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1 AS FONTES ENERGÉTICAS NA ATUALIDADE: O CASO DA MAMONA ( RICINUS COMMUNIS) NO MUNICÍPIO DE IPIRÁ (BA) Alan Souza Mascarenhas 1 RESUMO A descoberta dos combustíveis fósseis criou uma matriz energética que não é renovável, essa fonte de energia é a principal estrutura energética estabelecida e praticamente é utilizada em todo mundo. Com a preocupação do possível colapso energético desta fonte, existem meios alternativos: energias que são capazes de se renovar e que provocam menos impactos negativos – algumas delas são: a solar, eólica ou até mesmo a de biocombustíveis, sendo esta última objeto principal de estudo deste artigo, com a análise do caso do plantio de mamona (RICINUS COMMUNIS) no município de Ipirá (BA). Palavras-chave: Energia Sustentável. Ipirá-BA. Mamona. 1 INTRODUÇÃO A radiação proveniente do Sol pode ser caracterizada como a máquina propulsora de energia do planeta Terra - é considerada como a base da vida e qualificada como uma fonte energética livre, sem tal fonte a sobrevivência animal ou vegetal se tornaria algo improvável. Os vegetais captam essa energia e utilizam no processo de fotossíntese e transformam em energia potencial, sendo produtores na cadeia alimentar. Os animais, incluindo o homem podem consumir os próprios vegetais ou outros animais, como forma de obter a sua fonte energética primária, ou seja, sua fonte de sobrevivência dentro da cadeia alimentar (tornando- se assim consumidores). Com o passar dos anos a humanidade aprendeu a utilizar energia para aprimorar os meios de sobrevivência e tornar mais complexas atividades como a agricultura, que utilizava como sua força motriz principal: os músculos humanos ou de outros animais, como na trituração de grãos utilizando um instrumento chamado pilão 2 ou o arado manual. Novas 1 Universidade Federal da Bahia – Mestrando em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU – UFBA) – [email protected]. 2 Recipiente feito de tronco de árvore, resistente, onde se colocam grãos de cereais que devem ser triturados ou descascados por meio de um soquete de pau apropriado (mão de pilão). (LUFT, p. 520, 2000).

AS FONTES ENERGÉTICAS NA ATUALIDADE: O CASO DA …noosfero.ucsal.br/articles/0009/2541/as-fontes-energ-ticas-na-atu... · Ipirá localiza-se na Micro-Região Homogênea e Administrativa

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AS FONTES ENERGÉTICAS NA ATUALIDADE: O CASO DA MAMONA (RICINUS

COMMUNIS) NO MUNICÍPIO DE IPIRÁ (BA)

Alan Souza Mascarenhas1

RESUMO

A descoberta dos combustíveis fósseis criou uma matriz energética que não é renovável, essa fonte de energia é a principal estrutura energética estabelecida e praticamente é utilizada em todo mundo. Com a preocupação do possível colapso energético desta fonte, existem meios alternativos: energias que são capazes de se renovar e que provocam menos impactos negativos – algumas delas são: a solar, eólica ou até mesmo a de biocombustíveis, sendo esta última objeto principal de estudo deste artigo, com a análise do caso do plantio de mamona (RICINUS COMMUNIS) no município de Ipirá (BA). Palavras-chave: Energia Sustentável. Ipirá-BA. Mamona.

1 INTRODUÇÃO

A radiação proveniente do Sol pode ser caracterizada como a máquina propulsora de

energia do planeta Terra - é considerada como a base da vida e qualificada como uma fonte

energética livre, sem tal fonte a sobrevivência animal ou vegetal se tornaria algo improvável.

Os vegetais captam essa energia e utilizam no processo de fotossíntese e transformam em

energia potencial, sendo produtores na cadeia alimentar. Os animais, incluindo o homem

podem consumir os próprios vegetais ou outros animais, como forma de obter a sua fonte

energética primária, ou seja, sua fonte de sobrevivência dentro da cadeia alimentar (tornando-

se assim consumidores).

Com o passar dos anos a humanidade aprendeu a utilizar energia para aprimorar os

meios de sobrevivência e tornar mais complexas atividades como a agricultura, que utilizava

como sua força motriz principal: os músculos humanos ou de outros animais, como na

trituração de grãos utilizando um instrumento chamado pilão2 ou o arado manual. Novas

1Universidade Federal da Bahia – Mestrando em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU – UFBA) – [email protected]. 2 Recipiente feito de tronco de árvore, resistente, onde se colocam grãos de cereais que devem ser triturados ou descascados por meio de um soquete de pau apropriado (mão de pilão). (LUFT, p. 520, 2000).

