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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 9.099/95, COMO FERRAMENTAS DE ALCANCE DA CELERIDADE E EFETIVIDADE NO PROCESSO PENAL JOSÉ ROBERTO CZIECZEK Itajaí (SC), maio de 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 9.099/95, COMO FERRAMENTAS DE ALCANCE DA CELERIDADE E

EFETIVIDADE NO PROCESSO PENAL

JOSÉ ROBERTO CZIECZEK

Itajaí (SC), maio de 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 9.099/95, COMO FERRAMENTAS DE ALCANCE DA CELERIDADE E

EFETIVIDADE DO PROCESSO PENAL

JOSÉ ROBERTO CZIECZEK

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professor Carlos Roberto da Silva

Itajaí (SC), maio de 2010

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AGRADECIMENTO

Ao Professor Carlos Roberto da Silva, por ter acendido em mim o interesse pelo Processo Penal.

A MM. Juíza Ana Vera Sganzerla Truccolo, pela oportunidade dispensada junto ao fórum de Balneário Piçarras com conciliador do Juizado Especial Criminal.

Aos meus colegas, principalmente ao Valmor Haussmann e Neiva M. Hiller, que sempre me deram força e apoio em todos os momentos dessa jornada.

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DEDICATÓRIA

A minha esposa, Eulália renovadora fonte de energia da minha vida e esteio de sustentação onde edificamos o nosso amor.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), 24 de maio de 2010

José Roberto Czieczek Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando José Roberto Czieczek, sob o título: As

Inovações trazidas pela Lei 9.099/95, como ferramenta de alcance da celeridade e

efetividade do Processo Penal, foi submetida em 09 de junho de 2010, à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: Débora Cristina Scheikinham, e

aprovada com a nota ________ (______________________).

Itajaí (SC), maio de 2010

Professor Carlos Roberto da Silva Orientador e Presidente da Banca

Professor Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916 CRFB Constituição da República Federativa do Brasil HC Hábeas Corpus RHC Recurso em :Hábeas Corpus ART Artigo CP Código Penal CPP Código de Processo Penal STF Supremo Tribunal Federal STJ Supremo Tribunal de Justiça JECRIM Juizados Especiais Criminais REL Relator

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ROL DE CATEGORIAS

Direito Processual :

É um ramo do direito público que consiste num conjunto sistemático de normas e

princípios que, enquanto disciplinam as competências dos órgãos jurisdicionais e os

procedimentos processuais a serem utilizados, orientam os atos necessários e o

modo de sua utilização pelos sujeitos do processo, de forma que o Poder Judiciário

preste, com rapidez, eficiência e eficácia, a jurisdição às pretensões civis ou penais

amparadas pelo Direito Material e para as quais foi requerida a respectiva tutela

jurisdicional.1

Autocomposição :

A autocomposição ocorre quando uma das partes integrantes do conflito abre mão

do seu interesse em favor da outra, ou quando ambas renunciam à parcela de suas

pretensões para solucionar pacificamente suas divergências. 2

Princípios:

O Processo Penal é regido por uma série de princípios e regras que outra coisa não

representam senão postulados fundamentais da política processual penal de um

Estado.3

Jurisdição:

A jurisdição é uma emanação da soberania nacional. Como função, a jurisdição é

aquela incumbência afeta o Juiz de, por, por meio do processo, aplicar a lei aos

casos concretos. Finalmente, como atividade, a jurisdição é toda aquela diligencia

do Juiz dentro do processo objetivando a dar a cada um o que é seu.4

Competência:

1 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo . V. 1. 2 ed. Florianópolis: Atual, 2004. p. 32. 2 CAPEZ, Fernando, Curso de processo penal . 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.7. 3 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal . 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 16 4 TOURINHO FILHO. Manual de processo penal , p. 231.

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8

Competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos quais o

juiz pode prestar jurisdição). Aponta quais os casos que podem ser julgados pelo

órgão do Poder Judiciário. É, portanto, uma verdadeira medida da extensão do

poder julgar.5

Crime de Menor Potencial Ofensivo :

Os crimes de menor potencial ofensivo são de infrações de menor gravidade, que

causam uma menor reprovação social. 6

Celeridade :

A referência ao principio da Celeridade diz respeito à necessidade de rapidez e

agilidade no processo, com fim de buscar a prestação jurisdicional no menor tempo

possível. No caso dos Juizados Especiais Criminais, buscando-se reduzir o tempo

entre a pratica da infração penal e a solução jurisdicional, evita-se a impunidade pela

porta da prescrição e se dá uma resposta rápida a sociedade na realização da

justiça penal. O interesse social reclama soluções imediatas para resolver os

conflitos de interesses, sendo uma exigência da tranqüilidade coletiva. 7

Efetividade:

É realizar a coisa certa para transformar a situação existente. Qualidade do que

atinge os seus objetivos estratégicos, institucionais, de formação de imagem etc.8

5 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal , p.208. 6 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.413. 7 MIRABETE, Júlio Fabrini; Juizados especiais criminais . p.26. 8 http://www.efetividade.net/about/acesso em 20/05/2010.

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... XI INTRODUÇÃO .................................................................................. 13

CAPÍTULO 1 ........................................ ............................................. 16

HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO .. . 16

1.1 PERÍODO COLONIAL .............................. ..................................................... 16

1.2 ORDENAÇÕES AFONSINAS ......................................... ............................... 18

1.3 ORDENAÇÕEA MANUELINAS ......................... ............................................ 19

1.4 ORDENAÇÕES FILIPINAS .......................... ................................................. 21

1.5 PERÍODO IMPERIAL .............................. ....................................................... 21

1.6 PERÍODO REPUBLICANO ........................... ................................................. 26

1.7 O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DE 1941E SUAS REFORM AS ........... 28

1.8 LEI 7.244/84 – JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS .... .............................. 30

1.9 A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS APARTIR DA CON STITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ............ ................................. 31

1.10 LEI 9.099 – UMA INOVAÇAO DO SISTEMA PROCESSUAL PENAL ....... 33

CAPÍTULO 2 ........................................ ............................................. 37

OS PRINCÍPIOS ORIENTADORES E A ORGANIZAÇÃO JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS .... ........ 37

2.1 PRINCÍPIO DA ORALIDADE ........................ ................................................. 37

2.2 PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE ..................... ............................................... 39

2.3 PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE .................... ............................................ 40

2.4 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL .............. .................................. 40

2.5 PRINCÍPIO DA CELERIDADE ....................... ................................................ 42

2.6 COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL....... .......................... 42

2.7 CONCEITO DE INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIV O ............. 45

2.8 A AUTORIDADE POLICIAL E O TERMO CIRCUNSTANCIADO ................. 47

2.9 A INFORMALIDADE NA REALIZAÇÃO DOS ATOS PROCESSU AIS......... 52

2.10 JUIZES TOGADOS E JUIZES LEIGOS ............... ....................................... 54

2.11 O PAPEL DO CONCILIADOR NO ÂMBITO DO JECRIM ... ........................ 58

CAPÍTULO 3 ........................................ ............................................. 62

AS INOVACÕES DA LEI 9.099/95 RUMO À CELERIDADE E EFETIVIDADE DO PROCESSO PENAL ..................... ..................... 62

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x

3.1 O PROCEDIMENTO SUMARISSIMO ............................................................ 62

3.2 A AUDIÊNCIA PRELIMINAR COMO UMA EFICAZ INOVAÇÃO ................. 67

3.3 A CONCILIAÇÃO E A COMPOSIÇÃO CIVIL – A SOLUÇÃO DO LITIGIO ANTES DA AUDIÊNCIA ................................ ...................................................... 69

3.4 A TRANSAÇÃO PENAL E SEUS EFEITOS NO JUIZADO ESP ECIAL CRIMINAL .......................................... .................................................................. 73

3.5 A SENTENÇA NO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO ........ ......................... 77

3.6 POSSIBILIDADE DE RECURSOS PREVISTOS NO PROCEDIM ENTO SUMARISSIMO .................................................................................................... 79

3.7 SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ............. .............................. 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ................................ 85

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..................... ...................... 87

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RESUMO

Estuda-se o tema proposto, relacionado ao célere e eficaz andamento do processo

penal, em um contexto histórico de crises umbilicalmente interligadas, herdadas do

ordenamento português aqui aportado. As imposições das ordenações portuguesas

com legislações influenciadas pelo direito canônico da época e suas maneiras de

julgar refletem em nossa cultura de forma acentuada ainda nos dias atuais. A

existência desses paradigmas influencia diretamente de forma negativa para o

aperfeiçoamento do ordenamento jurídico pátrio, por uma tutela jurisdicional

baseada no processo clássico. Um inoperante sistema instrumental penal e o próprio

Direito Criminal em sua essência primária, como observados na evolução histórica

do Direito processual Penal onde estão refletidas essas influências políticas quase

que intransponíveis para a implantação de uma nova era político-criminal. Fazia-se

necessária uma nova ideologia. Era indispensável a busca de outros meios para

substituir a clássica pena privativa de liberdade, pelo menos, aquela de curta

duração, que já não mais se mostrava eficaz àquilo que pretendia – a paz social

através da sanção Estatal. Pois, para um delinqüente ocasional a condenação vai

além do necessário. Sob a égide da Lei 9.099/95, nosso ordenamento experimentou

essa nova era, onde a ousadia do legislador brasileiro ignorou limites, talvez

prudência e pioneirismo de novas idéias impregnados no espírito do Constituinte de

1988 de maneira que erigiu os Juizados Especiais à categoria de instituto à preceito

Constitucional. Com seus sustentáculos baseados nos princípios da Celeridade,

Oralidade, Economia processual e Informalidade, trouxeram a sintonia exigida pelos

anseios sociais do novo milênio. Uma idéia inovadora com aplicabilidade no sistema

Processual Penal com o condão de ajudar a

resolver a crise em que se encontrava mergulhada a jurisdição brasileira. A adoção

de um procedimento rápido, tanto na esfera policial, com a lavratura do Termo

Circunstanciado, quanto na esfera processual, com o procedimento sumaríssimo,

possibilitou uma forma inovadora na condução da persecução processual, baseada

na celeridade. Como uma das inovações de maior vulto destaca-se a composição

civil, onde a lei contemplou a possibilidade da composição dos danos causados pela

conduta do autor do fato, evitando assim a demanda de um processo na esfera

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cível. Estabeleceu-se, então, a Conciliação e a Transação Penal como hipóteses de

alcance da efetiva paz social, através da busca ao entendimento entre o autor do

fato e a vítima, ou o Ministério Público, através da figura dos juízes togados, juízes

leigos e conciliadores. Surgiu a Transação Penal, que consiste em um acordo do

autor do fato por uma prestação que substitui a pena de reclusão, uma forma de

atingir antes mesmo da denúncia os mesmos efeitos que só teríamos com a

sentença no final de um processo moroso. O instituto da Suspensão Condicional do

processo, aplicável a outros diplomas, trouxe a possibilidade de suspender o

processo por um período de prova, sendo diferente da Suspensão Condicional da

Pena em que o autor do fato é beneficiado somente após a aplicação da pena, o que

incorre em percorrer todo o processo para somente no fim poder ser beneficiado

pelo instituto. Contudo, a lei 9.099/95 não só serviu como uma ferramenta eficaz

para a solução das persecuções penais nos Crimes de Menor Potencial Ofensivo,

mas também representou um divisor de águas no Processo Penal, uma alavanca

para idéias inovadoras, a inspiração necessária colocada à disposição do Estado

Democrático de Direito.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto um estudo da Lei

9.099/95, em especial suas inovações, como ferramentas para a agilização e

efetivação do Processo penal.

O seu objetivo é analisar todos os aspectos e mudanças

trazidas pela lei, levantar todos os institutos criados pela lei e suas aplicações,

enfocando se realmente a lei 9.099/95 trouxe inovações aplicáveis no Processo

Penal.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do Histórico do

Direito Processual Pátrio e suas influências. Desde o a descoberta até os dias de

hoje. Os diversos códigos que vigoraram no decorrer de nossa história até a

Constituição de 1988, que trouxe a previsão da instalação dos Juizados Especiais

Criminais. A experiência na área civil com as pequenas causas e, por fim, a edição

da Lei 9.09/95.

No Capítulo 2, tratando dos princípios orientadores dos

juizados especiais Criminais; as competências; a organização para a apuração dos

crimes de menor potencial ofensivo com a flexibilidade para lavratura dos Termos

Circunstanciados; a realização dos atos processuais com o dinamismo e flexibilidade

de locais e horários e o papel dos juízes togados, leigos os conciliadores.

No Capítulo 3, tratando do inovador Procedimento

Sumaríssimo; a conciliação e a composição civil como ferramenta para o alcance da

tutela jurisdicional eficaz, a transação penal uma nova forma de atingir os efeitos da

sentença sem que precise percorrer todo o caminha da instrução criminal e a

morosidade processual; o instituto da Suspensão Condicional do Processo, outra

forma do alcance célere dos efeitos do processo e a sentença e seus efeitos na

esfera criminal.

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14

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre as

inovações trazidas pela Lei 9099/95, rumo a celeridade e efetividade do processo

penal.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

Com a previsão Constitucional da criação dos Juizados

Especiais Criminais obedeceu a imperiosa necessidade de agilização do judiciário

no que tange os crimes de menor potencial ofensivo?

Sob a égide da Lei 9.099/95, os operadores do direito têm

aceitado e colocado em prática às soluções e procedimentos apresentados no

diploma como forma de agilização do Processo Penal?

As inovações trazidas pela Lei 9.09/95, realmente refletem a

idéia do legislador, tem atingido os seus objetivos de solucionar com celeridade e

eficácia os crimes de menor potencial ofensivo, suas idéias e seus institutos podem

ser estendidos a outros procedimentos que apuram crimes de maior complexidade?

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação9 foi utilizado o Método Indutivo10, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano11, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

9 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

10 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 104.

11 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

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15

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas

do Referente12, da Categoria13, do Conceito Operacional14 e da Pesquisa

Bibliográfica15.

12 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 62.

13 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 31.

14 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 45.

15 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 239.

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CAPÍTULO 1

HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO

1.1 PERÍODO COLONIAL

A Península Ibérica, onde se desenvolveria a nação

portuguesa, era nos primórdios da era Cristã, muito pouco povoada, até a conquista

romana que começou em 218 a.C.

Sobre essa época, bem descreveu Pirangelli:

Sob o aspecto interno de Direito, ou, por outras palavras, quanto às instituições jurídicas que vigeram nessa época, em vigor, pouco os nada se sabe, não obstante os esforços já desenvolvidos. Afirma-se, contudo, que a pena de morte era aplicada em larga escala e que era executada mediante decapitação, precipitação das rochas e esmagamento sob pedras.16

Diante da invasão romana sobre a península, se concretizando

apenas em 19 a.C., com a vitória nos últimos focos de resistência, definiu-se linhas

basilares da aplicação da normatização romana até a invasão Bárbara no século V,

somente retomado quando o Império Romano aliou-se aos Pirineus, para, em

nome do Império Romano, reconquistassem a Península.

Com a independência de Portugal, passou a reclamar uma

elaboração de uma legislação genuinamente lusitana: Lei das Sete Partidas, onde

constavam em suma às virtudes de um bom julgador, uma espécie de linha de

procedimentos atribuídos aos julgadores até o posterior Livro das Leis e Posturas,

datada da primeira parte do século XV.

16 PIERANGELLI, José Henrique. Processo penal – evolução histórica e fontes legisl ativas. 1 ed. Jalovi. Bauru 1983. p.24.

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17

Somente no reinado de D. Afonso V, com apenas sete anos de

idade, é que o Regente de Portugal D. Pedro, tio do rei, determinou a feitura de um

código à altura da época, dando origem as Ordenações Afonsinas, como descreve

Pierangelli:

O trabalho foi concluído em 28 de julho de 1446, na vila da Arruda. Determinou-se, então, que uma junta revisasse o trabalho executado, recaindo a nomeação no Dr, Lopo Vasques, Corregedor da Cidade de Lisboa, em Fernão Rodrigues, do Desembargo do dito Senhor Rei, em Luiz Martins e no próprio Rui Fernandes. Algumas alterações foram produzidas e as Ordenações, com o nome de Afonsinas, vieram a publico provavelmente no ano de 1446 ou no ano seguinte, por ordem do Infante D. Pedro, em nome de D. Afonso V. estas, como código completo, dispondo sobre quase todas as matérias da administração de um Estado, foi evidentemente o primeiro que se publicou na Europa e assinala uma época importante.17

Quando se processou a colonização do Brasil, embora as

tribos aqui existentes apresentassem diferentes estágios da evolução, as idéias de

Direito Penal que podem ser atribuídas aos indígenas estavam ligadas aos direitos

costumeiros, encontrando-se nele a vingança privada, a vingança coletiva e o talião.

Entretanto, dado o seu primarismo, as práticas punitivas das tribos selvagens que

habitavam o nosso país em nenhum momento influíram na nossa legislação.

Nesse sentido, assinala o Prof. Leal: Com o descobrimento do Brasil, os portugueses trouxeram para a nova Colônia o seu sistema jurídico. Os costumes, usos e tradições do indígena foram completamente ignorados pelo colonizador europeu, que trazia consigo uma civilização mais avançada e hegemônica. Por isso, não seria admissível qualquer espaço, por mais restrito que fosse para a adoção das simples e primárias regras de conduta que disciplinavam a vida social dos inúmeros grupos nativos existentes no continente brasileiro.18

17 PIERANGELLI, José Henrique. Processo penal – evolução histórica e fontes legislativas- p.55. 18 LEAL, João José. Direi Penal Geral -3 ed.-Florianópolis: OAB/SC:2004:p.79.

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18

Com a descoberta do Brasil por Portugal, junto aos

colonizadores vieram seus costumes, suas idéias e suas leis a serem impostas aos

nativos.

