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Apoio As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas Volume 4

As histórias e os personagens do mundo das instalações ... · contínua e a rivalidade entre seus criadores: Nikola Tesla e Thomas Edison. desenvolvimento Brasil trilha longo caminho

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As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas

Volume 4

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Hilton Moreno, engenheiro eletricista, consultor e presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos - Nema Brasil

Caro amigo(a) do setor de instalações elétricas,

Nesta última edição da “Coleção Elétrica”, desejo agradecer a todos os amigos que prestigiaram o projeto por meio da leitura atenta e das mensagens de incentivo. Na primeira carta ao leitor, enunciei o objetivo da “Coleção Elétrica”, a saber: “disponibilizar para os profissionais brasileiros um conjunto de informações históricas, técnicas, normativas, de exercício profissional, educacionais, biográficas, etc., focados no setor de instalações elétricas”. Entregues as quatro edições, tenho a certeza de que nos esforçamos ao máximo para cumprir com o prometido. Homenageamos personalidades marcantes do setor, começando pelo Professor Ademaro Cotrim, passando pelo professor Eurico Freitas Marques e pelo Engenheiro Armando Reis Miranda. E, nesta última edição, brindamos os leitores com a biografia do saudoso engenheiro Moshé Gruberger, que tanto contribuiu para a evolução das instalações elétricas no Brasil a partir de seu escritório localizado em Belo Horizonte. Assim como no caso do engenheiro Miranda, Moshé não nasceu no Brasil, mas sua família escolheu nosso País para viver e aqui deixou suas marcas de competência e profissionalismo. Além das biografias, procuramos oferecer diversos temas específicos do setor de instalações elétricos escritos de uma forma diferente do habitualmente disponibilizado. Para esta quarta e última edição da “Coleção Elétrica”, preparamos algumas matérias que estão alinhadas com as metas deste projeto. Leia a curiosa passagem sobre as discussões relativas ao uso das correntes alternada e contínua que incendiou a rivalidade entre Thomas Edison e Nikola Tesla; aprenda um pouco mais sobre os Dispositivos Protetores de Surtos (DPS), que a cada dia tornam-se mais populares e necessários; não deixe de acompanhar a evolução das lâmpadas, desde sua invenção até as tendências futuras; veja um interessante ponto de vista sobre o estado da arte dos materiais elétricos disponíveis no mercado brasileiro; acompanhe o fechamento da discussão sobre pirataria; e divirta-se com uma palavra cruzada totalmente “eletrificada”. Agradeço aos amigos da Atitude Editorial pela oportunidade oferecida de colaborar neste projeto. Foi um trabalho de equipe fantástico, envolvente, emocionante, sempre em busca da perfeição. Meus parabéns a todos da equipe pela altíssima competência, envolvimento e paixão no trabalho que fazem. Foi uma honra fazer parte deste time. Assim como eu apreciei muito este trabalho, espero sinceramente que você, amigo(a) leitor(a), também desfrute deste último caderno da “Coleção Elétrica”, uma obra que marcará o setor elétrico para sempre.

Boa leitura e abraços!

Hilton Moreno

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cegrandes questõesDescargas atmosféricas podem interromper o fornecimento de

energia e trazer danos aos equipamentos elétricos. Conheça o

dispositivo que ajuda a proteger as instalações e os aparelhos

ligados à eletricidade.

históriaDa lâmpada incandescente ao moderno Led: a evolução de

uma brilhante idéia narrada com detalhes na reportagem de

Bruno Moreira.

biografiaHomenageado desta edição, o engenheiro Moshé Gruberger

está reconhecido nas páginas e depoimentos que ilustram sua

força no setor elétrico.

dentro da leiReduto de fábricas nacionais e estrangeiras, formais e informais,

a China é reconhecida por exportar produtos falsificados e de

baixa qualidade, mas esforça-se para reverter a fama e tornar-

se provedora de qualidade e tecnologia de ponta.

guerra das correntesA histórica polêmica sobre o uso das correntes alternada e

contínua e a rivalidade entre seus criadores: Nikola Tesla e

Thomas Edison.

desenvolvimentoBrasil trilha longo caminho em busca de crescimento no

mercado de materiais elétricos e de técnicas de instalação.

Com seriedade, muito já foi feito, mas veja nesta matéria os

desafios que faltam para o País se tornar referência no setor.

descontraçãoArrisque-se no jogo de palavras cruzadas e teste os seus

conhecimentos em elétrica.

DiretoresAdolfo Vaiser

José Guilherme Leibel Aranha

Gerência de planejamento Sergio Bogomoltz

[email protected]

CirculaçãoEmerson Cardoso

[email protected] Marques

[email protected]

Administração Paulo Martins Oliveira Sobrinho

[email protected]

Jornalista responsávelFlávia Lima

MTB [email protected]

Coordenador técnicoHilton Moreno

Direção de arte e produçãoLeonardo Piva

[email protected]

ColaboradoresBruno Moreira, Hanny Guimarães,

Mauro Júnior, Sergio Bogomoltz

RevisãoGisele Folha Mós

PublicidadeDiretor comercialAdolfo vaiser

[email protected]

Contatos PublicitáriosAna Maria Rancoleta

[email protected] Marquiori

[email protected] Dallava

[email protected]

Capa Kanji Design

ImpressãoGráfica Ipsis

DistribuiçãoCorreios

Atitude Editorial Ltda.Rua Piracuama, 280 cj. 72 / PompéiaCEP 05017-040 / São Paulo - SP

Fone/Fax - (11) 3872-4404 www.atitudeeditorial.com.br

[email protected]

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Temporais costumam ser desoladores em muitos sentidos. Um deles refere-se aos efeitos que as descargas atmosféricas, quase sempre presentes nos maus tempos, podem ocasionar. Trata-se de problemas na rede elétrica que podem interromper o fornecimento de energia elétrica ou trazer danos aos equipamentos elétricos ligados à rede. Um raio é uma corrente elétrica muito intensa que ocorre na atmosfera com típica duração de meio segundo e típica trajetória com comprimento de cinco a dez quilômetros. É conseqüência do rápido movimento de elétrons de um lugar para outro, fazendo o ar ao seu redor aquecer e iluminar-se. Sua periculosidade é sabida. Se uma pessoa for atingida diretamente por uma descarga elétrica desse porte, certamente, falecerá. Por aí vê-se a importância do pára-raio, invenção de 1753 do norte-americano Benjamin Franklin. Contudo, numa época de intenso desenvolvimento tecnológico, em que toda nossa vida é mediada por equipamentos eletrônicos, outros tipos de proteções contra raios também se tornaram necessárias. Segundo o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Osmar Pinto Júnior, um raio pode produzir um campo eletromagnético que

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Salvem as máquinas!O DPS é a maneira mais prática de lidar com uma sobretensão na

rede elétrica de uma edificação, evitando ou minimizando os danos aos equipamentos elétricos e eletrônicos. E seu uso é praticamente obrigatório.

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O Brasil é o primeiro país em número de incidência de raios, com mais de 50

milhões de descargas por ano, espalhadas em praticamente todo o Brasil.

se propaga como uma descarga indireta de energia pelas redes de distribuição elétrica, gerando um aumento momentâneo de tensão, ou sobretensão transitória na alimentação de energia de uma determinada instalação. Este fenômeno pode causar danos irreparáveis em aparelhos eletroeletrônicos. Além dos raios, os chaveamentos manuais ou auto-máticos que ocorrem nas redes de distribuição de energia elétrica podem provocar sobretensões nos sistemas. Para que os transtornos provocados por estas sobretensões não afetem as instalações elétricas, seus componentes e os equipamentos eletroeletrônicos existentes é que foi desenvolvido o Dispositivo de Proteção Contra Surtos (DPS). O DPS atua quando há um pico de tensão na rede. Ele serve para limitar as sobretensões e descarregar os surtos de corrente originários de descargas atmosféricas ou chaveamentos nas redes de energia. Segundo o engenheiro eletricista e diretor da Giullietto Modena Engenharia, Jobson Modena, ele desvia a maior parte do surto para a terra, deixando passar uma parcela suportável, que não acarreta danos, para a instalação. “Proteção com 100% de eficácia não existe”, diz. Caso uma determinada instalação elétrica de baixa tensão não possua o DPS, três tipos de danos podem ocorrer devido a uma sobretensão na rede elétrica, de acordo com Modena: o primeiro, na instalação elétrica, de uma forma geral; o segundo, no equipamento eletrônico; e, no caso mais grave, no próprio operador, que é atingido por uma descarga elétrica oriunda do equipamento. Segundo Modena, todos eles podem ser evitados com o uso de DPS, mas adiciona: “o dispositivo deve ser empregado em conjunto com um sistema de aterramento e de uma instalação elétrica projetada e construída de forma correta”.

O que diz a normalização Para que equipamentos eletroeletrônicos sejam protegidos e vidas não sejam colocadas em risco, a norma NBR 5410 já traz como praticamente obrigatório o uso de DPS nas edificações. Conforme Modena, na revisão realizada em 1997, a norma já possuía uma certa obrigatoriedade em relação ao uso do dispositivo de proteção, mas a exigência em praticamente todas as situações tornou-se explícita na versão de 2004. De acordo com a norma, as edificações que devem utilizar de maneira obrigatória um DPS são aquelas cuja região em que estão localizadas se encontra sob muita incidência de descargas atmosféricas; o que torna o uso necessário na maioria das residências, estabelecimentos comerciais e industriais do Brasil, já que, segundo o engenheiro Osmar Pinto Júnior, o País é o primeiro em número de incidência de raios, com mais de 50 milhões de descargas por ano, espalhadas em praticamente todo o Brasil, com menos incidência apenas na região Nordeste. “Mas mesmo aí, há focos com mais descargas como os Estados do Maranhão e do Piauí”, completa. Não obstante a generalização das descargas atmosféricas pelo País, a NBR 5410, baseda na norma internacional IEC, distingue três classes de DPS: classe I, indicada para locais AQ3, que segundo a norma brasileira, são os sujeitos a descargas diretas, e lidam com energia de maior intensidade; classe II, indicada para locais AQ2, sujeitos a surtos provenientes da linha externa de alimentação, e que trabalha com energia de menor intensidade que a prevista na classe I; e a classe III, indicada para locais que exigem uma proteção “fina”, aplicáveis a equipamentos mais sensíveis, que lida com energia de menor intensidade que a prevista na classe II.

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Dessa forma, uma determinada edificação pode apresentar os três tipos de dispositivos protetores instalados se atender os pré-requisitos previstos na norma. Com o intuito de diminuir a tensão residual de ponto para ponto, o DPS classe I deve ser instalado junto à entrada principal da edificação, o mais próximo possível do Barramento de Equipotencialização Principal (BEP). De acordo com o engenheiro eletricista e diretor da MTM Eletroeletrônica, Manuel Martinez, essa espécie de dispositivo é empregada em locais que possuem Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) ou os tradicionais pára-raios instalados. Para Martinez, em edificações que não possuem SPDA instalado, o dispositivo protetor classe II pode ser aplicado junto à entrada principal no lugar do classe I. Caso contrário, sua localização mais normal é nos quadros secundários de distribuição, formando um conjunto com o DPS classe I instalado na entrada. O DPS classe III, informa o diretor da MTM, é o protetor aplicado com o equipamento e deve ser projetado conforme a suportabilidade elétrica do aparelho. São três tipos de DPS para aplicações em redes de energia, além daqueles feitos especificamente para os sinais emitidos aos aparelhos de informática e telecomunicação.