2

descobertas constituíram um fator de grande importância para o desenvolvimento da

sociedade, fazendo com que surgissem novos tipos de transportes, vestimentas, novos tipos de

moradia em determinados lugares do mundo até então indisponíveis, como é o caso de

ambientes com temperaturas amenas. Isso se deve em grande parte ao recurso energético

denominado de combustíveis fósseis (carvão mineral, gás natural e petróleo).

Em nosso planeta podem ser encontrados diversos tipos de fontes de energia, elas

podem ser do tipo renováveis, alternativas e esgotáveis. A energia solar eólica, maremotriz,

geotérmica e de biocombustíveis, por exemplo, podem ser classificadas como renováveis e

alternativas, por possuírem uma fonte inesgotável e constituírem uma opção às formas de

energia tradicionais como as obtidas dos combustíveis fósseis que possuem uma quantidade

limitada podendo acabar caso não haja um consumo racional.

Mesmo com tantas alternativas as mais importantes fontes energéticas utilizadas

advém dos combustíveis fósseis principalmente na forma de petróleo. Segundo Yergin apud

Vecchia (2010) o primeiro poço comercial foi perfurado pelo ferroviário Edwin Drake nos

Estados Unidos, este poço chegava apenas a pouco mais de 20m de profundidade, muito

diferente de hoje em dia em que as perfurações chegam a milhares de metros de profundidade.

Tamanho era o potencial desta energia recém-descoberta que menos de um ano depois havia

mais de mil e quinhentos poços em Titusville, Pensilvânia – EUA e em pouco mais de cinco

anos existia cerca de 540 empresas com negócios no ramo petroleiro, por exemplo, a

Pensilvânia Rock Oil Co, contando com a vantagem de a fonte energética estar próxima à

superfície.

Ainda segundo Yergin apud Vecchia (2010) o primeiro uso desse novo combustível

era como fonte de energia para lamparinas3 na forma de querosene banindo o óleo de baleia

antes utilizado. A gasolina foi utilizada um pouco mais tarde em 1896, pois funcionava bem

em motores de combustão interna, descoberta feita pelos inventores dos primeiros carros o

que criou certo alívio para a indústria petroleira da época, já que Thomas Edison havia

inventado um novo meio de iluminação urbana (a lâmpada) que substituiria as lamparinas.

3 Pequena lâmpada constituída de um recipiente com liquido apropriado (óleo, querosene, etc.), sobre o qual flutua uma rodela de madeira ou cortiça com um pavio encerado e fixo. (LUFT, p. 415, 2000).

3

Quanto ao Brasil a primeira jazida do país segundo a Petrobrás (2008) foi descoberta

em 1939 no bairro do Lobato na periferia de Salvador (BA), esse poço de acordo com

especialista da área era considerado como inviável economicamente mas, foi considerado

como marco no desenvolvimento da atividade petrolífera por contribuir para futuras

explorações.

Nesse cenário de utilização de energias advindas de combustíveis fósseis, esse artigo

tem como proposta, justamente, a discussão de uma alternativa por um meio mais sustentável:

um estudo de caso relacionado ao cultivo de mamona para biodiesel, graxa e óleo (forma de

energia renovável) que começa a ocorrer no município de Ipirá (BA), serão abordadas

questões como: tipo de produção, estágio que se encontra o projeto de cultivo, transformação

no uso da terra. Ainda são envolvidas temáticas como: a inclusão social por meio da

agricultura familiar (o plantio das matrizes para o biodiesel envolve muito desta forma)

visando à sustentabilidade ambiental e a viabilidade econômica.

2 O CASO DA MAMONA (RICINUS COMMUNIS) NO MUNICÍPIO DE IPIRÁ (BA)

O cultivo de mamona encontra-se em estágio de implantação, o que significa dizer que

existem ainda poucas plantações propriamente ditas que já deram produção (em estágio final),

estando, os produtores, em sua maioria nas intenções para o plantio desta cultura. Antes de

uma análise mais adensada é importante destacar as características gerais do município.

