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1 AS AÇÕES E CONCEPÇÕES DOS PIBID’S HISTÓRIA NO NORTE DO PARANÁ 1 SABIÃO, Ruhama. Universidade Estadual do Norte do Paraná. Resumo: Esta comunicação apresenta os resultados de pesquisa que investigou as concepções a respeito do ensino de História e as ações propostas pelos Projetos do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) desenvolvidos por três Universidades públicas estaduais do Norte do Paraná: UEM, UEL e UENP. Utilizou-se como fonte e objeto principais os Projetos Institucionais, os blogs criados para comunicação das ações dos projetos e os artigos produzidos por estudantes e professores bolsistas. Buscamos centrar a pesquisa nas concepções que as instituições têm em relação à formação do professor de História, indagando quais os meios utilizados, conforme as necessidades e possibilidades de suas regiões, para pensar essa formação e o ensino de História. A análise indicou convergências, mas também uma diversidade nas concepções e ações, considerando as particularidades e características das instituições, do curso e dos professores. Palavras-chave: Ensino de História; Formação de Professores; Consciência Histórica. A Formação de professores e o PIBID. No atual cenário da formação de professores do curso de História no Brasil há diversos enfrentamentos que precisam ser revistos, analisados e melhorados. Desde o século XIX estudam-se as causas do fracasso escolar. No início focou-se nas dificuldades de aprendizagem dos alunos em todos os âmbitos, principalmente usando da psicologia para tentar reverter esse quadro, “[...] porém, nos últimos anos é vista a necessidade de mudar a formação dos professores e que talvez o maior problema esteja neles” (MONTEIRO, 2007, p. 21). Na maioria das universidades que oferecem os cursos de licenciatura no país, o problema maior é a dicotomia entre as disciplinas pedagógicas e as de conteúdo. 1 Pesquisa desenvolvida dentro do Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Norte do Paraná, financiada pela Fundação Araucária. Orientação: Prof. Dr. Jean Carlos Moreno.

’S HISTÓRIA NO NORTE DO PARANÁ1 · 2016. 7. 15. · 1 AS AÇÕES E CONCEPÇÕES DOS PIBID’S HISTÓRIA NO NORTE DO PARANÁ1 SABIÃO, Ruhama. Universidade Estadual do Norte do

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AS AÇÕES E CONCEPÇÕES DOS PIBID’S HISTÓRIA NO NORTE DO PARANÁ1

SABIÃO, Ruhama.

Universidade Estadual do Norte do Paraná.

Resumo: Esta comunicação apresenta os resultados de pesquisa que investigou as

concepções a respeito do ensino de História e as ações propostas pelos Projetos do

PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) desenvolvidos por

três Universidades públicas estaduais do Norte do Paraná: UEM, UEL e UENP.

Utilizou-se como fonte e objeto principais os Projetos Institucionais, os blogs criados

para comunicação das ações dos projetos e os artigos produzidos por estudantes e

professores bolsistas. Buscamos centrar a pesquisa nas concepções que as

instituições têm em relação à formação do professor de História, indagando quais os

meios utilizados, conforme as necessidades e possibilidades de suas regiões, para

pensar essa formação e o ensino de História. A análise indicou convergências, mas

também uma diversidade nas concepções e ações, considerando as particularidades

e características das instituições, do curso e dos professores.

Palavras-chave: Ensino de História; Formação de Professores; Consciência

Histórica.

A Formação de professores e o PIBID.

No atual cenário da formação de professores do curso de História no Brasil há

diversos enfrentamentos que precisam ser revistos, analisados e melhorados. Desde

o século XIX estudam-se as causas do fracasso escolar. No início focou-se nas

dificuldades de aprendizagem dos alunos em todos os âmbitos, principalmente

usando da psicologia para tentar reverter esse quadro, “[...] porém, nos últimos anos

é vista a necessidade de mudar a formação dos professores e que talvez o maior

problema esteja neles” (MONTEIRO, 2007, p. 21).

