As Quatro Nobres Verdades

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    As QuatroNobres Verdades

    Venervel Ajahn Sumedho

    Traduo de KcanoBhikkhu

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    Dedicaes

    Dedicado a Ajahn Nyanadhammo......

    saudosa memria de minha av Elisa.Que ela possa realizar a paz do Nibbna.

    E em gratitude para com os meus pais.

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    Para distribuio gratuita

    As publicaes de Amaravati so para distribuio gratuita. Na maioria doscasos isto torna-se possvel graas a doaes de indivduos ou grupos, feitasespecificamente para a publicao de ensinamentos budistas. Informaoadicional encontra-se disponvel na morada abaixo indicada.

    Sabbadnam Dhammadnam JintiA oferta do Dhamma supera qualquer outra oferta.

    Amaravati Publications 2007

    Amaravati PublicationsAmaravati Buddhist MonasteryGreat GaddesdenHemel HempsteadHertfordshire HP1 3BZEngland

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    ndice

    Agradecimentos 7Prefcio 9Introduo 11A Primeira Nobre Verdade 16

    Sofrimento e identificao pessoal 18A negao do sofrimento 19Moralidade e compaixo 20Investigao do sofrimento 21

    Prazer e descontentamento 22Clareza nas situaes 24A Segunda Nobre Verdade 28

    Trs tipos de desejo 29Apego sofrimento 31Desapego 31Realizao 33

    A Terceira Nobre Verdade 35

    A verdade da impermanncia 37Moralidade e cessao 38Permitindo que as coisas surjam 39Realizao 42

    A Quarta Nobre Verdade 46Entendimento Correcto 47Aspirao Correcta 50Linguagem Correcta,

    Aco Correcta e Meio de Vida Correcto 53Esforo Correcto, Ateno Plena Correcta eConcentrao Correcta 54Aspectos da meditao 55Racionalidade e emoo 56As coisas tal como so 58Harmonia 59O ctuplo caminho como ensinamento reflectivo 60

    Glossrio 63Acerca do autor 65

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    Agradecimentos

    Gostaria de, em primeiro lugar, apresentar um respeitoso e muito especial

    agradecimento ao Venervel Ajahn Sumedho pela receptividade e encorajamento queme apresentou no decorrer deste trabalho de traduo. Muito obrigado tambm peloentusiasmo que tem demonstrado ao aceitar os convites que lhe tem sido extendidospara visitar Portugal e a divulgar o Dhamma. Em 'Anjali'.

    O patrocnio desta publicao foi mais uma vez custeado na sua ntegra porGene Lushtak. Sdhu Anumodan prezado amigo, pela tua grande generosidade,empenho e constante entusiasmo na divulgao doDhamma.

    Um enorme agradecimento para o meu bom amigo Samanera Appmado,companheiro neste caminho espiritual, que durante vrios meses me apoiou eencorajou na realizao deste projecto, sempre com enorme entusiasmo, energia ebom humor.No posso de modo algum deixar tambm de mencionar a incansvel colaborao dasamigas e compatriotas, Sofia Gallis e Anagarik Ana Sofia, membros da minhapresente comunidade em Amaravati, pelo enorme empenho e valiosssimacontribuio para a concretizao desta traduo. Sem dvida este esforo conjuntotornou este um melhor projecto.

    Quero tambm expressar o meu grande e sincero agradecimento a MariaFerreira da Silva e Helena Gallis por to prontamente se disponibilizarem para oexaustivo trabalho de reviso final e coordenao de contactos com a tipografia.

    Que a Luz do Dhamma e os meritrios frutos das vossas aces vos ilumine eproteja no caminho para a plenitude e libertao de todo o sofrimento.

    Kcano BhikkhuMosteiro Amaravati

    Outubro 2007

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    Uma mo cheia de folhas

    A certa altura,estando O Iluminado estava a viver em Kosambi numafloresta de Simsapas, pegou numas quantas folhas e perguntou aos monges, 'Oque que vocs pensam disto, monges? O que mais numeroso, as poucasfolhas que eu tenho na mo ou aquelas nas rvores desta floresta?'

    'As folhas que O Iluminado tem na mo so poucas, Senhor; aquelas na

    floresta so bastante mais numerosas.'Assim tambm, monges, as coisas que eu aprendi por conhecimento directoso bastante numerosas; as coisas que eu vos ensinei so poucas.E porque que eu no as ensinei todas? Porque elas no trazem qualquerbenefcio, nem desenvolvimento na Vida Santa, porque elas no conduzem aodesencantamento, ao desaparecimento, cessao, ao acalmar, aoconhecimento directo, iluminao, libertao. Por essa razo eu no asensinei.E o que que eu vos ensinei? Isto o sofrimento; isto a origem do

    sofrimento; isto o cessar do sofrimento; isto o caminho que conduz cessao do sofrimento. Isto o que eu vos ensinei. E porque que eu ensineiisto? Porque isto traz benefcio, e desenvolvimento na Vida Santa, porqueconduz ao desencantamento, ao desaparecimento, cessao, ao acalmar, aoconhecimento directo, iluminao, libertao. Assim sendo monges, queesta seja a vossa tarefa: Isto o sofrimento; isto a origem do sofrimento; isto o cessar do sofrimento; isto o caminho que leva cessao do sofrimento.'

    [Samyutta Nikaya, LVI, 31]

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    Prefcio

    Este livro foi compilado e editado a partir de palestras proferidas peloVenervel Ajahn Sumedho acerca do ensinamento central do Buddha - que ainfelicidade humana pode ser transcendida atravs do caminho espiritual.A primeira exposio das Quatro Nobres Verdades foi apresentada pelo

    Buddha, em 528 a.C., no Parque dos Veados em Sarnath, perto de Varanasi.Esta consistiu num sutra discurso denominado DhammacakkappavattanaSutta que literalmente significa 'o discurso que coloca em movimento oveculo do ensinamento'. Excertos deste sutra so citados no incio de cadacaptulo, descrevendo as Quatro Nobres Verdades. A referncia citadacorresponde seco dos livros das escrituras onde este discurso pode serencontrado. No entanto, nas escrituras, o tema das Quatro Nobres Verdadessurge bastantes mais vezes, como por exemplo na citao que aparece no incioda Introduo.

    Em muitas das suas palestras Ajahn Sumedho expe acerca da exclusivaexpresso Budista de 'not-self' (anatta) 'no eu'. Ajahn Sumedho sugere que araz da ignorncia a iluso da existncia de um eu. Com isto ele no est a

    tentar sugerir a aniquilao ou a rejeio das qualidades pessoais mas sim aindicar como o sofrimento (dukkha) surge ao tentarmos manter estaidentificao com o corpo e com a mente, sendo esta identificao errada,aquilo a que a maioria das pessoas chama de 'eu'.

    Outro termo muitas vezes utilizado por Ajahn Sumedho nas suas palestras 'deathless', o qual neste livro surge com alguma frequncia. Por no existir emPortugus uma nica palavra que ilustre claramente o seu significado, este foitraduzido de diferentes formas, usando-se os termos que melhor se adequavamao contexto de cada situao. Podemos ainda sugerir que a palavra se refere no

    ao sentido da imortalidade mas sim quilo que est para alm do ciclo da vida eda morte, no em termos metafisicos mas sim no sentido de que 'Tudo o quesurge est sujeito a cessar' no se tratando portanto da derradeira realidade.Nas escrituras existe uma passagem que pode ajudar a clarificar um pouco maisa palavra 'deathless':

    Existe , bhikkhus, o no nascido, o no formado, o no criado, o nooriginado. Se no existisse o no nascido, o no formado, o no criado, o nooriginado, no existiria sada do nascido, formado, criado e originado. Porem,

    precisamente porque existe o no nascido, no formado, no criado e no

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    originado, a emancipao do nascido, formado,criado e originado discernida.

    [Sutta Pitaka, Nibbana Sutta,Ud VIII.3]

    Luang Por Sumedho oferece-nos a seguinte reflexo acerca desta profundadeclarao: podemos ver que no somos vtimas aprisionadas pela condio donascimento, sem qualquer esperana de escaparmos ao sofrimento da mudana,dos nossos hbitos e desejos. Portanto existe uma sada: realizar a existncia dono nascido, no formado, no criado, no originado. Reconhecer isso satisampajaa, sati paa ou plena ateno. perceber a diferena entre estar eno estar apegado forma, ao que criado.Nibbana a realidade do no apegoaos fenmenos condicionais; no se trata de destruir o samsara, de aniquilartodos as condies por estas serem to horrveis e s conduzirem ao sofrimento,mas sim reconhecer e discernir essa realidade.

    Em concluso, estas Quatro Nobres Verdades so como que um exerccio dediscernimento; ajudam-te a no teres de tomar posies rgidas a favor oucontra o que quer que seja, mas sim a reconhecer o no nascido e no criadocomo verdadeiro e no como uma fantasia ou um ideal. Desta forma estarealidade reconhecida e cultivada na nossa vida quotidiana.

    Caro leitor, o desejo que, ao explorar as seguintes pginas, os coraes detodos aqueles que tiveram a oportunidade de encontrar a sabedoria dosensinamentos aqui contidos, se sintam urgidos a despertar e rapidamenterealizem o fim de todo o sofrimento.

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    Introduo

    Que Eu, bem como vocs, durante muito tempo tenhamos de ter viajado edeambulado neste longo ciclo, devido a no termos descoberto nem

    penetrado Quatro Verdades. Quais so elas?Elas so: A Nobre Verdade do Sofrimento, A Nobre Verdade da Origem doSofrimento, A Nobre Verdade do Cessar do Sofrimento e A Nobre Verdade doCaminho que conduz Cessao do Sofrimento.

    [Digha Nikaya, Sutta 16]

    ODhammacakkappavattana Sutta, o ensinamento do Buddha acerca dasQuatro Nobre Verdades, tem sido a principal referncia que tenho usado naminha prtica ao longo dos anos. o ensinamento que usvamos no nossomosteiro na Tailndia. A escola Budista Theravada, considera este sutta como aquinta essncia dos ensinamentos do Buddha. Este sutta contm tudo o que

    necessrio para compreender o Dhamma e para alcanar a iluminao.Apesar de o Dhammacakkappavattana Sutta ser considerado como oprimeiro sermo dado pelo Buddha aps a sua iluminao, eu por vezes gostode pensar que ele deu o seu primeiro sermo quando encontrou aquele asceta acaminho de Varanasi. Depois da sua iluminao em Bodh Gaya, o Buddhapensou: Este um ensinamento to subtil. No conseguirei de modo algumexpressar por palavras aquilo que descobri e por isso no o ensinarei.Permanecerei sentado debaixo da rvore Bodhi para o resto da minha vida.

    Para mim esta uma ideia bastante tentadora, simplesmente desaparecer e

    viver sozinho e no ter de lidar com os problemas da sociedade. Noentanto,enquanto o Buddha pensava acerca disto, Brahma Sahampati, adivindade criadora no Hindusmo apareceu ao Buddha e convenceu-o de que eledeveria partir e ensinar. Brahma Sahampati disse-lhe que existiam seres queiriam compreender, seres que s tinham um pouco de poeira nos olhos. Assim oensinamento do Buddha foi dirigido aqueles com s um pouco de poeira nosolhos Tenho a certeza de que ele no pensou que o ensinamento se tornarianum movimento to popular.

    Depois da visita de Brahma Sahampati, o Buddha segue o seu caminho deBodh Gaya para Varanasi, quando encontra um asctico que ficaimpressionado com a sua aparncia to radiante. O asctico pergunta-lhe O que

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    que tu descobriste? e o Buddha responde: Eu sou aquele perfeitamenteiluminado, oArahant, oBuddha.