2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MUNICÍPIO

Ipirá localiza-se na Micro-Região Homogênea e Administrativa de Feira de Santana e

do ponto de vista econômico na região do Paraguaçu (figura 1). A população total do

município é composta por 59.343 habitantes, possuindo uma densidade demográfica de 19, 47

hab/km². (IBGE, 2011, p. 01). Possui coordenadas geográficas com latitude -12º 09’ 30’’ S e

longitude de 39º 44’ 14’’ W .O município possui uma área de 3023,659 Km², situa-se a cerca

de 206 km da capital do Estado (Salvador) e tem uma altitude média de 328m (SEI, 2011, p.

01).

4

Ipirá tem clima semiárido, que é caracterizado por irregularidade nas chuvas,

ocorrência de período chuvoso no verão geradas pela propagação da Zona de Convergência

Tropical, ocasionando muitas vezes trovoadas (chuvas convectivas fortes) (SEI, 2011, p. 01).

Para conviver com a irregularidade das chuvas a água é armazenada em açudes.

A vegetação é composta por caatinga arbórea densa com palmeiras e floresta

estacional decidual (SEI, 2011, p. 01). Como ser observado na figura 2, a sede do município

aparece ao meio da foto enquanto a esquerda e na frente a floresta estacional decidual.

FIGURA 1: Localização do Município de Ipirá (BA), 2011 Fonte: Elaborado pelo autor, 2011

FIGURA 2: Floresta estacional decidual do município de Ipirá (BA) Fonte: Trabalho de campo, 2011

5

Em relação aos aspectos sociais e econômicos, o município possui, em maior

quantidade, as culturas de batata – doce, feijão, mandioca e milho (IBGE apud SEI, 2011, p.

03), fato notável facilmente, onde são comercializados, na feira livre da cidade estes produtos.

(figura 3).

Quanto ao efetivo de animais, ainda segundo o IBGE (2009) possui asininos4,

bubalinos, equinos, galinhas, galos, frangas, frangos, pintos, muares, suínos, ganhando

destaque mesmo para os ovinos, bovinos e caprinos. Possui ainda um índice de

desenvolvimento econômico de 4995.18 e um índice de desenvolvimento social de 4970.49

correspondentes a posição 157 e 294 respectivamente, posições que não são muito relevantes,

já que a pesquisa da SEI (2006) considera um ranking com os 417 municípios que compõe o

Estado da Bahia.

2.2 A MAMONA E SUAS CARACTERÍSTICAS

A mamoneira (Ricinus communis) – figura 4 - é uma planta pertencente à família das

Euforbiáceas, a mesma da mandioca, da seringueira e do pinhão manso. É originária

provavelmente da África ou da Índia, sendo atualmente cultivada em diversos países do

4 Referente a asno. Os asininos são animais resistentes, servem tanto para tração, como para carga e sela sendo muito úteis em campo. São encontrados em diversos climas exceto em regiões muito frias. (wiktionary, 2011).

FIGURA 3: Comercialização de milho e feijão por produtores locais na feira livre de Ipirá (BA)

Fonte: Trabalho de campo, 2011

6

mundo, sendo a Índia, a China e o Brasil, nesta ordem, os maiores produtores mundiais,

responsáveis por 89% das áreas plantadas e 94% da produção (EMPRABA, 2011, p. 01).

FIGURA 4: Mamona no Município de Ipirá (BA) Fonte: Trabalho de campo, 2011

Ainda com base em conceitos obtidos pela Embrapa (2011) o principal produto da

mamoneira é seu óleo, o qual possui propriedades químicas peculiares que lhe fazem único na

natureza: trata-se do ácido graxo ricinoleico que tem larga predominância na composição do

óleo (cerca de 90%) e possui uma hidroxila (OH) o que lhe confere propriedades como alta

viscosidade, estabilidade física e química e solubilidade em álcool em baixa temperatura, o

que quer dizer que ela pode ser tanto misturada a combustíveis como o diesel ou ser utilizada

em composições como graxas, crescente no país com demostra o quadro 1.

