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1 As inteligências múltiplas podem prevenir o erro humano na execução da tarefa com sobrecarga cognitiva? Joana Ester Gonçalves Sobral 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Meja 2 Pós-Graduação em Ergonomia: Produto e Processo Faculdade FASAM Resumo Este artigo analisa a luz da ergonomia, que apesar das inteligências múltiplas definidas em 1983, pelo professor e psicólogo americano Howard Gardner, o erro humano continua presente no ambiente de trabalho, mesmo que a pessoa certa esteja no lugar certo, haja vista que o trabalho real predomina sobre o trabalho prescrito, sobretudo nas atividades com sobrecarga cognitiva, alvo deste estudo. Para tal assertiva, este documento foi embasado em uma pesquisa aplicada, qualitativa, descritiva e bibliográfica, que ao final sugere a inclusão do Psicólogo do Trabalho na composição dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho contemplado na Norma Regulamentadora-04 da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, para que possam ser minimizados os acidentes em serviço, culminando com a preservação do bem maior: A Vida. Palavras-chave: Inteligências Múltiplas; Sobrecarga Cognitiva; Erro Humano. 1. Introdução Segundo Cataldi (2011), o trabalho é tão antigo quanto à história da humanidade e o local de trabalho deve transcorrer num ambiente onde o inescusável direito à saúde deve ser garantido. Para que isto ocorra é imprescindível a observância das normas de higiene, segurança e medicina do trabalho. Por outro lado, Abreu (2005), entende que o assédio moral é uma coisa tão antiga quanto o próprio trabalho, porém somente há pouco tempo foi definido como fenômeno destruidor do ambiente de trabalho, diminuindo a produtividade e favorecendo o absenteísmo, em razão aos desgastes psicológicos que provoca. Para Dejours (1992), desde o século XIX, a luta pela saúde era a luta pela sobrevivência: “viver para o operário, é não morrer”, para tanto os empregados criam estratégias defensivas para se proteger. Não obstante, o que vemos no dia a dia, é que mesmo usando de estratégias, o trabalhador está vulnerável às doenças inerentes ao seu ofício, bem como, ao erro humano, por uma gama de fatores vinculados ao seu ambiente de trabalho e as respostas por eles geradas. Desde tempos pretéritos, por volta de 1700, o médico italiano, Bernardino Ramazzini (1633- 1714), cognominado o “Pai da Medicina do Trabalho”, acreditava que o ofício exercido e a forma como os trabalhadores respondiam aos agentes externos em seu local de trabalho, resultava nas doenças adquiridas quando do desempenho de suas atividades, e sugeriu: 1 Médica do Trabalho e Pós-Graduanda em Ergonomia: Produto e Processo Faculdade FASAM ² Orientador: Fisioterapeuta Especialista em Metodologia de Ensino Superior e Mestranda em Bioética e Direito em Saúde.

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As inteligências múltiplas podem prevenir o erro humano na execução

da tarefa com sobrecarga cognitiva?

Joana Ester Gonçalves Sobral1

[email protected]

Dayana Priscila Maia Meja2

Pós-Graduação em Ergonomia: Produto e Processo – Faculdade FASAM

Resumo

Este artigo analisa a luz da ergonomia, que apesar das inteligências múltiplas definidas em

1983, pelo professor e psicólogo americano Howard Gardner, o erro humano continua

presente no ambiente de trabalho, mesmo que a pessoa certa esteja no lugar certo, haja vista

que o trabalho real predomina sobre o trabalho prescrito, sobretudo nas atividades com

sobrecarga cognitiva, alvo deste estudo. Para tal assertiva, este documento foi embasado em

uma pesquisa aplicada, qualitativa, descritiva e bibliográfica, que ao final sugere a inclusão

do Psicólogo do Trabalho na composição dos Serviços Especializados em Engenharia de

Segurança e Medicina do Trabalho contemplado na Norma Regulamentadora-04 da Portaria

3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, para que possam ser minimizados os

acidentes em serviço, culminando com a preservação do bem maior: A Vida.

Palavras-chave: Inteligências Múltiplas; Sobrecarga Cognitiva; Erro Humano.

1. Introdução

Segundo Cataldi (2011), o trabalho é tão antigo quanto à história da humanidade e o local de

trabalho deve transcorrer num ambiente onde o inescusável direito à saúde deve ser garantido.

Para que isto ocorra é imprescindível a observância das normas de higiene, segurança e

medicina do trabalho.

Por outro lado, Abreu (2005), entende que o assédio moral é uma coisa tão antiga quanto o

próprio trabalho, porém somente há pouco tempo foi definido como fenômeno destruidor do

ambiente de trabalho, diminuindo a produtividade e favorecendo o absenteísmo, em razão aos

desgastes psicológicos que provoca. Para Dejours (1992), desde o século XIX, a luta pela

saúde era a luta pela sobrevivência: “viver para o operário, é não morrer”, para tanto os

empregados criam estratégias defensivas para se proteger.

Não obstante, o que vemos no dia a dia, é que mesmo usando de estratégias, o trabalhador

está vulnerável às doenças inerentes ao seu ofício, bem como, ao erro humano, por uma gama

de fatores vinculados ao seu ambiente de trabalho e as respostas por eles geradas.

Desde tempos pretéritos, por volta de 1700, o médico italiano, Bernardino Ramazzini (1633-

1714), cognominado o “Pai da Medicina do Trabalho”, acreditava que o ofício exercido e a

forma como os trabalhadores respondiam aos agentes externos em seu local de trabalho,

resultava nas doenças adquiridas quando do desempenho de suas atividades, e sugeriu:

1 Médica do Trabalho e Pós-Graduanda em Ergonomia: Produto e Processo – Faculdade FASAM

² Orientador: Fisioterapeuta Especialista em Metodologia de Ensino Superior e Mestranda em Bioética e Direito

em Saúde.

