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As palavras que nunca pude te dizer 15

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Em um ambiente oligárquico e opressor, no interior da Bahia, marcado pela violência dos ricos contra os humildes, Amadeu, um menino filho de família pobre e numerosa, se apaixona por Yancy, filha de um dos homens mais poderosos da região. Por causa da distância social em que os separava, e temendo a reação da família da menina, o amor que sentia por ela. Um canário, que em sua vida teve uma decepção amorosa, se torna seu amigo e decide ajudá-lo.

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São Paulo - 2016

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carlito palmeira dos santos

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Felippe Scagion

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Patricia de Almeida Murari

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

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S234p

Santos, Carlito Palmeira dos As palavras que nunca pude te dizer / Carlito Palmeira dos Santos ;- 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2016.

ISBN 978-85-437-0522-4

1. Romance brasileiro. I. Título.

16-30212 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

________________________________________________________________02/02/2016 02/02/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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“(...) Literatura fala ao historiador sobre a história que não ocorreu, sobre as possibilidades que não vigo-raram, sobre os planos que não se concretizaram. Ela é o testemunho triste, porém sublime dos homens que foram vencidos (...)”.

Nicolau Sevcenko. Literatura como Missão.

“A esperança não envelheceu.”Euclides Neto.

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DeDicatórias

À minha mãe Anália, por ter me gerado e abrigado no ventre. Devo-lhe a minha existência. Nos momentos de maiores sofrimentos e angústias, seu colo materno servia-me de proteção. Ao meu pai, Martinho (também chamado de Marto), — in memoriam —, homem sim-ples, semianalfabeto, mas possuidor de enorme sabe-doria de vida. Seus ensinamentos e exemplos práticos marcaram de forma indubitável a minha forma de viver e de ver o mundo. Embora hoje viva em outro plano existencial, continua mostrando-me direções corretas de viver. A ele dedico as palavras mais belas deste livro.

À minha esposa Áurea e ao meu filho Lucas por não terem reclamado em momento algum do precioso tempo que lhes furtei enquanto escrevia esta obra. Ao contrário, foram um porto seguro em momentos em que meu barco parecia navegar em destino ao naufrágio. A vocês dois meus agradecimentos especiais.

A Jurcy Sena e ao meu primo Gildate Palmeira por construirem personagens importantes neste trabalho.

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Aos meus tios Astrogildo (in memoriam) e Roberto Pinheiro por ter me apoiado em minha caminhada desde os tempos de minha infância. A todos, deixo aqui a mi-nha profunda gratidão.

A todas as minhas irmãs e irmãos, presentes de for-ma oculta neste trabalho. Agradeço-lhes com o coração inundado de emoção, pois, embora me encontrasse dis-tante deles enquanto escrevia, também são personagens presentes, uma vez que me lembrei muito de nossas labu-tas quando éramos crianças.

Ao meu primo Basílio Nery (in memoriam), e seus familiares na cidade de Aiquara-Ba, por terem me apoia-do em sua casa quando eu ainda era criança, favorecendo os meus primeiros anos de estudo.

As minhas primas Conça, Jô, Nita e Terê, da família Palmeira que me apoiaram em sua casa quando cheguei a São Paulo com uma pequena mala quase sem nada, mas com o coração repleto de esperanças em dias melhores. Também não poderia esquecer de oferecer a minha gra-tidão a Gileno Euportes dos Santos, por dividir comigo seu pequeno quarto onde já morava antes de minha che-gada a São Paulo em 1977.

À dona Ermita, seu esposo Edézio (in memoriam) e a Deli (Souza) por ter me dado muito apoio em meus mo-mentos de “quase desesperada desesperança”. A eles mi-nha gratidão. Seria injusto se não me lembrasse do apoio que Valdete Ribeiro me deu quando morei em sua casa por muitos anos e de lá só saí para minha própria casa. A ele e sua esposa Nilza, meu muito obrigado.

