16
06 As Funções dos Poderes do Estado O Poder Legislativo na Constituição de 1988 Controle do Legislativo Através das Comissões Parlamentares O Município e as leis orgânicas Inação do Parlamento e Corrupção A ação parlamentar na fiscalização da administração pública Heitor Férrer Fiscalize seu município Exerça sua cidadania UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância ® www.controlesocial.fdr.com.br Universidade Aberta do Nordeste e Ensino a Distância são marcas registradas da Fundação Demócrito Rocha. É proibida a duplicação ou reprodução deste fascículo. Cópia não autorizada é Crime.

As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

06

As Funções dos Poderes do Estado

O Poder Legislativo na Constituição de 1988

Controle do Legislativo Através das Comissões Parlamentares

O Município e as leis orgânicas

Inação do Parlamento e Corrupção

A ação parlamentar na fiscalização da administração pública

Heitor Férrer Fiscalize seu municípioExerça sua cidadania

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância®

www.controlesocial.fdr.com.br

Universidade Aberta do Nordeste e Ensino a Distância são marcas registradas da Fundação Demócrito Rocha.É proibida a duplicação ou reprodução deste fascículo. Cópia não autorizada é Crime.

Page 2: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Curso Controle Social das Contas Públicas90

É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades de ideias, comportamentos, anseios, etc., que podem ser resumidas em pluralidades políticas e sociais que infl uenciarão, decisivamente, as ações governamentais como um todo, nelas incluindo o controle e a execução das políticas públicas.

• Identifi car as competências dos Poderes constituídos do Estado brasileiro.• Descrever as atribuições do Poder Legislativo, explicitando os mecanismos de fi scalização

e controle.• Detalhar o processo de descentralização federativa com a valorização dos municípios.• Refl etir sobre a postura do Parlamento, a corrupção e a impunidade.

Objetivos

As Funções dos Poderes do EstadoA mais comum forma de representação popular é exercida pelos

parlamentares (deputados federais, deputados estaduais e vereado-res) eleitos democraticamente. O parágrafo único do art. 1º da Consti-tuição Federal de 1988 (CF/88) proclama que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamen-te”, ou seja, através de plebiscito, referendo ou iniciativa popular.

Tradicionalmente, o modelo republicano e federativo brasileiro cos-tuma estabelecer que os Poderes da União e do Estados são o Legislati-vo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes. Já na esfera municipal, os Poderes são apenas o Legislativo e o Executivo, também respeitando entre si a harmonia e independência, salutares ao bom rela-cionamento das competências privativas de cada um desses Poderes.

Essa importante questão da separação dos Poderes traz, na sua essên-cia, a consolidação do princípio do Estado Democrático de Direito como referência aos mais efi cientes mecanismos de fi scalização postos à disposi-ção dos cidadãos para controlar, diretamente ou não, os mais variados atos administrativos praticados por presidentes, governadores e prefeitos, bem como de todos aqueles investidos na administração pública.

Porém, essa questão da separação entre os Poderes não pode ser compreendida de forma simplória, uma vez que, materialmente, há apenas uma distribuição de determinadas atribuições a cada um de-les, havendo casos em que tanto o presidente da República legisla (por meio de medidas provisórias) como o Legislativo julga, inclusive, o chefe do Executivo.

Há elementos de apartadas funções como existem outros que guar-dam interseção, principalmente considerando a realidade histórica de cada nação ao optar por uma estrutura política do Estado, que no dizer de André Ramos Tavares (2006) implica “na distribuição por diversos órgãos de forma não exclusiva, permitindo o controle recíproco, tendo em vista a manutenção das garantias individuais consagradas no de-correr do desenvolvimento humano” (p.999).

Page 3: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

91

Além dessa discussão sobre a separação dos Poderes, a Constitui-ção de 1988 determina que todos devem lutar pela ocorrência do de-senvolvimento nacional e a superação dos desequilíbrios regionais, pressupondo seja a federação moldada pela descentralização, consi-derada como aperfeiçoamento do gerenciamento administrativo da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.

Exigiu o constituinte de 1988 a implantação da democracia partici-pativa, como um dos pilares da federação brasileira, ou seja, para que o Estado seja capaz de promover o equilíbrio regional é necessário criar condições efetivadoras do exercício da cidadania, como expressão da dialética de superação dos contrastes. Da mesma forma, os fatos sociais contemporâneos exigem uma nova postura do engajamento do indiví-duo e da coletividade na interação do processo das decisões políticas. Se esse engajamento for negado pelo aparato ideológico do Estado ou se a própria sociedade se mantiver indiferente ao processo, não há por-que se falar de democracia representativa ou participativa. Portanto, são buscadas respostas no sentido de saber: a) Está a Constituição Federal sendo cumprida efetivamente ou é

interpretada de forma desvirtuada?b) Qual o nível de esclarecimento da sociedade sobre a importância

da democracia participativa?c) As entidades representativas, principalmente as compostas por inte-

grantes das camadas populares, são instrumentos de aperfeiçoamen-to democrático ou instrumentos das estratégias políticas elaboradas pelos gestores municipais desde a promulgação da Constituição?

