também auxiliar na

inserção profissional.

4.2.2 Expectativas ao final do curso

Viu se que 16 entrevistados relataram que as expectativas profissionais atuais

continuam as mesmas em relação ao início do curso e o restante relatou que mudou

de opinião em relação às expectativas no início do curso. A maioria relatou que a

principal expectativa no momento é ser aprovado em um concurso público. Duas

respostas apareceram em segundo lugar. A primeira foi de seguir carreira em

alguma área da administração e a outra foi sobre o interesse de abrir um negócio

próprio. Uma pessoa respondeu que não quer seguir carreira na área e sim

continuar no mesmo emprego. Outro aluno relatou não possuir nenhuma expectativa

profissional em relação à formação que está obtendo. Essa fala talvez se refira à

falta de expectativas de melhoria de emprego, ou seja, o aluno acha que vai

continuar no mesmo emprego e que sua situação não irá melhorar com a conclusão

da graduação. Apesar disso, pretende concluir o curso, pois deseja obter o diploma

de curso superior.

Durante as entrevistas, percebeu-se que os alunos enxergam no concurso público

uma oportunidade de melhorar de salário e de ter uma estabilidade profissional.

Esse resultado está de acordo com a pesquisa de Pinto (2013). Em sua pesquisa

com os estudantes do curso de bacharelado noturno na UFES a autora concluiu que

a maioria pretendia seguir carreira pública. Percebe-se que esse pensamento, no

Page 28: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

28

entanto, é contraditório em relação aos conceitos de carreira que estão se

projetando na atualidade, como o conceito de carreira proteana, no qual a segurança

de longo prazo dá lugar à volatilidade de curso prazo, segundo Hall e Moss (1998

apud CAVAZOTTI et al, 2012 p.165). Por isso, conclui-se que apesar de as relações

de trabalho e os conceitos de carreira estarem mudando, essas pessoas continuam

com a noção de empregos que gerem segurança e estabilidade que estejam

associados a “bons” salários.

Outro aspecto relevante vem do relato de pessoas que gostariam de ter o seu

próprio negócio, mas que não se sentem preparadas para isso. Notou-se que

algumas pessoas tinham essa pretensão no início do curso, mas ao final já não

pensavam mais nisso. Isso pode ser associado ao fato de que o curso não possui

em sua matriz curricular disciplinas que ensinem o empreendedorismo como pode

ser comprovado ao se analisar a matriz curricular do curso.3

Observou-se, pois, um desapontamento de alguns alunos em relação a isso, o que

vem comprovar que os estudantes não procuram conhecer os objetivos do curso

antes de ingressar neste, tampouco sua matriz curricular, mesmo quando já estão

matriculados e cursando as disciplinas.

Nesse sentido, o que pode ser considerado ainda é que os alunos ingressam na

universidade e no curso de administração, em sua maioria, ainda sem maturidade

em relação à escolha profissional, num mero movimento de acesso ao ensino

superior, visando o mercado de trabalho.

4.3 Satisfação com o curso

A maioria dos entrevistados, 53,3%, relatou não estar satisfeito com o curso, 26,6%

respondeu positivamente e 20% respondeu que está parcialmente satisfeito com o

curso.

Em relação às críticas, as seguintes justificativas foram encontradas para a

insatisfação: A primeira é que não estão satisfeitos, pois a formação é voltada para a

área acadêmica ou para gestão de grandes empresas. Os alunos afirmaram que a

3 Ver Matriz Curricular do Curso de Administração Noturno – Apêncice 2.

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29

universidade dá muito valor para pesquisa e a maioria não tem interesse na área

acadêmica.

Outra crítica refere-se ao fato de o curso não ser voltado para a área de

empreendedorismo, desapontando aqueles que gostariam de administrar um

negócio próprio. Também foi relatado que o ensino de disciplinas da área de exatas

como matemática, estatística e contabilidade é “fraco” e que essas disciplinas não

estão sendo oferecidas com o olhar de administrador, ou seja, que eles não estão

tendo o aproveitamento que deveriam ter para a área de administração. Os alunos

reclamam que professores da engenharia, muitas vezes, estão sendo colocados

para ministrar essas disciplinas, desmotivando os alunos, pois estes não veem

aplicação dessas disciplinas na administração. Assim, muitos alunos acabam

reprovando nestas.