Na maioria das universidades que oferecem os cursos de licenciatura no país,

o problema maior é a dicotomia entre as disciplinas pedagógicas e as de conteúdo. 1 Pesquisa desenvolvida dentro do Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Norte do Paraná, financiada pela Fundação Araucária. Orientação: Prof. Dr. Jean Carlos Moreno.

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Enquanto nas disciplinas de conteúdo se aprende “o que” ensinar, nas pedagógicas

aprende-se “como” fazê-lo. Essa dicotomia influencia de forma grave na formação

dos professores, já que os desafios encontrados nas salas de aula vão muito além

da teoria. Por isso, é necessário intervir na formação de professores, articulando as

disciplinas pedagógicas, as de conteúdo formal, o estágio e os programas de

formação inicial dos professores:

É preciso, pois, romper com uma visão simplista de formação de professores, negar a ideia do professor como mero transmissor de conhecimentos e superar os modelos de Licenciatura que simplesmente sobrepõem o “como ensinar” ao “o que ensinar” (PADRÓS, 2002, p.74).

Assim como não se pode separar a teoria da prática na licenciatura, não se

pode distanciar a universidade das escolas. Há uma necessidade de ambas se

unirem para acrescentarem na formação dos professores, tornando possíveis

melhoras no ensino público, “necessita haver articulação e comprometimento com o

conjunto do sistema educacional brasileiro” (FELDEN, KRONHARDT, 2011, p. 41).

Essa integração entre o universo acadêmico e escolar propicia relevante experiência

aos professores em formação, pois eles podem vivenciar a prática dos professores e

a convivência com os alunos, de forma que, quando chegarem a assumir uma sala

de aula, já tenham uma ideia de como lidar com determinadas situações.

Outro problema na formação de professores consiste em que, depois de

formados e de terem lecionado por anos, as técnicas e teorias de aprendizagem

acabam envelhecendo, “[...] os saberes “envelhecem”, se gastam, porque se

distanciam sobremaneira dos novos saberes produzidos no campo acadêmico”

(MONTEIRO, 2007, p.87), as práticas aprendidas na universidade vão sendo

renovadas por novas pesquisas e métodos. Nesse momento também é importante

uma articulação entre universidades e escolas, para os professores já formados

poderem se atualizar e melhorar suas concepções de ensino.

Dessa forma, o papel de programas como o PIBID (Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação a Docência), do governo federal, é imprescindível na formação de

professores. O projeto, criado em 2007, possibilita aos alunos, desde a graduação, a

oportunidade de aperfeiçoar-se pessoal e profissionalmente, dado que há um

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envolvimento entre os bolsistas, professores e alunos da rede básica, no qual se

pode, a partir das trocas de experiências cotidianas, incorporar para sua vivência o

que se aprende. Segundo Antonio Nóvoa (1992), o professor é o ator da sua própria

formação e o PIBID tem preparado professores para tal intento. Dentro dessas

experiências, os bolsistas podem observar que:

A formação passa pela experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico. E por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. A formação passa por processos de investigação, directamente articulados com as práticas educativas (NÓVOA, 1992, p.16).

O PIBID tem como objetivos principais: incentivar a formação docente através

das bolsas oferecidas; valorizar o magistério; elevar a qualidade da formação inicial

dos professores; tornar os professores da rede pública coparticipantes da formação

inicial dos alunos e articular a teoria e a prática necessárias para a formação dos

docentes. O PIBID proporciona ao bolsista maior envolvimento com os alunos da

Educação Básica, observando suas limitações e dificuldades de aprendizagem,

podendo, assim, aperfeiçoar seus métodos de ensino e concepções de

aprendizagem. Também possibilita a pesquisa empírica e científica, escrita de

artigos, apresentações em seminários, simpósios, entre outros eventos acadêmicos.