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“Quando visitares um doente, convém perguntar-lhe o que sente, qual a causa, desde

quantos dias, se seu ventre funciona e que alimento ingeriu”, são palavras de

Hipócrates no seu livro “Das Afecções”; a estas interrogações devia-se acrescentar

outra: “e que arte exerce?” (RAMAZZINI, 1992, p. 17).

Na visão do jurista Oliveira (2010), algumas categorias profissionais apresentam um grau de

estresse mais elevado, em razão da pressão, responsabilidade, monotonia ou tensão em que a

tarefa é desenvolvida.

Nesse condão, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define a saúde como "um estado de

completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e

enfermidades".

Vale ressaltar que a lista de agentes estressores no ambiente laboral é imensa, dentre eles, os

destaques recentes são:

- trabalho envolvendo alta carga cognitiva;

- pressão por resultados;

- excesso de barulho;

- exigência de concentração permanente;

- necessidade de aprendizado constante;

- riscos de assalto;

- violência.

Portanto, o trabalhador não é mais apenas como um corpo somático, um amontoado de células

e músculos, que mecanicamente exercita uma atividade, mas um ser que trabalha numa

perspectiva muita mais ampla, abrangendo os aspectos físicos, mentais e sociais.

É por isso que o adoecimento e o sofrimento psíquico relacionados ao trabalho são, na

atualidade, um dos maiores, senão o maior desafio com o qual se defrontam os profissionais

dedicados ao cuidado da saúde dos trabalhadores.

Segundo Dejours (1993, apud OLIVEIRA, 2010, p. 189): "A saúde mental, não é,

seguramente, a ausência de angústia, nem o conforto constante e uniforme. A saúde

é a existência da esperança, das metas, dos objetivos que podem ser elaborados. É

quando há o desejo. O que faz as pessoas viverem é o desejo e não as satisfações. O

verdadeiro perigo é quando o desejo não é mais possível. Surge, então, o espectro da

depressão, isto é, a perda do tônus, da pressão, do elã. A psicossomática mostra que

esta situação é perigosa, não somente para o funcionamento psíquico, mas também

para o corpo; quando alguém está em estado depressivo, seu corpo se defende menos

satisfatoriamente e ele facilmente fica doente."

Acrescenta Oliveira (2010), que a força de trabalho exigida do operário está se deslocando

rapidamente dos braços para o cérebro, especialmente com o ritmo acentuado da

informatização. Com isso, percebe-se que vem ocorrendo uma diminuição efetiva da fadiga

física, porém um aumento considerável da fadiga psíquica.

Por seu turno Glina e Rocha (2010), esclarecem que as reações mais adversas de tensão

(fadiga, ansiedade, depressão e doenças somáticas) ocorrem quando as demandas psicológicas

do trabalho são altas e a latitude de decisão do trabalhador, baixa.

Logo, o grande desafio, é fazer do ambiente de trabalho um local psicologicamente saudável,

para que o trabalhador possa continuar sadio, adaptando-se às exigências do serviço, porém

de modo a resguardar o seu bem estar físico e mental, haja vista que o trabalho não representa

uma degradação compulsória, um desprazer inevitável ou uma condenação social dos

deserdados. Ao contrário, está mais que demonstrado que o trabalho também é fonte de plena

realização e que a ociosidade ou a subutilização provoca efeitos danosos, levando o

trabalhador ao estresse da monotonia.

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Nesta esteira, surge a Ergonomia, a “ciência do conforto”, cujo objetivo é a melhoria das

condições do trabalho, proporcionando acima de tudo bem estar ao trabalhador, evitando que

o trabalho se constitua um risco para sua saúde física e psicológica.

2. Ergonomia

O termo ergonomia, derivado do grego ergon (trabalho) e nomos (regras), foi criado em 16 de

fevereiro de 1950, para descrever a ciência do trabalho. Entretanto, esse termo já havia sido

utilizado na prática, quando o biólogo polonês Wojciech Jastrzębowski (1799-1882) publicou

em 1857 o artigo “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da

ciência sobre a natureza” (IIDA, 2005).

Embora o nascimento “oficial” da ergonomia possa ser definido com precisão, a mesma foi

precedida de um longo período de gestação, que remonta a pré-história, portanto, é possível

afirmar que esta seja tão antiga quanto o homem. Todas as vezes que algum objeto era

inventado, o homem tentava adaptá-lo visando conforto e eficiência. Logo, a ergonomia está

presente na vida de cada ser humano, não apenas no ambiente de trabalho, mas na vida como

um todo.

A ergonomia é uma disciplina orientada para o sistema, que hoje se concentra em todos os

aspectos da atividade humana. Quando aplicado à produção, o termo ergonomia pode ser

interpretado como a adaptação do trabalho ao homem, ou seja, o que se deve fazer para que o

trabalho não cause problemas de saúde.

Ressalta Iida (2005), que aqui o trabalho tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não

apenas aqueles executados com máquinas e equipamentos, utilizados para transformar os

materiais, mas também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e uma

atividade produtiva. Isto envolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos

organizacionais. Salienta ainda, que a ergonomia inicia-se com o estudo das características do

trabalhador para, depois, projetar o trabalho que ele consegue executar, preservando sua

saúde.

Dessa forma, evidente que a ergonomia parte do conhecimento do homem para fazer o projeto

de trabalho, ajustando-o às suas limitações. Portanto, a adaptação sempre ocorre no sentido do

trabalho para o homem.

Nessa esteira, corrobora Vidal e Carvalho (2008), quando esclarecem que a ergonomia surgiu

para dar conta dos problemas físicos dos trabalhadores, haja vista que busca o ajuste dos

sistemas para o uso humano, procurando com isso significar que equipamentos, ferramentas,

ambientes e tarefas poderiam ser selecionados ou projetados de forma a serem compatíveis

com habilidades e limitações humanas, evitando com isso o adoecimento.