Diferentes tecnologias Existem três tecnologias para fabricação de DPS: os que funcionam à base de “gap” de ar, os que trabalham com “gap” de gás e os que utilizam varistores. O primeiro, como o próprio nome diz, utiliza o ar como dielétrico. Neste tipo de DPS, informa o engenheiro Martinez, há dois eletrodos com um espaço vazio entre eles preenchido com ar. “Quando a sobretensão atravessa este vão, o dispositivo atua ”, conta. Conforme o diretor da MTM, todos os DPS da classe I são baseados em “gap” de ar. O problema, segundo ele, é que esses equipamentos a gap de ar não tem a atmosfera controlada, ou seja, estão sujeitos à pressão atmosférica,

à umidade relativa do ar e à temperatura. Isso faz a tensão de disparo do dispositivo não ser constante e a tensão de arco não ser controlada. Em casos de redes industriais, que são, normalmente, alimentadas por tensão de 380 V ou 440 V, e tem sua fase-neutro ou fase-terra trabalhando com 220 V ou 254 V, os dispositivos classe I à base de ar, por suportarem uma tensão menor que a exigida, acabam se tornando condutores da corrente subseqüente da rede e isso acarreta na destruição de seus eletrodos. O DPS a “gap” de gás sana este problema, segundo Martinez. Com atmosfera controlada, ele apresenta um tensão de arco superior a 280 V e, por conseguinte, não permite que a corrente subseqüente da rede elétrica seja transportada pelo DPS à terra. Isso, por sua vez, mantém a integridade física do dispositivo por muito mais tempo. Em relação aos dispositivos classe II e III, a tecnologia empregada é a do varistor, que é basicamente, conforme explica Martinez, formado por areia e por óxido metálico. “Há também alguns elementos de terras raras, mas isso é um segredo de cada fabricante”, comenta. Este composto apresenta características de limitador de tensão. O que no DPS classe I é o gap de ar, nos DPS classe II e III, é o varistor. Ambos funcionam como um elemento de fuga da corrente e o varistor é também um grampeador de tensão. A função do varistor é basicamente de deixar a corrente passar quando a tensão em seus terminais ultrapassa a tensão limite. A passagem da corrente é proporcional à tensão que o atinge e esta passagem gradual é o que garante que a tensão de saída não aumentará. O varistor é conectado a um dispositivo de segurança cuja função é desativá-lo se ele tiver sua vida útil excedida, danificar-se ou for submetido a tensões acima de sua capacidade. O varistor começou a ser fabricado no final da década de 1950 e seus primeiros modelos apresentavam apenas zinco em sua composição, sendo, normalmente, compostos de óxido ou dióxido de zinco. Mais tarde, no início dos anos 1960, foram adicionadas outras substâncias,

O DPS desvia a maior parte do surto para a

terra, não acarretando danos para a instalação,

mas proteção 100% eficaz não existe.

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como alumínio e bismuto e construídos sistemas binários. Em 1971, surgiram os varistores cerâmicos multicomponentes com propriedades mais avançadas que aquelas obtidas para sistemas binários. Na atualidade, há uma grande variedade de elementos que compõem o equipamento. O óxido de zinco ainda é o mais utilizado como base, contudo, varistores de dióxido de estanho e de titânio possuem um grande potencial tecnológico ainda pouco aproveitado. Seja qual for a tecnologia utilizada pelo DPS, ele deve atender às prescrições construtivas, de desempenho e ensaios da norma IEC 61643-1, ainda sem sua corresponde norma ABNT.

Chaveamento Os principais causadores de sobretensões são as descargas atmosféricas, que incidem nas edificações ou em seus arredores, e as manobras da rede elétrica – também chamadas de chaveamento – realizadas pelas distribuidoras de energia quando detectam algum problema no serviço. Em ambos os casos, não há como evitar a sobretensão. Uma descarga elétrica é um fenômeno natural, portanto incontrolável. E o desligamento da rede, por parte da distribuidora, também, muitas vezes, é inevitável. Sem essas intervenções, os técnicos de manutenção correriam grandes riscos. Quanto ao chaveamento, há um grande problema envolvendo a concessionária e seus clientes. Conforme relata Osmar Pinto Júnior, a população está cada vez mais consciente sobre seus diretos enquanto consumidores e sabe que, se o seu equipamento eletroeletrônico queimar devido a uma sobretensão, ela tem que ter um ressarcimento, afinal de contas, a energia elétrica é paga. Para o engenheiro eletricista Jobson Modena, a situação não é tão simples assim. Até 2004, a briga dos consumidores com as concessionárias era maior. Atualmente, argumenta Modena, se a concessionária realizar um chaveamento, causando uma sobretensão e, por este motivo, danificando um equipamento elétrico de alguma

residência, se esta edificação não apresentar uma instalação elétrica projetada e construída de maneira correta, a concessionária se exime de responsabilidade. O gerente de engenharia da distribuição e automação da AES Eletropaulo, Sergio Luiz Basso, informa que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por meio de resolução normativa, é que determina o procedimento e as responsabilidades das partes em caso de atribuição de culpa à concessionária por danos a equipamentos elétricos de terceiros. Segundo ele, todas as distribuidoras de energia elétrica seguem a resolução da agência, e indo ao encontro da opinião de Modena, afirma que, necessariamente, para efeito de ressarcimento, deve ficar absolutamente comprovado que a causa do defeito no equipamento está diretamente associada a algum problema ocorrido com a rede elétrica. Pesa a favor da distribuidora ainda o fato de que, na maior parte das vezes, de acordo com Basso, as sobretensões causadas por manobras de rede não acarretam em perigo para os aparelhos elétricos. “Os níveis de sobretensão para os sistemas de distribuição (até 69 kV) são muito baixos”, diz. As próprias normas brasileiras estabelecem valores de ensaios de sobretensão por surto de manobra para equipamentos de classe de tensão igual ou acima de 230 kV. Segundo ele, abaixo disso não existe obrigatoriedade e cuidados adicionais com os equipamentos da rede. Basso informa que as manobras que as distribuidoras realizam para operar o seu sistema (até 69 kV) não causam o tipo de perturbação que preocupa as normas técnicas. Isto acontece porque, para controlar a sobretensão por impulso atmosférico, a concessionária instala equipamentos denominados “pára-raios de distribuição”, cuja função é manter os níveis de sobretensão da rede de distribuição dentro dos valores especificados pela NBR 5410. “Como regra, na rede de distribuição, fazendo-se este controle da sobretensão por impulso, já temos o controle da sobretensão por manobra”, conclui.

O DPS é fabricado a partir de três

tecnologias: à base de gap de ar, de

gap de gás ou com varistores.

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Uma idéia brilhante é, com freqüência, representada com uma lâmpada sobre a cabeça do gênio. É como se o objeto iluminasse a mente da pessoa que até aquele momento se encontrava imersa em sombras de ignorância. Contudo, não poderíamos ilustrar aquele dia de outubro de 1879, no qual o jovem cientista norte-americano Thomas Alva Edison sentou-se à bancada de seu laboratório para desenvolver o projeto mais audacioso de sua vida até então, com a imagem de uma lâmpada pairando sobre sua cabeça, simplesmente porque a peça seria criada naquele instante. Iluminado, talvez, pelo próprio lampião a gás, invenção do cientista, Edison pôs-se a realizar a experiência que culminaria na execução da primeira lâmpada incandescente que se tem notícia.

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Após diversas experiências, a lâmpada elétrica tomou forma graças à genialidade de Thomas Edison. De lá para cá, com o progresso da humanidade, também

ela evoluiu e ganhou novos conceitos, tecnologias, tamanhos e formatos, mas o propósito permaneceu o mesmo: o de iluminar caminhos.

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Apesar do feito excepcional de Edison, não se deve pensar que sua obra foi o desejo realizado por um gênio da lâmpada. Desde o século XVIII, inúmeras invenções vinham sendo feitas com o objetivo de fazer a eletricidade existente na natureza ser domesticada e utilizada pelo homem. A primeira experiência que conseguiu produzir luz por meio da eletricidade foi realizada pelo químico inglês Humphry Davy em 1802. Ele observou que duas peças de carbono ligadas aos terminais de uma fonte de corrente, ao serem minimamente separadas, produzem entre elas uma luz com alta luminosidade. Por essa luz ser em formato de parábola, a invenção ficou conhecida como lâmpada de arco. Contudo, depois do início do fenômeno, observava-se que o pólo negativo da barra tomava uma forma pontiaguda e o pólo positivo uma forma de cratera. Ou seja, os eletrodos queimavam rapidamente e precisavam de constante monitoramento dos cientistas com o intuito de observar se eles estavam na distância correta, pois se o caso não fosse esse, o arco de luz se apagaria. Isso tudo fazia as barras de carbono terem de ser substituídas constantemente, o que tornava seu uso um tanto difícil e caro. Não obstante todos os empecilhos, a lâmpada de arco chegou a ser utilizada como fonte de iluminação pública e no cinema durante todo o século XIX. Na Inglaterra, por exemplo, muitos equipamentos desse tipo apareceram entre 1850 e 1870. Entretanto, nenhum obteve sucesso econômico. A lâmpada de arco deixou de ser utilizada nas primeiras décadas do século

XX, mas seu legado existe até hoje, pois é a precursora das atuais lâmpadas de descarga de mercúrio e de sódio.

Finalmente, a lâmpada Não se encontrava um meio para fazer a luz gerada por via elétrica ter intensidade e duração atrativas. Neste ponto, então, entra o gênio de Edison. Diz a História que ele testou mais de seis mil tipos de materiais que pudessem servir como filamentos no período de dois anos, mandando até um agente procurá-la nas florestas da Amazônia e outro nas florestas do Japão. Edison achou que tivesse encontrado o filamento ideal: a platina. Mas esta se mostrou dispendiosa do ponto de vista financeiro, além de ter eficiência limitada quando testada na prática. Em 1860, o físico e químico inglês Joseph Swan teria desenvolvido uma lâmpada primitiva, que utilizava um filamento de papel carbonizado em um bulbo de vidro sem ar, mas a iluminação resultante não era das melhores. O tipo de filamento correto para os propósitos do cientista só foi descoberto, no entanto, acidentalmente. Reza a lenda que, certa noite, mexendo em uma mistura de resíduo de carvão e alcatrão, o inventor enrolou a massa até transformá-la em um fino fio. Por curiosidade, resolveu testar o material e o colocou em uma bola de vidro, tomando cuidado para que o ar fosse retirado antes. Passou a corrente elétrica no fio, que brilhou por um curto período de tempo, depois queimou e se desfez. Para Thomas Edison, o filamento queimou rapidamente porque continha ar em sua mistura. Dessa forma, foi à caça de

A primeira experiência que conseguiu produzir luz por meio da eletricidade

foi realizada pelo químico inglês Humphry Davy em 1802.

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Lâmpada criada por Thomas Edison em 1901

um material que oferecesse uma incandescência como aquela do filamento anteriormente utilizado, mas que não apresentasse ar em sua composição, para que, assim, a luz durasse mais tempo. E o encontrou em uma máquina de costura: uma linha de algodão carbonizada. Depois de algumas tentativas frustradas, em 19 de outubro de 1879, o cientista conseguiu fazer esse novo material emitir uma luz intensa. Isso era uma boa notícia, mas ainda era preciso que o tempo de duração dela fosse maior. Ele cobriu, então, o filamento com o bulbo de vidro, retirando o ar e aguardou. A linha carbonizada só foi ser consumida dois dias depois, e o experimento foi considerado um sucesso. Estava inventada a lâmpada elétrica incandescente, que foi revelada ao público dois meses depois, no mês de dezembro, quando o cientista abriu para visitação seu laboratório que, agora, contava com um sistema completo de energia. Em 1880, a nova invenção começou a ser vendida em pequena escala e, paulatinamente, a luz dos lampiões a gás foi substituída por pequenas redes elétricas de iluminação. O primeiro lugar a receber iluminação elétrica por meio de uma fonte de força municipal centralizada foi a região de Pearl Street Station, na cidade de Nova York, em 4 de setembro de 1882. Apesar do sucesso da lâmpada incandescente criada por Edison, um problema ainda tinha de ser resolvido: o filamento de linha de coser carbonizada. Mas como? Ela não era a solução? Comparada com os outros materiais testados até aquele momento, certamente sim, tanto do ponto de vista da luminosidade como da duração, porém, há de se convir, que 40 horas de vida útil não é um tempo muito satisfatório. Era preciso procurar um material mais resistente e Edison e os demais cientistas da época foram atrás de novas opções.