Nesse sentido, o PIBID, além de promover a prática docente na convivência dos

bolsistas com a escola, professores e alunos, concede também a oportunidade de

pesquisa. Assim, no relato das experiências em sala e das metodologias adotadas,

na identificação de problemas de aprendizagem, entre outros, o bolsista pode

associar o que é aprendido nas disciplinas teóricas e pedagógicas do curso com a

prática docente.

Os sujeitos da pesquisa

A pesquisa se iniciou em agosto de 2015, propondo-se a investigar a trajetória

dos PIBID’s História no Norte do Paraná, no período de 2011 a 2013. A mesma foi

realizada por etapas, como: a análise dos subprojetos institucionais, dos professores

coordenadores e dos blogs. Em 2016, foram introduzidos à pesquisa os artigos

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escritos pelos bolsistas. Foram analisados três subprojetos do PIBID de

universidades públicas estaduais do Paraná: UEL, UEM e UENP.

O PIBID História UEL teve início em 2011. Como coordenadora estava a Prof.

Dra. Marlene Rosa Cainelli2, junto com dois bolsistas de supervisão e onze

graduandos. A professora Marlene Rosa Cainelli tem toda uma carreira dedicada à

formação de professores de História. O PIBID UEL propunha-se a atender Colégio

Estadual Hugo Simas e o Colégio Estadual Tsuro Oguido.

O PIBID História UEM foi criado em julho de 2012, tendo como coordenador o

Prof. Dr. Ângelo Priori, posteriormente, em 2013, passaram a atuar como

coordenadores a Prof. Dra. Isabel Cristina Rodrigues e o Prof. Dr. José Henrique

Gonçalves Rollo que coordenaram a maior parte do período que a pesquisa

abrange. O programa conta com quatro professores bolsistas de supervisão e vinte

e quatro graduandos bolsistas. Durante esse período o subprojeto atuou no Colégio

de Aplicação da UEM e no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga. A Prof. Dra.

Isabel Cristina Rodrigues tem experiência na área de Metodologia do Ensino de

História no Brasil e na temática indígena. O Prof. Dr. José Henrique Rollo

Gonçalves, por sua vez, tem forte atuação de pesquisa na área de História da África.

O PIBID História UENP, iniciou-se em 2012, sob coordenação da Prof. Dra.

Marisa Noda, com duas professoras supervisoras e doze alunos bolsistas,

alcançando os colégios estaduais José Pavan e Rio Branco, das cidades de

Jacarezinho e Santo Antonio da Platina, respectivamente. Já no período analisado,

constam como coordenadores o Prof. Dr. Jean Carlos Moreno e o Prof. Dr. Flávio M.

M. Ruckstadter, vinte e dois alunos bolsistas e quatro professores bolsistas de

supervisão. O Prof. Dr. Jean Carlos Moreno atua, desde 1997, na área de formação

de professores de História. Já o Prof. Dr. Flávio M.M. Ruckstadter tem sua atuação

acadêmica na área de História da Educação e das Instituições Escolares.

Projeto e intenções

2 Nos anos posteriores passaram a fazer parte outros coordenadores: o Prof. Dr. Marco Antonio Soares, o Prof. Dr. Márcio Santana e a Prof. Dra. Márcia Tetê Ramos.

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O projeto institucional do PIBID UEL é do ano de 2011. O PIBID UEL toma

como referencial a consciência histórica, focando principalmente nas formas de

narrativas históricas dos alunos e como elas se dão a partir dos manuais didáticos. É

centrado, portanto, nas dificuldades de interpretação de textos, leitura e escrita dos

alunos, já que o único acesso dos estudantes do Ensino básico à história e

historiografia, segundo o projeto do PIBID UEL, encontra-se nos livros didáticos.