Deve ser ressaltado que foi o médico italiano Bernardino Ramazzini (1633-1714) o primeiro a

escrever sobre doenças e lesões relacionadas ao trabalho, em sua publicação de 1700 “De

Morbis Artificum Diatriba”, que pode ser traduzido como doenças ocupacionais ou doenças

do trabalho, que é uma das áreas de estudo e aplicação da ergonomia.

Desde muito tempo a ergonomia vem evoluindo, tendo tomado um grande impulso após a

Segunda Guerra Mundial (1939-1945), especialmente com o advento de máquinas e armas

sofisticadas, criando demandas cognitivas jamais vistas antes por operadores de máquinas, em

termos de tomada de decisão, atenção, análise situacional e coordenação entre mãos e olhos.

Por exemplo, em 1943, Alphonse Chapanis, tenente do exército norte-americano, mostrou que

o “erro do piloto” poderia ser muito reduzido quando controles mais lógicos e diferenciáveis

substituíram os confusos projetos das cabines dos aviões.

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Em 1949, K.F.H. Murrel, engenheiro inglês, começou a dar um conteúdo mais preciso à

ergonomia, e fez o reconhecimento desta disciplina científica criando a primeira associação

nacional de Ergonomia, a Ergonomic Research Society, que reunia fisiologistas, psicólogos e

engenheiros que se interessavam pela adaptação do trabalho ao homem (IIDA, 2001). Foi a

partir deste momento que a ergonomia passou a ter grande aplicação prática.

Segundo Iida (2001): “Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu

trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente à aplicação dos conhecimentos de

anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento”.

Nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial, e até os dias atuais, a ergonomia continuou

a se desenvolver e a se diversificar. A era espacial criou novos problemas de ergonomia tais

como a ausência de gravidade e forças gravitacionais extremas.

Até que ponto poderia este ambiente ser tolerado e que efeitos teriam sobre a mente e o

corpo? A era da informação chegou ao campo da interação homem-computador enquanto o

crescimento da demanda e a competição entre bens de consumo e produtos eletrônicos

resultou em mais empresas levando em conta fatores ergonômicos no projeto de produtos.

A partir de 1950 o termo ergonomia foi adotado nos principais países europeus, onde se

fundou em 1959, em Oxford - Inglaterra, a Associação Internacional de Ergonomia (IEA –

International Ergonomics Association), e foi em 1961 que esta associação realizou o seu

primeiro congresso em Estocolmo, na Suécia.

Nos Estados Unidos foi criada a Human Factors Society em 1957, e até hoje o termo mais

frequente naquele país continua a ser Human Factors and Ergonomics (Fatores Humanos e

Ergonomia) ou simplesmente Human Factors. (IIDA, 2001).

Isto ocorreu porque no princípio a ergonomia tratava apenas dos aspectos físicos da atividade

de trabalho e alguns estudiosos cunharam o termo “Fatores Humanos” de forma a incorporar

os aspectos organizacionais e cognitivos presentes nas atividades de trabalho humano.

A ergonomia baseia-se em muitas disciplinas em seu estudo dos seres humanos e seus

ambientes, incluindo antropometria, biomecânica, engenharia, fisiologia e psicologia.

A Associação Internacional de Ergonomia – IEA e a Associação Brasileira de Ergonomia –

ABERGO, dividem a ergonomia em três domínios de especialização: física, organizacional e

cognitiva, a seguir descritos.

2.1. Ergonomia Física

A ergonomia física lida com as respostas do corpo humano à carga física e psicológica.

Tópicos relevantes incluem manuseio de materiais, arranjo físico de estações individuais de

trabalho, demandas do trabalho e fatores tais como: repetição de tarefas, ruído, temperatura

ambiente, cores dos ambientes, vibração, força e posturas estáticas e dinâmicas, relacionadas

às lesões músculo-esqueléticas, como a LER ou Lesão por Esforço Repetitivo e a DORT ou

Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho ou Work Related Musculokeletal

Disorders (WRMD). Também inclui tópicos de segurança, higiene e saúde no trabalho.

2.2. Ergonomia Organizacional

A ergonomia organizacional ou macro ergonomia está relacionada com a otimização dos

sistemas sócio-técnicos, incluindo sua estrutura organizacional, políticas e processos. Tópicos

relevantes incluem: arranjo físico das instalações como um todo (layout), trabalho noturno e

em turnos, programação de trabalho, satisfação no trabalho, teoria motivacional, supervisão,

liderança e trabalho em equipe, trabalho à distância ou tele trabalho, ética empresarial

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(incluindo responsabilidade sócio-ambiental), cultura organizacional, organizações em rede e

gestão da qualidade.

2.3. Ergonomia Cognitiva

A ergonomia cognitiva, também conhecida como engenharia psicológica, refere-se aos

processos mentais, tais como percepção, atenção, cognição, controle motor e armazenamento

e recuperação de memória, como eles afetam as interações entre seres humanos e outros

elementos de um sistema. Tópicos relevantes incluem carga mental de trabalho, vigilância,

tomada de decisão, o trabalho de precisão, o desempenho de habilidades, erro humano,

interação entre seres humanos, as máquinas e computadores, estresse e fadiga. Também inclui

os treinamentos relacionados a projetos que envolvem seres humanos e sistemas, entrando no

campo da Pedagogia Empresarial. Vale ressaltar que na visão Vidal e Carvalho (2008), são

exemplos de aplicação da ergonomia cognitiva:

- o projeto de uma interface de software para ser facilmente usada por todos;

- o projeto de um alarme de forma que a maioria das pessoas o entenda e aja de maneira

intencional;

- o projeto de uma cabine de piloto de avião ou sala de controle de geração de energia nuclear

de forma que os operadores não cometam erros catastróficos.

3. Cognição

O termo cognição é derivado da palavra latina cognitione, que significa a aquisição de um

conhecimento através da percepção ou a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e

pensa sobre toda informação captada através dos cinco sentidos.