d) Qual o grau de cumplicidade (acaso) existente entre os segmentos sociais?

e) Está a sociedade acomodada ante a atuação de seus representantes eleitos?Com efeito, a negação do texto constitucional acarreta difi culda-

des de planejamento, execução e controle dos resultados das políticas públicas, bem como a realização dos princípios constitucionais esta-belecidos para a administração, principalmente quanto à moralidade, à efi ciência e à transparência dos atos praticados pelos mandatários municipais. Em assim sendo, também se indaga: estão os represen-tantes eleitos, para o Legislativo e para o Executivo, compromissados com a promoção do desenvolvimento local, a diminuição das desi-gualdades regionais e o respeito ao exercício da cidadania?

A CF/88 determina que as comunidades participem das discussões gerenciais sobre as políticas públicas. A participação cidadã é fonte de legitimação das ações governamentais voltadas para promover a dig-nidade do homem a partir de seu lar, da vila, da rua, do transporte coletivo, do posto de saúde e de outros interesses coletivos.

Aperfeiçoar signifi ca capacitação organizacional e ampliação do envolvimento dos gestores públicos com a coletividade na tomada das decisões das políticas sociais. Portanto, deve a federação brasileira, a partir de sua aproximação com a sociedade, promover e facilitar o enraizamento da cultura da democracia participativa como mecanismo de corresponsabilidades para a fi xação das prioridades sociais.

Aparato ideológico do Estado ou Aparelho Ideológico do Estado é uma teoria marxista que teve em Louis Althusser um dos maiores teóricos.

O engajamento no processo de planejamento e na tomada de decisões das gestões governamentais renova a democracia e a coisa pública adquire outro signifi cado à compreensão dos interesses sociais, principalmente no combate ao clientelismo político, à estagnação social, e em relação a outros danos sociais.

Page 4: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Curso Controle Social das Contas Públicas92

Os órgãos públicos federais, estaduais e municipais têm o dever de promover esclarecimentos quanto à relevância da democracia partici-pativa, visto ser desencadeadora do processo de conscientização e de priorização disponibilizado aos segmentos comunitários acerca dos problemas e das soluções das questões sociais. Caso contrário, o mode-lo de participação social estabelecido constitucionalmente será negado e os desequilíbrios sociais permanecerão consolidados e latentes.

Os poderes local e o regional são compostos por atores que de-sempenham diferentes representações sociais, políticas, econômicas e culturais. São promovedores do processo de participação para fazer valer a concretização dos resultados das ações públicas reivindicadas. Os seus elementos básicos constitutivos estão na liberdade de fazer valer seus direitos para a realização de suas aspirações materiais e po-líticas. Para tanto, a mobilização social é fundamental na correlação de forças com os entes federativos.

Amparados pelo comando constitucional, os membros dos seg-mentos sociais são conclamados a utilizar os processos políticos para a elaboração de suas proposições e demandas, ainda que he-terogêneas. A descentralização/democratização desses processos é analisada como peça essencial de reorientação das políticas sociais.

O Estado advém da sociedade e nele está inserida toda a complexa regulação dos interesses de cada grupo social que o forma e o legiti-ma. O Estado encerra o pluralismo ideológico de cada sociedade. Sua integração corresponde na medida da evolução política, social, cultural e econômica de seus segmentos humanos. A história política brasileira, ao longo de sua formação, tem demonstrado que a sobre-posição de interesses e necessidades de uns serve para sujeitar as ne-cessidades e interesses dos outros.

O Poder Legislativo na Constituição de 1988Com a divisão dos Poderes do Estado, ao Poder Legislativo cabe a

competência para elaborar as leis para cumprimento obrigatório por todas as pessoas em dada sociedade. No âmbito nacional é dividido em duas Casas: Câmara dos Deputados e Senado Federal. A Câmara dos Deputados é composta por representantes populares e o Senado Federal por representantes dos Estados e do Distrito Federal.

Os trabalhos Legislativos são feitos durante cada legislatura, que compreende um período de quatro anos. Cada legislatura é dividida em sessões legislativas (ordinárias ou extraordinárias).

Por sua vez, a sessão legislativa parte-se em dois períodos Legislati-vos: de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.

É importantíssimo ressaltar que enquanto não for aprovado o projeto de lei do orçamento do ano seguinte a sessão legislativa não pode ser interrompida.

Pluralismo ideológico: alguns teóricos consideram que o Estado Democrático de Direito não pode subsistir sem que haja pluralismo ideológico e político, e para que tal ocorra, a liberdade se faz necessária estar sempre presente e cada vez mais forte.