A seguir um trecho de uma das respostas :

“Não estou satisfeita, porque achei que o curso me formaria como uma futura

empreendedora e não foi isso que aconteceu, você aprende um pouco de tudo, mas

no final do curso você vê que você não sabe nada. Não me sinto apta para

administrar nada”. (E1).

A fala anterior mostra a insatisfação em relação à falta de disciplinas voltadas para

o empreendedorismo e também é uma crítica à formação generalista do

adminstrador. O CFA em Manual do Administrador prevê uma ampla atuação do

administrador dividindo o campo de atuação profissional em oito tipos de atividades:

Administração Financeira; Administração de Materiais/Logística; Administração

Mercadológica/Marketing; Administração da Produção; Administração e Seleção de

pessoal/Recursos Humanos; Relações Industriais; Orçamento; Organizações,

Sistemas e Métodos e Programas de Trabalho; e ainda outros campos conexos que

inclui Administração Rural, Hoteleira e outros (CFA, 2006).

Se por um lado essa formação promove uma visão ampla do mercado e das

corporações, o que contribui para a atuação no mercado de trabalho, por outro lado

a falta de especialização gera dúvidas sobre qual é realmente o papel de um

administrador e em quais áreas ele pode atuar, de forma que a sua formação

realmente faça diferença na execução de um tipo de atividade.

Page 30: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

30

Outro trecho de um entrevistado:

“Não foi totalmente perdido, mas eu esperava mais. Acho que a grade atrapalha

bastante, ficando acadêmico demais e pra mim se torna pouco funcional.” (E7)

Outra reclamação que chamou atenção sobre o curso é que os estudantes não

estão satisfeitos pois o ensino é muito teórico faltando a prática. Essa é uma

questão antiga no curso de administração. Castro (1974) questionava sobre o ensino

de administração. O autor explica que o ensino superior seria uma combinação de

disciplinas teóricas e aplicadas, mas critica o excesso de tempo consumido em

definições e memorizações de conceitos das disiciplinas, numa tentativa dos

professores de aumentar o status das disciplinas aplicadas.

Com a fala de E7 também pode-se refletir sobre a transformação do papel da

universidade na sociedade. Sobrinho (2005) faz um alerta para essa transformação.

Segundo o autor, a universidade não deve apenas atender os interesses dos setores

produtivos, não deve colaborar para reduzir a sociedade ao mercado, como se

ambas fossem equivalentes.

A questão é que após o ensino médio, os estudantes estão sendo “empurrados”

para as universidades, pois devido à alta competitividade do mercado, cada vez

mais os jovens querem estar preparados para conseguir “boas” colocações. No

entanto, o mercado, em contrapartida, oferece, na maioria das vezes, cargos que

não necessariamente devem ser exercidos por pessoas com ensino superior. Daí

vem a demanda desses alunos por cursos “práticos” e menos conceituais, também

chamados pelos alunos de “teóricos”.

Vale, nesse caso, refletir sobre a real necessidade de se concluir um curso superior,

quando o mercado está demandando conhecimentos que podem ser adquiridos no

ensino técnico e profissionalizante. Então, por que realizar um curso superior? Essa

é uma questão que pode ser utilizada para futuras pesquisas nessa área. Segue

seguir uma tabela retirada do MTE4 sobre as ocupações que mais geraram

empregos formais no Brasil em 2010:

4 Ministério do Trabalho e Emprego.

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31

Figura 6 – Relação das 20 ocupações que mais geraram empregos formais no Brasil em 2010

Fonte: MTE, (2011)

Com essas informações percebe-se que a quantidade de vagas para cargos de nível

médio é superior à quantidade de vagas para ocupações que exijem curso

universitário. Entretanto, os salários para essas atividades de nível médio não são

satisfatórios, já que essas atividades não são muito valorizadas no mercado de

trabalho brasileiro. Assim, as pessoas que almejam melhores salários partem para o

curso superior no intuito de conseguir melhores oportunidades.