Dentre as propostas práticas, encontra-se como fundamental o envolvimento

dos bolsistas com a escola, na participação nas reuniões pedagógicas para vivenciar

o processo de ensino-aprendizagem na Educação Básica, na observação da escola

e das salas de aula. Também possibilita pensar no trabalho científico que envolve a

formação do professor, como a elaboração de instrumento de pesquisa de

conhecimentos prévios para diagnosticar problemas de leitura, interpretação e

redação de textos históricos. Entretanto, o trabalho é realizado, em maior parte, no

âmbito da academia, principalmente no Laboratório de Ensino de História, onde são

produzidos os materiais didáticos para serem levados às escolas. Encontra-se,

também, em vários pontos do projeto o interesse na articulação teoria/prática e

academia/pesquisa/escola.

O projeto PIBID UEM foi elaborado visando às seguintes ações: formação e

capacitação para o exercício da docência em História; promoção de um diálogo

entre teoria/método; articulação do PIBID com programas educacionais do Estado

do Paraná (Projeto Museu na Escola e PDE); imersão dos alunos na realidade

escolar; consolidação do Laboratório de Ensino e Multimeios em História/UEM

(LEMH); formação e capacitação em ambientes virtuais de aprendizagem

colaborativa.

Dentre as ações previstas, pode-se atentar para a importância dada à

articulação escola-universidade, sendo que se propõe que muito do que é realizado

no LEMH seja levado para a sala de aula, em forma de exposição, debates,

palestras, minicursos. Não fica evidente o referencial teórico presente no projeto,

porém, dentro da visão de formação do profissional crítico, que consegue analisar e

desenvolver sistematicamente pesquisas através dos diagnósticos iniciais e finais

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pode-se perceber concepções de aprendizagem histórica ligadas também à

consciência histórica.

O projeto do PIBID UENP toma como referencial teórico a consciência histórica,

conceito usado pelo historiador e filósofo alemão Jorn Rüsen, baseando-se nesse

para ampliar a formação dos graduandos, assim como dos professores da rede que

os supervisionam e dos professores orientadores. Usando desse referencial para o

projeto, o PIBID UENP visa enfrentar e superar as dificuldades educacionais na qual

a UENP e as escolas alcançadas pelo PIBID estão inseridas. Esse processo será

buscado através da aprendizagem histórica, na qual por meio das experiências,

todas as partes envolvidas se desenvolvam e sejam beneficiadas.

Dentre as propostas práticas incluídas no projeto percebe-se a busca pela

articulação entre o ofício do historiador e a formação do professor. Tal intento

reflete-se na criação de instrumentos de diagnóstico, inicial e final, da consciência

histórica dos estudantes do Ensino básico e na preparação de aulas conforme

conteúdo curricular, que incluem diversos procedimentos próprios da disciplina de

História. Segundo o projeto, o PIBID UENP almeja a inserção do bolsista no âmbito

escolar, através das reuniões pedagógicas e de formação docente, e dos espaços

alternativos sugeridos para que os bolsistas atuem na escola.

Por meio das reflexões e intervenções realizadas em sala de aula, os

graduandos têm a oportunidade de realizarem pesquisas científicas, articulando

suas práticas no PIBID à teoria dos estudos no Grupo de Pesquisa Ensino de

História (GPEH) e elaborarem artigos e pesquisas sobre o assunto, expondo

formalmente suas práticas.

Por entre blogs e artigos: amostragem das ações desenvolvidas

Foram analisados os blogs dos três PIBID’s, apesar das informações pouco

precisas descritas nos blogs analisados, que contêm fotos e descrições pequenas

das ações dos bolsistas, observando como um todo cada um pode-se tirar algumas

conclusões. Existem três temas que aparecem com maior relevância nas

intervenções realizadas pelos bolsistas de cada projeto, são eles: estudos afro-

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brasileiros, história local e outros conteúdos curriculares (que incluem os temas

abordados nas séries correspondentes, seguindo o currículo tradicional e o livro

didático). Nas atividades “extraclasse” registram-se as oficinas, acompanhamento

escolar, feiras de ciências, projetos da própria escola, entre outros, assim como os

“Eventos” referem-se às atividades acadêmicas das quais os bolsistas, supervisores

e coordenadores participaram ao longo de 2011-2013.