Encontraram a solução nos fios metálicos de ósmio ou tungstênio e a composição da lâmpada incandescente passou a ser essa. O design da lâmpada de Swan teria sido mantido por Edison, com o aperfeiçoamento das técnicas de vácuo e, a partir de 1880, ambos começaram a produzir uma lâmpada praticável. Além do filamento com um material mais duradouro e do bulbo de vidro cuja função é impedir o contato do fio de metal com o oxigênio, a sua conseqüente oxidação e rompimento, a lâmpada incandescente passou a ser preenchida também com um gás inerte, em geral o argônio, que reduz o efeito de sublimação do filamento, fazendo o bulbo não escurecer com poucos dias de uso e diminuir sensivelmente a eficiência da lâmpada, assim como sua vida útil. O gás inerte também possui outra função importante: torna a lâmpada mais resistente, já que, se fosse evacuada, ela poderia quebrar com muito mais facilidade devido à própria pressão atmosférica. Uma modificação da tradicional lâmpada incandescente, a halógena leva este nome porque apresenta em sua composição cloro, bromo, iodo e fluor, substâncias químicas halógenas cuja função é ajudar na regeneração do filamento da lâmpada. Elas se combinam com o tungstênio que é ejetado do filamento no acionamento da lâmpada e se precipitam sobre o filamento depois que a lâmpada é desligada. Tal efeito faz esse tipo de lâmpada ter uma durabilidade até duas vezes maior que as tradicionais lâmpadas incandescentes, além de permitir boa manutenção do fluxo luminoso, uma vez que o efeito de enegrecimento por sublimação é minimizado.

Novas luzes A lâmpada incandescente é apenas um tipo desenvolvido pelo homem, mas, mesmo antes da invenção de Thomas Alva

Com tensão de 14 V, lâmpada foi criada em 1900 para aplicação decorativa

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Edison, outros equipamentos com o mesmo objetivo já vinham sendo testados pelo mundo. No entanto, devido aos problemas apresentados e, como a invenção de Edison se mostrou, na época, a única capaz de emitir uma luz de alta intensidade e com alta duração, estes equipamentos ficaram relegados a um segundo plano. Entretanto, com o avanço tecnológico, novas espécies de lâmpadas surgiram e aquelas que nasceram como concorrentes das incandescentes foram melhoradas, ao ponto de os equipamentos tradicionais não serem mais as únicas opções eficientes no mercado. A lâmpada a arco voltaico, por exemplo, criada antes da lâmpada incandescente, não deu tão certo quanto esta na época, mas acabou servindo de modelo para as atuais lâmpadas de descarga: a vapor de mercúrio, a vapor de sódio e a fluorescente.

A todo vapor Inventada por volta de 1930, a lâmpada a vapor de mercúrio sob alta pressão deve boa parte de seu sucesso à expansão da indústria automotiva norte-americana da década. Tem como princípio de funcionamento a descarga entre dois eletrodos que ficam imersos em uma atmosfera de argônio, com uma pequena quantidade de mercúrio. Por apresentar um eletrodo auxiliar no seu tubo de descarga, que ioniza o gás argônio nas suas vizinhanças, a lâmpada a vapor de mercúrio dispensa qualquer pico de ignição para que inicie seu funcionamento. O equipamento possui também um reator cujo objetivo é limitar sua corrente e tensão a valores aceitáveis para que sua operação seja mais segura. A lâmpada a vapor de mercúrio tornou-se realidade, mas, no passado, as suas primeiras cópias encontraram uma série

de empecilhos; o principal deles se deu na selagem do tubo de descarga, que acabava rachando. Isso acontecia porque a temperatura do mercúrio sob a forma de plasma de alta pressão era extremamente alta e exigia que os construtores empregassem quartzo para a produção de seu tubo de descarga. A questão é que o quartzo tem um coeficiente de dilatação térmica muito baixo quando comparado ao coeficiente de dilatação térmica dos metais, ou seja, os eletrodos de tungstênio encerrados dentro do tubo de descarga acabavam o pressionando e causando as rachaduras. A resolução do problema deu-se com a utilização de finas placas condutoras do metal nióbio que foram conectadas aos eletrodos e aos terminais do tubo de descarga da lâmpada a vapor de mercúrio. Quando o tubo se aquecia, as placas apresentavam uma dilatação um pouco maior que a sua, mas, por serem extremamente delgadas não forçavam o tubo e, conseqüentemente, não rachavam sua selagem. Com o passar do tempo, a lâmpada a vapor de mercúrio sofreu aprimoramentos, o que desembocou na lâmpada a vapor metálico, muito semelhante à primeira, mas com iodetos metálicos que melhoraram seu desempenho. Ela conta também com um revestimento de alumina nas extremidades de seu tubo de descarga. Isso faz o calor produzido ser refletido pela descarga para os eletrodos, evitando a condensação dos iodetos no interior do tubo. A chamada lâmpada mista também é uma variação da lâmpada a vapor de mercúrio sob alta pressão. Tem esse nome porque apresenta, dentro do mesmo bulbo, um tubo de descarga com mercúrio e um filamento de lâmpada incandescente ligado em série a ele. Tal característica não é mero enfeite, pois melhora o espectro luminoso do equipamento e, ao mesmo tempo,

Lâmpada com bulbo de vidro na cor verde fabricada pela GE em 1903

Lâmpada fabricada em 1929 em comemoração ao aniversário de 50 anos de criação da primeira lâmpada incandescente

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desempenha o papel de reator, possibilitando que a lâmpada de luz mista seja ligada diretamente à rede elétrica, da mesma forma que a incandescente. Desenvolvida na mesma época que a lâmpada a vapor de mercúrio, a lâmpada a vapor de sódio sob baixa pressão surgiu com o objetivo de melhorar o rendimento das lâmpadas existentes e também trazer mais segurança para a iluminação das grandes vias expressas. O seu alto rendimento, chegando a superar os 180 lumens/watt, foi extremamente popular na década de 1950. Contudo, como o seu espectro luminoso era praticamente monocromático na região do amarelo, caiu em desuso logo que o aparecimento de sua sucessora: a lâmpada a vapor de sódio sob alta pressão. Isto aconteceu porque, apesar de seu rendimento ser menor em relação à lâmpada anterior, a lâmpada a vapor de sódio sob alta pressão apresentava um espectro de luz muito mais rico. Seu funcionamento é baseado no mesmo princípio de sua predecessora, diferindo apenas no fato de que, além do sódio, apresenta mercúrio em sua composição e também gases nobres que funcionam como agentes iniciadores da ignição.

O florescer da lâmpada fluorescente A lâmpada fluorescente é composta por um tubo de vidro à base de fósforo com um par de eletrodos em cada extremidade; internamente ela é carregada com gás inerte a baixa pressão. Assim como as lâmpadas a vapores, ela também funciona por uma descarga inicial. Sua mistura gasosa ao excitar-se produz radiação ultravioleta (UV), que é invisível e faz com que o espectro luminoso produzido pela descarga seja extremamente pobre. Para resolver este pequeno problema, o tubo é revestido de fósforo. Este, devido às suas propriedades químicas, acaba convertendo a

radiação em luz visível. Por conter fósforo, a lâmpada fluorescente também pode ser chamada de fosforescente. Introduzida no mercado consumidor em 1938 pela General Electric (GE), a lâmpada fluorescente deve seu surgimento, no entanto, a outras invenções similares feitas no passado. Os primeiros passos para sua invenção foram dados pelo físico alemão Heinrich Gleisser, em 1856. O inventor conseguiu, ao excitar, com uma bobina, um gás selado em um tubo de vidro, produzir um brilho azulado. Após a descoberta de Gleisser, inúmeros experimentos foram realizados até chegar na invenção do cientista alemão Edmund Germer, que, em 1926, pegou uma lâmpada com vapor de mercúrio, aumentou a pressão operacional dentro de seu tubo e o revestiu com pó fluorescente para converter a luz ultravioleta em uma luz branca mais uniforme. Estava inventada assim a lâmpada fluorescente. Da mesma família, a lâmpada fluorescente de indução possui basicamente a mesma estrutura da outra, mas não apresenta eletrodos na sua parte interna; é constituída por uma ampola com mercúrio e por uma bobina interna, que excita o mercúrio, ou tem simplesmente um tubo fechado com duas bobinas enroladas em suas extremidades. Há também a lâmpada fluorescente compacta (CFL), que apresenta diâmetros menores em relação às originais. De acordo com a GE, elas já são construídas com reatores e bases rosqueadas para facilitar a substituição por lâmpadas incandescentes. Em comparação com as incandescentes, as lâmpadas fluorescentes levam uma certa vantagem: além de produzirem tonalidades de luzes brancas “mornas” semelhantes às da luz incandescente, utilizam, aproximadamente, 70% menos eletricidade do que essas, níveis de lumens semelhantes e vida útil até 20 vezes maior. É considerada a lâmpada de descarga mais

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popular no mundo, sendo utilizada em aplicações residenciais, comerciais, industriais e outras.

A velha novidade O Diodo Emissor de Luz, o famoso Led é a última palavra em tecnologia de lâmpadas no mundo. É uma invenção nova. Nova? Não tão nova. Não só porque já se ouve falar dela há mais de dez anos, mas porque antes de ser empregada na área de iluminação, ela já era uma velha conhecida em outros lugares e com outras funções. De acordo com a fabricante de lâmpadas Osram, os Leds têm sido utilizados há mais de 30 anos como substitutos das lâmpadas de sinalização ou lâmpadas pilotos nos painéis dos instrumentos e aparelhos diversos. Eles podem ser visto em diversas aplicações industriais, tais como gabinetes de comutação a instrumentos de medição, em instalações de sinal de trânsito para rodovia ou ferrovia e em produtos para o consumidor, como iluminação interna e externa de automóveis, em computadores pessoais, telefones, DVDs e outros aparelhos eletrônicos. Soma-se a isso a sua origem, que remonta ao começo do século XX, mais especificamente a 1907, quando o engenheiro eletrônico inglês Henry Joseph Round, ao fazer experimentos na área de rádio, descobriu o efeito físico da eletroluminescência. Conforme a Osram, sua descoberta foi esquecida em um primeiro momento, mas retomada posteriormente, o que acarretou no primeiro diodo com luminescência vermelha, lançado em 1962. Anos mais tarde, em 1971, foram colocados a venda os primeiros Leds nas cores verde, laranja e amarelo. É quando eles começam a ter sua potência e eficácia aperfeiçoadas. Dois anos mais tarde, surgem diodos altamente eficientes, que emitem luz no espectro azul e verde. Dessa forma, foram atendidas as condições para criar luz branca, fato que aconteceu em 1995.

Segundo o engenheiro eletricista e diretor técnico da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), Isac Roizenblatt, em um futuro não muito distante, os Leds e o seu “primo próximo”, o Diodo Orgânico Emissor de Luz (Oled) terão uma significativa participação de mercado, tanto em volume de unidades como em produção de luz artificial. Isto deve ocorrer porque os produtos disponíveis no mercado e os que estão em desenvolvimento já atingem mais de 100 lúmens por watt, apresentam um índice de reprodução de cor superior a 90, uma gama de temperaturas de cor e vida útil superior a 50 mil horas, podendo funcionar por mais de dez anos.

Novo paradigma De acordo com Roizenblatt, não obstante as tecnologias surgidas depois da invenção de Thomas Edison, as lâmpadas incandescentes e sua variante, as halógenas, são ainda quantitativamente as de maior volume no mundo. Contudo, elas produzem apenas cerca de 10% da luz artificial para iluminação. Conforme o engenheiro, aproximadamente 25% da luz artificial é gerada pelas lâmpadas de descarga de alta intensidade, 10% pelas fluorescentes compactas e 55% pelas lâmpadas fluorescentes. “Com essas proporções, vemos que 90% da luz artificial é produzida pelas lâmpadas de descarga, e as lâmpadas de descarga em baixa pressão fluorescentes lideram por larga margem devido às suas características”, constata. Por conta dessa estrutura mercadológica, segundo Roizenblatt, as novas tecnologias entrantes, como os Leds e os Oleds, devem ter as lâmpadas fluorescentes, fluorescentes compactas, a vapor de sódio e as cerâmicas a vapor metálico, como “benchmark”, ou seja, como modelo para se espelharem, buscando sempre o seu grau de excelência máximo.