    Eu gosto de considerar este como sendo o seu primeiro sermo. Foi umfracasso porque o homem que o ouviu, pensou que o Buddha tivesse praticadodemais e se estivesse a sobrestimar. Se algum nos dissesse estas palavras,

    tenho a certeza que reagiramos da mesma forma. O que farias se eu dissesse,Eu sou aquele perfeitamente iluminado?

    Na verdade, a declarao do Buddha foi um ensinamento muito correcto epreciso. o ensinamento perfeito mas ns somos incapazes de o compreender,devido tendncia de interpretar e pensar, erroneamente, que uma afirmaocomo esta provm do ego, porque as pessoas esto sempre a interpretar tudo doponto de vista dos seus prprios egos. Eu sou aquele perfeitamente iluminadopode soar como uma declarao egotista, mas no , na verdade, puramente

    transcendental? Esta declarao: Eu, o Buddha, aquele perfeitamenteiluminado, interessante de contemplar, porque conecta o uso de 'Eu sou' comrealizaes e conquistas supremas. De qualquer forma, o resultado do primeiroensinamento do Buddha,foi que o ouvinte nada conseguiu compreender econtinuou no seu caminho.

    Mais tarde, o Buddha encontrou os seus antigos companheiros no Parquedos Veados, em Varanasi. Os cinco eram sinceramente dedicados ao ascetismoestrito. Eles haviam ficado desiludidos com o Buddha, pois pensavam que elese tinha tornado insincero na sua prtica, uma vez que, antes da sua iluminao,

    ele tinha comeado a perceber que o ascetismo estrito no conduzia ao estadode iluminao e assim deixou de praticar dessa forma. Os cinco amigospensaram que era desleixo - talvez o tenham visto a comer arroz de leite, o quehoje em dia pode ser comparado a comer um gelado. Se fosses um asceta evisses um monge a comer gelado talvez perdesses a tua f nele, por pensaresque os monges s devem comer sopa de urtigas.Se gostasses mesmo de ascetismo e me visses a comer uma taa de gelado,deixarias de ter f em Ajahn Sumedho. assim que funciona a mente humana;temos tendncia a admirar grandes feitos de auto-flagelao e renncia.Quando os cinco amigos discpulos perderam a f no Buddha, deixaram-no oque lhe deu a oportunidade de se sentar debaixo da rvore Bodhi e tornar-seiluminado.

    Mais tarde, quando encontraram o Buddha no Parque dos Veados emVaranasi, de incio pensaram, 'Ns sabemos bem como ele . No vale a penaligar-lhe'. Mas quando o Buddha se aproximou, todos eles sentiram que havianele algo especial. Levantaram-se para lhe dar lugar e ele ento proferiu o seusermo das Quatro Nobres Verdades.

    Desta vez, em vez de dizer 'Eu sou o iluminado', ele disse: 'Existesofrimento. Existe a origem do sofrimento. Existe a cessao do sofrimento.Existe o caminho para abandonar o sofrimento'. Apresentado desta forma, o seu

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    ensinamento no necessita de aceitao ou rejeio. Se ele tivesse dito 'Eu sou otodo iluminado', seramos forados a concordar, a discordar ou simplesmente aficarmos confusos. No saberamos bem como interpretar tal afirmao. Noentanto, dizendo: 'Existe sofrimento, existe uma causa, existe um fim parasofrimento e existe o caminho para abandonar o sofrimento', ele ofereceu algo

    para reflexo: 'O que que queres dizer com isto? O que que queres dizer comsofrimento, a sua origem, a cessao e o caminho?'

    Assim comeamos a contemplar, a pensar. Com a afirmao: 'Eu sou o todoiluminado', talvez apenas discutssemos : 'Ser que ele realmenteiluminado?'...'Eu penso que no.' no estamos preparados para umensinamento to directo. Obviamente, o primeiro sermo do Buddha falhou poisfoi dado a algum que ainda tinha bastante poeira nos olhos. Assim, na segundaoportunidade, ele proferiu o sermo das Quatro Nobres Verdades.

    As Quatro Nobres Verdades so: existe sofrimento, existe uma causa ouorigem para o sofrimento, existe a cessao do sofrimento e existe um caminhopara abandonar o sofrimento, que o ctuplo Caminho. Cada uma destasVerdades constituda por trs fases perfazendo assim um total de dozerevelaes. Na escola Theravada, o 'arahant', o purificado, algum queclaramente assimilou as Quatro Nobres Verdades com as suas trs fases e doze

    revelaes. 'Arahant' significa um ser humano que compreende averdadeiramente o ensinamento das Quatro Nobres Verdades.Na Primeira Nobre Verdade 'Existe Sofrimento' a primeira revelao.

    Qual o significado dessa revelao? No necessitamos de a tornar em algograndioso, trata-se apenas de reconhecer que 'Existe sofrimento'. Esta umarevelao bsica. A pessoa ignorante diz, 'Estou a sofrer. No quero sofrer. Eumedito e vou a retiros para deixar de sofrer, mas continuo a sofrer e no queromais... Como que posso sair deste sofrimento? O que que posso fazer parame ver livre dele?' Mas isto no a primeira Nobre Verdade pois esta no setrata de 'Existe sofrimento e eu quero pr-lhe fim.' A revelao 'Existesofrimento'.

    Assim tu observas a dor e angstia que sentes, no do ponto de vista de 'Isto meu', mas como uma reflexo: 'Existe este sofrimento, este dukkha.' Isto vema partir da posio reflectiva de 'Buddha observando o Dhamma'. A revelao simplesmente o reconhecimento de que o sofrimento existe sem o tornares emalgo pessoal. Esse reconhecimento uma revelao importante; simplesmenteobservar a angstia da mente ou a dor fsica e v-las como dukkha em vez de

    infortnio pessoal, no reagindo s mesmas da forma habitual.A segunda revelao da primeira Nobre Verdade : 'O Sofrimento deve sercompreendido.' A segunda revelao ou fase de cada uma das Nobres Verdades

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    contm nela a palavra 'deve': 'Deve ser compreendido.' Assim a segundarevelao diz-nos que dukkha algo para ser compreendido. Devemoscompreender dukkha e no somente tentar livrar-nos dele.

    Apesar de 'compreender' ser uma palavra bastante vulgar, em Pali significaaceitar verdadeiramente o sofrimento, acolh-lo em vez de somente reagir ao

    mesmo. Com qualquer forma de sofrimento, quer seja fsico ou mental,geralmente s reagimos; mas com compreenso podemos realmente observar osofrimento, aceit-lo e abra-lo verdadeiramente. ' Devemos compreender osofrimento' ento a segunda revelao da Primeira Nobre Verdade.

    A terceira revelao da Primeira Nobre Verdade : 'O Sofrimento foicompreendido.' Quando realmente pratics-te com o sofrimento, observando-o,aceitando-o, percebendo-o e deixando-o ser da forma que , a temos a terceirarevelao: 'O Sofrimento foi compreendido' ou 'Dukkha foi compreendido.'

    Assim, estas so as trs fases da Primeira Nobre Verdade: 'Existe dukkha','Deveser compreendido' e 'Foi compreendido'.

    Este o padro para as trs fases de cada Nobre Verdade. Primeiro temos adeclarao, depois a receita e por fim o resultado da prtica. Podemos tambmdefini-lo em termos do seu significado em Pali,pariyatti, patipatti epativedha.Pariyatti a teoria ou declarao 'Existe sofrimento.' Patipatti a prtica, mais

    propriamente praticar com a declarao e pativedha o resultado da prtica.Isto o que chamamos de padro de reflexo pois este conduz aodesenvolvimento da mente de uma forma bastante reflectiva. A mente bdica uma mente reflectiva que conhece as coisas como elas realmente so.

    Usamos estas Quatro Nobres Verdades para o nosso desenvolvimento,aplicamo-las a coisas comuns na nossa vida, aos mais comuns apegos eobsesses da mente. Com estas verdades podemos investigar os nossos apegos eobsesses para obtermos as revelaes. Atravs da Terceira Nobre Verdade,podemos realizar a cessao, o fim do sofrimento e praticar o Caminhoctuplo, at obtermos entendimento. Quando o Caminho ctuplo tiver sidoplenamente desenvolvido somos um arahant tarefa cumprida. Embora istopossa parecer complicado quatro verdades, trs fases e doze revelaes bastante simples. uma ferramenta que usamos para nos auxiliar acompreender o que e o que no o sofrimento.

    No mundo Budista no existem muitos que ainda utilizem as Quatro NobresVerdades, nem sequer na Tailndia. As pessoas dizem, 'Ah sim, as QuatroNobres Verdades coisas de principiante'. Ento talvez utilizem todos os

    mtodos de vipassanae se tornem realmente obcecados com as dezasseis etapasantes de chegarem s Nobres Verdades. Eu acho realmente espantoso que nomundo Budista o ensinamento verdadeiramente mais profundo tenha sido posto

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    de parte, como sendo Budismo primitivo: 'Isso para os midos pequenos, osprincipiantes. O curso superior ....' E partem para complicadas ideias e teorias,esquecendo o mais profundo ensinamento.

    As Quatro Nobres Verdades so uma reflexo para a vida inteira. No setrata somente de realizar as Quatro Nobres Verdades, as trs fases e doze

    revelaes e assim tornar-nos num arahant, num nico retiro, e ento partir paraalgo mais avanado. As Quatro Nobres Verdades no so assim to fceis. Elasnecessitam de uma constante atitude de vigilncia e oferecem-nos o contextopara uma vida de investigao.

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    A Primeira Nobre Verdade

    O que a Nobre Verdade do Sofrimento? Nascimento sofrimento, envelhecimento sofrimento e morte sofrimento.Separao daquilo que gostamos sofrimento, no obter aquiloque queremos sofrimento: em resumo, os cinco agregadosinfluenciados pelo apego so sofrimento.Existe esta Nobre Verdade do Sofrimento: tal foi a viso,revelao, sabedoria, verdadeiro conhecimento e luz que em mimsurgiram acerca de coisas nunca antes ouvidas.Esta Nobre Verdade deve ser penetrada atravs da completacompreenso do sofrimento: tal foi a viso, revelao, sabedoria,verdadeiro conhecimento e luz que em mim surgiram acerca decoisas nunca antes ouvidas.Esta Nobre Verdade foi penetrada atravs da completacompreenso do sofrimento: tal foi a viso, revelao, sabedoria,

    verdadeiro conhecimento e luz que em mim surgiram acerca decoisas nunca antes ouvidas.

    [Samyutta Nikaya LVI, 11]

    A Primeira Nobre Verdade composta por trs fases: 'Existe sofrimento,dukkha. Dukkha deve ser compreendido.Dukkha foi compreendido.'

    um ensinamento muito prtico, expresso numa simples frmula, fcil dememorizar. tambm aplicvel a todas e quaisquer experincias que possas ter,a tudo o que possas fazer ou pensar, relacionado com o passado, o presente ou ofuturo.

    Sofrimento ou dukkha o elo comum que todos ns partilhamos. Toda agente em toda a parte sofre. Seres humanos sofreram no passado, na ndia da

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    antiguidade, sofrem hoje em dia em Inglaterra, e no futuro os seres humanostambm iro sofrer... O que que temos em comum com a Rainha Elizabete?Ambos sofremos. O que que temos em comum com um pobre em CharingCross? Sofrimento. Encontra-se a todos os nveis, desde os seres humanos maisprivilegiados aos mais desesperados e desprivilegiados. Toda a gente em todo o

    lado sofre. uma ligao que temos em comum, algo que todoscompreendemos.