1.2 ORDENAÇÕES AFONSINAS

Quando Cabral aportou na Bahia, vigiam em Portugal as

Ordenações Afonsinas, promulgadas em 1446 por D. Afonso V, além é certo, de

normas oriundas do direito romano, canônico e costumeiro. Neste sentido, torna-se

oportuno transcrever o entendimento de Moura Teles:

No famigerado Livro V (Ordenações Afonsinas) é que se encontravam as normas de Direito Penal. Era um tempo ainda da vingança pública e, como tal, algumas de suas notas características mão podiam deixar de ser: a crueldade das penas, a inexistência do direito de defesa e do principio da legalidade, penas arbitrarias e desigualmente fixadas pelo julgador. 19

Houve o predomínio do direito português na colônia, como

conseqüência inevitável da ideologia colonialista. Assim descreve Frederico

Marques:

Foi um sistema jurídico simplesmente transportado da metrópole e aqui aplicado, sem qualquer preocupação de adaptação de suas normas à realidade sócio econômica e cultural da colônia. Como bem assinalou Sílvio Romero, a história do direito brasileiro, desde as origens, não passou de “um capítulo do direito português na América”.20

A compilação das Ordenações Afonsinas relaciona-se aos

direitos Romano e Canônico. Aplica-se o direito romano em matéria temporal, desde

que não tenha nenhuma vinculação com qualquer espécie de pecado. O direito

canônico, fundado sobre a obediência ao papa e à Igreja, aplica-se aos aspectos

espirituais, e também aos temporais quando o direito romano não se pronuncia ou

quando sua observância ocasione algum tipo de pecado. Além disso, recorre-se às

compilações da Glosa de Acúrsio, quando não há norma aplicável no direito romano

19 TELES, Ney Moura. Direito penal , vol 1 1 ed. LED.1996 S.Paulo.p.59. 20 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal . V. I. São Paulo: Saraiva: p.83.

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19

nem no direito canônico. Finalmente, apela-se para a decisão do rei no caso de

insuficiência de uma ou de outra das fontes citadas acima. Como é notória, a

dispersão das leis exigia um aperfeiçoamento urgente no procedimento judiciário. De

fato, era imperativamente necessário estabelecer um compêndio das fontes

legislativas com certa hierarquização.

O crime era confundido com o pecado e com a ofensa moral,

punindo-se severamente os hereges, apóstatas, feiticeiros e benzedores. Eram

crimes a blasfêmia, a bênção de cães, a relação sexual de cristãos com infiéis, etc.

as penas severas e cruéis ( mutilação, açoites, queimaduras, etc.) visavam infundir o

medo pelo castigo. Além da larga combinação da pena de morte, executada pela

forca, pela tortura, pelo fogo, etc., eram comuns as penas infamantes, o confisco e

as galés.

Sua duração foi curta, o que bem assinala Piranguelli:

Sem dúvida, apresentava imperfeições, contradições e mesmo alta de unidade de plano e contemplava grande numero de infrações religiosas, às quais cominava penas atrozes. Deve-se, porém, ter-se em conta a época em que foram compiladas, o momento histórico vivido, e só assim, se poderá bem avaliar o seu significado. 21

Felizmente, pouca ou quase nenhuma aplicação tiveram tais

normas em nosso território, pois só tiveram vigência até 1514, nos primeiros anos

após a chegada dos portugueses, época em que não havia, ainda, nenhuma cidade

neste vasto continente, nem um arremedo de estado neste que hoje é o Brasil.

1.3 ORDENAÇÕEA MANUELINAS

O Brasil como colônia se sujeitava às Leis portuguesas,

embora em uma realidade diferente, mas de qualquer forma, mudadas as Leis em

Portugal aplicava-se aqui.

21 PIERANGELLI, José Henrique. Processo penal – evolução histórica e fontes legislativas- p.57.

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20

Editadas em 1514, por ordem de Dom Manuel, o Venturoso,

para consolidar o direito português, por ironia é no livro V das Ordenações que é

encontrado o Direito Penal, que iria valer por quase um século, até 1.603.

Não há diferenças substanciais entre essas e as anteriores

Ordenações. Ainda na fase da vingança publica, nenhuma evolução se verificou. Tal

fase foi marcada pela crueldade, como aponta Moura Teles:

O Direito Penal era tão cruel que a prisão não era em regra, pena criminal, mas medida cautelar, processual, destinada a guardar o condenado ate a execução da pena, de morte, corporais, de aflição ou de suplicio. Ainda que rara, existia a pena de servidão, submetendo ao cativeiro, o mouro ou judeu, que se fizesse passar por cristão. 22

Algumas das características das Ordenações manuelinas

observadas por Dotti::

Também ao tempo das manuelinas a chamada servidão penal é rara como nas hipóteses em que se submetia o infrator ä situação de cativeiro. A prisão é encontrada como medida de coerção pessoal ate o julgamento e condenação sendo menos freqüente a prisão por divida, enquanto que a privação de liberdade como sanção propriamente dita é pouco utilizada. Em alguns casos, como pena, é fixada em quinze ou trinta dias, sem desconto; em outras vezes, a sua duração é arbitrária. Alguns dispositivos regulavam problemas da execução como a proibição de que os presos se ferissem entre si; o cumprimento da detenção em lugares ou em situações especiais, bem como a forma de se aplicar a pena como ocorre com a prisão em ferros.23

Fato marcante, no primeiro século da existência dessa grande

colônia, esse direito era aplicado pelos donatários das capitanias hereditárias, que,

como senhores, juízes, verdadeiros reis, interpretavam, diziam e executavam o

Direito Penal e Processual Penal, como se fossem deuses.

22 Teles, Ney Moura. Direito penal -p.60. 23 Dotti, René Ariel. Curso de direito penal - p.181.

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21

1.4 ORDENAÇÕES FILIPINAS

Editadas em 1603, as Ordenações do Rei Felipe II, da

Espanha, reinando também em Portugal, vigoraram mesmo depois de 1.640, ano da

restauração da independência de Portugal.

Em quase nada distinguiam das Ordenações Manuelinas e

Afonsinas. Punições severas e cruéis, inexistência do princípio da reserva legal e do

direito de defesa, penas arbitradas desproporcionalmente pelos juizes e desiguais.

Marcadas por penas de fogo em vida, de ferro em brasa, de mãos cortadas, de

tormentos, alem da transmissão da infâmia aos descendentes dos criminosos.

Moura Teles assim descreveu esse período:

Foram mais de três séculos de terror absoluto, abaixo da linha do equador, para a massa dos primeiros habitantes, construtores dessa sociedade, ainda hoje, majoritariamente marginalizada. É óbvio que, já naquela época, uma parcela ficava à margem de tudo isso, os fidalgos, os cavaleiros, escudeiros, desembargadores, etc.24

Era a síntese do sistema jurídico português de uma época, as

Ordenações Filipinas expressavam muito bem o pensamento político-juridico

medieval. As penas ali previstas para os crimes mais banais, eram profundamente

cruéis. O objetivo era aterrorizar o individuo, impondo ao infrator os castigos e

suplícios mais terríveis. Vigoraram no Brasil até o advento da Constituição de 1824,

chamada de Constituição Imperial.

1.5 PERÍODO IMPERIAL

Mesmo antes da independência o príncipe regente do Brasil, D.

Pedro I, resolveu abolir a tortura em certas penas cruéis e infamantes, determinando

a adoção do principio da responsabilidade pessoal, proibindo a transmissão da pena

aos sucessores do condenado.

24 Teles, Ney Moura. Direito penal ,p.61.

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22

Com a independência proclamada em 07 de setembro de

1822, tornou-se indispensável à jovem nação uma nova ordem jurídica.

A primeira Constituição Brasileira, a do Império de 1824,

incorporava importantes princípios: a lei penal não terá efeito retroativo; todos são

iguais perante a lei; nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente; ficaram

abolidos os acoites, torturas, marcas de ferro quente e penas cruéis.

O projeto do novo código penal foi elaborado por Bernardo

Vasconcelos, em 1830. O novo código honrava a cultura jurídica nacional, e tinha

índole liberal. Porém, apresentava defeitos. Não definia a culpa, aludindo apenas o

dolo, esquecendo-se, entretanto, do homicídio e das lesões corporais por culpa.

Segundo Leal, ensina sobre o código de 1830:

Influenciado pelos códigos francês (1810) e napolitano (1819), nosso código criminal de 1830 constitui-se num estatuto repressivo e tecnicamente bem elaborado. Doutrinariamente, soube perfilhar as idéias e teorias mais adequadas a cerca da questão penal, merecendo referencias elogios dos penalistas que o estudaram. O código criminal constitui-se numa obra legislativa realmente honrosa para a cultura jurídica nacional, como expressão penalista do seu tempo.25

Espelhava-se também na lei da desigualdade no tratamento

iníquo do escravo. Cominava as penas de galés e de morte.

Esta legislação não separada a Igreja do Estado, continha

diversas figuras delituosas, representando ofensas à religião estatal. Apesar disso,

era um excelente código para a época. Um dos poucos códigos, com índole liberal,

e na América Latina foi o primeiro com independência e autonomia.

25 LEAL, João José. Direito Penal Geral -p.82.

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23

Dispunha este diploma que, praticado um crime por escravo,

contra um homem livre (brancos, pardos e pretos livres), reunia-se imediatamente o

júri do local em que o mesmo ocorrera, proferindo sentença, após breve processo, a

qual, ainda que fosse a condenação à morte, seria executada sem recurso.

Como estatuto importante do império, definiu crimes culposos

e o estelionato, passando para o juiz a formação da culpa, que esta atribuíra às

autoridades policiais.

Como novidade destacou-se: A Prisão com Trabalho, fixadas

em vinte anos seu grau máximo. Muito bem destacada na obra de Dotti dentre

outras alterações:

A pena de prisão com trabalho obrigava os réus a se ocuparem diariamente no labor que lhe fosse imposto, dentro do recinto das prisões, na conformidade das sentenças e dos regulamentos dos presídios. A pena de prisão simples obrigava os réus a permanecerem reclusos Nas prisões publicas pelo tempo marcado na sentença. A prisão como autentica pena ingressava nos costumes brasileiros não como um simples instrumento de proteção de classe dominante, mas também passaria a ser vista côo fonte de emenda e de reforma moral para o condenado. 26

O maior doutrinador de vulto no direito penal, nesta época, foi

Tobias Barreto, não esquecendo também de Clóvis Beviláqua.

Na esfera Processual Penal, sob a égide do Novo Código

Penal, tornou-se necessário adequar as Leis Processuais Penais, quer seja pela

nova realidade política brasileira, quer seja pelas influencias liberais, harmonizando-

se aos novos conceitos.

Alberto Machado bem assinala:

Com a proclamação da independência e a promulgação da primeira Constituição brasileira em 1824, já se faziam sentir aqui a as

26 Dotti, René Ariel. Curso de direito penal : p. 190.

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influencias do ideário liberal europeu, difundidas pelo Iluminismo francês, bem como as idéias humanitárias de Beccaria no campo criminal. Logo em seguida, o Brasil instalaria as suas primeiras faculdades de direito, em 1827, uma em Olinda outra em São Paulo, iniciando assim um o processo de criação de um Estado nacional sob o signo do liberalismo. Se bem que é sempre importante notar o caráter artificial desse liberalismo então adotado pelo país, já que por essa época esse ideário, liberal transplantado para os trópicos convivia estranhamente com a escravidão, com o latifúndio e com uma forte exclusão social e política.27

O código era dividido em duas partes, a primeira da

organização judiciária e a segunda da forma do processo, como discorre Pierangelli:

A primeira parte era formada pelo Título I, que tratava de varias disposições preliminares, e das pessoas encarregadas da administração da Justiça Criminal, nos juízos de primeira instancia, composto de cinco capítulos. O capitulo I cuidava das disposições preliminares. O capitulo II tratava das pessoas encarregadas da administração da justiça criminal em cada distrito, e estava dividido em quatro secções. Estas, respectivamente, cuidavam: dos juízes de paz, dos escrivães de paz, dos inspetores de quarteirões e dos oficiais de justiça de paz. O capitulo III tratava das pessoas encarregadas da justiça nos termos e estava dividido em quatro secções, que cuidavam, nessa ordem, dos jurados, dos juízes municipais, dos promotores públicos e dos escrivães e oficiais de justiça dos juízes municipais. O capitulo IV dizia respeito aos juízes de direito e o capitulo V trazia as disposições gerais. A segunda parte cuidava da forma do processo e era formada pelos títulos II, III, IV, V e VI. 28

Com relação a forma do processo, na segunda parte, o Título II

tratava do processo em geral, o II do processo sumário, IV do processo ordinário e o

V disposições gerais.

Nas formas procedimentais adotou um procedimento misto,

entre o inquisitório e o acusatório, mas mantinha a característica predominantemente

inquisitória.

Sobre esta questão bem assinala Pierangelli:

27 MACHADO, Antônio Alberto. Teoria geral do processo penal .-São Paulo: Atlas, 2009. p.32 28 PIERANGELLI, José Henrique. Processo penal – p.101.

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O código de Processo Criminal do Império dotou o procedimento misto ou eclético, muito embora o submetesse à regra da inquisitividade. O nosso legislador de 1832 ficou, portanto, num meio termo entre o procedimento acusatório então vigente na Inglaterra, e o misto, adotado pela Franca, este inquisitivo na fase instrutoria e acusatório na fase do julgamento, mas induvidosamente, o nosso Código era muito mais liberal, pois, no modelo francês o acusado era colocado em uma situação de inferioridade em relação ao acusador oficial e o juiz exercitava uma atividade de produção de provas, valendo-se, para esse fim, até mesmo da tortura. Além disso, nesta legislação, o processo era escrito, secreto e não contraditório, o que não ocorria com o nosso.29

As idéias liberais foram cerceadas em virtude dos movimentos

sociais ocorridos no Brasil, como bem observa Antonio Alberto Machado:

Todavia, não obstante essa vocação liberalizante do Código de 1832, o fato é que as disputas políticas entre o Partido Conservador (Partido Português) e o Partido Liberal, que culminaram com a renuncia de D. Pedro I em 1831 e o golpe da maioridade por meio do qual o príncipe D. Pedro I assumiria o trono, bem como a intensa agitação social que marcou o período da Regência, com a explosão de movimentos como a Sabinada, Balaiada, Cabanagem, farroupilha, os Quilombos etc., levaram a um recrudescimento do poder por parte da Coroa, com forte reação monárquica às idéias liberais.30

Com o enrijecimento tornou-se necessário algumas alterações

ao Código, pois a forma liberal com o que fora construído já não cabia ao ideal

político dos interesses monarcas, sendo anotada a reforma em 1841.

A reforma de 1841 sob o ponto de vista de Antonio Alberto

Machado:

Viria então a reforma processual penal de 3 de dezembro de 1841, que retirou os poderes instrutórios do Juiz de Paz, entregando-os ao juiz municipal e ao chefe de policia, ambos nomeados pelo poder central (imperador e Presidentes de Províncias). Aquelas autoridades assumiriam importantes funções judiciárias no âmbito da justiça criminal, instalando novamente entre nós um processo de tipo inquisitivo, cuja adoção marcou esse período da justiça criminal que ficou conhecido como período do policialismo judiciário. Essa reforma

29 PIERANGELLI, José Henrique. Processo penal – p. 103. 30 MACHADO, Antônio Alberto. Teoria geral do processo penal . p.33.

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aboliu também o júri de acusação que tinha atribuições de decidir acerca do fundamento ou da pertinência das acusações.31

Perante a reforma as características voltaram a tomar a

identidade inquisitória, que somente 30 anos mais tarde com a abolição da

escravatura e a Proclamação da República 1888 e 1889 respectivamente, onde volta

a adotar um processo tipo claramente acusatório.

1.6 PERÍODO REPUBLICANO

No último ano do regime imperial, fora o conselheiro João

Batista Pereira encarregado, pelo Ministro da Justiça, de elaborar um projeto de

reforma da legislação penal, porque a abolição da escravatura demandava

modificações inadiáveis.

Em razão daquele fato, Ariel René Dotti aponta:

A natural transformação pela qual estava passando o Brasil, em fase de transição política e institucional de profundas repercussões humanas e sociais, Joaquim Nabuco o grande líder do abolicionismo- apresentou na Câmara dos Deputados um projeto autorizando o Ministro da Justiça a mandar publicar uma nova edição do Código Criminal, eliminadas disposições referentes ã escravidão, constantes em leis especiais.32

Infelizmente, o novo estatuto sofreu várias e severas críticas,

os defeitos eram numerosos. Ele era de fundo clássico. Procurou suprir lacunas da

legislação passada. Definiu novas espécies delituosas. Aboliu a pena de morte e

outras, substituindo-as por penas mais brandas, criou o regime penitenciário de

caráter correcional.

Em razão do texto Constitucional da Constituição Republicana

de 1891, que permitiu aos Estados competência legislativa em matéria de Processo

Penal, em muitos Estados experimentaram o retrocesso.

31 MACHADO, Antônio Alberto. Teoria geral do processo penal . p.33. 32 Dotti, René Ariel. Curso de direito penal : p. 193.

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Como bem discorre Alberto Machado:

A Constituição Republicana de 1891 adotou o chamado pluralismo processual e deferiu aos Estados da federação a competência legislativa para editar os seus próprios códigos de processo penal. Alguns Estados efetivamente promulgaram seus códigos, mas, na maioria deles, continuou a vigorar o Código do Império e as sucessivas mudanças.33

Na visão de Teles Moura:

Quer por seus defeitos, quer pelo tempo que este estatuto vigorou, numerosas foram as leia extravagantes que o completaram, tornando, às vezes, aos homens do direito, embaraçosa a consulta e árdua a pesquisa.34

Ao invés do que se sucedeu no império, a obra da doutrina foi,

aos poucos, avolumando-se e aprimorando-se. Contribuiu para isso o declínio do

Tribunal do Júri, com a passagem da quase totalidade dos crimes para o julgamento

do juiz singular, tendo, então, os profissionais do foro de abandonar a oratória

lacrimejante e patética, para se apegar ao estudo exegético do Código e das leis

posteriores.

Os processos além de morosos, tudo era manualmente escrito,

pouco se garantia na defesa, em virtude de legislações muito diferentes entre os

estados federados, talvez ainda acostumados com os vícios e concentração de

poder do período monárquico.

A unidade processual só foi adotada novamente pelo país

com a Constituição de 1934, que propiciou a edição do Código de Processo penal

de 1941.

33 MACHADO, Antônio Alberto. Teoria geral do processo - p.34. 34 Teles, Ney Moura. Direito penal , p.64.

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1.7 O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DE 1941E SUAS REFORM AS

O Código de 1940, que entrou em vigor no ano seguinte, foi

editado na atmosfera fascista do Estado Novo, sob o governo de Getúlio Vargas, e

configurou praticamente uma copia do chamado Código Rocco da Itália fascista de

Benito Mussolini.