Os primeiros passos para a invenção da lâmpada fluorescente foram dados pelo físico alemão Heinrich Gleisser, em 1856, que conseguiu

produzir um brilho azulado ao excitar, com uma bobina, um gás selado em um tubo de vidro.

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O engenheiro civil Moshé Gruberger trouxe grandes contribuições para o conceito de sistemas prediais em Belo Horizonte (MG) e é hoje, reconhecidamente, um dos grandes nomes da engenharia brasileira.

A força de Moshé

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Inúmeras qualidades fizeram do engenheiro civil Moshé Gruberger o homenageado desta edição, como sua contribuição para a evolução dos projetos prediais e sua convicção que fez suas escolhas sempre darem certo. Outras evidências de que a nossa escolha foi acertada foram encontradas ao longo da apuração desta reportagem. Todas as pessoas ouvidas demonstraram profunda admiração por Moshé e não pouparam elogios ao engenheiro falecido no começo deste ano. Uma delas é Cristina Bráulio, engenheira civil como Moshé e proprietária da Printer Projetos e Construções. Embora tenha conhecido Moshé superficialmente e apenas no âmbito profissional – revisou um projeto de um shopping center feito por sua empresa –, guardou dele boas recordações. “Também trabalho como professora de uma universidade em Belo Horizonte, lecionando disciplinas tanto na área de engenharia como na de arquitetura e percebo que os arquitetos têm um profundo conhecimento dos grandes nomes de sua área. Não temos essa tradição de homenagear os grandes nomes da engenharia e o Moshé é um grande nome, uma referência. Ele merece”, avalia. Este depoimento vai ao encontro desta seção, desde sua

primeira edição: dar os louros da glória a quem merece. Com Moshé não seria diferente, mesmo que este reconhecimento não tenha vindo em tempo de encontrá-lo em pleno gozo da vida.

O início Nascido em terra estrangeira no dia 25 de julho de 1939, Moshé Gruberger morava no Brasil desde 1952; a capital mineira Belo Horizonte foi o local escolhido por sua família para estabelecer sua vida no País. Foi aí que ele, seguindo os passos de seu pai, também engenheiro, cursou a faculdade de engenharia civil na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e conheceu sua esposa Neide Ures Gruberger, com quem teve três filhos: Isaak, engenheiro eletricista; Tatiane, arquiteta; e Rosane Gruberger, designer gráfica. Em 1968, fundou sua empresa, a Enit Projetos e Consultoria, realizando trabalhos na área de sistemas prediais. Na opinião de Cristina Bráulio, a importância de Moshé para a engenharia começou exatamente neste ponto, com a abertura da Enit. “Tenho que dizer que ele revolucionou o conceito de sistemas prediais aqui em Belo Horizonte”, conta. Segundo ela, o escritório de Moshé foi importante por ter sido

“Não temos a tradição de homenagear os grandes nomes da engenharia e Moshé é uma

referência. Ele merece” Cristina Bráulio

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Moshé tinha poucos, mas grandes projetos, como

shoppings centers, aeroportos, prédios industriais,

especializando-se nesse segmento. Abaixo, maquete

da sede da Petrobras em Vitória (ES).

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um dos primeiros a realizar projetos nessa área e trabalhou de modo que sua empresa não sofresse prejuízos, justamente por projetar poucos, mas grandes trabalhos. Conforme Cristina, ele montou sua empresa em uma época que não era muito comum realizar projetos nessa área. “Não havia muita procura”, diz. Apesar do grande desafio, Moshé nunca desistiu e tornou-se, além de um engenheiro, um empresário de sucesso. Neide Gruberger acrescenta que a união de Moshé, em 1970, aos bons arquitetos Fernando Graça, Eolo Maia, Paulinho Leander, Ney Gomes e Kleber Gonçalves foi decisiva para a divulgação da empresa, que, entre outros projetos, colocou sua marca na construção da Pampulha. Uma das grandes estratégias para o sucesso da Enit, na visão da proprietária da Printer, foi a preferência de Moshé por projetos de grande porte, como shoppings centers, aeroportos, edifícios comerciais e prédios industriais, especializando-se nesse segmento. “Ele tinha poucos projetos, mas grandes e de qualidade”, conta. A participação na construção dos edifícios comerciais do Banco Mercantil e do Brasil, e ainda da Telemig, são prova disso. Outra grande sacada de Moshé, de acordo com Cristina,

foi a expansão dos negócios para fora de Belo Horizonte. Percebendo a possibilidade de ultrapassar as fronteiras da cidade, Moshé se aventurou em outras regiões do País, como São Paulo. De acordo com a sua esposa, foi em 1978 que essa mudança começou. “Moshe já não utilizava mais a régua de cálculo e buscava máquinas de calcular elétrica e computadores Radio Shack”, afirma. Foi nesse processo de inovação que projetos fora de Minas Gerais, principalmente shoppings centers, começaram a surgir. Destaque para o Norte Shopping e Barra Shopping, no Rio de Janeiro; o Anália Franco, o Villa Lobos e o Jardim Sul em São Paulo. E até fora do Brasil: a Enit expandiu seus negócios, realizando a construção do Cascais Shopping, em Portugal.

Exemplo humano e profissional Por sua competência profissional e sucesso como empresário, Moshé e sua empresa tornaram-se modelo de conduta para muitos engenheiros que resolveram abrir também seu próprio escritório. Um deles foi a própria engenheira Cristina Bráulio. “Sua empresa foi, para mim, o exemplo do máximo que se podia alcançar nesse setor”, conta. Outros dois engenheiros que se inspiram em Moshé começaram como estagiários de

Moshé, além de engenheiro, um empresário de sucesso.

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sua firma. O primeiro foi o engenheiro eletricista Potirene Ubirajara da Silva e o segundo, o também engenheiro eletricista Marcelo Dicker. Potirene conta que sua história junto a Moshé começou com seu irmão arquiteto, Maruene. Segundo ele, Maruene e Moshé viajaram juntos a trabalho, em 1972, para verificar um projeto no município mineiro de Cataguazes. Nessa viagem, Maruene falou sobre um irmão que estudava engenharia elétrica e, coincidentemente, Moshé precisava de um estagiário nessa área. “Me apresentei em dezembro 1972 e comecei a trabalhar lá em janeiro de 1973”, diz. Mais de trinta anos se passaram desde então e Potirene virou um dos sócios. Com o falecimento de Moshé, Potirene comanda a Enit com a viúva Neide Gruberger. E, para o engenheiro eletricista, muito das lições ensinadas pelo antigo colega ainda está presente no dia-a-dia da empresa. O jeito de ser de Moshé dentro da empresa fez dos profissionais que os cercam um grupo de grandes colaboradores, fiéis e amigos. Estes frutos, de acordo com Potirene, que ainda hoje são aproveitados lá dentro, foram incontestavelmente plantados por Moshé. “Esta é hoje a grande bandeira que utilizo para dar continuidade aos trabalhos e manter o nosso espírito de equipe”, diz.

O engenheiro eletricista Marcelo Dicker tem uma história parecida com a de Potirene, pelo menos no tocante ao início de suas carrerias. Ele também começou na Enit enquanto estudava engenharia elétrica, por volta de 1986, e ficou lá por seis anos até sair para abrir sua própria empresa de projetos de sistemas prediais e industriais, a Ecom Engenharia Computadorizada. Segundo Dicker, os anos passados na Enit foram uma verdadeira escola. Ele observou a forma de trabalhar de Moshé – sua preocupação com a qualidade do projetos, que eram sempre bem concebidos, detalhados, mas de fácil execução e de um jeito que facilitasse o uso para o cliente – e aprendeu muito com isso. “Digo a todos que tive a oportunidade de trabalhar na Enit e que muito do que eu sei devo ao Moshé”, orgulha-se. Mesmo depois da saída de Dicker da empresa de Moshé, os dois mantiveram um bom relacionamento, tanto que, há dois anos, conta Dicker, a Ecom fez uma parceria com a Enit para a realização de três projetos de sistemas prediais.

Gênio forte: presença marcante Por conta do relacionamento que seu pai tinha com Moshé, mesmo seguindo caminhos distintos, Dicker se considerava um amigo do proprietário da Enit. “Sempre tive

O jeito de ser de Moshé fez dos profissionais que os cercavam um grupo de grandes colaboradores, fiéis e amigos.

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“O fundador da Enit tinha a capacidade de vislumbrar boas soluções com uma facilidade de

quem está montando um quebra-cabeça infantil” Potirene Ubirajara da Silva

Edifício comercial, localizado na Avenida das Nações Unidas, em São Paulo (SP), foi projetado pela Enit em novembro de 2006 e inaugurado em meados de 2008.

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o Moshé como professor e acabei criando uma relação pessoal com ele”, comenta. No entanto, o engenheiro eletricista reconhece que o relacionamento com Moshé nem sempre era fácil. “Por acreditar muito nas suas idéias, ele as defendia com muito vigor, o que, às vezes, para algumas pessoas tornava a convivência complicada”, conta. Dicker define Moshé também como um sujeito divertido, “boa-praça”, brincalhão e inteligente. Por ser tudo isso, segundo ele, Moshé marcava a presença positivamente de uma maneira muito intensa. “Tenho por mim, inclusive, que, para as pessoas que viveram com ele rotineiramente, a sua perda ainda deve ser muito sentida”, analisa. Como conviveu quase sua vida toda com ele, Potirene pode falar com propriedade sobre a falta que Moshé faz. O engenheiro ainda lembra de sua voz marcante dentro da Enit, o bom humor, a descontração e suas broncas nas horas certas. “Ele faz toda a falta do mundo. A sua presença era suporte para todos e em todos os sentidos, seja para assuntos pessoais, seja técnicos”, afirma. O fundador da Enit tinha a capacidade de vislumbrar boas soluções com uma facilidade de quem está montando um quebra-cabeças infantil e, na relação com o

cliente, apresentava um carisma único difícil de ser coberto por qualquer um de nós que estamos na sua sucessão.

A família Moshé Quem entra no site da Enit logo percebe que se trata de uma empresa diferente, que, mesmo não formada exclusivamente por parentes, pode ser definida como familiar. Para se ter idéia, a descrição da equipe técnica da empresa é apresentada da seguinte maneira: “Todos os responsáveis técnicos realizaram sua vida profissional tão somente na empresa, participando de todos os projetos desenvolvidos, não tendo tido nenhuma experiência profissional em outra empresa”. O texto refere-se aos sócios-proprietários da Enit: o engenheiro civil Moshé Gruberger e sua esposa, a engenheira mecânica Neide Gruberger, e os engenheiros eletricistas Potirene Ubirajara e Mário Sergio Pereira. De fato, todos não haviam trabalhado em nenhum outro lugar. Potirene, que trabalha lá desde a época de estagiário, conta que a situação, atualmente, é um pouco distinta. De acordo com ele, há cinco anos, Mário Sérgio não está mais na companhia e, com o falecimento de Moshé, a sociedade foi dividida entre ele, que possui 10%, e Neide e os filhos, com 90%.

Torre Paulista – prédio localizado na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), projetado em junho de 2007.