    Quando falamos acerca do sofrimento humano levanta-se em ns osentimento da compaixo mas, quando falamos acerca das nossas opinies,acerca daquilo que eu penso e do que tu pensas em relao poltica e religio,ento podemos entrar em guerra. H dez anos atrs, em Londres, lembro-me dever um filme que mostrava mulheres Russas com bebs e homens Russos alevarem os seus filhos a piqueniques, tentando retratar os Russos como seres

    humanos. Na altura, esta representao do povo Russo era pouco usual porque amaior parte da propaganda no Ocidente retratava-os como monstruosidades ouseres reptilianos de corao gelado e por esse motivo nunca pensava neles comoseres humanos. Se quiseres matar pessoas tens de as mostrar dessa forma. No to fcil matar algum se reconheceres que elas sofrem da mesma forma que tu.Tens de pensar que elas no tm corao, que so imorais, ms, sem qualquervalor e que melhor vermo-nos livres delas. Tens de pensar que elas so o male que bom livrarmo-nos do mal. Com esta atitude podes sentir-te justificadoem bombarde-los e metralh-los mas, se tiveres em mente o sofrimento como

    elo comum isso torna-te incapaz de agir dessa forma.A Primeira Nobre Verdade no uma desagradvel afirmao metafsicaque somente nos diz que tudo sofrimento. importante notar que existe umadiferena entre a doutrina metafsica, em que fazes uma afirmao acerca doAbsoluto, e a Nobre Verdade que uma reflexo. A Nobre Verdade umaverdade para ser reflectida, no um absoluto, no O Absoluto. neste pontoque os Ocidentais se sentem bastante confusos porque interpretam esta NobreVerdade como um tipo de verdade metafsica do Budismo mas, na realidadenunca houve a inteno de ser tal coisa.

    Podes constatar que a Primeira Nobre Verdade no uma afirmaoabsoluta pois sabemos que a Quarta Nobre Verdade o caminho para o fim dosofrimento. No podes ter sofrimento absoluto e depois ter um caminho parasair dele, ou podes? Isso no faz sentido. No entanto algumas pessoas pegam naPrimeira Nobre Verdade e dizem que o Buddha ensinou que tudo sofrimento.

    A palavra Pali, dukkha, significa 'incapaz de satisfazer' ou 'no ser capaz desuportar algo', ou seja, sempre em mudana, incapaz de nos preencherverdadeiramente ou de nos tornar felizes. O mundo sensorial assim, uma

    vibrao na natureza. Seria de facto terrvel se encontrssemos satisfao nomundo dos sentidos, porque ento nunca procuraramos para alm dele,ficaramos limitados. No entanto, ao despertarmos para este dukkha,

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    comeamos a procurar a sada para deixarmos de estar constantementeaprisionados conscincia sensorial.

    Sofrimento e identificao pessoal importante reflectir na construo da frase da Primeira Nobre Verdade,

    que fraseada de uma forma bem clara: 'Sofrimento Existe', em vez de 'Eusofro'. Psicologicamente falando, essa reflexo exposta de uma forma muitomais hbil. Temos a tendncia de interpretar o nosso sofrimento como 'Eu estoumesmo a sofrer. Eu sofro muito e eu no quero sofrer'. assim que pensamos, desta forma que a nossa mente est condicionada.

    'Eu estou a sofrer' transmite-nos sempre a sensao de que 'Eu sou algumque sofre bastante. Este sofrimento meu. Eu tenho tenho sofrido bastante naminha vida'. E assim comea todo o processo de identificao com o nosso eu ea nossa memria, lembras-te do que aconteceu quando eras beb... e por a fora.

    Mas repara, no estamos a dizer que existe algum que tem sofrimento. Jno se trata de sofrimento pessoal quando o vemos como 'sofrimento existe'.Deixa de ser: 'Ah coitado de mim, porque que eu tenho de sofrer tanto? O que que eu fiz para merecer isto? Porque que eu tenho de envelhecer? Porque que eu tenho de ter amargura, dor, lamentao e desespero? No justo! Euno quero isto. Eu s quero felicidade e segurana'.

    Este tipo de pensar nasce da ignorncia, que tudo complica e d origem aproblemas de personalidade.

    Para podermos abandonar o sofrimento temos de primeiro admiti-lo naconscincia. Mas na meditao Budista esta admisso no parte da posio de'Eu estou a sofrer' mas sim de 'O sofrimento est presente' pois no estamos atentar identificar-nos com o problema mas, simplesmente a reconhecer que eleexiste. Pensar em termos de 'Eu estou zangado; zango-me muito facilmente;como ver-me livre disto', no revela grande sabedoria pois tudo isto desperta

    em ns uma srie de pressuposiesacerca da existncia de um eu, tornandomuito difcil obter qualquer perspectiva sobre o assunto. Torna-se muitoconfuso porque a percepo dos meus problemas ou dos meus pensamentos,leva-nos facilmente a reprimir ou a fazermos juzos de valor acerca do assunto ea criticarmo-nos a ns prprios. Em vez de observar, testemunhar ecompreender as coisas como elas so, temos a tendncia de nos apegarmos eidentificarmos. Quando simplesmente reconheces que existe em ti esta sensaode confuso, que existe este egosmo ou raiva, ento surge uma reflexohonesta sobre a forma como as coisas so, pois removeste todas as ideias

    preconcebidas ou pelo menos no as valorizaste.Assim sendo, no te apegues a estas coisas como se fossem falhas pessoais

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    mas continua a contempl-las como sendo impermanentes, insatisfatrias eimpessoais. Continua a reflectir, observando-as como realmente so. Atendncia sempre para ver a vida a partir da perspectiva de que estes so osmeus problemas e de que estou a ser muito honesto e dinmico em admitir talcoisa. E a nossa vida tende a reafirmar isso mesmo, pois continuamos a operar a

    partir dessa ideia errada. Mas mesmo esse ponto de vista impermanente,insatisfatrio e 'no eu'.

    'Existe sofrimento' um reconhecimento claro e preciso de que nestemomento existe uma certa sensao de descontentamento, que pode ir desde aangstia e desespero a uma suave irritao; dukkha no significanecessariamente sofrimento severo. No tens de ser brutalizado pela vida; notens necessariamente de ter vindo de Auschwitz ou Belsen para poderes dizerque o sofrimento existe. At a Rainha Elizabete pode dizer, 'Sofrimento existe.'

    Estou certo de que ela tem momentos de grande angstia e desespero ou, pelomenos, de irritao.O mundo dos sentidos uma experincia sensvel. Significa que ests

    sempre a ser exposto a prazer e dor e dualidadede samsara. como estar emalgo que muito vulnervel, sentindo tudo aquilo que possa vir a entrar emcontacto com estes corpos e os seus sentidos. assim, esse o resultado donascimento.

    Negao do sofrimento

    O sofrimento algo de que normalmente no queremos saber, tudo o quequeremos ver-nos livres dele. Assim que surge algo inconveniente oudesagradvel, a tendncia do ser no iluminado querer ver-se livre ousuprimir. Podemos observar como a sociedade moderna se encontra toembrenhada em procurar prazeres e delcias naquilo que novo, excitante eromntico. Temos tendncia a colocar nfase na beleza e prazeres da juventude,

    enquanto que o lado feio da vida, a velhice, doena, morte, aborrecimento,desespero e depresso, so colocados de parte. Quando nos deparamos comalgo do qual no gostamos, tentamos ver-nos livres disso e procurar algo de quegostamos. Se nos sentimos aborrecidos vamos logo fazer algo interessante, sesentimos medo tentamos encontrar segurana. Isto perfeitamente normal.Estamos associados com o princpio de prazer/dor de atraco e repulso.Assim, se a mente no est atenta e receptiva torna-se selectiva, seleccionaaquilo de que gosta e tenta suprimir aquilo de no gosta. Grande parte da nossavivncia tem de ser suprimida, porque muito daquilo com que estamos

    inevitavelmente envolvidos de certa forma desagradvel.Se algo desagradvel surge, dizemos 'Foge!', se algum se atravessa no

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    nosso caminho, dizemos 'Mata-o!'. Esta tendncia bastante bvia no que osnossos governos fazem... preocupante, no , se pensares no tipo de pessoasque governam os nossos pases, pois eles ainda so bastante ignorantes e noiluminados. Mas assim que se passa, a mente ignorante pensa emexterminao: 'Olha um mosquito, mata-o!', 'Estas formigas esto a apoderar-se

    da cozinha; d-lhes com o insecticida!'. Na Inglaterra temos uma companhiachamada Rent-o-kill. No sei se um tipo de mfia Britnica ou no, masespecializa-se em matar pestes como quer que queiras interpretar a palavra'pestes'.

    Moralidade e compaixo

    por esse motivo que temos de ter leis como, 'Eu abstenho-me de matarintencionalmente', porque o nosso instinto natural de matar: se est no teucaminho, mata-o. Podes observar isto no reino animal. Ns prprios somoscriaturas bastante predadoras; pensamos que somos civilizados mas,literalmente, temos uma histria bastante sangrenta. Ela preenchida cominmeras chacinas e justificaes para todo o tipo de injustias contra outrosseres humanos, j para no falar nos animais e tudo isto devido a estaignorncia bsica, esta mente humana que sem reflectir nos diz para aniquilar o

    que est no nosso caminho.No entanto, com reflexo, estamos a mudar esta situao; estamos atranscender esse padro animal, bsico e instintivo. No somos somentemarionetas cumpridoras das leis da sociedade, com medo de matar porquetemos medo de ser punidos. Agora estamos realmente a tomar responsabilidade.Respeitamos a vida das outras criaturas, at a vida dos insectos e criaturas deque no gostamos. Jamais algum ir gostar de mosquitos ou formigas, maspodemos reflectir acerca do facto de que eles tm o direito de viver. Isto umareflexo da mente; e no somente uma reaco: 'Onde est o insecticida?' Eu

    tambm no gosto de ver formigas no meu cho; a minha reaco inicial ,'Onde est o insecticida?' Mas ento, a mente reflectiva, mostra-me que aindaque estas criaturas me estejam a irritar e eu preferisse que elas desaparecessem,elas tm o direito de existir. Esta uma reflexo da mente humana.

    O mesmo pode ser aplicado a estados mentais desagradveis. Assim, quandoestiveres a sentir raiva, em vez de dizeres 'Ora, l estou eu zangado outra vez!',reflectimos 'Existe raiva'. Tal como com o medo; se o comeares a ver como omedo da minha me ou o medo do meu pai ou o medo do co ou o meu medo,a tudo se transforma num emaranhado de diferentes criaturas relacionadas dealgumas formas e no de outras; tornando difcil terem qualquer tipo deverdadeiro entendimento. E, no entanto, o medo neste ser e o medo naquele co

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    vadio exactamente o mesmo. 'Existe medo', somente isso. O medo que eu jsenti no em nada diferente do medo dos outros e assim que temoscompaixo at para com velhos ces vadios. Compreendemos que o medo tohorrvel para os ces vadios como para ns. Quando um co leva um pontapde uma bota pesada e tu levas um pontap de uma bota pesada, aquela sensao

    de dor a mesma. Dor somente dor, frio somente frio, raiva somente raiva.No minha, mas sim 'Existe dor.' Esta uma forma inteligente de pensar, quenos ajuda a ver as coisas de forma mais clara, em vez de reforar a ideia depersonalidade. Como resultado do reconhecimento do estado de sofrimento, deque sofrimento existe, surge a segunda revelao desta Primeira NobreVerdade: 'Deve ser compreendido'. Este sofrimento deve ser investigado.