De maneira simples, a ergonomia cognitiva ocorre da seguinte forma: o operador percebe um

dado, que é processado no seu cérebro, transformando-se em uma informação. Com esta

informação o operador tem condições de agir. Dois fatores agem para uma boa ação deste

operador: a forma como o dado foi coletado ou percebido e como o seu processo cognitivo

processou, concluiu e agiu.

De acordo com Vidal e Carvalho (2008) a ergonomia cognitiva enfoca o ajuste entre

habilidades e limitações humanas às máquinas, a tarefa, ao ambiente, mas também observa o

uso de certas faculdades mentais, aquelas que nos permitem operar, ou seja, raciocinar e

tomar decisões no trabalho. Por outro lado, entende que a nossa mente seja capaz de muitas

outras coisas, tais como: criação artística, transmitir emoções, capacidade ficcional e de

construir histórias.

É redundante dizer que a cognição está presente em toda e qualquer atividade humana, seja

quebrar uma parede, a tarefa de fritar um ovo ou controlar um refino de petróleo, mas é bem

menos evidente a constatação e aceitação de existência de problemas cognitivos no mundo do

trabalho. Assim sendo, falar da atividade do ponto de vista cognitivo não significa dissociar o

ser humano de sua holística pessoal, nem ignorar outras dimensões da atividade como o

engajamento do corpo, ou desprezar as contingências organizacionais e sociais.

4. Necessidade da ergonomia cognitiva

Por que o conteúdo – a cognição – é necessário para uma ação ergonômica na atividade de

trabalho de homens, mulheres, jovens, idosos, operadores e gerentes? Por que os aspectos

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mentais são tão importantes, haja vista que os problemas mais graves de lesões no trabalho

são fundamentalmente biomecânicos, como muitos divulgam?

Para Vidal e Carvalho (2008), responder a estas perguntas requer considerações em três

planos, quais sejam:

a) Plano filosófico que defende a idéia de que o ergonomista não pode se contentar se

contentar a entender os processos de trabalho apenas em seus aspectos físicos, pois isso

tornaria sua análise incompleta e insuficiente.

Por exemplo, um operador em sala de controle, bem aclimatada, com mobiliário adequado,

realiza poucos movimentos físicos, o que não nos permite dizer que o seu trabalho seja

irrelevante. Muito pelo contrário, pois a carga mental está sendo utilizada no controle de um

sistema complexo e quiçá perigoso.

b) Plano social que se insere numa superação da concepção clássica que propõe a divisão

entre trabalho manual e trabalho mental. Entretanto, é possível demonstrar que os

trabalhadores realizam no seu escopo de atividade muitas das funções “científicas” da

gerência a que se referenciava Taylor: planejamento, análise, controle, gestão, diagnóstico e

coordenação.

Por exemplo, uma operadora de linha de montagem eletrônica modifica a disposição de

escaninhos de peças para tornar-se mais ágil (replaneja seu trabalho); um pedreiro pára um

minuto antes de começar a quebrar uma parede (análise do objeto de trabalho); uma

comerciária ajuda a cliente a escolher um vestido, passando em revista mental o que existe no

estoque (controle de estoque); a empregada doméstica “inventa” uma refeição com a

disponibilidade da despensa do dia (gestão da penúria); o mecânico sinais do veículo e

examina algumas partes do motor (ele faz um diagnóstico do problema); uma equipe portuária

se distribui entre o convés e o cais para ajudar o manobrista do guindaste na movimentação de

cargas (existe uma coordenação para o sucesso da empreita coletiva), etc.

Apesar de ter se criado uma falácia que em muitas situações o trabalhador é desqualificado,

não se consegue trabalhar sem qualificação. A ergonomia cognitiva nos permite identificar,

com bastante efetividade, em que consiste a qualificação requerida para ocupar uma posição

de trabalho numa empresa.

c) Plano tecnológico enaltecendo que a necessidade de estudos de cognição se explica pela

evolução das tarefas profissionais. Com o advento da automação industrial e comercial, além

da incorporação da programação nos objetos de uso cotidiano, nos arriscamos a dizer que nos

tronamos (todos) programadores de alguma coisa na execução de muitos atos básicos da vida,

tais como: esquentar um prato de comida no aparelho de microondas (tempo? Potência?);

falar com a pessoa amada e distante (código da operadora, código da cidade? Número de

telefone?) ou produzir este texto (feito em um computador).

A tecnologia incorporada à vida moderna faz muitas suposições acerca da forma como

pensamos e agimos e isso precisa ser bem entendido para que possamos alcançar bons

resultados e aí está a contribuição da ergonomia, qual seja: ajudar a entender como operamos

e com isso poder projetar os artefatos físicos e como anexos a estes, o conjunto de suposições

de como funcionamos mentalmente com os recursos técnicos que nelas se baseiam, que são

designados mentefatos.

5. Mentefatos

Para Vidal e Carvalho (2008), o termo mentefatos significa a construção de artefatos

adicionais aos dispositivos técnicos e que nos ajudam a usá-los corretamente. Por exemplo,

atalhos incorporados na rede de trabalho do computador para facilitar o nosso trabalho ou

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ícones na tela do celular, para discar (corretamente) um número que usamos com mais

frequência. São, portanto artefatos que permitem o acerto.

Atualmente os terminais bancários e o acesso a contas bancárias, via internet se multiplicam,

mas pagar uma conta significa preencher um formulário que aparece na tela do terminal com

um campo para data e valor. Em alguns terminais bancários o campo data está programado de

uma forma tal que basta inserir os números na sequência <dd-mm-aaaa> sem traços ou barras

que os separem. Assim para pagar uma conta de vencimento em 3 de julho de 2013 se digita

diretamente 03072013, correspondente a 3/7/2013. Entretanto os valores que devem ser

digitados são bem diferentes da nossa maneira habitual de escrever datas, de modo que

podemos nos confundir e errar uma data.

