Upload
dangliem
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
AS MATRIZES ECONÔMICAS DA POLÍTICA BRASILEIRA
Pedro Jorge Ramos Vianna
Professor Titular da UFC. Aposentado
Teresa Lenice Nogueira da Gama Mota
Prof. Dra. da Faculdade Luciano Feijão
0. INTRODUÇÃO
No presente estudo, espera-se mostrar como a economia brasileira tem sido estruturada
dentro de diversas e diferentes “matrizes econômicas”. A ênfase será dada à “Nova
Matriz Econômica” do último governo do Partido dos Trabalhadores, o Governo de
Dilma Rousseff.
Também será apresentada duas “matrizes” onde serão mostradas as diversas
modificações nas variáveis ou parâmetros econômicos, quando alguma política
econômica os modifica (matriz 1), bem como como variarão as variáveis econômicas
quando houver mudança em alguma função macroeconômica variar (matriz 2).
Mas antes é necessário entender o que seria uma “matriz econômica”.
O vocábulo “matriz” tem várias conotações: a conotação matemática, a conotação
comercial, a conotação católica, a conotação de “fundamental”. Mas existem muitos
outros conceitos.
No caso da concepção de “matriz econômica”, a conotação é de fundamental. Assim, no
sistema econômico a “matriz” diz respeito aos pilares da política econômica adotada.
Considerando que o que se chama matriz em economia diz respeito ao arcabouço
fundamental da política econômica, talvez o primeiro estudo que se possa chamar de
matriz econômica seja o Tableau Économique de François Quesnay, publicado em 1759
(Quesnay, 1983). Neste trabalho, Quesnay (Quesnay, 1983) tenta mostrar a interação
entre os agentes econômicos, em forma de fluxos de produtos.
Também talvez se possa dizer que o segundo grande trabalho envolvendo o que seria
uma “matriz econômica”, seja o trabalho de Léon Walras, publicado em 1874 (Walras,
1983)
Nesse trabalho, Walras (Walras, 1983) tenta estabelecer um modelo de equilíbrio geral
envolvendo consumidores e produtores.
Mas ao longo do tempo muitos trabalhos acadêmicos em economia podem ser
chamados de “matriz econômica”. Tem-se, por exemplo, o que passou a ser chamado o
modelo IS-LM, de John Richard Hicks, publicado em 1937 (Hicks, 1937). Ou o
2
trabalho de R. Mundell, publicado em 1962 (Mundell, 1962). Ou, ainda, as
contribuições de Simon Kuznets (Kuznets,1942) e Richard Stone (Stone, 1959).
Como o objetivo deste artigo não é fazer um “survey” do desenvolvimento do conceito
de “matriz econômica”, se chama a atenção, por último, para a contribuição de Wassily
Leontief, editada em 1966 (Leontief, 1983)
A consolidação do que seria uma “matriz econômica” se deu com trabalho de Wassily
Leontief, publicado em 1966 (Leontief, 1983). Esse autor, pela primeira vez, utilizou
um aparato matricial matemático, a matriz insumo-produto, para explicar o
funcionamento dos sistemas produtivos e distributivos de uma economia.
Feita esta pequena resenha dos sistemas precursores de matriz econômica, pode-se
começar uma rápida descrição das matrizes econômicas utilizadas pelos governos
brasileiros, dando-se ênfase, como já explicado à “nova matriz econômica”, assim
denominada a política econômica do Governo Dilma Vana Rousseff..
Isso é o que se fará a seguir.
Ao se analisar a economia brasileira no após guerra, período no qual se começa a pensar
a economia do País de maneira mais acadêmica, pode-se dizer que o seu sistema
econômico “adotou” várias “matrizes”.
1. RESENHA DAS MATRIZES ECONÔMICAS ADOTAS PELO BRASIL.
1945-2008.
1.1. A MATRIZ CEPALINA
A primeira delas foi a Matriz Cepalina. Sob a influência de Raul Prebish (Prébisch,
1949, 1950). A “matriz econômica” para a américa latina era baseada na teoria da
disparidade centro-periferia ou a teoria da substituição de importação. Para isso, todo o
esforço do governo na área econômica era para promover a industrialização do País.
Esta concepção, no caso do Brasil, realmente incentivou a industrialização do País. Mas
esta política, baseada em subsídios ao setor criou uma indústria ineficiente, motivada
pela proteção aduaneira instalada.
