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AS PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA DE LÂMPADAS: UM ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL LOCALIZADO NA REGIÃO SUL DO BRASIL RAFAEL MOZART DA SILVA (UFRGS ) [email protected] ELIANA TEREZINHA PEREIRA SENNA (UNICAMP ) [email protected] Guilherme Bergmann Borges Vieira (UCS ) [email protected] Luiz Afonso dos Santos Senna (UFRGS ) [email protected] O objetivo deste artigo foi verificar as práticas de logística reversa de pós- consumo das lâmpadas utilizadas por hospital de grande porte localizado na região sul do Brasil. Utilizou-se como estratégia o estudo de caso de caráter exploratório, onde foram realizadas entrevistas com os participantes do processo de logística reversa. Como resultado da pesquisa constatou-se que o hospital está comprometido em aprimorar os seus processos de logística reversa das lâmpadas e que as práticas realizadas pela organização vai ao encontro dos princípios e ações pesquisadas na teoria. Entende-se que este trabalho pode contribuir com novas pesquisas relacionadas à utilização da logística reversa. Palavras-chaves: Logística Reversa, Sustentabildiade, Meio Ambiente, Pós- Consumo XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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AS PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA DE

LÂMPADAS: UM ESTUDO DE CASO EM UM

HOSPITAL LOCALIZADO NA REGIÃO SUL DO

BRASIL

RAFAEL MOZART DA SILVA (UFRGS )

[email protected]

ELIANA TEREZINHA PEREIRA SENNA (UNICAMP )

[email protected]

Guilherme Bergmann Borges Vieira (UCS )

[email protected]

Luiz Afonso dos Santos Senna (UFRGS )

[email protected]

O objetivo deste artigo foi verificar as práticas de logística reversa de pós-

consumo das lâmpadas utilizadas por hospital de grande porte localizado na

região sul do Brasil. Utilizou-se como estratégia o estudo de caso de caráter

exploratório, onde foram realizadas entrevistas com os participantes do

processo de logística reversa. Como resultado da pesquisa constatou-se que o

hospital está comprometido em aprimorar os seus processos de logística

reversa das lâmpadas e que as práticas realizadas pela organização vai ao

encontro dos princípios e ações pesquisadas na teoria. Entende-se que este

trabalho pode contribuir com novas pesquisas relacionadas à utilização da

logística reversa.

Palavras-chaves: Logística Reversa, Sustentabildiade, Meio Ambiente, Pós-

Consumo

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

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1. Introdução

Nos ambientes globalizados e de alta competitividade, as empresas modernas reconhecem

cada vez mais que, além da busca pelo lucro em suas transações, se faz necessário atender a

uma variedade de interesses sociais, ambientais e governamentais, garantindo sua

lucratividade e seus negócios, satisfazendo desta forma os diferentes stakeholders que

avaliam a empresa sob diferentes perspectivas (LEITE, 2009).

Neste contexto, percebe-se que a logística empresarial, pelo seu potencial competitivo, vem

evoluindo ao longo das últimas décadas, e mais recentemente, o conceito de logística reversa

está assumindo um importante papel no cotidiano das organizações e também da população de

forma geral (PERONA e MIRAGLIOTTA, 2004; SASSI, 2006; LEITE, 2009).

Para Leite (2009), a logística reversa é a área da logística empresarial a qual planeja, opera e

controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-

venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de

distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas.

Através dos programas e práticas de logística reversa, as organizações podem substituir,

reutilizar, reciclar, descartar seus produtos de maneira eficiente e eficaz, atendendo não

somente as exigências dos clientes e parceiros, como também podendo cumprir as leis

(ROGERS, TIEBBEN-LEMBKE, 1999).

Neste contexto, percebe-se que organizações como os hospitais, são consumidores dos mais

diversos insumos, os quais são necessários para o desempenho de suas atividades e operações.