Um grave incidente aéreo teve sua origem, dentre outros fatores, num preenchimento errado

do código de rotas no sistema de navegação aérea, que alterou o trecho registrado de 2760

para 0276 fazendo com que a aeronave perdesse o rumo e terminasse por fazer um pouso de

emergência na floresta. Mas como o piloto não sabia disso? Não sabia por três hipóteses:

- Hipótese 1: Não sabia por que não foi informado;

- Hipótese 2: Não sabia porque lhe foi comunicado e ele esqueceu parcialmente;

- Hipótese 3: Não sabia porque lhe foi comunicado e ele não compreendeu totalmente.

São três situações bastante diferentes entre si e que levam ao mesmo resultado: o sistema não

funciona como se espera. Em todas elas, porém, encontramos um traço comum: a criação de

um dispositivo técnico (entrada de dados), que faz suposições sobre o funcionamento mental

de nossa capacidade de resgate total de memória ou de entendimento total a partir de uma

explicação conceitual eventualmente reforçada por uma prática simulada. Ou que nos julgue

capaz de entender o funcionamento de uma “coisa” por simples confrontação.

Esse dispositivo, o mentefato, é o nosso alvo primário em ergonomia cognitiva: projetar,

desenvolver e implantar nos sistemas sócio-técnicos os mentefatos adequados ao usuário de

forma que o sistema resultante funcione de modo seguro e eficaz. A verdade é que a dimensão

cognitiva se tornou um elemento central na compreensão da atividade de trabalho de homens

e mulheres, jovens e idosos, novatos e veteranos. Estes atores são pessoas capazes de detectar

sinais e indícios importantes na construção de suas tarefas, são operadores competentes e

organizados entre si para trabalhar, todavia, mesmo neste contexto, são capazes de cometer

erros. Para realizar suas tarefas, num dado contexto, os operadores de forma individual ou

coletiva, engendram raciocínios para tomar decisões. Se considerarmos que estes operadores

estão bem treinados, conhecem as rotinas básicas e dispõem das experiências mínimas para

contornar imprevistos, então nada de maior gravidade deverá acontecer, as boas decisões

serão tomadas e, nem caberá falar de ergonomia e erro.

6. Inteligências Múltiplas

Muitos pesquisadores estudaram e criaram definições de inteligência, e alguns até criaram

“métodos” para medir a inteligência de uma pessoa, existindo testes que “conferem uma nota”

para a mesma. Dentre as diversas teorias duas se destacam: a do suíço Jean Piaget (1896-

1980) e a do francês Alfred Binet (1857-1911). Piaget imaginou a inteligência como um

desenvolvimento cognitivo caracterizado por uma evolução progressiva, em função da idade,

como uma construção progressiva de estruturas mentais. Segundo Piaget, o ser humano

apresenta os seguintes estágios de inteligência: de 0 a 2 anos de idade é o estágio sensório

motor; de 2 a 7 anos o estágio pré-operatório; de 7 a 12 anos estágio de operações concretas e

acima de 12 anos o estágio de operações formais. (ABRANTES, 2009).

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Quanto às Inteligências Múltiplas é importante ressaltar sobre o seu principal mentor, o

professor Howard Gardner; um ilustre americano nascido em 11 de julho de 1943, na cidade

de Scranton, Pennsylvania. Graduado em psicologia na Universidade de Harvard, com pós-

doutorado em neurologia e neuropsicologia.

Desde 1986 é professor de Cognição e Educação na Escola de graduação em Educação da

Universidade de Harvard (Harvard Graduate School of Education). Também é professor

adjunto de neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Boston (Boston University

School of Medicine).

Em 1997 esteve no Brasil, quando proferiu palestras sobre o seu conceito das Inteligências

Múltiplas. Até 2010, possuía mais de 20 livros publicados e traduzidos para diversos idiomas,

além de mais de uma centena de artigos científicos, tendo recebido inúmeros prêmios em

diversas universidades, em todo o mundo. (ABRANTES, 2009).

É importante citar como Gardner define inteligência. 1 – Inteligência é a capacidade de

resolver problemas. 2 – Inteligência é a capacidade de criar coisas úteis e valorizadas pela

sociedade, considerando as particularidades culturais das pessoas e regiões (GARDNER,

1994). Ficam as perguntas: resolver quais problemas? Criar o quê? Ou seja, pela teoria de

Gardner, existem pessoas inteligentes em todas as áreas do conhecimento e vida dos seres

humanos, e não apenas aquelas com alto QI. O grande diferencial da teoria de Gardner é que

ele considera cada pessoa como única, ou seja, diferente das demais. Gardner (1983, apud

CYBIS, 2010, p. 397), propõe um modelo com as seguintes inteligências múltiplas:

- Inteligência linguística – habilidade com o uso das palavras;

- Inteligência espacial – habilidades para lidar com o espaço;

- Inteligência lógica e matemática – habilidades para fazer inferências e lidar com números;

- Inteligência musical – habilidades para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical;

- Inteligência interpessoal – habilidades para lidar com pessoas;

- Inteligência intrapessoal – autointeligência;

- Inteligência corpóreo-sinestésica – habilidades físicas.

De acordo com Cybis (2010) entende-se inteligência como o desempenho ou capacidade para

processamentos cognitivos específicos. Assim as pessoas apresentarão diferentes níveis de

desempenho para diferentes tipos de inteligências específicas.

Segundo Howard Gardner, todo ser humano é dotado de múltiplas inteligências, sendo

algumas mais fortes que outras, ou seja, cada pessoa tem mais ou menos facilidade de

executar determinadas tarefas.

Quando um trabalhador é obrigado a usar uma inteligência, que não é uma das suas fortes, ele

se estressa, ou seja, o trabalho não está sendo adaptado a ele, trazendo-lhe uma série de

consequências típicas das condições de estresse, como por exemplo, o erro humano.

7. Sobrecarga Cognitiva

Para Wisner (1994) todas as atividades, inclusive o trabalho, têm pelo menos três aspectos:

físico, cognitivo e psíquico e, cada um deles pode determinar uma sobrecarga com

consequente fadiga generalizada, além de sofrimento mental.