Page 5: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

93

As atribuições do Poder Legislativo podem ser elencadas, dentre várias outras, nas seguintes áreas de competência: I) Legislativa (função típica): legislar matérias previstas no art. 48 da Constituição Federal, principalmente: • Sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;• Plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, ope-

rações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado;• Planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvol-

vimento;• Organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e

da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do Dis-trito Federal;

• Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas;

• Criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública;• Telecomunicações e radiodifusão;• Matéria fi nanceira, cambial e monetária, instituições fi nanceiras

e suas operações;• Moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliá-

ria federal;II) Fiscalizadora: fiscalizar os atos do Poder Executivo conforme es-tabelece o art. 49 da CF, dentre os quais:• Sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do

poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;• Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República

e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;• Proceder à tomada de contas do Presidente da República, quan-

do não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;

• Fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;

• Zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes;

• Aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;

III) Julgadora: proceder ao julgamento de crimes de responsabili-dade do Presidente da República e demais autoridades da Repú-blica, segundo os arts. 51, I, e 52, I e II da CF:

• Autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;

• Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Esta-

Page 6: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Curso Controle Social das Contas Públicas94

do e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;

• Processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacio-nal do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade.Como se pode concluir, não tem o Poder Legislativo apenas as

atribuições de editar leis. Vai além. Cumpre o papel relevante de fi s-calizar e controlar os atos governamentais ao bem do maior interesse de todos: a coletividade.

As mesmas atribuições estão contidas nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas Municipais. A Constituição do Estado do Ceará, promulgada em 1989, traz nítida simetria, como não poderia deixar de ser, ao comando da Carta Maior, ao estabelecer, dentre suas várias atribuições (arts. 49 da CE):• Sustar os atos normativos emanados do Poder Executivo que exorbi-

tem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa;• Julgar as contas apresentadas, anualmente, pelo Governador do

Estado, a prestação de contas dos Interventores, apreciar os rela-tórios sobre a execução dos planos governamentais e suas corre-lações aos planos plurianuais;

• Fiscalizar e controlar, diretamente, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;

• Velar pela preservação de sua competência legislativa, em face da competência normativa dos outros Poderes;

• Convocar, por sua iniciativa ou de qualquer de suas comissões, os Secretários de Estado, dirigentes de autarquias, empresa pú-blica, sociedade de economia mista e de fundações, para prestar, pessoalmente, informações sobre assunto específi co, com atendi-mento no prazo de trinta dias, sob pena de responsabilidade;

• Encaminhar, por seus Deputados, Comissões ou Mesa, pedidos escritos de informação aos Secretários de Estado, importando cri-me de responsabilidade a recusa, ou o não-atendimento no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas;

• Proceder à tomada de contas do Governador do Estado, quando não apresentadas à Assembleia Legislativa dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;

• Processar e julgar, na forma da lei, o Governador e Secretários de Estado nos crimes de responsabilidade;

• Exercer poder de polícia em seus recintos e para assegurar o cumprimento de requisições e diligências emanadas de suas co-missões parlamentares de inquérito;

• Aprovar, por maioria absoluta e voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da Justiça, antes do término de seu mandato;

Celso Júnior/A

E

Page 7: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

95

• Suspender a execução, no todo ou em parte, de lei ou ato norma-tivo estadual ou municipal declarado inconstitucional por deci-são defi nitiva do Tribunal de Justiça;

• Processar o Procurador-Geral da Justiça e o Procurador-Geral do Estado;

• Autorizar o Governador a efetuar ou a contrair empréstimos;• Ordenar a sustação de contrato impugnado pelo Tribunal de Contas;• Dispor sobre limites e condições para a concessão de garantias

pelo Estado, em operações de crédito, bem como sobre condições para os empréstimos realizados pelo Estado.Quão forte o Poder Legislativo nas prerrogativas de fi scalizador

das ações de governo! Daí a necessidade de se ter um parlamento serenamente isento, sem ódio e sem paixão pelo Executivo, pois se o apaixonado em nada vê defeitos, o odiento os cria do nada. Sem a de-vida isenção, o parlamento se deforma e se defronta com a correlação de forças políticas, deixando de exercer suas competências constitu-cionais, se apequenando.

Não deve, contudo, o fi scal das ações do governo se quedar a essa negação de suas funções nessa correlação de forças político-partidá-rias, pois os preceitos constitucionais referentes aos tribunais de con-tas asseguram a qualquer cidadão o direito de denúncia para apu-ração de atos e fatos por esses tribunais, bem como pelo Ministério Público Federal e o Estadual.

Afora essas atribuições dos parlamentares, os textos constitucio-nais federal, estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios trazem a oportunidade para que os movimentos populares reivindiquem di-retamente suas leis e formas de fi scalização e controle dos atos dos gestores públicos, a saber:

Iniciativa popularA Lei Nacional Nº 9.709/98 estabelece que a iniciativa popular

consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, 1% (um por cento) do eleitorado nacional, distribuído, pelo menos, por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. Deverá, contudo, circunscrever-se a um só assunto e não poderá ser rejeitado por ví-cio de forma, cabendo, se assim ocorrer, à Câmara dos Deputados providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica le-gislativa ou de redação.