As práticas de relacionadas à logística reversa realizadas nesses ambientes necessitam serem

tratadas de forma adequada e exigem muita atenção dos diversos atores envolvidos. A falta de

um adequado sistema de logística reversa nas organizações hospitalares pode gerar sérios

danos para o meio ambiente.

O objetivo desta pesquisa foi verificar como um hospital localizado na cidade de Porto Alegre

realiza a logística reversa das lâmpadas utilizadas nas suas instalações. No escopo dos

insumos utilizados nas suas atividades, existem mais de 6.000 itens de consumo divididos em

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famílias como, materiais médicos, medicamentos, materiais de expediente, gêneros

alimentícios, uniformes e materiais de manutenção e conservação predial. Na família de

materiais de manutenção e conservação predial, as lâmpadas utilizadas nas suas instalações,

estão entre os itens de maior criticidade em relação ao pós-consumo da organização.

Na Seção 1 deste trabalho é apresentado o tema e uma breve contextualização do problema

investigado. Na Seção 2, apresenta-se o referencial teórico utilizado na pesquisa. A

metodologia de pesquisa é apresentada na Seção 3. Na Seção 4, apresenta-se o estudo de caso.

Por fim, na Seção 5, demonstram-se as conclusões e contribuições do trabalho, as quais

poderão ser utilizadas como hipóteses para novas pesquisas.

2. Referencial teórico

Nesta seção apresenta-se uma síntese dos principais conceitos e características relevantes

sobre a logística reversa e meio ambiente, visando dar sustentação teórica ao objetivo do

estudo proposto pela pesquisa.

2.1 Logística Reversa e Meio ambiente

Atingir a sustentabilidade ambiental exige mudanças de paradigmas sociais e também no

âmbito da gestão de negócios. Entender essas dificuldades como sendo um problema de toda a

sociedade significa ter consciência da magnitude desses conceitos e do impacto dessa

conscientização no alcance da gestão das empresas que estão empenhadas com o crescimento

sustentável (SHEU, 1996; STOCK et al., 1998)

O objetivo do desenvolvimento sustentável prima um crescimento econômico de forma a

minimizar respectivos impactos no meio ambiente. Dessa forma, é preciso aumentar o uso da

disponibilidade de recursos projetando produtos que, ao mesmo tempo, satisfaçam as

necessidades humanas não somente de modo imediato, mas também para as futuras gerações.

Projetar e produzir produtos que estão de acordo com as limitações ecológicas do planeta

também significam expandir o ciclo de vida dos produtos, de forma que, o reuso e o

reaproveitamento seja incorporado como praticas necessárias, tanto por exigências legais e

competitividade econômica como por conscientização para a sustentabilidade

(ARRIVABENE, SASSI, e ROMERO, 2011).

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De acordo com Rogers e Tibben-Lembke (1999), a logística reversa é o processo de

planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e de baixo custo de matérias-

primas, materiais em processo, produtos acabados e informações relacionadas desde o ponto

de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recuperar valor ou obter o descarte

apropriado.

Ao longo dos anos a logística restringiu parte de suas atividades a entrega dos produtos ao

cliente e os fabricantes não se sentiam responsáveis por seus produtos após a venda, porém

com a velocidade e aumento de descarte dos produtos em razão do consumo, disponibilidade

maior de mix, diminuição dos estoques, dentre outros fatores, percebe-se uma mudança e

preocupação ecológica dos consumidores, novas legislações ambientais, novos padrões de

competitividade de serviços ao cliente e as preocupações com a imagem corporativa tem

impulsionado cada vez mais a criação de canais reversos de distribuição que reduzam a

quantidade de produtos descartados no meio ambiente.

