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1 AS MATRIZES ECONÔMICAS DA POLÍTICA BRASILEIRA Pedro Jorge Ramos Vianna Professor Titular da UFC. Aposentado Teresa Lenice Nogueira da Gama Mota Prof. Dra. da Faculdade Luciano Feijão 0. INTRODUÇÃO No presente estudo, espera-se mostrar como a economia brasileira tem sido estruturada dentro de diversas e diferentes “matrizes econômicas”. A ênfase será dada à “Nova Matriz Econômicado último governo do Partido dos Trabalhadores, o Governo de Dilma Rousseff. Também será apresentada duas “matrizes” onde serão mostradas as diversas modificações nas variáveis ou parâmetros econômicos, quando alguma política econômica os modifica (matriz 1), bem como como variarão as variáveis econômicas quando houver mudança em alguma função macroeconômica variar (matriz 2). Mas antes é necessário entender o que seria uma “matriz econômica”. O vocábulo “matriz” tem várias conotações: a conotação matemática, a conotação comercial, a conotação católica, a conotação de fundamental”. Mas existem muitos outros conceitos. No caso da concepção de “matriz econômica”, a conotação é de fundamental. Assim, no sistema econômico a “matriz” diz respeito aos pilares da política econômica adotada. Considerando que o que se chama matriz em economia diz respeito ao arcabouço fundamental da política econômica, talvez o primeiro estudo que se possa chamar de matriz econômica seja o Tableau Économique de François Quesnay, publicado em 1759 (Quesnay, 1983). Neste trabalho, Quesnay (Quesnay, 1983) tenta mostrar a interação entre os agentes econômicos, em forma de fluxos de produtos. Também talvez se possa dizer que o segundo grande trabalho envolvendo o que seria uma “matriz econômica”, seja o trabalho de Léon Walras, publicado em 1874 (Walras, 1983) Nesse trabalho, Walras (Walras, 1983) tenta estabelecer um modelo de equilíbrio geral envolvendo consumidores e produtores. Mas ao longo do tempo muitos trabalhos acadêmicos em economia podem ser chamados de “matriz econômica”. Tem-se, por exemplo, o que passou a ser chamado o modelo IS-LM, de John Richard Hicks, publicado em 1937 (Hicks, 1937). Ou o

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AS MATRIZES ECONÔMICAS DA POLÍTICA BRASILEIRA

Pedro Jorge Ramos Vianna

Professor Titular da UFC. Aposentado

Teresa Lenice Nogueira da Gama Mota

Prof. Dra. da Faculdade Luciano Feijão

0. INTRODUÇÃO

No presente estudo, espera-se mostrar como a economia brasileira tem sido estruturada

dentro de diversas e diferentes “matrizes econômicas”. A ênfase será dada à “Nova

Matriz Econômica” do último governo do Partido dos Trabalhadores, o Governo de

Dilma Rousseff.

Também será apresentada duas “matrizes” onde serão mostradas as diversas

modificações nas variáveis ou parâmetros econômicos, quando alguma política

econômica os modifica (matriz 1), bem como como variarão as variáveis econômicas

quando houver mudança em alguma função macroeconômica variar (matriz 2).

Mas antes é necessário entender o que seria uma “matriz econômica”.

O vocábulo “matriz” tem várias conotações: a conotação matemática, a conotação

comercial, a conotação católica, a conotação de “fundamental”. Mas existem muitos

outros conceitos.

No caso da concepção de “matriz econômica”, a conotação é de fundamental. Assim, no

sistema econômico a “matriz” diz respeito aos pilares da política econômica adotada.

Considerando que o que se chama matriz em economia diz respeito ao arcabouço

fundamental da política econômica, talvez o primeiro estudo que se possa chamar de

matriz econômica seja o Tableau Économique de François Quesnay, publicado em 1759

(Quesnay, 1983). Neste trabalho, Quesnay (Quesnay, 1983) tenta mostrar a interação

entre os agentes econômicos, em forma de fluxos de produtos.

Também talvez se possa dizer que o segundo grande trabalho envolvendo o que seria

uma “matriz econômica”, seja o trabalho de Léon Walras, publicado em 1874 (Walras,

1983)

Nesse trabalho, Walras (Walras, 1983) tenta estabelecer um modelo de equilíbrio geral

envolvendo consumidores e produtores.