Ainda como exemplo de falhas na adoção da tese Cepalina, vale lembrar o processo de
industrialização do Nordeste do Brasil. Este processo começou a ser estruturado com
pelo Economista Celso Monteiro Furtado, em 1958, com o documento “Uma Política
de Desenvolvimento para Nordeste”, no Governo do Presidente Juscelino Kubitschek e
complementado com o trabalho “A Operação Nordeste” (Furtado, 1959).
As idéias de Celso Furtado, embora brilhantes, ensejou a que se praticasse um grosseiro
erro de concepção do planejamento para a Região Nordeste, haja vista que o processo
de industrialização da Região, foi baseado no modelo econômico de Harrod-Domar,
3
onde o capital é o fator decisivo para o crescimento. Ver Pedro Vianna (Vianna, 1978,
2017)
Tendo o capital como a base de tudo, foi concebido um sistema de incentivos fiscais,
via imposto de renda (Artigos 34/18, da SUDENE e FINOR, também da SUDENE). O
resultado foi realmente a criação de muitas indústrias na Região, mas uma indústria à
semelhança da indústria sudestense, sem a exploração das capacidades econômicas do
Nordeste. Esta “matriz”, para o Brasil, permaneceu ativa entre 1945 a 1964. A política
para o desenvolvimento do Nordeste durou de 1952 a 1964.
Com o advento da Revolução de 31 de março de 1964, foi instalado no País o governo
Militar (1964-1985), e a “matriz econômica” foi totalmente modificada.
1.2. A MATRIZ DA CAPTAÇÃO DA POUPANÇA EXTERNA
O mote para a estruturação da matriz foi a captação de poupança externa. Assim, a
estrutura de todo o sistema econômico do Brasil foi modificado para utilizar a poupança
externa (endividamento) tendo em vista que a poupança nacional, algo em torno de
6,0% do PIB (à época) não permitia concretizar o sonho de o Brasil tornar-se uma
grande nação em termos mundiais.
O Governo Militar determinou que o País deveria crescer a taxas acima de 9,0% a.a. E
isso só seria possível com a captação de recursos no exterior. O que determinaria o
crescimento acentuado das exportações do País.
Para tanto, foram adotadas diversas políticas voltadas para beneficiar as exportações,
como a política cambial, a política tributária e a política de promoção das exportações.
E o aumento das exportações realmente foi substancial.
Entretanto, não se podem esquecer os efeitos deletérios de tal “matriz”. Em artigo
publicado pela Confederação Nacional da Indústria-CNI, em 1984, este autor mostrou
como a adoção da “matriz captação de poupança externa” trouxe a industrialização para
o Brasil. De fato, naquele artigo, assim foi analisado o resultado dessa matriz (Vianna.
1984, pag. 11)
“Podemos dizer que a política cambial em conjugação com a política tarifária e
a política e promoção das exportações foram fundamentais para o expressivo
acréscimo apresentado pelas exportações de produtos industrializados
brasileiros. De fato, o Brasil passou de uma exportação de industrializados, em
1964, de US$155.8 milhões para US$11.8 bilhões em 1983. Esses produtos
evoluíram do patamar de 11% em 1964 para o de 59%, em 1983. Foi um
crescimento, sem dúvida, bastante expressivo. Mas, a que preço?”
O problema foi este: o preço a ser pago por tal “sucesso”.
O resultado foi um endividamento crescente, com “spreads” e taxas de juros cada vez
mais altas. Mas o mais importante resultado deletério foi a “década perdida” (a dos anos
4
oitentas), durante a qual o crescimento do Brasil apresentou, ano a ano, taxas pífias. O
sonho havia virado pesadelo.
E isto de seu como resultado da política de endividamento experto ou da “absorção da
poupança externa”.
Para justificar tal política o Governo criou o conceito de “hiato de recursos reais”, para
medir a necessidade de captação de recursos externos e os indicadores “Coeficiente de
Proteção”, “Índice de Capacidade de Pagamento”, “Índice de Liquidez”. Todos
manipulados pelo Governo para enganar a população.