Dentre os requisitos estabelecidos pelo Regimento Interno da Câ-mara dos Deputados, o projeto de iniciativa popular conterá a assina-tura de cada eleitor, devendo ser acompanhada de seu nome comple-to e legível, endereço e dados identifi cadores de seu título eleitoral. As listas de assinatura serão organizadas por Município e por Estado,

Page 8: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Curso Controle Social das Contas Públicas96

Território e Distrito Federal, em formulário padronizado pela Mesa da Câmara dos Deputados. É permitida à entidade da sociedade ci-vil patrocinar a apresentação de projeto de lei de iniciativa popular, responsabilizando-se pela coleta das assinaturas. Por último, o pro-jeto será instruído com documento hábil da Justiça Eleitoral quanto ao contingente de eleitores alistados em cada Unidade da Federação, aceitando-se, para esse fi m, os dados referentes ao ano anterior, se não disponíveis outros mais recentes.

Já pela Carta cearense, a iniciativa popular dar-se-á se assinada por, no mínimo 1% dos eleitores. Há, também, a possibilidade de se-rem apresentados projetos denominados de iniciativa compartilha-da. As entidades da sociedade civil, legalmente constituídas, poderão apresentar projetos nesse sentido, que tramitarão como proposição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado.

Fiscalização e ControleConforme disciplina o art. 74, §2º, da Constituição Federal, qual-

quer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legíti-ma para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.

Idêntica regra estabelece o art.11 da Constituição do Ceará, dispon-do que qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato de classe é parte legítima para denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas do Estado ou Tribunal de Contas dos Municípios, exigindo-lhes completa apuração e devida aplicação das sanções legais aos responsáveis, fi cando a autoridade que receber a denúncia ou requerimento de providências, obrigada a manifestar-se sobre a matéria. Nesse caso, a denúncia deverá ser instruída com do-cumentos que revelem indícios sufi cientes à apuração dos fatos, bem como assiste ao cidadão legitimidade para postular, perante os órgãos públicos estaduais ou municipais, a apuração de responsabilidade, em caso de danos ao meio ambiente, conforme o disposto em lei.

Garante, ainda, a Carta do Estado (art. 7º e parágrafos) que to-dos os órgãos e instituições dos Poderes estadual e municipal são acessíveis ao indivíduo, por petição ou representação, em defesa do direito ou em salvaguarda cívica do interesse coletivo e do meio ambiente, e mais:a) A autoridade, a quem for dirigida a petição ou representação,

deverá ofi cializar o seu ingresso, assegurando-lhe tramitação rá-pida, dando-lhe fundamento legal, ao exarar a decisão;

b) O interessado deverá ser informado da solução aprovada, por correspondência ofi cial, no prazo de sessenta dias, a contar do protocolo, sendo-lhe fornecida certidão, se a requerer;

O artigo 14 da Constituição Federal de 1988 afi rma que: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III iniciativa popular”. A iniciativa popular dá ao povo a oportunidade de apresentar ao Poder Legislativo um projeto normativo de interesse coletivo, que, após discussão parlamentar e respeitados os requisitos do processo legislativo, pode se transformar em lei.

Petição: formulação escrita de pedido, fundada no direito da pessoa, feita perante o juiz competente ou que preside ao feito.

Page 9: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

97

c) É facultado a todos o acesso gratuito às informações do que cons-tar a seu respeito nos registros em bancos de dados estaduais e municipais, públicos ou privados, bem como do fi m a que se destinam essas informações, podendo exigir, a qualquer tempo, sua retifi cação e atualização. Em verdade, tanto a iniciativa de leis como o múnus de fi scalizar e con-

trolar a administração pública decorre de que a função administrativa – compreendendo atos administrativos – deve estar voltada aos lídimos in-teresses públicos. Contudo, essa fi nalidade nem sempre ocorre. Algumas vezes, lamentavelmente, sobressaltam situações embaraçosas e contrárias ao ordenamento jurídico, a princípios e à moralidade administrativa, impondo-se, pelas vias legais, o controle desses atos. Controlar, portanto, nada mais é que impor limites ou evitar o cometimento de absurdidades.

Portanto, além do controle interno feito pela administração públi-ca e do controle externo pelos Tribunais de Contas, as Leis Maiores do País possibilitam aos cidadãos o denominado controle social so-bre esses atos administrativos como corolário natural da necessidade constante da interferência social na gestão da coisa pública. Podem, pois, o cidadão e as entidades legalmente existentes questionar a le-galidade e legitimidade das despesas públicas e têm o direito inques-tionável de denunciar as ilegalidades ou irregularidades perante os Tribunais de Contas e acionar o Ministério Público e o Poder Judiciá-rio para expungir os vícios administrativos.