Mas ao longo do tempo muitos trabalhos acadêmicos em economia podem ser

chamados de “matriz econômica”. Tem-se, por exemplo, o que passou a ser chamado o

modelo IS-LM, de John Richard Hicks, publicado em 1937 (Hicks, 1937). Ou o

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trabalho de R. Mundell, publicado em 1962 (Mundell, 1962). Ou, ainda, as

contribuições de Simon Kuznets (Kuznets,1942) e Richard Stone (Stone, 1959).

Como o objetivo deste artigo não é fazer um “survey” do desenvolvimento do conceito

de “matriz econômica”, se chama a atenção, por último, para a contribuição de Wassily

Leontief, editada em 1966 (Leontief, 1983)

A consolidação do que seria uma “matriz econômica” se deu com trabalho de Wassily

Leontief, publicado em 1966 (Leontief, 1983). Esse autor, pela primeira vez, utilizou

um aparato matricial matemático, a matriz insumo-produto, para explicar o

funcionamento dos sistemas produtivos e distributivos de uma economia.

Feita esta pequena resenha dos sistemas precursores de matriz econômica, pode-se

começar uma rápida descrição das matrizes econômicas utilizadas pelos governos

brasileiros, dando-se ênfase, como já explicado à “nova matriz econômica”, assim

denominada a política econômica do Governo Dilma Vana Rousseff..

Isso é o que se fará a seguir.

Ao se analisar a economia brasileira no após guerra, período no qual se começa a pensar

a economia do País de maneira mais acadêmica, pode-se dizer que o seu sistema

econômico “adotou” várias “matrizes”.

1. RESENHA DAS MATRIZES ECONÔMICAS ADOTAS PELO BRASIL.

1945-2008.

1.1. A MATRIZ CEPALINA

A primeira delas foi a Matriz Cepalina. Sob a influência de Raul Prebish (Prébisch,

1949, 1950). A “matriz econômica” para a américa latina era baseada na teoria da

disparidade centro-periferia ou a teoria da substituição de importação. Para isso, todo o

esforço do governo na área econômica era para promover a industrialização do País.

Esta concepção, no caso do Brasil, realmente incentivou a industrialização do País. Mas

esta política, baseada em subsídios ao setor criou uma indústria ineficiente, motivada

pela proteção aduaneira instalada.

Ainda como exemplo de falhas na adoção da tese Cepalina, vale lembrar o processo de

industrialização do Nordeste do Brasil. Este processo começou a ser estruturado com

pelo Economista Celso Monteiro Furtado, em 1958, com o documento “Uma Política

de Desenvolvimento para Nordeste”, no Governo do Presidente Juscelino Kubitschek e

complementado com o trabalho “A Operação Nordeste” (Furtado, 1959).

As idéias de Celso Furtado, embora brilhantes, ensejou a que se praticasse um grosseiro

erro de concepção do planejamento para a Região Nordeste, haja vista que o processo

de industrialização da Região, foi baseado no modelo econômico de Harrod-Domar,

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onde o capital é o fator decisivo para o crescimento. Ver Pedro Vianna (Vianna, 1978,

2017)

Tendo o capital como a base de tudo, foi concebido um sistema de incentivos fiscais,

via imposto de renda (Artigos 34/18, da SUDENE e FINOR, também da SUDENE). O

resultado foi realmente a criação de muitas indústrias na Região, mas uma indústria à

semelhança da indústria sudestense, sem a exploração das capacidades econômicas do

Nordeste. Esta “matriz”, para o Brasil, permaneceu ativa entre 1945 a 1964. A política

para o desenvolvimento do Nordeste durou de 1952 a 1964.

Com o advento da Revolução de 31 de março de 1964, foi instalado no País o governo

Militar (1964-1985), e a “matriz econômica” foi totalmente modificada.

1.2. A MATRIZ DA CAPTAÇÃO DA POUPANÇA EXTERNA

O mote para a estruturação da matriz foi a captação de poupança externa. Assim, a

estrutura de todo o sistema econômico do Brasil foi modificado para utilizar a poupança

externa (endividamento) tendo em vista que a poupança nacional, algo em torno de

6,0% do PIB (à época) não permitia concretizar o sonho de o Brasil tornar-se uma

grande nação em termos mundiais.