De acordo com Leite (2009), os canais de distribuição reversos (CDR´s) podem

compreendidos como canais reversos de Pós-Venda e Pós-Consumo. Apresenta-se abaixo de

forma sucinta uma breve explanação conceitual sobre os canais reversos:

Os canais reversos de Pós-Venda: são constituídos pelas diferentes formas e

possibilidades de retorno de uma parcela dos produtos, com pouco ou nenhum uso,

que fluem no sentido inverso, do consumidor ao varejista ou ao fabricante, do varejista

ao fabricante, entre as empresas motivadas por problemas relacionadas à qualidade em

geral ou a processos comerciais entre empresas, retornando ao ciclo de negócios de

alguma maneira;

Os canais reversos de Pós-Consumo: são constituídos pelo fluxo reverso de uma

parcela de produtos e de materiais constituintes originados no descarte dos produtos,

após finalizada sua utilidade original, retornam ao ciclo produtivo de alguma maneira,

sendo este canal desmembrado em três subsistemas: os canais reversos de reuso, de

remanufatura e de reciclagem.

Para Nascimento (2008), as questões ambientais podem ser ajustadas de forma simultânea

com com os processos operacionais do gerenciamento da cadeia de suprimentos, incluindo

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soluções de logística reversa. A logística reversa abrange os retornos e também as atividades

relacionadas aos itens de movimentação “para trás” (backwards) na cadeia de suprimentos ,

sendo que estes retornos tradicionalmente podem resultar de problemas, dificuldades ou erros

de venda e também decorrer dos níveis de estoque mínimos para atender os consumidores.

De acordo com Nascimento (2008), a redução dos impactos ambientais de uma empresa não

depende apenas de esforços organizacionais internos, pois produtos e os resíduos poluentes

também decorrem das características dos insumos adquiridos. Portanto, incrementar o

desempenho ambiental também significa unir esforços entre empresas compradoras e

fornecedoras.

3. Metodologia de Pesquisa

Conforme Marconi e Lakatos (2010), a pesquisa pode ser entendida como um procedimento

formal, com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se

constitui no caminho para que se conheça a realidade ou se descubra verdades parciais. Na

Figura 1 apresenta-se a estrutura metodológica utilizada para o desenvolvimento e aplicação

desta pesquisa:

Figura 1: Estrutura da metodologia de pesquisa

Fonte: elaborada pelos autores

Com base no exposto por Silva e Menezes (2005), afirma-se que, quanto à natureza, este

trabalho se classifica como uma pesquisa aplicada, pois objetiva gerar conhecimentos para

aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e

interesses locais.

No que se refere à forma de abordagem, esta pesquisa classifica-se como qualitativa. De

Metodologia de Pesquisa

Quanto a

Natureza

Pesquisa

Aplicada

Quanto a

Abordagem

Quanto ao

Objetivo

Exploratória

Procedimento

Técnico

Estudo de

Caso Qualitativa

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acordo com Creswell (2007), pesquisas com abordagem qualitativa têm como enfoque os

estudos em que as variáveis ainda são desconhecidas, pois é um método em que a quantidade

é substituída pela intensidade, mediante a análise de diferentes fontes que possam ser

cruzadas.

De acordo com as classificações de Gil (2010), quanto ao objetivo, classificou-se esta

pesquisa como exploratória, uma vez que busca-se uma maior familiaridade com o problema

e torná-lo mais explícito. Para Collins e Hussey (2005), a pesquisa exploratória objetiva

encontrar padrões, ideias ou hipóteses, pois utiliza-se um método mais aberto, onde o foco

está em reunir dados e impressões amplas sobre o fenômeno estudado.

O procedimento técnico utilizado neste trabalho foi o estudo de caso. Segundo Yin (2005), o

estudo de caso é uma forma de pesquisa que busca investigar um fenômeno contemporâneo

dentro de seu contexto e de uma realidade, especialmente quando os limites entre o fenômeno

e o contexto não estão claramente definidos.