QUADRO 1: Matriz Brasileira De Combustíveis Veiculares (%)

Fonte: Agência Nacional do Petróleo (ANP, 2009)

PRODUTOS 2007 2008 ÓLEO DIESEL 53 52,3

GASOLINA 27,2 25,4 ÁLCOOL HIDRATADO 9,1 11,8

ÁLCOOL ANIDRO 6 5,9 GNV 4,3 3,4

BIODIESEL 0,4 1,2

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Ainda neste contexto, o óleo de mamona tem centenas de aplicações na indústria

química, sendo uma matéria prima versátil com a qual se podem fazer diversas reações dando

origem a produtos variados. Suas principais aplicações são para fabricação de graxas e

lubrificantes, mistura nos combustíveis (diesel), tintas, vernizes, espumas e materiais plásticos

para diversos fins. Derivados de óleo de mamona podem ser encontrados até em cosméticos e

produtos alimentares.

A mamona foi escolhida como uma das oleaginosas fornecedoras de matéria prima

para fabricação de biodiesel no Brasil. Tal seleção foi feita porque ela é praticamente a única

oleaginosa bem adaptada e para a qual se dispunha de tecnologia para cultivo na região

semiárida da Bahia, como é o caso do município de Ipirá, possibilitando a inclusão social de

milhares de pequenos produtores que estavam sem opções agrícolas rentáveis. Embora este

aspecto social tenha proporcionado o cultivo da mamona, essa cultura também pode ser

plantada em várias regiões do país, desde o Sul até o Norte, desde que se obedeçam a suas

exigências climáticas e receba manejo adequado.

Segundo a Petrobrás (2011) a mamona possui um período de plantio de novembro e

dezembro (plantio de verão) e abril e maio (plantio de inverno), um período de colheita de

junho a outubro (colheita da safra de verão) e setembro a novembro (colheita da safra de

inverno).

Sendo assim possui uma lavoura bianual. A colheita do primeiro ano ocorre com cerca

de 180 a 240 dias, ou seja, entre 6 e 8 meses após o plantio. A Embrapa está desenvolvendo

uma espécie com ciclo mais curto, que logo poderá ser plantada. No final da colheita pode ser

realizada a poda sem a necessidade de plantio no ano seguinte, conforme orientações e laudo

técnico de condução de lavoura. (EMBRAPA, 2011, p. 01). Dependendo das características

do plantio deve-se optar por arrancar a lavoura e plantar novamente no ano agrícola seguinte.

Segundo a Petrobrás (2011) em média, são utilizados 4 Kg de semente por hectare,

dependendo do sistema de produção adotado, são produzidas cerca de 1,5 tonelada por hectare

em cultivo de sequeiro e acima de 2,5 toneladas por hectare em cultivo irrigado. Após a

colheita dos grãos da mamona, o que sobra: as folhas, galhos e caule, esse matéria pode ser

podado ou arrancado, dependendo do trato cultural adotado. Pode ser usado como cobertura

no próprio terreno onde a cultura foi plantada. A casca da mamona ainda pode ser triturada e

8

misturada à torta 5 (obtida após esmagamento da oleaginosa) para ser usada como adubo

orgânico.

A mamona é uma das oleaginosas com maior potencial para a produção de biodiesel,

porque tem alto teor de óleo: entre 45% e 55% (é possível fazer uma comparação entre as

oleaginosas no quadro 2). O seu cultivo pode ser consorciado com a produção de amendoim,

feijão, gergelim, girassol, milho e no caso de Ipirá com a Palma.

QUADRO 2: Produção de biodiesel por espécie Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), 2009 apud VECCHIA, 2010

Alguns cuidados devem ser tomados em relação à mamona, as folhas são tóxicas, elas

não podem ser dadas aos animais, nem os grãos devem ser armazenados de qualquer forma

sendo recomendado sempre que possível manter os grãos cobertos para evitar o perigo da

degustação animal, assim de acordo com a cartilha da Petrobrás para agricultura familiar

(2008) não é feita torta para ração da mamona.

2.3 MODO DE PLANTIO E FINANCIAMENTOS

Como já mencionado no decorrer do artigo o biodiesel é um combustível feito do óleo

de plantas, como a mamona e o dendê, portanto obtido das plantas chamadas de oleaginosas.

5 A proteína restante do processo de fabricação de biodiesel, chamada de farelo ou torta, pode ser destinada ao mercado de produção de ração animal, geração de fontes de proteína animal (carne e leite) ou adubos orgânicos. (CAMPOS, et al, apud, ABRAMOVAY, 2009, pag. 105).