Sob essa análise assinala Alberto Machado:

É exatamente por tais razões que esse código, embora mantendo o processo tipo acusatório continha inúmeros dispositivos autoritários como, por exemplo, a prisão preventiva compulsória para alguns delitos, a vagueza das expressões que permitem as prisões provisórias, o procedimento ex officio para as contravenções, o processo à revelia etc.35

Segundo Pacelli Oliveira, discorre sobre a inspiração da

mencionada legislação :

O fato da existência de uma acusação implicava juízo de antecipação de culpa, presunção de culpa, portanto, já que ninguém acusa quem é inocente! Vindo de uma cultura de poder fascista e autoritário, como aquela do regime italiano da década de 1930, nada há de se estranhar. Mas a lamentar há muito. sobretudo no Brasil, onde a onda policialesca do CPP produziu uma geração de juristas e de aplicadores do direito que, ainda hoje, mostram alguma dificuldade em se desvencilhar das antigas amarras. 36

Posteriormente surge o movimento das atualizações, advindos

da abertura política nacional. Foram alvos desse movimento atualizador o Código

Penal, Processual Penal, e a lei de Execução Penal. Em 1980 foi formada a

comissão de reforma da parte geral do Código Penal. O anteprojeto foi encaminhado

ao ministro da justiça em 1981. Em março do mesmo ano foi remetido o anteprojeto

do Código Processual Penal e em julho o da Lei de Execuções Penais; foram

aprovadas as leis numero 7.209 e 7.210 em 1984 e vigoraram em 1985. 35 MACHADO, Antônio Alberto. Teoria geral do processo penal . p.34. 36 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 10. ed. atual. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2008. P. 66.

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29

O princípio basilar do ordenamento processual vigente antes

da Constituição de 1988 (princípio da presunção de culpabilidade) não mais

subsistia a nova ordem constitucional. Sem contar ainda que a exclusividade para o

exercício da ação penal pública foi dada ao parquet, bem como com instituição das

garantias constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla

defesa – as duas últimas decorrentes da primeira – todas plenamente aplicáveis ao

processo penal.

O devido processo legal ou processo justo, segundo Alexandre

Moraes:

(...) configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito da liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa (direito a defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processado por juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal). 37

Souza Nucci entende que, o sistema adotado pelo Brasil,

embora não oficialmente, é misto.

O autor assim argumenta :

(...) há dois enfoques: o constitucional e o processual. Em outras palavras, se fôssemos seguir exclusivamente o disposto na Constituição Federal poderíamos até dizer que o nosso sistema é acusatório (no texto constitucional encontramos os princípios que regem o sistema acusatório). Ocorre que nosso processo penal (procedimento, recursos, provas etc.) é regido por Código específico, que data de 1941, elaborado em nítida ótica inquisitiva (...)38

No entendimento de Mirabete:

A Constituição Federal assegura o sistema acusatório no processo penal. Estabelece "o contraditório e a ampla defesa, com meios e recursos a ela inerentes" (art. 5º, LV); a ação penal pública é promovida, privativamente, pelo Ministério Público (art. 129, I), embora assegure ao ofendido o direito a ação privada subsidiária

37 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional . 23. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 105.

38 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal . 5. ed. rev. atual. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 117.

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(art. 5º, LIX); a autoridade julgadora é a autoridade competente – juiz constitucional ou juiz natural (arts. 5º, LIII, 92 a 126); há publicidade dos atos processuais, podendo a lei restringi-la apenas quando a defesa da intimidade ou do interesse social o exigirem (arts. 5º, LX, e 93, IX).39

Sobretudo, vivemos em Estado Democrático de Direito, a

liberdade deve ser entendida com o sentido de autonomia, materialmente garantida

pelo Estado por meio de prestações positivas e não apenas proclamadas

formalmente pela lei. A prestação jurisdicional dever ser ágil, muito próxima da

ocorrência do fato.

Diante das imensas dificuldades enfrentadas com a

morosidade processual, o Processo Penal deve ser encarado como instrumento de

cidadania, de defesa da dignidade humana, e não simples mecanismo de controle,

repressão, estigma e exclusão social.

1.8 LEI 7.244/84 – JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS

No ordenamento jurídico brasileiro, mesmo antes da lei

9.099/95, já se experimentava na esfera cível através da Lei 7.244/84, que instituía

os Juizados Especiais de Pequenas Causas, a idéia de pequenas causas.

Diante de uma proposta de desburocratização do Judiciário,

em razão do insatisfatório desempenho da justiça, ficou claro que a falta de acesso à

prestação jurisdicional rápida e eficaz era percebida pelo homem comum. Coube ao

então Ministro da Desburocratização, Hélio Beltrão, a tarefa de analisar as

experiências vividas em outros paises. Assim nascia a primeira lei de magnitude

ampla colocando em prática um procedimento simplificado e ágil.

39 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 17. ed. rev. atual. São Paulo: Atlas, 2005. p. 44.

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31

O doutrinador Watanabe, em sua obra, reflete muito bem a

necessidade da implantação de um novo sistema:

Dos múltiplos aspectos que compõe o mosaico de problemas do judiciário, a falta de acesso à prestação jurisdicional é, sem dúvida, o mais dramático. Em face dele, todas as demais questões empalidecem, uma vez que não se pode conceber uma sociedade democrática na qual parcela ponderável da população permanece sistematicamente excluída da proteção judicial. O custo político da litigiosidade contida é extraordinário, pois implica na perda da confiança do cidadão nas instituições públicas e, por conseguinte, no agravamento das frustrações sociais.40

A lei trouxe para o sistema jurídico, na área cível, a

Conciliação Processual, que consistia em uma audiência entre as partes. Perante

um conciliador buscavam um instrumento alternativo de solução de litígios.

Não atingida a conciliação e nem a composição da lide o

processo era sentenciado pelo juiz. Tanto o acordo perante o conciliador,

homologado pelo juiz, quanto à sentença, tinham forca de título executivo judicial.

Esta lei apenas amparava questões Cíveis, buscando sempre

a composição e não estendida a esfera Criminal.

Sem sombra de dúvida sua eficácia serviu de alavanca para o

fortalecimento da idéia e fazer parte do texto constitucional, agora sim na esfera

cível e criminal. Revogada com o advento da Lei 9.099/95.

1.9 A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS APARTIR DA CON STITUIÇÃO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 98, determina a

criação dos Juizados Especiais tanto cíveis quanto criminais pela União, no Distrito

Federal e nos Territórios, e pelos Estados.

O que torna imprescindível sua transcrição: 40 WATANABE, Kazuo-Juizado especial de pequenas causas -São Paulo: Ver. Dos Tribunais, 1985. p.24.

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Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I – juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.41

No entendimento de Grinover, em face ao artigo

constitucional:

Nesse riquíssimo pano de fundo deve-se compreender o ditame Constitucional do artigo 98, que determinou que a União, no Distrito Federal e nos territórios, e os Estados criarão juizados especiais, providos de juizes togados, ou togados e leigos, competentes para conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo.42

Com a promulgação da Constituição o Presidente do Tribunal

de alçada Criminal de São Paulo, Juiz Veiga de Carvalho, constituiu um grupo de

trabalho para examinar a proposta de Anteprojeto. Após diversas reuniões, decidiu o

grupo elaborar substitutivo, apresentando à Presidência do Tribunal de Alçada

Criminal de São Paulo, incluindo a Exposição de Motivos.

No texto da Exposição de Motivos da Lei n.º 9.099, de 26 de

setembro de 1995, lei esta que dá cumprimento à norma constitucional citada, o

jurista Michel Temer, referindo-se de forma específica aos Juizados Especiais

Criminais, introduz o escopo e o alcance do referido dispositivo legal escrevendo

que:

A norma constitucional que determina a criação de Juizados Especiais para as denominadas infrações penais de menor potencial ofensivo, com as características fundamentais que indica, obedece à

41 Constituição da Reública Federativa do Brasil. Texto integral. São paulo, 1989, Ática.1989. p 48. 42 GRINOVER, Ada Pellegrini.Juizados especiais criminais , comentários a Lei 9.099 de 26.09.1995. 5 ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2005. p 37.

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imperiosa necessidade de o sistema processual penal brasileiro abrir-se às posições e tendências contemporâneas, que exigem sejam os procedimentos adequados à concreta efetivação da norma penal. E se insere no rico filão que advoga a manutenção, como regra geral, dos princípios da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal pública, abrindo, porém, espaço à denominada discricionariedade regulada, contida na lei e submetida a controle jurisdicional.43

Com efeito, a idéia de que o Estado possa e deva perseguir

penalmente, sem exceção, toda e qualquer infração, sem admitir-se, em hipótese

alguma, certa dose de discricionariedade ou disponibilidade da ação penal pública,

mostrou com toda evidência sua falácia e hipocrisia.

Na prática, operam diversos critérios de seleção informais e

politicamente caóticos, inclusive entre os órgãos de persecução penal e judicial. Não

se desconhece que, em elevadíssima percentagem de certos crimes de ação penal

pública, a polícia não instaura o inquérito, e o Ministério Público e o Juiz atuam de

modo a que se atinja a prescrição. Nem se ignora que a vítima – com que o Estado

até agora pouco se preocupou – está cada vez mais interessada na reparação dos

danos e cada vez menos na aplicação da sanção penal. É por essa razão que atuam

os mecanismos informais da sociedade, sendo não só conveniente como necessário

que a lei introduza critérios que permitam conduzir a seleção dos casos de maneira

racional e obedecendo a determinadas escolhas políticas.

1.10 LEI 9.099 – UMA INOVAÇÃO DO SISTEMA PROCESSUAL PENAL

A Lei Nº 9099/95, vigente desde 26 de novembro de 1995,

instituiu os Juizados Especiais Criminais, além de discipliná-los, definindo sua

competência e estrutura, e que, no dizer de muitos abalizados operador do Direito,

constitui-se divisor de águas na história do Poder Judiciário pátrio, inaugurando uma

nova era, um novo modelo de Justiça Penal – consensual.

43 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Institui os Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. Acesso em 23 de março de 2010.

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Não obstante já passados quinze anos, continua a ser um

tema em voga, pois, dado às inúmeras alterações introduzidas por ela, suscitou,

desde sua publicação, intensos debates em todo o meio jurídico, reações

antagônicas entre os doutrinadores e severas críticas de inconstitucionalidade. E

hoje, nesse interregno, podemos verificar que foi uma lei que “já pegou” (partindo-se

daquela famosa premissa que em nosso ordenamento jurídico há leis que “não

pegam”).

Nesse sentido Grinover discorre sobre o assunto:

Em sua aparente simplicidade, a Lei 9.099/95 significa uma verdadeira revolução no sistema processual-penal brasileiro. A lei não se contentou em importar soluções de outros ordenamentos, mas conquanto por eles inspirado – cunhou um sistema próprio de justiça penal consensual que não encontra paralelo no direito comparado. Assim, a aplicação imediata de pena não privativa de liberdade, antes mesmo do oferecimento da acusação, não só rompe o sistema tradicional, como possibilita a aplicação da pena sem antes discutir a questão da culpabilidade. A aceitação da proposta do Ministério Publico não significa o reconhecimento da culpabilidade penal, como, de resto, tampouco implica reconhecimento da responsabilidade civil.44

A lei nº 9.099/95 significa uma verdadeira revolução no sistema

processual-penal brasileiro, onde introduziu os Juizados Especiais Criminais para o

julgamento das infrações de menor potencial ofensivo.

A cerca da lei, Figueira Jr:

Tratar a lei 9.099/95 como simples norma procedimental é o maior e mais sério engano que um interprete pode cometer, à medida que estará colocando essa norma de natureza eminentemente processual e de origem constitucional em vala comum, quando seu escopo precípuo encontra norteamentos absolutamente opostos, voltados à criação de uma nova justiça, diferenciada de todas as demais, simples, ágil, segura e efetiva.45

44 GRINOVER, Ada Pellegrini-Comentarios à lei 9.099 de 26.09.1995, p.35. 45 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias- Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e c riminais .3 ed. ver. Atual. E ampl.- São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2000 p.53.

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A Constituição Federal, ao determinar, em seu artigo 98, inciso

I, à União e aos Estados a criação de Juizados Especiais cíveis e criminais,

estabeleceu para o processo perante estes um novo sistema processual penal que

inaugura a mediação prévia como condição da ação;

Considerando que a Lei n° 9 099, de 26 de setembro de 1995,

que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, estabelece que o

processo perante estes Juizados se orientará pelos critérios da oralidade,

simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade (artigo 2° e 62), e

determina que se deverá buscar, nestes processos, a conciliação e a transação (art.

2°), bem como a reparação dos danos sofridos pela v ítima (art.62);

A mesma Lei n° 9099/95, coe rente com os princípios por ela

explicitados e com o estabelecido no artigo 98, inciso I, da Constituição Federal,

dispensou expressamente (artigo 77 §1°) a elaboraçã o de inquérito policial para a

apuração das infrações de menor potencial ofensivo, assim consideradas aquelas

abrangidas pela definição contida no artigo 61 da mesma lei, e substituiu esta peça

pelo Termo Circunstanciado, que deverá ser encaminhado imediatamente ao

Juizado (artigo 69); o cidadão a quem se imputa o cometimento de um delito de

menor potencial ofensivo, caso seja imediatamente encaminhado ao Juizado ou

assuma o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante,

nem se exigirá fiança (art. 69, parágrafo único);

A lavratura do Termo Circunstanciado, no local de ocorrência,

pelo policial que atender, seja ele civil ou militar, proporcionará economia de

recursos humanos e materiais e principalmente, uma prestação mais eficaz e

célebre deste serviço público.

Um sistema novo, com boas idéias, como toda mudança gera

resistência não poderia ser diferente com a Lei 9.099/95, onde seus operadores

devem ter cuidados necessários para a aplicação e o bom andamento do processo.

Joel Dias Figueira Junior alerta aos cuidados que o operador

jurídico deve ter com a lei 9.099/95:

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Figurativamente, podemos comparar a lei 9.099/95 ao cavalo de tróia, isto é belo em sua aparência, mas perigoso em seu interior. A diferença reside na circunstancia de que o cavalo de tróia foi ardilosamente construído pelos gregos , enquanto a lei 9099/95 é manipulada com ardileza por alguns. O nosso judiciário, lamentavelmente, ainda possui não poucos membros burocratas do Direito que são mais algozes do povo do que paladinos do justo.46

Outro ponto impactante é a preocupação com a vítima, bem

observado pó Ada Pellegrini Grinover:

A preocupação com a vitima é postura que se reflete em toda a lei, que se ocupa da transação civil e da reparação dos danos na suspensão condicional do processo. No campo penal, a transação civil homologada pelo juiz em grande parte dos casos configura causa extintiva da punibilidade, o que representa outra inovação do nos si sistema.47

Em síntese, em análise do processo histórico da legislação

processual penal, conclui-se que a partir da Lei 9.099/95 foram lançadas as bases

de um novo paradigma de Justiça Criminal: os operadores do direito passam a

desempenhar um novo papel, sob a inspiração dos princípios da oralidade,

informalidade, economia processual e celeridade.

Sobretudo, vivemos em um Estado Democrático de Direito,

razão pela qual a liberdade deve ser entendida com o sentido de autonomia,

materialmente garantida pelo Estado por meio de prestações positivas e não apenas

proclamadas formalmente pela lei. A prestação jurisdicional dever ser ágil, muito

próxima da ocorrência do fato.

46 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias- Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais, p.53. 47 GRINOVER, Ada Pellegrini-Comentarios à lei 9.099 de 26.09.1995 . p.35.

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CAPÍTULO 2

OS PRINCÍPIOS ORIENTADORES E A ORGANIZAÇÃO

JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Diante de um contexto histórico, marcado por sistemas

processuais morosos e burocráticos viciados em paradigmas quase que

intransponíveis aos olhos dos conservadores, a Lei 9.099/95, vem inovar o sistema

processual penal, visando diante das necessidades mudanças efetivas e eficazes

voltadas à satisfação dos jurisdicionados e da pacificação social.

Não obstante as inovações que provocaram enormes

mudanças organizacionais suscitando intensos debates e repugnância de alguns

juristas.

Pela sua aparente simplicidade foram as aplicações de seus

princípios que fizeram desta Lei o divisor de águas no sistema Processual Penal.

2.1 PRINCÍPIO DA ORALIDADE

Com a previsão que dispõe o art.81 § 2º dispõe que de todo

ocorrido, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo um breve resumo dos fatos

relevantes ocorridos em audiência e a sentença. Com isso não há uma redução a

termo, mas sim o registro.

Tourinho Neto, assinala:

Oralidade, predominância da palavra oral sobre a escrita, tem como objetivo dar maior agilidade à entrega da prestação jurisdicional, beneficiando, desse modo, o cidadão. Assinale-se que, com a aplicação desse principio, há uma desburocratização documental do processo.48

48 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . 5 ed. Editora Ver dos Tribunais-São Paulo, 1986 p. 441.

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Nesse mesmo norte, Grinover assim discorre:

A concentração, corolário da oralidade, esta presente na previsão de

que, antes da acusação, tudo seja resumido em uma audiência de que, antes da acusação, tudo seja resumido em uma audiência preliminar, e, instaurado processo, há uma só audiência no procedimento sumaríssimo. Essa concentração permitira que, na maioria das vezes, o mesmo juiz participe da fase preliminar e do processo, tendo contato direto com as provas e com as artes. Acompanhará os que podem ou não conduzir a conciliação quando à reparação do dano e à aplicação imediata da multa ou restrição de direito, ouvindo as razoes das partes e da vitima. Posteriormente, presenciará os atos de instrução, devendo sentenciar em seguida. 49

Figueira Júnior exemplifica a aplicação do principio e sua

eficácia no procedimento:

Porquanto o principio enfocado nada mais significa do que a

exigência precípua da forma oral no tratamento da causa, sem que com isso se exclua por completo a utilização da escrita, o que, aliás, é praticamente impossível, tendo em vista a imprescindibilidade na documentação de todo o processado e a conversão em termos, no mínimo, de suas fases e atos principais, sempre ao estritamente indispensável. Ademais, processo oral não é sinônimo de processo verbal. 50

O princípio da oralidade é o princípio que rege o Juizado

Especial. O juiz deve estar atento. Como diz Demercian: Ele deve estar presente

na audiência de corpo e espírito (...). 51

O juiz atento aos sinais de veracidade ou de mentira na

fisionomia, no som da voz, na serenidade de quem depõe, sem duvida, o principio

da oralidade contribui em muito para a busca da verdade e como resultado a

agilidade.