O Governo Militar determinou que o País deveria crescer a taxas acima de 9,0% a.a. E

isso só seria possível com a captação de recursos no exterior. O que determinaria o

crescimento acentuado das exportações do País.

Para tanto, foram adotadas diversas políticas voltadas para beneficiar as exportações,

como a política cambial, a política tributária e a política de promoção das exportações.

E o aumento das exportações realmente foi substancial.

Entretanto, não se podem esquecer os efeitos deletérios de tal “matriz”. Em artigo

publicado pela Confederação Nacional da Indústria-CNI, em 1984, este autor mostrou

como a adoção da “matriz captação de poupança externa” trouxe a industrialização para

o Brasil. De fato, naquele artigo, assim foi analisado o resultado dessa matriz (Vianna.

1984, pag. 11)

“Podemos dizer que a política cambial em conjugação com a política tarifária e

a política e promoção das exportações foram fundamentais para o expressivo

acréscimo apresentado pelas exportações de produtos industrializados

brasileiros. De fato, o Brasil passou de uma exportação de industrializados, em

1964, de US$155.8 milhões para US$11.8 bilhões em 1983. Esses produtos

evoluíram do patamar de 11% em 1964 para o de 59%, em 1983. Foi um

crescimento, sem dúvida, bastante expressivo. Mas, a que preço?”

O problema foi este: o preço a ser pago por tal “sucesso”.

O resultado foi um endividamento crescente, com “spreads” e taxas de juros cada vez

mais altas. Mas o mais importante resultado deletério foi a “década perdida” (a dos anos

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oitentas), durante a qual o crescimento do Brasil apresentou, ano a ano, taxas pífias. O

sonho havia virado pesadelo.

E isto de seu como resultado da política de endividamento experto ou da “absorção da

poupança externa”.

Para justificar tal política o Governo criou o conceito de “hiato de recursos reais”, para

medir a necessidade de captação de recursos externos e os indicadores “Coeficiente de

Proteção”, “Índice de Capacidade de Pagamento”, “Índice de Liquidez”. Todos

manipulados pelo Governo para enganar a população.

Vale agora, citar as observações apresentadas por este autor em publicação de 1979

(Vianna, 1979). Naquela publicação está argumentado:

“Será interessante fazer-se, agora, uma comparação entre os valores do “hiato

de recursos reais” e a entrada líquida de capitais estrangeiros no Brasil, isto

porque a contrapartida do déficit em conta corrente é dita ser o superávit na

conta de Capitais Autônomos (quando não há variações na conta Capitais

Compensatórios). Esses capitais, cobrindo os déficits em conta corrente, são

tidos como uma captação de recursos externos que financiarão investimentos

nacionais. A validade desse argumento já foi discutida, mas uma comparação

entre as entradas líquidas externos e a medida do “hiato de recursos reais”

poderia fornecer alguma indicação do acerto de tal política. A Tabela VIII,

construída com os dados das Tabelas V e VII e apresentando, ainda, o saldo do

Balanço de Pagamentos em Conta Corrente, mostra a magnitude do “excesso de

poupança” captado pela economia nacional.

Como pode ser observado, a “Poupança Captada” é bastante superior ao “hiato”

em todos os anos do período estudado, à exceção, apenas, do ano de 1962,

quando houve um excesso de investimento. Mesmo quando se compara a

entrada líquida de capitais com o Saldo do balanço de Pagamentos em Conta

Corrente, esse excesso de Poupança se verifica, excetuando-se os anos de 1962,

1963, 1967, 1974 e 1975. Ressalte-se que o saldo do Movimento de Capitais

Autônomos engloba o item “Amortizações”, o que indica que, na realidade, o

excesso de poupança captada é bem superior aos valores do “hiato de recursos

“reais” acima calculados.” Vianna, 1979, p. 887.