A coleta de dados desta pesquisa ocorreu por meio de entrevistas em profundidade

semiestruturadas. As entrevistas foram realizadas na sede da empresa objeto desse estudo, em

um local apropriado para que os participantes ficassem a vontade para responder todas as

questões. As perguntas realizadas durante a entrevista foram estruturadas no formato de bloco

de perguntas, conforme a estrutura apresentada na Tabela 1:

Tabela 1: Bloco de perguntas Bloco Perguntas Respondentes

1

Processo de

LR de Pós-

consumo

1.1 É realizada a logística reversa de algum tipo de material no hospital?

1.2 Como ocorre o processo de logística reversa na organização?

1.3 Quem são os atores envolvidos no processo de logística reversa de

pós-consumo?

1.4 Qual o papel de cada ator envolvido neste processo?

R1

2

Processo de

compras de

materiais

2.1 Com relação aos critérios ou variáveis envolvidas no processo de

compras, é observado algum aspecto relacionado a logística reversa dos

produtos ou materiais adquiridos?

2.2 Os fornecedores realizam a logística reversa de algum tipo de

material?

2.3 O descarte de materiais é observado no momento da compra, ou

mesmo a decisão por algum tipo de insumo em especial?

2.4 É exigido algum tipo de certificação dos fornecedores?

2.5 Na compra de lâmpadas é observado algum tipo de restrição ou

tratamento diferenciado para a sua aquisição?

R2

3

Processo de

descarte das

lâmpadas

3.1 Como é realizado o processo de recolhimento das lâmpadas para

descarte?

3.2 Como é realizado o descarte das lâmpadas?

R3

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3.3 Quais os riscos envolvidos no descarte das lâmpadas?

3.4 Quais os cuidados ou requisitos envolvidos no descarte das

lâmpadas?

4

Processo de

coleta e

destinação

das

lâmpadas

4.1 Quais as exigências legais para prestar o serviço de recolhimento de

lâmpadas usadas?

4.2 Como funciona o processo de recolhimento deste tipo de material?

4.3 Qual a destinação dada para as lâmpadas recolhidas?

4.4 Quais os impactos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, na

prestação desse serviço?

R4

Fonte: Elaborada pelos autores

Os entrevistados foram selecionados por estarem diretamente envolvidos com o processo

analisado nesta pesquisa. Na Tabela 2, são apresentados os respondentes das entrevistas de

acordo com os blocos de perguntas.

Tabela 2: Tabela de respondentes

Respondentes Função/Papel

R1 Gerente de Suprimentos e Logística

R2 Analista de Compras

R3 Responsável pela Área de Coleta das lâmpadas

R4 Fornecedor responsável pela coleta lâmpadas

Fonte: Elaborado pelo autor

A transcrição das entrevistas foi organizada conforme os blocos de perguntas. A transcrição

em formato de blocos possibilitou abranger detalhes abordados pelos entrevistados em maior

profundidade, bem como captar os aspectos mais significativos com maior facilidade e

clareza.

4. Estudo de Caso

O hospital objetivo desta pesquisa foi fundado em outubro de 1927. Em 1979, foi inaugurado

o Centro Clínico, consolidando a atuação da instituição no segmento hospitalar. Na década de

1990, foram adotados modelos de gestão com base nos conceitos de qualidade total. Em 2004,

praticamente foi dobrada sua área construída, chegando a 80 mil metros quadrados.

Em agosto de 2007, foram ampliados os serviços no hospital, a partir dos novos núcleos de

geriatria e gerontologia, otorrinolaringologia e cirurgia plástica. Os núcleos atendem os

clientes de forma integral e reforçam o conceito de conveniência, isto é, em um único local

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pode-se realizar consultas, diagnósticos, tratamentos e pequenas cirurgias.

Em 2011, o hospital recebeu, pela quarta vez consecutiva, a Acreditação Hospitalar

Internacional conferida pela Joint Commission International (JCI), que consiste em um selo

de qualidade de classe mundial em saúde.