    Investigao do sofrimentoEncorajo-vos a tentar compreender dukkha, a honestamente observar e com

    confiana aceit-lo. Tenta compreend-lo quando estiveres a sentir dor fsica,desespero e angstia ou dio e averso, ou qualquer que seja a forma que estetome, qualquer que seja a sua qualidade, quer ele seja extremo ou suave. Esteensinamento no significa que para te tornares iluminado tenhas de sertotalmente miservel, deixar que te tirem tudo ou ser torturado, significa, seres

    capaz de olhar para o sofrimento, ainda que s seja uma leve sensao dedescontentamento, e compreend-lo. fcil encontrar um bode expiatrio para os nossos problemas. 'Se a minha

    me me tivesse realmente amado ou se todos aqueles minha volta tivessemsido verdadeiramente sbios e totalmente dedicados a tentarem proporcionar-me um ambiente perfeito ento, eu no teria os problemas emocionais queagora tenho.' Isto mesmo tolice! No entanto desta forma que algumaspessoas vm o mundo, pensando que esto confusos e miserveis porque noreceberam o que seria justo. Mas com esta frmula da Primeira Nobre Verdade,

    ainda que tenhamos tido uma vida muito miservel, aquilo que estamos aobservar no o sofrimento que vem de fora mas aquilo que criamos nas nossasmentes volta do mesmo. Isto um despertar na pessoa, um despertar para averdade do sofrimento. E uma Nobre Verdade porque j no culpa os outrospelo sofrimento que sentimos. Desta forma, a abordagem Budista singular emrelao a outras religies, porque o nfase encontra-se no caminho para deixar osofrimento atravs da sabedoria, libertao de toda a iluso, em vez da obtenode algum estado de felicidade ou unio com o Supremo.

    No estou a dizer que os outros nunca so a fonte da nossa frustrao eirritao, mas aquilo para que estamos a apontar com este ensinamento anossa reaco para com a vida. Se algum estiver a ser mau para ti ou,

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    propositada e malevolamente, a tentar fazer-te sofrer, e tu pensares que essapessoa que te est a fazer sofrer, ainda no percebeste esta Primeira NobreVerdade. Ainda que ela te esteja a arrancar as unhas ou a fazer-te outras coisashorrveis, enquanto pensares que ests a sofrer por causa dessa pessoa nopercebeste esta Primeira Nobre Verdade. Perceber o sofrimento ver

    claramente que a nossa reaco pessoa que est a arrancar-nos as unhas, 'Euodeio-te,' isso sofrimento. Ter as unhas arrancadas doloroso, mas osofrimento envolve 'Eu odeio-te' e 'Como que me podes fazer isto' e 'Eu nuncate perdoarei'.

    Todavia no esperes que algum te arranque as unhas para praticares com aPrimeira Nobre Verdade. Testa-a com coisas pequenas, como por exemplo,quando algum insensvel, mal-educado ou ignorante para contigo. Se ests asofrer porque essa pessoa te fez alguma desfeita ou te ofendeu de alguma

    forma, podes praticar com isso. Existem muitas ocasies na vida diria em quepodemos sentir-nos ofendidos ou zangados. Podemos sentir-nos irritadossimplesmente pela forma como algum anda ou pela sua aparncia, pelo menoseu posso. Por vezes apercebes-te da averso a surgir em ti, simplesmente devido forma como algum anda ou porque no fazem algo que deveriam fazer.Podemos tornar-nos bastante irritados e zangados por esse tipo de coisas. Apessoa na realidade no te fez nada de mal, no te arrancou as unhas, mas aindaassim sofres. Se no consegues enfrentar o sofrimento nestas situaes simples,nunca sers capaz de ser herico e faz-lo se alguma vez algum te estiver

    realmente a arrancar as unhas!Ns trabalhamos com as pequenas insatisfaes da vida quotidiana.Olhamos para a forma em como podemos ser magoados, ofendidos ou irritadospelos vizinhos, por pessoas com quem vivemos, pela Sr Tatcher, pela formacomo as coisas so ou por ns prprios. Sabemos que este sofrimento deve sercompreendido. Praticamos olhando realmente para o sofrimento como umobjecto e compreendendo: 'Isto sofrimento.' Assim temos a reveladoracompreenso do sofrimento.

    Prazer e descontentamento

    Ns podemos investigar: At onde nos trouxe esta indulgncia pela procura dosprazeres? H vrias dcadas que isto se perpetua, mas ser que a humanidadeest mais feliz por isso? Parece que hoje em dia nos foi dada a liberdade parafazermos tudo aquilo que queremos com drogas, sexo, viagens e por a fora,tudo permitido e nada proibido. Tens de fazer algo realmente obsceno,realmente violento at seres marginalizado. Mas ser que o facto de podermosseguir os nossos impulsos livremente nos tornou mais felizes ou mais

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    descontrados e satisfeitos? Na realidade, isso tem-nos tornado muito maisegostas; ns no pensamos em como as nossas aces podem vir a afectar osoutros. Temos a tendncia de pensar s em ns prprios: eu e a minhafelicidade, a minha liberdade e os meus direitos. Assim torno-me num tremendochato, uma fonte de imensa frustrao, irritao e infelicidade para as pessoas

    minha volta. Se eu pensar que posso fazer e dizer tudo aquilo que quero, mesmos custas dos outros, ento torno-me uma pessoa que nada mais do que umaborrecimento para a sociedade.

    Quando a sensao 'de aquilo que eu quero' e 'de aquilo que eu penso quedeve e no deve ser' surge, e ns queremos deliciar-nos com todos os prazeresda vida, inevitavelmente ficamos contrariados porque a vida parece todesesperante e tudo parece correr mal. A vida pe-nos em turbilho, correndode um lado para o outro num estado de medo e de desejo. E mesmo quando

    conseguimos tudo o que queremos, pensamos que nos falta algo, que algo aindaest incompleto. Assim, mesmo quando a vida est a correr pelo melhor, aindaexiste esta sensao de sofrimento, de algo ainda a ser feito, um tipo de dvidaou medo a assombrar-nos.

    Por exemplo, eu sempre gostei de paisagens bonitas. Certa vez, durante umretiro que conduzi na Sua, levaram-me a ver umas montanhas muito bonitas.Ento, apercebi-me que, perante tanta beleza, havia sempre presente umasensao de angstia na minha mente. Perante esta corrente contnua de bonitaspaisagens, tive a sensao de querer abraar tudo, de a todo o momento ter de

    me manter bem alerta para assim poder consumir tudo aquilo com os meusolhos. Estava mesmo a esgotar-me! Ora, isso foi dukkha, no foi?Eu noto que se fao algo sem prestar ateno, ainda que seja algo to

    inocente como olhar para uma bela montanha, se somente estou a projectar-mepara fora na tentativa de agarrar algo, isso traz-me sempre uma sensaodesagradvel. Como que podes reter a beleza da Jungfrau e da Eiger? Amelhor soluo tirares uma fotografia, tentar capturar tudo num pedao depapel. Isso dukkha; se quiseres conservar algo bonito porque no te queresseparar dele, isso sofrimento.

    Ter de estar presente em situaes de que no gostas tambm sofrimento.Por exemplo, eu nunca gostei de viajar de metro em Londres. Eu reclamava'No quero ir de metro, as estaes so muito sujas e cheias de posters horrveis.No quero ser empacotado naqueles comboios minsculos debaixo do cho'. Euachava isto uma experincia completamente desagradvel. Mas eu prestavaateno a esta voz que reclamava e lastimava, o sofrimento de no querer estarcom algo que nos desagradvel. Ento, tendo reflectido, deixei de elaboraracerca da situao, para assim poder ficar s com aquilo que desagradvel e

    feio sem lhe adicionar mais sofrimento. Eu percebi que a situao era assim, eest tudo bem. No necessitamos de criar mais problemas, quer acerca deestarmos numa estao de metro muito suja ou a apreciarmos paisagens bonitas.

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    As coisas so como so, podemos apreciar e reconhec-las na sua constantemudana sem nos apegarmos. Apego querermos agarrar e jamais largar algode que gostamos; querermos ver-nos livres de algo de que no gostamos; ouquerermos ter algo que no temos.

    Tambm podemos sofrer muito por causa de outras pessoas. Lembro-me que

    na Tailndia eu costumava ter pensamentos bastante negativos acerca de umdos monges. Ele fazia algo e eu pensava 'Ele no devia de fazer isso,' ou se eledizia qualquer coisa ''Ele no devia de dizer isso!' Eu carregava este monge naminha mente e ainda que eu fosse para qualquer outro lugar, eu pensava nele; aimagem dele surgia e as mesmas reaces vinham tona: 'Lembras-te quandoele disse isto e fez aquilo?' e 'Ele no devia ter dito isso e ele no devia ter feitoaquilo.'

    Quando encontrei um professor como o Ajahn Chah, lembro-me de querer

    que ele fosse perfeito. Eu pensava, 'Oh! Ele um professor maravilhoso,maravilhoso!' Mas ento, ele poderia vir a fazer algo que me desagradasse e eupensava, 'Eu no quero que ele faa nada que me desagrade porque eu gosto depensar nele como sendo maravilhoso.' Era como que dizer, 'Ajahn Chah, ssempre maravilhoso para comigo. Nunca faas nada que ponha qualquer tipo depensamentos negativos na minha mente.' Ainda quando encontras algum querealmente respeitas e amas, tens o sofrimento do apego. Inevitavelmente, elesiro dizer ou fazer algo de que tu no gostas ou aprovas, causando-te dvida efazendo-te sofrer.

    A certa altura, vrios monges Americanos vieram para Wat Pah Pong, onosso mosteiro no Nordeste da Tailndia. Eles eram muito crticos e pareciaque s viam o que estava errado. Eles no achavam que o Ajahn Chah fossebom professor e no gostavam do mosteiro. Eu senti uma grande raiva e dio asurgirem em mim porque eles estavam a criticar algo que eu adorava. Eu senti-me indignado, 'Bem, se tu no gostas, sai daqui para fora. Ele o melhorprofessor do mundo, se no consegues ver isso, ento desaparece!' Esse tipo deapego, estar enamorado ou ser devoto, sofrimento, porque se algo ou algumque tu amas ou gostas criticado, sentes-te zangado e ofendido.

    Clareza nas situaes

    s vezes a clareza surge nas alturas mais inesperadas. Isto aconteceu-mequando vivia em Wat Pah Pong. O Nordeste da Tailndia no dos lugaresmais atraentes ou bonitos do mundo, com as suas florestas e vastas plancies edurante a estao quente torna-se extremamente quente. Antes de cada Dia deObservncia ns tnhamos de varrer as folhas cadas nos caminhos domosteiro. Eram bem vastas as reas a varrer. Passvamos a tarde toda debaixo

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    do sol quente, suando e a varrer, com vassouras grosseiras, as folhas para ummonte; esta era uma das nossas tarefas. Eu no gostava de a fazer. Pensava, 'Euno quero fazer isto. Eu no vim para aqui para ter de varrer as folhas do cho;Eu vim para aqui para me tornar iluminado e em vez disso eles pem-me avarrer folhas. Para alm disso, est muito calor e eu tenho uma pele clara; posso

    apanhar cancro da pele por estar aqui neste clima quente.'Numa dessas tardes l estava eu a sentir-me verdadeiramente infeliz,

    pensando 'O que que estou aqui a fazer? Porque que eu vim para aqui?Porque que estou aqui?' E ali fiquei parado com a minha longa e grosseiravassoura, sem nenhuma energia, a sentir pena de mim mesmo e a odiar tudo.Ento o Ajahn Chah aproximou-se, sorriu-me e disse 'Wat Pah Pong bastantesofrimento, no ?' e com isto desandou. Ento pensei, 'Porque que ele disseaquilo? E sabes, na verdade, no assim to mau.' Ele ps-me a reflectir 'Ser

    que varrer as folhas mesmo to desagradvel?...No, no . um tipo de coisaneutra; tu varres as folhas, no bom nem mau...E suar algo assim toterrvel? mesmo uma experincia miservel e humilhante? mesmo assimto mau como eu estou a querer fazer parecer?...No, suar no faz mal, algoperfeitamente natural. E eu no tenho cancro da pele e as pessoas em Wat PahPong so muito simpticas. O professor um homem muito bondoso e sensato.Os monges tm-me tratado bem. As pessoas leigas vm e do-me comida e...Afinal porque que eu estou a reclamar?' Reflectindo acerca da verdade daminha experincia, pensei 'Eu estou bem. As pessoas respeitam-me, sou bem

    tratado. Estou a ser ensinado por pessoas agradveis num pas tambmagradvel. No h nada de errado com isto, mas sim comigo; estou a criar umproblema porque eu no quero varrer folhas e suar.' E com isto tive umarevelao. De repente, senti em mim algo que estava sempre a reclamar e acriticar, e que estava a impedir-me de me entregar totalmente a diversassituaes.