Vale agora, citar as observações apresentadas por este autor em publicação de 1979
(Vianna, 1979). Naquela publicação está argumentado:
“Será interessante fazer-se, agora, uma comparação entre os valores do “hiato
de recursos reais” e a entrada líquida de capitais estrangeiros no Brasil, isto
porque a contrapartida do déficit em conta corrente é dita ser o superávit na
conta de Capitais Autônomos (quando não há variações na conta Capitais
Compensatórios). Esses capitais, cobrindo os déficits em conta corrente, são
tidos como uma captação de recursos externos que financiarão investimentos
nacionais. A validade desse argumento já foi discutida, mas uma comparação
entre as entradas líquidas externos e a medida do “hiato de recursos reais”
poderia fornecer alguma indicação do acerto de tal política. A Tabela VIII,
construída com os dados das Tabelas V e VII e apresentando, ainda, o saldo do
Balanço de Pagamentos em Conta Corrente, mostra a magnitude do “excesso de
poupança” captado pela economia nacional.
Como pode ser observado, a “Poupança Captada” é bastante superior ao “hiato”
em todos os anos do período estudado, à exceção, apenas, do ano de 1962,
quando houve um excesso de investimento. Mesmo quando se compara a
entrada líquida de capitais com o Saldo do balanço de Pagamentos em Conta
Corrente, esse excesso de Poupança se verifica, excetuando-se os anos de 1962,
1963, 1967, 1974 e 1975. Ressalte-se que o saldo do Movimento de Capitais
Autônomos engloba o item “Amortizações”, o que indica que, na realidade, o
excesso de poupança captada é bem superior aos valores do “hiato de recursos
“reais” acima calculados.” Vianna, 1979, p. 887.
Ainda sobre este assunto ver P. J. R. Vianna (Vianna, 1984). Vale aqui reescrever
algumas conclusões daquele trabalho:
a) “A conclusão a que se chega, então, é que houve uma política inconsequente
de endividamento. Isto se nos ativermos ao argumento do “hiato de recursos
reais”. Entretanto, sabemos que o Brasil se endividou não só para fechar tal
“hiato”, mas, também, para financiar grandes projetos nacionais.”
5
b) Dentro deste contexto de mau uso das estatísticas e de argumentos falaciosos
era muito difícil para a sociedade brasileira pressentir a bancarrota que se
avizinhava.” V
Mas mesmo durante o pesadelo da “década perdida”, o Congresso Nacional aprovou,
em 1988, a 7ª Constituição do Brasil. A mais dadivosa Constituição do País, onde as
obrigações do Governo se multiplicaram via política social, mesmo quando o sistema
econômico não produzia riquezas para sustentar tal política.
Esta passou a ser a Matriz do Bem-Estar Social no Brasil.
1.3. A MATRIZ DO BEM-ESTAR SOCIAL
Dentro dessa nova matriz que pode-se dizer, constitucionalizada, a do sistema
econômico do bem-estar social, o governo passou a oferecer, obrigatoriamente,
educação e saúde universal para toda a população. Para este último tópico cometeu-se
um erro grosseiro. Tal obrigatoriedade da oferta de saúde universal do Governo foi
parcialmente transferida para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Assim,
um sistema que deveria ser regido por critérios atuariais, passou a ser um emaranhado
de benefícios não cobertos pelas receitas dos contribuintes. E o Sistema praticamente
faliu. O “déficit” da Previdência, em 2018, já está ao derredor de R$200,0 bilhões ao
ano e a tendência é crescente.
Para se ter uma ideia do que foi oferecido ao povo, basta lembrar que no Governo de
José Sarney (15.03.1985 - 15.03.1990) o governo dava 1 litro de leite diariamente para
uma população equivalente à população da Argentina à época.
Também vale chamar a atenção sobre a oferta dos benefícios ofertados pelo INSS (um
misto de Instituto de Aposentadoria e Instituto do Bem-Estar). São eles:
Aposentadoria
Pensão por morte
Auxílio-doença
Auxílio-reclusão
Auxílio-acidente
Auxílio-funeral
Salário-maternidade
Salário-família
Esta “matriz” esteve em vigor até 2014, quando assumiu o Governo, a Sra. Dilma
Rousseff. Ainda sob os efeitos da crise internacional de 2008, o governo adotou como
matriz econômica o incentivo ao consumo.