Segundo as informações contidas nos blogs, além dos projetos contribuírem

com a formação acadêmica e pessoal do futuro professor, oferecem também à

comunidade um apoio escolar, buscando a articulação entre a academia e o

universo escolar e social em que se envolvem. É possível observar que cada projeto

atenta-se para as possibilidades locais de desenvolvimento escolar de cada meso e

microrregião onde estão inseridos. Na UEL, por exemplo, faz-se uso do museu em

grande parte de suas intervenções, oficinas e outras atividades; na UEM, usando do

Colégio de Aplicação conseguem trazer os trabalhos realizados na universidade, em

especial no LEHM para o âmbito escolar; na UENP busca-se através das feiras de

ciências dos colégios, da abertura para intervenções mais de uma vez mensal e

dentro das possibilidades da região, levar o conhecimento acadêmico para a

comunidade, de forma que possam chamar a atenção do conjunto para a sociedade

que vivemos.

Nota-se que há um desenvolvimento das ações de 2011 a 2013, mostrando

uma progressiva maturação por parte dos coordenadores, que são os mentores das

ideias levadas às escolas. Esse amadurecimento reflete também na concepção de

formação de professores por parte dos bolsistas, que conseguem ver maior

significado do projeto para sua formação. Exemplo disso é na afirmação do bolsista

Pablo Gonçalves, em uma intervenção de encerramento do projeto do PIBID UENP

no Colégio Estadual José Pavan de Jacarezinho - PR, em 2013, ele salienta: “É uma

oportunidade de mostrarmos que podemos ser professores proativos. Fomos

coordenados por um professor experiente que nos fez enxergar as deficiências do

ensino público e o que pode ser feito para melhorar a realidade de algumas escolas.

Foi uma experiência gratificante" (UENP).

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Além do desenvolvimento das ações, os projetos como um todo aumentaram a

quantidade de bolsistas, fazendo com que mais graduandos tivessem a

oportunidade de participar do PIBID durante o curso. Na UEL, por exemplo, no

projeto instituído em 2011, havia uma coordenadora, dois supervisores, duas

escolas de atuação e onze bolsistas; em 2012, conforme o blog pertinente a esse

ano, haviam dois coordenadores, seis supervisores, quarenta e um bolsistas e

quatro escolas atendidas.

Partindo para outra fonte de análise, foram abordadas algumas questões

observadas nos artigos produzidos pelos PIBID’s UEL e UEM nos anos de 2012 e

2013, referentes às suas práticas nos subprojetos, de forma objetiva, mas não

excluindo a subjetividade de cada projeto e atividade. Posteriormente, ligamos esses

dados obtidos por meio dos artigos ao ensino de História, seus desafios,

metodologias, reflexões e finalidades. Todos os artigos analisados correlacionam-se

com as atividades desenvolvidas pelos bolsistas, supervisores e coordenadores,

sejam essas em parceria com estagiários dos museus ou com a comunidade e

alunos dos colégios alcançados.

Para isso, analisamos vinte e sete artigos do PIBID UEL e sete do PIBID

UEM3. A maioria dos artigos foram publicados no evento “I Jornada Paranaense

PIBID e PET História”, no ano de 2013, outros foram publicados em evento interno

da UEL. Foram escritos em maior parte pelos bolsistas, mas também há reflexões

por parte dos coordenadores e supervisores.

Dividimos os artigos em duas frentes de análise: atividades extraclasse e em

sala de aula, buscando englobar as formas de atuação dos PIBID e como essas se

desenvolvem em cada IES. As atividades em sala de aula requerem dos bolsistas

linguagens e concepções diferentes, assumindo um caráter mais pedagógico do que

nas atividades extraclasse, atentando-se mais às intervenções didáticas, como visto

nos artigos, o uso de HQ’s, filmes, músicas, novelas, etc. Nas atividades

extraclasse, no caso desses trabalhos analisados, os bolsistas intervêm com a

3 O PIBID História UENP centrou-se em atividades na sala de aula e em eventos internos e nas escolas durante o período estudado nesta pesquisa (2011-2013), suas publicações em revistas e eventos acadêmicos iniciam-se somente em 2014.