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Embora possa se pensar que Neide Gruberger tornou-se sócia por ser a esposa de Moshé, a verdade é outra. Ela sempre foi atuante na companhia, sendo responsável, como engenheira mecânica, pela parte dos projetos de ar-condicionado da empresa. Segundo Potirene, ela trabalhou durante muito tempo nesta função e só largou o emprego em certo momento para se dedicar com mais afinco à família. De acordo com Potirene, todas as funções na empresa eram bem divididas: os projetos elétricos e afins ficavam com ele e o engenheiro Mário Sergio. Já Moshé tinha como foco principal os projetos hidro-sanitários e prevenção e combate a incêndio, sua especialidade. Mas o fato é que, por sua versatilidade, coordenava, de modo geral, todos os projetos de instalações que a empresa produzia. Mais tarde, seu filho Isaak e sua filha Tatiana começaram a trabalhar na Enit: ele, assumindo a direção comercial e ela, a direção da gerência de projetos da empresa. Depois de 35 anos trabalhando juntos, era de se esperar que Potirene e Moshé se tornassem amigos. Mais que amigos, uma família. “Neste período me casei, nasceram meus filhos, eles se formaram e Moshé esteve sempre presente em tudo. Ele também, nesse meio tempo, teve suas outras duas filhas, os meninos se

formaram, casaram e eu estive sempre participando dos eventos familiares”, diz saudosamente. Ademais, segundo Potirene, as muitas viagens a trabalho que os dois fizeram juntos geraram um grande companheirismo. “Em uma preparação para essas viagens, aconteceu uma história divertida e que Moshé contava sempre que podia”, lembra. Quando a Enit iniciou uma série de projetos para a Mendes Júnior, eles foram convidados a realizar um proposta para a obra Express Way nº 1, no Iraque. Em uma reunião, para discutir as condições do projeto, eles comentaram sobre a necessidade de visitas freqüentes ao Iraque e um diretor da Mendes Júnior fez a seguinte pergunte a Moshé, baseado em seu nome: “Você é judeu?”, a qual Moshé respondeu: “Sim, eu sou!”. Diante dessa reposta, os outros integrantes da Mendes Júnior alertaram sobre a dificuldade para conseguir o visto, mas que iriam avaliar a situação. Nesse instante, o diretor falou, novamente: “Bom, pelo menos você não é iraniano. Estes sim não podem passar nem perto da fronteira”. Depois de um momento de silêncio, Moshé deu uma risada e disse: “Eu nasci em Teerã. Sou iraniano da capital”. “A gargalhada foi geral. Bom, dessa forma, as visitas do Iraque ficaram para mim”, relembra Potirene.

Projetado em 2005 pela Enit, o edifício Eldorado Business Center foi um dos primeiros a receber o

certificado LEED (em inglês, Leadership in Energy and Environmental Design) de sustentabilidade ambiental.

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Maioria dos produtos falsificados ainda é originada na China, mas o índice já foi maior. Investimentos em educação e tecnologia têm feito do império chinês uma potência mundial

e uma fonte de produtos feitos com cada vez mais qualidade

Nova pujança econômica do século XXI, a China despontava como a única potencia capaz de ameaçar a supremacia norte-americana e foi pivô de grandes transformações econômicas em todo o mundo. País de extensão territorial com dimensões continentais, a China abriga cerca de 20% da população mundial – 1,3 bilhão de habitantes – e recebeu, apenas no primeiro semestre de 2008, investimentos estrangeiros diretos da ordem de US$ 52,4 bilhões. Mas nem sempre foi assim. Até a década de 1960, a China era um país fechado política e economicamente, o que se deveu, principalmente, à ideologia contrária à vigorada na maioria dos países ocidentais e pela desconfiança nos estrangeiros, gerada pelas imposições sofridas com a Guerra do Ópio, em 1840. Já na década de 1970, com a entrada de Deng Xiaoping no poder, a China decide adotar um amplo programa de reformas e ingressar de vez na ordem mundial. Houve então quatro grandes modernizações: cultural, militar, industrial e agrícola. Em um país em que 70% da população era constituída por camponeses, era natural que as reformas começassem na agricultura. Assim, as famílias poderiam cultivar o que desejassem em terras pertencentes ao Estado, entregariam parte da produção para o governo e poderiam vender o restante ao mercado. O resultado foi um notável crescimento da produção agrícola e disseminação da iniciativa privada e do trabalho assalariado no campo. Nesse sentido, o sistema econômico chinês foi modificado e

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O grande dragão chinês

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incluiu em seus planos a abertura ao exterior e ao capital externo. A grande revolução, entretanto, veio com a criação das chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), instituídas com o intuito de atrair capital estrangeiro. Na tentativa de ampliar suas exportações, a China concedeu grandes benefícios aos investidores estrangeiros e funcionou. A reforma econômica na China foi chamada de “economia socialista de mercado”, ou seja, um país socialista com um mercado livre. Conforme escreveu o advogado José Ricardo dos Santos Luz Jr., em um artigo, “a participação do investidor estrangeiro na China tinha como objetivo a introdução de tecnologia, métodos modernos de administração (“know-how”), otimização do parque industrial nacional e desenvolvimento da região favorecida. Em contrapartida, o investidor estrangeiro receberia inúmeros incentivos fiscais, além de flexibilização das normas trabalhistas em vigor”. Nesse compasso, a economia chinesa cresceu, nos anos de 1980 e 1990, a taxas médias de 9%, destacando-se a província de Guangdond, que crescia a uma média de 12,5% ao ano, taxa mais alta do mundo no período. O PIB chinês saltou de 362 trilhões de yuan em 1978 para 1.854 trilhões de yuan em 1990.

Made in China Com a abertura econômica e as crescentes exportações da China, o mundo foi invadido por produtos chineses. Em 1980, período de início das reformas econômicas, a China ficou em 25º no ranking de exportadores, vendendo para o mercado externo cerca de US$ 18 bilhões. Em 1997, o país alcançou a soma de US$ 183 bilhões com exportações, tornando-se o 10º no ranking mundial. Para se ter idéia, em 2007, as importações da China para o Brasil dispararam 54%, ultrapassando o Mercosul e tornando-se o segundo maior fornecedor de produtos para o Brasil, depois apenas dos Estados Unidos. As importações chinesas representam, atualmente, cerca de 10% do total de bens comprados pelo Brasil no exterior. Desde os anos 1990, no entanto, os produtos chineses vêm

adentrando o mercado brasileiro e de tantos outros países, mas muitos deles vieram acompanhados por qualidade e desempenho duvidosos. Em 2005, cerca de 90% dos produtos contrafeitos que entraram no Brasil eram provenientes da China. O coordenador do Grupo de Trabalho de Combate aos Produtos Contrafeitos e Ilegalidades, da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Mario Sergio Amarante Filho, conta que é comum encontrar no mercado pilhas e baterias com nomes e cores similares aos de empresas reconhecidas do setor. “No início chegavam cópias perfeitas, mas mudaram a estratégia e agora colocam produtos à imagem e semelhança do fabricante tradicional, mas com sua marca própria”, reprova. Foi essa concorrência desleal que levou diversos fabricantes a se unirem e formarem o grupo, com o objetivo de conscientizar o usuário de modo que ele exija qualidade e conformidade com as normas técnicas, ciente dos riscos que corre ao consumir produtos baratos, falsificados e sem qualidade técnica. Entretanto, o mapa da pirataria é amplo. De acordo com o Sindicato Nacional dos Técnicos da Receita, o Brasil é o quarto país que mais consome produtos pirateados, depois da China, Rússia e Paraguai. As falsificações chegam ao Brasil por diversas rotas, com destaque para os portos de Santos e de Paranaguá, por meio do Depósito Franco Paraguaio, localizado no interior desses portos. Esses produtos, geralmente, são produzidos na China, mas é comum muitos deles receberem acabamento ou montagem final em alguns países, como Paraguai e Uruguai, para chegarem ao Brasil e a outros cantos da América do Sul com mais facilidade, considerando as vantagens do comércio entre as nações que integram o Mercosul. De acordo com a Federação do Comércio (Fecomércio), os produtos trazidos do Paraguai (made in China) representam vendas superiores a 88% do mercado informal. O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos Nema Brasil, o engenheiro eletricista Hilton Moreno, explica que essas empresas são chamadas de “maquiladoras”, sendo, em sua maioria, empresas chinesas que montam pequenas fábricas no Paraguai

O conjunto de reformas promovido pelo governo de

Deng Xiaoping refletia a idéia por ele declarada, de que “não

importa a cor do gato, importa que ele pegue os ratos”.

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e em outros países com o objetivo de receber os produtos chineses para o acabamento final e então comercializá-los nos países vizinhos, com benefícios fiscais. O mesmo acontece no México, tendo em vista o mercado norte-americano. Moreno enfatiza que isso não é ilegal. “Muitas dessas empresas são formais, mas é um artifício que prejudica a concorrência no mercado”, completa. O presidente da Câmera de Comércio Brasil–China, Charles Tang, confirma que a China investe em montadoras localizadas em países estratégicos, as quais, dentro da legislação da região, exportam para outros países. Ele cita, entretanto, que os brasileiros e outras nações fazem o mesmo processo. “Da mesma maneira, o Brasil exporta etanol para ser hidratado na região do Caribe, por exemplo, para, em seguida, exportar para os Estados Unidos, aproveitando também facilidades de comércio entre os países. E isso não é ilícito e nem exclusivo da China”, defende. A contrafação é muito expressiva no cenário internacional. De acordo com a Câmara de Comércio Internacional, nos últimos dez anos, a contrafação provocou uma perda de 100 mil postos de trabalho por ano na União Européia, e de 120 mil nos Estados Unidos. Outro dado significativo da Câmara Internacional é a previsão de que 5% a 7% do comércio mundial sejam constituídos por atividades relacionadas à contrafação, com destaque para a indústria de softwares e eletrônicos. Charles Tang conta que os juros e os tributos baixos foram e continuam sendo a principal marca da economia chinesa. Ele enfatiza que o problema não é o custo baixo da China, mas sim o alto custo brasileiro. “Enquanto os tributos lá representam 17,5% do produto, aqui no Brasil chegam aos 40%. O mesmo acontece com os encargos trabalhistas, que são de 58%, e que aqui alcançam os 127%”, diz. Além disso, os juros praticados na China são um dos menores do mundo, ao passo que os juros brasileiros estão entre os mais altos. “Comparado ao Brasil, a China não tem câmbio desfavorável, nem um sistema tão

burocrático. Se os custos brasileiros não fossem tão caros, não teríamos tantos empresários ganhando tanto trazendo produtos da China”, conclui Tang.

Livre arbítrio A trajetória da China é similar à do Japão. Hilton Moreno lembra que, nos anos 1960, o Japão começou a exportar produtos de má qualidade e em grandes quantidades. Duas décadas depois, o governo japonês implantou e incentivou uma filosofia de tecnologia e, atualmente, os produtos lá manufaturados apresentam boa qualidade. “Assim acontece com a China: no final dos anos 1990, praticamente todos os produtos chineses eram de má qualidade, ao passo que, nos dias de hoje, muitos produtos chineses apresentam bom desempenho”, reconhece. Ele afirma que a China abarca muitas empresas multinacionais e milhares de empresas chinesas que podem e fazem produtos de boa qualidade. “Em poucas palavras, o fabricante chinês faz o que o mercado pede. Por exemplo, se ele precisar fazer o melhor disjuntor do mundo, ele vai fazer”, completa. Charles Tang, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, lembra que mais de 50% das exportações chinesas são provenientes de empresas multinacionais que estão no país. “Então, se ainda há problemas de qualidade, não tem de reclamar com o governo chinês, mas com as multinacionais”, sugere. Cada vez mais a China está sendo reconhecida pela qualidade dos seus produtos. “O problema é que quem não conhece a China a teme, pois não conhece as múltiplas oportunidades que ela oferece”, analisa Tang. Gradativamente, os produtos são valorizados pela sua qualidade, design e tecnologia e deixando de ser um país de produtos baratos e qualidade relativa. “Claro que ainda há produtos baratos de qualidade inferior, mas a pirataria está sendo duramente combatida pelo governo

O dragão é um símbolo mitológico que congrega os quatro elementos do planeta: água, ar, fogo e terra. É considerado o emblema do império chinês, repre-sentando a energia masculina e a fertilidade. Além disso, corresponde à quinta criatura do zodíaco Chinês, cuja função é guardar o Oriente.