    Outra experincia com a qual aprendi foi o costume de lavar os ps dosmonges mais velhos quando eles regressavam da recolha das oferendas. Depoisde caminharem pelas vilas e arrozais, os seus ps estavam enlameados. Quandoo Ajahn Chah regressava, todos os monges, talvez uns vinte ou trinta,apressavam-se para o receber e lhe lavar os ps, no lava-ps que havia entradada sala de refeies. Quando vi isto pela primeira vez, pensei 'Eu nunca voufazer tal coisa!' E no dia seguinte, assim que o Ajahn Chah apareceu, trintamonges apressaram-se para lhe lavar os ps. Eu pensei 'Que coisa to estpida,trinta monges a lavarem os ps de um homem. Eu no o fao.' No dia seguinte,a minha reaco tornou-se ainda mais violenta... trinta monges apressaram-se elavaram os ps do Ajahn Chah... 'Isto irrita-me mesmo, estou farto disto! Acho

    que a coisa mais estpida que alguma vez vi, trinta homens a lavar os ps deum homem! Sabes, provavelmente ele pensa que merece tal coisa; s para lhereforar o ego. Ele deve ter um ego enorme, com estas pessoas todas a lavarem-

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    lhe os ps todos os dias. Eu nunca farei tal coisa!'Eu estava a comear a ter uma reaco extrema. E ali ficava, sentado,

    sentindo-me miseravelmente zangado. Olhava para os monges e pensava, 'Quegente to estpida. No sei o que estou aqui a fazer.'

    Mas ento comecei a escutar e pensei ' mesmo desagradvel estar neste

    estado de esprito. Ser que isto mesmo algo para me deixar assim tozangado? Ningum me obrigou a fazer tal coisa, est tudo bem; no h nada deerrado com trinta homens a lavarem os ps a outro. No imoral nem maucomportamento e talvez eles no se importem; talvez eles o queiram fazer,talvez no haja problema algum...Talvez eu devesse faz-lo!' E assim na manhseguinte, trinta e um monges apressaram-se para ir lavar os ps do Ajahn Chah.Depois disso deixou de haver qualquer problema. Senti-me mesmo bem: aquelacoisa m em mim tinha cessado.

    Podemos reflectir acerca destas coisas que nos causam indignao e raiva;existe algo de verdadeiramente errado com elas ou so somente algo sobre oqual criamos dukkha? Dessa forma comeamos a perceber os problemas quecriamos nas nossas vidas e nas vidas das pessoas nossa volta.

    Com ateno plena, estamos dispostos a suportar tudo o que a vida nos d; aexcitao e o aborrecimento, a esperana e o desespero, o prazer e a dor, ofascnio e a fadiga, o princpio e o fim, o nascimento e a morte. Dispomo-nos aa aceitar o todo na mente em vez de somente absorver o que nos agradvel esuprimir o que desagradvel. O processo que conduz sabedoria passa pelo

    dukkha, observando, aceitando e reconhecendo o dukkha em todas as suasformas. Ento deixas de estar simplesmente a reagir da forma que te habitual,sendo indulgente na satisfao de todos os teus desejos ou suprimindo-os. E poressa razo consegues suportar melhor o sofrimento, sendo mais paciente paracom ele.

    Estes ensinamentos no esto fora da nossa experincia pessoal. Eles so, defacto, reflexes da nossa verdadeira experincia e no complicadas questesintelectuais. Assim, pe energia no teu desenvolvimento e no fiques encalhadona tua rotina habitual. Quantas vezes que tens de te sentir culpada por causado teu aborto ou dos erros que cometes-te no passado? Ser que tens de passartodo o teu tempo, a simplesmente regurgitar as coisas que te aconteceram navida e a entregares-te a infinitas especulaes e anlises? Algumas pessoastornam-se em complicadas personalidades. Se somente te entregares s tuasmemrias, pontos de vista e opinies, ficars para sempre aprisionado nomundo, e jamais o transcenders de forma alguma.

    Tu podes abandonar este pesado fardo se estiveres disposto a utilizar osensinamentos com percia. Diz a ti prprio: 'Eu no me vou envolver mais nisto;

    eu recuso-me a participar neste jogo. Eu no me vou deixar levar por esteestado de esprito.' Comea a colocar-te na posio de quem sabe: 'Eu sei queisto dukkha; dukkha existe.' muito importante que tomes a resoluo de ir ao

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    encontro do sofrimento e que depois o toleres. somente examinando econfrontando o sofrimento deste modo, que podemos esperar ter um grandemomento de clareza: ' Este sofrimento foi compreendido.'

    Estes so os trs aspectos da Primeira Nobre Verdade. Esta a frmula quetemos de usar e aplicar na reflexo sobre as nossas vidas. Sempre que sentires

    sofrimento, primeiro reconhece 'O Sofrimento existe', depois 'Ele deve sercompreendido' e finalmente 'Ele foi compreendido'. Este entendimento dodukkha a realizao clara da Primeira Nobre Verdade.

    __________________________Para explicao de termos assinalados com ver glossrio

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    A Segunda Nobre Verdade

    O que a Nobre Verdade da Origem do Sofrimento? o desejoque renova a existncia e acompanhado pela cobia e prazer,cobiando isto e aquilo: ou seja, desejo pelos prazeres sensoriais,desejo por ser, desejo por no ser. Mas onde nasce e floresce estedesejo? Onde quer que exista algo adorvel e gratificante, ai elenasce e floresce.Existe esta Nobre Verdade da Origem do Sofrimento: tal foi a

    viso, revelao, sabedoria, verdadeiro conhecimento e luz queem mim surgiram acerca de coisas nunca antes ouvidas.Esta Nobre Verdade deve ser penetrada abandonando a origemdo sofrimento...Esta Nobre Verdade foi penetrada tendo abandonado a origem dosofrimento: tal foi a viso, revelao, sabedoria, verdadeiroconhecimento e luz que em mim surgiram acerca de coisas nunca

    antes ouvidas.

    [Samyutta Nikaya LVI, 11]

    A Segunda Nobre Verdade composta por trs fases: 'Existe a origemdo sofrimento que o apego ao desejo. O desejo deve ser abandonado. O desejofoi abandonado.'

    A Segunda Nobre Verdade diz-nos que existe uma origem para o sofrimento

    e que essa origem se encontra nos trs tipos de desejo: desejo de prazeressensoriais (kama tanha), desejo de ser (bhava tanha) e o desejo de no ser

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    (vibhava tanha). Esta a declarao da Segunda Nobre Verdade, a tese, apariyatti. Isto o que tu contemplas: a origem do sofrimento encontra-se noapego ao desejo.

    Trs tipos de desejo

    Desejo ou tanha em Pali algo importante a ser compreendido. O que odesejo? Kama tanha muito fcil de perceber. Este tipo de desejo quererprazeres sensoriais atravs do corpo ou dos outros sentidos e procurar semprecoisas que excitem e agradem os sentidos. Podes realmente contemplar: como quando tens desejo de prazer? Por exemplo, quando ests a comer, se tens fomee a comida deliciosa podes manter-te consciente de querer comer mais uma

    garfada. Percebe essa sensao quando ests a saborear algo agradvel e reparacomo queres mais. No acredites nisto s por acreditar, experimenta por tiprprio. No penses que sabes isto s porque sempre foi assim, faz aexperincia quando comeres outra vez, saboreia algo delicioso e observa o quese passa a seguir: o surgir do desejo de querer mais. Isso kama tanha.

    Ns tambm contemplamos a sensao de querer ser algo. Se existirignorncia ento, quando no estamos a procurar algo delicioso para comer oualguma boa msica para ouvir, podemos encontrar-nos presos num mundo deambio e conquista, o desejo de vir a ser. Somos apanhados nesse movimento,

    nessa luta para nos tornarmos felizes; procuramos formas de enriquecer outentamos tornar a nossa vida em algo importante, ao empenharmo-nos para pro mundo em ordem. Assim, apercebe-te desta sensao de querer ser algo maisdo que aquilo que s neste momento.

    Escuta o bhava tanha na tua vida: 'Eu quero praticar meditao para poderser livre da minha dor. Eu quero tornar-me iluminado. Eu quero ser um mongeou uma monja. Eu quero tornar-me iluminado como pessoa leiga. Eu quero teruma mulher e filhos e uma boa profisso. Eu quero gozar o mundo dos sentidos

    sem ter que abdicar de nada e tornar-me num arahant(Ser Nobre)'.Quando nos tornamos desiludidos com a tentativa de querer ser algo, entosurge o desejo de vermo-nos livres de certas coisas. A contemplamos vibhavatanha, o desejo de nos libertarmos: 'Eu quero ver-me livre do meu sofrimento.Eu quero ver-me livre da minha raiva. Eu tenho esta irritao e quero ver-melivre dela. Eu quero libertar-me da minha inveja, medo e ansiedades.' Nota istocomo uma reflexo acerca do desejo de no ser vibhava tanha. Na realidadeestamos a contemplar aquilo que dentro de ns se quer ver livre das coisas; noestamos a tentar ver-nos livres do vibhava tanha. No estamos a tomar a

    posio de estar contra o desejo de nos querermos ver livres das coisas, nemestamos a encorajar esse desejo. Em vez disso, estamos a reflectir ' desta

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    forma; assim que nos sentimos quando nos queremos ver livres de algo; eutenho de conquistar a minha ira; eu tenho de matar o Diabo e ver-me livre domeu egosmo, a eu serei...' Podemos observar atravs desta corrente depensamentos que querer ser e querer vermo-nos livres esto bastanteassociados.

    Mas convm ter em mente que estas trs categorias de kama tanha, bhavatanha e vibhava tanha so apenas convenientes mtodos para contemplarmos odesejo. Elas no so formas de desejo totalmente diferentes mas sim diferentesaspectos do mesmo.

    A segunda revelao da Segunda Nobre Verdade : 'O desejo deve serabandonado'. assim que o abandonar surge na nossa prtica. Tu tens arevelao de que o desejo deve ser abandonado, mas essa revelao no umdesejo de te quereres ver livre de nada. Se no fores suficientemente sensato e

    no estiveres a reflectir, tens a tendncia a seguir o 'eu quero ver-me livre de...,eu quero libertar-me de todos os meus desejos' mas, isto somente outrodesejo. No entanto podes reflectir acerca dele; podes observar o desejo de tequereres ver livre, o desejo de querer ser ou o desejo de prazeres sensoriais.Compreendendo estes trs tipos de desejo, podes deix-los ir.