A alguns colegas professores e professoras com quem

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troquei algumas ideias a respeito deste trabalho e obti-ve valiosas inspirações. Ao professor e Psicanalista Mário César, por ter me influenciado com seu vírus da inte-lectualidade freudiana. Aos meus alunos e ex-alunos que sempre me incentivaram a seguir a dar passos para frente. Finalmente aos escritores Euclides Neto, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Lima Barreto, que me engravidaram de inspirações e ideias através de seus livros. A eles devo grande parte dessa obra.

Enfim, a todas as personagens ocultas que compõem este trabalho, mas por questões éticas, preferi que perma-necessem no anonimato.

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sumário

O Nascimento de Amadeu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Seu Benedito, pai de Amadeu: homem simples e sábio. . 17

Dona Berenice: a mãe protetora . . . . . . . . . . . . . . . . 21

A Infância de Amadeu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

A aproximação com Yancy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Amadeu Persegue seus ideais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Recomeçam as aulas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Um encontro feliz em uma noite enluarada. . . . . . . 45

O Reencontro com o canarinho . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Yancy torna-se professora de Amadeu. . . . . . . . . . . . 51

Amadeu enfrenta os poderosos da região. . . . . . . . . . 57

Amadeu retorna definitivamente à sua terra . . . . . . . 93

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o NascimeNto De amaDeu.

Eram duas horas de uma segunda-feira muito fria, na fazenda Bom Conselho, nas redondezas do povoado de Boa Esperança.

A lua minguante não iluminava as assombradas ma-tas na fazenda Bom Conselho, onde se ouvia mais gar-galhar de animais silvestres, do que palavras e gestos de seres humanos.

A escuridão daquela noite parecia prenunciar a con-turbada vida de um menino que acabara de vir ao mundo em um casebre muito pobre.

O menino nascera raquítico por causa da de-ficiência de nutrientes no ventre de sua mãe. Como consequência disso, já nos primeiros dias de sua vida, experimentara as amarguras que o destino reservava as crianças de origem social semelhante à sua. Uma mo-léstia da época, chamada de “mal dos sete dias”, atingi-ra sem piedade as células vitais do menino, tornando-o

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enfermo por quase trinta dias. Essa era uma patologia comum a quase todas as crianças filhas das camadas sociais paupérrimas de sua época. A doença que o me-nino contraíra estava relacionada ao modelo de parto utilizado em mães naquele período.

Na ocasião, existia na região grande quantidade de senhoras obstetras não oficiais conhecidas por “mães” parteiras. Amadeu foi um desses meninos que nasceram pelas mãos talentosas de uma dessas parteiras.

Na época não existia médico na região. Desampa-rados, os pais de Amadeu, que já tinham experimentado um embate com a morte, uma vez que haviam perdido uma de suas filhas com o mesmo mal, percebendo que Amadeu também iria em companhia da morte, recorrem a um dos principais instrumentos utilizados pelas pessoas pobres de sua época: a crença religiosa. Fazem uma pro-messa a um santo muito popular e de grande prestígio na região; um pacto religioso é selado entre os pais de Amadeu e o santo, prometendo, se a morte não levasse o menino, quando o mesmo melhorasse e pudesse viajar a caminhão, o levariam anualmente ao santuário do santo, bom Jesus da Lapa, durante sete anos consecutivos. E ao chegar ao santuário, diante da cruz de Cristo, rezariam inúmeros pai-nosso como forma de agradecimento pela continuidade da vida do menino. Na compreensão de vida dos pais de Amadeu, cada ano de visita ao santuário corresponderia a um dia de enfermidade em que o garoto enfrentou.

Segundo a crença popular da época, o sétimo dia era considerado decisivo na vida das crianças recém-nascidas

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que contraíam tal enfermidade. Se não morresse até o sétimo dia, estaria a salvo. Parece que o santo se comoveu com os fortes pedidos dos pais de Amadeu através da in-tercessão do padre Manoel, que mais tarde o batizaria, o menino ficou curado, afastando a possibilidade de cami-nhar para o outro mundo em companhia da morte. Pelo menos por enquanto ela voltou sozinha. No entanto, ci-catrizes profundas marcariam a vida física e sentimental do menino para o resto de sua vida.