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chinês, que, inclusive, está considerando a pena de morte para aquele que cometer o crime da pirataria”, revela. O gerente comercial da Joining, Law Hwan Huei, explica que, como estratégia, o mercado chinês possui pelo menos três níveis de qualidade para um mesmo produto, ou seja, é possível comprar uma lâmpada com qualidade A, B ou C. O aspecto externo do produto para um leigo é o mesmo, porém a qualidade varia muito, o que influencia diretamente a durabilidade do produto. “A principal diferença entre os produtos A, B ou C é a qualidade da matéria-prima utilizada na sua fabricação: produtos de baixa qualidade usam material reciclado”, conta. Antigamente, havia softwares piratas, eletrônicos em geral empilhados nas ruas da China, cenário que não se encontra mais por lá. As vendas piratas caíram drasticamente. “Claro que, se o brasileiro ou qualquer outro comprador procurar, vai encontrar fabricantes piratas nas periferias do país, mas muitas fábricas foram fechadas por contrafação de produtos”, afirma Charles Tang. Segundo ele, cabe mais ao importador do que ao exportador chinês fazer as escolhas priorizando a qualidade. “A China não tem como controlar os importadores nem a alfândega de outros países”, conclui. O presidente da Associação Brasileira de Importadores de Equipamentos de Iluminação (Abilumi), Alexandre Cricci, concorda que os produtos chineses estão aperfeiçoando sua qualidade. “É a terceira economia do mundo, não está para brincadeiras”, diz. Ele também compara a China com o Japão e afirma que ela está mais direcionada para a produção de equipamentos de alta qualidade e, por isso, continua produzindo para o mundo todo. “O padrão de qualidade é equiparado ao dos Estados Unidos e da Europa”, completa. Além disso, o mercado brasileiro, assim como o mundial, está mais seletivo e prezando pela qualidade. O engenheiro Luiz Rosendo, consultor técnico senior da Schneider – empresa que possui fábrica na China –, vai ao encontro das declarações de Cricci e afirma que há alguns anos os produtos chineses

eram realmente ruins, assim como também foram em um passado mais distante, os japoneses. “Os chineses estão se aperfeiçoando bastante, mas ainda é melhor comprar daqueles que possuem representantes no Brasil para ter mais garantias”, aconselha. Falsificações, alto desempenho, baixa qualidade convivem juntos no mercado brasileiro e muitos produtos contrafeitos são atribuídos genericamente aos chineses, mas a origem de um produto pirata pode ser brasileira ou ter outras nacionalidades. Nesse sentido, Law Hwan Huei, da Joining, afirma que o preconceito ainda existe, mas já foi muito pior, principalmente no início dos anos 1990. “Neste período, houve importação maciça de produtos chineses de baixa qualidade, mas, como milagres não existem, o preço baixo era devido à péssima qualidade do produto”, afirma. Como empresa chinesa, a Joining, assim como outras, sofre com o preconceito. Sobre isso, Huei conta que alguns dos produtos comercializados por ela são similares aos comercializados e desenvolvidos por outras empresas. “Entretanto, comercializamos apenas produtos que não são patenteados ou que não possuem proteção do desenho industrial”, esclarece. O fato é que, desde 2001, o Brasil ganhou de mais de US$ 7 bilhões nas suas trocas comerciais com o império chinês. De acordo com Charles Tang, a China provou ser uma importante saída para o Brasil, principalmente no momento em que os parceiros tradicionais do País criaram dificuldades para as nossas exportações e subsidiaram a sua agricultura, que assim concorre de forma injusta contra o carro-chefe das exportações brasileiras, o agronegócio. Segundo ele, os chineses têm o que a empresa brasileira necessita: capital de custo baixo e de longo prazo em abundância; máquinas de boa qualidade e de custo muito competitivo; e experiência de comércio internacional, que inundou as prateleiras do mundo com o “Made in China”. A decisão é do importador.

“O problema não é o custo baixo da China, mas sim o alto custo brasileiro. Enquanto os tributos lá representam

17,5% do produto, aqui no Brasil chegam aos 40%. O mesmo acontece com os encargos trabalhistas, que são de

58%, e que aqui alcançam os 127%”Charles Tang

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O duelo era mesmo de gigantes. De um lado, Nikola Tesla. Sérvio, tinha como pai um reverendo e uma mãe inventora, e era um dos cinco filhos do casal. Avançou nos estudos de engenharia elétrica em uma escola politécnica na Áustria, graduando-se posteriormente na Universidade de Praga. Passou por Budapeste, em que desenvolveu atividades como engenheiro eletricista na National Telephone Company e por Paris, na Continental Edison Company, trabalhando no aperfeiçoamento de equipamentos elétricos. Já de olho nos estudos sobre corrente elétrica, Tesla arrumou as malas, emigrou-se para os Estados Unidos e se tornou assistente de quem iria travar, mais tarde, uma pequena guerra, o famoso cientista da época, Thomas Alva Edison. Do outro lado, um tanto mais experiente e trazendo na bagagem a invenção da lâmpada elétrica incandescente, o gramofone, o cinetoscópio, entre outros grandes inventos, Edison

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Discussões sobre o uso das correntes alternada e contínua mantêm acesa a histórica rivalidade entre dois grandes inventores:

Thomas Edison e Nikola Tesla

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era o mais novo de sete irmãos. Garoto problema na escola, um de seus professores chegou a dizer que ele tinha o diabo no corpo. A inquietação o levou a estudar com a mãe. Logo, o menino estaria apaixonado pelas ciências, fazendo tremer a casa em que morava, em Michigan, com os experimentos realizados no laboratório de química instalado no sótão. Trabalhou por toda parte vendendo jornais e doces até tornar-se telegrafista e, após várias tentativas e experiências, inventar equipamentos de real valor que o permitiram se estabelecer em Nova York. Reconhecido pelas suas invenções, motivou a construção de um centro de pesquisas em Menlo Park, Nova Jersey, chegando a patentear em um período de quatro anos, cerca de 300 criações.

Rivalidade O quase parque industrial – o centro possuía laboratórios, oficinas, inúmeros técnicos e assistentes – foi a arena dos dois inventores. Jovens, ambiciosos e inteligentes, os dois cientistas trabalharam juntos em muitos projetos, sendo até algumas das patentes de Edison de autoria de Tesla. Embora devotados a um tema em comum, a energia elétrica, divergiam sobre as suas ramificações. Tais discordâncias lhes renderam a qualidade de inimigos e o início de uma guerra, a chamada “Guerra das correntes”. Tesla defendia o uso da corrente alternada (CA) em todos os processos de transmissão da energia elétrica, já Edison acreditava cegamente que a corrente contínua (CC)

abasteceria ruas, casas e empresas de todo o mundo. Um engano, a segunda tinha limitações que só Tesla conseguia enxergar e ir além. Para somar à birra com Edison, Tesla não recebeu qualquer pagamento por algumas de suas descobertas, que havia sido prometido por seu superior. Com relações cortadas, o assistente perdeu o emprego e teve de segurar as despesas com trabalho braçal. Longe da Edison General Electric, que, como o nome já sugere, era a empresa de Edison, buscou abrigo como inventor na concorrência, para a sorte de George Westinghouse, dono da Westinghouse Electric Company, empresário e também engenheiro americano que injetou altas cifras no estudo e no desenvolvimento da corrente alternada. Com os conhecimentos de Tesla ao seu lado, Westinghouse estaria armado para liderar as inovações no setor, que até então estavam a cargo de Edison. Tesla tinha a seu favor as ciências exatas e melhor formação matemática. Já Edison possuía baixa escolaridade, mas dominava o conhecimento empírico e foram as experiências realizadas que levaram sua corrente contínua a ser padrão nos Estados Unidos logo no início do fornecimento de eletricidade. No campo de batalha, havia duas grandes idéias que buscavam apresentar a forma mais apropriada de gerar e transmitir energia elétrica. Se, por um lado, a corrente contínua se mostrava eficiente diante das exigências da época e graças a ela – e ao dinheiro e tempo investidos – Edison já

Se durante muito tempo, a corrente alternada de Tesla reinou absoluta, atualmente, a corrente contínua mostra-se mais poderosa que a rival e mais eficiente.

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produzia geradores, motores e lâmpadas em seu negócio, por outro, chegava imponente, ainda que complexa, a promissora corrente alternada proposta por Tesla, que pretendia superar as limitações da corrente elétrica oponente.

Alternada ou contínua? A solução de Tesla mostrava-se mais atraente diante das limitações da corrente contínua de Edison, a qual tinha dificuldades para elevar a tensão de trabalho e se fazer chegar ao consumidor. Pelas vantagens da corrente alternada, a idéia de Tesla, vendida pela Westinhghouse, era a melhor opção. Edison, empenhado em arrefecer o rival para não perder a chance de ter seu sistema comercializado, travou uma campanha com o intuito de abalar a corrente alternada, desencorajando seu uso. A intenção era provar que todo o processo de transmissão por CA era mais perigoso que por CC, podendo ocorrer até acidentes fatais. O inventor da lâmpada se armou de todas as formas para derrubar o injustiçado ex-companheiro, inclusive filmando, publicamente, execuções de animais sob CA para divulgar à população os riscos da corrente. A princípio, cachorros, gatos e cavalos renegados fugiam das garras do cientista, mas foi a cruel eletrocussão do elefante Topsy que ficou marcada na memória da época. O ato de desespero de Edison veio quando, mesmo contra a pena de morte, o cientista criou a cadeira elétrica, promovendo a idéia de que a corrente alternada era mais mortal do que a contínua. Não teve jeito. Entre os gladiadores, venceu a Westinghouse, utilizando o sistema de Tesla, quando uma comissão anunciou as propostas para aparelhar as Cataratas do Niágara a fim de produzir eletricidade, gerando energia suficiente para

abastecer a indústria de Buffalo, em Nova York. As obras começaram com muita desconfiança dos oponentes em 1893, para três anos depois ser enviada à Buffalo a partir de geradores construídos também pela Westinghouse, instalados na estação hidrelétrica, usando o sistema de corrente alternada. A General Electric de Edison, ressentida, ficou com o contrato das linhas de transmissão que levariam energia até Buffalo. O sistema de corrente alternada é utilizado até os dias de hoje.

A vingança de EdisonAo que parece, com a história a favor de Tesla, Edison soa como o gênio malévolo que levou a rivalidade com o ex-assistente até as últimas conseqüências. Mas, como em toda guerra, é ingenuidade pensar que a competição era apenas de idéias virtuosas. Todo o processo envolvia altas cifras e royalties de patentes, além de quase levar tanto a Westinghouse quanto a General Electric à falência. Se durante muito tempo a corrente alternada de Tesla reinou absoluta, atualmente, a corrente contínua mostra-se mais poderosa que a rival e, ainda, mais eficiente. O engenheiro e diretor geral do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), Jayme Buarque de Hollanda, brinca dizendo que esta pode ser a vingança de Edison e acredita que, no futuro, a corrente contínua será uma solução mais inteligente. “Amanhã a companhia elétrica é que será chamada de alternativa, mas no sentido certo, sendo uma alternativa ao sistema de geração distribuída. Se a energia acumulada em uma bateria faltar ou, em caso de alguma emergência, o usuário pode conectar a tomada do aparelho na energia elétrica que antes era a convencional – CA – e utilizar o equipamento”, prevê. Na época, era fato que o uso da corrente alternada era

CURIOSIDADES

AC/DC – Não é por menos que a lendária banda australiana de heavy metal estampa como logomarca um pequeno raio e se você acha que o significado está no som eletrizante que sai das guitarras dos irmãos Young está enganado. Na verdade, a sigla quer dizer Alternating Current/Direct Current, que no português é traduzido para Corrente Alternada/Corrente Contínua, batismo dado pela irmã dos integrantes, Margaret Young, que viu o nome em uma placa, atrás de uma máquina de costura.