ESPÉCIE ORIGEM DO ÓLEO

TEOR DO ÓLEO %

MESES DE COLHEITA/ANO

Dendê/Palma Amêndoa 22 12 coco Fruto 55-60 12

babaçu Amêndoa 66 12 girassol Grão 38-48 3

Colza/ canola Grão 40-48 3 Mamona Grão 45-55 3-4

Amendoim Grão 40-43 3 Soja Grão 18 3

Algodão Grão 15 3

9

Sendo uma fonte de energia renovável, pois todo ano é possível plantar e retirar o óleo

para fazer combustível, assim o agricultor poderá vender a sua produção. A seguir será

descrito os processos para implantação de um cultivo de oleaginosa para biodiesel.

De acordo com o técnico em biodiesel que atua no município, Antônio Carlos Sena, a

Petrobrás irá comprar o óleo vegetal para operar em sua usina de biodiesel no município de

Candeias (BA), mas antes passando, no caso de Ipirá, pela fábrica de Bioóleo em Feira de

Santana (BA), onde ocorre a extração do óleo e obtenção de farelos e da tortas (exceto torta

da mamona por causa da sua toxidade), portanto a usina de Candeias irá atuar na mistura

desses óleos ao diesel ou na fabricação de lubrificantes, por exemplo.

A tentativa de implantação desta cultura no Município de Ipirá se dá através da

agricultura familiar. Todavia para tal, de acordo com a Petrobrás o produtor deve atender a

algumas exigências, ele precisa se cadastrar como fornecedor em organizações que trabalhem

com a Petrobrás, como: cooperativas, associações, Federação dos Trabalhadores na

Agricultura do Estado da Bahia (FETAG – BA), Federação dos Trabalhadores na Agricultura

Familiar da Bahia (FETRAF-BA) ou ainda movimentos sociais - Movimento dos

Trabalhadores sem Terra (MST), Movimento de Luta pela Terra (MLT), Movimento de

pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

De acordo com a cartilha da Petrobrás para agricultura familiar (2008) esta firmará

contrato por escrito com as cooperativas. Quando não existirem condições para a criação de

uma, será mensurada a possibilidade de assinatura do contrato diretamente com os

agricultores familiares, onde será estabelecido as condições e os preços ajustados entre as

partes e o pagamento da produção será garantido, conforme o contrato.

A venda da produção tem como referência para negociação o preço praticado no

mercado. Por exemplo, se o preço estiver abaixo do pago pela Companhia Nacional de

Abastecimento (CONAB), a Petrobrás deverá pagar este preço mínimo, em 2007 o preço da

safra estabelecido era de R$ 0,56/Kg, já em 2010 de R$ 0,67/Kg. Uma segunda opção será um

pagamento de um valor, calculado pela média de preço da oleaginosa nos últimos 36 meses

anteriores ao mês de entrega do produto. De uma forma ou de outra o preço terá que ser

aprovado pelos agricultores, sindicatos ou federações.

10

O agricultor familiar poderá contar, com o Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (Pronaf). O objetivo do programa é financiar projetos individuais ou

coletivos, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. O

programa possui, Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), as mais baixas

taxas de juros dos financiamentos rurais, além das menores taxas de inadimplência entre os

sistemas de crédito do país.

O acesso ao Pronaf inicia-se, ainda segundo o MDA, na discussão da família sobre a

necessidade do crédito, seja ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial, seja para o

investimento em máquinas, equipamentos ou infraestrutura de produção e serviços

agropecuários ou não agropecuários.

Após a decisão de que atividade agrícola financiar, a família deve procurar o sindicato

rural ou a Emater para obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que será emitida

segundo a renda anual e as atividades exploradas, direcionando o agricultor para as linhas

específicas de crédito a que tem direito. Para os beneficiários da reforma agrária e do crédito

fundiário, o agricultor deve procurar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(Incra) ou a Unidade Técnica Estadual (UTE).

O agricultor deve estar com o CPF regularizado e livre de dívidas. As condições de

acesso ao Crédito Pronaf, formas de pagamento e taxas de juros correspondentes a cada linha

são definidas, anualmente, a cada Plano Safra da Agricultura Familiar, divulgado entre os

meses de junho e julho de cada ano.