Para tornar público os assuntos, o parlamentar tem um extraordinário instrumento para o exercício da transparência, que é a audiência pública, onde todos os interessados no tema são convidados para debatê-lo.

Controle do Legislativo atravésdas Comissões Parlamentares

Nas Casas Legislativas funcionam Comissões permanentes ou temporárias e que têm por natureza política servir como elo entre o parlamento e a sociedade civil. Nelas, os representantes das camadas sociais são ouvidos nas audiências públicas. Legitimam-se, outrossim, por exercer relevantes funções fi scalizadoras dos Poderes públicos.

No parlamento, as comissões são organismos compostos por um número seletivo de membros para analisar as matérias legislativas propostas e apresentar, ao fi nal, parecer conclusivo. Assim, de forma sucinta, as comissões parlamentares podem ser entendidas como nú-cleo de parlamentares com atribuições específi cas para proceder apu-rado estudo técnico e político sobre matérias legislativas propostas.

Dentre todas as Comissões permanentes ou temporárias, sobressa-em-se, perante a opinião pública, as Comissões Parlamentares de Inqué-rito (CPI) que têm por fi nalidade constitucional (art. 58, §3º) realizar

A palavra comissão, do latim commissio, commissionis, representa conselho, grupo, conjunto de indivíduos com a missão de executar determinada tarefa especial ou não. Visite o site da Câmara e conheça os trabalhos e atribuições das Comissões Permanente, Mistas e Temporárias. http://www2.camara.gov.br/comissoes

Múnus: tarefa, encargo, obrigação.Lídimos: legítimo, autêntico.

Audiência pública: recepção por autoridade administrativa a toda e qualquer pessoa que tenha algum pedido ou reclamação a fazer ou alguma questão a resolver

Page 10: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Curso Controle Social das Contas Públicas98

“investigação própria das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas casas, serão criados pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou sepa-radamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores”.

Sobre CPI, o art. 56 da Constituição do Estado do Ceará escreve dispositivo de constitucionalidade duvidosa: “A Assembleia Legis-lativa criará comissões parlamentares de inquérito para apuração de fato determinado, sempre que o requerer a quarta parte de seus membros, observada na sua composição a proporcionalidade de re-presentação partidária, o comparecimento de autoridades, servidores e quaisquer pessoas convocadas”.

Questiona-se a existência de vício quando estabelece que lei comple-mentar, cujo quórum é mais qualifi cado, regulamentando as sanções possíveis pelo não comparecimento de pessoas devidamente convoca-das. Já existe o Código de Processo Penal para ser aplicável em casos do não comparecimento – que é obrigatório – de qualquer pessoa.

De qualquer modo, o objeto de qualquer CPI deve ser um fato determinado, caracterizando-se abuso de poder a investigação acerca de fatos indefi nidos. O fato deve ser perfeitamente específi co. Ocorre que, às vezes, esse fato possa ensejar apuração de outros, mas desde que haja ligação com o objeto da CPI. A esse respeito, o Supremo Tri-bunal Federal (STF), no julgamento do Habeas Corpus Nº 71.231 deci-diu que “não está impedido de investigar fatos que se ligam, intima-mente, com o fato principal”.

Quais são esses fatos determinados? Todos aqueles relacionados sobre os quais o parlamento tem o poder-dever de dispor. Não pode, porém, investigar condutas privadas, se danosas ao interesse público, que devem ser tratadas pelo Poder Judiciário. Também não pode, em respeito ao sig-nifi cado da federação, instalar-se CPI para apurar fatos de competência exclusiva de algum dos entes da federação dos Estados e Municípios.

Da mesma forma não pode invadir competências afeitas ao Execu-tivo ou ao Judiciário. Ou seja, a CPI não tem o poder de julgamento, uma vez que as suas conclusões devem ser encaminhadas ao Minis-tério Público para, aí sim, provocar o Poder Judiciário à apuração das responsabilidades dos infratores.

Muito embora cada regimento interno das Casas Legislativas costume estabelecer o prazo de funcionamento da CPI, o STF julgou o habeas corpus Nº 71.261, admitindo ser aplicável a Lei Nº 1.579/52 que fi xa o término de cada legislatura para o fi nal das incumbências de qualquer CPI instalada.

Para evitar o cometimento de graves lesões aos direitos fundamen-tais das pessoas indiciadas e testemunhas arroladas, é fundamental

Page 11: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

99

evitar que o funcionamento de CPI se torne um palco teatral, ridicu-larizando pessoas perante a opinião pública.