Segundo Couto (1996) a fadiga é um estado de diminuição da capacidade funcional de um

órgão, de um sistema ou de todo um organismo, provocado por uma sobrecarga na utilização

daquele órgão, sistema ou organismo. Didaticamente classifica a fadiga em três categorias

básicas: fadiga física, mental (cognitiva) e psíquica.

7.1. Fadiga física – ocorre quando podemos identificar uma ou mais estruturas orgânicas

sobrecarregadas durante o trabalho.

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7.2. Fadiga mental – ocorre a sobrecarga dos mecanismos mentais (cognitivos) relacionados

ao trabalho.

7.3. Fadiga psíquica – ocorre basicamente um desajustamento psíquico do indivíduo a uma

determinada realidade.

Importante destacar que podemos ter no trabalho situações capazes de resultar numa fadiga

física, mental e psíquica simultaneamente, porque todo trabalho aciona, a todo instante,

exigências orgânicas, exigências de inteligência e aspectos afetivos do indivíduo.

Para Vidal e Carvalho (2008) o termo carga de trabalho refere-se a uma indicação de uma

grandeza confusa, haja vista a necessidade de avaliação dos feitos das dificuldades e

obstáculos da tarefa sobre o operador, considerando o nível de exigência dessa tarefa.

Falzon (2007) corrobora com este entendimento, pois considera o uso do termo carga deveras

ambíguo, uma vez que pode se referir ao nível de exigência de uma tarefa num dado

momento, ou às consequências desta tarefa. Em relação à fadiga, entende que esta é a

consequência do esforço. É um estado consecutivo a um trabalho realizado sob certas

condições, ou seja, com certo nível de constrangimento, que se objetiva em sintomas e induz a

uma perda temporária e reversível da eficiência.

Todavia, neste estudo de revisão, será priorizada a fadiga mental com sobrecarga cognitiva

que leva o colaborador a incorrer ao erro.

O conceito de carga foi construído originariamente para tarefas nas quais os esforços eram

essencialmente de natureza física (mão de obra), motivo pelo qual, a ergonomia física

predominava. Com a crescente sofisticação dos trabalhos, onde o colaborador tem que estar

continuamente atento e tomando decisões (cérebro de obra), houve um aumento assustador do

estresse ocupacional, graças ao trabalho mental relacionado à ergonomia cognitiva.

Dessa forma, as transformações do trabalho ampliaram o conceito pretérito, para carga

mental, o que gerou sérias críticas, pois vários autores consideravam a definição imprecisa e

nada concreta.

A definição proposta por Damus (1991, apud FALZON, 2007, p. 144) coloca a carga mental

como uma construção hipotética, induzida pela realização de uma tarefa e provocando uma

redução da capacidade mental de realizar outras tarefas. Este modelo foi considerado inexato

e alvo de críticas. Em contrapartida, o esquema proposto por Leplat (2000, apud VIDAL e

CARVALHO, 2008, p. 19) faz a distinção entre a tarefa e suas exigências como dado de

partida e como resultante o estado do operador e o nível de desempenho. Seria então a

competência do operador verso a complexidade das tarefas. Tal esquema distingue duas

zonas:

- a zona das atividades simples (de pouco esforço), onde o nível de competência é superior ao

nível de complexidade. Aqui se teria tarefas “objetivamente” simples, ou tarefas difíceis

realizadas por operadores muito competentes;

- a zona das atividades complexas (de muito esforço), onde o nível de competência é inferior

ao nível de complexidade. Aqui se teria tarefas simples realizadas por operadores pouco

competentes, ou tarefas complexas realizadas por operadores competentes.

Para Vidal e Carvalho (2008), com esta orientação pode ser feita uma clara distinção entre o

nível de exigência colocado pela tarefa nas condições em que deve ser realizada –

denominada contrante – e a mobilização psíquica, cognitiva e física referente e necessária

para atendimento deste nível de exigência nas condições que se apresentam ao operador –

denominada astrante.

Assim, identificar os contrantes presumíveis da realização de uma dada tarefa num ambiente

definido e estabelecer sua relação com os parâmetros referentes aos astrantes.

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Com esse modelo é possível tornar o esforço aceitável, diminuir o estresse e prevenir os

acidentes em trabalho seja pela redução da complexidade da tarefa (adaptação do ambiente de

trabalho, redução das exigências, assistência automatizada, etc.) ou pelo aumento da

competência do operador (formação profissional, trabalho coletivo, ajuda em tempo real, etc.)

Ainda nesta acepção, adequar a carga mental significa eliminar desse processo a ocorrência de

sobrecargas, que conduziriam à fadiga e, de subcargas, que levariam à monotonia; ambas

responsáveis pelo estresse ocupacional. A geralmente aceita definição de estresse

ocupacional pode ser formulada como segue: “O estado emocional, causado por uma

discrepância entre o grau de exigência do trabalho e os recursos disponíveis para gerenciá-lo,

define o estresse do trabalho. É assim, essencialmente, um fenômeno subjetivo e depende da

compreensão individual da incapacidade de gerencias as exigências do trabalho.”

GRANDJEAN (1998, p. 165).

8. Trabalho prescrito e trabalho real

Evidente que a ergonomia tem por objeto o trabalho, mas é preciso reconhecer que a palavra

trabalho engloba várias realidades. Etimologicamente a palavra trabalho significa tortura. O

termo vem do latim tripalium, um instrumento romano de tortura. Daí derivou-se o verbo

tripaliare, que significava torturar alguém no tripalium. Segundo Oliveira (2010) o trabalho,

antes considerado indigno, próprio dos escravos ou dos servos, passa após a Revolução

Industrial à mercadoria lucrativa, objeto de exploração dos detentores dos meios de produção.