6
1.4. A ‘NOVA MATRIZ ECONÔMICA” DO BRASIL (OU
MATRIZ CONSUMISTA)
No primeiro Governo da Sra. Dilma Vana Rousseff (01.01.2011 – 01.01.2014) ainda
para debelar os efeitos da crise internacional de setembro de 2008, efeitos estes que
foram agravados com a inércia do último Governo Lula, uma nova “matriz
macroeconômica” foi implantada no Brasil.
Para tanto, adotaram-se quatro vertentes de política pública: a) a parametrização dos
seguintes preços: preço do petróleo, preço da energia elétrica, preço dos aluguéis e a
taxa cambial; b) a oferta de crédito subsidiado; c) o incentivo ao consumo, e d) a
desoneração fiscal.
O problema do uso de preços administrados do petróleo, da energia elétrica e dos
aluguéis foi uma maneira de escamotear a inflação. Também manter o Real
sobrevalorizado foi um subterfúgio para baratear a importações (principalmente de
petróleo e de fertilizantes) e, consequentemente, escamotear a inflação.
No que diz respeito ao crédito subsidiado e à desoneração fiscal, principalmente os ônus
sobre o fator trabalho, o intento era incentivar a produção industrial, o que deveria
minorar a tendência de aumento dos preços e também minorar as perspectivas de baixo
crescimento do PIB para o País, já existentes àquela época.
Vale lembrar as perspectivas do então Ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando do
lançamento da nova matriz econômica do Brasil. Assim eram as expectativas do
Ministro:
A despeito do crescimento abaixo do previsto por nós e por todos
os analistas, 2012 foi um ano extremamente importante para o
futuro da economia brasileira. A recuperação de taxas mais
vigorosas de crescimento do PIB já está em curso e isso ficará claro
em 2013. Mas o mais importante é que estão fixadas as bases
para que o Brasil tenha taxas elevadas de crescimento por
muitos anos, melhorando o emprego, a renda e diminuindo as
desigualdades que subsistem em nosso país[grifos do autor].
Mantega, 2012, p.
Antes de se analisar como se comportou a economia brasileira após 2011, é importante
que se entenda como a política econômica foi conduzida pelo Governo da União.
O problema da administração do preço dos derivados de petróleo (óleo diesel, gasolina e
gás de cozinha) no Brasil não levou em conta que grande parte do petróleo utilizado
para esses fins é importada pelo País. Para minimizar este problema o governo atuou
sobre o mercado de câmbio, mantendo o Real sobrevalorizado. Aqui vale chamar a
atenção que o Banco Central (BACEN) sempre argumenta que o câmbio no Brasil é
7
flutuante. Neste País o mercado de câmbio é controlado pelo BACEN que, vez por
outra, interfere neste mercado.
Desta forma, o controle dos preços dos derivados de petróleo diminuía o poder a
PETROBRAS em aumentar seu poder de investimento, pois que os preços cobrados
eram menores do que deveriam ser, por força da política de administração dos preços.
Na Tabela 1, são mostradas as variações para os preços do Petróleo e da Gasolina e as
variações no INPC e na taxa de câmbio, no período dezembro de 2011 a outubro 2018.
8
Tabela 1
Variações nos Preços do Petróleo da Gasolina, no INPC e na Taxa Cambial
Dezembro 2011 – Outubro 2018
Fontes: a) IBGE https://www.ibge.gov.br; b) https://indexmundi.com/pt/preços-de-mercado
VARIÁVEIS
PETRÓLEO
GASOLINA
INPC
TAXA CAMBIAL
DATA PREÇOS VARIAÇÃO PREÇOS
VARIAÇÃO
VARIAÇÃO COTAÇÃO VARIAÇÃO
dez 2011 104,23 .... 2,63 ... 6,08 1,837 ....
dez 2012 101,19 -0,03 2,73 3,80 6,20 2,080 13,23
dez 2013 105,48 1,04 2,74 0,37 5,56 2,345 12,74
dez 2014 60,70 -42,0 1,68 -38,69 6,22 2,644 12,75
dez2015 44,13 -27,0 1,28 -23,81 11,29 3,869 46,33
dez2016 44,88 1,02 1,63 27,34 6,57 3,351 -13,39
dez2017 45,04 1,00 1,76 7,98 2,06 3,297 -1,61
out 2018 49,29 9,44* 2,03 15,34 2,82** ..... ...