49 GRINOVER, Ada Pellegrini: Juizados especiais criminais : comentários a lei 9.09/95- p.74 50 FIGUEIRA JR, Joel Dias: Comentários a lei dos juizados especiais cíveis e criminais. p. 67. 51 DEMERCIAN, Pedro Henrique. A oralidade no processo penal brasileiro , São Paulo, Atlas, 1999.p.48.

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2.2 PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE

O procedimento no Juizado Especial deve ser simples, natural,

franco, espontâneo, a fim de deixar os interessados à vontade para exporem seus

objetivos.

Nesse norte muito bem observa João Mendes Júnior: Simplificar o processo é reduzir os atos a tantos quantos sejam

necessários para chegar ao julgamento e à execução, e os termos do processo a tantos quantos sejam suficientes para a fluência da instância. 52

Sem sombra de dúvida o objetivo é diminuir a massa de

materiais, objetivando somente os necessários a efetividade.

Mirabete, comenta a lei 9.099/95 e esclarece a aplicação do

Princípio da Simplicidade:

Pela adoção do principio da simplicidade ou simplificação se

pretende diminuir tanto quanto possível a massa dos materiais que são juntados ao processo sem eu se prejudique o resultado prestação jurisdicional, reunindo apenas os essenciais num todo harmônico. Tem-se a tarefa de simplificar a aplicação do direito abstrato aos casos concretos, que na quantidade, que na qualidade dos meios empregados para a solução da lide, sem burocracia. Assim, prevê a lei a dispensa do inquérito policial e do exame de corpo de delito para o oferecimento da denuncia com a admissão da prova da materialidade do crime boletim medico ou prova equivalente. Por isso, a lei afasta do Juizado as causas complexas ou que exijam maiores investigações, como remete ao juízo comum às pecas existentes quando não for encontrado o denunciado para a citação pessoal. Em conseqüência do principio, também se declara que não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo que, na sentença é dispensado o relatório.53

Assim, o Princípio da simplicidade veio ao encontro dos

anseios sociais, a fim de viabilizar a sociedade a busca de seu Direito, por um

procedimento simples atingindo a eficácia de ter amparo jurisdicional a lide.

52 MENDES JÚNIOR, João. Apud Rosa, Comentários ao código de processo penal . 2. ed., Porto alegre, oficina Gráfica da livraria Globo, 1961, vol. 1, p.44. 53 MIRABETE, Júlio Fabrini; Juizados especiais criminais , p.24.

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2.3 PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE

A informalidade também é um principio instituído pela Lei

Especial para que se de o máximo de liberdade ao condutor do processo.

Mirabete destaca o princípio: Decorrência do principio da instrumentalidade das formas, o principio

da informalidade revela a desnecessidade da adoção no processo de formas sacramentais, do rigorismo formal do processo. Embora os atos processuais devam realizar-se conforme a lei, em obediência ao fundamental principio do devido processo legal, deve-se combater o excessivo formalismo em que prevalece a pratica de atos solenes estéreis e sem sentido sobre o objetivo maior da realização da justiça.54

Informalidade, desapego às formas processuais rígidas,

burocráticas, assim define Tourinho Neto:

Procurarão o Juiz, os conciliadores e os servidores do Juizado evitar

ao máximo o formalismo, a exigência desproporcional no cumprimento das normas processuais e cartorárias; o cerimonial que inibe e atormenta as partes; mas isso não quer dizer que o tratamento seja íntimo, é preciso que seja um pouco cerimonioso (Senhor, Senhora). Uma formalidade cordial. A vulgaridade será sempre reprovável. Somente as formas solenes, burocratizantes e vexatórias, que não levam a nada, são desnecessárias aos atos.55

O princípio da informalidade parte do preceito que, dentro da

lei, pode haver dispensa de algum requisito formal sempre que a ausência não

prejudicar terceiros nem comprometer o interesse público.

2.4 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

O principio da Economia Processual chega, em nosso

ordenamento jurídico-processual, com a necessidade de procedimentos viáveis e

54 MIRABETE, Júlio Fabrini; Juizados especiais criminais , p.25. 55 55 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.62.

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enxutos, e, nos Juizados Especiais, é exigência legal, como bem ensina Joel

Figueira Júnior:

A lei em debate tem, inclusive, um instante máximo de economia processual em relação ao panorama atual brasileiro, ao estatuiir nas hipóteses de instauração do procedimento sumario, numa única audiência, ao menos em tese, a apresentação da contestação ou defesa preliminar, no recebimento da denuncia, a oitiva de testemunhas de acusação, defesa, a vitima, o interrogatório do argüido, os debates orais e a sentença. 56

A Economia Processual significa aproveitar ao máximo os atos

processuais, assim afirma Amaral dos Santos:

A diminuição de fases e dos atos processuais leva à rapidez, economia de tempo, logo, economia de custos. O objetivo é obter-se o máximo de resultado com o mínimo emprego possível de atividades processuais. 57

Já no entendimento de Mirabete, que bem descreve a

importância do princípio imprescindível:

Pelo Principio da Economia Processual se entende que se deve escolher, entre duas alternativas, a menos onerosa às partes e ao próprio Estado. Procura-se sempre buscar o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo possível de atos processuais ou despachos de ordenamento. Não significa isto que se suprimam atos previstos no rito processual estabelecido na lei, mas a possibilidade de se escolher a forma que causa menos encargos. Sendo evitada a repetição inconseqüente e inútil de atos procedimentais, a concentração de atos em uma mesma oportunidade é critério de economia processual. Exemplos dessa orientação são a abolição do inquérito policial e a disposição que prevê a realização de toda a instrução e julgamento em uma única audiência, evitando-se tanto quanto possível a sua multiplicidade. 58

Contudo, o Principio da Economia Processual visa uma maior

efetividade do processo junto ao Juizado Especial Criminal, proporcionando, uma

prestação da tutela jurisdicional mais ágil.

56 FIGUEIRA JR, Joel Dias: Comentários a lei dos juizados especiais cíveis e criminais, p. 523. 57 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual , 18 ed. São Paulo, Saraiva, 1997, vol 2, p.68. 58 MIRABETE, Júlio Fabrini; Juizados especiais criminais . p.25.

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2.5 PRINCÍPIO DA CELERIDADE

Para uma boa ilustração do Princípio da Celeridade é

indispensável de abordarmos Beccaria que assim entendia:

Quando o delito é constatado e as provas são certas, é justo conceder ao acusado o tempo e os meios de justificar-se, se lhe for possível; é preciso, porém, que esse tempo seja bem curto para não retardar demais o castigo que deve seguir de perto o crime, se se quiser que o mesmo seja um freio contra os celerados.59

Na contemporanealização assinala muito bem Mirabete:

A referência ao principio da Celeridade diz respeito à necessidade de rapidez e agilidade no processo, com fim de buscar a prestação jurisdicional no menor tempo possível. No caso dos Juizados Especiais Criminais, buscando-se reduzir o tempo entre a pratica da infração penal e a solução jurisdicional, evita-se a impunidade pela porta da prescrição e se dá uma resposta rápida a sociedade na realização da justiça penal. O interesse social reclama soluções imediatas para resolver os conflitos de interesses, sendo uma exigência da tranqüilidade coletiva. 60

A celeridade pretendida junto ao processo especial visa a

maior agilidade, sem esquecer da eficiência, na prestação jurisdicional nas causas

de menor complexidade, onde a parcela da sociedade que a busca, e a menos

favorecida e mais necessitada.

2.6 COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

O Juizado Especial Criminal, a despeito da posição adotada

pelo Código de Processo Penal, adotou a teoria da atividade, isto é, o local da ação

ou da omissão delitiva, não perquerindo do local da consumação ou do último ato

executório, no caso da tentativa.

Nesse sentido esclarece Figueira Júnior:

59 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cívei e criminais . p.448. 60 MIRABETE, Júlio Fabrini; Juizados especiais criminais . p.26.

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Pra nós, tal raciocínio parte de uma premissa equivocada. Vejamos. Ao definir o local da infração, o legislador utiliza como critério o local onde ela foi praticada. O Código Penal, por sua vez, define o local da prática: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Como a interpretação da lei especial deve ser feita à luz do Código Penal, não resta outra alternativa senão adotar-se o entendimento de que a teoria da ubiqüidade continua vigorando. A regra da competência territorial é da prorrogabilidade, qual seja, é relativa, não importando em nulidade a sua inobservância. Tal regra é de especial aplicação aos Juizados Especiais Criminais em face do critério da informalidade. 61

No entendimento de Mirabete a competência é conferida em

razão da matéria, é ela absoluta, restringida as infrações de menor potencial

ofensivo, como podemos observar:

Por se tratar de competência ratione materiae estabelecida na Constituição Federal, e nos termos da lei em estudo, não é admissível que tais formas de conciliação sejam objetos em processos em curso no Juízo Comum, estadual ou federal. Não é possível invocar princípios da isonomia, igualdade e equidade, como às vezes já se tem feito, para permitir a aplicação dessas normas nos órgãos judiciários comuns. É a própria Constituição federal que, excluindo tal possibilidade, reserva aos Juizados a competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo. Nenhum princípio genérico pode se sobrepor às normas expressas na Carta magna. Somente leis estaduais poderão dispor no sentido de que seja dada ao Juízo comum a competência para a conciliação e o julgamento das infrações de menor potencial ofensivo. 62

É nesse mesmo norte o entendimento de Tourinho Neto,

vejamos:

São de sua competência os crimes de menor potencial ofensivo. Uma competência dada pela Constituição Federal, apesar de uma interpretação primeira ter-se a idéia de que o dispositivo constitucional apenas autorizou a criação dos Juizados especiais. Mas, a meu pensar, criou e fixou-lhe, de logo, a competência – os crimes de menor potencial ofensivo. O limite dessa competência

61 FIGUEIRA JR, Joel Dias: Comentários a lei dos juizados especiais cíveis e criminais: P.533. 62 MIRABETE, Júlio Fabrini; Juizados especiais criminais . p.28.

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deixou para uma lei ordinária – os crimes de menor potencial ofensivo são os que tem a pena máxima não superior a dois anos, ou multa. Lei 11.313/06, que alterou a redação do art. 61 da Lei 9.099/95. 63

Nos processos em Plenário do Júri pode haver

desclassificação para infração de menor potencial ofensivo a competência do

Juizado Especial Criminal é absoluta.

Como bem observa Grinover:

Pelo sistema do Código de Processo penal, em face da desclassificação cabe ao juiz presidente do tribunal do Júri proferir sentença. Mas, quando a desclassificação for infração de menor potencial ofensivo, outra deve ser a solução, pois a competência passa a ser do Juizado Especial Criminal. Transitada em julgado a decisão desclassificatória, os autos serão remetidos ap Juizado competente, onde será designada a audiência prevista nos art. 70-76 da lei. Não há outra solução, pois a competência dos Juizados especiais para as infrações de menor potencial ofensivo, por ser de ordem material e ter base constitucional, é absoluta.64

Havendo concurso de crimes, sendo um deles do Juízo

Comum e outro de competência do Juizado Especial Criminal?

Aberton, Desembargadora do tribunal de Justiça do rio

Grande do Sul tem a seguinte opinião:

Havendo concurso de crimes, sendo um deles do Juízo Comum e outro do Juizado Especial, a competência será do Juízo Comum. Mas os institutos benéficos previstos na Lei dos Juizados especiais poderão ser aplicados no Juízo Comum.65

Nesse mesmo norte Mirabete ensina:

Não podem ser apreciados pelo Juizado especial os crimes de menor potencial ofensivo quando praticados em concurso com crimes que estão excluídos de tal competência. Impossibilitando o Juizado a

63 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.460. 64 GRINOVER, Ada Pellegrini: Juizados especiais criminais : comentários a lei 9.09/95. p.79 65 ALBERTON, Genacéia da Silva. Considerações sobre o juizado especial criminal : competência, infrações de menor potencial ofensivo e audiência preliminar, Porto Alegre, Livraria do advogado, 1999, vol. 2.p.61.

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apreciar o crime conexo, por incompetência absoluta, impõe-se a exclusão também da infração penal de menor potencial ofensivo, já que esta exige um processo e julgamento único.66

Grinover pensa diferente vejamos:

Havendo conexão ou continência, deve haver separação de processos para julgamento de infração da competência dos Juizados Especiais Criminais e da infração com outra natureza. Não prevalece a regra do CPP, que determina a unidade de processo e julgamento de infrações conexas, porque, no caso, a competência dos Juizados Especiais é fixada ma Constituição Federal, não podendo ser alterada por lei ordinária. 67

No entanto, no enunciado 10 do VII Encontro de

Coordenadores de Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil, ficou decidido

que havendo conexão entre crime de competência do Juizado especial e do Juízo

Penal Comum, prevalece a competência desse último.

2.7 CONCEITO DE INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIV O

A Constituição Federal consagrou, entre nós, a denominação

de infrações de menor potencial ofensivo para aquelas infrações que, por serem de

menor gravidade, vêm merecendo tratamento especial dos sistemas legislativos.

O artigo 61 da Lei 9.099/95, alterada pela Lei 11.313/06, trás o

conceito de Infração de Menor Potencial Ofensivo:

Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

A redação original da lei considerava crime de menor potencial

ofensivo, os crimes que previam pena máxima de até 1 (um) ano, desde que não

previsto em procedimento especial.

66 MIRABETE, Julio Fabbrini, Juizados especiais criminais: comentários, jurisprudência. p.56. 67 GRINOVER, Ada Pelligrini. Juizados especiais criminais-Comentários à lei 9.099/95. p.67.

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Com a entrada em vigor da Lei 10.259/01, que instituiu os

Juizados Especiais Federais ampliou o conceito abrangendo também todas as

contravenções penais até dois anos de prisão, qualquer que seja o procedimento.

Capez assim esclareceu esta importante modificação:

Atualmente, a partir da entrada em vigor da Lei n. 10.259/01, que instituiu os Juizados especiais Federais, são consideradas infrações de menor potencial ofensivo e, por esta razão, estão submetidas ao procedimento dos Juizados especiais Criminais, tanto na Justiça comum estadual quanto da Justiça Federal: - todas as contravenções penais, qualquer que seja o procedimento previsto; -os crimes a que a lei comine pena máxima igual ou inferior a dois anos de reclusão ou detenção, qualquer que seja o procedimento previsto; -os crimes a que a lei comine exclusivamente pena de multa, qualquer que seja o procedimento previsto.68

Visando afastar qualquer duvida, foi editada a Lei 11.313/06

que alterou a redação do art. 61 da Lei 9.09/95 a qual vigora.

Tourinho Neto discorda em certo grau, vejamos:

O critério utilizado, basicamente, pelo legislador para determinar o que seja delito de menor potencial ofensivo foi o da intensidade da sansão, a pena. Na verdade, é possível que o crime seja punido com a pena máxima prevista em abstrato não superior a dois anos e, no entanto, não ser de menor potencial ofensivo, ou seja, a potencialidade ofensiva, independente da pena, é grave. O legislador não soube cominar a pena. O crime de menor potencial ofensivo é, para quem admira expressões americanas, um soft crime.69

Um crime a que lei comine pena de reclusão de até dois anos

e um outro onde a pena cominada é somente multa, ou cumulativa de reclusão e de

multa, ambos, são de competência dos Juizados especiais Criminais.

Mas a discussão levantada por Tourinho Neto é mais

complexa, vejamos seu posicionamento:

68 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal . p.532 69 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.406.

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O que se discute é se crime punido com pena privativa de liberdade acima de dois anos ou com multa – uma ou outra com pena – é de competência do Juizado especial. Ora, se para o crime estão previstos dos tipos de pena – privativa de liberdade ou multa – e se o legislador dispôs que o crime punido com multa é de menor potencial ofensivo, evidentemente entendeu que, apesar de poder ser punido com pena acima de dois anos, esse mesmo crime pode ser punido tão-só com pena de multa, é ele de menor potencial ofensivo. Assim, se a determinado crime pode ser cominada pena privativa de liberdade acima de dois anos ou multa, discriminatório e injusto seria não sujeitar esse crime ao julgamento do Juizado especial Criminal, só por prever também a aplicação da pena superior a dois anos. 70

No que tange ao conceito e aplicação de normas o

ordenamento está sempre em evolução podendo a abrangência do conceito ser

alterada.

Já com relação ao crime de bagatela há uma diferenciação

com relação os crimes de menor potencial ofensivo muito bem exposta no

entendimento de Tourinho Neto:

Os crimes de menor potencial ofensivo são de infrações de menor gravidade, que causam uma menor reprovação social. Diferente do conceito do crime de bagatela e do principio da insignificância. No crime de bagatela, pelo principio da insignificância, há exclusão da tipicidade. É um não crime, enquanto naquele, no crime de menor ofensivo, o fato é típico, devendo seu autor ser submetido a processo e julgamento se não for possível a conciliação e transação. 71

2.8 A AUTORIDADE POLICIAL E O TERMO CIRCUNSTANCIADO

A autoridade policial exerce um papel importante no que tange

à aplicação da Lei dos juizados especiais Criminais.

Autoridade, no entendimento de Lopes Meirelles: Entende-se

por autoridade pessoa física investida de poder de decisão

70 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.407. 71 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.413.

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dentro da esfera de competência que lhe é atribuída pela

norma legal.72

No artigo 69 da Lei 9.099/95 rege que a autoridade policial

que tomar conhecimento lavrará o Termo Circunstanciado, por muito tempo discutiu-

se se a Polícia Militar tem competência para lavrar o termo.