No âmbito nacional, o hospital integra um seleto grupo de seis instituições privadas com as

quais o Sistema Único de Saúde (SUS) estabeleceu vínculo formal, por seu notório

reconhecimento nacional e internacional, com o objetivo de prestar aos cidadãos um

atendimento mais humano, ágil e eficiente. Atualmente a Instituição está em processo de

expansão de suas atividades visando atender às necessidades de saúde em todos os ciclos de

vida e em todas as especialidades.

4.1 Aplicação das entrevistas

A utilização dos blocos de perguntas teve como objetivo facilitar o entendimento do processo

de logística reversa das lâmpadas, respeitando a ordem de ocorrência das atividades dentro da

organização estudada. As entrevistas foram transcritas de forma parcial, através da análise do

pesquisador diante das respostas dos entrevistados.

4.1.1 Entendimento do Processo

De acordo com o R1, o hospital realiza a logística reversa dos materiais ainda de forma

parcial. No caso de alguns itens, tais como os campos cirúrgicos descartáveis (produto

descartável utilizado para proteção e isolamento durante procedimentos cirúrgicos) o próprio

fabricante Kimberly Clark recolhe os resíduos ou propõe que se negocie o custo do descarte

correto, no momento da negociação da primeira compra, com um fornecedor devidamente

cadastrado e validado pela própria instituição.

Para outros itens como lâmpadas, pilhas, baterias e assemelhados, o R1 afirma que as compras

ainda não estão atreladas à logística reversa, mas o hospital já está com a sua política de

compras ajustada, bem como as minutas de contratos e o manual do fornecedor, para que as

questões de logística reversa tenham um peso importante na decisão de uma compra e seja

tratada com responsabilidade em qualquer nova aquisição.

Ainda segundo o R1, no recebimento de móveis, máquinas e equipamentos, já tornou-se uma

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rotina no hospital, o próprio fornecedor recolher o papelão, plástico e demais materiais de

embalagens no momento da entrega e instalação desses bens. Na visão do R1 a organização

ainda precisa avançar muito na questão da logística reversa no que tange a aquisição de

equipamentos eletrônicos e de informática.

Para descrever como ocorre o processo de logística reversa na organização, o R1 relata que no

momento da negociação, os compradores estão treinados para cumprir as orientações da

política de compras interna e as regras do manual do fornecedor, bem como a posterior

elaboração de contratos com cláusulas específicas que tratem a questão da logística reversa e

destinação dos resíduos.

Segundo o R1, após a efetivação da compra, as questões práticas são providenciadas

conforme as negociações. Nas compras em que ainda não é possível negociar as questões de

logística reversa, o hospital utiliza a sua grade de fornecedores previamente qualificados para

realizar o recolhimento dos resíduos, conforme a sua classe e regras do Conselho Nacional do

Meio Ambiente - CONAMA.

Com relação aos atores envolvidos no processo de logística reversa de pós-consumo da

organização, o R1 afirma que as áreas usuárias estão orientadas para descartar corretamente

os resíduos gerados, bem como as lideranças de cada área. Como suporte ao processo,

destacam-se as áreas de recebimento, almoxarifado central, engenharia e obras (área

responsável pela manutenção e conservação predial do hospital).

Dentro do processo de logística reversa de pós-consumo da organização, o R1 destaca que o

papel dos atores envolvidos “é realmente garantir que seja cumprido o que está no mapa

estratégico da Instituição, que é contribuir através da atuação na área da saúde para a

transformação da sociedade e a preservação do meio ambiente e assegurar a sustentabilidade

econômica, social e ambiental da Instituição”.

4.1.2 Processo de Compras

Com relação aos critérios e variáveis envolvidas no processo de compras, o R2 afirma que no

momento ainda não estão sendo observados os aspectos relacionados à logística reversa dos

materiais adquiridos. Com a publicação da última versão do manual do fornecedor, porém,

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esses aspectos serão abordados nas novas negociações.