Em pesquisa realizada através do website do SINE5, verificou-se que na data da

pesquisa (08 de agosto de 2014) não havia nenhuma vaga para administrador de

empresas no estado do Espírito Santo. Não foi feita uma pesquisa mais aprofundada

5 Sistema Nacional de Empregos.

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32

sobre o quantitativo de vagas para administrador no estado do Espírito Santo, mas

com isso pode-se ter uma noção de quão escassa está a oferta de empregos para o

cargo específico de administrador no estado. Esse assunto pode servir de base para

pesquisas futuras sobre o mercado de trabalho no estado.

Como o número de vagas de emprego não condiz com a quantidade de pessoas

formadas, muitos administradores acabam não exercendo a profissão para a qual

estudaram, e talvez, dessa insatisfação é que venha o desejo de ter um negócio

próprio. A questão do empreendedorismo nem sempre surge da afinidade, podendo

surgir com a necessidade de sobrevivência.

Em sua fala um aluno diz:

“Estou satisfeito, porque estou aprendendo, já tentei fazer administração diurno e

não consegui me formar, agora com o curso noturno estou tendo oportunidade de

terminar.” (E9).

Os que responderam positivamente sem críticas negativas afirmam que estão

satisfeitos, pois estão adquirindo conhecimentos variados que já estão sendo

colocados em prática no trabalho e também estão satisfeitos, pois o curso oferecido

à noite proporcionou uma oportunidade de concluir o curso superior.

4.4 Pensando no futuro

Acerca das indagações sobre o futuro profissional dos estudantes de administração,

percebeu-se que a maioria refletia bastante antes de responder, muitos ficaram em

dúvidas sobre o que dizer. Em geral, os entrevistados não mostraram objetividade

nas respostas. Isso mostra que os estudantes não possuem o hábito de fazer

planejamento de carreira, de pensar sobre o futuro profissional.

Como planos profissionais para depois de formado, a maioria apresentou como

principal plano estudar para concursos públicos, seguido da resposta que aponta

para continuar na empresa na qual trabalha atualmente, enquanto procura uma

colocação melhor. Por último, apareceu resposta voltada para a continuação dos

estudos, cursando uma especialização ou mestrado. Ou seja, os estudantes

Page 33: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

33

enxergam que apesar de formados, ainda não estão preparados para o mercado de

trabalho e que necessitam continuar investindo nos estudos para alcançar a

colocação almejada.

Em relação à área que pretendem atuar, os entrevistados mostraram dificuldade em

associar a prática administrativa com as áreas de atuação, por isso houve uma

tendência a associar as possibilidades de carreira às disciplinas do curso. Mesmo

assim, a maioria respondeu que pretende trabalhar em qualquer área da

administração. A justificativa mais utilizada para essa resposta foi a de terem mais

oportunidades, principalmente em concursos públicos. Por exemplo, muitos cargos

de concurso público exigem curso superior em qualquer área de formação.

Outros possuem o cargo para pessoas formadas em administração, mas nas

atribuições do cargo a área de atuação não é muito bem delineada. Por isso, os

alunos relataram que qualquer área é uma possibilidade, pois para eles o importante

é conseguir passar em um concurso, independente da função que irão exercer,

mesmo se essa atividade não for muito interessante. Apesar disso, algumas áreas

de interesse foram citadas pelos entrevistados: gestão de pessoas; logística;

financeiro; gestão (que pode ser entendida aqui como algum cargo de gerência) e

marketing.

Pode-se perceber também que a área de interesse, geralmente esta ligada à

atividade que o entrevistado exerce na empresa onde trabalha atualmente.

4.4.1 Como alcançar os objetivos

Quando indagados sobre de que forma pretendem alcançar os planos profissionais,

a maioria dos entrevistados disse que pretende fazer cursos de aperfeiçoamento

profissional, que incluem especializações nas áreas escolhidas, cursos de línguas e

treinamentos diversos que os auxiliem a alcançar os objetivos traçados.

Em segundo lugar, os respondentes relataram que pretendem estudar em algum

cursinho preparatório para concurso. Em terceiro, a estratégia utilizada seria o

estreitamento de contatos interpessoais para conseguir melhorar a situação

empregatícia. E apenas um respondente citou que além de estudar para concurso

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34

pretende reunir recursos financeiros para montar seu próprio negócio. Segue abaixo

um trecho da fala desse entrevistado:

“Pretendo estudar, fazer cursinho. Com a estabilidade de concurso público eu

consigo juntar pra aí investir em uma coisa própria. Ainda não defini no que vou

investir, só sei que vai ser comércio.” (E7).