Vejamos o entendimento de Tourinho Neto:

Para efeitos da Lei dos Juizados especiais, o conceito de autoridade policial abrange, também, a militar. Todas as autoridades encarregadas de preservar a ordem e a incolumidade das pessoas e do patrimônio estariam, assim, obrigadas a lavrar o termo circunstanciado de ocorrência.73

Exatamente neste sentido, a Comissão Nacional da Escola

Superior de Magistratura, encarregada de formular as primeiras conclusões sobre a

interpretação da Lei, apresentou a seguinte conceituação:

A expressão autoridade policial referida no art.69 compreende todas as autoridades reconhecidas por lei, podendo a secretaria do Juizado proceder à lavratura do termo de ocorrência e tomar as providencias devidas no referido artigo.74

A Comissão Nacional de Interpretação da Lei nº 9.099/95 para

dirimir quaisquer dúvidas acerca da aplicação da nova legislação, afirmou que “... a

expressão autoridade policial referida no art. 69 compreende quem se encontra

investido em função policial...”, ou seja, tanto o policial civil quanto o policial militar.

Consoante o decreto do Governador do Estado de Santa

|Catarina :

O decreto assinado pelo Governador do Estado de Santa Catarina, no dia 26 de setembro de 2007, que estabelece diretriz para a integração dos procedimentos a serem adotados pelos órgãos da Segurança Pública, na lavratura do Termo Circunstanciado,

72 MEIRELES, Hely lopes. Mandado de segurança . 25 ed., São Paulo, Malheiros, 2003, p.33. 73 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.504. 74 GRINOVER, Ada Pelligrini. Juizados especiais criminais-comentários à lei 9.099/95, p.118.

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conforme previsto no art. 69 da Lei Federal n° 9.099, de 26 de setembro de 1995, determina que o Termo Circunstanciado deverá ser lavrado na Delegacia de Polícia, caso o cidadão a esta recorra, ou no próprio local da ocorrência pelo policial militar ou policial civil que a atender, devendo ser encaminhado ao Juizado Especial.75

Sem dúvida que a possibilidade da realização do Termo

Circunstanciado no local da infração possibilita um atendimento a população 24

horas por dia, é o Estado atuando em proteção do cidadão. Destancando-se a

informalidade, pois o próprio Policial Militar, na viatura, lavra o Termo

Circunstanciado ali mesmo. Importando também na narrativa dos fatos sob a ótica

do Policial que ali sente e observa no calor da ocorrência.

É importante também demonstrar a posição do STJ acerca do

tema demonstrado em acórdão:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. LEI Nº 9099/95.JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. TERMO CIRCUNSTANCIADO E NOTIFICAÇÃO PARA AUDIÊNCIA, ATUAÇÃO DE POLICIA MILITAR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INEXISTÊNCIA. [...] Nos casos de prática de infração penal de menor potencial ofensivo, a providência prevista no art. 69, da Lei nº 9099/95, é da competência da autoridade policial, não consubstanciando, todavia, ilegalidade a circunstância de utilizar o Estado o contingente da Polícia Militar, em face da deficiência dos quadros da Polícia Civil. Hábeas corpus denegado. (HC7199/PR. Relator Min. Vicente Leal, DJ de 28/09/1998).76

A possibilidade do Policial Militar também poder lavrar o Termo

Circunstanciado trouxe maior celeridade ao procedimento, evitando o deslocamento

do cidadão até a Delegacia de Polícia Civil observando-se os horários de

atendimento.

75 http://pm.sc.gov.br/website/redir.php?site=40&act=1&id=2882 Acesso em 10/05/2010 às 16:46 hs.

76 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça: acórdão do HC7199/PR . Relator Min. Vicente Leal, DJ de 28/09/1998

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Em efeitos da competência do Juizado Especial Criminal, em

regra, não se instaura o Inquérito policial.

Assim define Termo Circunstanciado, André Luís Alves de

Melo:

É uma nova espécie de liberdade provisória sem fiança. O termo circunstanciado de ocorrência não consiste apenas em um documento do Delegado de policia resumindo o BO, pois ulteriormente poderão ser juntadas as demais provas imprescindíveis, como auto de corpo de delito, documentos apresentados pela vitima e ate oitiva de depoimentos necessários aos esclarecimentos dos fatos.77

Fernando da Costa Tourinho Neto, assim diferencia o Inquérito

Policial do Termo Circunstanciado:

Termo circunstanciado de ocorrência significa um termo com todas particularidades de como ocorreu o fato – a demonstração da existência de um ilícito penal, de suas circunstâncias e autoria (...) e o que foi deito na delegacia, constando, assim, resumo do interrogatório do autor do fato, dos depoimentos da vitima e das testemunha. Esses depoimentos não serão tomados por termo. Faz-se um resumo, repita-se. Indagar-se-á, sim, o autor da infração, da vitima e das testemunhas o que ocorreu e consignar-se resumidamente no termo – no inquérito, os depoimentos são prestados com informações detalhadas e cada depoimento constitui um termo-, tomando-se a assinatura de todos; serão relacionados os instrumentos do crime e os bens apreendidos, e listados os exames perícias requisitados. O termo circunstanciado deve conter todos os elementos que possibilitem, se for o caso, ao Ministério Público oferecer a denuncia, ou ao querelante, a queixa.78

De qualquer forma se houver necessidade poderá se instaurar

o Inquérito policial.

Nesse entendimento, André Luis Alves de Melo:

Caso haja necessidade de se aprofundar nas investigações, poderá ser instaurado o inquérito policial. Isto nem sempre significa que a demanda é complexa, podendo ou não ser remetida à Justiça Comum, dependendo do que for apurado. Mas o inquérito concluído

77 MELO, André Luis Alves de. Juizados especiais cíveis e criminais comentada : jurisprudência, legislação e prática. São Paulo: Iglu, 2000.p.57 78 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.504

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deve ser encaminhado à promotoria do Juizado Especial para que esta forme a opinio delictis; não devendo o delegado encaminhar direto a Justiça Comum, se a requisição foi realizada pelo Juizado.79

Nesse procedimento não se admite o instituto da prisão em

flagrante nem mesmo a fiança, que foi outras novidades trazidas pela Lei.

No entendimento de Cézar Roberto Bitencourt entende confusa

a redação do artigo, vejamos:

A redação do parágrafo único do artigo 69 é confusa e dá a impressão de que, a contrario sensu, se o autor do fato não for imediatamente encaminhado ao Juizado ou não assumir o compromisso de a ele comparecer, terá como conseqüência a sua prisão em flagrante, bem como o pagamento de fiança respectiva. Essa prisão em flagrante seria por desobediência em razão de não assumir o compromisso de comparecer no Juizado ou seria pelo crime anterior? Se for pelo crime anterior, que foi objeto da lavratura do termo circunstanciado, como impor-se a prisão, se o autor não tiver sido encontrado em flagrante delito? Será absolutamente inviável, posto que nada impede que o autor do fato não seja encaminhado imediatamente ao juizado, não assuma o compromisso de a ele comparecer, e mesmo assim ser impossível impor-lhe prisão em flagrante e exigir-lhe fiança. Pela simples razão de não ter sido encontrado em situação de flagrante delito.80

Na visão de Tourinho Neto, que discorre sobre o assunto:

Se o termo é circunstanciado e é enviado imediatamente ao Juizado, não há razão para a lavratura do auto de prisão em flagrante, salvo na hipótese de o autor do fato não ser logo apresentado ao Juizado. Ademais, não se recolherá o autor da infração à cela, ainda que tenha havido a prisão em flagrante, se ele se comprometer a comparecer ao Juizado. Esse compromisso pode ser até verbal procedendo a autoridade policial a certificação. Logo, a prisão em flagrante pode, sem dúvida alguma, ocorrer, mas o preso não será levado ã cadeia, caso não se comprometa a comparecer ao Juizado. Nessa hipótese, também, não será lhe imposta fiança. Se não houver o compromisso, será recolhido à prisão, sujeitando-se ao pagamento da fiança, se cabível. Esse recolhimento ocorre em razão de prisão em flagrante, e não pela falta de compromisso. O registro de compromisso é feito no próprio termo circunstanciado.81

79 79 MELO, André Luis Alves de. Juizados especiais cíveis e criminais comentada : jurisprudência p.57. 80 BITTENCOURT, Cezar Roberto-Juizados especiais criminais e alternativas à pena de prisão .-3 ed. ver. Ampl.-Porto Alegre: Livraria do Avogado, 1997.p.57. 81 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.507.

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Bitencourt faz uma análise interessante a respeito desse

dispositivo:

Convém destacar que qualquer restrição de liberdade, denomine-se detenção, retenção, condução ou apresentação, constitui prisão, devendo limitar-se às formalidades constitucionais exigidas. Nessas circunstancias, qualquer outra prisão, com ou sem lei, será inconstitucional. O autor do fato que não aceitar o compromisso de comparecer ao Juizado Especial quando chamado não praticara crime algum. Não há crime de desobediência nessa hipótese, por não haver previsão de ordem legal a ser dada por autoridade competente.82

Se não ficar demonstrada a ocorrência da infração, se já tiver

ocorrido a prescrição ou a decadência, se o fato for atípico, a autoridade policial não

lavrarão termo circunstanciado.

Lavrado o Termo circunstanciado será remetido de imediato

ao juizado especial criminal.

2.9 A INFORMALIDADE NA REALIZAÇÃO DOS ATOS PROCESSU AIS

Conforme disposto n artigo 64 que rege que os atos

processuais serão públicos e poderão ser realizados até mesmo em horário noturno

e em qualquer dia da semana.

Atos processuais são atos jurídicos praticados no processo,

pelos sujeitos da relação processual serão públicos, consoante o artigo 64 ao

princípio da publicidade e o da celeridade.

Destarte a publicidade, assim discorre Figueira Júnior:

No Direito brasileiro vigora o principio da publicidade com o mais alto espectro de abrangência possível. Como regra, as audiências, as sessões e a realização de outros procedimentos são franqueados ao público em geral. Tal princípio vem consagrado no art. 792 do CPP

82 BITTENCOURT, Cezar Roberto. Juizados Especiais Criminais Federais : analise comparativa das leis 9.09/1995 e 10.259/2001, São Paulo, Saraiva, 2003, p.89.

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ao dispor que as audiências, sessões e atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretario, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados. É certo, por outra via, que a publicidade absoluta acarreta, por vezes, inconvenientes de toda ordem, como o sensacionalismo, a forte impressão ao publico, o desprestigio do réu, a exposição da vitima, dentre outros. Por isso, os evitáveis e desnecessários prejuízos que resultam do principio da publicidade geral são conjurados por limitações impostas pelas legislações. Cabe aí, à técnica legislativa encontrar soluções para os problemas.83 .

Por outro lado Lauria Tucci, assim entende:

Impõe-se outrossim, para que a defesa do imputado seja assegurada em sua plenitude, a ampla publicidade dos atos processuais, imprescritibilidade também ao processo legal no processo penal, e que se perfaz com o conhecimento e a presença na totalidade deles, dos interessados na definição e/ou satisfação de concreta relação jurídica penal, bem como pelo acesso a eles de todos os membros da comunidade.84

Com relação aos horários e locais, aplicam-se também os

dispositivos 0do Código de Processo penal e das leis de organização judiciária.

Torna-se oportuno, transcrever, o posicionamento de

Grinover:

Abre-se, contudo, a possibilidade de os atos processuais serem realizados em horário noturno e em qualquer dia da semana, inclusive sábados e domingos, devendo dispor a respeito às leis de organização judiciária, embora o CPP não disponha de horário. O dinamismo e a celeridade exigíveis para a melhor atuação dos Juizados imporá que algum setor venha a funcionar em qualquer horário e em qualquer dia.85

Dessa forma a tutela jurisdicional é realizada não importando

os horários e nem mesmo os dias da semana, deixando o processo dinâmico e

flexível.

83 FIGUEIRA JR, Joel Dias: Comentários a lei dos juizados especiais cíveis e c riminais : p. 435. 84 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro , São Paulo, Saraiva, 1993, p.239. 85 Grinover, Ada Pelligrini. Juizados especiais criminais -Comentários à lei 9.099/95, p.91

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Conforme previsão do artigo 66 da Li 9.09995 a citação será

pessoal e far-se-à, sempre que possível, ou por mandado.

Portanto, os Atos Processuais poderão ser realizados nos mais

variados horários e locais, sempre atentos aos princípios da celeridade e da

publicidade, um exemplo prático foi à criação dos Juizados especiais Criminais nos

estádios de futebol nos dias de jogo.

Esta inovação foi efetivamente aplicada pelo TJSC pelo

programa Justiça Presente, vejamos:

O Presidente do Tribunal de Justiça, considerando os arts. 88, §§ 1º e 4º, da Constituição Estadual; 44, § 1º, da Lei Complementar Estadual n. 339, de 8 de março de 2006, e art. 94 da Lei Federal n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que prevêem que os juízes terão função itinerante, RESOLVE: Art. 1º É instituído o Programa Justiça Presente, o qual tem por objetivo o atendimento, por meio de Unidade Volante, de eventos com grande fluxo de pessoas e que possam gerar ocorrências da competência do Juizado Especial.86 Com este programa as ocorrências de competência do Jecrim

são resolvidas de imediato no próprio local do evento, valendo para qualquer evento

que tenha grandes fluxo de pessoas.

Dessa forma se torna acessível, célere e eficaz, uma boa

demonstração de flexibilidade e acessibilidade vindo ao encontro dos princípios da

informalidade e da celeridade, locupletando-se um ao outro.

2.10 JUIZES TOGADOS E JUIZES LEIGOS

86 http://www.tj.sc.gov.br/institucional/especial/coordjuzesp/legislacao/res200624. Acesso em 11/05/2010.

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O texto da Lei 9.099/95 tem sua origem Constitucional no artigo

98, I, e, como já destacado neste trabalho, possibilitou à União e aos Estados a

criação de Juizados Especiais providos por juízes togados e togados e leigos.

A nomenclatura adotada pelo texto Constitucional ainda é

alvo de discussões, oportuna as colocações de Fernando da Costa Tourinho Neto:

Pode, assim, o Juizado Especial Criminal – e não só os Cíveis como entendem alguns autores – ter uma composição mista, juízes togados e leigos. O constituinte não fez distinção. Nunca só leigos, mas só togados sim. A idéia de uma composição mista é boa, se não fosse pelas dificuldades de instalação, como pagamento de salários de juízes leigos, recrutamento etc. Deveria ser obrigatória a presença do leigo. Juiz Leigo? Na verdade, não é juiz nem é leigo. Não se trata de leigo – Leigo é aquele que é desconhecedor de determinado assunto-, e sim de um técnico especializado, um advogado, pois o art. 7 da lei ora em comento define que os juízes leigos serão recrutados entre advogados com mais de cinco anos de experiência. Nem se trata de juizes, uma vez que não tem jurisdição. 87

Até esse ponto podemos observar a discussão em cima do

significado da palavra leigo, que no entendimento do autor não se trata de leigo,

apenas uma categoria inserida na redação constitucional.

Nesse mesmo norte, Fabrício explica:

Uma palavra, ainda, se faz necessária sobre os assim chamados juizes leigos. A lei precisou adotar essa denominação porque essa foi utilizada no texto constitucional, mas, em verdade, sua impropriedade é manifesta. Eles não são exatamente juizes, porque não se acham investidos de jurisdição, e também não são leigos, porque só podem ser selecionados entre advogados com pelo menos cinco anos de pratica forense como a lei assim estabelece.88

Tourinho Filho amplia:

Nada impede sejam recrutadas pessoas outras, a exemplo do que ocorre no Tribunal do Júri. Na verdade, se este tem competência, conferida pela Lei Maior, para julgar homicídios dolosos, que na lição de Hungria, ocupam, na orografia da criminalidade, seu ponto

87 TOURINHO NETO, Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.401. 88 FABRÍCIO, Adroaldo Furtado. A experiência brasileira dos juizados de pequenas c ausas , Repro, n. 101, São Paulo, 2001, p.186.

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culminante, com mais forte razão para conciliar as partes no que respeita a satisfação dos danos nas infrações de pouca monta. Note-se que a Justiça Militar não são juizes togados que julgam infrações penais. Assim, nada impede que civis, sem curso de bacharelado, possam fazer conciliação... Nada impede, pois, que mensal ou quinzenalmente, sejam sorteados, da urna geral de Jurados, quatro ou dez cidadãos, que se revezarão durante uma quinzena do mês, na delicada tarefa de, auxiliando a administração da Justiça, encontrar um denominador comum entre o autor do fato, ou seu responsável civil, e o ofendido, quanto à indenização pelos danos causados, tarefa não será difícil, sobretudo se tratar de crime de ação privada ou publica subordinada a representação, pelas vantagens que a composição de danos apresenta, implicado renuncia ao direito de queixa ou representação, na dicção do parágrafo único do art. 74.89

Diante de tudo isso não há como não citar os ensinamentos de

Bastos Tornaghi, que magistralmente explica:

Demais, o Juiz Togado tem um defeito que o jurado não tem: o calo profissional, que terminara por desumanizá-lo, por esvaziá-lo, por endurecê-lo: ao fim de certo tempo já não comovem as grandes dificuldades humanas. Frio, impassível, ele j não sente o que precisa sentir para poder avaliar devidamente a tragédia que se lhe antepõe e a personalidade do réu. Não há maior negação de justiça do que o juiz mão pesada: ele não vê o que os outros vêem, não tolera, não concede, não suporta. Não encara o réu com imparcialidade, com equilibro.90

Talvez um tanto radical, mas bem ao contrário o entendimento

de Frederico Marques “Antes de mais nada, é o juiz leigo muito acessível a

injunções e cabalas”. 91

Por isso os Juizados especiais Criminais tomaram esses

cuidados, os juízes leigos não tão leigos. Demonstração de maturidade e

responsabilidade.

Para Tourinho Neto bem observa os limites de atuação dos

Juízes Leigos no JECRIM:

89 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Comentários à lei dos juizados especiais Criminais , 3. ed. rev e atual.-São Paulo: Saraiva, 2003. p. 20. 90 TORNAGHI, Hélio Bastos. Instituições de processo penal , vol 2. rio de Janeiro, 1959. p.311. 91 MARQUES, José Frederico. A instituição do júri. São Paulo, Saraiva, 1963, vol. 1, p.5

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O juiz leigo orienta o trabalho dos conciliadores, auxiliando,

desse modo, o juiz togado. “Não há disposição que dê ao Juiz leigo o poder de

instruir ou o de julgar”.92

O reflexo dessa abertura do texto constitucional, abriu uma

visão de participação popular, comparada, como visto, com a instituição do tribunal

do Júri, nesse entendimento Grinover destaca:

Melhor seria que as Justiças abrissem a oportunidade para a atuação de juízes leigos em matéria criminal, o que já é admitido na Justiças Militares e na Justiça comum para o Tribunal do Júri. Com isso, seria ampliada, com inegáveis vantagens para o sistema criminal, a participação popular. Além da colaboração recebida, que multiplica a capacidade de trabalho do Juiz, contribuindo para o desafogo dos órgãos judiciários, ainda haveria a vantagem de maior proximidade entre o povo e a justiça, ganhando esta em transparência.93

O Juizado Especial Criminal no que rege o artigo 60 da Lei

9.099/95 admite Juízes Togados ou Togados e Leigos, especialmente com a

redação determinada pela Lei 11.313/06, que alterou o dispositivo admitindo a

possibilidade da atuação do Juiz Leigo no Juizado Especial Criminal, uma vez que

no Cível já era admitido.