A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará tem 16 Comissões Parlamentares Permanentes, formadas por cinco a nove deputados. Tem, entre suas atribuições: realizar audiências públicas com entida-des da sociedade civil e nas diversas regiões do Estado; convocar se-cretários de Estado para subsidiar o processo Legislativo ou prestar informações sobre os assuntos inerentes às suas atribuições; receber reclamações, representações ou queixa de qualquer pessoa contra ato ou omissão de autoridade pública, de concessionário de serviço pú-blico; acompanhar a elaboração da proposta orçamentária; e acom-panhar e apreciar programas de obras, planos estaduais, regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir parecer.

O Município e as leis orgânicasReside no Município a mais emblemática e primitiva forma de or-

ganização política do homem enquanto ser social. A sociedade é o lugar natural para o exercício da sociabilidade humana.

Como anseio constitucional de consolidar a democracia e a fede-ração, os Municípios assumiram, a partir da Constituição Federal de 1988, a atribuição de promover o enraizamento da cultura da partici-pação popular como mecanismo de corresponsabilidades para fi xa-ção das prioridades sociais.

Para a consecução desse propósito, é necessário o aperfeiçoamento da descentralização, isto é, a otimização do complexo gerenciamento administrativo municipal, envolvendo dois elementos: planejamento – capacitação organizacional da interdependência social, econômica e cultural entre munícipes e governo estadual –, e participação – consti-tuição e consolidação do envolvimento da coletividade no que respeita às decisões de políticas públicas e ao efetivo controle social quanto à excelência da gestão pública. O harmônico funcionamento desses veto-res propiciará a consumação do desenvolvimento sustentável, dentro do quadro de valorização da democracia participativa integrada.

Porém, à realização da democracia participativa cabe, como um dos pressupostos, compreender a formação do Estado brasileiro e so-bre qual contexto político e social situa-se o exercício da cidadania, como expressão de libertação, visto que o homem encontra-se e se identifi ca enquanto ser ativo no aperfeiçoamento da política mesmo porque a visão dos fatos sociais requer engajamento do indivíduo e da coletividade, que interagem no processo das decisões políticas.

Está no Estado a inteligibilidade da sociedade e a expressão do poder. Entendendo-o, adquirem-se as extensões do exercício da cida-dania. Esse fi m envolve a cumplicidade na escolha dos meios de exe-

Conheça o trabalho das Comissões da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará visitando a página www.al.ce.gov.br/comissoes/permanentes.php e www.al.ce.gov.br/comissoes/temporarias.php

Desenvolvimento sustentável: a defi nição mais aceita é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro (www.wwf.org.br)

Page 12: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Curso Controle Social das Contas Públicas100

cução da participação coletiva, isto é, encerra a “arte de escolher”, de executar os projetos plausíveis e possíveis a partir da legitimação dos processos decisórios. O Estado existe porque a sociedade dele depende para equacionar uma série de interesses confl itantes. O desenho feito pela CF/88 sobre o poder é erigi-lo a partir do consenso, na concretiza-ção das metas coletivas e na realização libertária da cidadania.

Com a promulgação da Constituição, em 1988, o Município foi al-çado à condição de indispensabilidade à organização federativa do Es-tado brasileiro, conferindo ao poder local a competência para a elabo-ração de sua lei orgânica; consolida-se a autonomia municipal, agora estruturada a partir do real entendimento do peculiar interesse local.

O modelo federativo criado pelo constituinte foi no sentido da emancipação da autonomia, mediante a distribuição de competên-cias. Porém, a dialética da unidade na pluralidade só será exercida se houver entre os componentes da federação harmonização, em que pesem as diversidades de interesses.

Merece relevante destaque o tratamento dado aos Municípios, como terceira esfera de membro federativo, inexistente nas Constituições bra-sileiras anteriores. O art. 1° proclama que a Federação brasileira é forma-da pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal.

Acresce que os artigos 18, 29 e 30 da CF/88 formam os elementos essenciais para a compreensão e o alcance da autonomia municipal. O professor Paulo Bonavides (1993) diz:

Faz-se mister assinalar desse modo o signifi cado decisivo, inédito e inovador que assume o art. 18 da Constituição vigente. Esse artigo inseriu o Município na organização político-administrativa da Re-pública Federativa do Brasil, fazendo com que ele, ao lado do Dis-trito Federal, viesse a formar aquela terceira esfera de autonomia, cuja presença, nos termos em que se situou, altera radicalmente a tradição dual do federalismo brasileiro, acrescido agora de nova di-mensão básica. (p.273).

Efetivou-se a vitória dos defensores dos postulados municipalis-tas. Com efeito, sobre a organização política e administrativa, a Cons-tituição determina, por exemplo:a) A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são autô-

nomos (art. 18, caput);b) Cada Município reger-se-á por lei orgânica (art. 29, caput); c) Compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local, ins-

tituir e arrecadar os tributos de sua competência; (art. 30 e incisos).Mas a restauração da autonomia municipal proposta pela Consti-

tuição pressupõe o enfoque de duas vertentes. A primeira objetiva a estabilização política, econômica, social, fi nanceira e institucional; a outra suscita a participação popular na elaboração de suas priorida-des. Esses pressupostos capacitarão o exercício da gestão administra-tiva mais dinâmica, efi ciente, transparente e legítima.