    A Segunda Nobre Verdade no te pede que penses, 'eu tenho muitos desejossensoriais', ou 'eu sou mesmo ambicioso. Eu sou todo bhava tanha mais, mais,mais!' ou 'Eu sou um verdadeiro niilista. Eu s quero desaparecer. Eu sou umverdadeiro fantico do vibhava tanha'.A Segunda Nobre Verdade no nada

    disso. No se trata de forma alguma de identificao com os desejos mas sim doreconhecimento desses desejos.Eu costumava perder bastante tempo a observar quanto da minha prtica era

    desejo de ser algo. Por exemplo, quanto das boas intenes da minha prtica demeditao como monge eram para que gostassem de mim, quanto do meurelacionamento com os outros monges ou monjas ou com as pessoas leigas,tinha a ver com o desejo de ser apreciado e respeitado. Isto bhava tanha,desejo de ter elogios e sucesso. Como monge, tens este bhava tanha; o quererque as pessoas percebam tudo e que apreciem o Dhamma, at estes subtis,quase nobres desejos so bhava tanha.

    Depois temos vibhava tanha na vida espiritual, que pode ser parecer muitovirtuoso: 'Eu quero ver-me livre, aniquilar e exterminar estas contaminaes damente'. Atentamente, eu ouvia-me a pensar ' Eu quero ver-me livre dos desejos.Eu quero ver-me livre da raiva. Eu nunca mais quero ter medo ou inveja. Euquero ser corajoso. Eu quero ter alegria e felicidade no meu corao'.

    Esta prtica do Dhamma no para nos odiarmos por termos taispensamentos mas, observar claramente que estes so condicionados pela mente.

    Eles so impermanentes. O desejo no aquilo que somos mas a forma comotendemos a reagir devido nossa ignorncia, quando ainda no compreendemosestas Quatro Nobre Verdades nos seus trs aspectos. Ns tendemos sempre a

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    reagir desta maneira e estas so reaces normais devido ignorncia.Mas no necessitamos de continuar a sofrer, no somos somente vtimas

    desesperadas do desejo. Podemos deixar o desejo ser da forma que e assimcomearmos a libertarmo-nos dele. O desejo s nos ilude e tem poder sobrens, enquanto o agarramos, acreditamos e a ele reagimos.

    Apego sofrimento

    Normalmente comparamos sofrimento com sentimento, mas sentimento no sofrimento. o apego ao desejo que sofrimento. O desejo no causasofrimento, a causa do sofrimento o apego ao desejo. Esta declarao servepara reflexo e contemplao em termos da tua prpria experincia.

    Tens mesmo que investigar e conhecer verdadeiramente o desejo. Tens desaber o que e o que no natural e necessrio para sobreviver. Podemostornar-nos muito idealistas e pensar que at a necessidade de alimento um tipode desejo que no deveramos ter, podemos tornar-nos bastante ridculos porcausa disso. Mas o Buddha no era um idealista nem um moralista, ele notentou condenar fosse o que fosse, ele tentou despertar-nos para a verdade, paraque pudssemos ver as coisas claramente.

    Quando essa claridade e viso correcta estiverem presentes deixa de haversofrimento. Podes continuar a sentir fome, podes continuar a precisar de

    alimentos sem que isto tenha de se tornar um desejo. Os alimentos so umanecessidade natural do corpo, o corpo no o eu, ele necessita de alimentos ouento torna-se fraco e morre, essa a natureza do corpo, no h nada de erradocom isso. Se nos tornamos todos moralistas e acreditamos que somos o nossocorpo, que essa fome o nosso problema, e que nem devemos comer, isso norevela sabedoria, simplesmente idiotice.

    Quando realmente vires a origem do sofrimento, compreenders que oproblema o apego ao desejo e no o desejo em si. Apegares-te significa seres

    iludido por ele, pensas que realmente sou 'eu' e 'meu'; 'Estes desejos so quemeu sou e decerto algo est errado comigo por os sentir'; ou 'Eu no gosto de sercomo sou. Tenho de me tornar em algo diferente'; ou ento 'Eu tenho de melivrar disto antes de me poder tornar naquilo que quero ser.' Tudo isto desejo.Escuta, atentamente, tudo isto sem comentares o que bom ou o que mau,mas meramente reconhecendo-o pelo que .

    Desapego

    Se contemplarmos e escutarmos os desejos, deixamos de estar apegados a

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    eles, estamos somente a deix-los ser como so. Ento chegamos concretizao de que a origem do sofrimento, do desejo, pode ser posto de ladoe abandonado.

    Como que deixas tudo isto? Isto significa que as deixas tal como so; nosignifica que as aniquilas ou as deitas fora. como que p-las de lado e deix-

    las ficar. Atravs da prtica do desapego apercebemo-nos que existe a origemdo sofrimento, que o apego ao desejo, e compreendemos que devemos largarestes trs tipos de desejo. Ento, apercebemo-nos que deixmos estes desejos eque deixou de haver qualquer apego a eles.

    Quando te encontrares apegado, lembra-te que desapego no 'veres-te livrede' ou 'deitar fora'. Se eu estiver agarrado a este relgio e me disseres 'Deixa-o!',isso no significa 'deit-lo fora'. Eu posso pensar que tenho de o deitar foraporque estou apegado a ele mas, isso seria somente o desejo de me ver livre

    dele. Ns temos tendncia a pensar que ver-nos livres de um objecto umaforma de nos vermos livres do apego. Mas se eu conseguir contemplar o apegoa este relgio, eu compreendo que no existe qualquer razo para me ver livredele, um bom relgio, est sempre certo e nem sequer muito pesado. Orelgio no o problema. O problema apegar-me a ele. Ento o que que eufao? Largo-o, ponho-o de parte, coloco-o cuidadosamente de lado, semqualquer tipo de averso. Depois posso voltar a pegar-lhe, ver que horas so ep-lo de parte quando no for necessrio.

    Podes aplicar esta sabedoria do desapego em relao ao abandono do desejo

    pelos prazeres sensoriais. Talvez queiras ter muitos divertimentos. Como queporias de parte esse desejo sem qualquer averso? Simplesmente reconhecendoo desejo sem fazer juzos de valor. Tu podes contemplar o quereres ver-te livredele, porque te sentes culpado em ter um desejo to parvo, mas pe-osimplesmente de lado. Ento, quando o vires como ele realmente ,reconhecendo que somente um desejo, deixas de estar apegado a ele.

    Assim o caminho trabalhares sempre com os momentos da vida diria.Quando te sentires deprimido e negativo, o momento em que te recusas aentregar a essa sensao uma experincia iluminada, quando vs que noprecisas de te afundar no mar da depresso e do desespero, que podes parartudo, aprendendo a no pensar duas vezes nestas coisas.

    Tens de aprender isto pela tua prpria prtica e experincia para que possassaber por ti mesmo como te libertares da origem do sofrimento. Ser que podeslibertar-te do desejo por simplesmente quereres desapegar-te dele? O que queest realmente a ser abandonado neste momento? Tens de contemplar aexperincia do abandonar e investigar e examinar de verdade, at que arealizao venha. Continua at que o verdadeiro saber chegue: 'Ah, o desapego!

    Sim, agora compreendo! O desejo foi abandonado!' Isto no significa que vsabandonar o desejo para sempre mas, nesse breve momento, realmenteabandonaste-o e fizeste-o com plena ateno consciente. Ento surge a

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    realizao. a isto que chamamos sabedoria plena. Em Pali, chamamo-lo deanadassana ou compreenso profunda.

    Eu tive a minha primeira revelao no que respeita ao abandono, no meuprimeiro ano de meditao. Eu compreendi intelectualmente que temos deabandonar tudo e depois pensei: 'Como que se abandona?' Parecia impossvel

    abandonar fosse o que fosse. Continuei a contemplar: 'Como que seabandona?' depois dizia, 'Abandonas, abandonando.' 'Bem, ento abandona!'Depois dizia: 'Mas ser que j abandonei?' e 'Como que podes abandonar?''Bem, simplesmente abandonando!' E assim continuei tornando-me cada vezmais frustrado. Mas, eventualmente, tornou-se bvio o que estava a acontecer.Se tentares analisar como abandonar em pormenor, tornas tudo muito maiscomplicado. J no se tratava de algo que pudesse ser expresso por palavras,mas algo que simplesmente fazias. E assim por um momento eu abandonei

    tudo, assim simplesmente.Agora, com problemas pessoais e obsesses, para abandon-los o mesmo.No se trata de analisar exaustivamente e tornar o problema ainda maior mas,de praticar esse estado de deixar as coisas em paz, de larg-las. De incio, pesde parte mas depois tornas a pegar porque o hbito do apego muito forte. Maspelo menos ficas com a ideia. Mesmo aps ter tido essa revelao acerca doabandono, eu era capaz de abandonar por uns momentos mas depois voltava aapegar-me, com o pensamento: 'No consigo faz-lo, tenho tantos maushbitos!'

    Mas no confies nesse tipo de constante crtica depreciativa dentro de ti. algo no digno de confiana. simplesmente uma questo de praticar odesapego. Quanto mais vezes observares como faz-lo, mais facilmenteconseguirs suster esse estado de desapego.

    Realizao

    importante saber quando te desapegaste do desejo: quando deixas de fazerjuzos de valor ou deixas de tentar livrar-te deles: quando reconheces que esta a forma como as coisas so. Quando ests verdadeiramente calmo e em paz,percebes que no existe apego para com nada. Deixas de estar aprisionado,tentando ter algo ou libertares-te de algo. Bem estar simplesmente conhecer ascoisas como elas realmente so, sem sentir a necessidade de fazer sobre elasqualquer juzo de valor.

    Estamos constantemente a dizer, 'Isto no devia de ser assim!', 'Eu no deviade ser como sou!' e 'Tu no devias de ser assim e tu no devias de fazer isso!' e

    por a fora... Tenho a certeza que poderia dizer-te o que deverias ser e tuconseguirias dizer-me o que eu deveria ser. Ns deveramos ser gentis,

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    carinhosos, generosos, com bom corao, trabalhadores, diligentes, corajosos ecompassivos. Eu no tenho sequer que te conhecer para te dizer isto! Mas pararealmente te conhecer, eu teria de me abrir contigo, em vez de comear a partirde um idealismo acerca do que uma mulher ou um homem devem ser, o que umBudista deve ser ou o que um Cristo deve ser.

    O nosso sofrimento provm do apego que temos para com os nossos ideais eas complexidades que criamos acerca da forma como as coisas so. Ns nuncasomos o que deveramos ser de acordo com os nossos ideais mais altos. A vida,os outros, o pas em que estamos, o mundo em que vivemos, as coisas nuncaparecem ser aquilo que deveriam ser. Ns tornamo-nos muito crticos de tudo ede ns mesmos: 'Eu sei que deveria ser mais paciente, mas eu NO consigo serpaciente!'... Ouve bem todos estes 'deveria' e 'no deveria', os desejos de querero que agradvel, querer ser ou querer ver-se livre daquilo que feio ou do que

    doloroso. como que ouvir algum a falar do outro lado da cerca dizendo: 'Eu quero isto e eu no gosto daquilo. Deveria de ser assim e no assado!'Tens mesmo de disponibilizar tempo para ouvir a mente contestadora; tr-lapara o consciente.

    Eu costumava fazer muito isto quando me sentia insatisfeito ou crtico.Fechava os olhos e comeava a pensar, 'Eu no gosto disto e eu no queroaquilo', 'Aquela pessoa no devia de ser assim' e 'O mundo no deveria de serassado.' Eu continuava a ouvir este tipo de demnio crtico que falava, falava,criticava-me a mim, a ti e ao mundo. E ento eu pensava, 'Eu quero felicidade e

    conforto. Eu quero sentir-me seguro. Eu quero ser amado!' Eu pensava nestascoisas deliberadamente e ouvia-as para assim puder conhec-las simplesmentecomo condies que nascem na mente. Assim sendo, tr-las tona na tuamente, desperta todas as esperanas, desejos e crticas; tr-los ao consciente eassim, conhecers o desejo e puders p-lo de lado.