Nessa questão fica evidenciado como parte dos entrevistados não se preocupou em

realizar um planejamento de carreira nem como poderia fazer para alcançar os

objetivos traçados. Esse trecho citado mostra como as ideias são vagas e sem

sustentação. As pessoas têm vários objetivos, mas observou-se uma falta de

delimitação de algum objetivo específico, faltando foco. A fala do respondente em

questão revela que a pessoa deseja abrir o seu próprio negócio, mas ainda não

sabe qual negócio.

Fazer outro curso de graduação não é um desejo da maioria dos entrevistados.

Entretanto, um dos entrevistados já está cursando engenharia de produção. Os que

disseram “talvez” têm interesse nos cursos de engenharia civil, engenharia de

produção, publicidade e educação física.

Notou-se nessa questão que os entrevistados estão bastante exaustos com os

estudos, e a ideia de fazer um outro curso de graduação foi recebida com certo

repúdio por alguns. Os que disseram talvez, apesar do interesse em cursar outra

faculdade para ter mais oportunidades do que no curso de administração,

confessaram que estão cansados. Fica óbvio que a rotina de trabalho e estudo

acaba minando certas inclinações dos estudantes a buscar realização em uma nova

formação acadêmica.

Sobre realizar algum curso de pós-graduação, a maioria dos entrevistados mostrou

interesse. As áreas de interesse identificadas foram: em primeiro lugar a área de

logística, em segundo Gestão de Pessoas e Finanças e por último Marketing, Teoria

das Organizações e Gestão de Projetos. Essas respostas mostram que apesar de

todas as insatisfações em relação ao curso, os estudantes pretendem dar

continuidade aos estudos em um curso de pós-graduação, seja ele uma

especialização, mestrado ou doutorado, assim eles poderão estudar o que

Page 35: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

35

realmente apreciam e serem especialistas em algum assunto, já que o curso de

administração é tão generalista.

No entanto obseva-se uma contradição para alguns, pois se a maioria trabalha em

período integral, como conciliar um curso de mestrado ou doutorado, que na maioria

das vezes, exige dedicação exclusiva? Esse tipo de formação exige tempo

disponível para dedicação aos estudos. Talvez, uma solução para esses alunos seja

uma especialização aos finais de semana ou cursos à distância.

4.4.2 Vida profissional no longo prazo

Uma útima questão realizada nas entrevistas tratava sobre como o aluno imagina

sua vida profissional daqui a dez anos. Pela reação das pessoas, notou-se por mais

de uma vez que os entrevistados não estão realizando planejamento em relação à

vida profissional. Percebeu-se também pelas respostas obtidas que as ações que as

pessoas estão tomando ou que pretendem tomar não estão alinhadas com o

objetivo profissional traçado para daqui a dez anos. Por exemplo, pode-se citar o

respondente E7: o entrevistado sonha em ter o seu próprio negócio, mas que ao

mesmo tempo quer estudar para concurso e depois de concursado quer reunir

recursos financeiros para montar o seu próprio negócio o qual ele ainda nem definiu

em qual área de atuação será. Esses objetivos parecem mais sonhos do que

realmente planos.

Nesse questionamento muitos entrevistados fizeram uma relação com a pergunta

sobre as expectativas profissionais. A maioria citou que pretende encontrar-se

trabalhando no setor público, onde possam ter estabilidade profissional e obter um

bom salário. Todos os entrevistados se imaginaram como tendo alcançado os

objetivos traçados.

Page 36: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

36

5. CONCLUSÃO

O diálogo com os estudantes selecionados foi bastante interessante e positivo para

os dois lados (entrevistados e pesquisadora). Notou-se que os entrevistados se

sentiram à vontade em falar e alguns encararam como uma forma de desabafo, uma

autoanálise e até uma espécie de reflexão sobre o caminho percorrido durante o

curso, como uma forma de começar a pensar sobre o futuro.

Os questionamentos feitos aos alunos proporcionaram a eles e ao entrevistador

momentos de reflexão sobre suas vidas profissionais e sobre a vida acadêmica.