Topsy, o elefante – Thomas Edison, para provar que a corrente alternada era mais perigosa que a corrente contínua, fez vários testes com animais, inclusive com um elefante. O inventor não ficou imune aos vídeos disponibilizados na internet e seu filme sobre o teste com Topsy pode ser visto neste endereço virtual: http://br.youtube.com/watch?v=RkBU3aYsf0Q

Cadeira elétrica – Mais um vídeo macabro dos testes de Edison. Desta vez, a execução do preso condenado Leon Frank Czolgosz, em 1901. A filmagem, de acordo com o cientista, seria “como uma herança para a posteridade”. Veja neste endereço eletrônico: http://memory.loc.gov/mbrs/lcmp001/m1b38298.mpg

Rivalidades produtivas – O jornalista Michael White descreveu no livro Rivalidades Produtivas como a competição de idéias pode estimular novas descobertas científicas. A desavença entre Edison e Tesla está devidamente contada em um dos capítulos.

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Criada pelo Comitê Bicentenário Iugoslavo-Americano, a placa em homenagem a Nikola Tesla ilustra as paredes do Hotel New Yorker, em Manhattan, N.Y.

mais viável geograficamente e financeiramente que a corrente contínua. E, ainda naquele período, os equipamentos dos consumidores eram apropriados para o sistema de Tesla. Todas as cargas estavam sendo produzidas para suportar corrente alternada. Entretanto, com as inovações tecnológicas a partir da década de 1980, Edison se tornaria o grande vencedor, ainda que postumamente – o inventor faleceu em 1931. A proposta da corrente contínua não tinha morrido com seu criador, mas ficava cada vez mais presente na vida das pessoas do final do século XX em diante. Com o aumento da digitalização, a proporção de cargas em CC vem crescendo rapidamente. Equipamentos que funcionam a pilha e a bateria, como rádios, computadores, celulares, câmeras fotográficas, entre outros, já fazem parte do dia-a-dia da sociedade. Além disso, criações como os carros elétricos, os painéis fotovoltaicos e os geradores eólicos – que utilizam CC – são reflexos da uma consciência ambiental manifestada em tempos de preservação de fontes naturais. Preocupação mundial que também força empresas de todos os setores a se adaptar, principalmente as do setor energético. No processo de transmissão de eletricidade por corrente alternada, as perdas de energia são maiores que em corrente contínua. Para que a energia percorra longas distâncias, é preciso que as tensões sejam elevadas. Neste movimento, Hollanda explica que os elétrons se chocam com átomos, perdendo energia em forma de calor à medida que viajam pelos fios. As perdas podem chegar a até 10%. Os problemas não param, pois os retificadores – dispositivos que permitem que uma tensão alternada seja transformada em contínua – pioram a qualidade da energia que alimenta um equipamento, criando o que os engenheiros chamam

de “correntes alternadas parasitas”. Em casos extremos, equipamentos mais sensíveis podem sofrer danos em seus sistemas devido a essa operação precária. O contrário acontece com a corrente contínua, já que a energia por esse sistema deve ser produzida o mais próximo de onde ela é consumida. A corrente alternada foi legitimada durante muito tempo como única forma adequada para gerar e comercializar energia, mas como toda máxima científica, as necessidades que contextualizam o momento fazem tal verdade estremecer. Jayme Buarque acrescenta que, na verdade, uma corrente não exclui a outra. Há espaço para os dois gênios na história, mas “a tendência é que os consumidores busquem fontes de energia menos agressivas ao meio ambiente”, ressalta. A Geração Distribuída (GD) significa a geração elétrica realizada junto ou próxima de onde ela será consumida, conceito que vale também para a corrente contínua. A geração pode ser obtida por painéis fotovoltaicos que armazenam energia solar em baterias ou por co-geradores que utilizam resíduos combustíveis de processo, gerando eletricidade e calor para a residência. Uma das evoluções nesse sentido são os carros movidos a motor elétrico, que já representam 2,5% dos novos carros americanos. No Brasil, o governo tem tomado algumas medidas para garantir que as inovações no setor energético evoluam na mesma proporção que as necessidades naturais, mas o processo caminha na velocidade abaixo do esperado. A primeira providência foi a Lei 10.848, de 2004, em que figura a legislação sobre GD. Caso as previsões sobre o uso de novas formas de geração de energia se concretizem, certamente teremos dois heróis nesta história, claro, em momentos diferentes. Tesla e Edison que tratem de fazer as pazes e comemorar dupla vitória onde quer que estejam.

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“Nossos carros são verdadeiras carroças”, declarou, no início da década de 1990, o então presidente da República, Fernando Collor de Mello, sobre os automóveis que circulavam na época. Desde então, o cenário automobilístico e o econômico, de modo geral, sofreram grandes transformações, estimuladas, em sua origem, pela mensagem neoliberal que o Consenso de Washington transmitira em 1989 e que foi abraçada pelo empresariado nacional e acolhida pelo governo de Collor. O objetivo era promover abertura econômica ao capital estrangeiro, controle da inflação, moeda forte, privatizações para redução de dívida pública, flexibilização das leis trabalhistas e corte dos gastos públicos. Estas e outras medidas trouxeram muitos prejuízos ao País, mas também algumas vantagens. Entre estas, Collor conseguiu que a frase do início desta reportagem não fizesse mais sentido com as importações

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Da carroça ao jaguarMercado brasileiro de materiais elétricos e as técnicas de instalação progrediram significativamente nas últimas décadas e caminham para um padrão ainda mais evoluído observado em países desenvolvidos

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de automóveis, com a vinda de diversas multinacionais do setor automobilístico para o Brasil e com as facilidades de crédito que, mais tarde, chegaram às mãos do consumidor comum. Passaram-se anos e as “carroças”, que representavam carros populares e ultrapassados, foram substituídos por modernas máquinas automotivas que circulam atualmente por todos os cantos do País. Analogamente, a evolução dos materiais elétricos e das técnicas brasileiras de instalação parece seguir um caminho similar ao do setor automobilístico descrito anteriormente, claro que com outro cenário de fundo e outras particularidades. Globalização, normalização e uma gradativa mudança cultural são os grandes fomentadores dessa evolução que, aos poucos, transforma conceitos e práticas no segmento das instalações elétricas. Esse processo, no entanto, é moroso e, embora já se perceba algumas transformações, ainda há um longo caminho a se percorrer.

O caminho das pedras Os produtos elétricos mais avançados tecnologicamente costumam apresentar também maiores garantias quanto à segurança. Entretanto, não são todos os profissionais brasileiros que estão em sintonia com as novidades do setor e acabam atuando conforme a experiência adquirida na prática, desempenhando, muitas vezes, técnicas conservadoras de instalação e produtos obsoletos. Nesse sentido, as instalações residenciais, comerciais e prediais trazem um índice muito maior de erros, quando comparadas às industriais, mais atentas às tendências internacionais. Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais (Abrasip), o engenheiro eletricista Luis Costi, em alguns países mais desenvolvidos, a preocupação com a instalação elétrica costuma ser maior, mas há certa semelhança com o Brasil,

exceto em países cuja fiscalização é mais rigorosa, como França, Espanha e Portugal. O processo de inserção de novas tecnologias no Brasil teria iniciado há 20 anos com a abertura do mercado brasileiro e foi a partir de então que os especialistas começaram a ter maior contato com as novidades internacionais. Diante disso, é até aceitável que muitas inovações não tenham sido completamente absorvidas pelo mercado. Naquele momento, começavam a entrar no País produtos importados e as instalações brasileiras passaram a ser comparadas às executadas em outros países, em todos os aspectos. O mesmo valia para a qualidade dos produtos aplicados. “Conheciam-se bons produtos e equipamentos para uso nas instalações elétricas, mas também havia as naturais ‘alternativas mais baratas e que faziam a mesma função’ e, infelizmente, carecíamos de fiscalização e de uma mínima padronização de qualidade e desempenho, pois não havia parâmetros comparativos”, relata Costi. Nesse período, os produtos elétricos eram muito simples e baratos ou muito eficientes e caros. Era o começo do foco em segurança nas instalações elétricas residenciais, as quais precisavam ser preparadas para receber os novos equipamentos eletrodomésticos que chegavam com força ao País. “Com a invasão dos eletrodomésticos e dos eletrônicos a preços acessíveis e com a melhoria dos sistemas de telecomunicações, dava-se início a uma nova concepção de instalação elétrica”, explica o engenheiro. Foi nesse momento que o mercado da construção experimentou a aceleração do profissionalismo. A partir dos anos de 1980, para se construir, não bastava mais determinar o custo da obra e a ele agregar o lucro desejado, mas começava a imperar o preço de mercado, isto é, o máximo preço possível de se vender aquele determinado empreendimento. Passa a prevalecer a equação invertida: se o preço máximo de vendas será de x, e o custo histórico

“Com a invasão dos eletrodomésticos e dos eletrônicos a preços acessíveis e com a melhoria dos sistemas de telecomunicações, dava-se início a uma

nova concepção de instalação elétrica”Luis Costi

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era y, só se conseguiria apurar um lucro limitado. “Se o lucro não era atraente, restava mexer no custo para obter melhor resultado, pois ficava cada vez mais difícil atuar no preço final”, conta. Entretanto, alterar o custo implicava analisar o processo de construção, que era totalmente artesanal, e começar a pensar a construção como uma indústria, com padronização de procedimentos, de materiais e de formas de organizar a sua aplicação, de fluxo de caixa dos gastos da obra, além de treinamentos, segurança, etc. A evolução das técnicas de projetos, segundo Costi, seguiu este mesmo curso. Teria surgido, então, nesta época, a evolução das instalações elétricas, que ainda segue um ritmo lento, com vetores que se movem dos centros mais desenvolvidos para as áreas mais carentes do País. “Mas essa evolução, sem volta, precisa da fiscalização do governo e da sociedade para garantir que se perpetue”, alerta o engenheiro. A partir desse ponto, as diferenças começaram a se dissipar, primeiro porque mais pessoas, com a arrancada do turismo, tiveram a oportunidade de conhecer outros países e observar o conforto de instalações encontradas além da fronteira. Também nessa época, começou a exigência pelos direitos do consumidor e de um mínimo de performance dos sistemas prediais. Assim, o mercado passou a requerer da construção um processo industrial, o qual, em um primeiro instante, testou e errou diversas soluções, produtos e materiais. Balizado, então, pelas normas técnicas e pelas exigências do consumidor, as construções, assim como as instalações elétricas, passaram a se adequar e, naturalmente, foram surgindo novos produtos, materiais, sistemas construtivos, enfim, projetos e obras diferenciadas.

“Criaram-se padrões de qualidade, controle tecnológico na obra e agora caminhamos para a certificação das instalações”, afirma Costi. Segundo ele, estamos bem no meio desse processo, em que, de um lado, estão os incorporadores, para os quais o custo é premente para se permitir a um maior número de pessoas o acesso à casa própria, ainda que se comprometa a durabilidade do produto, e do outro lado, o consumidor, que quer o nível máximo sem pagar por isso. “Tudo isso conduz a uma reorganização da cadeia produtiva, da forma de se desenvolver o projeto e, conseqüentemente, das instalações elétricas, que precisam atender aos dois senhores”, conclui.

Mercado conservador Diante das inúmeras invenções tecnológicas globais em todas as esferas econômicas, as diferenças técnicas são cada vez menores entre os países, mas as particularidades são locais. O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos Nema Brasil, o engenheiro eletricista Hilton Moreno, conta que há grandes diferenças, por exemplo, entre os produtos trabalhados no Brasil e em outros países por empresas multinacionais do setor elétrico. “Enquanto no Brasil, os catálogos de uma empresa apresentam poucas famílias de produtos, em outros países, a mesma companhia oferece diversas famílias. Falta, no País, mais diversidade de materiais elétricos”, avalia. Em relação à indústria local, vale a mesma observação: “embora o acesso a informações sobre quais produtos existem lá fora esteja muito facilitado por causa da internet e das diversas feiras internacionais, não temos visto a indústria local introduzir muitos novos produtos e

Comportamento de mercado para produtos de alta tecnologia

Teoria “Crossing the chasm” foi elaborada pelo consultor norte-americano Geoffrey Moore para explicar o processo de conquista e de aceitação do mercado, pelo qual passa toda nova tecnologia.