9
Como se pode ver, tomada a gasolina como representante da política de administração
dos preços dos derivados de petróleo, as variações dos preços desse derivado não
apresentam qualquer correlação com as variações nos preços do petróleo, nem com as
variações da taxa cambial e muito menos com a variação do INPC.
No que diz respeito ao subsídio no crédito, através da manipulação da taxa de juros, no
caso, da Taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação de Custódia), que é taxa
considerada pelo BACEN como a taxa referencial do sistema financeiro nacional.
Na verdade, ela é um sistema do BACEN que registra todas as operações relacionadas
aos títulos escriturais do Tesouro Nacional.
Mas o crédito a taxas menores resultou em um aumento do consumo e não no aumento
significativo dos investimentos.
Na Tabela 2, apresenta-se o comportamento do Consumo das Famílias (CF) e da
Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), no período 2010 a 2016, que corresponde ao
último ano do Governo Lula e ao último ano do segundo Governo Dilma Rousseff..
Tabela 2
Contas nacionais
Consumo das Famílias e Formação Bruta de Capital Fixo
Anos
Variáveis
Consumo das Famílias Formação Bruta de Capital Fixo
Valor Variação Valor Variação
2010 2.137.260 ... 750.347 ...
2011 2.392.915 11,96 852.478 13,61
2012 2.663.159 11,29 908.951 6,62
2013 2.987.018 12,16 1.055.584 16,13
2014 3.286.360 10,02 1.148.453 8,80
2015 3.441.647 4,73 988.284 -13,95
2016 3.604.828 4,74 939.681 -4,96 Fonte: IBGE – Contas Nacionais. Nota: Os Valores estão todos a preços constantes.
Como se pode verificar, em 2011 tanto o consumo das famílias (CF), quanto a formação
bruta de capital fixo (FBKF) apresentaram comportamento ascendente, este último com
crescimento maior que o primeiro.
Entretanto, a partir de 2012, esse comportamento já começa a modificar, mostrando que
o crescimento do CF (exceção para 2013) excede o crescimento da FBKF, e, mais
importante, esta última variável apresenta comportamento negativo nos dois últimos
anos da série.
10
Vale ressaltar que as contas públicas do governo federal começaram a apresentar
déficits cada vez mais crescentes. Era o “estado do bem-estar” cobrando seu preço.
Desta forma, o baixo crescimento dos investimentos e a desorganização das contas
públicas brasileiras determinaram a crise em que a economia brasileira está envolta até
o presente.
Para corroborar a assertiva acima, apresenta-se o Quadro 1 onde são mostrados os
comportamentos do PIB e do PIB per capita, para o período 2008/2018.
Como se pode verificar, em 2008 tanto o PIB quanto o PIB per capita apresentaram
comportamento positivo.
Mas em 2009 ambos mostram decrescimento. Naturalmente isto foi devido à crise de
setembro de setembro de 2008.
Mas o que chama mais atenção é o crescimento pífio do PIB na maioria dos anos do
período analisado.
Desta Forma, o ex-ministro Guido Mantega é um péssimo profeta.
11
Quadro 1
COMPORTAMENTO DO PIB E DO PIB PER CAPITA DO BRASIL
2008-2018
Ano PIB nominal (R$
mil) PIB real (R$ mil)
Variação do
PIB real
PIB
nominal per
capita(R$/hab)
PIB real per
capita(R$/hab.)[
Variação
do PIB
real per
capita[
Governo
2018 - - 3,5%
[25] ~ 2,5%
[26]
(estimativa)
- - -
Governo
Michel
Temer
2017 6.558.194.000,00[27]
2.054.969.0000,00[27]
0,98%[27][28]
31.587,00[29]
9.689,00 0,2%[29]
2016 6.266.895.000,00 1.751.920.000,00 -3,59% 30.179,67 8.436,80 -4,4%
2015 6.000.572.000,00 1.817.242.668,00 -3,77% 28.870,07 8.743,15 -4,59%
Governo
Dilma
Rousseff
2014 5.778.952.000,00 1.888.422.067,00 0,50% 28.042,56 9.163,63
2013 5.331.619.000,00 1.878.952.863,00 3,00% 26.102,20 9.198,86 2,07%
12
Ano PIB nominal (R$
mil) PIB real (R$ mil)
Variação do
PIB real
PIB
nominal per
capita(R$/hab)
PIB real per
capita(R$/hab.)[
Variação
do PIB
real per
capita[
Governo
2012 4.814.760.000,00 1.824.139.914,00 1,92% 23.788,15 9.012,48 0,97%
2011 4.376.382.000,00 1.789.756.011,00 3,97% 21.825,43 8.925,68 2,99%
2010 3.885.847.000,00 1.721.342.536,00 7,53% 19.564,80 8.666,76 6,49%
Governo
Lula
2009 3.333.039.000,00 1.600.828.582,00 -0,13% 16.944,67 8.138,37 -1,11%
2008 3.109.803.000,00 1.602.846.133,00 5,09% 15.966,56 8.229,44 4,02%
Adaptada de Samuel Pessoa, O Impacto da Nova Matriz Econômica sobre a Economia: Resposta a Bráulio. Em https://blogdoibre.fgv.br/ . 29/07/2017