Em relação às expectativas profissionais, que é o foco dessa pesquisa. Pode se

concluir que as expectativas identificadas no início do curso são praticamente as

mesmas ao final deste. A maioria já pensava em fazer concurso público no início do

curso e ao final continuam com esse mesmo objetivo. Também se notou uma certa

insatisfação por parte daqueles que sonhavam em abrir seu próprio negócio e

esperavam que o curso lhes fornecessem ferramentas para isso, o que não ocorreu

devido ao fato da matriz curricular não oferecer conteúdos voltados para essa

prática.

Em geral, o curso é visto pelos próprios alunos como sendo um curso bastante

conceitual, voltado para o exercício da administração em grandes corporações e

enfatizam que em momento algum do curso foi incentivado o empreendedorismo.

Outros alunos se mostraram insatisfeitos também pelo fato de perceberem que o

curso não ofereceu disciplinas “práticas” com as quais eles pudessem aprender

assuntos da rotina do trabalho em si, que pudessem utilizar em suas atividades

laborais. Talvez essa necessidade dos alunos por disciplinas práticas poderia ser

suprida pelos cursos técnicos, tecnólogos ou profissionalizantes. Já que há uma

demanda do mercado por profissionais com formação técnica e um anseio dos

estudantes de saírem da universidade com uma profissão.

Com isso, percebe-se que os estudantes estariam buscando por uma formação mais

técnica do que universitária. Como visto anteriormente, os cursos de administração

têm formado ou técnicos administrativos ou executivos de grandes empresas. No

curso de admistração da UFES, o que foi percebido pelos alunos seria um misto

Page 37: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

37

desses dois tipos de formação. Percebeu-se que ao final do curso, o aluno não se

sente preparado nem como técnico, nem como gestor, e ainda possui muitas

dúvidas sobre onde pode “se encaixar” no mercado de trabalho.

Isso pode ocorrer devido ao fato de que as pessoas ingressam na universidades

com a ilusão de que sairão dali aptas para o mercado de trabalho. Alguns cursos

podem ser considerados mais práticos, como por exemplo o curso de medicina, no

qual o aluno sai médico, mas mesmo esse curso necessita ainda de um período de

residência para o médico poder atuar em sua profissão. Isso quer dizer que outras

profissões também necessitam de experiência profissional, apenas obter o diploma

não é suficiente.

Por isso o desânimo de outros, que afirmaram que o diploma não terá muita

serventia, pois eles pensam que o que realmente é levado em consideração para

conseguir uma vaga de emprego é a experiência na área e não a graduação que se

obteve na universidade. Talvez uma solução para isso teria sido os alunos

experimentarem diferentes áreas, atuando em estágios. Porém, no caso dos alunos

entrevistados, deixar seus empregos regulares com carteira assinada, por um

estágio no qual ganhariam salários inferiores não era uma opção desejável para

eles. Não pensam, nem agem estrategicamente, pois às vezes, é preciso recuar

para depois avançar, tanto na gestão organizacional, quanto nas tomadas de

decisão da própria vida. Os ganhos futuros talvez valham muito para aqueles que

conseguem arriscar e ousar, deixando-se crescer profissionalmente para além de

certos momentos de segurança profissional.

O fato de optarem por concurso público pode ser relevante ao deparar-se com um

mercado que não está absorvendo o número de profissionais formados em

administração. Assim, sem muitas perspectivas de conseguir um emprego

satisfatório, os estudantes enxergam nos concursos públicos a maneira mais

simples de conseguir uma colocação com uma remuneração razoável e

principalmente pelo fato de proporcionar estabilidade.

Outro fator a ser considerado é que qualquer pessoa que tenha os requisitos

necessários para ocupar a vaga oferecida por um concurso público pode concorrer a

ela de forma justa e democrática, diferentemente de vagas em empresas privadas,

as quais podem ser preenchidas, muitas vezes, devido à rede de relacionamentos,

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38

ou que pode restringir a um determinado perfil procurado pela empresa (perfil

comportamental, estético ou faixa etária, por exemplo). Outro fator importante é que

um emprego público talvez seja a única forma de proporcionar certa segurança de

tempos anteriores.