Ocorre que o dispositivo alterado pela Lei 11.313/06, prevê

que os Juízes leigos ainda tem competência para conciliação, o julgamento e a

execução das infrações penais de menor potencial ofensivo.

Diante do preceito da Lei, o Juiz Carlos Roberto da Silva, à

frente da 2a Vara Criminal da Comarca de Itajaí – SC, viu-se diante da possibilidade

da nomeação de Juízes Leigos para auxiliarem nos processos do Jecrim,

encaminhou uma consulta ao Conselho Gestor do Sistema de Juizados Especiais do

TJSC.

O que torna oportuno a transcrição de seu entendimento o que foi objeto de

sua consulta: 92 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais. p.404. 93 GRINOVER, Ada Pelligrini. Juizados especiais criminais -Comentários à lei 9.099/95, p.70.

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Todavia, em razão da alteração da redação do art. 60 da Lei 9.099/95, dada pela Lei 11.313/2006, houve a expressa inserção da figura dos juízes leigos nos Juizados Especiais Criminais, já que a redação anterior da Lei 9.099/95 silenciava a esse respeito. Destarte, conforme autoriza o art. 93 da lei em comento, tem-se a necessidade de, através de leis ordinárias estaduais, bem como de leis de organização judiciária dos Estados, regulamentar a atuação dos juízes leigos nos Juizados Especiais Criminais, a exemplo do que já ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis do estado de Santa Catarina, cujos juízes leigos detém atribuições, inclusive, para dirigir a fase instrutória, presidir audiências de instrução e julgamento e proferir sentenças, que se submetem a homologação pelo juiz togado.94

A referida consulta serviu como impulso para pauta de

discussões, uma vez que ainda não existia nenhum posicionamento a respeito.

A citada consulta gerou um Processo Administrativo, que

tramitou no tribunal de Justiça de Santa Catarina, sob o número 270187-2007.1,

rel. Juiz Vitoraldo Bridi, o Conselho admitiu a possibilidade do Juiz Leigo, no âmbito

do Juizado especial Criminal, proceder instrução e até proferir sentença.95

No mesmo sentido o entendimento do V Encontro de Turmas

Recursais de Santa Catarina, conforme o enunciado 11:

No Juizado Especial Criminal, o Juiz leigo poderá presidir a audiência de que trata o artigo 81 da Lei n. 9.099/95 e submeterá seus atos ao Juiz Togado. (IV FEJESC e Encontro de Turmas Recursais).96

Contudo, a idéia colocada em prática é bastante inovadora em

nosso sistema jurídico, sua prática é que nos mostrará sua eficiência.

2.11 O PAPEL DO CONCILIADOR NO ÂMBITO DO JECRIM

94 SILVA, Carlos Roberto: Juiz de Direito Comarca de Itajaí - Ofício ao conselho gestor do sistema de juizados especiais. Setembro/08 . 95 http://tjsc5.tj.sc.gov.br/ptc/initoper?page=PtcConsulta. Acesso em 12/05/2010. 96 http://www.tj.sc.gov.br/institucional/especial/coor djuzesp/enunciados_do_fejesc.pdf Acesso 12/05/09.

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No parágrafo primeiro do artigo 73 da Lei 9.09/95 temos a

definição de Conciliador:

Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na

forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em direito, excluídos os eu

exerçam funções na administração da Justiça Criminal.

Sobre as regras de contratação dos conciliadores aponta

Fernando da Costa Tourinho Neto:

Pode o juiz valer-se dos estagiários das faculdades de Direito e dos servidores bacharéis em Direito que já se aposentaram, dos advogados militantes ou que não estejam mais advogando, juízes aposentados, para designar como conciliadores. Se não puder deles se valer, nomeará leigos para a função, como psicólogo, pedagogo etc. O que importa, na verdade, é ser paciente, ter equilíbrio emocional, educação, experiência de vida. Se for inteligente, tiver raciocínio rápido e uma boa retórica, melhor ainda.97

Pellegrini tem a mesma opinião quanto a quem pode ser

conciliador, vejamos:

Pessoas leigas também podem ter pendores para conciliar e, de resto, nas vias conciliativas não devem aplicar-se critérios de legalidade, mas sim de equidade. A experiência mostra que as técnicas de negociação podem ser eficientemente exercidas por pessoas alheias à preparação jurídica e que em todas as profissões se encontram excelentes conciliadores.98

Mirabete esclarece muito bem as delimitações dos

conciliadores, assim discorre:

O conciliador tem como função apenas presidir, sob orientação do juiz, a tentativa de conciliação entre as partes, como auxiliar na justiça que é nos limites exatos da lei. Não há possibilidade que interfira, por exemplo, na tentativa de transação, já que esta implica imposição de pena, matéria exclusivamente de ordem publica a cargo do Ministério publico e do Juiz. Violar-se ia com sua interferência preceito constitucional. Prudentemente, por isso, a lei, no caso dos Juizados Criminais, não se refere a juízes leigos, como

97 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais . p.522.. 98 GRINOVER, Ada Pelligrini. Juizados especiais criminais -Comentários à lei 9.099/95, p.140..

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relativo aos Juizados Cíveis, distinguindo-os dos conciliadores, que não tem poderes jurisdicionais. A função de conciliador, portanto é meramente administrativa, embora se insira no quadro da política judiciária e de racionalização da justiça, com a participação comunitária desejável em uma sociedade democrática pluralista.99

Quanto ao comportamento do conciliador os autores são

unânimes em afirmar que o conciliador deve ser imparcial tranqüilo, sem pressa

alguma. Mesmo que tenha pressa e as audiências atrasadas não deve demonstrar e

deverá dar toda a atenção necessária na busca da conciliação.

Como alerta Roberto Portugal Bacellar: “O mediador não pode

ter pressa e mesmo que esteja com pressa não deve demonstrar.”100

Ainda com relação ao comportamento Tourinho Neto assiná-la:

O conciliador como o Juiz, deve manter-se imparcial. Ele não pode se posicionar quanto a mérito. Tem de paciência, tranqüilidade, compreensivo. O juiz, no Juizado mais do que no Juízo comum, é um juiz social, como se tem dito. Assim também deve ser o conciliador.101

Muito se discutiu sobre a remuneração ou não, dos

conciliadores. Sem remuneração acreditava-se que o insucesso era eminente. Ao

contrário como frisa Ada Pellegrine Grinover: Bem ao contrário, ficou demonstrado

que nossa sociedade é propensa a demonstrações efetivas de civismo e de

participação comunitária.102

Dispõe o art 18 da Lei 10.259, de 2001, que o exercício de

conciliador será gratuito, sendo lhe assegurados, tão-somente, os direitos e

99 MIRABETE, Julio Fabbrini, Juizados especiais criminais : comentários, jurisprudência, legislação, p.76. 100 BACELAR, Roberto Portugal. Juizados especiais : a nova mediação processual, São Paulo, RT, 2003. p. 200. 101 TOURINHO NETO,Fernando da Costa: Juizados especiais cíveis e criminais. p.522.. 102GRINOVER, Ada Pelligrini. Juizados especiais criminais -Comentários à lei 9.099/95, 5 ed., São Paulo, RT, 2005, p.140..

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prerrogativas de jurado, nos termos do art. 437 do CPP, isto é, estabelecerá

presunção de idoneidade e o asseguramento de prisão especial.

Portanto, os indicativos das disposições do Jecrim apontam

para a necessidade de um Processo Penal ágil e efetivo, como uma das

possibilidades de se combater a reconhecida do atual sistema.

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CAPÍTULO 3

AS INOVAÇÕES DA LEI 9.099/95 RUMO À CELERIDADE E EFETIVIDADE DO PROCESSO PENAL

Na vigência da Lei 9.099/95 nos deparamos com as inovações

por ela trazidas, nesse contexto, vários foram seus institutos.

Neste certame, Tourinho Neto:

Podemos afirmar que a Lei 9.09/95 tem como sustentáculo o trinômio: a autocomposição, a satisfação e a pacificação, estando em sintonia com os anseios do novo milênio, de modo que equacione o acesso à jurisdição com a instrumentalidade e a efetivação do processo.103

A Lei em estudo trouxe ferramentas eficazes para o alcance da

atividade jurisdicional, métodos inovadores, como resultado a minimização dos

problemas enfrentados com a morosidade. Uma forma de encontrar durante a

persecução, muitas vezes antes da denúncia, com agilidade, os resultados que só

seriam obtidos após um processo lento e burocrático uma sentença que nada

resolve com relação à vítima. Vítima esta que enfrentaria um árduo processo civil

para ver seus danos reparados.

Um sistema inovador que difere das tradições processuais

penais pátrio, difere pela possibilidade da composição civil ou transação penal só

obstadas pelos caminhos eficazes do procedimento e inovações previstos na lei

9.099/95.

3.1 O PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

103 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/95. 5. ed. ver. Atual. E ampl. – São paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007. p.3.

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Com a regulamentação do artigo 98, I da Constituição da

Republica Federativa do Brasil, com a vigência da Lei 9.09/95 instituiu um novo

modelo de procedimento na justiça criminal, o Procedimento Sumaríssimo, aplicável

às infrações de menor potencial ofensivo, observados os princípios da Oralidade,

informalidade, economia processual e celeridade.

Nota-se no texto Constitucional a palavra Sumariíssimo com

dois “ii” é na verdade, o superlotativo de sumário; sumário, palavra oriunda do latim

summarium, ii (de summa).104 Todo adjetivo da língua portuguesa terminado em “i”

tem, em seu superlativo, o i dobrado.

Por questões práticas sempre preferimos simplificar um pouco

as coisas, como explica Pelegrini:

Preferimos expressões mais modernas e mais indicativas: procedimento simplificado quando se trate de adotar formas procedimento acelerado, quando se cuide de reduzir prazos processuais; e procedimento abreviado, quando se suprima uma das fases procedimentais.105

O fato é que a Lei 9.09/95 foi um grande divisor de águas em

matéria de processo penal, o que muito bem observa Figueira Jr:

Pouca diferença existia até a edição da Lei 9.099/95 entre o procedimento comum e o procedimento sumário do código, estabelecido este último para as contravenções e para os crimes a que seja cominada pena de detenção, Tanto num como no outro, não havia fase preliminar destinada ao juízo de admissibilidade da acusação; tanto num como no outro previstas audiências diversas, não continuas, para interrogatório do acusado,o depoimento das testemunhas da acusação e das testemunhas de defesa. A diferença consistia na circunstancia de que o procedimento comum, aos a inquirição das testemunhas ainda se abria uma fase para novas diligências, seguidas or alegações finais das partes apresentadas por escrito, enquanto no procedimento sumário, na mesma audiência em que eram ouvidas as testemunhas de defesa, produziam-se oralmente as razoes finais das partes e era ditada a sentença. Outra diferença consistia no numero de testemunhas. O procedimento atual é diverso e mais garantidor, sob certo prisma, do que o próprio

104 SARAIVA, F.R dos Santos. Novíssimo Dicionário Latino-Portugues , redigido segundo o plano de L. Quicherat, 2. ed. Rio de Janeiro, B.L. Garnier, p. 1.157. 105 GRINOVER, Ada Pellegrini. Procedimentos sumários em matéria penal , Justiça penal. In: Penteado, Jaques de Camargo (org., São Paulo, RT, 1993, p.15.

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procedimento comum. Hoje, a teor do art. 79, o processo inicia-se sempre por uma fase preliminar, em que se estabelece o contraditório sobre o recebimento da acusação. Recebida a denúncia, o procedimento adota as formas do antigo procedimento sumário, mas concentrando-se todas as provas orais em uma única audiência, e transferindo o interrogatório para o ato final da defesa, seguindo-se a prolação da sentença.106

Percebe-se que o Procedimento Sumaríssimo começa com a

audiência preliminar. Os atos são concentrados e informais, dispensando peças

escritas, prevalecendo à oralidade.

Quanto a iniciar o procedimento na audiência preliminar,

assim discorre Bitencourt:

O procedimento sumaríssimo, a rigor, já começa com a chamada audiência preliminar, frustrada ou não. Se a audiência preliminar for exitosa - com a homologação da conciliação - nem teremos todo o procedimento que a lei chama de sumariíssimo e, conseqüentemente, não haverá audiência de instrução e julgamento. Nessa hipótese – como foi muito rápido – nem teria havido procedimento sumariíssimo? Logo, não foi muito feliz essa divisão em duas seções, autônomas, uma tratando da fase preliminar, e outra, do procedimento sumariíssimo. Teria sido mais adequado que a fase preliminar integrasse o próprio Procedimento sumariíssimo. Pois, assim como está, qual é o procedimento da fase preliminar? Mas, enfim, tal como previsto, somente haverá procedimento sumariíssimo se não houver aplicação de pena nem composição de danos civis, na audiência preliminar. 107

Com relação a duvidas e quais seriam os requisitos para

aplicação no caso concreto Ada Pellegrine assim discorre:

Trata-se, entretanto, de procedimento cuja a aplicação aos casos concretos dependerá da possibilidade de citação pessoal do acusado, bem como da possibilidade de formulação oral da denuncia ou queixa, diante de pouca complexidade e das circunstancias do fato; do contrário, como determinam as disposições, as pecas existentes serão encaminhadas ao juízo comum por adoção do procedimento previsto em lei.108

106 FIGUEIRA JR, Joel Dias. Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais. p. 528. 107 BITENCOURT, Cezar Roberto. Juizados especiais criminais e aternativas à pena de prisão.- . p.82. 108 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais: comentários a lei 9.099/95. – 5.ed.rev., atual. E ampl. – São paulo: editora revista dos Tribunais, 2005. p. 174.

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Dentro dessa linha observa-se o requisito da citação pessoal

do autor do fato, seguindo esse norte o julgado do STJ:

Segundo decisão da 6 Turma do STJ, a necessidade de expedição de carta rogatória para a intimação do autor do fato para audiência preliminar é motivo de remessa a Justiça Comum, pois tal providencia não se amolda aos princípios da economia e celeridade, ínsitos ao procedimento sumaríssimo (RHC 10.476-SP, rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU 05.03.201, RT 791/555).

Pelegrine assinala a importância da aplicação dos princípios

orientadores no procedimento:

O modelo traçado pela lei privilegia sobretudo a oralidade, com os seus corolários da imediação, concentração e identidade física do juiz e procura atender, ainda aos critérios da informalidade, economia processual e celeridade, fixados no art. 62 viabilizando sobretudo um contato direto e informal do juiz com as partes e os fatos, sem que isso signifique, em absoluto, o abandono das garantias maiores fixadas pelo texto constitucional, especialmente a do contraditório.109

No mesmo sentido assim o STJ assentou:

Os princípios da celeridade e economia processual que informam o procedimento previsto na lei dos Juizados Especiais Criminais não podem ser invocados em detrimento de um principio maior, como o da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, dentre os quais está a possibilidade de produção de prova testemunhal, inclusive por meio de precatória, se necessário for.110

O Procedimento Sumaríssimo prevê o oferecimento da

acusação pelo Ministério Público oralmente, ou pelo querelante, a concentração de

todos os atos em uma só audiência, também realizados os debates e proferida a

sentença.

No entendimento de Pellegrine a adoção do Procedimento

Sumaríssimo trás outras vantagens:

109 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais : comentários a lei 9.099/95. – .p.175. 110 RO em HC 9.740-MG, rel Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU 19.02.2001, RT 789/555.

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Por outro lado, o direito de defesa é sensivelmente reforçado, seja pela previsão da resposta previa à denuncia ou queixa, antes do recebimento destas, antecipando-se o contraditório para um momento anterior a decisão sobre a admissibilidade da acusação, seja pela realização do interrogatório após a colheita de toda a prova, o que ira propiciar, sem duvida, maiores facilidades para o exercício da auto-defesa do acusado, especialmente pela possibilidade de optar pelo silencio, diante de uma prova insuficiente. Por isso, ainda que se trate de um procedimento mais célere, sua adoção, nos casos em que deveria ser seguido o procedimento sumario do CPP, não resultará qualquer prejuízo que autorize o reconhecimento de nulidade.111

Como observados pelos doutrinadores o Procedimento

Sumaríssimo terá início na própria audiência preliminar.

O procedimento sumaríssimo foi previsto no artigo 98 da CRFB,

no entanto, embora não previsto no CPP, teve sua eficácia a partir da aplicação dos

preceitos da Lei 9.099/95.

Com a edição da Lei 11.719/08, foi alterado o art. 394, III do

CPP, onde houve oficialmente a recepção do Rito Sumaríssimo.

Observa-se que para haver a mudança na redação do artigo,

para que o Procedimento Sumaríssimo se fizesse presente no CPP, passaram-se

20 anos da previsão na CRFB e 13 anos da edição da Lei 9.099/95.

A idéia e a prática foram muito eficazes, tanto que houve

mudanças significativas nos Procedimentos Sumário e Ordinário que implantaram

procedimentos antes vistos somente no Procedimento Sumaríssimo e agora comuns

entre si, uma prova de que a aplicação do Princípio da Celeridade é uma

necessidade e uma solução para a morosidade Processual.

111 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais : comentários a lei 9.099/95. p.175.

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3.2 A AUDIÊNCIA PRELIMINAR COMO UMA EFICAZ INOVAÇÃO

Nesta audiência devem comparecer o representante do

Ministério Público, o suposto autor do fato, seu defensor e a vítima. Verificado que

não é caso de arquivamento.

A audiência preliminar, destinada à tentativa de conciliação,

que poderá conduzir à autocomposição em matéria civil e penal.