13
2 Duas Matrizes para Análise do Comportamento de um Sistema Econômico.
Na Matriz 1,trabalha-sde com 12 variáveis. Quatro são os preços fundamentais de
qualquer sistema econômico: o preço dos bens, o preço do capital, o preço do fator
trabalho e o preço da moeda nacional. As outras oito são as variáveis macroeconômicas
da Contabilidade Nacional e a que representa os Meios de Pagamento, São elas:
i. p = índice geral de preços;
ii. r = taxa interna de juros
iii. s = salários
iv. 𝜋 = 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑐𝑎𝑚𝑏𝑖𝑎𝑙
v. G = Governo
vi. C = Consumo
vii. I = Investimento
viii. X = Exportação
ix. M = Importação
x. M1 = Meios de Pagamentos
xi. SBPc/c = Saldo do Balanço de Pagamentos em Conta Corrente
xii. Y = P I B,
xiii.
Foram analisados os efeitos tanto para o aumento quanto para a diminuição dos preços
fundamentais.
Aqui a seta " ↓ " significa diminuição e a seta “↑ " significa aumento. O símbolo “ ....”
significa “não tem efeito” e o símbolo “?” significa que pode ser qualquer efeito
comportamental.
O importante de se notar na Matriz 1 nesta representação de “matriz” é que mudanças
simultâneas com efeitos contrários impede que se faça um prognóstico acertado do que
pode ocorrer na economia.
Por exemplo, se o governo aumenta a taxa cambial e aumenta o salário, qual será o
resultado sobre o PIB? A resposta é inconclusiva.
Na matriz 2, as variáveis trabalhadas são as funções macroeconômicas e as variáveis
adicionais são:
N – Emprego
Ms – Moeda especulativa
Mt – Moeda para Transação
w/p – Salário Real
14
MATRIZ 1
OS EFEITOS DE VARIAÇÕES NOS PARÂMETROS DA ECONOMIA
VARIAÇÕES
NOS
PARÂME
TROS
POSSÍVEIS MUDANÇAS NAS VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS
C
I
G
X
M
M1
SBPC/C/
Y
p ↑ ↓ ↓ ↑ ↓ ↑ …. ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↓ ↑
r ↑ ↓ ↓ ↑ ↓ ↑ ↑ ↓ ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↓ ↑
s ↑ ↓ ↑ ↓ ↓ ↑ ↑ ↓ ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↑ ↓
π ↑ ↓ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↑ ↓ ↓ ↑ ↑ ↓ ? ? ↓ ↑
G ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ...... ? ? ? ? ↑ ↓ ? ? ↑ ↓
X ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ? ? ....... ? ? ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓
M ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ? ? ? ? ...... ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ↑
M1 ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↓ ? ? ↑ ↓ ....... ? ? ↑ ↓
15
MATRIZ 2
EFEITOS DAS VARIAÇÕES NAS FUNÇÕES ECONÔMICAS
VARIAÇÕES NAS FUNÇÕES MACROECONÔMICAS MUDANÇAS NAS VARIÁVEIS
Y N w/p r Ms Mt p w s i
A FUNÇÃO POUPANÇA SE DESLOCA PARA
- DIREITA
- ESQUERDA
-
-
-
↓
↑
↑
↓
↓
↑
↓
↑
↓
↑
↑
↓
↑
↓
OS MEIOS DE PAGAMENTO SE EXPANDEM
SE CONTRAEM
- - - - - ↑
↓
↑
↓
↑
↓
-
-
A FUNÇÃO OFERTA DA MÃO DE OBRA SE DESLOCA PARA
- DIREITA
- ESQUERDA
↑
↓
↑
↓
↓