Existe também a linha de crédito: Consolidação da Agricultura Familiar (CAF). Cujo,

propósito, segundo o Banco do Nordeste, é dar apoio financeiro a trabalhadores rurais sem-

terra (assalariados permanentes ou temporários, diaristas etc.), pequenos produtores rurais

com acesso precário à terra (arrendatários, parceiros, meeiros, posseiros etc.), proprietários de

minifúndios, assim classificados os imóveis, cuja área não alcance a dimensão da propriedade

familiar definida no Estatuto da Terra. Associações e cooperativas que agreguem as pessoas

mencionadas anteriormente. O proponente deverá dispor de renda familiar anual igual ou

inferior a R$ 15.000,00 e patrimônio familiar igual ou inferior a R$ 30.000,00.

11

Outra linha de crédito se chama Combate a Pobreza Rural (CPR), criada para atender

as famílias mais necessitadas e de menor renda, onde os recursos podem ser usados para a

aquisição da terra e em projetos de infraestrutura comunitários, segundo o MDA.

É através do Ministério do Desenvolvimento Agrário e por meio da Secretaria de

Reordenamento Agrário, que todas essas iniciativas fazem parte do Programa Nacional de

Crédito Fundiário (PNCF) que oferece condições para que os trabalhadores rurais sem terra

ou com pouca terra possam comprar um imóvel rural por meio de um financiamento. O

recurso ainda é usado na estruturação da infraestrutura, como mencionado, necessária para a

produção e assistência técnica e extensão rural. Além da terra, o agricultor pode construir sua

casa, preparar o solo, comprar implementos, ter acompanhamento técnico e o que mais for

necessário para se desenvolver de forma independente e autônoma. O financiamento pode

tanto ser individual quanto coletivo.

2.4 O CULTIVO DE MAMONA NO MUNICÍPIO DE IPIRÁ (BA)

De acordo com o técnico em biodiesel, Antônio Carlos Sena, do município de Ipirá,

(este técnico atente também outros municípios) a iniciativa do plantio de mamona se dá como

uma tentativa de resgate do que o município foi capaz de produzir no passado, onde além dos

tradicionais milho e feijão, possuía plantio de fumo, cebola, sisal, a própria mamona e em

menores quantidades de café.

Segundo sua estimativa existe a demanda que 62 famílias façam o cultivo da mamona,

principalmente nas localidades mostradas na figura 5, que representam os focos dos futuros

plantios e as áreas mais propensas para o cultivo no município.

12

FIGURA 5: Principais focos para o plantio de mamona no município de Ipirá (BA), 2011

Fonte: Elaborado pelo autor, 2011

O plantio não irá interferir em outras culturas, será em sua maioria, ligado a uma

planta com características, como o próprio técnico diz: “suporte forrageiro”, ou seja, que

serve para alimentação de animais em tempos de seca, e esta é a palma. A mamona de certa

forma irá agregar valor, pois, geralmente só se planta a palma sozinha e agora ela será

consorciada a outro produto gerador de renda.

Esta situação rebate uma das principais críticas feita ao plantio de culturas para

energia que vem da agricultura: o biodiesel é uma ameaça à segurança alimentar da população

à medida que desvia o óleo alimentar para a produção do combustível e promove a

substituição de culturas alimentares por energéticas no uso das terras (CAMPOS, et al apud

ABRAMOVAY, 2009). O plantio no município de Ipirá não provocará nenhum problema em

relação à produção de alimentos.

Diferente do que acontece com o álcool norte-americano, por exemplo, em que o

álcool é obtido através do milho, chegando a interferir na demanda por alimentos, já o

13

biodiesel brasileiro é um combustível que contribui para o aumento da oferta de alimentos. As

oleaginosas são compostas principalmente por uma parte proteica e outra de óleo. O processo

de produção de biodiesel inicia-se pela separação da proteína do óleo, sendo este último

convertido em biodiesel.

Portanto, o biodiesel não irá afetar a produção de alimentos, desde que adotado o

sistema produtivos adequado, possuindo, assim, um balanço energético positivo, ou seja,

produzindo mais energia renovável do que o gastando. O quadros a seguir mostram a

produção de biodiesel por região e o potencial brasileiro para produção de oleaginosas sem

incorporar novas áreas ocupadas, mostrando capacidade de crescimento com planejamento

ambiental.