À guisa de exemplos, a Constituição de 1937 estabelecia que o Estado Federal era constituído pela união indissolúvel dos Estados, Distrito Federal e territórios (art. 3°). Por sua vez, a Constituição de 1946, por meio do § 1°, do art. 1°, afi rmava que a “União compreende, além dos Estados, o Distrito Federale territórios”.

Page 13: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

101

Sobre a relevância da participação popular urge ressaltar que é essencial a concretização da consciência cidadã, por meio da partici-pação de planejamentos específi cos, aprimorando a reciprocidade de responsabilidades entre a administração e os segmentos sociais. De-vem, para tanto, ser criados, consolidados e ampliados espaços de in-terlocução entre esses elos, solidifi cando a promoção da democracia.

O processo de decisão política passa pela formação da consciência crítica dos elementos da sociedade civil para formar as políticas de de-senvolvimento efi cazes na solução das problemáticas questões sociais. A CF/88, portanto, positiva o exercício da administração pública em obediência aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência de suas ações. Sendo assim, a sociedade civil é conclamada a exercer decisivo papel fi scalizatório na execução das políticas públicas. Como remédios postos à disposição da coletividade existem a ação popular e a ação civil pública, por exemplo.

Determina a Constituição: a) Participação da comunidade sobre as ações e serviços públicos de saúde; b) Participação da população, por in-termédio de organizações representativas, na formação de políticas e no controle de ações governamentais na área da assistência social, em todos os níveis; c) Participação nos programas governamentais de assistência integral à saúde da criança e do adolescente e demais direitos à sua in-tegridade; d) Participação comunitária do idoso; e) Exame e apreciação das contas dos Municípios, postos à disposição durante sessenta dias, anualmente; f) Cooperação no planejamento municipal; g) Participação nos colegiados dos órgãos públicos em que sejam objeto de discussão e deliberação os interesses profi ssionais dos trabalhadores e empregado-res; h) Elaboração de iniciativa popular.

Consciência crítica: capacidade de avaliar criticamente um ato, uma intenção, um procedimento, mesmo que camufl ados, velados.

A Lei Orgânica do Município de Fortaleza traz substanciais inovações acerca dessa seara de atuação participativa dos mem-bros da sociedade, a saber:a) Para a garantia da gestão democrática da cidade serão dispo-

nibilizados os seguintes instrumentos (art. 6º):I. Órgãos colegiados de políticas públicas;II. Debates, audiências e consultas públicas;III. Conferência sobre os assuntos de interesse público; IV. Iniciativa popular de planos, programas e projetos de de-

senvolvimento;V. A elaboração e a gestão participativa do Plano Plurianual,

nas diretrizes orçamentárias e do orçamento anual, como condição obrigatória para a sua aprovação pela Câmara Municipal.

Page 14: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

Curso Controle Social das Contas Públicas102

Portanto, a Constituição de 1988 determinou como deve ser o Es-tado brasileiro. Contudo deixou à sociedade a tarefa de construir em bases solidamente democráticas toda a sua estrutura. A participação coletiva na política expressa o indivíduo como intérprete da realida-de e emancipa a forma de fazer governo sem vínculos com o passado composto pela presença coronelista ou oligárquica. A intencionalida-de das ações coletivas revelar-se-á por meio de intervenções nas es-truturas sociais, acarretando a efi cácia dos processos de transforma-ção das estruturas sociais, políticas e econômicas existentes.

Por outro lado, não se questiona apenas o comportamento dos gru-pos dirigentes do Estado. A Constituição suscita o processo dualístico de participação coletiva. Em outros termos, não compete apenas ao Estado a motivação do exercício da política, mas a sociedade também tem essa responsabilidade. Não é apenas direito, é dever.

b) A soberania popular assegura-se (art. 59): I. Pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com

valor igual para todos; II. Pelo plebiscito;III. Pelo referendo; IV. Pela iniciativa popular;V. Pelo veto popular;VI. Pelo orçamento participativo;VII. Pela participação popular nas decisões do Município e

no aperfeiçoamento democrático de suas instituições;VIII. Pela ação fi scalizadora sobre a administração pública. A iniciativa popular, no âmbito do Poder Legislativo Muni-

cipal, será tomada por cinco por cento do eleitorado do Municí-pio, mediante apresentação de:

I. Projeto de lei;II. Projeto de emenda à Lei Orgânica;III. Veto popular à execução de lei (art. 60). IV. Planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;V. Veto popular à obra pública ou privada considerada

contrária ao interesse público ou prejudicial ao meio ambiente. Quando se tratar de interesse específico no âmbito do bairro ou distrito, a iniciativa popular ou o veto popular poderá ser tomado por cinco por cento dos eleitores inscritos ali domiciliados. A obra objeto do veto deverá ser submetida a referendo po-pular (art. 61 e parágrafos).