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apresentação do acervo do museu e a reconstrução da memória escolar, nem

sempre envolvendo os alunos dos colégios nessas atividades, servindo mais para

fins expositivos e de experiência para os bolsistas. As atividades extraclasse são

oferecidas, geralmente, em contraturno e versam sobre temáticas específicas que

extrapolam o currículo formal (tradicional e cronológico).

Pensando no ensino de História, em relação à metodologia aplicada em sala de

aula, especificamos os usos metodológicos como forma de enfatizar a diversidade

de práticas que os diversos subprojetos PIBID de cada instituição procuram levar às

escolas, em primeiro momento já tentando mudar a visão tradicionalista dos alunos

sobre como aprender História através desses métodos. Pela análise dos artigos,

percebe-se que não houve trabalhos nos quais os bolsistas não apresentassem aos

alunos uma maneira de abordar diversos tipos de fontes históricas. Em todos eles,

os bolsistas buscaram não só fazer a aula ser mais divertida, mas também

significante na aprendizagem do aluno e para o ensino de História. Dentre as

atividades extraclasse realizadas com os alunos dos colégios, os artigos do PIBID

UEL centraram-se nas visitas ao museu. Já no PIBID UEM, na reconstrução da

memória escolar, também exposta aos alunos da E. B., mas no próprio ambiente

escolar.

Dentre as atividades extraclasse, entendemos como relevante especificar que

alguns dos textos foram reservados à reflexão do PIBID em suas respectivas

escolas e cidades, à influência do projeto para a formação dos futuros professores.

Esses textos foram escritos por coordenadores e supervisores, mostrando suas

experiências e vivências quanto ao programa.

Os artigos do PIBID UEM enfocam intensamente o uso de documentos

escolares para a reconstrução da história e da memória das escolas atendidas, o

que caracteriza todos os processos e trabalhos realizados no decorrer do programa.

Já o PIBID UEL mostra, na maioria de suas intervenções, a preocupação com os

conhecimentos prévios dos alunos, ressaltando o interesse em entender o que eles

sabem, estudaram, vivenciaram sobre a história de Londrina, buscando

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compreender o universo intelectual dos alunos, a maneira como classificam a

história e se acreditam em uma história “única” da cidade de Londrina.

Como observado nas citações e referências dos trabalhos da UEL, todos os

bolsistas seguem a vertente da Educação Histórica4, com o conceito de aula-oficina,

proposto por Isabel Barca (2004), no qual os alunos assumem o papel de

participantes ativos nas aulas, através do contato com a fonte histórica. Como

grande parte dos trabalhos decorrem da desconstrução do ensino de história local5

que até então havia sido colocado aos alunos, assume como grande referência

também Peter Lee (2006), pensando na importância de perceber a relação que os

alunos fazem com o passado, e a que tipo de passado eles recorrem. Os bolsistas

também usam frequentemente as abordagens de Schmidt e Cainelli (2004), que,

através da Educação Histórica, associam o ensino de história local com a

significância que traz ao aluno a partir de suas vivências e do que ele já conhece

sobre o lugar onde habita. Consideramos que nas discussões teóricas também toma

corpo a Didática da História, linha de pesquisa abordada por Jorn Rüsen, em que a

História, através da consciência histórica torna-se orientadora das ações dos

sujeitos no tempo, podendo assim entender seu passado, vivenciando o presente e

obtendo uma visão do futuro e de como se utilizar da História em sua vida prática.