↑
-
-
-
↑
↓
↓
↑
-
-
A FUNÇÃO INVESTIMENTO SE DESLOCA
- DIREITA
- ESQUERDA
-
-
-
↑
↓
↓
↑
↑
↓
↑
↓
↑
↓
↑
↓
↑
↓
O INVERSO DA VELOCIDADE-RENDA
- AUMENTA
-DIMINUI
-
-
-
-
-
-
↓
↑
↓
↑
-
-
A FUNÇÃO DEMANDA ESPECULATIVA SE DESLOCA PARA
- CIMA
- BAIXO
-
-
-
-
↑
↓
↓
↑
↓
↑
↓
↑
-
-
AS PRODUTIVIDADES MARGINAL E MÉDIA
- AUMENTAM
- DIMINUEM
↑
↓
↑
↓
↑
↓
-
-
-
↓
↑
↑
↓
-
-
16
A ideia em mostrar essas matrizes foi chamar a atenção para os alunos de economia que
nem sempre é possível se chegar a um resultado líquido e certo quando uma ou mais
variáveis são modificadas pelo governo.
Chama-se a atenção que o setor financeiro de um sistema econômico tem um papel
fundamental para se analisar o equilíbrio de tal sistema, mas não se pode conjecturar
sobre o efeito de mudanças simultâneas na taxa de juros e na taxa cambial no mercado,
porque o comportamento do especulador financeiro é completamente desconhecido a
priori. Nem mesmo ele sabe como agirá ao longo do seu dia.
17
BIBLIOGRAFIA
Furtado, Celso M. ;.
Hicks, John Richard; “Mr. Keynes and the Classics. A Suggested Interpretation”. In
Econometrica, V. 5, pp. 147-159. April, 1937
Kuznets, Simon; “National Income and its Composition – 1919-1938”. In National
Bureau of Economic Research-NBER. Washington, 1942.
Mantega, G.; O Primeiro ano da Nova Matriz Econômica.
Valor Econômico. São Paulo, 19.12.2012
Pessoa, Samuel; O Impacto da Nova Matriz Econômica sobre a Economia:
Resposta a Bráulio. https://blogdoibre.fgv.br. Rio de Janeiro,
29/07/2017
MundelL, R. A.; “The Appropriate use of Monetary and Fiscal Policy for Internal and
External Stability”.In IMF Staff Papers, vol. 9, N. 1, pp. 70-79. March, 1962.
Prébisch, Raul; O Desenvolvimento Econômico da América Latina e seus Principais
Problemas. In Revista Brasileira de Economia, Vol. 3, pp. 47-111. FGV. Rio
de Janeiro, 1949.
Prébisch, Raul, Problemas Teóricos e Práticos del Crescimento Económico. CEPAL.
Santiago do Chile, 1950.
Quesnay, François; Quadro Econômico dos Fisiocratas. Coleção Os Economistas. Abril
Cultural. São Paulo, 1983
Stone, Richard; Um Sistema Simplificado de Contas Nacionais. OECD, 1950.
Stone, Richard, Um Sistema Padronizado de Contas Nacionais. OECD, 1952.
Vianna, Pedro J. R.; “Desenvolvimento do Nordeste. Análise e Alternativas’
Monografia que obteve o primeiro lugar no Segundo Concurso Interno de
Monografias do Banco do Nordeste do Brasil, em 1978. Republicado em Pedro
Jorge Ramos Vianna. Análise das Políticas Econômicas do Brasil. Editora
HBMDIGITAL. Fortaleza, 2017.
Vianna, Pedro J. R., “Política Externa Brasileira: Uma Análise Didática. Revista
Indústria e Produtividade. Coleção José Ermírio de Morais. Confederação
Nacional da Indústria-CNI. Rio de Janeiro, 1984.
Walras, Marie-Esprit Léon; Compêndio dos Elementos de Economia Política Pura.
Coleção os Economistas. Abril Cultural. São Paulo, 1983