Page 15: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

103

Assim, o parlamento se autodefi niu e se instrumentalizou como poder fi scalizador, não se esquecendo, no entanto, de dar à sociedade mecanismos importantíssimos para ela mesma fi scalizar e controlar as ações dos governantes. A sociedade, porém, tem abdicado, até o presente momento, dessas prerrogativas.

Inação do Parlamento e CorrupçãoQuando um poder, criado para legislar e fiscalizar os atos dos

administradores públicos, deixa de atuar ou atua de maneira ineficaz, há enormes prejuízos para a sociedade, que lhe confiou tão nobre e importante função. O principal dano por conta da “frouxidão” do poder fiscalizador é, sem dúvida, a corrupção na máquina pública.

A não fi scalização nas ações dos governantes, por parte do parla-mento, permite a má utilização do que é público, portanto, de todos, para privilégio de poucos, redundando em enriquecimento ilícito à custa do dinheiro público. Isso tem levado às enormes desigualdades encontradas em nossos 5.569 municípios, em nossos 27 estados e nes-se enorme Brasil.

Maior mal da República, a corrupção, associado a outro não me-nos mal, a “impunidade”, tem transformado este 5º maior país do mundo em extensão territorial, 5º maior em população e mercado consumidor e 10ª economia do planeta em um país socialmente injus-to e desigual, com indicadores sociais idênticos aos dos mais pobres países do continente africano.

Essa inação do parlamento e da sociedade tem-nos colocado em situação vergonhosa no ranking dos países mais corruptos. Segundo especialistas, a corrupção no Brasil causa uma perda anual nos co-fres públicos estimada em R$ 9,6 bilhões. E nas ondas desse mar de corrupção, patrocinada pela relação promíscua “não fi scalizada” do setor público com espertalhões do setor privado, deixam de existir, para nos servir, centenas de milhares de escolas públicas, postos de saúde, hospitais, leitos de UTIs, obras de saneamento básico, segu-rança pública, moradia popular, qualifi cação de trabalhadores, gera-ção de emprego e renda, etc., etc., etc., o que tem infernizado e dra-matizado a vida de milhões de brasileiros, gerando legiões de pobres e miseráveis desamparados, hoje mantidos pelo famoso bolsa-família (45 milhões de brasileiros).

A falta de ação do parlamento trai a essência da tese da separação dos poderes, de Montesquieu, trai a relação representante-represen-tado, fragiliza a democracia, trai a liberdade do indivíduo e sepulta o exercício da cidadania.

Portanto, parlamento e sociedade, à responsabilidade mútua!!!

Page 16: As Funções dos Poderes do Estado - tcm.ce.gov.br · 90 Curso Controle Social das Contas Públicas É inerente ao Estado Democrático de Direito o surgimento de infi nitas pluralidades

• Este fascículo introduz a discussão sobre o pa-pel do Poder Legislativo na fi scalização da ad-ministração pública. Para tanto, discorre sobre as funções dos poderes do Estado - Executivo; Legislativo e Judiciário. Descreve as competên-cias do Poder Legislativo no Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988 que consistem em: legislar, fi scalizar, julgar e explicar que o contro-le do Legislativo pode ser ampliado e efetivado através das Comissões Parlamentares.

• A parte fi nal do fascículo é dedicada ao Municí-pio e às leis orgânicas e seu papel, defi nido a par-tir da Constituição Federal de 1988, de promover a participação popular na gestão pública.

• O fascículo chama a atenção para o fato de que quando o Powder Legislativo, a quem cabe legislar e fi scalizar, deixa de atuar ou atua de maneira precária, consequências so-ciais desastrosas aparecem, como a corrupção e a impunidade.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

BOBBIO, Norberto. O Futuro da democracia. São Paulo: Paz e Terra, 1987.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1993.

COSTA, Nelson Nery. Curso de Direito Municipal Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras. 1998.

HORTA, Raul Machado. Estados de Direito Constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.

TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

1) O Poder Legislativo está cumprindo seu papel consolidador do exercício da cidadania?

2) A sociedade civil está envolvida na democracia participativa? Há controle social em nosso país?

3) Qual o compromisso dos Poderes do Estado

(Legislativo, Executivo e Judiciário) à transpa-rência dos seus próprios atos administrativos?

4) Nossos parlamentos têm correspondido aos anseios populares?

Referências

Avaliação

Realização Apoio

Síntese

Coordenadora do Curso: Adísia Sá

Coordenadora Editorial: Laurisa Nutting

Coordenadora Pedagógica: Ana Paula Costa Salmin

Fundação Demócrito RochaAv. Aguanambi, 282 - Joaquim Távora

Cep 60.055-402 - Fortaleza - CearáTel.: 3255.6005 - 0800.280.2210