Ainda sobre este assunto ver P. J. R. Vianna (Vianna, 1984). Vale aqui reescrever

algumas conclusões daquele trabalho:

a) “A conclusão a que se chega, então, é que houve uma política inconsequente

de endividamento. Isto se nos ativermos ao argumento do “hiato de recursos

reais”. Entretanto, sabemos que o Brasil se endividou não só para fechar tal

“hiato”, mas, também, para financiar grandes projetos nacionais.”

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b) Dentro deste contexto de mau uso das estatísticas e de argumentos falaciosos

era muito difícil para a sociedade brasileira pressentir a bancarrota que se

avizinhava.” V

Mas mesmo durante o pesadelo da “década perdida”, o Congresso Nacional aprovou,

em 1988, a 7ª Constituição do Brasil. A mais dadivosa Constituição do País, onde as

obrigações do Governo se multiplicaram via política social, mesmo quando o sistema

econômico não produzia riquezas para sustentar tal política.

Esta passou a ser a Matriz do Bem-Estar Social no Brasil.

1.3. A MATRIZ DO BEM-ESTAR SOCIAL

Dentro dessa nova matriz que pode-se dizer, constitucionalizada, a do sistema

econômico do bem-estar social, o governo passou a oferecer, obrigatoriamente,

educação e saúde universal para toda a população. Para este último tópico cometeu-se

um erro grosseiro. Tal obrigatoriedade da oferta de saúde universal do Governo foi

parcialmente transferida para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Assim,

um sistema que deveria ser regido por critérios atuariais, passou a ser um emaranhado

de benefícios não cobertos pelas receitas dos contribuintes. E o Sistema praticamente

faliu. O “déficit” da Previdência, em 2018, já está ao derredor de R$200,0 bilhões ao

ano e a tendência é crescente.

Para se ter uma ideia do que foi oferecido ao povo, basta lembrar que no Governo de

José Sarney (15.03.1985 - 15.03.1990) o governo dava 1 litro de leite diariamente para

uma população equivalente à população da Argentina à época.

Também vale chamar a atenção sobre a oferta dos benefícios ofertados pelo INSS (um

misto de Instituto de Aposentadoria e Instituto do Bem-Estar). São eles:

Aposentadoria

Pensão por morte

Auxílio-doença

Auxílio-reclusão

Auxílio-acidente

Auxílio-funeral

Salário-maternidade

Salário-família

Esta “matriz” esteve em vigor até 2014, quando assumiu o Governo, a Sra. Dilma

Rousseff. Ainda sob os efeitos da crise internacional de 2008, o governo adotou como

matriz econômica o incentivo ao consumo.

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1.4. A ‘NOVA MATRIZ ECONÔMICA” DO BRASIL (OU

MATRIZ CONSUMISTA)

No primeiro Governo da Sra. Dilma Vana Rousseff (01.01.2011 – 01.01.2014) ainda

para debelar os efeitos da crise internacional de setembro de 2008, efeitos estes que

foram agravados com a inércia do último Governo Lula, uma nova “matriz

macroeconômica” foi implantada no Brasil.

Para tanto, adotaram-se quatro vertentes de política pública: a) a parametrização dos

seguintes preços: preço do petróleo, preço da energia elétrica, preço dos aluguéis e a

taxa cambial; b) a oferta de crédito subsidiado; c) o incentivo ao consumo, e d) a

desoneração fiscal.

O problema do uso de preços administrados do petróleo, da energia elétrica e dos

aluguéis foi uma maneira de escamotear a inflação. Também manter o Real

sobrevalorizado foi um subterfúgio para baratear a importações (principalmente de

petróleo e de fertilizantes) e, consequentemente, escamotear a inflação.

No que diz respeito ao crédito subsidiado e à desoneração fiscal, principalmente os ônus

sobre o fator trabalho, o intento era incentivar a produção industrial, o que deveria

minorar a tendência de aumento dos preços e também minorar as perspectivas de baixo

crescimento do PIB para o País, já existentes àquela época.

Vale lembrar as perspectivas do então Ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando do

lançamento da nova matriz econômica do Brasil. Assim eram as expectativas do

Ministro:

A despeito do crescimento abaixo do previsto por nós e por todos

os analistas, 2012 foi um ano extremamente importante para o

futuro da economia brasileira. A recuperação de taxas mais

vigorosas de crescimento do PIB já está em curso e isso ficará claro

em 2013. Mas o mais importante é que estão fixadas as bases

para que o Brasil tenha taxas elevadas de crescimento por

muitos anos, melhorando o emprego, a renda e diminuindo as

desigualdades que subsistem em nosso país[grifos do autor].