    Quanto mais contemplamos e investigamos o apego, quanto mais revelaessurgem; o desejo deve ser abandonado. Ento, atravs da prpria prtica ecompreenso do que realmente significa abandonar, obtemos a terceirarevelao da Segunda Nobre Verdade: 'O desejo foi abandonado'. Nsrealmente conhecemos o desapego. No um desapego terico mas umarevelao directa. Tu sabes que o desapego foi concretizado. Isto tudo o que aprtica .

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    A Terceira Nobre Verdade

    O que a Nobre Verdade do Cessar do Sofrimento? o desaparecimento do ltimo vestgio e cessao desse mesmodesejo; o rejeitar, o abandonar, o deixar e o renunciar do mesmo.Mas onde que este desejo abandonado e terminado? Ondequer que exista aquilo que parece adorvel e gratificante, a abandonado e terminado.Existe esta Nobre Verdade do Cessar do Sofrimento: tal foi aviso, revelao, sabedoria, verdadeiro conhecimento e luz queem mim surgiram acerca de coisas nunca antes ouvidas.Esta Nobre Verdade deve ser penetrada, realizando a Cessaodo sofrimento...Esta Nobre Verdade foi penetrada, realizando o Cessar dosofrimento: tal foi a viso, revelao, sabedoria, verdadeiroconhecimento e luz que em mim surgiram acerca de coisas nuncaantes ouvidas.

    [Samyutta Nikaya LVI, 11]

    A Terceira Nobre Verdade composta por trs fases: 'Existe a cessaodo sofrimento, do dukkha. O cessar do dukkha deve ser realizado. A cessaodo dukkha foi realizada.'

    Os ensinamentos Budistas tm como objectivo fundamental o desenvolver deuma mente reflectiva, para assim se poder abandonar as iluses. As QuatroNobres Verdades so um ensinamento acerca desse abandono, atravs do olhar

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    atento e da investigao, contemplando: 'Porque que assim? Porque que deste modo?'

    bom ponderar acerca de coisas como, porque que os monges rapam acabea ou o porqu de Buddha-rupas terem a aparncia que tm. Nscontemplamos...a mente no est a formar uma opinio acerca do facto de estas

    serem boas, ms, teis ou desnecessrias. Na verdade a mente est a abrir-se e aconsiderar, 'O que que isto significa? O que que os monges representam?Porque que eles usam a malga de almas (oferendas)? Porque que eles nopodem ter dinheiro? Porque que eles no podem cultivar os seus prpriosalimentos?'

    Contemplamos como esta forma de vida tem mantido esta tradio,permitindo que a mesma seja transmitida do seu fundador original, o BudaGautama, at aos dias de hoje.

    Ns reflectimos acerca da forma como vimos o sofrimento; como vimos anatureza do desejo; como reconhecemos que o apego ao desejo sofrimento, eassim alcanamos a revelao interna que permite abandonar o desejo, arealizao do no-sofrimento, a cessao do sofrimento. Estas revelaes spodem surgir atravs da reflexo; elas no surgem s porque acreditas nelas. Tuno te podes fazer acreditar ou realizar uma revelao s por vontade; atravsda verdadeira contemplao e reflexo destas verdades, que as revelaes tesurgem. Elas s surgem atravs da abertura e receptividade da mente para comos ensinamentos, f cega no certamente aconselhada ou esperada de

    ningum. Em vez disso a mente deve estar disposta a estar receptiva,ponderando e considerando.Este estado mental muito importante, o caminho para abandonar o

    sofrimento. No uma mente com ideias fixas e preconceitos, que pensa quesabe tudo ou que s aceita ser verdade o que as outras pessoa dizem. umamente que est aberta para estas Quatro Nobres Verdades e que conseguereflectir acerca de algo que podemos ver dentro da nossa prpria mente.

    As pessoas raramente realizam o no-sofrimento porque este requerumavontade muito especial para se poder ponderar e investigar e assim passar paraalm do grosseiro e do bvio. preciso fora de vontade para observarhonestamente as tuas prprias reaces, ser capaz de reconhecer os apegos econtemplar: 'Como que sentir apego?'

    Por exemplo, sentes-te feliz ou liberto estando apegado ao desejo? Sentes-tepositivo ou depressivo? Estas questes so para tu investigares. Se achares queestar apegado aos teus desejos libertador, ento continua. Apega-te aos teusdesejos e v qual o resultado.

    Na minha prtica, tenho observado que o apego para com os meus desejos

    sofrimento. No tenho qualquer dvida acerca disso. Consigo ver quantosofrimento na minha vida tem sido causado por apego a coisas materiais, ideias,atitudes ou medos. Consigo ver todo o tipo de infelicidade desnecessria que eu

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    causei a mim prprio por causa deste apego e porque no compreendia as coisacomo elas realmente so. Eu fui criado na Amrica, a terra da liberdade. Elapromete o direito de ser feliz, mas o que na realidade ela oferece o direito deser apegado a tudo. A Amrica encoraja-te a tentares ser o mais feliz possvelpossuindo coisas, no entanto, se trabalhares com as Quatro Nobres Verdades, o

    apego deve ser compreendido e contemplado; a ento, surge a revelao dodesapego. Isto no uma posio intelectual ou uma ordem do teu crebro adizer que no deves ser apegado; somente uma revelao natural sobre odesapego ou extino do sofrimento.

    A verdade da impermanncia

    Aqui em Amaravati, ns entoamos o Sutra Dhammacakkappavattana na suaforma tradicional. Quando o Buda deu este sermo sobre as Quatro NobresVerdades, s um dos cinco discpulos que o ouviram realmente o compreendeu;somente um teve a revelao profunda. Os outros quatro gostaram muito,pensando 'Sim senhor, que ensinamento to bonito', mas s Kondaa obteve aperfeita compreenso acerca daquilo que o Buda estava a dizer.

    Os devas tambm estavam a ouvir o sermo. Devas so criaturas etreas ecelestiais, muito superiores a ns. Elas no tm corpos grosseiros como osnossos; elas tm corpos etreos e so muito bonitas, gentis e inteligentes. Mas

    apesar dos Devas se terem deliciado ao ouvir o sermo, nem sequer um deles seiluminou com o mesmo.

    Dizem-nos que eles ficaram muito felizes com a iluminao de Buda e quebradaram pelos cus quando ouviram o seu ensinamento. O primeiro nvel dedevatas ouviu-o, depois gritaram para o prximo nvel e em pouco tempo todasos devas regozijavam, indo at ao nvel mais alto, o reino dos Brahmas. Haviaalegria ressoante de que a Roda do Dhamma tinha sido posta em movimento eestes devas e brahmas regozijavam-se nela. Mas no entanto, s Kondaa, um

    dos cinco discpulos, se tornou iluminado quando ouviu este sermo. Mesmo nofinal do sutra, o Buda chama-o de 'Aa Kondaa'. 'Aa' significa sabedoriaprofunda, assim 'Aa Kondaa', significa 'Kondaa-Aquele que Sabe'.

    O que que Kondaa sabia? Qual foi a sua realizao que o Buddhaelogiou no final do sermo? Foi: 'Tudo aquilo que sujeito a surgir, sujeito acessar.' Isto pode no soar a grande conhecimento, mas o que realmente implica um padro universal: o que quer que esteja sujeito a surgir est sujeito acessar; impermanente e no-eu... assim sendo, no te apegues, no te iludascom aquilo que surge e cessa. No procures para teu refgio, aquilo em que

    queres confiar e respeitar, em nada que surgepois essas coisas cessaro.Se quiseres sofrer e desperdiar a tua vida, parte procura das coisas que

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    surgem. Todas elas te levaro ao final, cessao, e tu no te tornars maissbio por isso. Continuars, simplesmente, s voltas neste ciclo, repetindo osmesmos tristes hbitos e quando morreres, no ters aprendido nada deimportante com a vida que viveste.

    Em vez de s pensares acerca disto, contempla-o verdadeiramente: 'Tudo o

    que est sujeito a surgir est sujeito a cessar.' Aplica isto vida em geral, tuaprpria experincia e a irs compreender.

    Simplesmente nota: princpio... fim.Contempla como as coisas so. Este reino dos sentidos todo ele acerca de

    surgimento e cessao, princpio e fim; nesta vida pode ser alcanadoentendimento correcto, samma ditthi. Eu no sei por quanto tempo o Kondaaviveu aps o sermo do Buddha, mas nesse momento ele foi iluminado. Nessemesmo instante ele obteve entendimento correcto.

    Eu gostaria de sublinhar o quo importante desenvolver este tipo dereflexo. Em vez de somente desenvolver um mtodo para tranquilizar a mente,que certamente uma parte da prctica, tenta perceber que meditao correctaenvolve dedicao para com esta sbia investigao. Observar as coisasprofundamente, envolve um esforo corajoso, no te analisares a ti prprio oufazer juzos de valor acerca da causa do teu sofrimento pessoal, mas estaresdeterminado a seguir o caminho at obteres um entendimento profundo. Talentendimento est baseado no padro de surgimento e cessao. Assim que estalei for compreendida, tudo percebido, encaixando-se nesse mesmo padro.

    Isto no um ensinamento metafsico: 'Tudo o que est sujeito a surgir, estsujeito a cessar', no se trata da derradeira realidade, realidade imorredoira,deathless; mas se souberes profunda e verdadeiramente que tudo o que estsujeito a surgir, est sujeito a cessar, ento compreenders a derradeirarealidade, a verdade imortal. Este um meio hbil para alcanar a realizaofinal. Percebe a diferena: a declarao no metafsica mas leva-nos a umarealizao metafsica.

    Moralidade e cessao

    Atravs da reflexo das Quatro Nobres Verdades, ns trazemos at aoconsciente o problema da existncia humana. Observamos esta sensao dealienao e apego cego conscincia sensorial, o apego para com aquilo queest separado e se destaca na conscincia. Devido nossa ignorncia, apegamo-nos ao desejo por prazeres sensoriais, quando nos identificamos com o que findvel ou transitrio e, como tal, insatisfatrio. Esse apego torna-se emsofrimento.

    Os prazeres sensoriais so todos eles prazeres efmeros. Aquilo que vimos,

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    ouvimos, tocamos, saboreamos, pensamos ou sentimos momentneo,passageiro, sujeito a findar. Assim quando nos apegamos aos sentidos ou asensaes passageiras, apegamo-nos, por assim dizer, morte, ao fim. Se aindano contemplmos ou compreendemos isto claramente, apegamo-noscegamente mortalidade na esperana de a evitar por uns tempos. Ns fingimos

    que vamos ser verdadeiramente felizes com as coisas s quais nos apegamos, spara, eventualmente, nos sentirmos desiludidos, desesperados e desapontados.Podemos at conseguir tornar-nos naquilo que desejamos, mas isso tambm momentneo, findvel. No fundo estamos somente a apegar-nos a outracondio passageira com um fim certo. Assim, com este desejo pelamortalidadepodemos vir a apegar-nos a ideias de suicdio ou aniquilao, maso fim propriamente dito somente mais uma condio findvel. Ao que querque seja que nos apeguemos nestes trs tipos de desejos, estamos a apegar-nos a

    algo passageiro e limitado, o que significa irmos, eventualmente, sentirdesapontamento ou desespero.A morte da mente desespero; a depresso um tipo de experincia de

    morte na mente. Tal como o corpo morre uma morte fsica, a mente tambmmorre. Estados mentais e condies mentais morrem; chamamo-los dedesespero, tdio, depresso e angstia. Se estamos a sentir tdio, desespero,angstia e mgoa, temos a tendncia de procurar qualquer outra condio(findvel) que possa surgir para aliviar essa sensao.Por exemplo: se te sentes desesperado ou entediado, pensas 'Preciso de uma

    fatia de bolo de chocolate.' E vais compr-la! Por uns breves momentos, deixas-te envolver no doce, delicioso, sabor a chocolate dessa fatia de bolo. Nessemomento tornas-te na doura e delicioso sabor do chocolate! Mas noconsegues suster essa sensao por muito tempo. Engoles o ltimo pedao debolo e o que que resta? Tens de ir procurar outra forma de alvio. Isto ,'tornares-te'em algo novo.