Como dito anteriormente, apesar de os moldes de carreira terem passado por

diversas modificações, sendo que a construção de uma carreira passou a ser vista

como responsabilidade do indivíduo e não mais das organizações, nota-se com essa

pesquisa que nem todos os profissionais estão preparados para essa mudança.

Ficou claro nessa pesquisa a falta de conhecimento dos alunos sobre o que é uma

universidade e qual o seu papel na sociedade. Por isso, as pessoas acabam

sentindo-se insatisfeitas em relação ao curso superior, pois esperam sair preparadas

para o mercado de trabalho com as ferramentas necessárias para isso. A

universidade mostra que existem ferramentas, mas não ensina exatamente a utilizá-

las. Também proporciona um repensar sobre estas e suas finalidades.

Na verdade, nota-se que o que está ocorrendo é que os estudantes estão

procurando cursos práticos, porém a universidade tem outro propósito. Daí surge o

conflito entre o interesse da universidade e o interesse do aluno. E sobre as

organizações que querem um profissional com formação superior para ocupar um

simples cargo de secretária ou assistente administrativo?

Sobre isso, o que pode estar acontecendo é uma super competitividade no mundo

do trabalho e o curso superior pode está sendo utilizado como instrumento nivelador

para eliminar candidatos devido ao grande número de pessoas concorrendo a uma

vaga. Esse assunto não é, entretanto, o foco deste trabalho.

Essas e outras questões que emergem deste estudo podem levar a diversas

temáticas para pesquisas futuras sobre o mercado de trabalho e as relações com o

ensino e formação de profissionais.

Page 39: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

39

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Page 42: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

42

7. APÊNDICES

7. 1. Roteiro de entrevista

1 – Em qual período se encontra no curso?

2- Idade

3- Gênero

4 – Estado Civil

5- Situação empregatícia

a) Funcionário público

b) Funcionário de empresa privada

c) Autônomo

d) Empresário

e) Estagiário

f) Desempregado

6- Ramo de atividade

a) Comércio

b) Indústria

c) Serviços

7- Faixa Salarial

a) De 1 a 2 salários

b) Acima de 2 até 4 salários

c) Acima de 4 até 6 salários

d) Acima de 6 até 8 salários

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e) Acima de 8 salários

8- Setor da organização no qual desenvolve suas atividades

9- Quais as expectativas profissionais em relação ao curso no início da graduação?

10- Quais as expectativas profissionais ao finalizar o curso?

11- Você esta satisfeito com a formação que esta obtendo? Por quê?

12- Quais os planos profissionais depois de formado?

13 –Em qual área da Administração pretende atuar? Explique o motivo da opção.

14- Como pretende alcançar o objetivo da questão anterior?

15 – Após formado pretende ingressar em outro curso de graduação?

16 – Após formado pretender cursar alguma pós-graduação? Caso positivo em qual

área.

17- Como imagina sua vida profissional em um prazo de 10 anos?

Page 44: AS EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NOTURNO DA UFES

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7. 2. Matriz curricular do curso de administração noturno da UFES

1º MÓDULO

300 hs

2º MÓDULO

300 hs

3º MÓDULO

300 hs

4º MÓDULO

300 hs

5º MÓDULO

300 hs

6º MÓDULO

300 hs

7º MÓDULO

300 hs

8º MÓDULO

300 hs

9º MÓDULO

120 hs

Teoria das Organizações I

Teoria das Organizações II

Comunicação

Organizacional

Comportamento Organizacional

Gestão de Pessoas I

Gestão de Pessoas II

Projeto de Pesquisa

Optativa I Seminário de

Integração (TCC)

Matemática I Estatística I Matemática II Estatística II Gestão de

Operações I Gestão de

Operações II Gestão de Serviços

Optativa II

Contabilidade Introdução à

Filosofia Ética Empresarial

Contabilidade de Custos I

Finanças I Finanças II Gestão

Pública Optativa III

Psicologia Aplic.

à Administração

Teoria Econômica I

(Micro)

Teoria Econômica II

(Macro)

Economia Brasileira

Responsabilidade Social e Terceiro

Setor Gestão Ambiental

Tecnologia e Inovação

Optativa IV

Sociologia Política e

Administração Gestão de Processos

Instituições de Direito público e

Privado Marketing I Marketing II Estratégia Optativa V

Estágio Supervisionado