A presença dos interessados é de fundamental importância

para os fins a que foi criada, sem a presença estaria comprometida a audiência e

frustrados seu propósito.

Como assinala Dorfmann:

A necessidade do comparecimento pessoal da parte resulta da própria finalidade, a maior, do Juizado de pequenas Causas, a possibilidade de conciliação, meta buscada em todos os momentos do processo, somente alcançável se as partes estiverem presentes em cada fase da demanda.112

A Audiência Preliminar anda de mãos dadas ao princípio da

informalidade, na busca do entendimento.

Pellegrini bem observa:

Mas a audiência preliminar, conduzida por quem estiver imbuído da adequada mentalidade de mediador, deverá ser o mais informal possível, atendendo os critérios do art. 62. O Juiz ou o Conciliador conversara abertamente com os interessados, deixara que troquem idéias entre si e com ele, induzirá os advogados e o promotor ao mesmo comportamento.113

A lei exige a presença dos advogados na audiência preliminar,

o art. 60 dispõe expressamente que a intimação do autor do fato deverá constar a

112 DORFMANN, Fernando Noal. As pequenas Causas no Judiciário , Porto Alegre, Fabris, 1989, p.71. 113 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais : comentários a lei 9.099/95. p.129.

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necessidade de seu comparecimento à audiência em companhia de advogado,

principalmente por não se tratar de bem disponível, como é a transação penal, nem

mesmo a composição civil, pois, sua aceitação está vinculada à transação penal.

Por esse norte, sobre a indispensabilidade de defensor

discorre Ada Pellegrini:

Já para a transação, a submissão ou a renuncia no campo civil, a presença do advogado do autuado, da vítima e do responsável civil poderia parecer dispensável, por versar o acordo civil sobre matéria disponível, que pode ser objeto de transação extrajudicial. Mas a transação civil, nos Juizados, está estritamente vinculada ã transação penal, para a qual a atuação do defensor é indispensável. Ademais, nos casos de representação e queixa, a homologação do acordo civil corresponde a renuncia ao direito de exercê-las, sendo assim extintivo da punibilidade. Por tudo isso os advogados não poderiam mesmo ser dispensados. 114

O não comparecimento de uma das partes, prejudica a

conciliação, mas a ausência da vitima não implica em preclusão, nada impede de

ser ofertada a Transação Penal:

Neste sentido Fernando da Costa Tourinho Filho, aponta:

A conciliação ficara prejudicada. Afinal de contas, o interesse maior é da parte ofendida. Não comparecendo perderá excelente oportunidade para solucionar, ou tentar solucionar, o problema de satisfação do dano com maior rapidez e sem gastos. Claro que o não comparecimento não implica preclusão. (...), observe-se, contudo, que o não comparecimento da vitima, ou de quem a represente, não cria nenhum obstáculo à transação no que tange à aplicação de pena não privativa de liberdade.115

A ausência do autor do fato implica a aplicação do artigo 66 da

Lei, sendo as pecas enviadas ao juízo comum e frustra a essência Lei.

114 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais : comentários a lei 9.0999/95 p.129. 115 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais.-. p. 79.

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Neste sentido, aponta Pellegrini:

Quanto ao autuado, seu comparecimento é da própria essência da lei, sob pena de frustrar-se por completo a tentativa de conciliação. Dentro desse espírito deve entender-se o dispositivo no parágrafo único do artigo 66.(...) Se no entanto, o autor do fato, regularmente intimado da audiência de conciliação, não comparecer nem justificar sua ausência, não poderá ser conduzido coercitivamente, nos termos da segunda arte do artigo 80. É que o referido dispositivo só tem aplicação ao procedimento sumaríssimo e pode incidir apenas no processo jurisdicional. O autor do fato, antes da denuncia, não é acusado, e a coerção ao comparecimento representaria infringência à sua liberdade constitucional de ir e vir. 116

Como pode se ver o não comparecimento do autor implica tão

somente a oportunidade de conciliar e compor com a vítima, o não comparecimento

injustificado ocorre à presunção de desinteresse em compor.

A grande vantagem da audiência preliminar é a definição do

prosseguimento ou não da persecução penal. De fato, é a audiência preliminar que

permite a solução do conflito de imediato. É uma forma de antecipar o mesmo

resultado que seria alcançado somente com um processo moroso.

3.3 A CONCILIAÇÃO E A COMPOSIÇÃO CIVIL – A SOLUÇÃO DO LITÍGIO

ANTES DA AUDIÊNCIA

A Conciliação é uma das formas mais antigas de resolver

diferenças, pois até mesmo a bíblia sagrada podemos encontrar varias passagens.

No evangelho segundo Mateus, encontramos o seguinte

ensinamento de Jesus, no sermão da montanha: Entra em acordo sem demora com

teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não te suceda que te

entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.117

116 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais: comentários a lei 9.099/95. p.130. 117 BÍBLIA SAGRADA, 65. ed., São Paulo, Ave Maria, 1989, p. 1289. Edição Claretiana.

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A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por Conciliadores,

dependendo de lei local, mas sempre com a orientação do Juiz Togado, com base

no art. 96 da Constituição Federativa do Brasil

Nesse sentido, a Conclusão Primeira da Comissão Nacional

referida no n. 13 das notas introdutiva à seção:

Observado o disposto no art 96, II da Constituição, resolução

do Tribunal competente instituirá os Juizados Especiais Cíveis e Criminais até que a

lei estadual disponha sobre o sistema de que tratam os arts. 93 e 95 da Lei

9.099/95.

A opção pelos conciliadores é de lei local, os estados tomarão

em considerações suas peculiaridades.

Voltando aos dias de hoje, Tourinho Neto fala da eficácia na

tentativa da conciliação e como deve ser conduzida, vejamos:

A função de conciliação pode ser exercida sem a presença do juiz. Talvez melhor que seja assim, pois evita a possibilidade de um prejulgamento ou mesmo de uma má vontade do julgador ante a resistência do autor do fato a acordar, ou até ao modo como ele se expressa ao recusar a conciliação.118

Alcançando a conciliação entre as partes termina o processo

quando a ação é pública condicionada ou ação privada, já nas ações públicas

incondicionadas a conciliação tem o valor sociológico, que visará o entendimento

entre as partes, mas o processo prosseguirá.

Sob essa ótica Mirabete esclarece:

Há que se ressaltar, porém, a impossibilidade de conciliação nas hipóteses em que o sujeito passivo do ilícito é somente o Estado. Assim, ela é inadmissível, como regra nas contravenções penais, quase sempre infrações de perigo comum, e em inúmeros crimes. O

118 TOURINHO NETO, Fernando da Costa-Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/95. p.520.

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mesmo se diga quando o ofendido é uma coletividade destituída de personalidade jurídica. Em outros ilícitos, em que são sujeitos passivos o Estado e um particular, a composição é possível quanto a este, mas não impedirá a instauração da ação penal, podendo ser considerada apenas como eventual circunstancia atenuante. Nessas hipóteses a ação penal é incondicionada, o que impede a extinção da punibilidade pela renúncia. Restará apenas, se nesses casos, a possibilidade da apresentação da proposta de imposição imediata de pena não restritiva de liberdade.119

O Juiz, ou o conciliador, esclarecerá ao autor do fato e a

vítima ser possível uma composição a respeito dos danos em que a infração causou,

dizendo, que no caso de ação privada que se chegarem a um acordo, ocorrerá a

renuncia por parte da vitima em prosseguir com o processo, assim como na ação

publica condicionada haverá renúncia por parte da vitima à representação,

consoante ao artigo 74 da Lei.

Já na Ação Pública Incondicionada, a composição de danos

civis terá somente o objetivo de indenizar a vítima.

Sobre esse assunto, ressalta Alves de Melo:

Tal composição dependerá da aceitação da vitima, a qual não poderá rediscutir este fato em ação cível, salvo se ficar expresso no termo que o acordo se refere apenas a danos morais ou somente materiais120.

Sob esse entendimento, Pelegrine chama de composição

parcial, vejamos:

A composição civil pode ser parcial. Embora a transação civil implique, em via de regra, quitação recíproca, é possível que haja nela a repartição entre danos materiais e danos morais. A quitação poderá, assim, ser parcial, ressalvada a controvérsia sobre os danos morais. Mas a composição, conquanto parcial, dos danos civis importara, de qualquer modo a renuncia ao direito de representação ou queixa, com a conseqüente extinção da punibilidade.121

119 MIRABETE, Julio Fabbrini, Juizados especiais criminais : comentários, jurisprudência. p. 74. 120 MELO, André Luis Alves. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais comentada: p.59. 121 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais: comentários a lei 9.099/95. p.142.

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Para conseguir o acordo o Juiz e o conciliador devem

permanecer cereno, sem demonstra pressa, para buscar um acordo que a todos

agrade.

Sobre a condução do acordo Tourinho Neto assim discorre:

Nessa fase, é importantíssima a atuação do conciliador, que deve esforçar-se ao máximo em busca do acordo entre as partes, a fim de conseguir a paz social. Deverá agir com bom senso, com equidade, esquecendo os princípios da legalidade e buscando o justo. Deve aconselhar como um bom pai de família (bônus pater famílias), e mostrando as vantagens do acordo, mas, veja bem, sem exercer qualquer tipo de pressão, sem amedrontar com argumentos ad terrorem, como algumas vezes os juízes classistas nas audiências trabalhistas. O objetivo é que o autor do fato e a vítima não saiam da audiência com o sentimento de que foram enganados, que perderam que não saiam frustrados. Tudo realizado com respeito, mas informalmente. Daí por que os interessados podem conversar entre si, fazer perguntas ao conciliador para melhor informar-se. É um acordo que, numa mesa-redonda, está se elaborando. 122

Atingido o objetivo, alcançando o acordo na composição dos

danos, reduzirá a termo e em seguida caberá ao Juiz sua homologação, uma grande

amostra da celeridade e da efetividade que vão ao encontro ã essência da Lei

9.099/95.

Para um melhor entendimento Tourinho Filho esclarece:

Obtendo o juiz ou o conciliador o devido êxito quanto a satisfação dos danos, urge reduzir o acordo a escrito, cabendo ao Juiz homologá-lo. Neste caso, lavra-se um termo de audiência preliminar, consignando-se dia, local e hora e a presença dos envolvidos, do Juiz e, se for o caso, do Promotor de Justiça e responsável civil. Em seguida, após registrada a proposta, eventual contraproposta e, finalmente, o acordo no que respeita ao quantum e à forma de pagamento, segue homologação pelo Juiz. No que tange às custas, cabe à lei local estabelecê-las, com certa parcimônia, a teor do art. 87 desta lei, que confere a titulo judicial. Não cabe apelação para combatê-la. Ela é, por forca de lei, irrecorrível. Quando muito poderão ser opostos embargos declaratórios, se houver obscuridade, ambigüidade, omissão ou dúvida, nos termos do art. 83 deste diploma, podendo o Juiz, de oficio, corrigir erros materiais.123

122 TOURINHO NETO, Fernando da Costa-Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p.519. 123 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. p. 74.

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Poderá ser composto o acordo em parcelas, constará no

acordo os vencimentos e a forma do pagamento. O inadimplemento do acordo

poderá ser executado no juízo Cível, observados o juízo competente pelo CPC.

Referente ao descumprimento do acordo assim discorre

Figueira Júnior:

No que se refere à execução do acordo descumprido pelo autor da infração, cabe a vitima, de posse da sentença homologatória, proceder à execução necessária no Juízo competente, que deve ser inclusive, se dentro do valor de alçada no próprio Juizado especial cível.124

Em se tratando de título executivo judicial, será submetido às

regras de execução.

Desse modo, conclui-se que a composição de danos civis

em matéria penal, com o advento da lei dos Juizados Especiais, foi uma das

inovações no sistema processual, tendo representado avanço no sentido de que o

procedimento no próprio Processo Penal pode resolver também as questões cíveis

com eficácia e celeridade. Atingindo a satisfatividade e paz social.

3.4 A TRANSAÇÃO PENAL E SEUS EFEITOS NO JUIZADO ESP ECIAL

CRIMINAL

Não havendo a conciliação em se tratando de ação pública

condicionada, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o

direito de representação, não havendo, não ocorre a decadência, devendo-se

aguardar o prazo decadencial (6 meses da ocorrência do fato) consoante ao art. 38

CPP.

124 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Comentarios à lei dos juizados especiais civeis e criminais. . p.484.

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Em se tratando de ação privada muito se discutiu até atingir

um consenso, embora ainda discutível na doutrina.

Vejamos o posicionamento de Capez:

Se a ação penal for privada, não cabe transação, pois, como

vigora o principio da disponibilidade, a todo tempo o ofendido poderá, por outros

meios (perdão ou perempção), desistir do processo; entretanto, não tem autoridade

para oferecer nenhuma pena, limitando-se a legitimidade de que recebeu do estado

à mera propositura da ação.

O STJ tem entendido de forma contrária: Admite-se a

transação e a suspensão condicional do processo nas ações penais de iniciativa

exclusivamente privada, desde que obedecidos os requisitos autorizadores.125

Nesse mesmo sentido, Tourinho Neto assim discorre:

Na ação privada vigora, sem restrição, o principio da oportunidade, o que viabiliza melhor a transação. O fato de a lei dos Juizados referir-se ao Ministério Público como legitimado para propor a transação não quer dizer que o querelante não tenha legitimidade para tanto. A lei não previu expressamente que o querelante pudesse fazer a proposta, porque entendeu ser isso obvio, uma vez que o principio da oportunidade rege a ação penal privada. Se o querelante pode o mais, que é propor a ação, por que não pode o menos, que e propor a transação? E mais: no final de contas, prejudicado será o autor do fato se a transação não puder ser feita pelo querelante.126

No caso de ação publica incondicionada, imediatamente será

proposta a transação, se o autor do fato preencher os requisitos.

São condições para poder receber o benefício da transação

penal os seguintes requisitos dispostos no artigo 76 da Lei 9.099/95.

125 RHC 8.480-SP, 5 Turma, rel. Gilson Dipp, DJU 22.11.1999; HC 13.337-RJ, 5 Turma, rel. Felix Fischer, DJU 13.08.2001. 126 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/1995. p.567.

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-não ter o agente beneficiado anteriormente no prazo de cinco anos pela

transação;

-não ter sido autor da infração condenado por sentença definitiva a pena de

liberdade (reclusão, detenção e prisão simples);

-não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

agente, bem como os motivos e as circunstancias, ser necessária e suficiente a

adoção da medida.

Preenchidos os requisitos o Ministério Público fará a Proposta

da Transação Penal, o autor do fato, poderá aceita-la ou não.

A comissão Nacional de Interpretação da Lei 9.099/95, sob a coordenação da escola Nacional de Magistratura, chegou a conclusão: Se o Ministério Publico não oferecer proposta de transação, poderá o juiz fazê-lo.127

Ponto discutível é com relação da aceitação da proposta pelo

autor do fato e seu defensor não aceitar.

Capez, assim entende:

A jurisprudência majoritária no caso, tem-se entendido que prevalece a vontade do defensor, uma vez que o réu, sendo leigo, não tem condições de avaliar da necessidade do apelo, devendo sempre prevalecer a vontade do profissional habilitado.128

Reale Júnior, com entendimento contrário, assim dispara:

Há até mesmo juízes, e é esta a orientação fixada por associação de magistrados, que consideram que, se o advogado for contrario a transação, mas o réu for a favor, prevalece a opinião deste ultimo, destituindo-se o insubordinado causídico que impede a celeridade processual. Desconfia-se de que o advogado queira o processo para ganhar honorários, mas não desconfiam de que o advogado queira o processo para que seu cliente seja absolvido.129

127 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/1995. p. 561. 128 CAPEZ, Fernando-Curso de processo penal . p.547. 129 REALE JUNIOR, Miguel. Pena sem proceso. Juizados Especiais Criminais : interpretação e critica. São Paulo, Malheiros, 1997. p. 28.

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Outra discussão é a natureza jurídica da transação, para uns

é sentença condenatória, para outros, sentença homologatória da transação.

Para o STF, a natureza jurídica da sentença que homologa a

transação penal não é condenatória, mas meramente homologatória. Assim decidiu,

em 29.02.2000, pela sua 1Turma, ao julgar o HC 79.572-2/GO, relatado pelo

Ministro Marco Aurélio, em 29.02.2000, DJ 22.02.2002, no qual se salientou que a

sentença que homologa a transação não tem natureza condenatória. 130

Por outro lado Tourinho Neto, alerta para as decisões do STJ

:

A 5ª E 6ª Turma do STJ tem decidido que a sentença homologatória da transação penal é de natureza condenatória, gerando eficácia de coisa julgada material e formal, e portanto, se descumprido o acordo homologado, não pode haver oferecimento da denuncia contra o autor do fato.(...) Entendo que, se a decisão homologatória transitou em julgado, extinguindo, assim, o processo, não se pode, se o acordo não for cumprido, dar continuidade a ele, com a remessa dos autos ao Ministério publico para o oferecimento da denuncia. Nem pode haver, pois, conversão a pena restritiva de direitos ou da multa em privativa de liberdade extinguindo o processo, com a transação. Há de cumprir-se o que foi posto no acordo. Por esta razão, alguns juízes não homologam a transação, aguardam o cumprimento integral do que foi acordado. A 6 Turma do STJ, tendo como relator o Ministro José Arnaldo da Fonseca, deu guarida a essa posição, ao julgar o RHC 11.398-SP, DJ 12.11.2001.131

O juiz não está obrigado a homologar a transação penal,

devendo analisar preliminarmente a legalidade da proposta da aceitação.132

Quanto aos efeitos da aceitação da transação penal trás

poucas conseqüências ao autor do fato, por esse motivo é considerada como

benefício.

Nesse sentido, Pellegrine assim discorre:

130 TOURINHO NETO, Fernando da Costa-Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/1995. P. 540. 131 TOURINHO NETO, Fernando da Costa-Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/1995. P 588. 132 CAPEZ, Fernando-Curso de processo penal . p.547.

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Outra comprovação de que a aplicação da sanção penal não

implica em reconhecimento de culpabilidade penal está ma previsão legal no sentido

da proibição de registro criminal, salvo para impedir nova Transação Penal no prazo

de cinco anos.133

Não aceita a proposta de transação pelo autor do fato, ou

preencher os requisitos elencados no artigo 76 da lei, imediatamente o Ministério

Publico oferecerá a denúncia ou queixa, reduzida a termo nos moldes do artigo 78.