QUADRO 3: Produção Biodiesel Por Região, 2010 Fonte: Agência Nacional do Petróleo (ANP), 2011

QUADRO 4: Potencial brasileiro para produção de oleaginosas sem a incorporação de novas áreas ocupadas

Fonte: EMBRAPA, 2009

Também foram entrevistados alguns produtores locais (6 entrevistados) do município

de Ipirá , a maioria ainda não planta a mamona, ainda estão em um nível de intenções, mas

REGIÃO VOLUME DE BIODIESEL PRODUZIDO (EM MILHÕES DE LITROS)

PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO %

Sul 173,03 43 Nordeste 122,82 31 Centro-oeste 42,71 11

Norte 37,02 9 Sudeste 26,59 7 Total 402,17 100

CULTURA PRODUTIVIDADE (l/ha)

ÁREA POTENCIAL

(MILHÕES DE l)

PRODUÇÃO POTENCIAL

(BILHÕES De l)

QUE ÁREAS SÃO ESSAS

Soja 600 20 12 20% de 100 milhões de ha

(integração agricultura-pecuária)

Girassol 1000 3 3 Safrinha em 20% da área cultivada de soja

Mamona 500 4 2 Zoneamento Agrícola do Nordeste

Dendê 4500 10 45 Reflorestamento de 16%

das áreas já desmatadas da Amazônia

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alguns resultados preliminares e respostas muito semelhantes já podem ser descritas como:

quanto a área destina ao plantio - de uma a duas tarefas baianas ( 4.356 m²) em consórcio

com a palma (figura 6). A produção de mamona não atrapalhará as áreas destinas ao plantio

de subsistência. A produção será comprada pela Petrobrás e existe certa expectativa quanto

aos lucros.

FIGURA 6: Futuro consórcio entre a palma e a mamona no município de Ipirá (BA) Fonte: Trabalho de campo, 2011

Se o que estiver em teoria, funcione bem na prática, o cultivo poderá ser opção para os

agricultores familiares de Ipirá, aumentando sua renda sem comprometer a parte alimentar e o

comércio de outros alimentos, e o que melhor ainda produzindo uma forma de energia que se

renova e tem um grau menor de poluição do que a energia proveniente de combustíveis

fósseis.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se ter uma visão ligada ao ambiente em que vivemos e compartilhar com a

sociedade a busca de soluções, torna-se menos complexa a determinação da direção e das

ações a serem seguidas para mudar o futuro e a postura de líderes em favor das alternativas

energéticas.

Ainda se desconhece os limites totais de tolerância da natureza, mas sabe-se que

muitos deles já foram ultrapassados e a ciência e tecnologia, em conjunto com a sociedade, é

que deverão conduzir o caminho para o futuro.

15

Mudar o rumo de uma economia baseada nos combustíveis fósseis que dominou todo

o século XX, para um novo patamar baseado em recursos renováveis que possivelmente

evoluirá no século XXI, somente será possível quando o meio ambiente e o desenvolvimento

econômico se tornarem atividades compartilhadas para um fim específico que é a

sustentabilidade.

Assim, Brasil já dá pequenos passos que pode ser um país a conseguir uma matriz

energética diferenciada, com pressupostos que possam atender aos mais variados pré-

requisitos para implantação das energias renováveis e alternativas.

O biodiesel já é uma realidade brasileira, seu uso deverá crescer muito nos próximos

anos, a exemplo do estudo de caso retratado. A agricultura familiar está ampliando a sua

participação nessa cadeia produtiva, os produtores de Ipirá (BA) começam a “engatinhar”

para este quadro, e se ocorrer como planejado, poderá vir acompanhado de desenvolvimento

social.

Fica claro também que com a ajuda de uma pessoa especializada, no caso o técnico em

biodiesel, a atividade pode ficar muito mais em “conta”, devido ao consórcio entre a mamona

e a palma. O fenômeno que começa a crescer em Ipirá, ainda está no começo, à demanda por

este tipo de energia, extraída das oleaginosas, cresce cada vez mais e é possível que

municípios como este obtenham crescimento acompanhando este processo.

A necessidade da substituição dos combustíveis derivados de fontes esgotáveis por

outros de óleos vegetais, como a mamona, faz crescer a consciência global e social para a

preservação.

É claro que falta muito o que melhorar no plano de inclusão social ligado ao biodiesel,

mas os projetos preveem economicidade e inserção social, e a esperança de um maior

investimento e melhoria para população do semiárido cresce.

Então, energias limpas e que possuam menor impacto negativo no ambiente, constitui

o grande desafio, desenvolvimento econômico e social de forma sustentável que proporcione

uma vida que atenda às necessidades no mínimo básicas.

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REFERÊNCIAS

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