    Ns estamos cegos, aprisionados neste processo de nos tornarmos algo,neste plano sensorial. Mas conhecendo o desejo, sem julgar a beleza ou feirado plano sensorial, chegamos ao ponto de percebermos o desejo tal como ele .D-se sabedoria. Nesse ponto, pondo de lado todos estes desejos em vez de nosagarrarmos a eles, temos a experincia do nirodha, o cessar do sofrimento. Isto a Terceira Nobre Verdade que temos de realizar por ns prprios.Contemplamos a cessao. Dizemos, 'Existe cessao', e sabemos claramentequando algo cessou.

    Permitindo que as coisas surjam

    Antes de poderes deixar as coisas, tens de as admitir plenamente na

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    conscincia. Na meditao, o nosso objectivo habilmente permitir que osubconsciente se manifeste no consciente. Todo o desespero, medo, angstia,recalques e irritaes so permitidos tornar-se conscientes. Existe a tendncianas pessoas de se apegarem a grandes ideais mentais, podemos tornar-nosverdadeiramente desapontados connosco prprios, porque por vezes sentimos

    que no somos to bons como deveramos ser ou que no devemos zangar-nos;todos os devemos e no devemos. A criamos o desejo de nos vermos livres dascoisas ms e este desejo tem uma qualidade virtuosa. Parece-nos certo vermo-nos livres dos maus pensamentos, raiva e cime, porque uma pessoa boa 'nodevia de ser assim' e dessa forma criamos culpa.

    Ao reflectirmos sobre isto, trazemos conscincia o desejo de nos tornarmosneste ideal e o desejo de nos libertarmos destas coisas ms, desta formaconseguimos libertar-nos e em vez de nos tornarmos na pessoa perfeita,

    abandonamos esse desejo. O que fica a mente pura. No h qualquernecessidade de sermos a pessoa perfeita porque na mente pura onde aspessoas perfeitas surgem e cessam.

    A cessao fcil de compreender a nvel intelectual, mas para a realizarpode ser bastante difcil pois envolve suportar aquilo que pensamos noconseguir. Por exemplo, quando eu comecei a meditar, pensava que ameditao me faria mais bondoso e mais feliz, estava espera de sentirmaravilhosos estados mentais mas, durante os primeiros dois meses eu nuncasenti tanto dio e raiva na minha vida. Pensei 'isto terrvel, a meditao

    tornou-me pior', mas ento contemplei porque razo surgiu tanto dio e tantaaverso e a percebi que grande parte da minha vida tinha sido uma tentativa defugir a tudo isso. Eu era um leitor compulsivo, para onde quer que fosse tinhade levar livros comigo. Sempre que o medo ou a averso surgiam eu pegavanum livro para ler, ou fumava um cigarro, ou comia um 'snack'. A imagem quetinha de mim prprio era de uma pessoa bondosa que no odiava os outrosassim, qualquer indcio de averso ou dio eram reprimidos.

    Esta foi a razo porque durante os primeiros meses como monge, eu estavato desesperado para que isto desaparece-se. Eu tentava procurar algo para medistrair porque com a meditao tinha comeado a relembrar todas as coisas quedeliberadamente tentei esquecer. Memrias de infncia e adolescncia surgiamconstantemente na minha mente, e nesse ponto a raiva e o dio tornaram-se toconscientes que pareciam ser maiores que eu. Mas algo em mim comeou areconhecer que eu tinha de suportar tudo isto e assim o fiz. Todo o dio e raivaque tinham sido suprimidos durante trinta anos de vida vieram em fora mas,atravs da meditao extinguiram-se e desapareceram. Foi um processo depurificao.

    Para permitirmos que este processo de cessao se d, temos de estardispostos a sofrer. por essa razo que eu reforo a importncia de se serpaciente. Temos de abrir as nossas mentes ao sofrimento porque no acolher do

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    sofrimento que o mesmo cessa. Quando sentimos que estamos a sofrer, fsica oumentalmente, temos de ir ao encontro desse sofrimento. Abrimo-nos para elecompletamente, damos-lhe as boas vindas e concentramo-nos nele, permitindo-o ser aquilo que . Isso significa que temos de ser pacientes e suportar ascondies menos agradveis, em vez de fugirmos, temos de suportar o tdio,

    desespero, dvida e medo para podermos compreender que os mesmos cessam.Enquanto no permitirmos que as coisas cessem, continuamos a criar novo

    kamma que s ajuda a fortalecer os nossos hbitos. Quando algo surge,agarramo-lo e proliferamos acerca dele, o que torna tudo ainda maiscomplicado e assim, repetimos e tornamos a repetir o mesmo padro durante anossa vida, no podemos continuar a seguir os nossos desejos e medosesperando algum dia realizar paz. Ns contemplamos o medo e o desejo paraque estes deixem de nos iludir temos de conhecer aquilo que nos ilude antes

    que possamos libertar-nos deles. Desejo e medo devem ser reconhecidos comoimpermanentes, insatisfatrios e como 'no-eu'. Eles so observados ecompreendidos para que o sofrimento se possa extinguir.

    importante aqui diferenciar entre cessao, o fim natural de qualquercondio que tenha surgido e aniquilao, o desejo que surge na mente para nosvermos livres de algo. Da a cessao no ser desejo! No algo que criamos namente mas sim o fim daquilo que comeou, a morte daquilo que nasceu. Dacessao no ser um eu, no se manifesta a partir do ponto em que 'Eu tenho deme ver livre destas coisas', mas somente quando permitimos que aquilo que

    surgiu cesse. Para conseguir isso, o desejo tem de ser abandonado, deix-lo ir.Isto no significa rejeitar ou deitar fora mas sim larg-lo.A, quando ele cessar tens a experincia do nirodha, cessao, vazio,

    desapego. Nirodha outra palavra para Nibbana. Quando abres mo de algo epermites que ele cesse, o que resta paz.

    Tu podes viver essa paz atravs da tua prpria meditao, quando na tuamente deixares o desejo terminar, aquilo que resta muito sereno. Isso pazverdadeira, deathless (sem-morte). Quando conheces isso, tal como verdadeiramente, realizas nirodha sacca, a Verdade da Cessao, na qual deixade existir o eu mas ainda existe vigilncia e claridade. O verdadeiro significadoda felicidade essa serenidade, conscincia transcendente.

    Se no permitirmos a cessao, ento a tendncia para operarmos a partirdas suposies que fazemos acerca de ns mesmos, sem sequer sabermos o queestamos a fazer. s vezes, s quando comeamos a meditar que nosapercebemos o quanto o medo e a falta de confiana que sentimos, na nossavida, provm das experincias da nossa infncia. Lembro-me de quando eramido ter um grande amigo que um dia se voltou contra mim e me rejeitou,

    durante meses andei desesperado, isto deixou uma marca indelvel na minhamente. Ento, realizei atravs da meditao o quanto um pequeno incidentecomo esse, veio a afectar as minhas futuras relaes com os outros, sempre tive

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    um medo tremendo da rejeio. Nunca tinha pensado nisso at essa memriacontinuar a surgir no meu consciente durante a meditao. A mente racionalsabe que ridculo continuar a pensar nas tragdias de infncia mas, se asmesmas continuam a surgir no consciente, quando ests na meia idade, talvez teestejam a querer dizer algo acerca de suposies que formaste quando eras

    criana.Quando comeas a sentir memrias ou medos obsessivos a surgirem na

    meditao, em vez de te sentires frustrado ou irritado com eles, v-os comoalgo a ser aceite no consciente para assim os puderes libertar. Podes organizar atua vida de modo a nunca teres de olhar para estas coisas; a as condiesnecessrias para as mesmas surgirem tornam-se minmas. Podes dedicar-te amuitas causas importantes e manteres-te sempre ocupado; assim, estasansiedades e medos sem nome nunca se tornaro em algo consciente, mas o que

    que acontece quando parares e deixares de controlar? O desejo ou obsessomudam, movem-se na direco da cessao. Eles findam e ento adquires asabedoria de que existe a cessao do desejo. Assim, em concluso, a terceirafase da Terceira Nobre Verdade : a cessao foi realizada.

    Realizao

    Isto para ser realizado. Disse o Buddha enfaticamente: 'Isto uma Verdade

    a ser realizada aqui e agora'. Ns no precisamos de esperar at morrer paradescobrirmos se tudo isto verdade, este ensinamento destinado a sereshumanos como ns. Cada um de ns tem de o realizar. Eu posso explicar-teacerca dele e encorajar-te a praticar mas no posso fazer com que o realizes!

    No penses nele como algo remoto e para alm das tuas possibilidades.Quando falamos acerca de Dhamma ou Verdade, dizemos que ela est aqui eagora, algo que podemos observar por ns prprios. Podemos voltar-nos paraela, podemos inclinar-nos para a Verdade. Podemos prestar ateno forma

    como as coisas so, aqui e agora, neste momento e neste lugar. Isso atenoplena, estar alerta e focar a ateno na forma como as coisas so. Com estaateno plena, investigamos o sentido do eu, esta sensao de mim e daquiloque meu: o meu corpo, os meus sentimentos, as minhas memrias, os meuspensamentos, as minhas opinies, a minha casa, o meu carro e por a fora.

    A minha tendncia era ser depreciativo de mim prprio, por exemplo, com opensamento 'Eu sou Sumedho', eu pensava em termos negativos acerca de mimmesmo 'Eu no presto'.Mas escuta, de onde que isso surge e onde que cessa?... ou 'Eu sou muito

    melhor que tu, eu sou muito mais avanado. H bastante tempo que vivo a VidaSanta, por isso, devo ser melhor que qualquer um de vs!' Onde que isto surge

  • 7/31/2019 As Quatro Nobres Verdades

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    e onde que cessa?Quando houver arrogncia, presuno ou depreciao prpria, o que quer

    que seja, examina-o e escuta o que vai dentro de ti 'Eu sou...'. S atento econsciente do espao antes de pensares, depois pensa-o e nota o espao que sesegue. Mantm a tua ateno no vazio no final do pensamento e v por quanto

    tempo consegues manter a tua ateno no mesmo. V se consegues ouvir umtipo de som na mente, o som do silncio, o som primordial. Quando concentrasa tua ateno nisso podes reflectir: 'Existe alguma sensao de eu?' e vers quequando ests realmente vazio, quando s existe claridade, vigilncia e ateno,no existe nenhum eu. No existe a sensao de mim ou meu, assim, vou paraesse estado de vazio e contemplo acerca do Dhamma; eu penso 'Isto comodeve ser. Este corpo aqui presente desta forma.' Eu posso ou no dar-lhe umnome, mas neste preciso momento, simplesmente assim; no Sumedho!

    No vazio no existe nenhum monge Budista. 'Monge Budista simplesmente uma conveno apropr