Marcada dia e hora da nova audiência, o defensor poderá

apresentar a resposta à acusação, após o juiz, receberá ou não a denuncia ou

queixa. Em uma só audiência ouvidas as testemunhas e as partes em debates orais.

De todo ocorrido será lavrado o termo contendo um breve resumo dos fatos

relevantes. Em seguida a sentença que dispensando o relatório, mencionará apenas

os fatos relevantes, tudo consoante aos artigos 79, 80, 81, 82 da lei 9.099/95.

A Transação Penal no Jecrim foi uma das inovações que a

antecipação dos efeitos da sentença que seria alcançado com o processo no rito

sumário, a grande diferença é sua imediata aplicação, uma vez que mesmo no rito

sumário a pena de reclusão seria substituída por pecuniária, restritiva de direitos ou

serviços comunitários.

Aplicando a Transação Penal de forma célere evita a

prescrição pelo fato dos crimes de menor potencial ofensivo terem suas penas

relativamente baixas. Por outro norte a vantagem da rápida solução do processo

evita o incômodo ao autor do fato por ter um processo criminal se arrastando no

judiciário.

3.5 A SENTENÇA NO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

Devidamente instruído o processo, o juiz forma sua convicção

proferindo a sentença. 133 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais: comentários a lei 9.099/95. p.171.

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Tourinho Neto discorre sobre o procedimento:

Concluídos os debates orais, o juiz proferirá a sentença, não devendo postergar esse ato. Se necessitar de algum estudo, suspenderá a audiência por breves minutos, retirando-se para seu gabinete, para uma maior concentração. Isso feito retornará à sala, reabrira a audiência e prolatara a sentença. Se por algum motivo razoável, o juiz não puder proferir a decisão nesse dia, marcará para um dia próximo a continuação da audiência. A sentença que não terá relatório, deve ser sucinta, objetiva, clara, sendo dispensáveis citações de jurisprudências e doutrinas, devendo o juiz preocupar-se em mencionar os elementos de sua convicção, como, alias, já determina o art. 93, IX, da Constituição Federal.134

Embora a sentença podendo ser simples sem mencionar

doutrinas, citações e jurisprudências, Pellegrine ressalta a importância dos

elementos de convicção, vejamos:

No procedimento sumaríssimo a sentença será proferida em

audiência, imediatamente após debates orais. A disposição do parágrafo terceiro

permite que nesse pronunciamento o juiz deixe de fazer relatório, mas ressalta a

necessidade de serem mencionados os elementos de convicção.135

Nesse mesmo sentido, Bitencourt complementa:

Finalmente, a culminância da persecutio criminis ocorre com a prolatação da sentença, que também se apresenta renovada em sua forma, isto é, sem relatório. No entanto, a fundamentação e a parte dispositiva continuam iguais: devem ser sobradamente fundamentadas. É mantido o principio do livre convencimento, exigindo que o Juiz demonstre as razoes de sua convicção. Essa é a única formade respeitar o principio do contraditório e ampla defesa. As devem conhecer o caminho percorrido pelo raciocínio do juiz para chegar ao resultado final. Essa demonstração do raciocínio lógico na elaboração da sentença também foi uma conquista do Iluminismo, preocupado em eliminar a arbitrariedade judicial. Hoje, não mais se admite arbítrio de nenhuma autoridade. Por isso, é um grande equivoco afirmar-se que depende do livre arbítrio ou do prudente arbítrio do Juiz. O tempo do arbítrio passou esta morto e enterrado; o Juiz, na verdade, ainda dispõe é de discricionalidade,

134 TOURINHO NETO, Fernando da Costa-Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/1995. P 627. 135 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais : comentários a lei 9.099/9. p.196.

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mais, ou menos,dependendo das circunstancias e da natureza do Estado a que pertence.136

Mirabete chama a atenção para os fatos ocorridos na

audiência e a possibilidade de registrar em fita magnética ou equivalente:

Os debates orais devem ser registrados, por ordem do juiz e não das partes, em breve resumo das alegações. Com isso possibilita-se que o órgão encarregado do recurso, turma ou tribunal, tenha elementos para apreciar os elementos probatórios colhidos e a regularidade ou não da audiência. É com fundamento nessa possibilidade que deve ser orientada a lavratura do termo. Lembre-se, também, que os atos praticados na audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente.137

Quando gravadas em fitas magnéticas o inconveniente era

reduzir os depoimentos a termo, o que levava horas e ainda a disposição de

serventuários para tal tarefa.

Gravar em fita magnética, com certeza, abriu precedentes.

Após esta novidade a Lei 9.800/99, permitiu o uso do fax no processo; a Lei

10.259/01, peticionamento eletrônico; Lei 11.280/06, comunicação eletrônica

processual; Lei 11.419/06, processo eletrônico; Lei 11.719/08, gravação de

audiência audiovisuais e finalmente 11.900/09, permite atos processuais por vídeo

conferencia.

Da sentença condenatória ou absolutória caberão embargos

de declaração e apelação, dos erros materiais podem ser corrigidos de ofício, tudo

consoante aos artigos 82 e 83 da lei.

3.6 POSSIBILIDADE DE RECURSOS PREVISTOS NO PROCEDIM ENTO

SUMARÍSSIMO

Também no Juizado Especial aplica-se o princípio do duplo

grau de jurisdição. Todo recurso tem sua razão, pois seres humanos estão expostos

a idéia de imperfeição.

136 BITENCOURT, Cezar Roberto. Juizados especiais criminais e alternatives à pena de prisão. p. 90 137 MIRABETE, Julio Fabbrini-Juizados especiais criminais : comentários, jurisprudência, legislação. p. 120.

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Neste sentido, magistralmente, Borges da Rosa explica o

porquê dos Recursos:

O recurso tem seu fundamento na contingência humana, na falibilidade da cultura, da inteligência, da razão e da memória do homem, por mais culto e perspicaz e experiente que seja. Sendo a decisão uma obra humana e a esta estando, portanto ligada invariavelmente a idéia de imperfeição do erro, surge a indeclinável necessidade da lei conceder à pessoa, a quem dita decisão não satisfaz ou prejudica, o direito de pedir novo exame do caso posto em juízo, para emenda ou alteração da respectiva decisão: e na maioria dos casos, o direito de invocar um juízo ou parecer superior, que se manifeste sobre a justiça e o mérito da decisão proferida.138

O prazo para apelação é de 10 dias, sendo apresentadas a

apelação e razões juntas, diferentemente da previsão do CPP que prevê o prazo

para apelação em cinco dias e das razoes em oito dias.

No artigo 82 da Lei, disciplina o recurso de apelação contra

decisões proferidas nos Juizados Especiais Criminais, expressamente indicadas:

rejeição: rejeição de denuncia ou queixa e sentença condenatória, sentença

absolutória, sentença que homologa a transação, possibilita ao legislador local a

atribuição do julgamento desse recurso uma turma composta de três juizes em

exercício no primeiro grau de jurisdição, em consonância com igual faculdade

inscrita no art. 98, I, da Constituição.

O recurso de apelação tem efeitos devolutivos e suspensivos,

recebida a apelação, o recorrido será intimado para apresentar contra-razoes, por

escrito, também no prazo de dez dias.

Da decisão da turma recursal cabe Hábeas Corpus.

O STF editou a Súmula 690: Compete originariamente ao

Supremo tribunal Federal o julgamento de Hábeas Corpus contra a decisão de turma

recursal de juizados especiais criminais.

138 ROSA, Inocêncio Borges da. Processo penal brasileiro , Porto Alegre, Globo, 1942, vol.3.p.475.

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Souza Nucci, assim discorre sobre o assunto:

Parece-nos correta essa interpretação, na medida em que, residualmente, seria o único órgão do judiciário a receber a ação de impugnação contra medida abusiva tomada pela turma recursal. Não se encontra o julgamento de hábeas corpus, nesses casos na competência do STJ, nem se poderia atribuir ao Tribunal de Justiçado Estado a apreciação da matéria uma vez que se trata de órgão de segunda instância da esfera do Juizado especial criminal. Em outras palavras, o Tribunal de justiça não é órgão revisor ou superior à Turma Recursal. Por isso, não poderia apreciar hábeas corpus em virtude de ato abusivo praticado pela referida Turma Recursal. Caberia, por ausência de outra opção, ao STF. Entretanto, o Pleno do Pretório Excelso modificou seu entendimento e não mais conhece Hábeas Corpus impetrado contra Turma recursal, entendendo cabível o julgamento pelo Tribunal de Justiça do estado: HC 86.834-SP, rel. Marco Aurélio, 23/08/2006.139

O direito ao recurso é renunciável, assim entende Tourinho

Neto:

A renúncia não se confunde com a desistência. Desiste-se daquilo que já se fez, do que já se exercitou. Renuncia-se de se fazer algo. Na renúncia, desiste-se, na verdade, de usar um direito que se tem. O acusado desiste da apelação que já interpôs; e renuncia ao direito de interpor a apelação, não a interpõe, portanto. A renúncia do acusado ao direito de recorrer não impede que o defensor recorra; ou sua desistência, sem a assistência do defensor, do recurso que já interpôs, não impede o conhecimento do recurso.140

Consoante ao entendimento a Súmula 705 do supremo: A

renuncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor,

não impede o conhecimento da apelação por este interposta.

3.7 SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

O artigo 89 da Lei prevê a Suspensão Condicional do Processo

em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não

por esta lei.

139 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas . – 4. ed. ver. Atual. E ampl. – Sao Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2009.p.813. 140 TOURINHO NETO, Fernando da Costa-Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/1995. p 643.

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O instituto da Suspensão Condicional do processo difere-se da

Suspensão Condicional da Pena. Ocorre proposta da Suspensão Condicional do

Processo após a instrução, antes de ser prolatada a sentença.

Já na Suspensão Condicional da Pena se suspende a pena

mediante condições.

Com relação a esta proximidade conceitual Pellegrini, assim

discorre:

Na suspensão condicional do processo o que se suspende é o processo. O momento do oferecimento da denuncia é o corretamente adequado, em princípio, para a concretização da proposta da suspensão. Sendo aceita, o juiz pode suspender o processo. O que temos, em síntese, em termos conceituais, é a paralisação do processo, com potencialidade extintiva da punibilidade, caso todas as condições acordadas sejam cumpridas, durante determinado período de prova.141

Os requisitos para a Concessão do benefício previsto no

artigo 89 da Lei são de que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha

sido condenados por outro crime, presentes os demais requisitos do art.77 do CP.

O acusado será submetido ao período de prova, sob as

seguintes condições em conformidade com o art. 89, durante um período de dois a

quatro anos:

I- reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

II- proibição de freqüentar determinados lugares;

III- proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do

juiz;

141 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais : comentários à lei 9.099, de 26.09.1995.-4 ed. ver. Ampl. E atual. De acordo com a Lei 10.259/2001.-São Paulo : Editora revista dos Tribunais, 2002.p.240.

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IV- comparecimento pessoal e obrigatório ao juízo, mensalmente, para

informar e justificar suas atividades.

Como visto, uma novidade no sistema processual, o que torna

oportuno o entendimento de Souza Nucci, vejamos:

Trata-se de um instituto de política criminal, benéfico ao acusado, proporcionando a suspensão do curso do processo,após o recebimento da denuncia, desde que o crime imputado ao réu não tenha mínima superior a um ano, mediante o cumprimento de determinadas condições legais, com o fito de atingir a extinção da punibilidade, sem necessidade do julgamento do mérito propriamente dito. É denominado, também, de sursis processual.142

O Ministério Público poderá oferecer a Suspensão Condicional

do Processo.

Com o avento da Lei 10.259/01, que instituiu os Juizados

Especiais Federais, que ampliou o conceito e portanto a abrangência maior da

competência dos Juizados especiais, extensivos aos estaduais, dos crimes de

menor potencial ofensivo com pena máxima prevista até dois anos, abriu-se a

discussão para que se amplia se também a concessão do benefício da Suspensão

Condicional do Processo previsto no artigo 89 para também dois anos.

Diante de tal discussão o STJ, decidiu: O instituto da

suspensão Condicional do processo não sofreu qualquer alteração com o advento

da lei 10.259/2001, sendo permitido apenas para os crimes que tenham a mínima

não superior a 1 ano.143

No mesmo sentido o STF:

A Turma indeferiu hábeas corpus em que se pretendia a concessão de sursis processual a denunciado por crime cuja pena mínima

142 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. p.819. 143 STJ,5 T., REsp 327.953/MG, rel. Min. Gilson Dipp, j. 11-3-2003, DJ,28 abr.2003, p.231.

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cominada fora superior a um ano de reclusão, sob a alegação de que a Lei 10.259/2001 teria alterado os requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/95, para os fins do beneficio da suspensão condicional do processo. Considerou-se que a Lei 10.259/2001, revogando o art. 61 da lei 9.099/95, apenas ampliou a competência dos juizados especiais comuns para o julgamento de infrações de menor potencial ofensivo a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, não alterando o instituto da suspensão do processo prevista no mencionado art. 89, haja vista que tal dispositivo somente é aplicável aos crimes em que a pena mínima cominada seja igual ou inferior a um ano.

Sem dúvida uma novidade processual. Uma forma de

extinguir a punibilidade.

No entendimento de Pellegrini, assim discorre:

Uma importante observação que deve ser feita a respeito da suspensão condicional do processo, tal como foi regulada, consiste em que o legislador foi muito, lacônico na sua disciplina. Cuidou de um dos mais revolucionários institutos do mundo atual em apenas um artigo. É evidente, assim, que vamos encontrar incontáveis omissões. O que esta na lei, pode-se dizer, é a moldura mínima. À inúmeras questões jurídicas, algumas verdadeiramente intrincadas podem ser levantadas. E a solução para todas as questões passa pela correta compreensão da sua natureza jurídica, do seu fundamento, das suas finalidades e das suas conseqüências.144

Com a Suspensão Condicional do Processo estamos diante

de mais uma ferramenta na tentativa de reconduzir o autor da infração à sociedade.

Mais uma forma de deixar de punir com pena privativa de liberdade por um período

de prova, uma forma de conceder credito e confiança ao criminoso primário.

O instituto da Suspensão Condicional do Processo permite a

rápida solução do processo, evitando todo o andamento moroso do processo até a

aplicação da pena e posteriormente aplicar a Suspensão Condicional da Pena. Mais

uma vez uma fórmula de atingir os efeitos do final do processo no início da

Persecução Penal.

144 GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais : comentários à lei 9.099, de 26.09.1995. p.89

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho buscou-se descrever, de forma ordenada, as

evoluções das Leis que regeram e regem o Processo Penal, apontando os

paradigmas e as conquistas que no transcorrer da história, até o advento da Lei

9.099/95, sua aplicação e seus reflexos no sistema Processual Penal.

As existências desses paradigmas influenciam em muito o

ordenamento jurídico pátrio, por uma tutela jurisdicional baseada no processo

clássico. Onde as influências políticas funcionam como uma barreira quase que

intransponível, fazendo com que as mudanças ocorram de forma lenda e gradual.

Com o advento da Lei 9.099/95, podemos observar muitas

mudanças que de forma gradativa influenciam o Processo Penal como um todo.

Diante da realidade, ficaram demonstradas no presente

trabalho uma pesquisa fundamentada no posicionamento doutrinário, possibilitando

assim encontrar as respostas às hipóteses levantadas.

Com relação à primeira hipótese, restou confirmada, a previsão

Constitucional da criação dos Juizados Especiais Criminais se obedeceu a

imperiosa necessidade de agilização do judiciário no que tange os crimes de menor

potencial ofensivo. Demonstra ser ágil, levando à tutela jurisdicional os crimes de

menor potencial ofensivo, quase que de imediato. Uma demonstração de uma

enorme capacidade de solução do litígios com eficácia e celeridade.

Na segunda hipótese, restou parcialmente confirmada, apesar

de quinze anos de sua existência ainda pairam inúmeras dúvidas, como o exemplo

da função dos juízes leigos, advogados e juízes que ainda vêem o conceito de

processo como longo, volumoso e demorado. Por outro lado, para aqueles que

aplicam os procedimentos percebem a eficaz ferramenta de agilização do processo

penal.

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A terceira hipótese foi totalmente confirmada, as inovações

trazidas pela Lei 9.099/95, refletem teleologicamente a idéia do legislador, na

prática, atinge seus objetivos, que foram baseados na celeridade e na eficácia nos

crimes de menor complexidade. As novidades trazidas pela Lei em estudo podem

ser estendidas para apuração de crimes com maior complexidade, pois, nota-se a

aplicação nas reformas recentes do CPP, que alterou os procedimentos sumário e

ordinário. A idéia da Celeridade contagia os juristas como um todo, certamente foi a

Lei foi um marco inicial, experimental, de sucesso.

Em destaque o Princípio da Celeridade, sendo de todos, o

mais importante. Foi a base para a criação do dispositivo Constitucional, foi a base

para a redação de todos os artigos da Lei 9.099/95. Um Princípio a ser primado,

pois é o propulsor do processo. Sem Celeridade não há Eficácia.

A Lei mostrou-se como mais uma porta de acesso ao Poder

Judiciário, trazendo inúmeras inovações no nosso ordenamento jurídico, passando o

processo a pautar-se pela oralidade, simplicidade, economia processual e

celeridade, sendo modernizadora e representando uma resposta política aos

reclamos sociais de que a Justiça é lerda e o processo de alto custo. Trouxe novos

conceitos e inaugurou novos princípios que demandaram uma nova visão e uma

nova exegese, que escapam à análise da doutrina e jurisprudência tradicionais.

Insculpida no Princípio do Direito Penal Mínimo a referida Lei realizou enormes

avanços, agilizando a Justiça Criminal e contribuindo para solucionar a sua crise de

sobrecarga, propiciando que a própria sociedade distribua e aplique justiça, sem

perder de vista a ressocialização do infrator e a valorização da vítima .

Contudo, uma Lei inovadora perante o nosso ordenamento

jurídico, suas inovações ainda são alvos de muitos estudos e, propiciarão, ainda,

inúmeros estudos e provocarão inúmeras mudanças no Processo penal, porque a

cada dia, na aplicação da Lei, comprova sua celeridade e eficácia.

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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

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ANEXOS