Para Codo et al (2006) os grandes pensadores já apontavam o trabalho como fator primordial

para a saúde mental, o que também é do conhecimento popular. Muitas vezes basta olhar no

semblante de um trabalhador para se constatar o sofrimento em razão do seu ofício. Afinal de

contas, “(...) o trabalho nem sempre possibilita crescimento, reconhecimento e independência

profissional, pois muitas vezes causa problemas de insatisfação, desinteresse, irritação,

exaustão.” (Pereira apud Dejours, 2002, p. 13). Corroborando com o entendimento de

Dejours (2002), sobre a exaustão no trabalho, esclarece Glina e Rocha (2010):

“O trabalho ocupa grande parte de tempo em que os trabalhadores estão em vigília.

Jornadas de trabalho longas, com poucas pausas destinadas a descanso e/ou com

refeições de curta duração e em lugares desconfortáveis, turnos noturnos, alternados

ou iniciando muito cedo pela manhã, ritmos intensos ou monótonos, controle de

tempo de trabalho em razão das máquinas e pressões de supervisores ou chefias

impedem que o trabalhador detenha controle do tempo do seu trabalho, gerando

quadros ansiosos, fadiga crônica e distúrbios do sono.” (GLINA e ROCHA, 2010, p.

51).

Entretanto, segundo Alevato (1999), o homem dispõe de um repertório relativamente amplo

de comportamentos e atitudes que ajusta, dialeticamente, na relação que estabelece com cada

ambiente onde circula. O trabalho prescrito refere-se a normas operacionais formalizadas em

procedimentos ou inscritas nos dispositivos técnicos, em relação aos quais sempre se

diferenciam as atividades realmente desenvolvidas pelos trabalhadores, o que chamamos de

trabalho real. Um dos aspectos que ajuda a explicar a diferença entre o trabalho prescrito e o

trabalho real é que a atividade se realiza sempre em contextos específicos. Apesar da tentativa

de se controlar tudo que entra na produção, sempre ocorrem incidentes e variações que

mudam a situação de trabalho. Logo, tenta burlar as regras no trabalho para melhor ganho,

seja físico ou mental, quando da execução do que foi pedido para ser feito, na ilusão de que

ganhará tempo e dinheiro.

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9. Erro Humano

Os primeiros estudos sobre erros humanos datam de 1881, quando J. Sully trabalhou a noção

de ilusões. Naquele momento, se consideravam ilusões não apenas as ilusões de ótica e as

confusões auditivas, como as anomalias de memória, crenças equivocadas, pensamentos

inexatos e insights pouco úteis (VIDAL e CARVALHO, 2008).

Antigamente, o erro humano era visto como a causa de acidentes ou incidentes, o foco das

investigações era no por que ocorreu uma falha e em localizar a falha. Hoje, o erro humano

denota um problema no interior do sistema, no seu projeto, tenta-se entender porque as

decisões humanas pareceram corretas no momento e sendo assim estuda-se e coloca-se em

prática medidas para não permitir que o sistema seja alvo do mesmo tipo de erro novamente.

Porém muito melhor seria prever este tipo de situação, antes que a mesma ocorra, a fim de

evitá-la e tornar assim o sistema menos vulnerável.

Couto (1996) argumenta que uma das áreas de avaliação ergonômica mais complexa é a

avaliação da confiabilidade humana no trabalho. Para determinar a confiabilidade humana

dentro do contexto homem – tarefa, isto é, as condições organizacionais e ambientais dentro

das quais o trabalhador desenvolve suas atividades de trabalho prescrito, é necessário entender

a falha humana, mais precisamente como e por que ela acontece. Uma vez que este tipo de

falha é algo complexo, multicausal e multideterminado.

Couto (1996) baseado em Trevor Kletz adaptou o modelo do hexágono das causas da falha

humana. Este modelo é composto pelas 6 (seis) principais causas da falha humana, como

mostra a figura 1 abaixo:

Todas as 6 facetas do modelo são importantes na visão da Ergonomia Cognitiva, pois esta

utiliza para a análise detalhada das causas da falha humana o conhecimento sobre a

aprendizagem do ser humano a fim de obter o aprendizado correto e a prática

igualmente correta do homem no seu ambiente de trabalho. Ocorre que esta ferramenta

destina-se a investigação do erro humano quando ele já ocorreu.

Para Másculo e Vidal (2011) tornar o trabalho mais seguro compreende três dimensões:

prevenção, tolerância e proteção. Eles acreditam que inicialmente podemos tornar o trabalho

mais seguro diminuindo a possibilidade de que as falhas ocorram e, se possível, eliminando as

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oportunidades para a falha, ou para que as tarefas sejam feitas incorretamente. Isso pode ser

feito diretamente, concebendo artefatos (barreiras físicas) que impossibilitem fazer coisas

erradamente, ou indiretamente, por meio do projeto de restrições cognitivas que tornem o

trabalho mais difícil se ele for feito de modo inadequado, ou sistemas de ajuda que facilitem o

trabalho quando ele for feito na direção da segurança.

Iida (2005) esclarece que o erro é um ato involuntário que se desvia daquele normal ou

pretendido, enquanto a violação é um ato deliberado que se desvia da ação segura. Essa

distinção é importante, porque nem sempre as medidas preventivas para evitar os erros são

eficazes para o caso das violações.

Resultados de investigações de grandes acidentes mostram que as falhas responsáveis pelos

mesmos estão associadas a quatro fatores principais, quais sejam: tecnologia, sistemas de

gerenciamento, fatores humanos e agentes externos. Deste modo, muitas organizações têm se

preocupado com a confiabilidade de seus equipamentos e investido em melhores tecnologias.

Porém, uma análise mais detalhada acerca das causas que precedem estas situações mostra

que o erro humano e a falta de sistemas de gerenciamento de riscos adequados são os

contribuintes mais significativos para a concretização dos acidentes.

Para a Ergonomia Cognitiva o centro da abordagem é o operador que é definido como sendo

um especialista que processa conhecimentos específicos, mas, sobretudo, conhecimentos

operacionais para executar certo grupo de tarefas no contexto de uma determinada atividade

operacional. Os conhecimentos que aqui interessam são os declarativos e os procedurais.