De acordo com o R2, grande parte dos fornecedores disponibiliza o serviço de logística

reversa dos produtos e materiais fornecidos por eles, porém com um custo muito elevado, fato

que inviabiliza a utilização do serviço dos próprios fornecedores dos itens.

Segundo o R2, no momento também não está sendo observada a questão do descarte dos

materiais como critério de decisão de compra, bem como não está sendo exigido nenhum tipo

de certificado ambiental dos materiais e produtos. Essa situação, porém, mudará a partir da

utilização dos novos requisitos de fornecimento exigidos no novo manual do fornecedor, para

as novas negociações com fornecedores.

Segundo o R2, as compras de lâmpadas seguem os critérios de melhores condições comerciais

como, preço, prazos de entrega e pagamento, aliados a qualidade mínima exigida para o

produto. Na Figura 1, ilustra-se o consumo médio anual por tipo de lâmpada no hospital:

Figura 1: Consumo médio anual de lâmpadas

Tipo de lâmpada Consumo médio anual % ∆

Lâmpadas fluorescentes 6.264 65%

Lâmpadas incandescentes 2.739 28,45%

Lâmpadas halógenas 357 3,70%

Lâmpadas diversas 269 2,79%

Consumo total 9.629 100%

Fonte: Elaborada pelos autores com base nas entrevistas (2013)

Atualmente a organização utiliza uma média anual de 9.629 lâmpadas em suas instalações,

sendo que aproximadamente 65% desse total reflete o consumo de lâmpadas fluorescentes, as

quais apresentam a melhor eficiência energética, porém possuem as substâncias mais

prejudiciais ao meio ambiente e á saúde humana. O restante do consumo está divido em

lâmpadas incandescentes, que representam em torno de 29% do total, lâmpadas halógenas,

cerca de 3,7% do consumo total. O restante está dividido entre outros tipos de lâmpadas,

algumas específicas para utilização em equipamentos.

4.1.3 Processo de Descarte de Lâmpadas

De acordo com a descrição do processo realizada pela R3, cada área do hospital abre um

chamado para área de manutenção a fim de que seja realizada a troca de lâmpadas conforme a

necessidade. O colaborador da área de manutenção que realizou a troca leva as lâmpadas

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substituídas até um depósito, onde estas são dispostas amarradas e deitadas, até que seja atinja

a quantidade mínima necessária para solicitação de coleta por parte do fornecedor prestador

de serviços.

Atualmente o hospital mantém contrato de prestação de serviços com uma empresa

especializada em descontaminação e trituração de lâmpadas, a qual realiza a coleta das

lâmpadas no hospital e as encaminha para destinação conforme o tipo do produto. Essa

empresa faz o tratamento das lâmpadas, armazenando todos os seus componentes, separando-

os e possibilitando a reutilização dos seus resíduos.

Segundo a R3, o principal risco associado ao processo de descarte das lâmpadas é a

intoxicação pela inalação do gás Hg (Mercúrio) existente na composição das lâmpadas

fluorescentes e que é liberado quando estas se quebram. Outro risco, conforme a R3, é a

possibilidade das pessoas se cortarem ao manusearem as lâmpadas.

Para evitar acidentes, a R3 afirma que os colaboradores são orientados a armazenarem as

lâmpadas substituídas nas próprias embalagens onde foram adquiridas, ou nas embalagens das

lâmpadas novas utilizadas na substituição. Após as caixas são disponibilizadas deitadas para

evitar que caiam e se rompam.

4.2.4 Processo de Coleta das Lâmpadas Utilizadas

Segundo o R4, as exigências legais para prestar o serviço de recolhimento de lâmpadas usadas

são basicamente, a apresentação das seguintes licenças: i) Licença de Operação expedida pelo

município em que a empresa está instalada, ii) Autorização para remessa de resíduos sólidos

para fora do estado, iii) Licença de Operação emitida pela FEPAM, iv) Certificado de

Regularidade emitido pelo IBAMA, v) Autorização Manifesto Transporte de Resíduos –

MTR, e vi) Licença de Operação de Fontes Móveis de Poluição emitida pela FEPAM.