Mantega, 2012, p.

Antes de se analisar como se comportou a economia brasileira após 2011, é importante

que se entenda como a política econômica foi conduzida pelo Governo da União.

O problema da administração do preço dos derivados de petróleo (óleo diesel, gasolina e

gás de cozinha) no Brasil não levou em conta que grande parte do petróleo utilizado

para esses fins é importada pelo País. Para minimizar este problema o governo atuou

sobre o mercado de câmbio, mantendo o Real sobrevalorizado. Aqui vale chamar a

atenção que o Banco Central (BACEN) sempre argumenta que o câmbio no Brasil é

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flutuante. Neste País o mercado de câmbio é controlado pelo BACEN que, vez por

outra, interfere neste mercado.

Desta forma, o controle dos preços dos derivados de petróleo diminuía o poder a

PETROBRAS em aumentar seu poder de investimento, pois que os preços cobrados

eram menores do que deveriam ser, por força da política de administração dos preços.

Na Tabela 1, são mostradas as variações para os preços do Petróleo e da Gasolina e as

variações no INPC e na taxa de câmbio, no período dezembro de 2011 a outubro 2018.

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Tabela 1

Variações nos Preços do Petróleo da Gasolina, no INPC e na Taxa Cambial

Dezembro 2011 – Outubro 2018

Fontes: a) IBGE https://www.ibge.gov.br; b) https://indexmundi.com/pt/preços-de-mercado

VARIÁVEIS

PETRÓLEO

GASOLINA

INPC

TAXA CAMBIAL

DATA PREÇOS VARIAÇÃO PREÇOS

VARIAÇÃO

VARIAÇÃO COTAÇÃO VARIAÇÃO

dez 2011 104,23 .... 2,63 ... 6,08 1,837 ....

dez 2012 101,19 -0,03 2,73 3,80 6,20 2,080 13,23

dez 2013 105,48 1,04 2,74 0,37 5,56 2,345 12,74

dez 2014 60,70 -42,0 1,68 -38,69 6,22 2,644 12,75

dez2015 44,13 -27,0 1,28 -23,81 11,29 3,869 46,33

dez2016 44,88 1,02 1,63 27,34 6,57 3,351 -13,39

dez2017 45,04 1,00 1,76 7,98 2,06 3,297 -1,61

out 2018 49,29 9,44* 2,03 15,34 2,82** ..... ...

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Como se pode ver, tomada a gasolina como representante da política de administração

dos preços dos derivados de petróleo, as variações dos preços desse derivado não

apresentam qualquer correlação com as variações nos preços do petróleo, nem com as

variações da taxa cambial e muito menos com a variação do INPC.

No que diz respeito ao subsídio no crédito, através da manipulação da taxa de juros, no

caso, da Taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação de Custódia), que é taxa

considerada pelo BACEN como a taxa referencial do sistema financeiro nacional.

Na verdade, ela é um sistema do BACEN que registra todas as operações relacionadas

aos títulos escriturais do Tesouro Nacional.

Mas o crédito a taxas menores resultou em um aumento do consumo e não no aumento

significativo dos investimentos.

Na Tabela 2, apresenta-se o comportamento do Consumo das Famílias (CF) e da

Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), no período 2010 a 2016, que corresponde ao

último ano do Governo Lula e ao último ano do segundo Governo Dilma Rousseff..

Tabela 2

Contas nacionais

Consumo das Famílias e Formação Bruta de Capital Fixo

Anos

Variáveis

Consumo das Famílias Formação Bruta de Capital Fixo

Valor Variação Valor Variação

2010 2.137.260 ... 750.347 ...

2011 2.392.915 11,96 852.478 13,61

2012 2.663.159 11,29 908.951 6,62

2013 2.987.018 12,16 1.055.584 16,13

2014 3.286.360 10,02 1.148.453 8,80

2015 3.441.647 4,73 988.284 -13,95

2016 3.604.828 4,74 939.681 -4,96 Fonte: IBGE – Contas Nacionais. Nota: Os Valores estão todos a preços constantes.