É por meio da Ergonomia Cognitiva que se tem acesso aos conhecimentos operacionais de um

operador, porque ela está direcionada ao melhoramento das condições de trabalho as quais se

traduzem em termos de ajudas externas à atividade e às necessidades de treinamento do

operador, conforme descreve Vergara (1997).

Vidal e Carvalho (2008) esclarecem que a ergonomia cognitiva apresenta outra vertente da

questão do erro humano. Ela tem procurado demonstrar que os saberes locais e contingenciais

desenvolvidos pelos operadores não são erros e sim evitam erros e suas consequências

maiores. Em suma o ser humano possui uma capacidade cognitiva que lhe permite julgar

aspectos qualitativos, uma capacidade de síntese e de interpretação de representações

analógicas, uma capacidade de raciocinar rapidamente em função dos casos mais prováveis.

A concepção mais hodierna estabelece que o ser humano, em situação de trabalho, combina

seus saberes adquiridos por formação (ensinados), por vivências (coisas vividas, passagem de

sua vida profissional) e por experiências (coisas formalizadas), com a exploração cognitiva do

ambiente, formando uma compreensão do que se passa e de como agir sobre isso, o que

alguns autores chamam de consciência da situação.

Assim, nota-se que é de suma importância o conhecimento profundo sobre os riscos presentes

dentro de um sistema organizacional, para que seja possível, por parte do indivíduo, a

identificação e a correção dos desvios do sistema antes que ocorra a sua falha, reduzindo-se,

desta forma, a probabilidade de erro humano. No entanto, mesmo que todos os riscos sejam

conhecidos, ainda persistirá a possibilidade de falha humana, considerando que cada

indivíduo organiza e interpreta as situações de maneira diferente.

10. Metodologia

O objetivo deste artigo é fazer uma breve revisão da ergonomia, do conceito das inteligências

múltiplas como descritas originalmente por Howard Gardner em 1983 e prevenir e/ou

minimizar a incidência do erro humano quando da sobrecarga cognitiva; além de sugerir a

inclusão do Psicólogo do Trabalho na composição dos Serviços Especializados em

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Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho, em harmonia com a Norma

Regulamentadora-04 da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego.

E para tanto foram revisados artigos publicados em revistas científicas e na internet, que

abordassem a temática de ergonomia, psicologia, múltiplas inteligências, trabalho

real/prescrito, sobrecarga cognitiva e erro humano.

11. Resultados e Discussão

É fato que as empresas procuram contratar trabalhadores que tenham formação

multidisciplinar, ou seja, que irão atuar em diversas especialidades e áreas. Todavia, apesar de

atenderem a estes requisitos, tais colaboradores também serão submetidos ao estresse no

ambiente laboral, quando obrigados continuamente a analisar problemas e tomar decisões,

sobre questões às quais não estão enquadradas nas suas inteligências fortes.

Entender os mecanismos estruturais e mentais que levam ao comprometimento do

desempenho humano ao trabalho é uma das áreas mais complexas da análise ergonômica.

Entender quais os aspectos que levam as pessoas adotarem determinados procedimentos no

seu ambiente de trabalho ou ainda determinar quais os valores que são considerados pelo

obreiro quando ele está mediado por situações de risco ou por situações nas quais ele está

premido pelo tempo são difíceis de serem mensurados ou qualificados.

Para F. Guérin et al (2001) de uma maneira geral, existe uma ligação recíproca entre o que

está presente na memória do operador e a representação da situação na qual ele se encontra

num dado momento.

Segundo Vidal e Carvalho (2008) os aspectos ligados à mente humana, tanto diretamente,

como as funções cognitivas (percepção, memória, inteligência, competência) quanto

indiretamente, como a aprendizagem e a formação são assuntos para os quais a ciência ainda

não forneceu uma resposta definitiva, onde diversos paradigmas convivem em pouca ou

nenhuma harmonia.

Na visão de F. Guérin et al (2001) a aprendizagem favorece uma melhor adaptação das ações

aos objetivos buscados. Ela aumenta as possibilidades de estratégias de antecipação

(exploração mais eficaz, antecipação de sequências de ações) e torna disponível um maior

número de esquemas de ação parcialmente automatizados. Entretanto, quando o operador

realiza um trabalho monótono por tempo prolongado e com movimentos automatizados

poderá incorrer ao erro humano.

Tal como no campo da epistemologia, também no campo da ergonomia cognitiva se considera

não existir qualquer garantia prévia de a ação ser isenta de erros: o risco deste tipo de

ocorrências pode ser alto ou ínfimo, mas não é nulo (PEREIRA, 1983).

Durante este trabalho de revisão da literatura, restou comprovado, que embora dotado de

inteligências múltiplas, mesmo ocupando o posto de trabalho adequado, apesar de treinado e

integrado em ambiente favorável ao seu perfil antropométrico, o indivíduo ainda assim, é

passível de cometer erros, principalmente nas tarefas com sobrecarga cognitiva.

12. Conclusão

Pelo exposto, e considerando que o foco de atuação da psicologia do trabalho abrange o

homem e sua relação com o trabalho, levando em consideração a personalidade do

trabalhador, as suas aptidões para aprender e as diferenças individuais entre os trabalhadores,

bem como visa estudar o ambiente onde ocorre o labor, suas relações com o instrumento de

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trabalho e aborda as relações entre todos os componentes desse contexto, de modo que

objetiva saber como este está definido, organizado e controlado.

Concluímos este artigo, recomendando a luz da ergonomia cognitiva, que na próxima revisão

da Norma Regulamentadora de nº 4, seja contemplado no quadro II – Dimensionamento dos

Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho - SESMT,

o psicólogo do trabalho, cujo papel, somado aos demais autores, é relevante na prevenção da

sobrecarga mental com consequentemente diminuição do erro humano.

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