De acordo com o R4, o processo de coleta e destinação das lâmpadas inicia com a solicitação

de recolhimento por parte da empresa contratante. Após o devido recolhimento, ao chegarem

nas instalações da empresa, as lâmpadas são descarregadas do caminhão e inspecionadas para

a verificação de variações e origem, então são desembaladas, contadas e estocadas em pallets,

de acordo com o tipo e tamanho.

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O R4 explica que as lâmpadas fluorescentes são processadas em máquinas que capturam o

vapor de mercúrio retido no filtro de carvão ativado que fica em compartimento lacrado e a

cada 200.000 lâmpadas é descartado em aterro de Classe I. Outros dois filtros retêm todas as

impurezas resultantes do processo e também são descartadas em aterros licenciados.

Dos resíduos resultantes do processo, o vidro é separado e após a moagem é utilizado na

fabricação de garrafas. O alumínio é derretido e reintegrado ao processo produtivo. As

lâmpadas incandescentes não possuem mercúrio, por isso o processo consiste apenas na

trituração e separação dos componentes (vidro e metais). Na Figura 2, demonstra-se os

resíduos resultantes do processo de trituração e moagem das lâmpadas, os quais retornarão ao

ciclo produtivo.

Figura 2: Resíduos sólidos gerados após processo de trituração

Fonte: Recilux (2012)

Na visão do R4, o principal impacto da implementação da Política Nacional dos Resíduos

Sólidos fica por conta da preservação do meio ambiente. Ainda de acordo com o R4, existe

também o impacto econômico que torna o produto mais caro pela obrigatoriedade de passar

por todo esse processo, sendo que esse custo maior será repassado ao consumidor final.

5. Conclusões

A partir dos dados coletados na realização do estudo de caso, foi possível perceber que o

hospital está comprometido em aprimorar os seus processos de logística reversa dos itens de

pós-consumo.

Com relação às práticas de logística reversa adotadas pelo hospital em relação as lâmpadas,

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percebe-se uma aderência aos princípios propostos pelos autores pesquisados no referencial

teórico. O fluxo reverso dos materiais, do ponto de consumo até o ponto de origem precisa ser

gerenciado e neste sentido, a organização contratou um fornecedor especializado para a coleta

e correta destinação das lâmpadas utilizadas.

A logística reversa de pós-consumo se concentra principalmente na gestão dos fluxos

reversos, a partir dos produtos descartados, visando agregar-lhes valor através da reintegração

dos seus materiais ao ciclo produtivo. Verificou-se que o vidro e o alumínio das lâmpadas

utilizadas no hospital retornam ao ciclo produtivo da fabricação de garrafas e produtos

metalúrgicos.

Também é importante observar a importância da correta destinação das lâmpadas descartadas

com relação ao seu impacto no meio ambiente. Por serem produtos que contêm uma

substância altamente tóxica, como é o caso do mercúrio nas lâmpadas fluorescentes, o

processo realizado pelo hospital esta adequado inclusive à legislação ambiental atual.

De forma geral entende-se que são consideráveis os esforços do hospital na busca de

melhorias para a realização do processo de logística reversa de pós-consumo. Sendo uma

organização hospitalar, a quantidade e a criticidade dos resíduos gerados na sua operação,

torna-se fundamental um adequado programa de logística reversa de pós-consumo para a

sustentabilidade da organização e da comunidade ao seu entorno.

Por fim, cabe salientar que atualmente o tema abordado neste trabalho é importante no

contexto das organizações e recomenda-se a realização de novos estudos e pesquisas com a

finalidade de colaborar com a evolução e aplicação da logística reversa.

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