Pode-se perceber apenas pelos títulos dos trabalhos, que tais abordam temas

relevantes como: os negros, índios, as mulheres, a desconstrução da figura do herói

pioneiro, a preservação e resgate da memória escolar e da cidade, as possibilidades

que os documentos audiovisuais proporcionam ao ensino, o conhecimento e

trabalho com fontes históricas, e a sociedade atual. Todos esses temas são

4 Linha de pesquisa que tem como base teórica o filósofo e historiador Peter Lee e a “literacia

histórica” A Educação histórica prioriza a narrativa dos alunos e também dos professores acerca da História e a concepção dos conceitos substantivos em história, principalmente os de segunda ordem, que revelam: ideias de mudança, de explicação, ideias de diversidade, diversidade de explicações, de versões, etc 5 A história local das cidades em que os subprojetos das IES desenvolvem suas ações é permeada pela ideia subjacente do pioneirismo, desbravamento da terra e dos heróis que supostamente foram os atores principais da colonização do território. Apresenta-se como objetivo principal nos trabalhos com a história local, a desconstrução destas ideias, levando aos alunos dos colégios e à sociedade em geral aspectos como a participação das mulheres, negros e índios neste processo, o que por muito tempo foi silenciado pela História oficial. Pode-se pensar que este seja um desafio comum às três IES, considerando a necessidade de desconstrução da memória local que a sociedade tem sobre a história.

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incutidos de pré-conceitos e paradigmas construídos pela cultura histórica presente

na nossa sociedade desde o início do ensino de História, que, por muitos anos, não

trouxe aprofundamentos que possibilitassem aos alunos refletirem suas práticas e as

aplicarem em suas vidas cotidianas. Portanto, torna-se desafio aos bolsistas

iniciarem trabalhos com esses alunos que os façam perceber os “defeitos nas

memórias” (ALBUQUERQUE, 2012), para que juntos, em seus pensamentos e

práticas construam um novo olhar sobre a História. Os museus tornam-se

ferramentas indispensáveis nesses projetos da UEL e da UEM, sendo tratados neles

diversos assuntos referentes à história e à sociedade através da história local e

cultura material presente nas exposições.

Assim como descrito nos projetos institucionais, os trabalhos publicados

trazem os encaminhamentos das propostas contidas nesses documentos, da

mesma forma que revelam de maneira mais evidente os resultados descritos nos

blogs. Dentre os objetivos gerais propostos pela CAPES para o PIBID, essas

instituições atendem de formas peculiares, descritas anteriormente, conforme seus

recursos e necessidades regionais, à mudança que se busca na formação de

professores. Através desta pesquisa, observamos amplo contato dos bolsistas com

a escola, a pesquisa e a extensão, considerando que os Laboratórios de Ensino das

instituições investigadas oferecem suporte aos discentes em suas pesquisas. É

interessante perceber também a progressão dos bolsistas e dos coordenadores em

suas concepções e práticas, como por exemplo, de 2012 para 2013, constatamos a

incorporação de conhecimentos dos alunos adquiridos na graduação às suas ações

no PIBID, o que incrementa a apresentação dos resultados.

Conclusão: convergências e dissonâncias nos caminhos da qualificação

da formação do docente de História.

Ao analisar os projetos institucionais, os blogs e os trabalhos escritos das três

IES: UEL, UEM e UENP, percebeu-se que foram trilhados caminhos diferentes, mas

levando a um objetivo comum: a busca pela qualificação da formação do professor

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de História. Dentre essas diferenças, apontaremos algumas das que se mostraram

mais presentes no decorrer da pesquisa.

Em primeiro lugar, nas particularidades dos locais de atuação de cada PIBID

e nas necessidades educacionais que cada IES é desafiada a superar. A UEL com a

desconstrução da visão tradicional da história local de Londrina, a UEM com a

construção de uma memória escolar dos colégios que são inerentes à história de

Maringá e a UENP através dos conteúdos curriculares que cada

supervisor/coordenador determina ser importante para o aluno e para o bolsista.

Também pensando nas metodologias utilizadas, cada IES apropria-se dos recursos

que as são disponibilizados, a UEL e a UEM com o museu, a UENP com a ampla

inserção e mobilização da escola para com o PIBID.