Como se pode verificar, em 2011 tanto o consumo das famílias (CF), quanto a formação

bruta de capital fixo (FBKF) apresentaram comportamento ascendente, este último com

crescimento maior que o primeiro.

Entretanto, a partir de 2012, esse comportamento já começa a modificar, mostrando que

o crescimento do CF (exceção para 2013) excede o crescimento da FBKF, e, mais

importante, esta última variável apresenta comportamento negativo nos dois últimos

anos da série.

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Vale ressaltar que as contas públicas do governo federal começaram a apresentar

déficits cada vez mais crescentes. Era o “estado do bem-estar” cobrando seu preço.

Desta forma, o baixo crescimento dos investimentos e a desorganização das contas

públicas brasileiras determinaram a crise em que a economia brasileira está envolta até

o presente.

Para corroborar a assertiva acima, apresenta-se o Quadro 1 onde são mostrados os

comportamentos do PIB e do PIB per capita, para o período 2008/2018.

Como se pode verificar, em 2008 tanto o PIB quanto o PIB per capita apresentaram

comportamento positivo.

Mas em 2009 ambos mostram decrescimento. Naturalmente isto foi devido à crise de

setembro de setembro de 2008.

Mas o que chama mais atenção é o crescimento pífio do PIB na maioria dos anos do

período analisado.

Desta Forma, o ex-ministro Guido Mantega é um péssimo profeta.

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Quadro 1

COMPORTAMENTO DO PIB E DO PIB PER CAPITA DO BRASIL

2008-2018

Ano PIB nominal (R$

mil) PIB real (R$ mil)

Variação do

PIB real

PIB

nominal per

capita(R$/hab)

PIB real per

capita(R$/hab.)[

Variação

do PIB

real per

capita[

Governo

2018 - - 3,5%

[25] ~ 2,5%

[26]

(estimativa)

- - -

Governo

Michel

Temer

2017 6.558.194.000,00[27]

2.054.969.0000,00[27]

0,98%[27][28]

31.587,00[29]

9.689,00 0,2%[29]

2016 6.266.895.000,00 1.751.920.000,00 -3,59% 30.179,67 8.436,80 -4,4%

2015 6.000.572.000,00 1.817.242.668,00 -3,77% 28.870,07 8.743,15 -4,59%

Governo

Dilma

Rousseff

2014 5.778.952.000,00 1.888.422.067,00 0,50% 28.042,56 9.163,63

2013 5.331.619.000,00 1.878.952.863,00 3,00% 26.102,20 9.198,86 2,07%

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Ano PIB nominal (R$

mil) PIB real (R$ mil)

Variação do

PIB real

PIB

nominal per

capita(R$/hab)

PIB real per

capita(R$/hab.)[

Variação

do PIB

real per

capita[

Governo

2012 4.814.760.000,00 1.824.139.914,00 1,92% 23.788,15 9.012,48 0,97%

2011 4.376.382.000,00 1.789.756.011,00 3,97% 21.825,43 8.925,68 2,99%

2010 3.885.847.000,00 1.721.342.536,00 7,53% 19.564,80 8.666,76 6,49%

Governo

Lula

2009 3.333.039.000,00 1.600.828.582,00 -0,13% 16.944,67 8.138,37 -1,11%

2008 3.109.803.000,00 1.602.846.133,00 5,09% 15.966,56 8.229,44 4,02%

Adaptada de Samuel Pessoa, O Impacto da Nova Matriz Econômica sobre a Economia: Resposta a Bráulio. Em https://blogdoibre.fgv.br/ . 29/07/2017

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2 Duas Matrizes para Análise do Comportamento de um Sistema Econômico.