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tecnologias, sobretudo, considerando a boa qualidade dos fabricantes nacionais”, completa Moreno. No caso das luminárias, o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Equipamentos de Iluminação (Abilumi), Alexandre Cricci, reconhece que a diversidade de peças disponíveis em mercados de países da Europa, por exemplo, é muito maior do que o brasileiro, mas esclarece que isso se deve à baixa demanda do ponto de venda. Aqui há uma limitação de volumes, de escala, pois o poder de compra desse tipo de equipamento é consideravelmente menor que o de um europeu ou norte-americano. Somam-se a isso as altas taxas de importação, que, para o segmento, giram em torno de 15% a 20% do produto, mas que se viabilizam, pois montar uma fábrica no Brasil encontraria muito mais dificuldades tendo em vista o desenho da economia brasileira, os encargos trabalhistas e a extensa burocracia. Essa dessemelhança vai além dos produtos. Algumas particularidades são prova de que o Brasil ainda situa-se em uma posição ultrapassada com relação às técnicas observadas em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, há anos o Dispositivo Diferencial Residual (DR), é não apenas empregado, como já vem incorporado à tomada elétrica. O diretor da Finder Componentes, Juarez Guerra, afirma que o DR e o Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) estavam prontos para aplicação e disponíveis no Brasil há muito tempo, mas passaram a ser utilizados quando foram inseridos mais incisivamente na norma de instalações elétricas – a ABNT NBR 5410.

Além disso, outros exemplos quanto à instalação atestam grandes diferenças entre os países. “Enquanto as construções americanas são baseadas em estruturas pré-fabricadas, o brasileiro constrói a parede, a destrói para passar a fiação elétrica e a refaz em seguida”, indigna-se Moreno. Segundo ele, o método brasileiro não contribui para o desenvolvimento de maneiras mais práticas de instalação. Alguns especialistas afirmam que o problema é evidente: ainda não temos escala para consumir esses produtos e técnicas, fato que é contestado por Hilton Moreno: “o mercado brasileiro não é tão pequeno, afinal, estamos entre as dez maiores economias do planeta, basta estimular a necessidade, oferecendo os novos produtos. Não dá para esperar que o mercado peça essas novidades”. Juarez Guerra concorda e compara: “O telefone celular, quando foi apresentado ao público, sofreu uma grande repulsa, mas depois que as operadoras exibiram os benefícios, a tecnologia estourou em vendas e não parou de apresentar novas aplicações e benefícios. Assim também deve funcionar com as tecnologias aplicadas às instalações elétricas: enquanto os usuários não identificarem os benefícios, mais demorada será a sua absorção”. Ele explica que esse estímulo ao uso de novas tecnologias deve vir com constantes mecanismos de divulgação e menciona a teoria do “Crossing the chasm” (algo como “ultrapassando barreiras”) de Geoffrey Moore, para descrever o processo: “os primeiros a utilizarem uma nova tecnologia são sempre os entusiastas – curiosos e exibidos –, em seguida, os visionários, fazendo a curva de volume subir. Nesse instante, há um grande abismo, momento importante que pode conferir sucesso ou fracasso à novidade. Vencido esse instante, a

Pontos utilitários multifuncionais, empregados em larga escala fora do Brasil, encontram

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tecnologia chega ao mercado de larga escala, conquistando os pragmáticos, os conservadores e os céticos, que são os personagens que oferecem maior resistência à cadeia”.

Automação O Brasil viveu um momento delicado no inicio da aplicação de automação no mercado da construção. Na tentativa de “tirar o atraso”, sofisticou demais as instalações e os custos foram exorbitantes. Luis Costi, da Abrasip, conta que o setor precisou equalizar o custo/benefício para que o consumidor final começasse a ver a automação como uma necessidade e não um acessório. Para Juarez Guerra, o home theater foi o grande divisor de águas. Segundo ele, há dez anos, o consumidor começou a entender que o equipamento o levava a assistir um filme, com um bom áudio e em segurança, que, por sua vez, tornaria ainda mais confortável o momento com um controle de iluminação, com um sistema de acionamento remoto de cortinas, câmeras e ar condicionado. Esses sistemas começaram a ser integrados via cabeamento estruturado, agregando outras tecnologias de áudio, vídeo e voz. “Ainda estamos longe de termos residências automatizadas, mas acredito na evolução contínua e no amadurecimento do consumidor, do instalador, do projetista, da construtora e do incorporador”, confia Guerra. No momento em que cada um identificar os benefícios que as tecnologias estão aportando, as distâncias vão se estreitar e maior segurança, economia e flexibilidade serão providas a toda a cadeia que se insere neste processo. Para isso, Guerra recomenda que as empresas que detêm essas tecnologias se esforcem mais para disseminá-las, especialmente, levando informações a instituições de ensino

profissionalizantes e elaborando estratégias de marketing eficazes, pois ninguém compra ou exige aquilo que não conhece ou que não entende. De modo geral, está havendo uma evolução no modo de se projetar uma instalação elétrica. Isso porque, na visão de Juarez Guerra, os projetos deixam uma abertura para que, no futuro, possa receber equipamentos de automação. Trata-se de uma infra-estrutura pré-automatizada com aplicação de relés, permitindo que o usuário automatize sua instalação conforme sua necessidade e condição financeira. Hilton Moreno concorda com essa mudança de paradigma: “já encontramos prédios residenciais e comerciais feitos à base de construções pré-fabricadas. Além disso, começam a surgir soluções parecidas com as empregadas em outros países, como em hotéis de redes internacionais”.

Globalização Com o processo da globalização e com e a praticidade das formas de comunicação, é preciso que se apurem as informações técnicas confiáveis e as estatísticas idôneas, no caso de produtos. “Da mesma forma que produtos novos podem ser importados facilmente, eles precisam ser testados de acordo com as normas técnicas vigentes para operarem nas condições locais e estarem revestidos das respectivas garantias”, previne o engenheiro Costi. O presidente da Associação Brasileira de Conscientização sobre os Perigos da Eletricidade (Abracopel), Edson Martinho, lembra que, apesar das facilidades de acesso a informações por meio da internet, de seminários, de feiras, etc., há os pseudo-profissionais,

“No Brasil, os catálogos de uma empresa apresentam poucas famílias de produtos, em outros países, a mesma companhia oferece diversas famílias. Falta, no País, mais diversidade de materiais elétricos”Hilton Moreno

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que aproveitam o aumento da oferta de trabalho e, não estando devidamente preparados, contribuem para a proliferação de instalações primitivas. Nesse sentido, embora haja, a cada dia, mais regulamentação e maior exigência de controle na fabricação, ainda há muito o que melhorar. O mercado pune com o tempo o produto enganador, que tem vida curta, entretanto, ele deixa marcas antes disso. Além do mais, há no Brasil fabricantes de produtos elétricos e eletrônicos locais com qualidades similares aos importados, ou quando não, exportando materiais em nível de primeiro mundo. A rigor, as empresas hoje são transnacionais, são globais. “O mesmo ocorre com a disponibilidade ao consumidor: há produtos disponíveis de toda sorte, cabe ao consumidor se informar com bons projetistas, quais deles atendem às normas e tem seu desempenho comprovado”, aconselha Luis Costi. Para ele, os melhores exemplos de que estamos evoluindo são a qualidade da proteção contra choque dos equipamentos atuais, a eficiência energética (lâmpadas e motores, por exemplo), os novos materiais cerâmicos e plásticos, os materiais que não propagam incêndio ou emitem fumaças tóxicas, os sistemas de comando e automação e controles de partidas de grandes equipamentos elétricos. Essa evolução de projetos e produtos já permite ao País edificações efetivas e não mais construções improvisadas de moradia. Cada país tem suas especificidades. Temos restrições normativas e técnicas que impedem o uso de algumas tecnologias. Além disso, a aplicação de novos produtos depende também de normalização e de uma adaptação cultural, isto é, o entendimento dos benefícios dessa tecnologia, condição que nem sempre é instantânea à criação do invento. O gerente de produto da Siemens, Luiz Eustáquio Perucci, concorda que o portfólio brasileiro de normas técnicas precisa evoluir

para deixar de limitar a vinda de novas tecnologias. Segundo ele, ainda há muito o que fazer, documentos precisam ser revistos e atualizados incorporando novas tecnologias que existem por aí. “Nos países desenvolvidos, a população está acostumada há anos a trabalhar com produtos mais sofisticados e estamos seguindo este caminho, mas ainda temos uma grande gama de produtos que precisam de uma reforma tecnológica”, critica Eustáquio. O que nos falta é um processo mais ágil de atualização das normas técnicas e um sistema atraente de desenvolvimento desses documentos de forma a serem o mais isento possível entre consumidores, neutros e fabricantes. “Houve e sempre haverá riscos de comissões de norma exigirem no texto qualidade de materiais e garantias de segurança superiores ao que o mercado está preparado para atender, mas como conseguir evoluir tecnicamente e aumentar a segurança sem isso?”, questiona Costi. Nesse sentido, o bom senso deve reger os prazos de implantação de novos conceitos de norma que implicam custo, tanto para a indústria do produto quanto para o direito adquirido do incorporador do empreendimento. E há casos e casos: não basta dar valor maior ao aspecto histórico do mercado, nem tampouco desprezar a cultura local. Igualmente não se pode errar impondo as vezes conceitos ainda não comprovados, apenas por serem importados e funcionarem em uma realidade diferente. Assim como a indústria automobilística encontrou um cenário favorável para o seu crescimento no País, também o setor elétrico precisa de um apoio governamental e esforços do empresariado de forma a estimular a vinda de novas tecnologias e, quem sabe, tornar-se um grande exportador de equipamentos, do mesmo modo que automóveis brasileiros hoje são exportados para o mundo.

Dispositivo Diferencial Residual é há anos comer-cializado e empregado nos Estados Unidos e em

outros países. No Brasil, o DR de alta sensibilidade só foi incorporado à norma de instalações elétricas

na revisão de 1997.

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o Palavras cruzadasResponda as questões propostas abaixo e, de acordo com a orientação dada pela posição e

pela numeração, preencha os espaços reservados para cada palavra. Boa sorte!1 2

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Vertical1. Extensão elétrica múltipla para ampliar o número de tomadas disponíveis em um ponto.3. Dispositivo elétrico utilizado para introduzir capacitância em um circuito.8. Máquina que converte energia mecânica em elétrica.9. Instrumento multiescala e multifunção destinado a medir tensão, corrente e outras grandezas elétricas, como a resistência, por exemplo. 13. Conjunto de condutores elétricos que servem a determinado número de pontos.16. Sigla de American Wire Gauge, denominação norte-americana utilizada para bitola (espessura) de fios e cabos elétricos.18. Onda de tensão transitória que se propaga ao longo de um sistema elétrico, caracterizada por elevada taxa de crescimento inicial, seguida de decréscimo mais lento da tensão.19. Equipamento destinado a suprir a alimentação elétrica dos equipamentos a ele acoplados, quando é interrompido o fornecimento de eletricidade.

Horizontal2. Indica o consumo e o fornecimento de energia elétrica em um circuito de corrente alternada, a qual é igual ao produto da tensão e da corrente.4. Preço estipulado pelo consumo de energia elétrica.5. Dispositivo elétrico utilizado para introduzir resistência em um circuito.6. Ato de conectar um circuito elétrico de baixa impedância à terra.7. Dispositivo de proteção da instalação elétrica.10. Dispositivo de aplicação rápida, utilizado para realizar emendas ou ligações elétricas.11. Dispositivo eletromecânico ou não, com inúmeras aplicações em comutação (acionamento/desligamento) de contatos elétricos.12. Grandeza escalar igual ao quociente do valor eficaz da tensão pelo valor eficaz da corrente.14. Transmutador de energia elétrica que converte corrente contínua para corrente alternada.15. Eletrocalha ou bandeja de dimensões reduzidas.17. Parte condutora de um dispositivo elétrico com o qual se conecta um condutor correspondente a um circuito elétrico.Fo

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As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas

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