Por segundo, notamos que as estruturas das IES são muito diferentes entre si,

o que facilita ou dificulta no momento das reuniões, práticas nos laboratórios de

ensino, acesso a bibliografias e até mesmo nas discussões e eventos com outros

PIBID’s. Em terceiro lugar apontamos também a formação dos professores

coordenadores, a partir da sua formação observamos o reflexo de suas pesquisas

pessoais, perspectivas para a educação e subjetividades presentes nas ações do

PIBID.

Pensando nos pontos comuns, é claramente exposta nos trabalhos e propostas

a importância da articulação da universidade com o espaço escolar e a sociedade

que a permeia. Muitos dos trabalhos não são realizados dentro da sala de aula, o

que possibilita que toda a comunidade escolar possa ter acesso ao que é produzido

na universidade pelos bolsistas. Os temas trabalhados visam superar o modelo

colocado pela cultura histórica que a sociedade habituou-se, levando às escolas

novos métodos e concepções de ensino. A desvantagem é que se restringe apenas

aos colégios alcançados, através do pequeno número de bolsistas se comparado à

quantidade de escolas em cada cidade.

Para além da análise formal da pesquisa, podemos constatar o quão importante

tem sido para essas universidades a atuação do PIBID. O projeto em si trouxe uma

nova ação para a formação de professores e o ensino de História, indo além dos

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estudos que há muito têm sido colocados em pauta na área da educação. Segundo

Rüsen (2012), “aprender é a aquisição de competências, a partir da apropriação da

própria experiência”, pensando no papel do PIBID como formador de futuros

professores, o projeto leva os graduandos a aprenderem a partir da própria

experiência, por meio das aquisições obtidas e moldadas durante o período de

aprendizado, e assim progressivamente ao longo da vida. Por isso, é importante que

essa atuação seja valorizada e discutida, principalmente para que o projeto seja

mantido mesmo com as crises econômicas e políticas, assim contemplando a

progressiva melhora almejada pelo PIBID para a formação dos professores.

REFERÊNCIAS:

FELDEN, E. L; KRONHARDT, C.A.C. A Universidade e a formação de professores.

Vivências. Erechim Vol.7, N.12: p.37-45, Maio/2011

MONTEIRO, A. M. Professores de história: Entre saberes e práticas. Rio de Janeiro:

Mauad X, 2007. 262 p.

NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: _____ (org.) Os professores

e a sua formação. Lisboa, Dom Quixote, 1992, p.13-33.

PADRÓS, E. S (org.). Ensino de História – Formação de professores e cotidiano

escolar. Porto Alegre: EST, 2002.

RÜSEN, J. Aprendizagem histórica: esboço de uma teoria. In:____. Aprendizagem

histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.A. Editores, 2011. P- 69-112.

Fontes:

Blog Institucional do PIBID da Universidade Estadual de Londrina. Disponível em: <

http://labhis.wix.com/pibidhistoria>. Acesso em: 07 jun. 2016.

Blog Institucional do PIBID da Universidade Estadual de Maringá. Disponível em: <

http://pibidhistoriauem.blogspot.com.br/>. Acesso em: 07 jun. 2016.

Blog Institucional do PIBID da Universidade Estadual do Norte do Paraná. Disponível em: <

http://pibidhistoriauenp.blogspot.com.br/> Acesso em: 07 jun. 2016.

Depoimento do aluno Pablo Gonçalves. Disponível em: <http://migre.me/ubY8N>. Acesso

em: 24 jun. 16.

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UEL. Detalhamento do Subprojeto História. In: _____. Plano de Desenvolvimento

Institucional. PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA –

PIBID, 2011.

UEM. Detalhamento do Subprojeto História. In:____. Plano de Desenvolvimento

Institucional. PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA –

PIBID, 2013.

UENP. Detalhamento do Subprojeto História. In: _____. Plano de Desenvolvimento

Institucional. PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA –

PIBID, 2012