Na Matriz 1,trabalha-sde com 12 variáveis. Quatro são os preços fundamentais de

qualquer sistema econômico: o preço dos bens, o preço do capital, o preço do fator

trabalho e o preço da moeda nacional. As outras oito são as variáveis macroeconômicas

da Contabilidade Nacional e a que representa os Meios de Pagamento, São elas:

i. p = índice geral de preços;

ii. r = taxa interna de juros

iii. s = salários

iv. 𝜋 = 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑐𝑎𝑚𝑏𝑖𝑎𝑙

v. G = Governo

vi. C = Consumo

vii. I = Investimento

viii. X = Exportação

ix. M = Importação

x. M1 = Meios de Pagamentos

xi. SBPc/c = Saldo do Balanço de Pagamentos em Conta Corrente

xii. Y = P I B,

xiii.

Foram analisados os efeitos tanto para o aumento quanto para a diminuição dos preços

fundamentais.

Aqui a seta " ↓ " significa diminuição e a seta “↑ " significa aumento. O símbolo “ ....”

significa “não tem efeito” e o símbolo “?” significa que pode ser qualquer efeito

comportamental.

O importante de se notar na Matriz 1 nesta representação de “matriz” é que mudanças

simultâneas com efeitos contrários impede que se faça um prognóstico acertado do que

pode ocorrer na economia.

Por exemplo, se o governo aumenta a taxa cambial e aumenta o salário, qual será o

resultado sobre o PIB? A resposta é inconclusiva.

Na matriz 2, as variáveis trabalhadas são as funções macroeconômicas e as variáveis

adicionais são:

N – Emprego

Ms – Moeda especulativa

Mt – Moeda para Transação

w/p – Salário Real

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MATRIZ 1

OS EFEITOS DE VARIAÇÕES NOS PARÂMETROS DA ECONOMIA

VARIAÇÕES

NOS

PARÂME

TROS

POSSÍVEIS MUDANÇAS NAS VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS

C

I

G

X

M

M1

SBPC/C/

Y

p ↑ ↓ ↓ ↑ ↓ ↑ …. ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↓ ↑

r ↑ ↓ ↓ ↑ ↓ ↑ ↑ ↓ ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↓ ↑

s ↑ ↓ ↑ ↓ ↓ ↑ ↑ ↓ ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↑ ↓

π ↑ ↓ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↑ ↓ ↓ ↑ ↑ ↓ ? ? ↓ ↑

G ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ...... ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↑ ↓

X ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ? ? ....... ? ? ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓

M ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ? ? ? ? ...... ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ↑

M1 ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ? ? ↑ ↓ ....... ? ? ↑ ↓

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MATRIZ 2

EFEITOS DAS VARIAÇÕES NAS FUNÇÕES ECONÔMICAS

VARIAÇÕES NAS FUNÇÕES MACROECONÔMICAS MUDANÇAS NAS VARIÁVEIS

Y N w/p r Ms Mt p w s i

A FUNÇÃO POUPANÇA SE DESLOCA PARA

- DIREITA

- ESQUERDA

-

-

-

OS MEIOS DE PAGAMENTO SE EXPANDEM

SE CONTRAEM

- - - - - ↑

-

-

A FUNÇÃO OFERTA DA MÃO DE OBRA SE DESLOCA PARA

- DIREITA

- ESQUERDA

-

-

-

-

-

A FUNÇÃO INVESTIMENTO SE DESLOCA

- DIREITA

- ESQUERDA

-

-

-

O INVERSO DA VELOCIDADE-RENDA

- AUMENTA

-DIMINUI

-

-

-

-

-

-

-

-

A FUNÇÃO DEMANDA ESPECULATIVA SE DESLOCA PARA

- CIMA

- BAIXO

-

-

-

-

-

-

AS PRODUTIVIDADES MARGINAL E MÉDIA

- AUMENTAM

- DIMINUEM

-

-

-

-

-

16

A ideia em mostrar essas matrizes foi chamar a atenção para os alunos de economia que

nem sempre é possível se chegar a um resultado líquido e certo quando uma ou mais

variáveis são modificadas pelo governo.

Chama-se a atenção que o setor financeiro de um sistema econômico tem um papel

fundamental para se analisar o equilíbrio de tal sistema, mas não se pode conjecturar

sobre o efeito de mudanças simultâneas na taxa de juros e na taxa cambial no mercado,

porque o comportamento do especulador financeiro é completamente desconhecido a

priori. Nem mesmo ele sabe como agirá ao longo do seu dia.

17

BIBLIOGRAFIA

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